Bento XVI Homilias 19212


Quarta-feira, 22 de Fevereiro de 2012: SANTA MISSA, BÊNÇÃO E IMPOSIÇÃO DAS CINZAS

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Basílica de Santa Sabina




Venerados Irmãos

Queridos irmãos e irmãs

Com este dia de penitência e de jejum — Quarta-Feira de Cinzas — iniciamos um novo caminho rumo à Páscoa de Ressurreição: o caminho da Quaresma. Gostaria de meditar brevemente sobre o sinal litúrgico das cinzas, um sinal material, um elemento da natureza, que na Liturgia se torna um símbolo sagrado, muito importante neste dia que dá início ao itinerário quaresmal. Antigamente, na cultura judaica, o uso de colocar sobre a cabeça cinza em sinal de penitência era comum, combinado muitas vezes com o vestir-se com um saco ou com trapos. Para nós cristãos, ao contrário, há este momento único, que tem aliás uma notável relevância ritual e espiritual.

Antes de tudo, a cinza é um destes sinais materiais que levam a criação dentro da Liturgia. Os principais são evidentemente os dos Sacramentos: a água, o óleo, o pão e o vinho, que se tornam verdadeira matéria sacramental, instrumento através do qual se comunica a graça de Cristo que chega até nós. No caso das cinzas trata-se ao contrário de um sinal não sacramental, mas contudo sempre relacionado com a oração e a santificação do Povo cristão. Com efeito, é prevista, antes da imposição individual sobre a cabeça — que faremos daqui a pouco — com duas fórmulas possíveis. Na primeira elas são definidas «símbolo austero»; na segunda invoca-se directamente sobre elas a bênção e faz-se referência ao texto do Livro do Génesis, que também pode acompanhar o gesto da imposição: «Recorda-te que és pó e em pó te hás-de tornar» (cf.
Gn 3,19).

Detenhamo-nos um momento sobre este versículo do Génesis. Ele conclui o juízo pronunciado por Deus depois do pecado original: Deus maldiz a serpente, que fez pecar o homem e a mulher; depois pune a mulher anunciando-lhe as dores de parto e uma relação desequilibrada com o marido; por fim, castiga o homem, anuncia-lhe a fadiga do trabalho e amaldiçoa o solo. «Maldita seja a terra por tua causa!» (Gn 3,17), por causa do teu pecado. Por conseguinte, o homem e a mulher não são directamente amaldiçoados como ao contrário a serpente, mas, por causa do pecado de Adão, é amaldiçoada a terra, com a qual ele tinha sido moldado. Releiamos a magnífica narração da criação do homem com a terra: «O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente, e nele colocou o homem que havia formado» (Gn 2,7-8); assim narra o Livro do Génesis.

Eis por conseguinte que o sinal das cinzas nos conduz ao grande afresco da criação, no qual se diz que o ser humano é uma singular unidade de matéria e de sopro divino, através da imagem do pó da terra plasmada por Deus e animada pelo seu sopro insuflado pelas narinas da nova criatura. Podemos observar como na narração do Génesis o símbolo do pó sofre uma transformação negativa por causa do pecado. Enquanto antes da queda a terra é uma potencialidade totalmente boa, irrigada por uma nascente de água (cf. Gn 2,6) e capaz, por obra de Deus, de germinar «todas as espécies de árvores agradáveis à vista e de saborosos frutos para comer» (Gn 2,9), depois da queda e da consequente maldição divina ela produzirá «espinhos e abrolhos» e só em troca «de penoso trabalho» e do «suor do rosto» concederá ao homem os seus frutos (cf. Gn 3,17-18). O pó da terra já não recorda só o gesto criador de Deus, totalmente aberto à vida, mas torna-se sinal de um destino inexorável de morte: «Recorda-te que és pó e em pó te hás-de tornar» (Gn 3,19).

É evidente no texto bíblico que a terra participa no destino do homem. Diz a este propósito são João Crisóstomo, numa das suas homilias: «Vê como depois da sua desobediência tudo é imposto sobre ele [o homem] de forma contrária ao seu estilo de vida precedente» (Homilias sobre o GN 17,9, pg 53, 146). Esta maldição da terra tem uma função curativa para o homem, que pelas «contrariedades» da terra deveria ser ajudado a manter-se nos seus limites e reconhecer a própria natureza (cf. ibid.). Assim, com uma bonita síntese, exprime-se outro antigo comentário, que diz: «Adão foi por Deus criado puro para o seu serviço. Todas as criaturas lhe foram concedidas para o servir. Ele fora destinado para ser o senhor e rei de todas as criaturas. Mas quando o mal chegou e conversou com ele, ele recebeu-o por meio de uma escuta externa. Depois, adentrou-se no seu coração e apoderou-se de todo o seu ser. Quando, deste modo, foi capturado, a criação, que o tinha assistido e servido, foi capturada com ele» (Pseudo-Macário, Homilias 11, 5; ).

Dizíamos há pouco, citando são João Crisóstomo, que a maldição da terra tem uma função «curativa». Isto significa que a intenção de Deus, que é sempre benéfica, é mais profunda do que a própria maldição. Com efeito, é devida não a Deus mas ao pecado, mas Deus não pode deixar de a infligir, porque respeita a liberdade do homem e as suas consequências, até negativas. Por conseguinte, no âmbito da punição, e também da maldição da terra, permanece uma intenção boa que provém de Deus. Quando Ele diz ao homem: «Recorda-te que és pó e em pó te hás-de tornar!», juntamente com o justo castigo pretende anunciar também um caminho de salvação, que passará precisamente através da terra, através do «pó», da «carne» que será assumida no Verbo. É nesta perspectiva salvífica que a palavra do Génesis é retomada pela Liturgia da Quarta-Feira de Cinzas: como convite à penitência, à humildade, a ter presente a própria condição mortal, e não para acabar no desespero, mas sim para acolher, precisamente nesta nossa mortalidade, a proximidade impensável de Deus que, além da morte, abre a passagem para a ressurreição, o paraíso finalmente reencontrado. Neste sentido orienta-nos um texto de Orígenes, que diz: «Aquilo que inicialmente era carne, da terra, um homem de pó (cf. 1Co 15,47), e foi dissolvido através da morte e de novo tornado pó e cinza — de facto está escrito: és pó e em pó te hás-de tornar — é feito ressuscitar da terra. Em seguida, segundo os merecimentos da alma que habita o corpo, a pessoa caminha rumo à glória de um corpo espiritual» (Sobre os Princípios 3, 6, 5: Sch., 268, 248).

Os «merecimentos da alma», dos quais fala Orígenes, são necessários; mas fundamentais são os merecimentos de Cristo, a eficácia do seu Mistério pascal. São Paulo ofereceu-nos dele uma formulação sintética na Segunda Carta aos Coríntios, segunda Leitura de hoje: «Aquele que não havia conhecido pecado, Deus O fez pecado por nós para que nos tornássemos n’Ele justiça de Deus» (2Co 5,21). A nossa possibilidade do perdão divino depende essencialmente do facto que o próprio Deus, na pessoa do seu Filho, quis partilhar a nossa condição, mas não a corrupção do pecado. E o Pai ressuscitou-o com o poder do seu Espírito Santo e Jesus, novo Adão, tornou-se, como diz são Paulo, «espírito dador de vida» (1Co 15,45), primazia da nova criação. O mesmo Espírito que ressuscitou Jesus dos mortos pode transformar os nossos corações de pedra em corações de carne (cf. Ez 36,26). Invocámo-lo há pouco com o Salmo Miserere: «Cria em mim, ó Deus, um coração puro / renova em mim um espírito firme. / Não me afastes da tua presença / e não me prives do teu santo espírito» (Ps 50,12-13). Aquele Deus que expulsou os progenitores do Éden, enviou o seu Filho à nossa terra devastada pelo pecado, não o poupou, para que nós, filhos pródigos, pudéssemos voltar, arrependidos e remidos pela sua misericórdia, à nossa pátria verdadeira. Assim seja, para cada um de nós, para todos os crentes, para cada homem que humildemente se reconhece necessitado de salvação. Amém.



Domingo, 4 de Março de 2012: VISITA PASTORAL À PARÓQUIA ROMANA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DE LA SALLE

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Amados irmãos e irmãs
da Paróquia de São João Baptista de La Salle!

Antes de tudo gostaria de dizer, com todo o meu coração, obrigado por este acolhimento tão cordial e caloroso. Obrigado ao gentil Pároco pelas suas amáveis palavras, obrigado por este espírito de familiaridade que encontro. Somos realmente família de Deus, e o facto de que vedes no Papa também o pai, é para mim algo muito positivo, que me encoraja! Mas agora devemos pensar que também o Papa não é a última instância: a última instância é o Senhor, e fitemos o Senhor para sentir, para compreender — na medida do possível — algo da mensagem deste segundo Domingo da Quaresma.

A liturgia deste dia prepara-nos tanto para o mistério da Paixão — ouvimos na primeira Leitura — como para a alegria da Ressurreição.

A primeira Leitura refere-se ao episódio em que Deus põe à prova Abraão (cf.
Gn 22,1-18). Ele tinha um filho único, Isaac, que lhe nascera na velhice. Era o filho da promessa, o filho que depois deveria trazer a salvação também aos povos. Mas um dia Abraão recebe de Deus a ordem de o oferecer em sacrifício. O idoso patriarca encontra-se diante da perspectiva de um sacrifício que para ele, pai, é certamente o maior que se possa imaginar. Todavia, não hesita nem sequer um instante e, depois de ter preparado o necessário, parte juntamente com Isaac para o lugar estabelecido. E podemos imaginar este percurso rumo ao cimo do monte, o que se passou no seu coração e no coração do seu filho. Constrói um altar, coloca a lenha e, depois de amarrar o jovem, pega na faca para o imolar. Abraão confia totalmente em Deus, a ponto de estar disposto até a sacrificar o próprio filho e, com o filho, o futuro, porque sem filho a promessa da terra não é nada, termina em nada. E sacrificando o filho, sacrifica-se a si mesmo, todo o seu futuro, toda a promessa. É realmente um gesto de fé extremamente radical. Neste momento é detido por uma ordem do alto: Deus não quer a morte, mas a vida, o verdadeiro sacrifício não proporciona a morte, mas é a vida e a obediência de Abraão que se torna fonte de uma bênção imensa, até hoje. Deixemos isto, mas podemos meditar sobre este mistério.

Na segunda Leitura, são Paulo afirma que o próprio Deus cumpriu um sacrifício: ofereceu-nos o seu Filho, doou-o na Cruz, para vencer o pecado e a morte, para derrotar o maligno e para superar toda a malícia que existe no mundo. E esta misericórdia extraordinária de Deus suscita a admiração do Apóstolo e uma confiança profunda na força do amor de Deus por nós; com efeito, são Paulo afirma: «[Deus], que não poupou o próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não havia de nos dar também com Ele todas as coisas?» (Rm 8,32). Se Deus se entrega a Si mesmo no Filho, dá-nos tudo. E Paulo insiste sobre o poder do sacrifício redentor de Cristo contra todos os outros poderes que podem ameaçar a nossa vida. Ele interroga-se: «Quem poderia acusar os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Cristo Jesus que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está à direita de Deus, é quem intercede por nós!» (vv. Rm 8,33-34). Nós estamos no Coração de Deus, esta é a nossa grande confiança. Isto cria amor, e no amor caminhamos rumo a Deus. Se Deus doou o próprio Filho por todos nós, ninguém poderá acusar-nos, ninguém poderá condenar-nos, ninguém poderá separar-nos do seu amor imenso. Precisamente o sacrifício supremo de amor na Cruz, que o Filho de Deus aceitou e escolheu voluntariamente, torna-se fonte da nossa justificação, da nossa salvação. E pensamos que na Sagrada Eucaristia está sempre presente este gesto do Senhor, que no seu Coração permanece eternamente, e este gesto do seu Coração atrai-nos, une-nos a Si mesmo.

Finalmente, o Evangelho fala-nos do episódio da transfiguração (cf. Mc 9,2-10): Jesus manifesta-se na glória antes do sacrifício da Cruz, e Deus Pai proclama-O seu Filho predilecto, o amado, e convida os discípulos a ouvi-lo. Jesus sobe a um monte alto e leva consigo três Apóstolos — Pedro, Tiago e João — que permanecerão particularmente próximos dele na agonia extrema, sobre outro monte, o das Oliveiras. Há pouco o Senhor tinha anunciado a sua paixão e Pedro não conseguia compreender por que motivo o Senhor, o Filho de Deus, falava de sofrimento, de rejeição, de mote e de cruz, aliás, chegou a opor-se com decisão a esta perspectiva. Agora Jesus leva consigo os três discípulos, para os ajudar a compreender que o caminho para alcançar a glória, a vereda do amor luminoso que vende as trevas, passa através do dom total de si, passa pelo escândalo da Cruz. E, sempre de novo, o Senhor deve levar-nos consigo também a nós, pelo menos para começarmos a compreender que este é o caminho necessário. A transfiguração é um momento antecipado de luz que nos ajuda também a nós, a fitarmos a paixão de Jesus com o olhar da fé. Sim, ela é um mistério de sofrimento, mas é inclusive a «paixão bem-aventurada» porque é — no núcleo — um mistério de amor extraordinário de Deus; é o êxodo definitivo que nos abre a porta para a liberdade e a novidade da Ressurreição, da salvação do mal. Temos necessidade disto no nosso caminho quotidiano, muitas vezes marcado também pela escuridão do mal!

Estimados irmãos e irmãs! Como já disse, estou muito feliz por estar no meio de vós hoje, para celebrar o Dia do Senhor. Saúdo cordialmente o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso Pároco, Pe. Giampaolo Perugini, ao qual agradeço mais uma vez a amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos vós e também os apreciados dons que me oferecestes. Saúdo os Vigários paroquiais e saúdo as Irmãs Franciscanas Missionárias do Coração Imaculado de Maria, aqui presentes desde há muitos anos, particularmente beneméritas para a vida desta Paróquia, que encontrou hospitalidade imediata e generosa na sua casa nos primeiros três anos de vida. Depois, saúdo também os Irmãos das Escolas Cristãs, naturalmente afeiçoados a esta igreja paroquial que tem o nome do seu Fundador. Além disso, saúdo quantos trabalham activamente no âmbito da Paróquia: refiro-me aos Catequistas, aos membros das Associações e dos Movimentos, assim como aos vários grupos paroquiais. Enfim, gostaria de dirigir o meu pensamento a todos os habitantes do bairro, de modo especial aos idosos, aos doentes, às pessoas sozinhas e em dificuldade.

Ao vir hoje até vós, observei a posição particular desta igreja, posta no ponto mais elevado do bairro, e dotada de um campanário esbelto, como um dedo ou como uma seta rumo ao céu. Parece-me que esta é uma indicação importante: como os três Apóstolos do Evangelho, também nós temos necessidade de subir ao monte da transfiguração para receber a luz de Deus, para que a sua Face ilumine o nosso rosto. E é na oração pessoal e comunitária que nós encontramos o Senhor, não como uma ideia, ou como uma proposta moral, mas como uma Pessoa que quer entrar em relação connosco, que deseja ser amigo e quer renovar a nossa vida para a tornar como a sua. E este encontro não é só um facto pessoal; esta vossa igreja, posta no ponto mais elevado do bairro, recorda-vos que o Evangelho deve ser comunicado, anunciado a todos. Não esperemos que outros venham trazer mensagens diversas, que não conduzem à vida verdadeira; tornai-vos, vós mesmos, missionários de Cristo para os irmãos, lá onde eles vivem, trabalham, estudam ou passam o tempo livre. Conheço as numerosas e significativas obras de evangelização que estais a realizar, de modo particular através do oratório chamado «Estrela polar» — é com prazer que recebo esta t-shirt [do oratório] — onde, graças ao voluntariado de pessoas competentes e generosas, e com a participação das famílias, se favorece a agregação dos jovens através da actividade desportiva, mas sem descuidar a formação cultural, através da arte e da música, e sobretudo educa-se para a relação com Deus, para os valores cristãos e para uma participação cada vez mais consciente na celebração eucarística dominical.

Alegro-me que o sentido de pertença à comunidade paroquial tenha amadurecido cada vez mais, consolidando-se ao longo dos anos. A fé deve ser vivida juntos, e a paróquia é um lugar onde aprendemos a viver a própria fé no «nós» da Igreja. E desejo encorajar-vos a fim de que cresça também a co-responsabilidade pastoral, numa perspectiva de comunhão autêntica entre todas as realidades presentes, que são chamadas a caminhar juntas, a viver a complementaridade na diversidade, a testemunhar o «nós» da Igreja, da família de Deus. Conheço o compromisso com que vos dedicais à preparação dos adolescentes e dos jovens para os Sacramentos da vida cristã. O próximo «Ano da fé» seja uma ocasião propícia também para esta paróquia, para fazer crescer e consolidar a experiência da catequese sobre as grandes verdades da fé cristã, de modo que todo o bairro conheça e aprofunde o Credo da Igreja e supere aquele «analfabetismo religioso», que constitui um dos maiores problemas do nosso hoje.

Caros amigos! A vossa comunidade é jovem — vê-se — constituída por famílias jovens, e graças a Deus são muitas as crianças e os adolescentes que dela fazem parte. A este propósito, gostaria de recordar a tarefa da família e de toda a comunidade cristã, de educar para a fé, ajudados nisto pelo tema do corrente ano pastoral, pelas orientações pastorais propostas pela Conferência Episcopal Italiana, e sem esquecer o ensinamento profundo e sempre actual de são João Baptista de La Salle. Amadas famílias, sois vós sobretudo o ambiente de vida em que se dão os primeiros passos da fé; sede comunidades onde se aprenda a conhecer e amar cada vez mais o Senhor, comunidades em que haja um enriquecimento recíproco para viver uma fé verdadeiramente adulta.

Finalmente, gostaria de recordar a todos vós a importância e a centralidade da Eucaristia na vida pessoal e comunitária. A Santa Missa esteja no âmago do vosso Domingo, que deve ser redescoberto e vivido como Dia do Senhor e da comunidade, no qual deveis louvar e celebrar Aquele que morreu e ressuscitou para a nossa salvação, e viver juntos na alegria de uma comunidade aberta e pronta para acolher cada pessoa sozinha ou em dificuldade. Com efeito, congregados ao redor da Eucaristia, sentimos mais facilmente que a missão de cada comunidade cristã consiste em transmitir a mensagem do amor de Deus a todos os homens. Eis por que é importante que a Eucaristia seja sempre o cerne da vida dos fiéis, como o é no dia de hoje.

Prezados irmãos e irmãs! Do Tabor, o monte da Transfiguração, o itinerário quaresmal conduz-nos até ao Gólgota, monte do supremo sacrifício de amor do único Sacerdote da nova e eterna Aliança. Naquele sacrifício está encerrada a maior força de transformação do homem e da história. Assumindo sobre Si mesmo todas as consequências do mal e do pecado, Jesus ressuscitou no terceiro dia como vencedor da morte e do maligno. A Quaresma prepara-nos para participar pessoalmente neste grande mistério da fé, que celebraremos no Tríduo da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Confiemos à Virgem Maria o nosso caminho quaresmal, assim como o da Igreja inteira. Ela, que acompanhou o seu Filho Jesus até à Cruz, nos ajude a ser discípulos fiéis de Cristo, cristãos maduros, para podermos participar juntamente com Ela na plenitude da alegria pascal. Amém!



Sábado, 10 de Março de 2012: VÉSPERAS POR OCASIÃO DA VISITA DO ARCEBISPO DE CANTERBURY

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Basílica de São Gregório al Celio



Vossa Graça

Venerados Irmãos
Queridos Mongese Monjas Camaldulenses
Amados irmãos e irmãs!

É para mim motivo de grande alegria estar aqui hoje nesta Basílica de São Gregório «al Celio» para a solene celebração vespertina na memória do Trânsito de São Gregório Magno. Convosco, queridos Irmãos e Irmãs da família camaldulense, dou graças a Deus pelos mil anos desde a fundação da Sagrada Ermida de Camaldoli por parte de são Romualdo. Alegro-me profundamente pela presença, nesta particular circunstância, de Sua Graça o Dr. Rowan Williams, Arcebispo de Canterbury. Dirijo a minha saudação cordial a si, querido Irmão em Cristo, a cada um de vós, queridos Monges e Monjas, e a todos os presentes.

Ouvimos dois trechos de são Paulo. O primeiro, tirado da Segunda Carta aos Coríntios, está particularmente em sintonia com o tempo litúrgico que estamos a viver: a Quaresma. De facto, ele contém a exortação do Apóstolo a aproveitar do momento favorável para acolher a graça de Deus. O momento favorável é naturalmente aquele no qual Jesus Cristo veio revelar-nos e doar-nos o amor de Deus por nós, com a sua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição. O «dia da salvação» é aquela realidade que são Paulo chama noutro texto a «plenitude dos tempos», o momento no qual Deus encarnado entra de modo muito singular no tempo e enche-o com a sua graça. Portanto compete a nós acolher este dom, que é o próprio Jesus: a sua Pessoa, a sua Palavra, o seu Santo Espírito. Além disso, sempre na primeira Leitura que ouvimos, são Paulo fala-nos também de si mesmo e do seu apostolado: de como ele se esforça por ser fiel a Deus no seu ministério, para que ele seja verdadeiramente eficaz e não seja um obstáculo à fé. Estas palavras fazem-nos pensar em são Gregório Magno, no testemunho luminoso que deu ao povo de Roma e a toda a Igreja com um serviço irrepreensível e cheio de zelo pelo Evangelho. Pode-se deveras aplicar a são Gregório quanto escreveu Paulo acerca de si: nele a graça de Deus não foi vã (cf.
1Co 15,10). Na realidade, é este o segredo para a vida de cada um de nós: acolher a graça de Deus e consentir com todo o coração e com todas as forças a sua acção. É este o segredo também da verdadeira alegria, e da paz profunda.

A segunda Leitura, ao contrário, era tirada da Carta aos Colossenses. São as palavras – sempre tão comovedoras para o seu alento espiritual e pastoral – que o Apóstolo dirige aos membros daquela comunidade para os formar segundo o Evangelho, para que, independentemente do que fazemos, «em palavras e obras, tudo seja no nome do Senhor Jesus» (Col 3,17). «Sede perfeitos» dissera o Mestre aos seus discípulos: e agora o Apóstolo exortava a viver segundo esta medida alta da vida cristã que é a santidade. Pode fazê-lo porque os irmãos aos quais se dirige são «escolhidos por Deus, santos e amados». Também aqui na base de tudo está a graça de Deus, há o dom da chamada, o mistério do encontro com Jesus vivo. Mas esta graça exige a resposta dos baptizados: requer o compromisso de se revestir dos sentimentos de Cristo: ternura, bondade, humildade, mansidão, magnanimidade, perdão recíproco, e sobretudo, como síntese e coroamento, o agape, o amor que Deus nos deu mediante Jesus e que o Espírito Santo derramou nos nossos corações. E para se revestir de Cristo é necessário que a sua Palavra habite entre nós e em nós com toda a sua riqueza, e em abundância. Num clima de constante acção de graças, a comunidade cristã alimenta-se da Palavra e eleva até Deus, como cântico de louvor, a Palavra que Ele mesmo nos doou. E cada acção, cada gesto, cada serviço, é realizado no âmbito desta relação profunda com Deus, no movimento interior do amor trinitário que desce até nós e volta para Deus, movimento que na celebração do Sacramento eucarístico encontra a sua forma mais alta.

Esta palavra ilumina também as felizes circunstâncias que nos vêem aqui reunidos hoje, em nome de São Gregório Magno. Graças à fidelidade e à benevolência do Senhor, a Congregação dos Monges Camaldulenses da Ordem de São Bento pôde percorrer mil anos de história, alimentando-se quotidianamente da Palavra de Deus e da Eucaristia, tal como tinha ensinado o fundador são Romualdo, segundo o «triplex bonum» da solidão, da vida em comum e da evangelização. Figuras exemplares de homens e mulheres de Deus, como são Pier Damiani, Graziano – o autor do Decretum – são Bruno de Querfurt e os Cinco irmãos mártires, Rodolfo I e Rodolfo II, a beata Gherardesca, a Beata Giovanna da Bagno e o Beato Paolo Giustiniani: homens de ciência e de arte como Frei Mauro o Cosmógrafo, Lorenzo Monaco, Ambrogio Traversari, Pietro Delfino e Guido Grandi: historiadores ilustres como os Analistas Camaldulenses Giovanni Benedetto Mittarelli e Anselmo Costadoni; zelosos Pastores da Igreja, entre os quais sobressai o Papa Gregório XVI, mostraram os horizontes e a grande fecundidade da tradição camaldulense.

Cada fase da longa história dos Camaldulenses conheceu testemunhas fiéis do Evangelho, não só no silêncio do escondimento e da solidão e na vida comum partilhada com os irmãos, mas também no serviço humilde e generoso a todos. Particularmente fecundo foi o acolhimento oferecido pelas camaldulenses forasteiras. Na época do humanismo florentino os muros de Camaldoli acolheram as famosas disputationes, nas quais participavam grandes humanistas como Marsilio Ficino e Cristoforo Landino; nos anos dramáticos da segunda guerra mundial, os mesmos claustros propociaram o nascimento do famoso «Código de Camaldoli», uma das fontes mais significativas da Constituição da República Italiana. Não foram menos fecundos os anos do Concílio Vaticano II, durante os quais amadureceram entre os Camaldulenses personalidades de grande valor, que enriqueceram a Congregação e a Igreja e promoveram novos impulsos e estabelecimentos nos Estados Unidos da América, na Tanzânia, na Índia e no Brasil. Em tudo isto, era garantia de fecundidade o apoio de monges e monjas que acompanhavam as novas fundações com a oração constante, vivida profundamente na sua «clausura», algumas vezes até ao heroísmo.

A 17 de Setembro de 1993, o Beato Papa João Paulo II, encontrando os monges na sagrada Ermida de Camaldoli, comentava o tema do seu iminente Capítulo Geral, «Escolher a esperança, escolher o futuro», com estas palavras: «Escolher a esperança e o futuro significa, em síntese, escolher Deus... Significa escolher Cristo, esperança de cada homem». E acrescentava: «Isto verifica-se, em particular, naquela forma de vida que o próprio Deus suscitou na Igreja inspirando São Romualdo a fundar a Família beneditina de Camaldoli, com a característica complementaridade de Ermida e Mosteiro, vida solitária e vida cenobítica coordenadas entre si». O meu Beato Predecessor ressaltou ainda que «escolher Deus significa também cultivar humilde e pacientemente – aceitando, precisamente, os tempos de Deus – o diálogo ecuménico e o diálogo inter-religioso», sempre a partir da fidelidade ao carisma originário recebido de são Romualdo e transmitido através de uma tradição milenar e multiforme.

Encorajados pela visita e pelas palavras do Sucessor de Pedro, vós monges e monjas camaldulenses prosseguistes o vosso caminho procurando sempre de novo o justo equilíbrio entre o espírito eremítico e o cenobítico, entre a exigência de vos dedicardes totalmente a Deus na solidão e a de vos apoiardes na oração comum e acolher os irmãos para que possam haurir das nascentes da vida espiritual e julgar as vicissitudes do mundo com consciência deveras evangélica. Assim vós procurais obter aquela perfecta caritas que são Gregório Magno considerava ponto de chegada de cada manifestação da fé, compromisso que é confirmado pelo mote do vosso brasão: «Ego Vobis, Vos Mihi», síntese da fórmula de aliança entre Deus e o seu povo, e fonte da perene vitalidade do vosso carisma.

O mosteiro de São Gregório al Celio é o contexto romano no qual celebramos o milénio de Camaldoli com a presença de Sua Graça o Arcebispo de Canterbury que, juntamente connosco, reconhece este Mosteiro como lugar nativo do vínculo entre o Cristianismo nas Terras britânicas e a Igreja de Roma. A celebração de hoje é portanto conotada por um profundo carácter ecuménico que, como sabemos, que se tornaram pertence ao espírito camaldulense contemporâneo. Este Mosteiro camaldulense romano estabeleceu com Canterbury e com a Comunhão Anglicana, sobretudo depois do Concílio Vaticano II, vínculos que se tornaram tradicionais. Hoje pela terceira vez o Bispo de Roma encontra o Arcebispo de Canterbury na casa de são Gregório Magno. E é justo que assim seja, porque precisamente deste Mosteiro o Papa Gregório escolheu Agostinho e os seus quarenta monges para os enviar entre os Anglos para difundir o Evangelho, há pouco mais de mil e quatrocentos anos. A presença constante de monges neste lugar, e durante um período tão longo, é já em si mesma testemunho da fidelidade de Deus à sua Igreja, que somos felizes de poder proclamar ao mundo inteiro. Fazemos votos por que o sinal que juntos poremos diante do santo altar onde o próprio Gregório celebrava o Sacrifício eucarístico, permaneça não só como recordação do nosso encontro fraterno, mas também como estímulo para todos os fiéis, Católicos e Anglicanos, para que, visitando em Roma os sepulcros gloriosos dos santos Apóstolos e Mártires, renovem também o compromisso de rezar constantemente e de trabalhar pela unidade, para viver plenamente segundo aquele «ut unum sint» que Jesus dirigiu ao Pai.

Confiamos este desejo profundo, que temos a alegria de partilhar, à celeste intercessão de São Gregório Magno e de São Romualdo. Amém.



VIAGEM APOSTÓLICA AO MÉXICO E À REPÚBLICA DE CUBA (23-29 DE MARÇO DE 2012)


Domingo, 25 de Março de 2012: Leon, SANTA MISSA

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León, Parque Expo Bicentenário




Amados irmãos e irmãs,

Sinto grande alegria por me encontrar no vosso meio e desejo agradecer profundamente a D. José Guadalupe Martín Rábago, Arcebispo de León, as suas amáveis palavras de boas-vindas. Saúdo o Episcopado Mexicano e ainda os Senhores Cardeais e os outros Bispos aqui presentes, em particular quantos provêm da América Latina e do Caribe. Dirijo a minha saudação calorosa também às Autoridades que nos acompanham e a todos os que se congregaram aqui para participar nesta Santa Missa presidida pelo Sucessor de Pedro.

«Criai em mim, ó Deus, um coração puro» (
Ps 50,12): pedimos no Salmo Responsorial. Esta súplica manifesta a profundidade com que devemos preparar-nos para celebrar, na próxima semana, o grande mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor. E ajuda-nos também a olhar no íntimo do coração humano, especialmente em momentos feitos de sofrimento e de esperança como os que atravessam actualmente o povo mexicano e outros povos da América Latina.

O anseio de um coração puro, sincero, humilde, agradável a Deus era já muito sentido por Israel, à medida que ia tomando consciência da persistência do mal e do pecado no seu seio, como um poder praticamente implacável e impossível de superar. A única possibilidade que lhe restava era confiar na misericórdia de Deus omnipotente e esperar que Ele mudasse a partir de dentro, do coração, uma situação insuportável, obscura e sem futuro. Assim foi ganhando espaço o recurso à misericórdia infinita do Senhor, que não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 33,11). Um coração puro, um coração novo, é aquele que se reconhece impotente por si mesmo e se coloca nas mãos de Deus para continuar a esperar nas suas promessas. Deste modo, o salmista pode convictamente dizer ao Senhor: «Os transviados hão-de voltar para Vós» (Ps 50,15). E, mais adiante, dará uma explicação que é ao mesmo tempo uma firme confissão de fé: «Não desprezareis, Senhor, um espírito humilhado e contrito» (Ps 50,19).

A história de Israel narra também grandes proezas e batalhas, mas quando se trata da sua vida mais autêntica, do seu destino mais decisivo, isto é, da salvação, mais do que em suas próprias forças, Israel depõe a sua esperança em Deus, que pode criar um coração novo, sensível e submisso. Hoje, isto pode recordar a cada um de nós e aos nossos povos que, quando se trata da vida pessoal e comunitária na sua dimensão mais profunda, não bastam as estratégias humanas para nos salvar. Temos, também nós, de recorrer ao Único que nos pode dar vida em plenitude, porque Ele mesmo é a essência da vida e o seu autor, tendo-nos feito participantes dela por seu Filho Jesus Cristo.

O Evangelho de hoje vai mais longe, fazendo-nos ver como este antigo anseio de vida plena se cumpriu realmente em Cristo. Explica-o São João numa passagem onde se cruzam o desejo que alguns gregos tinham de ver Jesus e o momento em que o Senhor está para ser glorificado. À pergunta dos gregos, representantes do mundo pagão, Jesus responde dizendo: «Chegou a hora de o Filho do Homem ser glorificado» (Jn 12,23). Uma resposta estranha, que parece incoerente com o pedido dos gregos: que tem a ver a glorificação de Jesus com o pedido de se encontrarem com Ele? E todavia há uma relação. Como anota Santo Agostinho, alguém poderia pensar que Jesus Se sentisse glorificado, porque vinham ter com Ele os gentios; algo parecido – diríamos nós hoje – com os aplausos da multidão, quando tributa «glória» aos grandes do mundo. Mas não é assim. «Convinha que a sublimidade da sua glorificação fosse precedida pela humildade da sua paixão» (In Joannis EV 51,9, PL 35, 1766).

A resposta de Jesus, que anunciava a sua paixão como iminente, diz-nos que um eventual encontro naquela hora seria supérfluo e talvez ilusório. Aquele que os gregos realmente querem ver, contemplá-Lo-ão erguido na cruz, a partir da qual atrairá todos a Si (cf. Jn 12,32). Lá terá início a sua «glória», por causa do seu sacrifício de expiação por todos, como o grão de trigo caído na terra que, morrendo, germina e dá fruto em abundância. Encontrarão Aquele que o seu coração, sem o saber, seguramente buscava: o verdadeiro Deus que Se faz reconhecível a todos os povos. Este é também o modo como Nossa Senhora de Guadalupe mostrou o seu divino Filho a São Juan Diego: não como um lendário herói portentoso, mas como o verdadeiro Deus pelo Qual se vive, o Criador das pessoas, dos vizinhos e parentes, do Céu e da Terra (cf. Nican Mopohua, v. 33). Naquele momento, Ela fez o que já tinha ensaiado nas Bodas de Caná. Na aflição pela falta de vinho, indicou claramente aos serventes que o caminho a seguir era o seu Filho: «Fazei o que Ele vos disser» (Jn 2,5).

Amados irmãos, quando vinha para cá, passei pelo monumento a Cristo Rei no cimo do Cubilete. O Beato João Paulo II, meu venerado predecessor, embora o desejasse ardentemente, não pôde visitar este lugar emblemático da fé do povo mexicano nas viagens que fez a esta amada terra. Hoje certamente rejubilará no Céu pela graça que o Senhor me concedeu de poder estar agora convosco, como terá abençoado também tantos milhões de mexicanos que ainda recentemente quiseram venerar as suas relíquias em todos os cantos do país. Pois bem, naquele monumento está representado Cristo Rei. Mas as coroas que O acompanham – uma de soberano e outra de espinhos –, indicam que a sua realeza não é como muitos a entenderam e entendem. O seu reino não consiste no poder dos seus exércitos submeterem os outros pela força ou pela violência; funda-se num poder maior, que conquista os corações: o amor de Deus, que Ele trouxe ao mundo com o seu sacrifício, e a verdade de que deu testemunho. Este é o seu domínio, que ninguém Lhe poderá tirar e que ninguém deve esquecer. Por isso é justo que este santuário seja, acima de tudo, um lugar de peregrinação, oração fervorosa, conversão, reconciliação, busca da verdade e acolhimento da graça. Pedimos a Jesus Cristo que reine nos nossos corações, tornando-os puros, dóceis, cheios de esperança e corajosos na sua humildade.

Também hoje, daqui deste parque escolhido para recordar o bicentenário do nascimento da nação mexicana, em que se concentram muitas diversidades sob um destino e uma tarefa comum, pedimos a Cristo um coração puro, onde Ele possa habitar como Príncipe da paz, graças ao poder de Deus que é o poder do bem, o poder do amor. E, para que Deus habite em nós, é preciso escutá-Lo, deixar-se interpelar cada dia pela sua Palavra, meditando-a no próprio coração, a exemplo de Maria (cf. Lc 2,51). Assim cresce a nossa amizade pessoal com Ele, aprende-se o que Ele espera de nós e recebe-se alento para o darmos a conhecer aos outros.

Na Conferência de Aparecida, os Bispos da América Latina e do Caribe reconheceram, com clarividência, a necessidade de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho, radicada na história destas terras, «a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários» (Documento conclusivo, 11). E a Missão Continental, que agora se está realizando de diocese em diocese neste Continente, tem precisamente como objectivo fazer chegar esta convicção a todos os cristãos e às comunidades eclesiais, para que resistam à tentação duma fé superficial e rotineira, por vezes fragmentária e incoerente. Também aqui se deve superar o cansaço da fé e recuperar «a alegria de ser cristão,o ser sustentado pela felicidade interior de conhecer Cristo e pertencer à sua Igreja. E desta alegria nascem também as energias para servir Cristo nas situações opressivas de sofrimento humano, para se colocar à sua disposição em vez de acomodar-se no próprio bem-estar» (Discurso à Cúria Romana, 22 de Dezembro de 2011). Vemo-lo claramente nos Santos, que se entregaram plenamente à causa do Evangelho com entusiasmo e alegria, sem olhar a sacrifícios, incluindo o da própria vida. O seu coração vivia uma aposta incondicional por Cristo, de Quem tinham aprendido o que significa verdadeiramente amar até ao fim.

Neste sentido, o Ano da Fé, que proclamei para toda a Igreja, «é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. (…) Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria» (Porta fidei, 11 de Outubro de 2011, 6.7).

Pedimos à Virgem Maria que nos ajude a purificar o nosso coração, tanto mais que já se aproxima a celebração da festa da Páscoa, para que cheguemos a participar melhor no Mistério de salvação do seu Filho, tal como Ela o deu a conhecer nestas terras. E pedimos-Lhe também que continue a acompanhar e proteger os seus dilectos filhos mexicanos e latino-americanos, para que Cristo reine nas suas vidas e os ajude a promover com coragem a paz, a concórdia, a justiça e a solidariedade. Amen.




Bento XVI Homilias 19212