Compêndio




CATECISMO


DA

IGREJA CATÓLICA

Compêndio

© Copyright 2005 - Libreria Editrice Vaticana

«Motu Proprio»

Introdução


PRIMEIRA PARTE - A PROFISSÃO DA FÉ

Primeira Secção: «Eu Creio» – «Nós Cremos»
Capítulo Primeiro: O Homem é «capaz» de Deus
Capítulo Segundo: Deus vem ao encontro do homem
A Revelação de Deus
A transmissão da revelação divina
A Sagrada Escritura
Capítulo Terceiro: A resposta do homem a Deus
Eu creio
Nós cremos
Segunda Secção: A Profissão da Fé Cristã
O Credo: Símbolo dos Apóstolos: Credo Niceno-Constantinopolitano
Capítulo Primeiro: Creio em Deus Pai
Os Símbolos da Fé
«Creio em Deus, Pai Omnipotente, Criador do Céu e da Terra»
O céu e a terra
O homem
A queda
Capítulo Segundo: Creio em Jesus Cristo, o Filho unigénito de Deus
«E em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor»
«Jesus Cristo foi concebido pelo poder do Espírito Santo, e nasceu da Virgem Maria»
«Jesus Cristo padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado»
«Jesus Cristo desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia»
«Jesus subiu ao céu está sentado à direita do Pai Omnipotente»
«De onde virá a julgar os vivos e os mortos»
Capítulo Terceiro: Creio no Espírito Santo
«Creio no Espírito Santo»
«Creio na Santa Igreja Católica»
A Igreja no desígnio de Deus
A Igreja: povo de Deus, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo
A Igreja é una, santa, católica e apostólica
Os fiéis: hierarquia, leigos, vida consagrada
Creio na Comunhão dos santos
Maria Mãe de Cristo, Mãe da Igreja
«Creio na remissão dos pecados»
«Creio na ressurreição da carne»
«Creio na vida eterna»
«Ámen»


SEGUNDA PARTE - A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO

Primeira Secção: A Economia Sacramental
Capítulo Primeiro: O Mistério pascal no tempo da Igreja
Liturgia – Obra da Santíssima Trindade
O Mistério Pascal nos Sacramentos da Igreja
Capítulo Segundo: A celebração sacramental do Mistério Pascal
Celebrar a liturgia da Igreja
Quem celebra?
Como celebrar?
Quando celebrar?
Onde celebrar?
Diversidade Litúrgica e Unidade do Mistério
Segunda Secção: Os sete Sacramentos da Igreja
Os sete Sacramentos da Igreja
Capítulo Primeiro: Os sacramentos da iniciação cristã
O Sacramento do Baptismo
O Sacramento da Confirmação
O Sacramento da Eucaristia
Capítulo Segundo: Os Sacramentos da cura
O sacramento da Penitência e da Reconciliação
O sacramento da Unção dos Enfermos
Capítulo Terceiro: Os sacramentos ao serviço da comunhão e da missão
O Sacramento da Ordem sacerdotal
O Sacramento do Matrimónio
Capítulo Quarto: As outras celebrações litúrgicas
Os Sacramentais
As Exéquias Cristãs


TERCEIRA PARTE - A VIDA EM CRISTO

Primeira Secção: A vocação do Homem: A Vida no Espírito
Capítulo Primeiro: A dignidade da pessoa humana
O homem imagem de Deus
A nossa vocação à bem-aventurança
A liberdade do homem
A moralidade das paixões
A consciência moral
As virtudes
O Pecado
Capítulo Segundo: A comunidade humana
A pessoa e a sociedade
A participação na vida social
A justiça social
Capítulo Terceiro: A salvação de Deus: a Lei e a graça
A Lei Moral
Graça e Justificação
A Mãe e Mestra
Segunda Secção: Os Dez Mandamentos
Êxodo - Deuteronómio - Fórmula da Catequese
Capítulo Primeiro: «Amarás o Senhor teu Deus com todo teu Coração, com toda a tua Alma e com todas as tuas forças»
O Primeiro Mandamento: Eu sou o Senhor teu Deus não terás outro Deus além de mim
O Segundo Mandamento: Não invocar o Santo Nome de Deus em vão
O Terceiro Mandamento: Santificar os Domingos e Festas de Guarda
Capítulo Segundo: «Amarás o Teu próximo como a Ti mesmo»
O Quarto Mandamento: Honrar Pai e Mãe
O Quinto Mandamento: Não Matar
O Sexto Mandamento: Não cometer o Adultério
O Sétimo Mandamento: Não roubar
O Oitavo Mandamento: Não levantar falsos testemunhos
O Nono Mandamento: Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos
O Décimo Mandamento: Não cobiçar as coisas alheias


QUARTA PARTE - A ORAÇÃO CRISTÃ

Primeira Secção: A Oração na Vida Cristã
Capítulo Primeiro: A Revelação da Oração
A Revelação da Oração no Antigo Testamento
A Oração Plenamente revelada e realizada em Jesus
A Oração no Tempo da Igreja
Capítulo Segundo: A Tradição da Oração
Nas Fontes da Oração
O Caminho da Oração
Guias para a Oração
Capítulo Terceiro: A Vida de Oração
As Expressões da Oração
O Combate da Oração
Segunda secção: A Oração do Senhor: Pai Nosso
Pai Nosso
«A Síntese de todo o Evangelho»
«Pai Nosso que estais nos Céus »
As sete petições

Apêndice
A) Orações Comuns
B) Fórmulas de Doutrina Católica

Abreviaturas Bíblicas

MOTU PROPRIO

Para a aprovação e publicação

do Compêndio

do Catecismo da Igreja Católica


Aos Veneráveis Irmãos Cardeais, Patriarcas, Arcebispos, Bispos,
Presbíteros, Diáconos e a todos os Membros do Povo de Deus

Há já vinte anos que se iniciou a elaboração do Catecismo da Igreja Católica, pedido pela Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, por ocasião do vigésimo aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II.

Agradeço muito a Deus Nosso Senhor por ter dado à Igreja tal Catecismo, promulgado, em 1992, pelo meu venerado e amado Predecessor, o Papa João Paulo II.

A utilidade e preciosidade deste dom obteve confirmação, antes de mais, na positiva e larga recepção por parte do episcopado, ao qual primeiramente se dirigia, sendo aceite como texto de referência segura e autêntica em ordem ao ensino da doutrina católica e à elaboração dos catecismos locais. Foi também confirmado por todas as componentes do Povo de Deus que o puderam conhecer e apreciar nas mais de cinquenta línguas, em que até agora foi traduzido.

Agora com grande alegria aprovo e promulgo o Compêndio de tal Catecismo.

Ele tinha sido intensamente desejado pelos participantes no Congresso Internacional de Catequese de Outubro de 2002, que, deste modo, se fizeram intérpretes duma exigência muito difundida na Igreja. Para acolher este desejo, o meu saudoso Predecessor, em Fevereiro de 2003, decidiu a sua preparação, confiando a sua redacção a uma Comissão restrita de Cardeais, presidida por mim, apoiada pela colaboração de alguns especialistas. No decorrer dos trabalhos, um projecto do Compêndio foi submetido à apreciação de todos os Eminentíssimos Cardeais e dos Presidentes das Conferências Episcopais, que, na sua grande maioria, o acolheram e apreciaram positivamente.

O Compêndio, que agora apresento à Igreja universal, é uma síntese fiel e segura do Catecismo da Igreja Católica. Ele contém, de maneira concisa, todos os elementos essenciais e fundamentais da fé da Igreja, de forma a constituir, como desejara o meu Predecessor, uma espécie de vademecum, que permita às pessoas, aos crentes e não crentes, abraçar, numa visão de conjunto, todo o panorama da fé católica.

Ele espelha fielmente na estrutura, nos conteúdos e na linguagem o Catecismo da Igreja Católica, que encontrará nesta síntese uma ajuda e um estímulo para ser mais conhecido e aprofundado.

Em primeiro lugar, confio esperançoso este Compêndio a toda a Igreja e a cada cristão para que, graças a ele, se encontre, neste terceiro milénio, novo impulso no renovado empenhamento de evangelização e de educação na fé, que deve caracterizar cada comunidade eclesial e cada crente em Cristo, em qualquer idade e nação.

Mas este Compêndio, pela sua brevidade, clareza e integridade, dirige-se a todas as pessoas, que, num mundo caracterizado pela dispersão e pelas múltiplas mensagens, desejam conhecer o Caminho da Vida, a Verdade, confiada por Deus à Igreja do Seu Filho.

Lendo este instrumento autorizado que é o Compêndio, possa cada um, em especial graças à intercessão de Maria Santíssima, a Mãe de Cristo e da Igreja, reconhecer e acolher cada vez mais a beleza inexaurível, a unicidade e actualidade do Dom por excelência que Deus concedeu à humanidade: o Seu único Filho, Jesus Cristo, que é «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jn 14,6).

Dado aos 28 de Junho de 2005, vigília da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, ano primeiro de Pontificado.

BENEDICTUS PP XVI


INTRODUÇÃO

(1). No dia 11 de Outubro de 1992, o Papa João Paulo II entregava aos fiéis de todo o mundo o Catecismo da Igreja Católica, apresentando-o como «texto de referência» (1) para uma catequese renovada nas fontes vivas da fé. A trinta anos da abertura do Concílio Vaticano II (1962-1965), completava-se assim o desejo expresso em 1985 pela Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, para que fosse composto um catecismo de toda a doutrina católica quer no tocante à fé quer no que se refere à moral.

Cinco anos depois, a 15 de Agosto de 1997, ao promulgar a edição típica do Catecismo da Igreja Católica, o Sumo Pontífice confirmava a finalidade fundamental da obra: «Apresenta-se como exposição completa e íntegra da doutrina católica, que permite a todos conhecer o que a mesma Igreja professa, celebra, vive, reza na sua vida quotidiana» (2).

(2). Para uma maior valorização do Catecismo e vir ao encontro dum pedido que surgiu no Congresso Internacional de Catequese em 2002, João Paulo II instituiu, em 2003, uma Comissão especial, presidida pelo Card. Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, em ordem à elaboração dum Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, como formulação sintetizada dos conteúdos da fé. Após dois anos de trabalho, foi preparado um projecto de compêndio, que foi enviado para apreciação aos Cardeais e aos Presidentes das Conferências Episcopais. O projecto recebeu, em geral, uma apreciação positiva por parte da maioria absoluta de quantos responderam. Tendo em conta as propostas de melhoramento que chegaram, a Comissão procedeu à revisão do projecto e preparou o texto final da obra.

(3). São três as características principais do Compêndio: a estrita dependência do Catecismo da Igreja Católica; o género dialoga]; a utilização das imagens na catequese.

Antes de mais, o Compêndio não é uma obra autónoma, pois não pretende, de modo nenhum, substituir o Catecismo da Igreja Católica: pelo contrário. remete continuamente para ele, quer mediante a indicação, ponto por ponto, dos números a que se refere, quer através da contínua referência à estrutura, ao desenvolvimento e aos seus conteúdos. Além disso o Compêndio pretende despertar um renovado interesse e fervor em relação ao Catecismo, que, com a sua sábia exposição e a sua unção espiritual, permanece sempre o texto de base da catequese eclesial de hoje.

Como o Catecismo, também o Compêndio se divide em quatro partes, de acordo com as leis fundamentais da vida em Cristo.

A primeira parte, intitulada «A profissão da fé», é uma síntese adequada da lex credendi, isto é, da fé professada pela Igreja Católica, retirada do Símbolo Apostólico ilustrado com o Símbolo Niceno-Constantinopolitano, cuja proclamação constante nas assembleias cristãs mantém viva a memória das principais verdades da fé.

A segunda parte, intitulada «A celebração do mistério cristão», apresenta os elementos essenciais da lex celebrandi. O anúncio do Evangelho encontra a sua resposta privilegiada na vida sacramental. Nela os fiéis experimentam e testemunham em cada momento da sua existência a eficácia salvífica do mistério pascal, por meio do qual Cristo realizou a obra da nossa redenção.

A terceira parte, intitulada «A vida em Cristo», chama a atenção para a lex vivendi, isto é, para o empenho que os baptizados têm de manifestar nas sua: atitudes e nas suas opções éticas de fidelidade à fé professada e celebrada. Os fiéis são chamados pelo Senhor Jesus a agir de acordo com a sua dignidade de filhos de Deus Pai na caridade do Espírito Santo.

A quarta parte, intitulada «A oração cristã», apresenta uma síntese da lex orandi, isto é, da vida de oração. A exemplo de Jesus, o modelo perfeito do orante, também o cristão é chamado ao diálogo com Deus na oração, de cuja expressão privilegiada é o Pai-nosso, a oração que o próprio Jesus nos ensinou.

(4). Uma segunda característica do Compêndio e a sua forma dialogada, que retoma um antigo género literário da catequese, constando de pergunta e resposta. Trata-se de repropor um diálogo ideal entre o mestre e o discípulo, mediante uma sequência de interrogações que envolvem o leitor convidando-o prosseguir na descoberta de aspectos novos da verdade da fé. O género dialogal concorre também para abreviar notavelmente o texto, reduzindo-o ao essencial. Isto poderia ajudar a assimilação e a eventual memorização do conteúdo.

(5). A terceira característica reside nas imagens, que assinalam a organização do Compêndio. Provêm do riquíssimo património da iconografia cristã. A tradição secular e conciliar diz-nos que também a imagem é pregação evangélica. Os artistas de todos os tempos apresentaram à contemplação e à admiração dos fiéis os factos salientes do mistério da salvação, no esplendor da cor e na perfeição da beleza. Indício de que, hoje mais do que nunca, na época da imagem, a imagem sagrada pode exprimir muito mais que a palavra, pois é muito mais eficaz o seu dinamismo de comunicação e de transmissão da mensagem evangélica.

(6). A quarenta anos da conclusão do Concílio Vaticano II e no ano da Eucaristia, o Compêndio pode constituir um ulterior subsídio para satisfazer quer a fome de verdade dos fiéis de todas as idades e condições, quer também a necessidade de quantos, não sendo fiéis, têm sede de verdade e de justiça. A sua publicação terá lugar na solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, colunas da Igreja universal e evangelizadores exemplares do Evangelho no mundo antigo. Estes apóstolos viveram o que pregaram e testemunharam a verdade de Cristo até ao martírio. Imitemo-los no seu ardor missionário e peçamos ao Senhor a fim de que a Igreja siga sempre o ensinamento dos Apóstolos, dos quais recebeu o primeiro alegre anúncio da fé.

20 de Março de 2005, Domingo de Ramos.

Joseph Card. Ratzinger
Presidente da Comissão especial

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1. João Paulo II, Const. Apost. Fidei depositum, 11 de Outubro de 1992.

2. João Paulo II, Carta Apost. Laetamur magnoepre, 15 de Agosto de 1997.



PRIMEIRA PARTE

A PROFISSÃO DA FÉ

PRIMEIRA SECÇÃO

«EU CREIO» – «NÓS CREMOS»


1 Qual é o desígnio de Deus acerca do homem?

CEC 1

Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em si mesmo, num desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para o tornar participante da sua vida bem-aventurada. Na plenitude dos tempos, Deus Pai enviou o seu Filho, como Redentor e Salvador dos homens caídos no pecado, convocando-os à sua Igreja e tornando-os filhos adoptivos por obra do Espírito Santo e herdeiros da sua eterna bem-aventurança.

CAPÍTULO PRIMEIRO

O HOMEM É «CAPAZ» DE DEUS

CEC 30

«És grande, Senhor, e digno de todo o louvor [...]. Fizeste-nos para Ti e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Ti» ( S. Agostinho ).

2 Porque é que no homem existe o desejo de Deus?

CEC 27-30
CEC 44-45

Ao criar o homem à sua imagem, o próprio Deus inscreveu no coração humano o desejo de O ver. Mesmo que, muitas vezes, tal desejo seja ignorado, Deus não cessa de atrair o homem a Si, para que viva e encontre n’Ele aquela plenitude de verdade e de felicidade, que ele procura sem descanso. Por natureza e por vocação, o homem é um ser religioso, capaz de entrar em comunhão com Deus. É este vínculo íntimo e vital com Deus que confere ao homem a sua dignidade fundamental.


3 Como é que se pode conhecer Deus apenas com a luz da razão?

CEC 31-36
CEC 46-47

A partir da criação, isto é, do mundo e da pessoa humana, o homem pode, só pela razão, conhecer com certeza a Deus como origem e fim do universo e como sumo bem, verdade e beleza infinita.


4 Basta porém a exclusiva luz da razão para conhecer Deus?

CEC 37-38

Ao conhecer Deus só com a luz da razão, o homem experimenta muitas dificuldades. Além disso, não pode entrar só pelas suas próprias forças na intimidade do mistério divino. Por isso é que Deus o quis iluminar com a sua Revelação não apenas sobre verdades que excedem o seu entendimento, mas também sobre verdades religiosas e morais que, apesar de serem por si acessíveis à razão, podem deste modo ser conhecidas por todos, sem dificuldade, com firme certeza e sem mistura de erro.


5 Como se pode falar de Deus?

CEC 39-43
CEC 48-49

É possível falar de Deus a todos e com todos, a partir das perfeições do homem e das outras criaturas, que são um reflexo, embora limitado, da infinita perfeição de Deus. É, porém, necessário purificar continuamente a nossa linguagem de tudo o que ela contém de imaginário e imperfeito, na consciência de que nunca será possível exprimir plenamente o infinito mistério de Deus.



CAPÍTULO SEGUNDO

DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM

A REVELAÇÃO DE DEUS


6 O que é que Deus revela ao homem?

CEC 50-53
CEC 68-69

Deus revela-se ao homem, na sua bondade e sabedoria. Mediante acontecimentos e palavras, Deus revela-se a Si mesmo e ao seu desígnio de benevolência, que Ele, desde a eternidade, preestabeleceu em Cristo a favor dos homens. Tal desígnio consiste em fazer participar, pela graça do Espírito Santo, todos os homens na vida divina, como seus filhos adoptivos no seu único Filho.


7 Quais as primeiras etapas da Revelação de Deus?

CEC 54-58
CEC 70-71

Deus manifesta-se desde o princípio aos nossos primeiros pais, Adão e Eva, e convida-os a uma comunhão íntima com Ele. Após a sua queda, não interrompe a revelação e promete a salvação para toda a sua descendência. Após o dilúvio, estabelece com Noé uma aliança entre Ele e todos os seres vivos.


8 Quais as etapas sucessivas da Revelação de Deus?

CEC 59-64
CEC 72

Deus escolhe Abrão chamando-o a deixar a sua terra para fazer dele “o pai duma multidão de povos” (Gn 17,5), e promete abençoar nele “todas as nações da terra” (Gn 12,3). Os descendentes de Abraão serão o povo eleito, os depositários das promessas divinas feitas aos patriarcas. Deus forma Israel como seu povo salvando-o da escravidão do Egipto; conclui com ele a Aliança do Sinai, e dá-lhe a sua Lei, por meio de Moisés. Os profetas anunciam uma redenção radical do povo e uma salvação que incluirá todas as nações numa Aliança nova e eterna, que será gravada nos corações. Do povo de Israel, da descendência do rei David, nascerá o Messias: Jesus.


9 Qual é a etapa plena e definitiva da Revelação de Deus?

CEC 65-66
CEC 73

É aquela realizada no seu Verbo encarnado, Jesus Cristo, mediador e plenitude da Revelação. Sendo o Filho Unigénito de Deus feito homem, Ele é a Palavra perfeita e definitiva do Pai. Com o envio do Filho e o dom do Espírito, a Revelação está, finalmente, completada, ainda que a fé da Igreja deva recolher todo o seu significado ao longo dos séculos.



«A partir do momento em que nos deu o Seu Filho,
que é a Sua única e definitiva Palavra, Deus disse-nos
tudo ao mesmo tempo e duma só vez,
e nada mais tem a acrescentar» (S. João da Cruz).
10. Qual o valor das revelações privadas?


CEC 67

Embora não pertençam ao depósito da fé, elas podem ajudar a viver esta mesma fé, desde que mantenham uma estrita orientação para Cristo. O Magistério da Igreja, ao qual compete discernir as revelações privadas, não pode, por isso, aceitar aquelas que pretendem superar ou corrigir a Revelação definitiva que é Cristo.



A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA


11 Porquê e como deve ser transmitida a Revelação?

CEC 74

Deus «quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (1Tm 2,4), isto é, de Jesus Cristo. Por isso, é necessário que Cristo seja anunciado a todos os homens, segundo o seu mandamento: «Ide e ensinai todos os povos» (Mt 28,19). É o que se realiza com a Tradição Apostólica.


12 O que é a Tradição Apostólica?

CEC 75-79 CEC 83
CEC 96 CEC 98

A Tradição Apostólica é a transmissão da mensagem de Cristo, realizada desde as origens do cristianismo, mediante a pregação, o testemunho, as instituições, o culto, os escritos inspirados. Os Apóstolos transmitiram aos seus sucessores, os Bispos, e, através deles, a todas as gerações até ao fim dos tempos, tudo o que receberam de Cristo e aprenderam do Espírito Santo.


13 Como se realiza a Tradição Apostólica?

CEC 76

A Tradição Apostólica realiza-se de duas maneiras: mediante a transmissão viva da Palavra de Deus (chamada também simplesmente a Tradição) e através da Sagrada Escritura que é o próprio anúncio da salvação transmitido por escrito.


14 Que relação existe entre a Tradição e a Sagrada Escritura?

CEC 80-82
CEC 97

A Tradição e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, ambas tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo e provêm da mesma fonte divina: constituem um só sagrado depósito da fé, do qual a Igreja recebe a certeza acerca de todas as coisas reveladas.


15 A quem é confiado o depósito da fé?

CEC 84 CEC 91
CEC 94 CEC 99

O depósito da fé é confiado pelos Apóstolos a toda a Igreja. Todo o povo de Deus, mediante o sentido sobrenatural da fé, conduzido pelo Espírito Santo, e guiado pelo Magistério da Igreja, acolhe a Revelação divina, compreende-a cada vez mais e aplica-a à vida.


16 A quem compete interpretar autenticamente o depósito da fé?

CEC 85-90
CEC 100

A interpretação autêntica do depósito da fé compete exclusivamente ao Magistério vivo da Igreja, isto é, ao Sucessor de Pedro, o Bispo de Roma, e aos Bispos em comunhão com ele. Ao Magistério, que, no serviço da Palavra de Deus, goza do carisma certo da verdade, compete ainda definir os dogmas, que são formulações das verdades contidas na Revelação divina; tal autoridade estende-se também às verdades necessariamente conexas com a Revelação.


17 Que relação existe entre a Escritura, a Tradição e o Magistério?

CEC 95

De tal maneira estão unidos, que nenhum deles existe sem os outros. Todos juntos contribuem eficazmente, cada um a seu modo, sob a acção do Espírito Santo, para a salvação dos homens.



A SAGRADA ESCRITURA


18 Porque é que a Sagrada Escritura ensina a verdade?

CEC 105-108
CEC 135-136

Porque o próprio Deus é o autor da Sagrada Escritura: por isso ela é dita inspirada e ensina sem erro aquelas verdades que são necessárias para a nossa salvação. Com efeito, o Espírito Santo inspirou os autores humanos, os quais escreveram aquilo que Ele nos quis ensinar. No entanto, a fé cristã não é «uma religião do Livro», mas da Palavra de Deus, que não é «uma palavra escrita e muda, mas o Verbo Encarnado e vivo» (S. Bernardo de Claraval).


19 Como ler a Sagrada Escritura?

CEC 109-119
CEC 137

A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com a ajuda do Espírito Santo e sob a condução do Magistério da Igreja segundo três critérios: 1) atenção ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura; 2) leitura da Escritura na Tradição viva da Igreja; 3) respeito pela analogia da fé, isto é, da coesão entre si das verdades da fé.


20 O que é o cânone das Escrituras?

CEC 120
CEC 138

O Cânone das Escrituras é a lista completa dos escritos sagrados, que a Tradição Apostólica levou a Igreja a discernir. O Cânone compreende 46 escritos do Antigo Testamento e 27 do Novo.


21 Que importância tem o Antigo Testamento para os cristãos?

CEC 121-123

Os cristãos veneram o Antigo Testamento como verdadeira Palavra de Deus: todos os seus escritos são divinamente inspirados e conservam um valor permanente. Eles dão testemunho da divina pedagogia do amor salvífico de Deus. Foram escritos sobretudo para preparar o advento de Cristo Salvador do universo.


22 Que importância tem o Novo Testamento para os cristãos?

CEC 124-127
CEC 139

O Novo Testamento, cujo objecto central é Jesus Cristo, entrega-nos a verdade definitiva da Revelação divina. Nele, os quatro Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, enquanto são o principal testemunho da vida e da doutrina de Jesus, constituem o coração de todas as Escrituras e ocupam um lugar único na Igreja.


23 Que unidade existe entre o Antigo e o Novo Testamento?

CEC 128-130
CEC 140

A Escritura é una, uma vez que única é a Palavra de Deus, único é o projecto salvífico de Deus, única a inspiração divina dos dois Testamentos. O Antigo Testamento prepara o Novo e o Novo dá cumprimento ao Antigo: os dois iluminam-se mutuamente.


24 Qual a função da Sagrada Escritura na vida da Igreja?

CEC 131-133
CEC 141

A Sagrada Escritura dá sustento e vigor à vida da Igreja. É para os seus filhos firmeza da fé, alimento e fonte de vida espiritual. É a alma da teologia e da pregação pastoral. Diz o Salmista: ela é «lâmpada para os meus passos, luz no meu caminho» (Ps 119,105). Por isso, a Igreja exorta à leitura frequente da Sagrada Escritura, uma vez que «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo» (S. Jerónimo).



CAPÍTULO TERCEIRO

A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS

EU CREIO

25 Como responde o homem a Deus que se revela?

CEC 142-43

Sustentado pela graça divina, o homem responde a Deus com a obediência da fé, que consiste em confiar-se completamente a Deus e acolher a sua Verdade, enquanto garantida por Ele que é a própria Verdade.


26 Na Sagrada Escritura, quais são os principais testemunhos de obediência da fé?

CEC 144-149

Há muitos testemunhos, mas particularmente dois: Abraão, que, colocado à prova, «teve fé em Deus » (Rm 4,3) e obedeceu sempre ao seu chamamento, tornando-se por isso «pai de todos os crentes» (Rm 4,11 Rm 4,18); e a Virgem Maria, que realizou de modo mais perfeito, durante toda a sua vida, a obediência da fé: «Fiat mihi secundum Verbum tuum – Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38).


27 Que significa, de facto, para o homem crer em Deus?

CEC 150-152
CEC 176-178

Significa aderir ao próprio Deus, entregando-se a Ele e dando assentimento a todas as verdades por Ele reveladas, porque Deus é a verdade. Significa crer num só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.


28 Quais as características da fé?

CEC 153-165
CEC 179-180
CEC 183-184

A Fé, dom gratuito de Deus e acessível a quantos a pedem humildemente, é uma virtude sobrenatural necessária para a salvação. O acto de fé é um acto humano, isto é, um acto da inteligência do homem que, sob decisão da vontade movida por Deus, dá livremente o seu assentimento à verdade divina. Além disso, a fé é certa porque fundada sobre a Palavra de Deus; é operante «por meio da caridade» (Ga 5,6); é em contínuo crescimento, graças, em especial, à escuta da Palavra de Deus e à oração. Ela faz-nos saborear, de antemão, a alegria celeste.


29 Porque não há contradições entre a fé e a ciência?

CEC 159

Embora a fé supere a razão, não poderá nunca existir contradição entre a fé e a ciência porque ambas têm origem em Deus. É o mesmo Deus que dá ao homem seja a luz da razão seja a luz da fé.

«Crê para compreender: compreende para crer» (Santo Agostinho)



NÓS CREMOS


30 Porque é que a fé é um acto pessoal e ao mesmo tempo eclesial?

CEC 166-169
CEC 181

A fé é um acto pessoal, enquanto resposta livre do homem a Deus que se revela. Mas é ao mesmo tempo um acto eclesial, que se exprime na confissão: «Nós cremos». De facto, é a Igreja que crê: deste modo, ela, com a graça do Espírito Santo, precede, gera e nutre a fé do indivíduo. Por isso a Igreja é Mãe e Mestra.



«Não pode ter a Deus por Pai quem não tem a Igreja por Mãe» (S. Cipriano)




31 Porque é que as fórmulas da fé são importantes?

CEC 170-171

As fórmulas da fé são importantes porque permitem exprimir, assimilar, celebrar e partilhar, juntamente com outros, as verdades da fé, utilizando uma linguagem comum.


32 De que maneira a fé da Igreja é uma só?

CEC 172-175
CEC 182

A Igreja, embora formada por pessoas de diferentes línguas, culturas e ritos, professa, unânime e a uma só voz, a única fé, recebida dum só Senhor e transmitida pela única Tradição Apostólica. Professa um só Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – e manifesta uma única via de salvação. Portanto, nós acreditamos, num só coração e numa só alma, tudo o que está contido na Palavra de Deus, transmitida ou escrita, e nos é proposto pela Igreja como divinamente revelado.



SEGUNDA SECÇÃO

A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

O CREDO

Símbolo dos Apóstolos


Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra

E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo;
nasceu da Virgem Maria;
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu à mansão dos mortos;
ressuscitou ao terceiro dia;
subiu aos Céus;
está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
de onde há-de vir a julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo;
na santa Igreja Católica;
na comunhão dos Santos;
na remissão dos pecados;
na ressurreição da carne;
e na vida eterna. Amen

Credo Niceno-Constantinopolitano

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso
Criador do Céu e da Terra,
de todas as coisas visíveis e invisíveis.

Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, luz da luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
gerado, não criado, consubstancial ao Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E por nós homens e para nossa salvação
desceu dos Céus.
E encarnou pelo Espírito Santo,
no seio da Virgem Maria,
e se fez homem.
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos;
padeceu e foi sepultado.

Ressuscitou ao terceiro dia,
conforme as Escrituras;
e subiu aos Céus, onde está sentado à direita do Pai.
De novo há-de vir em sua glória
para julgar os vivos e os mortos;
e o seu Reino não terá fim.

Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida,
e procede do Pai e do Filho;
e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas.

Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica.
Professo um só Baptismo para a remissão dos pecados.
E espero a ressurreição dos mortos
e a vida do mundo que há-de vir. Ámen.



CAPÍTULO PRIMEIRO

CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

33 O que são os Símbolos da Fé?

CEC 185-188
CEC 192 CEC 197

São fórmulas articuladas, também chamadas «profissões de fé» ou «Credo», mediante as quais a Igreja, desde as suas origens, exprimiu resumidamente e transmitiu a própria fé, numa linguagem normativa e comum a todos os fiéis.


34 Quais são os mais antigos Símbolos da fé?

CEC 189-191

São os Símbolos baptismais.Porque o Baptismo é administrado «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28,19), as verdades de fé neles professadas estão articuladas segundo a sua referência às três Pessoas da Santíssima Trindade.


35 Quais são os mais importantes Símbolos da fé?

CEC 193-195

São o Símbolo dos Apóstolos, que é o antigo Símbolo baptismal da Igreja de Roma, e o Símbolo niceno-constantinopolitano, fruto dos primeiros dois Concílios Ecuménicos de Niceia (325) e de Constantinopola (381), e que é, ainda hoje, comum a todas as grandes Igrejas do Oriente e do Ocidente.



«CREIO EM DEUS, PAI OMNIPOTENTE,

CRIADOR DO CÉU E DA TERRA»

36. Porque é que a profissão de fé começa com «Creio em Deus»?


CEC 198-199

Porque a afirmação «Creio em Deus» é a mais importante, a fonte das outras verdades respeitantes ao homem, ao mundo e à nossa vida de crentes n’Ele.



Compêndio