Compêndio 376


AS VIRTUDES




377 O que é a virtude?

CEC 1803 CEC 1833

A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem. «O fim de uma vida virtuosa é tornar-se semelhante a Deus» (S. Gregório de Nissa). Há virtudes humanas e virtudes teologais.


378 O que são as virtudes humanas?

CEC 1804
CEC 1810-1811
CEC 1834 CEC 1839

As virtudes humanas são perfeições habituais e estáveis da inteligência e da vontade, que regulam os nossos actos, ordenam as nossas paixões e guiam a nossa conduta segundo a razão e a fé. Adquiridas e reforçadas por actos moralmente bons e repetidos, são purificadas e elevadas pela graça divina.


379 Quais são as virtudes humanas principais?

CEC 1805 CEC 1834

São as virtudes, chamadas cardeais, que reagrupam todas as outras e que constituem a charneira da vida virtuosa. São elas: prudência, justiça, fortaleza e temperança.


380 O que é a prudência?

CEC 1806
CEC 1835

A prudência dispõe a razão para discernir em todas as circunstâncias o nosso verdadeiro bem e a escolher os justos meios para o atingir. Ela conduz as outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida.


381 O que é a justiça?

CEC 1807
CEC 1836

A justiça consiste na constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido. A justiça para com Deus é chamada «virtude da religião».


382 O que é a fortaleza?

CEC 1808 CEC 1837

A fortaleza assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem, chegando até à capacidade do eventual sacrifício da própria vida por uma causa justa.


383 O que é a temperança?

CEC 1809
CEC 1838

A temperança modera a atracção dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre os instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados.


384 O que são as virtudes teologais?

CEC 1812-1813
CEC 1840-1841

São as virtudes que têm como origem, motivo e objecto imediato o próprio Deus. São infundidas no homem com a graça santificante, tornam-nos capazes de viver em relação com a Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes humanas. Elas são o penhor da presença e da acção do Espírito Santo nas faculdades do ser humano.


385 Quais são as virtudes teologais?

CEC 1813

As virtudes teologais são: fé, esperança e caridade.


386 O que é a fé?

CEC 1814-1816
CEC 1842

A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos revelou e que a Igreja nos propõe para acreditarmos, porque Ele é a própria Verdade. Pela fé, o homem entrega-se a Deus livremente. Por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus, porque «a fé opera pela caridade» (Ga 5,6).


387 O que é a esperança?

CEC 1817-1821
CEC 1843

A esperança é a virtude teologal por meio da qual desejamos e esperamos de Deus a vida eterna como nossa felicidade, colocando a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos na ajuda da graça do Espírito Santo para merecê-la e perseverar até ao fim da vida terrena.


388 O que é a caridade?

CEC 1822-1829
CEC 1844

A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor de Deus. Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da lei. A caridade é «o vínculo da perfeição» (Col 3,14) e o fundamento das outras virtudes, que ela anima, inspira e ordena: sem ela «não sou nada» e «nada me aproveita» (1 Cor 1Co 13,1-3).


389 O que são os dons do Espírito Santo?

CEC 1830
CEC 1845

Os dons do Espírito Santo são disposições permanentes que tornam o homem dócil para seguir as inspirações divinas. São sete: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.


390 O que são os frutos do Espírito Santo?

CEC 1832

Os frutos do Espírito Santo são perfeições plasmadas por Ele em nós como primícias da glória eterna. A tradição da Igreja enumera doze: «Amor, alegria, paz, paciência, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência, castidade» (Ga 5,22-23 vulgata).



O PECADO




391 O que exige de nós o acolhimento da misericórdia de Deus?

CEC 1846-1848
CEC 1870

Exige o reconhecimento das nossas culpas e o arrependimento dos nossos pecados. Pela sua Palavra e pelo seu Espírito, o próprio Deus nos revela os nossos pecados, dá-nos a verdade da consciência e a esperança do perdão.


392 O que é o pecado?

CEC 1849
CEC 1871-1872

É «uma palavra, um acto ou um desejo contrários à Lei eterna» (S. Agostinho). É uma ofensa a Deus, na desobediência ao seu amor. Fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. Cristo, na sua Paixão, revela plenamente a gravidade do pecado e vence-o com a sua misericórdia.


393 Existe uma variedade de pecados?


CEC 1873

A variedade dos pecados é grande. Distinguem-se segundo o seu objecto, ou segundo as virtudes ou os mandamentos a que se opõem. Podem ser directamente contra Deus, contra o próximo e contra nós mesmos. Podemos ainda distinguir entre pecados por pensamentos, por palavras, por acções e por omissões.


394 Como se distingue o pecado quanto à gravidade?

CEC 1854

Distingue-se entre pecado mortal e venial.


395 Quando se comete o pecado mortal?

CEC 1855-1861
CEC 1874

Comete-se pecado mortal quando, ao mesmo tempo, há matéria grave, plena consciência e deliberado consentimento. Este pecado destrói a caridade, priva-nos da graça santificante e conduz-nos à morte eterna do inferno, se dele não nos arrependermos. É perdoado ordinariamente mediante os sacramentos do Baptismo e da Penitência ou Reconciliação.


396 Quando se comete o pecado venial?

CEC 1862-1864
CEC 1875

O pecado venial, que difere essencialmente do pecado mortal, comete-se quando se trata de matéria leve, ou mesmo grave, mas sem pleno conhecimento ou sem total consentimento. Não quebra a aliança com Deus, mas enfraquece a caridade; manifesta um afecto desordenado pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e na prática do bem moral; merece penas purificatórias temporais.


397 Como prolifera em nós o pecado?

CEC 1865,84

O pecado arrasta ao pecado e a sua repetição gera o vício.


398 O que são os vícios?

CEC 1866-1867

Os vícios, sendo contrários às virtudes, são hábitos perversos que obscurecem a consciência e inclinam ao mal. Os vícios podem estar ligados aos chamados sete pecados capitais, que são: soberba, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça ou negligência.


399 Temos responsabilidade nos pecados cometidos por outros?

CEC 1868

Existe esta responsabilidade, quando culpavelmente neles cooperamos.


400 O que são as estruturas de pecado?

CEC 1869

São situações sociais ou instituições contrárias à lei divina, expressão e efeito de pecados pessoais.



CAPÍTULO SEGUNDO

A COMUNIDADE HUMANA

A PESSOA E A SOCIEDADE

401 Em que consiste a dimensão social do homem?

CEC 1877-1880
CEC 1890-1891

Juntamente com o chamamento pessoal à bem-aventurança, o homem tem a dimensão social como componente essencial da sua natureza e da sua vocação. De facto, todos os homens são chamados ao mesmo fim, que é o próprio Deus; existe uma certa semelhança entre a comunhão das Pessoas divinas e a fraternidade que os homens devem instaurar entre si na verdade e na caridade; o amor ao próximo é inseparável do amor a Deus.


402 Qual é a relação entre pessoa e sociedade?

CEC 1881-1882
CEC 1892-1893

Princípio, sujeito e fim de todas as instituições sociais é e deve ser a pessoa. Certas sociedades, como a família e a sociedade civil, são necessárias para ela. São úteis ainda outras associações, tanto no interior das comunidades políticas como a nível internacional, no respeito do princípio de subsidiariedade.


403 O que indica o princípio de subsidiariedade?

CEC 1883-1885
CEC 1894

Este princípio indica que uma sociedade de ordem superior não deve assumir uma tarefa que diga respeito a uma sociedade de ordem inferior, privando-a das suas competências, mas deve, antes, apoiá-la em caso de necessidade.


404 Que outras coisas requer uma autêntica convivência humana?

CEC 1886-1889
CEC 1895-1896

Requer o respeito da justiça, a justa hierarquia de valores e a subordinação das dimensões materiais e instintivas às superiores e espirituais. Em especial, onde o pecado perverte o clima social, é necessário apelar à conversão dos corações e à graça de Deus, para obter mudanças sociais que estejam realmente ao serviço de cada pessoa e de toda a pessoa. A caridade, que exige e torna capaz da prática da justiça, é o maior mandamento social.



A PARTICIPAÇÃO NA VIDA SOCIAL




405 Em que se funda a autoridade na sociedade?

CEC 1897-1902
CEC 1918-1920

Toda a comunidade humana tem necessidade duma autoridade legítima, que assegure a ordem e contribua para a realização do bem comum. Tal autoridade encontra o seu fundamento na natureza humana, porque corresponde à ordem estabelecida por Deus.


406 Quando é que a autoridade é exercida legitimamente?

CEC 1903-1904
CEC 1921-1922

A autoridade é exercida legitimamente quando procura o bem comum e emprega meios moralmente lícitos para o conseguir. Por isso, os regimes políticos devem ser determinados pela decisão livre dos cidadãos e devem respeitar o princípio do «Estado de direito», no qual é soberana a lei e não a vontade arbitrária dos homens. As leis injustas e as medidas contrárias à ordem moral não obrigam as consciências.


407 O que é o bem comum?

CEC 1905-1906
CEC 1924

Por bem comum entende-se o conjunto das condições de vida social que permitem aos grupos e aos indivíduos atingir a sua perfeição.


408 O que é que comporta o bem comum?

CEC 1907-1909
CEC 1925

O bem comum comporta: o respeito e a promoção dos direitos fundamentais da pessoa; o desenvolvimento dos bens espirituais e temporais das pessoas e da sociedade; a paz e a segurança de todos.


409 Onde é que se realiza dum modo mais relevante o bem comum?

CEC 1910-1912
CEC 1927

A realização mais completa do bem comum encontra-se nas comunidades políticas, que defendem e promovem o bem dos cidadãos e dos corpos intermédios, sem esquecer o bem universal da família humana.


410 Como é que o homem participa na promoção do bem comum?

CEC 1913-1917
CEC 1926

Cada ser humano, segundo o lugar que ocupa e o papel que desempenha, participa na promoção do bem comum respeitando as leis justas e encarregando-se de sectores de que assume a responsabilidade pessoal, como o cuidado da própria família e o empenho no seu trabalho. Para além disso, os cidadãos, na medida do possível, devem tomar parte activa na vida pública.



A JUSTIÇA SOCIAL




411 Como é que a sociedade assegura a justiça social?

CEC 1928-133
CEC 1943-1944

A sociedade assegura a justiça social quando respeita a dignidade e os direitos da pessoa, que constituem o seu próprio fim. Além disso, a sociedade procura a justiça social, que está conexa ao bem comum e ao exercício da autoridade, quando realiza as condições que permitam às associações e ao indivíduo obter aquilo a que têm direito.


412 Em que se funda a igualdade entre os homens?

CEC 1934-1935
CEC 1945

Todos os homens gozam de igual dignidade e direitos fundamentais, uma vez que, criados à imagem do Deus único e dotados duma alma racional, têm a mesma natureza e origem e são chamados, em Cristo único salvador, à mesma bem-aventurança divina.


413 Como avaliar a desigualdade entre os homens?

CEC 1936-1938
CEC 1946-1947

Há iníquas desigualdades económicas e sociais, que ferem milhões de seres humanos; elas estão em contradição aberta com o Evangelho, são contrárias à justiça, à dignidade das pessoas e à paz. Mas há também diferenças entre os homens, causadas por factores que fazem parte do plano de Deus. Com efeito, Ele quer que cada um receba dos outros aquilo de que precisa, e quer que os que dispõem de «talentos» particulares os partilhem com os outros. Tais diferenças estimulam e obrigam, muitas vezes, as pessoas à magnanimidade, à benevolência e à partilha, e incitam as culturas a enriquecerem-se umas às outras.


414 Como se manifesta a solidariedade humana?

CEC 1939
CEC 1948

A solidariedade, exigência da fraternidade humana e cristã, manifesta-se, em primeiro lugar, na justa repartição dos bens, équa na remuneração do trabalho e no esforço por uma ordem social mais justa. A virtude da solidariedade pratica também a repartição dos bens espirituais da fé, ainda mais importantes que os materiais.



CAPÍTULO TERCEIRO

A SALVAÇÃO DE DEUS: A LEI E A GRAÇA

A LEI MORAL




415 O que é a lei moral?

CEC 1950

A lei moral é obra da Sabedoria divina. Prescreve-nos caminhos e normas de conduta que levam à bem-aventurança prometida, proibindo-nos os caminhos que nos desviam de Deus.


416 Em que consiste a lei moral natural?

CEC 1954-1959
CEC 1978-1979

A lei natural, escrita pelo Criador no coração de cada ser humano, consiste numa participação na sabedoria e bondade de Deus, e manifesta o sentido moral originário que permite ao homem discernir, pela razão, o bem e o mal. Ela é universal e imutável, e constitui a base dos deveres e dos direitos fundamentais da pessoa, bem como da comunidade humana e da própria lei civil.


417 Esta lei é percebida por todos?

CEC 1960

Por causa do pecado, a lei natural nem sempre é percebida por todos com igual clarerza e imediatez.



Por isso Deus «escreveu nas tábuas da Lei o que os homens não conseguiam ler nos seus corações» (S. Agostinho)




418 Qual é a relação entre a Lei Natural e a Antiga Lei?

CEC 1961-1964
CEC 1980-1982

A Antiga Lei é o primeiro estádio da Lei revelada. Ela exprime muitas verdades que são naturalmente acessíveis à razão e que se encontram assim declaradas e autenticadas nas Alianças da salvação. As suas prescrições morais estão compendiadas nos Dez Mandamentos do Decálogo, colocam os alicerces da vocação do homem, proíbem o que é contrário ao amor de Deus e do próximo e prescrevem o que lhe é essencial.


419 Qual o lugar da antiga Lei, no plano da salvação?

CEC 1963-1964
CEC 1982

A Antiga Lei permite conhecer muitas verdades acessíveis à razão, indica o que se deve e o que se não deve fazer, e sobretudo, como um sábio pedagogo, prepara e dispõe à conversão e ao acolhimento do Evangelho. Todavia, embora santa, espiritual e boa, a Lei antiga é ainda imperfeita, pois, por si, não dá a força e a graça do Espírito para a cumprir.


420 O que é a Nova Lei ou Lei evangélica?

CEC 1965-1972
CEC 1983-1985

A Nova Lei ou Lei evangélica, proclamada e realizada por Cristo, é a perfeição e cumprimento da Lei divina, natural e revelada. Resume-se no mandamento do amor a Deus e ao próximo, e de nos amarmos como Cristo nos amou; é também uma realidade interior dada ao homem: a graça do Espírito Santo que torna possível um tal amor. É a «lei da liberdade» (Jc 1,25), porque nos inclina a agir espontaneamente sob o impulso da caridade.



«A Lei nova é sobretudo a própria graça do Espírito Santo, dada aos crentes em Cristo» (S. Tomás de Aquino).




421 Onde se encontra a Lei nova?

CEC 1971-1974
CEC 1986

A Lei nova encontra-se em toda a vida e pregação de Cristo e na catequese moral dos Apóstolos: o Sermão do Senhor na Montanha é a sua principal expressão.



GRAÇA E JUSTIFICAÇÃO




422 O que é a justificação?

CEC 1987-1995
CEC 2017-2020

A justificação é a obra mais excelente do amor de Deus. É a acção misericordiosa e gratuita de Deus, que perdoa os nossos pecados e nos torna justos e santos em todo o nosso ser. Isto tem lugar por meio da graça do Espírito Santo, que nos foi merecida pela paixão de Cristo e nos foi dada no Baptismo. A justificação inicia a resposta livre do homem, ou seja, a fé em Cristo e a colaboração com a graça do Espírito Santo.


423 O que é a graça que justifica?

CEC 1996-1998
CEC 2005 CEC 201

A graça é o dom gratuito que Deus nos dá para nos tornar participantes da sua vida trinitária e capaz de agir por amor d’Ele. É chamada graça habitual ou santificante ou deificante, pois nos santifica e diviniza. É sobrenatural, porque depende inteiramente da iniciativa gratuita de Deus e ultrapassa as capacidades da inteligência e das forças do homem. Escapa, portanto, à nossa experiência.


424 Que outros tipos de graça existem?

CEC 1999-2000
CEC 2003-2004
CEC 2023-2024

Para além da graça habitual, existem: as graças actuais (dons circunstanciais); as graças sacramentais (dons próprios de cada sacramento); as graças especiais ou carismas (que têm como fim o bem comum da Igreja), entre as quais as graças de estado, que acompanham o exercício dos ministérios eclesiais e das responsabilidades da vida.


425 Qual é a relação entre a graça e a liberdade do homem?

CEC 2001-2002

A graça precede, prepara e suscita a resposta livre do homem. Responde às aspirações profundas da liberdade humana, convida-a à colaboração e leva-a à sua perfeição.


426 O que é o mérito?

CEC 2006-2009
CEC 2025-2027

O mérito é o que dá direito à recompensa por uma acção boa. Em relação a Deus, o homem, de si, não pode merecer nada, tendo recebido gratuitamente tudo d’Ele. Todavia, Deus dá-lhe a possibilidade de adquirir méritos pela união à caridade de Cristo, fonte dos nossos méritos diante de Deus. Os méritos das obras boas devem por isso ser atribuídos antes de mais à graça de Deus e depois à vontade livre do homem.


427 Que bens podemos merecer?

CEC 2006-2009
CEC 2025-2027

Sob a moção do Espírito Santo, podemos merecer, para nós mesmos e para os outros, as graças úteis para nos santificarmos e para alcançar a vida eterna, bem como os bens temporais necessários segundo os desígnios de Deus. Ninguém pode merecer a graça primeira, que está na origem da conversão e da justificação.


428 Somos todos chamados à santidade cristã?




Todos os fiéis são chamados à santidade. Esta é a plenitude da vida cristã e a perfeição da caridade, que se obtém mediante a íntima união com Cristo e, n’Ele, com a Santíssima Trindade. O caminho de santificação do cristão, depois de ter passado pela cruz, terá o seu acabamento na ressurreição final dos justos, na qual Deus será tudo em todas as coisas.



A IGREJA MÃE E MESTRA




429 Como é que a Igreja alimenta a vida moral do cristão?

CEC 2030-2031
CEC 2047

A Igreja é a comunidade onde o cristão acolhe a Palavra de Deus que contém os ensinamentos da «Lei de Cristo» (Ga 6,2); recebe a graça dos sacramentos; une-se à oferta eucarística de Cristo de modo que a sua vida moral seja um culto espiritual; e aprende o exemplo da santidade da Virgem Maria e dos Santos.


430 Porque é que o Magistério da Igreja intervém no campo moral?

CEC 2032-2040
CEC 2049-2051

Porque é missão do Magistério da Igreja pregar a fé que deve ser acreditada e aplicada na vida prática. Essa missão estende-se também aos preceitos específicos da lei natural, porque a sua observância é necessária para a salvação.


431 Qual a finalidade dos preceitos da Igreja?

CEC 2041
CEC 2048

Os cinco preceitos da Igreja têm por fim garantir aos fiéis o mínimo indispensável do espírito de oração, da vida sacramental, do empenho moral e do crescimento do amor de Deus e do próximo.


432 Quais são os preceitos da Igreja?

CEC 2042

São: 1) participar na missa do Domingo e Dias Santos de Guarda e abster-se de trabalhos e actividades que impeçam a santificação desses dias; 2) confessar os pecados recebendo o sacramento da Reconciliação ao menos uma vez cada ano; 3) comungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição; 4) guardar a abstinência e jejuar nos dias marcados pela Igreja; 5) contribuir para as necessidades materiais da Igreja, cada um segundo as próprias possibilidades.


433 Porque é que a vida moral dos cristãos é indispensável para o anúncio do Evangelho?

CEC 2044-2046

Porque, com a sua vida conforme ao Senhor Jesus, os cristãos atraem os homens à fé no verdadeiro Deus, edificam a Igreja, modelam o mundo com o espírito do Evangelho e apressam a vinda do Reino de Deus.



SEGUNDA SECÇÃO

OS DEZ MANDAMENTOS



Ex 20,2-17

Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casa da escravidão.

Não terás outros deuses perante Mim. Não farás para ti nenhuma imagem esculpida, nem figura que existe lá no alto do céu, ou cá em baixo, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas nem lhes prestarás culto, porque Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem; mas uso de misericórdia até à milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.



Não invocarás em vão o Nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixa sem castigo quem invocar o seu Nome em vão.



Recorda-te do dia do Sábado para o santificar. Durante seis dias trabalharás e farás todos os trabalhos. Mas o sétimo dia é o Sábado do Senhor teu Deus. Não farás nele nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho ou tua filha, nem o teu servo nem a tua serva, nem teu gado, nem o estrangeiro que vive em tua cidade. Porque em seis dias o Senhor fez o Céu e a Terra, o mar e o que eles contêm: mas ao sétimo descansou. Por isso o Senhor abençoou o dia de Sábado e o consagrou .

Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar.

Não matarás.

Não cometerás adultério.

Não roubarás.

Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.

Não cobiçarás a casa do teu próximo.

Não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem nada do que lhe pertença.

Deuteronómio Dt 5,6-21

Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casa da escravidão.

Não terás outros deuses diante de Mim....

Não invocarás em vão o Nome do Senhor teu Deus....

Guarda o dia do Sábado para o santificar

Honra teu pai e tua mãe...

Não matarás.

Não cometerás adultério.

Não roubarás.

Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.

Não desejarás a mulher do teu próximo; Não cobiçarás… nada que pertença ao teu próximo.

Fórmula da Catequese

Eu sou o Senhor teu Deus:

Primeiro: Adorar a Deus e amá-lo sobre todas as coisas.

Segundo: Não invocar o santo nome de Deus em vão.

Terceiro: Santificar os Domingos e festas de guarda.

Quarto: Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores).

Quinto: Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo).

Sexto: Guardar castidade nas palavras e nas obras.

Sétimo: Não furtar (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo).

Oitavo: Não levantar falsos testemunhos (nem de qualquer outro modo faltar à verdade ou difamar o próximo)

Nono: Guardar castidade nos pensamentos e desejos.

Décimo: Não cobiçar as coisas alheias.
Estes dez mandamentos

resumem-se em dois que são:

Amar a Deus sobre todas as coisas

E ao próximo como a nós mesmos.





434 «Mestre, que devo fazer de bom para alcançar a vida eterna?» (Mt 19,16)

CEC 2052-2054
CEC 2075-2076

Ao jovem que lhe faz esta pergunta, Jesus responde: «Se queres entrar na vida, observa os mandamentos», e acrescenta: «Vem e segue-me» (Mt 19,16-21). Seguir Jesus implica observar os mandamentos. A Lei não é abolida, mas o homem é convidado a encontrá-la na pessoa do divino Mestre, que em si mesmo a cumpre perfeitamente, lhe revela o pleno significado e atesta a sua perenidade.


435 Como é que Jesus interpreta a Lei?

CEC 2055

Jesus interpreta a Lei, à luz do duplo e único mandamento da caridade, que é a plenitude da Lei: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro dos mandamentos. E o segundo é semelhante ao primeiro: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a Lei e os Profetas» (Mt 22,37-40).


436 O que significa o «Decálogo»?

CEC 2056-2057

Decálogo significa «dez palavras» (Ex 34,28). Estas palavras resumem a Lei, dada por Deus ao povo de Israel, no contexto da Aliança, por meio de Moisés. Este, ao apresentar os mandamentos do amor a Deus (os três primeiros) e ao próximo (os outros sete), traça, para o povo eleito e para cada um em particular, o caminho duma vida liberta da escravidão do pecado.


437 Qual a relação do Decálogo com a Aliança?

CEC 2058-2063
CEC 2077

O Decálogo compreende-se à luz da Aliança, na qual Deus se revela, dando a conhecer a sua vontade. Na observância dos mandamentos, o povo mostra a sua pertença a Deus e responde com gratidão à sua iniciativa de amor.


438 Que importância dá a Igreja ao Decálogo?

CEC 2064-2068

Fiel à Escritura e ao exemplo de Jesus, a Igreja reconhece ao Decálogo uma importância e um significado basilares. Os cristãos estão obrigados a observá-lo.


439 Porque é que o Decálogo constitui uma unidade orgânica?

CEC 2069
CEC 2079

O Decálogo constitui um conjunto orgânico e indissociável, porque cada mandamento remete para os outros e para o todo do Decálogo. Por isso, transgredir um mandamento é infringir toda a Lei.


440 Porque é que o Decálogo obriga gravemente?

CEC 2072
CEC 2081

Porque enuncia deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo.


441 É possível observar o Decálogo?

CEC 2074
CEC 2082

Sim, porque Cristo, sem o qual nada podemos fazer, nos torna capazes de observá-lo, com o dom do seu Espírito e da sua graça.



CAPÍTULO PRIMEIRO

« AMARÁS O SENHOR TEU DEUS COM

TODO TEU CORAÇÃO, COM TODA TUA ALMA

E COM TODAS AS TUAS FORÇAS »

O PRIMEIRO MANDAMENTO:

EU SOU O SENHOR TEU DEUS NÃO TERÁS

OUTRO DEUS ALÉM DE MIM




442 Que implica a afirmação: «Eu sou o Senhor teu Deus» (Ex 20,2)?

CEC 2083-2094
CEC 2133-2134

Implica, para o fiel, guardar e praticar as três virtudes teologais e evitar os pecados que se lhes opõem. A crê em Deus e rejeita o que lhe é contrário, como, por exemplo, a dúvida voluntária, a incredulidade, a heresia, a apostasia e o cisma. A esperança é a expectativa confiante da visão bem-aventurada de Deus e da sua ajuda, evitando o desespero e a presunção. A caridade ama a Deus sobre todas as coisas: são rejeitadas portanto a indiferença, a ingratidão, a tibieza, a acédia ou preguiça espiritual e o ódio a Deus, que nasce do orgulho.


443 Que implica a Palavra do Senhor: «Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto» (Mt 4,10)?

CEC 2095-2105
CEC 2135-2136

Implica adorar a Deus como Senhor de tudo o que existe; prestar-lhe o culto devido individual e comunitariamente; rezar-lhe com expressões de louvor, de acção de graças, de intercessão e de súplica; oferecer-Lhe sacrifícios, sobretudo o sacrifício espiritual da nossa vida, em união com o sacrifício perfeito de Cristo; e manter as promessas e os votos que Lhe fizermos.


444 Como é que a pessoa realiza o próprio direito de prestar culto a Deus na verdade e na liberdade?

CEC 2104-2109
CEC 2137

Todo o homem tem o direito e o dever moral de procurar a verdade, em especial no que se refere a Deus e à sua Igreja, e, uma vez conhecida, de a abraçar e guardar fielmente, prestando a Deus um culto autêntico. Ao mesmo tempo, a dignidade da pessoa humana requer que, em matéria religiosa, ninguém seja forçado a agir contra a própria consciência nem seja impedido de agir em conformidade com ela, dentro dos limites da ordem pública, privada ou publicamente, de forma individual ou associada.


445 Que proíbe Deus ao ordenar: «Não terás outros deuses perante Mim» (Ex 20,2)?

CEC 2110-2128
CEC 2138-2140

Este mandamento proíbe:

- o politeísmo e a idolatria, que diviniza uma criatura, o poder, o dinheiro, e até mesmo o demónio;

- a superstição, que é um desvio do culto devido ao verdadeiro Deus, e que se expressa nas várias formas de adivinhação, magia, feitiçaria e espiritismo;

- a irreligião, expressa no tentar a Deus com palavras ou actos, no sacrilégio, que profana pessoas ou coisas sagradas sobretudo a Eucaristia, e na simonia, que pretende comprar ou vender realidades espirituais;

- o ateísmo, que nega a existência de Deus, fundando-se muitas vezes numa falsa concepção de autonomia humana;

- o agnosticismo, segundo o qual nada se poder saber de Deus, e que inclui o indiferentismo e o ateísmo prático.


446 Ao dizer: «não farás para ti qualquer imagem esculpida» (Ex 20,3) proíbe-se o culto das imagens?

CEC 2129-2132
CEC 2141

No Antigo Testamento, este mandamento proíbe representar o Deus absolutamente transcendente. Porém, a partir da Encarnação do Filho de Deus, o culto cristão das imagens sagradas é justificado (como afirma o segundo Concílio de Niceia, de 787), porque se funda no Mistério do Filho de Deus feito homem, no qual Deus transcendente se torna visível. Não se trata duma adoração da imagem, mas de uma veneração de quem nela é representado: Cristo, a Virgem, os Anjos e os Santos.



O SEGUNDO MANDAMENTO:

NÃO INVOCAR O SANTO NOME DE DEUS EM VÃO




447 Como respeitar a santidade do Nome de Deus?

CEC 2142-2149
CEC 2160-2162

Invocando, bendizendo, louvando e glorificando o santo Nome de Deus. Deve pois ser evitado o abuso de invocar o Nome de Deus para justificar um crime, e ainda todo o uso inconveniente do seu Nome, como a blasfémia, que por sua natureza é um pecado grave, as imprecações e a infidelidade às promessas feitas em Nome de Deus.


448 Porque se proíbe o juramento falso?

CEC 2150-2151
CEC 2163-2164

Porque, assim, se chama a Deus, que é a própria Verdade, como testemunha da mentira.



«Não jurar nem pelo Criador, nem pela criatura, senão com verdade, por necessidade e com reverência» (S. Inácio de Loiola).




449 O que é o perjúrio?

CEC 2152-2155

É fazer, sob juramento, uma promessa com intenção de a não manter ou de violar a promessa feita sob juramento. É um pecado grave contra Deus, que é sempre fiel às suas promessas.



O TERCEIRO MANDAMENTO:

SANTIFICAR OS DOMINGOS E FESTAS DE GUARDA




450 Porque é que Deus «abençoou o dia de Sábado e o declarou sagrado» (Ex 20,11)?

CEC 2168-2172
CEC 2189

Porque o dia de Sábado recorda o repouso de Deus no sétimo dia da criação e também a libertação de Israel da escravidão do Egipto e a Aliança que Deus estabeleceu com o povo.


451 Qual a atitude de Jesus em relação ao Sábado?

CEC 2173

Jesus reconhece a santidade do Sábado e, com a sua autoridade divina, dá-lhe a sua interpretação autêntica: «O Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado» (Mc 2,27).


452 Porque motivo, para os cristãos, o Sábado é substituído pelo Domingo?

CEC 2174-2176
CEC 2190-2191

Porque o Domingo é o dia da ressurreição de Cristo. Como «primeiro dia da semana» (Mc 16,2) ele evoca a primeira criação; como «oitavo dia», que segue o Sábado, significa a nova criação, inaugurada com a Ressurreição de Cristo. Tornou-se assim para os cristãos o primeiro de todos os dias e de todas as festas: o dia do Senhor, no qual Ele, com a sua Páscoa, leva à realização a verdade espiritual do Sábado judaico e anuncia o repouso eterno do homem em Deus.


453 Como santificar o Domingo?

CEC 2177-2185
CEC 2192-2193

Os cristãos santificam o Domingo e as festas de preceito participando na Eucaristia do Senhor e abstendo-se também das actividades que o impedem de prestar culto a Deus e perturbam a alegria própria do dia do Senhor ou o devido descanso da mente e do corpo. São permitidas as actividades ligadas a necessidades familiares ou a serviços de grande utilidade social, desde que não criem hábitos prejudiciais à santificação do Domingo, à vida de família e à saúde.


454 Porque é importante reconhecer civilmente o Domingo como dia festivo?

CEC 2186-2188
CEC 2194-2195

Para que todos possam gozar de repouso suficiente e de tempo livre, que lhes permitam cuidar da vida religiosa, familiar, cultural e social; para dispor de tempo propício à meditação, reflexão, silêncio e estudo; e para fazer boas obras, servir os doentes e os anciãos.



Compêndio 376