Compêndio 294


CAPÍTULO SEGUNDO

OS SACRAMENTOS DA CURA




295 Porque é que Cristo instituiu os sacramentos da Penitência e da Unção dos enfermos?

CEC 1420
CEC 1426

Cristo, médico da alma e do corpo, instituiu-os porque a vida nova, que Ele nos deu nos sacramentos da iniciação cristã, pode ser enfraquecida e até perdida por causa do pecado. Por isso, Cristo quis que a Igreja continuasse a sua obra de cura e de salvação mediante estes dois sacramentos.



O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA RECONCILIAÇÃO




296 Como é chamado este sacramento?

CEC 1422

É chamado sacramento da Penitência, da Reconciliação, do Perdão, da Confissão, da Conversão.


297 Porque existe um sacramento da Reconciliação depois do Baptismo?

CEC 1425
CEC 1484

Porque a nova vida da graça, recebida no Baptismo, não suprimiu a fragilidade da natureza humana nem a inclinação para o pecado (isto é, a concupiscência), Cristo instituiu este sacramento para a conversão dos baptizados que pelo pecado d’Ele se afastaram.


298 Quando foi instituído este sacramento?

CEC 1485

O Senhor ressuscitado instituiu este sacramento quando, na tarde de Páscoa, se mostrou aos Apóstolos e lhes disse: «Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes serão retidos» (Jn 20,22-23).


299 Os baptizados têm ainda necessidade de conversão?

CEC 1427

O apelo à conversão ressoa continuamente na vida dos baptizados. Esta conversão é um empenho contínuo para toda a Igreja, que é santa mas contém pecadores no seu seio.


300 O que é a penitência interior?

CEC 1430
CEC 1490

É o dinamismo do «coração contrito» (Ps 51,19), movido pela graça divina a responder ao amor misericordioso de Deus. Implica a dor e a repulsa pelos pecados cometidos, o propósito firme de não mais pecar e a confiança na ajuda de Deus. Alimenta-se da esperança na misericórdia divina.


301 Como se manifesta a penitência na vida cristã?

CEC 1434

A penitência manifesta-se de muitas maneiras, em especial pelo jejum, a oração e a esmola. Estas e muitas outras formas de penitência podem ser praticadas na vida quotidiana do cristão, especialmente no tempo da Quaresma e no dia penitencial de Sexta-feira.


302 Quais os elementos essenciais do sacramento da Reconciliação?

CEC 1440

São dois: os actos realizados pelo homem que se converte sob a acção do Espírito Santo e a absolvição do sacerdote, que em Nome de Cristo concede o perdão e estabelece a modalidade da satisfação.


303 Quais são os actos do penitente?

CEC 1450
CEC 1487

São: um diligente exame de consciência; a contrição (ou arrependimento), que é perfeita, quando é motivada pelo amor a Deus, e imperfeita, se fundada sobre outros motivos, e que inclui o propósito de não mais pecar; a confissão, que consiste na acusação dos pecados feita diante do sacerdote; a satisfação, ou seja, o cumprimento de certos actos de penitência, que o confessor impõe ao penitente para reparar o dano causado pelo pecado.


304 Que pecados se devem confessar?

CEC 1456

Devem-se confessar todos os pecados graves ainda não confessados, dos quais nos recordamos depois dum diligente exame de consciência. A confissão dos pecados graves é o único modo ordinário para obter o perdão.


305 Quando se é obrigado a confessar os pecados graves?

CEC 1457

Todo o fiel, obtida a idade da razão, é obrigado a confessar os seus pecados graves ao menos uma vez por ano e antes de receber a Sagrada Comunhão.


306 Porque é que os pecados veniais podem ser também objecto da confissão sacramental?

CEC 1458

A confissão dos pecados veniais é muito recomendada pela Igreja, embora não estritamente necessária, porque nos ajuda a formar uma consciência recta e a lutar contra as más inclinações, para nos deixarmos curar por Cristo e progredirmos na vida do Espírito.


307 Quem é o ministro deste sacramento?

CEC 1461
CEC 1495

Cristo confiou o ministério da reconciliação aos seus Apóstolos, aos Bispos seus sucessores e aos presbíteros seus colaboradores, os quais portanto se convertem em instrumentos da misericórdia e da justiça de Deus. Eles exercem o poder de perdoar os pecados no Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.


308 A quem é reservada a absolvição de alguns pecados?

CEC 1463

A absolvição de alguns pecados particularmente graves (como os punidos com a excomunhão) é reservada à Sé Apostólica ou ao Bispo do lugar ou aos presbíteros por ele autorizados, embora todo o sacerdote possa absolver de qualquer pecado e excomunhão a quem se encontra em perigo de morte.


309 O Confessor é obrigado ao segredo?

CEC 1467

Dada a delicadeza e a grandeza deste ministério e o respeito devido às pessoas, todo o confessor está obrigado a manter o sigilo sacramental, isto é, o absoluto segredo acerca dos pecados conhecidos em confissão, sem nenhuma excepção e sob penas severíssimas.


310 Quais são os efeitos deste sacramento?

CEC 1468
CEC 1496

Os efeitos do sacramento da Penitência são: a reconciliação com Deus e portanto o perdão dos pecados; a reconciliação com a Igreja; a recuperação, se perdida, do estado de graça; a remissão da pena eterna merecida por causa dos pecados mortais e, ao menos em parte, das penas temporais que são consequência do pecado; a paz e a serenidade da consciência, e a consolação do espírito; o acréscimo das forças espirituais para o combate cristão.


311 Quando se pode celebrar este sacramento com confissão genérica e absolvição colectiva?

CEC 1480

Em casos de grave necessidade (como o perigo iminente de morte), pode-se recorrer à celebração comunitária da Reconciliação com confissão genérica e absolvição colectiva, respeitando as normas da Igreja e com o propósito de confessar individualmente os pecados graves no tempo oportuno.


312 O que são as indulgências?

CEC 1471-1479
CEC 1498

As indulgências são a remissão diante de Deus da pena temporal devida aos pecados, já perdoados quanto à culpa, que, em determinadas condições, o fiel adquire para si ou para os defuntos mediante o ministério da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui o tesouro dos méritos de Cristo e dos Santos.



O SACRAMENTO DA UNÇÃO DOS ENFERMOS




313 Como é vivida a doença no Antigo Testamento?

CEC 1499-1502

No Antigo Testamento, o homem doente experimenta os seus limites e ao mesmo tempo percebe que a doença está ligada misteriosamente ao pecado. Os profetas intuíram que a doença podia ter também um valor redentor em relação aos próprios pecados e aos dos outros. Assim, a doença era vivida perante Deus, da qual o homem implorava a cura.


314 Que sentido tem a compaixão de Jesus pelos doentes?

CEC 1503-1505

A compaixão de Jesus pelos doentes e as numerosas curas de enfermos são um claro sinal de que, com Ele, chegou o Reino de Deus e a vitória sobre o pecado, o sofrimento e a morte. Com a sua paixão e morte, Ele dá um novo sentido ao sofrimento, o qual, se unido ao seu, pode ser meio de purificação e de salvação para nós e para os outros.


315 Qual é o comportamento da Igreja em relação aos doentes?

CEC 1506-1513
CEC 1526-1527

A Igreja, tendo recebido do Senhor a ordem de curar os enfermos, procura pô-la em prática com os cuidados para com os doentes, acompanhados da oração de intercessão. Ela possui sobretudo um sacramento específico em favor dos enfermos, instituído pelo próprio Cristo e atestado por São Tiago: «Quem está doente, chame a si os presbíteros da Igreja e rezem por ele, depois de o ter ungido com óleo no nome do Senhor» (Jc 5,14-15).


316 Quem pode receber o sacramento da Unção dos enfermos?

CEC 1514
CEC 1528-1529

Este sacramento pode ser recebido pelo fiel que começa a encontrar-se em perigo de morte por doença ou velhice. O mesmo fiel pode recebê-lo também outras vezes se a doença se agrava ou então no caso doutra doença grave. A celebração deste sacramento, se possível, deve ser precedida pela confissão individual do doente.


317 Quem administra este sacramento?

CEC 1516 CEC 1530

Só pode ser administrado pelos sacerdotes (Bispos ou presbíteros).


318 Como se celebra este sacramento?

CEC 1520
CEC 1532

A celebração deste sacramento consiste essencialmente na unção com óleo benzido, se possível, pelo Bispo, na fronte e nas mãos do doente (no rito romano, ou também noutras partes do corpo segundo outros ritos), acompanhada da oração do sacerdote, que implora a graça especial deste sacramento.


319 Quais são os efeitos deste sacramento?

CEC 15120
CEC 1532

Ele confere uma graça especial que une mais intimamente o doente à Paixão de Cristo, para o seu bem e de toda a Igreja, dando-lhe conforto, paz, coragem, e também o perdão dos pecados, se o doente não se pode confessar. Este sacramento consente por vezes, se for a vontade de Deus, também a recuperação da saúde física. Em todo o caso, esta Unção prepara o doente para a passagem à Casa do Pai.


320 O que é o Viático?

CEC 1524

É a Eucaristia recebida por aqueles que estão para deixar esta vida terrena e se preparam para a passagem à vida eterna. Recebida no momento da passagem deste mundo ao Pai, a Comunhão do Corpo e Sangue de Cristo morto e ressuscitado é semente de vida eterna e potência de ressurreição.



CAPÍTULO TERCEIRO

OS SACRAMENTOS AO SERVIÇO

DA COMUNHÃO E DA MISSÃO




321 Quais são os sacramentos ao serviço da comunhão e da missão?



Dois sacramentos, a Ordem e o Matrimónio, conferem uma graça especial para uma missão particular na Igreja em ordem à edificação do povo de Deus. Eles contribuem em especial para a comunhão eclesial e para a salvação dos outros.



O SACRAMENTO DA ORDEM SACERDOTAL




322 O que é o sacramento da Ordem?

CEC 1536

É o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos seus Apóstolos continua a ser exercida na Igreja, até ao fim dos tempos.


323 Porque se chama sacramento da Ordem?

CEC 1537

Ordem indica um corpo eclesial, do qual se passa a fazer parte, mediante uma especial consagração (Ordenação), a qual, por um particular dom do Espírito Santo, permite exercer um poder sagrado em nome e com a autoridade de Cristo para o serviço do povo de Deus.


324 Qual o lugar do sacramento da Ordem no desígnio divino da salvação?

CEC 1539
CEC 1590

Na Antiga Aliança, este sacramento é prefigurado no serviço dos Levitas, no sacerdócio de Aarão e na instituição dos setenta «Anciãos» (Nb 11,25). Estas prefigurações encontraram realização em Cristo Jesus, o qual, com o sacrifício da sua cruz, é o «único (...) mediador entre Deus e os homens» (1Tm 2,5), o Sumo-sacerdote à maneira de Melquisedec» (He 5,10). O único sacerdócio de Cristo é tornado presente pelo sacerdócio ministerial.



«Só Cristo é o verdadeiro sacerdote, os outros são seus ministros» (S. Tomás de Aquino)




325 De quantos graus se compõe o sacramento da Ordem?

CEC 1554
CEC 1593

Compõe-se de três graus, que são insubstituíveis para a estrutura orgânica da Igreja: o episcopado, o presbiterado e o diaconado.


326 Qual é o efeito da Ordenação episcopal?

CEC 1557

A Ordenação episcopal confere a plenitude do sacramento da Ordem, faz do Bispo o legítimo sucessor dos Apóstolos, insere-o no Colégio episcopal, partilhando com o Papa e os outros Bispos a solicitude por todas as Igrejas, e confere-lhe a missão de ensinar, santificar e governar.


327 Qual é a missão do Bispo na Igreja particular que lhe foi confiada?

CEC 1560

O Bispo, ao qual é confiada uma Igreja particular, é o princípio visível e o fundamento da unidade dessa Igreja, a favor da qual exerce, como vigário de Cristo, o ministério pastoral, coadjuvado pelos presbíteros e diáconos.


328 Qual é o efeito da Ordenação presbiteral?

CEC 1562
CEC 1595

A unção do Espírito assinala o presbítero com um carácter espiritual indelével, configura-o a Cristo sacerdote e torna-o capaz de agir em nome de Cristo Cabeça. Sendo cooperador da Ordem episcopal, ele é consagrado para pregar o Evangelho, para celebrar o culto divino, sobretudo a Eucaristia, da qual o seu ministério recebe a força, e para ser o pastor dos fiéis.


329 Como é que o presbítero exerce o seu ministério?

CEC 1568

Embora seja ordenado para uma missão universal, ele exerce-a numa Igreja particular, em fraternidade sacramental com os outros presbíteros que formam o «presbitério» e que, em comunhão com o Bispo, e, em dependência dele, têm a responsabilidade da Igreja particular.


330 Qual é o efeito da Ordenação diaconal?

CEC 1569
CEC 1596

O diácono, configurado a Cristo servo de todos, é ordenado para o serviço da Igreja sob a autoridade do Bispo, em relação ao ministério da Palavra, do culto divino, da condução pastoral e da caridade.


331 Como se celebra o sacramento da Ordem?

CEC 1572
CEC 1597

Para cada um dos três graus, o sacramento da Ordem é conferido pela imposição das mãos sobre a cabeça do ordinando por parte do Bispo, que pronuncia a solene oração consecratória. Com ela, o Bispo invoca de Deus, para o ordinando, a especial efusão do Espírito Santo e dos seus dons, em ordem ao ministério.


332 Quem pode conferir este sacramento?

CEC 1575
CEC 1600

Compete aos Bispos validamente ordenados, enquanto sucessores dos Apóstolos, conferir os três graus do sacramento da Ordem.


333 Quem pode receber este sacramento?

CEC 1577

Só o baptizado de sexo masculino o pode receber validamente: a Igreja reconhece-se vinculada a esta escolha feita pelo próprio Senhor. Ninguém pode exigir a recepção do sacramento da Ordem, antes deve ser considerado apto para o ministério pela autoridade da Igreja.


334 É requerido o celibato a quem recebe o sacramento da Ordem?

CEC 1579
CEC 1599

Para o episcopado é sempre requerido o celibato. Na Igreja latina, para o presbiterado, são normalmente escolhidos homens crentes que vivem celibatários e têm vontade de guardar o celibato «pelo reino dos céus» (Mt 19,12). Nas Igrejas Orientais, não é consentido casar depois da Ordenação. O diaconado permanente pode ser conferido a homens já casados.


335 Quais são os efeitos do sacramento da Ordem?

CEC 1547

Este sacramento dá uma especial efusão do Espírito Santo, que configura o ordenado a Cristo na sua tríplice função de Sacerdote, Profeta e Rei, segundo os respectivos graus do sacramento. A ordenação confere um carácter espiritual indelével: por isso não pode ser repetida nem conferida por um tempo limitado.


336 Com que autoridade é exercido o sacerdócio ministerial?

CEC 1547
CEC 1592

Os sacerdotes ordenados, no exercício do ministério sagrado, falam e agem não por autoridade própria, e nem sequer por mandato ou delegação da comunidade, mas na Pessoa de Cristo Cabeça e em nome da Igreja. Portanto o sacerdócio ministerial difere essencialmente, e não apenas em grau, do sacerdócio comum dos fiéis, para o serviço do qual Cristo o instituiu.



O SACRAMENTO DO MATRIMÓNIO




337 Qual é o desígnio de Deus acerca do homem e da mulher?

CEC 1601

Deus, que é amor e criou o homem por amor, chamou-o a amar. Criando o homem e a mulher, chamou-os, no Matrimónio, a uma íntima comunhão de vida e de amor entre eles, «de modo que já não são dois, mas uma só carne» (Mt 19,6). Abençoando-os, Deus disse-lhes: «sede fecundos e multiplicai-vos» (Gn 1,28).


338 Para que fins instituiu Deus o Matrimónio?

CEC 1659-1660

A união matrimonial do homem e da mulher, fundada e dotada de leis próprias pelo Criador, está por sua natureza ordenada à comunhão e ao bem dos cônjuges e à geração e bem dos filhos. Segundo o desígnio originário de Deus, a união matrimonial é indissolúvel, como afirma Jesus Cristo: «O que Deus uniu não o separe o homem» (Mc 10,9).


339 Como é que o pecado ameaça o Matrimónio?

CEC 1606-1608

Por causa do primeiro pecado, que provocou também a ruptura da comunhão do homem e da mulher, dada pelo Criador, a união matrimonial é muitas vezes ameaçada pela discórdia e pela infidelidade. Todavia Deus, na sua infinita misericórdia, dá ao homem e à mulher a sua graça para que possam realizar a união das suas vidas segundo o desígnio originário de Deus.


340 O que é que o Antigo Testamento ensina sobre o Matrimónio?

CEC 1609-1611

Deus, sobretudo através da pedagogia da Lei e dos profetas, ajuda o seu povo a amadurecer progressivamente a consciência da unicidade e da indissolubilidade do Matrimónio. A aliança nupcial de Deus com Israel prepara e prefigura a Aliança nova realizada pelo Filho de Deus com a sua esposa, a Igreja.


341 Qual a novidade dada por Cristo ao Matrimónio?

CEC 1612-1617
CEC 1661

Jesus Cristo não só restabelece a ordem inicial querida por Deus, mas dá a graça para viver o Matrimónio na nova dignidade de sacramento, que é o sinal do seu amor esponsal pela Igreja: «Vós maridos amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja» (Ep 5,25).


342 O Matrimónio é uma obrigação para todos?

CEC 1618-1620

O Matrimónio não é uma obrigação para todos. Deus chama alguns homens e mulheres a seguir o Senhor Jesus na vida da virgindade ou do celibato pelo Reino dos céus, renunciando ao grande bem do Matrimónio para se preocuparem com as coisas do Senhor e para procurar agradar-Lhe, tornando-se assim sinal do absoluto primado do amor de Cristo e da ardente esperança da sua vinda gloriosa.


343 Como se celebra o sacramento do Matrimónio?

CEC 1621-1624

Uma vez que o Matrimónio coloca os cônjuges num estado público de vida na Igreja, a sua celebração litúrgica é pública, na presença do sacerdote (ou da testemunha qualificada da Igreja) e das outras testemunhas.


344 O que é o consentimento matrimonial?

CEC 1625-1632
CEC 1662-1663

O consentimento matrimonial é a vontade, expressa por um homem e por uma mulher, de se entregarem mutua e definitivamente, com o fim de viver uma aliança de amor fiel e fecundo. Dado que o consentimento faz o Matrimónio, ele é indispensável e insubstituível. Para que o Matrimónio seja válido, o consentimento deve ter como objecto o verdadeiro Matrimónio e ser um acto humano, consciente e livre, não determinado pela violência ou por constrições.


345 Que se requer quando um dos esposos não é católico?

CEC 1633-1637

Para serem lícitos, os matrimónios mistos (entre católico e baptizado não católico) requerem a permissão da autoridade eclesiástica. Aqueles com disparidade de culto (entre católico e não baptizado) para serem válidos precisam duma dispensa. Em todo o caso, é essencial que os cônjuges não excluam a aceitação dos fins e das propriedades essenciais do Matrimónio e que o cônjuge católico confirme o empenho, conhecido também do outro cônjuge, de conservar a fé e de assegurar o Baptismo e a educação católica dos filhos.


346 Quais são os efeitos do sacramento do Matrimónio?

CEC 1638-1642

O sacramento do Matrimónio gera entre os cônjuges um vínculo perpétuo e exclusivo. O próprio Deus sela o consentimento dos esposos. Portanto o Matrimónio concluído e consumado entre baptizados não pode ser nunca dissolvido. Este sacramento confere também aos esposos a graça necessária para alcançar a santidade na vida conjugal e para o acolhimento responsável dos filhos e a sua educação.


347 Quais são os pecados gravemente contrários ao sacramento do Matrimónio?

CEC 1645-1648

São: o adultério; a poligamia, porque em contradição com a igual dignidade do homem e da mulher e com a unicidade e exclusividade do amor conjugal; a rejeição da fecundidade, que priva a vida conjugal do dom dos filhos; e o divórcio, que se opõe à indissolubilidade.


348 Quando é que a Igreja admite a separação física dos esposos?

CEC 1629
CEC 1649

A Igreja admite a separação física dos esposos quando, por motivos graves, a sua coabitação se tornou praticamente impossível, embora se deseje uma sua reconciliação. Mas eles, enquanto vive o cônjuge, não estão livres para contrair uma nova união, a menos que o Matrimónio seja nulo e como tal seja declarado pela autoridade eclesiástica.


349 Qual é a atitude da Igreja para com os divorciados recasados?

CEC 1655-1558
CEC 1666

Fiel ao Senhor, a Igreja não pode reconhecer como Matrimónio a união dos divorciados recasados civilmente. «Quem repudia a própria mulher e casa com outra comete adultério contra ela; se a mulher repudia o marido e casa com outro, comete adultério» (Mc 10,11-12). Para com eles, a Igreja desenvolve uma atenta solicitude, convidando-os a uma vida de fé, à oração, às obras de caridade e à educação cristã dos filhos. Mas eles não podem receber a absolvição sacramental nem abeirar-se da comunhão eucarística, nem exercer certas responsabilidades eclesiais enquanto perdurar esta situação, que objectivamente contrasta com a lei de Deus.


350 Porque é que a família cristã é chamada Igreja doméstica?

CEC 1655-1658
CEC 1666

Porque a família manifesta e realiza a natureza de comunhão e familiar da Igreja como família de Deus. Cada membro, a seu modo, exerce o sacerdócio baptismal, contribuindo para fazer da família uma comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e cristãs, lugar do primeiro anúncio da fé aos filhos.



CAPÍTULO QUARTO

AS OUTRAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS

OS SACRAMENTAIS




351 O que são os sacramentais?

CEC 1667-1672
CEC 1677-1678

São sinais sagrados instituídos pela Igreja, por meio dos quais são santificadas algumas circunstâncias da vida. Incluem sempre uma oração, muitas vezes acompanhada do sinal da cruz e de outros sinais. Entre os sacramentais, figuram, em primeiro lugar, as bênçãos, que são um louvor a Deus e uma oração para obter os seus dons, as consagrações de pessoas e as dedicações de coisas para o culto de Deus.


352 O que é o exorcismo?

CEC 1673

Fala-se de exorcismo, quando a Igreja pede com a sua autoridade, em nome de Jesus, que uma pessoa ou um objecto seja protegido contra a acção do Maligno e subtraído ao seu domínio. É praticado de modo ordinário no rito do Baptismo. O exorcismo solene, chamado o grande exorcismo, pode ser feito só por um sacerdote autorizado pelo Bispo.


353 Que formas de piedade popular acompanham a vida sacramental da Igreja?

CEC 1674-1676
CEC 1679

O sentido religioso do povo cristão encontrou sempre diversas expressões nas várias formas de piedade que acompanham a vida sacramental da Igreja, como a veneração das relíquias, as visitas aos santuários, as peregrinações, as procissões, a «via-sacra», o Rosário. As formas autênticas de piedade popular são favorecidas e iluminadas pela luz da fé da Igreja.



AS EXÉQUIAS CRISTÃS




354 Que relação existe entre os sacramentais e a morte do cristão?

CEC 1680
CEC 1683

O cristão que morre em Cristo chega, no termo da sua existência terrena, à consumação da nova vida iniciada com o Baptismo, revigorada pela Confirmação e alimentada pela Eucaristia, antecipação do banquete celeste. O sentido da morte do cristão manifesta-se à luz da Morte e da Ressurreição de Cristo, nossa única esperança; o cristão que morre em Cristo Jesus, vai «habitar junto do Senhor» (2 Cor 2Co 5,8).


355 O que exprimem as exéquias?

CEC 1684

As exéquias, embora celebradas segundo diferentes ritos correspondentes às situações e às tradições de cada uma das regiões, exprimem o carácter pascal da morte cristã na esperança da ressurreição e o sentido da comunhão com o defunto particularmente mediante a oração pela purificação da sua alma.


356 Quais os momentos principais das exéquias?

CEC 1686

Habitualmente as exéquias compreendem quatro momentos principais: o acolhimento da urna pela comunidade, com palavras de conforto e de esperança; a liturgia da Palavra; o sacrifício eucarístico; e «a encomendação», com o qual a alma do defunto é confiada a Deus, fonte de vida eterna, enquanto o seu corpo é sepultado na expectativa da ressurreição.



TERCEIRA PARTE

A VIDA EM CRISTO

PRIMEIRA SECÇÃO

A VOCAÇÃO DO HOMEM:

A VIDA NO ESPÍRITO




357 Como é que a vida moral cristã está ligada à fé e aos sacramentos?

CEC 1691

O que o Símbolo da fé professa, os sacramentos o comunicam. De facto, neles os fiéis recebem a graça de Cristo e os dons do Espírito Santo, que os tornam capazes de viver a vida nova de filhos de Deus em Cristo acolhido com a fé.



«Reconhece, ó cristão, a tua dignidade» (S. Leão Magno)



CAPÍTULO PRIMEIRO

A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O HOMEM IMAGEM DE DEUS

358. Qual é a raiz da dignidade humana?


CEC 1699

A dignidade da pessoa humana radica na criação à imagem e semelhança de Deus. Dotada de uma alma espiritual e imortal, de inteligência e de vontade livre, a pessoa humana está ordenada para Deus e chamada, com a sua alma e o seu corpo, à bem-aventurança eterna.



A NOSSA VOCAÇÃO À BEM-AVENTURANÇA




359 Como é que o homem alcança a bem-aventurança?

CEC 1716

O homem alcança a bem-aventurança em virtude da graça de Cristo, que o torna participante da vida divina. Cristo no Evangelho indica aos seus o caminho que conduz à felicidade sem fim: as Bem-aventuranças. A graça de Cristo opera também em cada ser humano que, seguindo a recta consciência, procura e ama o verdadeiro e o bem e evita o mal.


360 Porque é que as Bem-aventuranças são importantes para nós?

CEC 1716-1717
CEC 1725-1726

As Bem-aventuranças estão no centro da pregação de Jesus, retomam e aperfeiçoam as promessas de Deus, feitas a partir de Abraão. Mostram o próprio rosto de Jesus, caracterizam a autêntica vida cristã e revelam ao homem o fim último do seu agir: a bem-aventurança eterna.


361 Que relação há entre as Bem-aventuranças e o desejo humano de felicidade?

CEC 1718-1719

As Bem-aventuranças respondem ao desejo inato de felicidade que Deus colocou no coração do homem para o atrair a Si, e que só Ele pode saciar.


362 O que é a bem-aventurança eterna?

CEC 1720-1724
CEC 1727-1729

É a visão de Deus na vida eterna, em que seremos plenamente «participantes da natureza divina» (2 Ped 2P 1,4), da glória de Cristo e da felicidade da vida trinitária. A bem-aventurança ultrapassa as capacidades humanas: é um dom sobrenatural e gratuito de Deus, como a graça que a ela conduz. A bem-aventurança prometida coloca-nos perante escolhas morais decisivas em relação aos bens terrenos, estimulando-nos a amar a Deus acima de tudo.



A LIBERDADE DO HOMEM




363 O que é a liberdade?

CEC 1730-1733
CEC 1743-1744

É o poder, dado por Deus ao homem, de agir e não agir, de fazer isto ou aquilo, praticando assim por si mesmo acções deliberadas. A liberdade caracteriza os actos propriamente humanos. Quanto mais faz o bem, mais alguém se torna livre. A liberdade atinge a perfeição quando é ordenada para Deus, sumo Bem e nossa Bem-aventurança. A liberdade implica também a possibilidade de escolher entre o bem e o mal. A escolha do mal é um abuso da liberdade, que conduz à escravatura do pecado.


364 Que relação existe entre liberdade e responsabilidade?

CEC 1734
CEC 1745-1746

A liberdade torna o homem responsável pelos seus actos, na medida em que são voluntários, embora a imputabilidade e a responsabilidade de um acto possam ser diminuídas, e até anuladas, pela ignorância, a inadvertência, a violência suportada, o medo, as afeições desordenadas e os hábitos.


365 Porque é que o homem tem direito ao exercício da liberdade?

CEC 1738
CEC 1747

O direito ao exercício da liberdade é próprio de cada homem enquanto é inseparável da sua dignidade de pessoa humana. Portanto, tal direito deve ser sempre respeitado, principalmente em matéria moral e religiosa, e deve ser reconhecido civilmente, e tutelado nos termos do bem comum e da justa ordem pública.


366 Qual é o lugar da liberdade humana na ordem da salvação?

CEC 1739-1742
CEC 1748

O primeiro pecado enfraqueceu a liberdade humana. Os pecados sucessivos vieram acentuar esta debilidade. Mas «foi para a liberdade que Cristo nos libertou» (Ga 5,1). Com a sua graça, o Espírito Santo conduz-nos para a liberdade espiritual, para fazer de nós colaboradores livres da sua obra na Igreja e no mundo.


367 Quais são as fontes da moralidade dos actos humanos?

CEC 1749-1754
CEC 1757-1758

A moralidade dos actos humanos depende de três fontes: do objecto escolhido, ou seja, dum bem verdadeiro ou aparente; da intenção do sujeito que age, isto é, do fim que ele tem em vista ao fazer a acção; das circunstâncias da acção, onde se incluem as suas consequências.


368 Quando é que o acto é moralmente bom?

CEC 1755-1756
CEC 1759-1760

O acto é moralmente bom quando supõe, ao mesmo tempo, a bondade do objecto, do [N63]fim em vista e das circunstâncias. O objecto escolhido pode, por si só, viciar toda a acção, mesmo se a sua intenção for boa. Não é lícito fazer o mal para que dele derive um bem. Um fim mau pode corromper a acção, mesmo que, em si, o seu objecto seja bom. Pelo contrário, um fim bom não torna bom um comportamento que for mau pelo seu objecto, uma vez que o fim não justifica os meios. As circunstâncias podem atenuar ou aumentar a responsabilidade de quem age, mas não podem modificar a qualidade moral dos próprios actos, não tornam nunca boa uma acção que, em si, é má.


369 Há actos que são sempre ilícitos?

CEC 1756
CEC 1761

Há actos, cuja escolha é sempre ilícita, por causa do seu objecto (por exemplo, a blasfémia, o homicídio, o adultério). A sua escolha comporta uma desordem da vontade, isto é, um mal moral, que não pode ser justificado com os bens que eventualmente daí pudessem derivar.



A MORALIDADE DAS PAIXÕES




370 O que são as paixões?

CEC 1762-1766
CEC 1771-1772

São os afectos, as emoções ou os movimentos da sensibilidade – componentes naturais da psicologia humana – que inclinam a agir ou a não agir em vista do que se percebeu como bom ou como mau. As principais são o amor e o ódio, o desejo e o medo, a alegria, a tristeza e a cólera. A paixão fundamental é o amor, provocado pela atracção do bem. Não se ama se não o bem, verdadeiro ou aparente.


371 As paixões são moralmente boas ou más?

CEC 1767-1770
CEC 1773-1775

Enquanto movimentos da sensibilidade, as paixões não são nem boas nem más em si mesmas: são boas quando contribuem para uma acção boa; são más, no caso contrário. Elas podem ser assumidas pelas virtudes ou pervertidas nos vícios.



A CONSCIÊNCIA MORAL




372 O que é a consciência moral?




A consciência moral, presente no íntimo da pessoa, é um juízo da razão, que, no momento oportuno, ordena ao homem que pratique o bem e evite o mal. Graças a ela, a pessoa humana percebe a qualidade moral dum acto a realizar ou já realizado, permitindo-lhe assumir a responsabilidade. Quando escuta consciência moral, o homem prudente pode ouvir a voz de Deus que lhe fala.


373 Que implica a dignidade da pessoa perante a consciência moral?

CEC 1780
CEC 1798

A dignidade da pessoa humana implica rectidão da consciência moral (ou seja, estar de acordo com o que é justo e bom, segundo a razão e a Lei divina). Por causa da sua dignidade pessoal, o homem não deve ser obrigado a agir contra a consciência e, dentro dos limites do bem comum, nem sequer deve ser impedido de agir em conformidade com ela, sobretudo em matéria religiosa.


374 Como formar a recta e verdadeira consciência moral?

CEC 1783-1788
CEC 1799
CEC 1800

A consciência moral recta e verdadeira forma-se com a educação e com a assimilação da Palavra de Deus e do ensino da Igreja. É amparada com os dons do Espírito Santo e ajudada com os conselhos de pessoas sábias. Além disso, ajudam muito na formação moral a oração e o exame de consciência.


375 Quais as normas que a consciência deve sempre seguir?

CEC 1789

Há três mais gerais: 1) nunca é permitido fazer o mal porque daí derive um bem; 2) a chamada regra de ouro: «tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho vós também» (Mt 7,12); 3) a caridade passa sempre pelo respeito do próximo e da sua consciência, embora isto não signifique aceitar como um bem aquilo que é objectivamente um mal.


376 A consciência moral pode emitir juízos erróneos?




A pessoa deve obedecer sempre ao juízo certo da sua consciência, mas esta também pode emitir juízos erróneos, por causas nem sempre isentas de culpabilidade pessoal. Não é porém imputável à pessoa o mal realizado por ignorância involuntária, mesmo que objectivamente não deixe de ser um mal. É preciso, pois, trabalhar para corrigir os erros da consciência moral.



Compêndio 294