Bento XVI Homilias 15811


VIAGEM APOSTÓLICA A MADRID POR OCASIÃO DA XXVI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 18-21 DE AGOSTO DE 2011


Madrid, Sábado, 20 de Agosto de 2011: SANTA MISSA COM OS SEMINARISTAS

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Catedral de Santa Maria la Real de la Almudena di Madrid



Senhor Cardeal Arcebispo de Madrid,
Queridos Irmãos no Episcopado,
Queridos sacerdotes e religiosos,
Queridos reitores e formadores,
Queridos seminaristas,
Meus amigos!

Sinto uma profunda alegria ao celebrar a Santa Missa para todos vós, que aspirais a ser sacerdotes de Cristo para o serviço da Igreja e dos homens, e agradeço as amáveis palavras de saudação com que me acolhestes. Hoje esta Catedral de Santa Maria a Real da Almudena lembra um imenso cenáculo onde o Senhor desejou ardentemente celebrar a Sua Pascoa com todos vós que um dia desejais presidir em seu nome os mistérios da salvação. Vendo-vos, comprovo de novo como Cristo continua chamando jovens discípulos para fazer deles seus apóstolos, permanecendo assim viva a missão da Igreja e a oferta do evangelho ao mundo. Como seminaristas, estais a caminho para uma meta santa: ser continuadores da missão que Cristo recebeu do Pai. Chamados por Ele, seguistes a sua voz; e, atraídos pelo seu olhar amoroso, avançais para o ministério sagrado. Ponde os vossos olhos n’Ele, que, pela sua encarnação, é o revelador supremo de Deus ao mundo e, pela sua ressurreição, é a fiel realização da sua promessa. Dai-Lhe graças por este sinal de predilecção que reserva para cada um de vós.

A primeira leitura que escutámos mostra-nos Cristo como o novo e definitivo sacerdote, que fez uma oferta total da sua existência. A antífona do salmo aplica-se perfeitamente a Ele, quando, ao entrar no mundo, Se dirigiu a seu Pai dizendo: «Eis-me aqui para fazer a tua vontade» (cf.
Ps 39,8-9). Procurava agradar-Lhe em tudo: ao falar e ao agir, percorrendo os caminhos ou acolhendo os pecadores. A sua vida foi um serviço, e a sua dedicação abnegada uma intercessão perene, colocando-Se em nome de todos diante do Pai com Primogénito de muitos irmãos. O autor da Carta aos Hebreus afirma que, através desta entrega, nos tornou perfeitos para sempre, a nós que estávamos chamados a participar da sua filiação (cf. He 10,14).

A Eucaristia, de cuja instituição nos fala o evangelho proclamado (cf. Lc 22,14-20), é a expressão real dessa entrega incondicional de Jesus por todos, incluindo aqueles que O entregavam: entrega do seu corpo e sangue para a vida dos homens e para a remissão dos pecados. O sangue, sinal da vida, foi-nos dado por Deus como aliança, a fim de podermos inserir a força da sua vida onde reina a morte por causa do nosso pecado, e assim destruí-lo. O corpo rasgado e o sangue derramado de Cristo, isto é, a sua liberdade sacrificada, converteram-se, através dos sinais eucarísticos, na nova fonte da liberdade redimida dos homens. N’Ele temos a promessa duma redenção definitiva e a esperança segura dos bens futuros. Por Cristo, sabemos que não estamos caminhando para o abismo, para o silêncio do nada ou da morte, mas seguindo para a terra prometida, para Ele que é nossa meta e também nosso princípio.

Queridos amigos, vos preparais para ser apóstolos com Cristo e como Cristo, para ser companheiros de viagem e servidores dos homens.

Como haveis de viver estes anos de preparação? Em primeiro lugar, devem ser anos de silêncio interior, de oração permanente, de estudo constante e de progressiva inserção nas actividades e estruturas pastorais da Igreja. Igreja, que é comunidade e instituição, família e missão, criação de Cristo pelo seu Espírito Santo e simultaneamente resultado de quanto a configuramos com a nossa santidade e com os nossos pecados. Assim o quis Deus, que não se incomoda de tomar pobres e pecadores para fazer deles seus amigos e instrumentos para redenção do género humano. A santidade da Igreja é, antes de mais nada, a santidade objectiva da própria pessoa de Cristo, do seu evangelho e dos seus sacramentos, a santidade daquela força do alto que a anima e impele. Nós devemos ser santos para não gerar uma contradição entre o sinal que somos e a realidade que queremos significar.

Meditai bem este mistério da Igreja, vivendo os anos da vossa formação com profunda alegria, em atitude de docilidade, de lucidez e de radical fidelidade evangélica, bem como numa amorosa relação com o tempo e as pessoas no meio de quem viveis. É que ninguém escolhe o contexto nem os destinatários da sua missão. Cada época tem os seus problemas, mas Deus dá em cada tempo a graça oportuna para os assumir e superar com amor e realismo. Por isso, em toda e qualquer circunstância em que se encontre e por mais dura que esta seja, o sacerdote tem de frutificar em toda a espécie de boas obras, conservando sempre vivas no seu íntimo aquelas palavras do dia da sua Ordenação com que se lhe exortava a configurar a sua vida com o mistério da cruz do Senhor.

Configurar-se com Cristo comporta, queridos seminaristas, identificar-se sempre mais com Aquele que por nós Se fez servo, sacerdote e vítima. Na realidade, configurar-se com Ele é a tarefa em que o sacerdote há-de gastar toda a sua vida. Já sabemos que nos ultrapassa e não a conseguiremos cumprir plenamente, mas, como diz São Paulo, corremos para a meta esperando alcançá-la (cf. Ph 3,12-14).

Mas Cristo, Sumo Sacerdote, é igualmente o Bom Pastor, que cuida das suas ovelhas até ao ponto de dar a vida por elas (cf. Jn 10,11). Para imitar nisto também o Senhor, o vosso corações tem de ir amadurecendo no Seminário, colocando-se totalmente à disposição do Mestre. Dom do Espírito Santo, esta disponibilidade é que inspira a decisão de viver o celibato pelo Reino dos céus, o desprendimento dos bens da terra, a austeridade de vida e a obediência sincera e sem dissimulação.

Pedi-Lhe, pois, que vos conceda imitá-Lo na sua caridade até ao fim para com todos, sem excluir os afastados e pecadores, de tal forma que, com a vossa ajuda, se convertam e voltem ao bom caminho. Pedi-Lhe que vos ensine a aproximar-vos dos enfermos e dos pobres, com simplicidade e generosidade. Afrontai este desafio sem complexos nem mediocridade, mas antes como uma forma estupenda de realizar a vida humana na gratuidade e no serviço, sendo testemunhas de Deus feito homem, mensageiros da dignidade altíssima da pessoa humana e, consequentemente, seus defensores incondicionais. Apoiados no seu amor, não vos deixeis amedrontar por um ambiente onde se pretende excluir Deus e no qual os principais critérios por que se rege a existência são, frequentemente, o poder, o ter ou o prazer. Pode acontecer que vos desprezem, como se costuma fazer com quem aponta metas mais altas ou desmascara os ídolos diante dos quais muito se prostram hoje. Será então que uma vida profundamente radicada em Cristo se revele realmente como uma novidade, atraindo com vigor a quantos verdadeiramente procuram Deus, a verdade e a justiça.

Animados pelos vossos formadores, abri a vossa alma à luz do Senhor para ver se este caminho, que requer coragem e autenticidade, é o vosso, avançando para o sacerdócio só se estiverdes firmemente persuadidos de que Deus vos chama para ser seus ministros e plenamente decididos a exercê-lo obedecendo às disposições da Igreja.

Com esta confiança, aprendei d’Aquele que Se definiu a Si mesmo como manso e humilde de coração, despojando-vos para isso de todo o desejo mundano, de modo que não busqueis o vosso próprio interesse, mas edifiqueis, com a vossa conduta, aos vossos irmãos, como fez o santo padroeiro do clero secular espanhol São João de Ávila. Animados pelo seu exemplo, olhai sobretudo para a Virgem Maria, Mãe dos sacerdotes. Ela saberá forjar a vossa alma segundo o modelo de Cristo, seu divino Filho, e vos ensinará incessantemente a guardar os bens que Ele adquiriu no Calvário para a salvação do mundo. Amen.



Anúncio da próxima declaração de São João de Ávila, presbítero, Padroeiro do Clero secular espanhol, como Doutor da Igreja Universal


Queridos amigos:

Com grande alegria, no marco da santa igreja Catedral de Santa Maria a Real da Almudena, quero anunciar agora ao povo de Deus que, acolhendo os pedidos do Senhor Presidente da Conferência Episcopal Espanhola, o Eminentíssimo Cardeal António Maria Rouco Varela, Arcebispo de Madrid, dos outros Irmãos no Episcopado da Espanha, bem como de um grande número de Arcebispos e Bispos de outras partes do mundo, e de muitos fiéis, declararei, proximamente, São João de Ávila, presbítero, Doutor da Igreja Universal.

Ao fazer pública aqui esta notícia, desejo que a palavra e o exemplo deste exímio pastor possa iluminar os sacerdotes e aqueles que se preparam, com alegria e esperança, para receber um dia a Sagrada Ordenação.

Convido todos a dirigirem o olhar para ele, e confio à sua intercessão os Bispos da Espanha e de todo o mundo, bem como os presbíteros e seminaristas para que, perseverando na mesma fé que ele ensinou, possam modelar seu coração conforme os sentimentos de Jesus Cristo, o Bom Pastor, a quem seja dada toda glória e honra por todos os séculos dos séculos. Amém.




Domingo, 21 de Agosto de 2011: CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA CONCLUSIVA

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PALAVRAS DO SANTO PADRE NO INÍCIO DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA


Base Aérea de Quatro Ventos, Madrid




Queridos Jovens,

Pensei muito em vós, nestas horas em que não foi possível ver-nos. Espero que tenhais podido dormir um pouco, apesar dos rigores do clima. Tenho certeza que, nesta madrugada, tereis levantando, mais de uma vez, os olhos para céu, e não só os olhos, também o coração, e isso vos terá permitido rezar. Deus tira o bem em tudo. Com esta confiança, e sabendo que o Senhor nunca nos abandona, comecemos a nossa celebração eucarística cheios de entusiasmo e firmes na fé.
* * *




Queridos jovens,

Com a celebração da Eucaristia, chegamos ao momento culminante desta Jornada Mundial da Juventude. Ao ver-vos aqui, vindos em grande número de todas as partes, o meu coração enche-se de alegria, pensando no afecto especial com que Jesus vos olha. Sim, o Senhor vos quer bem e vos chama seus amigos (cf.
Jn 15,15). Ele vem ter convosco e deseja acompanhar-vos no vosso caminho, para vos abrir as portas duma vida plena e tornar-vos participantes da sua relação íntima com o Pai. Pela nossa parte, conscientes da grandeza do seu amor, desejamos corresponder, com toda a generosidade, a esta manifestação de predilecção com o propósito de partilhar também com os demais a alegria que recebemos. Na actualidade, são certamente muitos os que se sentem atraídos pela figura de Cristo e desejam conhecê-Lo melhor. Pressentem que Ele é a resposta a muitas das suas inquietações pessoais. Mas quem é Ele realmente? Como é possível que alguém que viveu na terra há tantos anos tenha algo a ver comigo hoje?

No evangelho que ouvimos (cf. Mt 16,13-20), vemos representadas, de certo modo, duas formas diferentes de conhecer Cristo. O primeiro consistiria num conhecimento externo, caracterizado pela opinião corrente. À pergunta de Jesus: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?», os discípulos respondem: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas». Isto é, considera-se Cristo como mais um personagem religioso junto aos que já são conhecidos. Depois, dirigindo-se pessoalmente aos discípulos, Jesus pergunta-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro responde formulando a primeira confissão de fé: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». A fé vai mais longe que os simples dados empíricos ou históricos, e é capaz de apreender o mistério da pessoa de Cristo na sua profundidade.

A fé, porém, não é fruto do esforço do homem, da sua razão, mas é um dom de Deus: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu». Tem a sua origem na iniciativa de Deus, que nos desvenda a sua intimidade e nos convida a participar da sua própria vida divina. A fé não se limita a proporcionar alguma informação sobre a identidade de Cristo, mas supõe uma relação pessoal com Ele, a adesão de toda a pessoa, com a sua inteligência, vontade e sentimentos, à manifestação que Deus faz de Si mesmo. Deste modo, a pergunta de Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?», no fundo está impelindo os discípulos a tomarem uma decisão pessoal em relação a Ele. Fé e seguimento de Cristo estão intimamente relacionados.

E, dado que supõe seguir o Mestre, a fé tem que se consolidar e crescer, tornar-se mais profunda e madura, à medida que se intensifica e fortalece a relação com Jesus, a intimidade com Ele. Também Pedro e os outros apóstolos tiveram que avançar por este caminho, até que o encontro com o Senhor ressuscitado lhes abriu os olhos para uma fé plena.

Queridos jovens, Cristo hoje também se dirige a vós com a mesma pergunta que fez aos apóstolos: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Respondei-Lhe com generosidade e coragem, como corresponde a um coração jovem como o vosso. Dizei-Lhe: Jesus, eu sei que Tu és o Filho de Deus que deste a tua vida por mim. Quero seguir-Te fielmente e deixar-me guiar pela tua palavra. Tu conheces-me e amas-me. Eu confio em Ti e coloco nas tuas mãos a minha vida inteira. Quero que sejas a força que me sustente, a alegria que nuca me abandone.

Na sua reposta à confissão de Pedro, Jesus fala da sua Igreja: «Também Eu te digo: Tu é Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja». Que significa isto? Jesus constrói a Igreja sobre a rocha da fé de Pedro, que confessa a divindade de Cristo.

Sim, a Igreja não é uma simples instituição humana, como outra qualquer, mas está intimamente unida a Deus. O próprio Cristo Se refere a ela como a «sua» Igreja. Não se pode separar Cristo da Igreja, tal como não se pode separar a cabeça do corpo (cf. 1Co 12,12). A Igreja não vive de si mesma, mas do Senhor. Ele está presente no meio dela e dá-lhe vida, alimento e fortaleza.

Queridos jovens, permiti que, como Sucessor de Pedro, vos convide a fortalecer esta fé que nos tem sido transmitida desde os apóstolos, a colocar Cristo, Filho de Deus, no centro da vossa vida. Mas permiti também que vos recorde que seguir Jesus na fé é caminhar com Ele na comunhão da Igreja. Não se pode, sozinho, seguir Jesus. Quem cede à tentação de seguir «por conta sua» ou de viver a fé segundo a mentalidade individualista, que predomina na sociedade, corre o risco de nunca encontrar Jesus Cristo, ou de acabar seguindo uma imagem falsa d’Ele.

Ter fé é apoiar-se na fé dos teus irmãos, e fazer com que a tua fé sirva também de apoio para a fé de outros. Peço-vos, queridos amigos, que ameis a Igreja, que vos gerou na fé, que vos ajudou a conhecer melhor Cristo, que vos fez descobrir a beleza do Seu amor. Para o crescimento da vossa amizade com Cristo é fundamental reconhecer a importância da vossa feliz inserção nas paróquias, comunidades e movimentos, bem como a participação na Eucaristia de cada domingo, a recepção frequente do sacramento do perdão e o cultivo da oração e a meditação da Palavra de Deus.

E, desta amizade com Jesus, nascerá também o impulso que leva a dar testemunho da fé nos mais diversos ambientes, incluindo nos lugares onde prevalece a rejeição ou a indiferença. É impossível encontrar Cristo, e não O dar a conhecer aos outros. Por isso, não guardeis Cristo para vós mesmos. Comunicai aos outros a alegria da vossa fé. O mundo necessita do testemunho da vossa fé; necessita, sem dúvida, de Deus. Penso que a vossa presença aqui, jovens vindos dos cinco continentes, é uma prova maravilhosa da fecundidade do mandato de Cristo à Igreja: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura» (Mc 16,15). Incumbe sobre vós também a tarefa extraordinária de ser discípulos e missionários de Cristo noutras terras e países onde há multidões de jovens que aspiram a coisas maiores e, vislumbrando em seus corações a possibilidade de valores mais autênticos, não se deixam seduzir pelas falsas promessas dum estilo de vida sem Deus.

Queridos jovens, rezo por vós com todo o afecto do meu coração. Encomendo-vos à Virgem Maria, para que Ela sempre vos acompanhe com a sua intercessão materna e vos ensine e fidelidade à Palavra de Deus. Peço-vos também que rezeis pelo Papa, para que, como Sucessor de Pedro, possa continuar confirmando na fé os seus irmãos. Que todos na Igreja, pastores e fiéis, nos aproximemos de dia para dia sempre mais do Senhor, para crescermos em santidade de vida e darmos assim um testemunho eficaz de que Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus, o Salvador de todos os homens e a fonte viva da sua esperança. Amen.





Domingo, 11 de Setembro de 2011: VISITA PASTORAL A ANCONA

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA CONCLUSÃO DO XXV CONGRESSO EUCARÍSTICO NACIONAL ITALIANO

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Canteiro Naval de Ancona




Caríssimos irmãos e irmãs!

Há seis anos, a primeira viagem apostólica do meu pontificado na Itália levou-me a Bari, para o XXIV Congresso Eucarístico Nacional. Hoje, vim para encerrar solenemente o XXV Congresso, aqui em Ancona. Dou graças ao Senhor por estes intensos momentos eclesiais, que fortalecem o nosso amor pela Eucaristia e nos vêem unidos ao redor da Eucaristia! Bari e Ancona, duas cidades debruçadas sobre o mar Adriático; duas cidades ricas de história e de vida cristã; duas cidades abertas para o Oriente, para a cultura e a sua espiritualidade, duas cidades que os temas dos Congressos Eucarísticos contribuíram para aproximar: em Bari fizemos memória do modo como «não podemos viver sem o Domingo»; hoje, o nosso encontro realiza-se no sinal da «Eucaristia para a vida quotidiana».

Antes de vos oferecer alguns pensamentos, gostaria de vos agradecer esta vossa participação coral: em vós, abraço espiritualmente toda a Igreja que está na Itália. Dirijo uma saudação reconhecida ao Presidente da Conferência Episcopal, Cardeal Angelo Bagnasco, pelas cordiais palavras que me dirigiu, também em nome de todos vós; ao meu Legado para este Congresso, Cardeal Giovanni Battista Re; ao Arcebispo de Ancona-Osimo, D. Edoardo Menichelli; aos Bispos da Sede Metropolitana, das Marcas e a quantos vieram numerosos de todas as regiões do país. Juntamente com eles, saúdo os sacerdotes, os diáconos, os consagrados e os fiéis leigos, entre os quais vejo muitas famílias e numerosos jovens. Manifesto a minha gratidão inclusive às Autoridades civis e militares e a quantos, de vários modos, contribuíram para o bom êxito deste encontro.

«Duras são estas palavras! Quem pode escutá-las?» (
Jn 6,60). Diante do discurso de Jesus sobre o pão da vida, pronunciado na sinagoga de Cafarnaum, a reacção dos discípulos — muitos dos quais abandonaram Jesus — não está tão distante das nossas resistências perante o dom total que Ele faz de Si mesmo. Pois receber verdadeiramente esta dádiva quer dizer perder-se, deixar-se envolver e transformar, a ponto de viver d’Ele, como nos recordou o apóstolo Paulo na segunda Leitura: «Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor» (Rm 14,8).

«Duras são estas palavras!»; elas são duras, porque muitas vezes nós confundimos a liberdade com a ausência de vínculos, com a convicção de poder agir sozinhos, sem Deus, visto como um limite para a liberdade. Trata-se de uma ilusão, que não tarda a transformar-se em decepção, gerando inquietude e medo e levando, paradoxalmente, a ter saudades das cadeias do passado: «Oxalá tivéssemos sido mortos pela mão do Senhor no Egipto…» — diziam os judeus no deserto (Ex 16,3), como pudemos ouvir. Na realidade, só na abertura a Deus, no acolhimento do seu dom, é que nos tornamos verdadeiramente livres, livres da escravidão do pecado que desfigura o rosto do homem e capazes de servir o bem genuíno dos irmãos.

«Duras são estas palavras!»; são duras, porque o homem cai frequentemente na ilusão de poder «transformar pedras em pão». Depois de ter abandonado Deus, ou de O ter tolerado como uma escolha particular que não deve interferir na vida pública, determinadas ideologias apostaram na organização da sociedade mediante a força do poder e da economia. A história demonstra-nos, dramaticamente, que a finalidade de assegurar a todos o desenvolvimento, o bem-estar material e a paz, prescindindo de Deus e da sua Revelação, acabou por dar aos homens pedras em vez de pão. Queridos irmãos e irmãs, o pão é «fruto do trabalho do homem», e nesta verdade está encerrada toda a responsabilidade confiada às nossas mãos e ao nosso talento; mas o pão é inclusive, e antes ainda, «fruto da terra», que do alto recebe sol e chuva: é um dom a pedir, que nos priva de toda a soberba e nos faz invocar com a confiança dos humildes: «Pai (…) o pão nosso de cada dia nos dai hoje» (Mt 6,11).

O homem é incapaz de dar a vida a si mesmo, pois só se compreende a si próprio a partir de Deus: é a relação com Ele que confere consistência à nossa humanidade e que torna boa e justa a nossa vida. No Pai-Nosso, pedimos que seja santificado o Seu nome, que venha a nós o Seu reino e que seja feita a Sua vontade. É antes de tudo a primazia de Deus que devemos recuperar no nosso mundo e na nossa vida, porque é esta mesma primazia que nos permite reencontrar a verdade daquilo que nós somos, e é no gesto de conhecer e seguir a vontade de Deus, que encontramos o nosso verdadeiro bem. Reservar tempo e espaço para Deus, a fim de que Ele seja o centro vital da nossa existência.

De onde partir, como de uma fonte, para recuperar e confirmar a primazia de Deus? Da Eucaristia: aqui Deus torna-se tão próximo que se faz nosso alimento; aqui Ele faz-se força no caminho muitas vezes difícil; aqui torna-se presença amiga que transforma. Já a Lei conferida por meio de Moisés era considerada como «pão do céu», graças ao qual Israel se tornou o povo de Deus, mas em Jesus a palavra última e definitiva de Deus faz-se carne, vem ao nosso encontro como Pessoa. Ele, Palavra eterna, é o verdadeiro maná, é o Pão da vida (cf. Jn 6,32-35) e realizar as obras de Deus significa crer nele (cf. Jn 6,28-29). Na última Ceia, Jesus resume toda a sua existência num gesto que se inscreve na grande Bênção pascal a Deus, gesto que Ele vive como Filho, como acção de graças ao Pai pelo seu amor imenso. Jesus parte o pão e distribui-o, mas com uma nova profundidade, porque Ele se doa a Si mesmo. Toma o cálice e compartilha-o, para que todos possam beber dele, mas com este gesto Ele estabelece a «nova Aliança no seu sangue», entrega-se a Si mesmo. Jesus antecipa o gesto de amor supremo, em obediência à vontade do Pai: o sacrifício da Cruz. A vida ser-lhe-á tirada na Cruz, mas já agora Ele a oferece por Si mesmo. Assim, a morte de Cristo não se reduz a uma execução violenta, mas é transformada por Ele num livre gesto de amor, de autodoação, que atravessa vitoriosamente a própria morte e confirma a bondade da criação que saiu das mãos de Deus, humilhada pelo pecado e finalmente redimida. Este dom imenso torna-se-nos acessível no Sacramento da Eucaristia: Deus doa-se-nos, para abrir a nossa existência a Ele, para a envolver no mistério de amor da Cruz, para a tornar partícipe do mistério eterno do qual nascemos e para antecipar a nova condição da vida plena em Deus, à espera da qual nós vivemos.

Mas o que comporta para a nossa vida quotidiana este começar a partir da Eucaristia, para confirmar a primazia de Deus? Caros amigos, a Comunhão eucarística arrebata-nos do nosso individualismo, comunica-nos o Espírito de Cristo morto e ressuscitado, conforma-nos com Ele; une-nos intimamente aos irmãos naquele mistério de comunhão que é a Igreja, onde o único Pão faz de muitos um só corpo (cf. 1Co 10,17), realizando a oração da comunidade cristã das origens, citada no livro da Didaqué: «Como este pão partido foi espalhado pelas colinas e, reunido, se tornou um só, assim a tua Igreja, dos confins da terra, seja congregada no teu Reino» (IX, 4). A Eucaristia sustém e transforma toda a vida quotidiana. Como eu recordava na minha primeira Encíclica, «na comunhão eucarística, está contido o ser amado e o amar, por sua vez, os outros», pelo que «uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente vivido, é em si mesma fragmentária» (Deus caritas est ).

A história bimilenária da Igreja está constelada de santos e de santas, cuja existência é sinal eloquente de que precisamente da comunhão com o Senhor, da Eucaristia nasce uma nova e intensa assunção de responsabilidade a todos os níveis da vida comunitária, nasce portanto um desenvolvimento social positivo, que tem no seu centro a pessoa, particularmente a pobre, doente ou necessitada. Alimentar-se de Cristo é o modo para não permanecermos alheios nem indiferentes à sorte dos irmãos, mas para entrar na mesma lógica de amor e de dom do sacrifício da Cruz; quem sabe ajoelhar-se diante da Eucaristia, quem recebe o Corpo do Senhor, não pode deixar de estar atento, no enredo ordinário dos dias, às situações indignas do homem, e sabe debruçar-se pessoalmente sobre o necessitado, sabe repartir o próprio pão com o faminto, compartilhar a água com o sedento, vestir quem está nu e visitar o enfermo e o encarcerado (cf. Mt 25,34-36). Em cada pessoa, saberá ver o mesmo Senhor que não hesitou em entregar-se inteiramente por nós e para a nossa salvação. Então, uma espiritualidade eucarística é o autêntico antídoto contra o individualismo e o egoísmo — que muitas vezes caracterizam a vida quotidiana — leva à redescoberta da gratuidade, da centralidade dos relacionamentos, a partir da família, com particular atenção a cuidar das feridas daquelas que estão desagregadas. Uma espiritualidade eucarística é a alma de uma comunidade eclesial que ultrapassa divisões e oposições, e valoriza as diversidades de carismas e ministérios, colocando-os ao serviço da unidade da Igreja, da sua vitalidade e da sua missão. Uma espiritualidade eucarística é uma maneira de restituir a dignidade aos dias do homem e, portanto, ao seu trabalho, na busca da sua reconciliação com os tempos da festa e da família, e no compromisso a superar a incerteza da precariedade no mundo do trabalho e o problema do desemprego. Uma espiritualidade eucarística ajudar-nos-á também a abordar as várias formas de fragilidade humana, conscientes de que elas não ofuscam o valor da pessoa, mas exigem proximidade, acolhimento e ajuda. Do Pão da vida tirará vigor uma renovada capacidade educativa, atenta a dar testemunho dos valores fundamentais da existência, do saber e do património espiritual e cultural; a sua vitalidade far-nos-á habitar a cidade dos homens, com a disponibilidade a prodigalizar-nos no horizonte do bem-comum, em vista da construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

Estimados amigos, recomecemos a partir desta terra das Marcas, com a força da Eucaristia, numa osmose constante entre o mistério que celebramos e os âmbitos da nossa vida quotidiana. Nada existe de autenticamente humano, que não encontre na Eucaristia a forma adequada para ser vivido em plenitude: por conseguinte, que a vida quotidiana se torne lugar do culto espiritual, para viver em todas as circunstâncias a primazia de Deus, no interior da relação com Cristo e como oferenda ao Pai (cf. Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis, 71). Sim, «não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4,4): nós vivemos da obediência a esta palavra, que é pão vivo, até nos entregarmos, como Pedro, com a inteligência do amor: «Senhor, para quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. E nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus!» (Jn 6,68-69).

Como a Virgem Maria, tornemo-nos também nós «ventre» disponível para oferecer Jesus ao homem do nosso tempo, despertando o desejo profundo daquela salvação que vem unicamente dele. Bom caminho, com Cristo Pão de vida, a toda a Igreja que está na Itália! Amém.



VIAGEM APOSTÓLICA À ALEMANHA 22-25 DE SETEMBRO DE 2011


Berlim, Quinta-feira, 22 de Setembro de 2011: SANTA MISSA

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Estádio Olímpico de Berlim




Amados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Amados irmãos e irmãs!

A contemplação deste amplo estádio olímpico, cheio hoje com a vossa presença em grande número, gera em mim imensa alegria e confiança. Com afecto saúdo a todos vós: os fiéis da arquidiocese de Berlim e das outras dioceses alemãs, bem como os numerosos peregrinos vindos dos países vizinhos. Há quinze anos, pela primeira vez, veio um Papa à capital federal de Berlim. Todos – incluindo eu pessoalmente – guardam bem viva a recordação da visita do meu venerado Predecessor, o Beato João Paulo II, e da beatificação do Pároco da Catedral de Berlim, Bernhard Lichtenberg – juntamente com a de Karl Leisner – que se deu precisamente aqui, neste lugar.

Pensando nestes Beatos e na multidão inteira dos Santos e Beatos, podemos compreender o que significa viver como ramos da videira verdadeira, que é Cristo, e dar fruto. O Evangelho de hoje trouxe-nos à mente a imagem desta planta, que se alcandora frondosa no oriente e é símbolo de força vital, uma metáfora da beleza e dinamismo da comunhão de Jesus com os seus discípulos e amigos, connosco.

Na parábola da videira, Jesus não diz: «Vós sois a videira»; mas: «Eu sou a videira, vós os ramos» (
Jn 15,5). Isto significa: «Assim como os ramos estão ligados à videira, assim também vós pertenceis a Mim! Mas, pertencendo a Mim, pertenceis também uns aos outros». E, neste pertencer um ao outro e a Ele, não se trata de qualquer relação ideal, imaginária, simbólica, mas é – apetece-me quase dizer – um pertencer a Jesus Cristo em sentido biológico, plenamente vital. É a Igreja, esta comunidade de vida com Jesus Cristo e de um para o outro, que está fundada no baptismo e se vai aprofundando cada vez mais na Eucaristia. «Eu sou a videira verdadeira»: isto na realidade, porém, significa: «Eu sou vós, e vós sois Eu» – uma identificação inaudita do Senhor connosco, com a sua Igreja.

Uma vez, às portas de Damasco, o próprio Cristo perguntou a Saulo, o perseguidor da Igreja: «Porque Me persegues?» (Ac 9,4). Deste modo, o Senhor exprime a comunhão de destino que deriva da íntima comunhão de vida da sua Igreja com Ele, o Ressuscitado. Ele continua a viver na sua Igreja neste mundo. Ele está connosco, e nós estamos com Ele. «Porque Me persegues?»: em última análise, é a Jesus que querem ferir os perseguidores da sua Igreja; e, ao mesmo tempo, isto significa que não estamos sozinhos quando somos oprimidos por causa da nossa fé. Jesus Cristo está ao nosso lado e connosco.

Na parábola, o Senhor Jesus começa dizendo: «Eu sou a videira verdadeira, e o meu Pai é o agricultor» (Jn 15,1), explicando que o vinhateiro toma a tesoura, corta os ramos secos e poda aqueles que produzem fruto para que dêem mais fruto. Dizendo isto mesmo com a imagem do profeta Ezequiel, que escutámos na primeira leitura, Deus quer tirar do nosso peito o coração morto, de pedra, e dar-nos um coração vivo, de carne (cf. Ez 36,26). Quer dar-nos uma vida nova, pujante de força, um coração cheio de amor, de bondade e de paz. Cristo veio chamar os pecadores; são estes que precisam do médico, não os sãos (cf. Lc 5,31-32). Deste modo, como diz o Concílio Vaticano II, a Igreja é o «universal sacramento de salvação» (LG 48), que existe para os pecadores, para nós, a fim de nos abrir o caminho da conversão, da cura e da vida. Esta é a contínua e grande missão da Igreja, que Cristo lhe conferiu.

Alguns olham para Igreja, detendo-se no seu aspecto exterior. Então ela aparece-lhes apenas como uma das muitas organizações presentes numa sociedade democrática; e, segundo as normas e leis desta, se deve depois avaliar e tratar inclusive uma figura tão difícil de compreender como é a «Igreja». Se depois se vem juntar ainda a experiência dolorosa de que, na Igreja, há peixes bons e maus, trigo e joio, e se o olhar se fixa nas realidades negativas, então nunca mais se desvenda o mistério grande e belo da Igreja.

Consequentemente deixa de assomar qualquer alegria pelo facto de se pertencer a uma tal videira que é «Igreja». Crescem insatisfação e descontentamento, se não virem realizadas as próprias ideias superficiais e erróneas de «Igreja» e os próprios «sonhos de Igreja»! Então cessa também aquele jubiloso cântico «Agradeço ao Senhor que por graça me chamou à sua Igreja» que gerações de católicos cantaram com convicção.

Mas voltemos ao Evangelho. O Senhor continua deste modo: «Permanecei em Mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em Mim (…), pois, sem Mim – poder-se-ia traduzir também: fora de Mim –, nada podeis fazer» (Jn 15,4-5).

Cada um de nós vê-se aqui confrontado com tal decisão. E o Senhor, na sua parábola, insiste na seriedade da mesma: «Se alguém não permanecer em Mim, é lançado fora, como um ramo, e seca; depois apanham os ramos deitados fora, lançam-nos ao fogo e queimam-nos» (cf. Jn 15,6). A este respeito, comenta Santo Agostinho: «Ao ramo toca uma coisa ou outra: ou a videira ou o fogo; se [o ramo] não estiver na videira, estará no fogo; por conseguinte, para que não esteja no fogo, fique na videira» (In Joan. Ev. tract. 81, 3: PL 35, 1842).

A escolha aqui pedida faz-nos compreender, de modo insistente, o significado fundamental da nossa opção de vida. Mas, ao mesmo tempo, a imagem da videira é um sinal de esperança e confiança. Ao encarnar-Se, o próprio Cristo veio a este mundo para ser o nosso fundamento. Em cada necessidade e aridez, Ele é a fonte que dá a água da vida que nos sacia e fortalece. Ele mesmo carrega sobre Si todo o pecado, medo e sofrimento e, por fim, nos purifica e transforma misteriosamente em ramos bons que dão vinho bom. Em tais momentos de necessidade, às vezes sentimo-nos como que sob uma prensa, à semelhança dos cachos de uva que são completamente esmagados. Mas sabemos que, unidos a Cristo, nos tornamos vinho generoso. Deus sabe transformar em amor mesmos as coisas pesadas e acabrunhadoras da nossa vida. Importante é «permanecermos» na videira, em Cristo. Neste breve trecho, o evangelista usa uma dúzia de vezes a palavra «permanecer». Este «permanecer-em-Cristo» caracteriza o discurso inteiro. No nosso tempo de inquietação e indiferença, em que tanta gente perde a orientação e o apoio; em que a fidelidade do amor no matrimónio e na amizade se tornou tão frágil e de breve duração; em que nos apetece gritar, em nossa necessidade, como os discípulos de Emaús: «Senhor, fica connosco, porque anoitece (cf. Lc 24,29), sim, é escuro ao nosso redor!»; neste tempo, o Senhor ressuscitado oferece-nos um refúgio, um lugar de luz, de esperança e confiança, de paz e segurança. Onde a secura e a morte ameaçam os ramos, aí, em Cristo, há futuro, vida e alegria; aí há sempre perdão e novo início, transformação ao entrar no seu amor.

Permanecer em Cristo significa, como já vimos, permanecer na Igreja. A comunidade inteira dos crentes está firmemente unida em Cristo, a videira. Em Cristo, todos nós estamos conjuntamente unidos. Nesta comunidade, Ele sustenta-nos e, ao mesmo tempo, todos os membros se sustentam uns aos outros. Juntos resistimos às tempestades e oferecemos protecção uns aos outros. Não cremos sozinhos, cremos com toda a Igreja, de todo o lugar e de todo o tempo, com a Igreja que está no Céu e na terra.

Como anunciadora da Palavra de Deus e dispensadora dos sacramentos, a Igreja une-nos com Cristo, a videira verdadeira. A Igreja, como «plenitude e completamento do Redentor» – como a chamava Pio XII [Mystici corporis, AAS 35 (1943), p. 230: «plenitudo et complementum Redemptoris»] –, é para nós penhor da vida divina e medianeira dos frutos de que fala a parábola da videira. Deste modo, a Igreja é o dom mais belo de Deus. Por isso, Agostinho podia dizer: «Cada um possui o Espírito Santo na medida em que ama a Igreja» (In Ioan. Ev. tract. 32, 8: PL 35, 1646). Com a Igreja e na Igreja, podemos anunciar a todos os homens que Cristo é a fonte da vida, que Ele está presente, que é a realidade grande que procuramos e pela qual anelamos. Ele dá-Se a Si mesmo, e assim dá-nos Deus, a felicidade, o amor. Quem crê em Cristo, tem um futuro. Porque Deus não quer aquilo que é árido, morto, artificial, e que no fim é deitado fora, mas quer o que é fecundo e vivo, a vida em abundância; e é Ele que nos dá a vida em abundância.

Amados irmãos e irmãs! Desejo a todos vós e a nós todos que possamos descobrir cada vez mais profundamente a alegria de estar unidos com Cristo na Igreja – com todas as suas tribulações e sombras –, que possais encontrar nas vossas necessidades conforto e redenção e que todos nós possamos tornar-nos para este mundo o delicioso vinho da alegria e do amor de Cristo. Amen.



Bento XVI Homilias 15811