Diretório 2013 83


2.12. Devoção a Maria


Imitar as virtudes da Mãe

84 Existe uma «relação essencial entre a Mãe de Jesus e o sacerdócio dos ministros do Filho», derivante daquela que existe entre a maternidade divina e o sacerdócio de Cristo[389].

Nesta relação, se enraíza a espiritualidade mariana de todo o presbítero. A espiritualidade sacerdotal não pode dizer-se completa se não toma seriamente em consideração o testamento de Cristo crucificado, que quis entregar a mãe ao discípulo predileto e, mediante ele, a todos os sacerdotes chamados a continuar a sua obra de redenção.

Como a João aos pés da Cruz, assim a cada presbítero é confiada, de modo especial, Maria como mãe (cf.
Jn 19,26-27).

Os sacerdotes, que estão entre os discípulos prediletos de Jesus crucificado e ressuscitado, devem acolher Maria como sua mãe na própria vida, fazendo dela objeto de contínua atenção e oração. A sempre Virgem torna-se, então, a mãe que os conduz a Cristo, que os faz amar autenticamente a Igreja, que intercede por eles e os guia para o Reino dos céus.

[389]   Cf. João Paulo II, Audiência geral (30 de junho de 1993): Insegnamenti XVI/1 (1993), 1689-1699.


85 Todo o presbítero sabe que Maria, porque mãe, é também a mais eminente formadora do seu sacerdócio, uma vez que é Ela que sabe modelar o seu coração sacerdotal, protegê-lo dos perigos, dos cansaços, dos desencorajamentos e de vigiar, com materna solicitude, para que ele possa crescer em sabedoria, idade e graça, diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,40).

Mas, não se pode ser filho devoto se não se sabem imitar as virtudes da mãe. Portanto, o presbítero deve olhar para Maria, a fim de ser um ministro humilde, obediente, casto e para testemunhar a caridade na doação total ao Senhor e à Igreja[390].

[390]   Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, PO 18.


A Eucaristia e Maria

86 Em cada celebração eucarística, escutamos novamente aquele «Eis o teu filho!» dito pelo Filho à sua Mãe, enquanto Ele mesmo nos repete: «Eis a tua Mãe!» (Jn 19,26-27). Viver a Eucaristia implica também em receber continuamente este dom: «Maria é mulher “eucarística” na totalidade da sua vida. A Igreja, vendo em Maria o seu modelo, é chamada a imitá-La também na sua relação com este mistério santíssimo. [...] Maria está presente, com a Igreja e como Mãe da Igreja, em cada uma das celebrações eucarísticas. Se Igreja e Eucaristia são um binômio indivisível, o mesmo é preciso afirmar do binômio Maria e Eucaristia»[391]. Deste modo, o encontro com Jesus no Sacrifício do Altar comporta, inevitavelmente, o encontro com Maria, sua Mãe. Na realidade, «pela sua identificação e conformação sacramental com Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, cada sacerdote pode e deve sentir-se verdadeiramente filho predileto desta Mãe excelsa e humilíssima»[392].

Obra prima do Sacrifício sacerdotal de Cristo, a Sempre Virgem Mãe de Deus representa a Igreja no modo mais puro, «sem mancha nem ruga», toda «santa e imaculada» (Ep 5,27). Esta contemplação da bem-aventurada Virgem – à qual também se junta São José, mestre de vida interior –, coloca diante do presbítero o ideal para o qual tender no ministério junto à sua comunidade, a fim de que esta seja «Igreja toda gloriosa» (ibid.) mediante o dom sacerdotal da sua própria vida.

[391]    João Paulo II, Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de abril de 2003): l.c., EE 53 EE 57.
[392]   Bento XVI, Audiência geral (12 de agosto de 2009): Insegnamenti V/2 (2009), 94.



III. FORMAÇÃO PERMANENTE

O sacerdote precisa aprofundar a sua formação constantemente. Ainda que tenha realmente recebido, no dia da sua ordenação, o permanente selo que o configurou in aeternum a Cristo Cabeça e Pastor, ele é chamado a uma melhora contínua, a fim de ser mais eficaz em seu ministério. Neste sentido, é fundamental que os sacerdotes estejam conscientes do fato de que a sua formação não terminou com os anos de seminário. Pelo contrário, desde o dia da sua ordenação, o sacerdote deve sentir a necessidade de aperfeiçoar-se continuamente para ser sempre mais de Cristo Senhor.



3.1. Princípios


Necessidade da formação permanente, hoje

87 Como lembrava Bento XVI, «o tema da identidade presbiteral [...] é determinante para o exercício do sacerdócio ministerial no presente e no futuro»[393]. Estas palavras do Santo Padre constituem o ponto de referência sob o qual a formação permanente do clero deve ser abordada: ajuda a aprofundar no significado de ser sacerdote. «O sacerdote tem como referência fundamental a relação com Jesus Cristo Cabeça e Pastor»[394] e, neste sentido, a formação permanente deveria ser um meio para aumentar esta relação “exclusiva” que, necessariamente, repercute em todo o ser e agir do presbítero. A formação permanente é exigência que nasce e se desenvolve a partir da recepção do sacramento da Ordem, com o qual o sacerdote é não só «consagrado» pelo Pai, e «enviado» pelo Filho, como também é «animado» pelo Espírito Santo. Portanto, ela é destinada a assimilar progressivamente, e em termos cada vez mais amplos e profundos, toda a vida e ação do presbítero, na fidelidade ao dom recebido: «Por este motivo, recordo-te que reavives o dom que recebeste mediante a imposição das minhas mãos» (2Tm 1,6).

Trata-se duma necessidade intrínseca ao próprio dom divino[395], que deve ser cotidianamente vivificado para que o presbítero possa responder adequadamente à sua vocação. Com efeito, enquanto homem historicamente situado, ele tem necessidade de aperfeiçoar-se em todos os aspectos da sua existência humana e espiritual, para poder alcançar aquela conformação com Cristo, que é o princípio unificante de tudo.

As transformações rápidas e difundidas e um tecido social frequentemente secularizado, típicos do mundo contemporâneo, são fatores que tornam absolutamente iniludível o dever do presbítero estar adequadamente preparado para não perder a sua identidade e para responder às necessidades da nova evangelização. A este dever grave, corresponde um direito expresso por parte dos fiéis sobre os quais recaem positivamente os efeitos da boa formação e da santidade dos sacerdotes[396].

[393]   Bento XVI, Discurso aos participantes do Congresso Teológico promovido pela Congregação para o Clero (12 de março de 2010): l.c., 323-326.
[394]   João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, PDV 16.
[395]   Cf. ibid., PDV 70.
[396]   Cf. ibid. PDV 70


88 A vida espiritual do sacerdote e o seu ministério pastoral estão unidos ao contínuo trabalho de perfeição pessoal – correspondência à obra de santificação do Espírito Santo – que possibilita aprofundar e reunir em síntese harmoniosa, quer a formação espiritual, quer a humana, intelectual e pastoral. Esse trabalho, que se deve iniciar no tempo de seminário, deve ser promovido pelos Bispos em vários níveis: nacional, regional e, sobretudo, diocesano.

Constitui um motivo de encorajamento constatar que são já muitas as Dioceses e as Conferências Episcopais que atualmente promovem iniciativas promissoras na realização de uma verdadeira formação permanente dos seus sacerdotes. Deseja-se que todas as Dioceses possam responder a esta necessidade. Todavia, onde isso ainda não for possível, é desejável que elas se ponham de acordo com outras, ou entrem em contato com instituições ou pessoas particularmente preparadas para a realização desta tão delicada tarefa[397].

[397]   Cf. ibid.,
PDV 79.


Instrumento de santificação

89 A formação permanente apresenta-se como um meio necessário ao presbítero para conseguir o fim da sua vocação, que é o serviço de Deus e do seu Povo.

Na prática, ela consiste em ajudar todos os sacerdotes a responder generosamente ao empenho requerido pela dignidade e responsabilidade que Deus lhe conferiu por meio do sacramento da Ordem; em guardar, defender e desenvolver a sua específica identidade e vocação; em santificarem-se a si mesmos e aos outros, mediante o exercício do sagrado ministério. Isso significa que o presbítero deve evitar toda a espécie de dualismo entre a espiritualidade e a ministerialidade, origem profunda de algumas crises. É claro que, para conseguir estas finalidades de ordem sobrenatural, devem ser descobertos e analisados os critérios gerais sobre os quais se deve estruturar a formação permanente dos presbíteros.

Tais critérios ou princípios gerais de organização devem ser pensados a partir da finalidade que nos propomos ou, melhor dizendo, devem ser procurados nela.



Deve ser dada pela Igreja

90 A formação permanente é um direito-dever do presbítero e dá-la é um direito-dever da Igreja, tanto que este último está estabelecido na lei universal[398]. Com efeito, como a vocação ao sagrado ministério se recebe na Igreja, assim, só à Igreja compete ministrar a formação específica de acordo com a responsabilidade própria de tal ministério. Portanto, sendo a formação permanente uma atividade ligada ao exercício do sacerdócio ministerial, pertence à responsabilidade do Papa e dos Bispos. A Igreja tem, por isso, o dever e o direito de continuar a formar os seus ministros, ajudando-os a progredir na resposta generosa ao dom que Deus lhes concedeu.

Por sua vez, o ministro recebeu também, como exigência do dom conexo com a ordenação, o direito de ter a ajuda necessária por parte da Igreja para realizar eficaz e santamente o seu serviço.

[398]   Cf. C.I.C., can.
CIC 279.


Deve ser permanente

91 A atividade de formação baseia-se numa exigência dinâmica, intrínseca ao carisma ministerial, que é em si mesmo permanente e irreversível. Por conseguinte, ela nunca se pode considerar terminada, nem por parte da Igreja que a dá, nem por parte do ministro que a recebe. É necessário, portanto, pensá-la e desenvolvê-la de maneira que todos os presbíteros possam recebê-la sempre, tendo em conta as possibilidades e características resultantes das variações da idade, da condição de vida e das tarefas atribuídas[399].

[399]   Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis,
PDV 76.


Deve ser completa

92 Tal formação deve compreender e harmonizar todas as dimensões da formação sacerdotal, isto é, deve tender a ajudar cada presbítero: a conseguir o desenvolvimento da sua personalidade humana, amadurecida no espírito de serviço aos outros, seja qual for o encargo recebido; a estar intelectualmente preparado nas ciências teológicas, em harmonia com o Magistério da Igreja[400], e também nas ciências humanas, enquanto conexas com o seu ministério, de modo a realizar com maior eficácia a sua função de testemunha da fé; a possuir uma vida espiritual sólida, alimentada pela intimidade com Jesus Cristo e pelo amor à Igreja; a realizar o seu ministério pastoral com empenho e dedicação.

Na prática, tal formação deve ser completa: humana, espiritual, intelectual, pastoral, sistemática e personalizada.

[400]   Cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Inst. Donum veritatis sobre a vocação eclesial do teólogo (24 de maio de 1990), 21-41: AAS 82 (1990), 1559-1569; Comissão Teológica Internacional, Theses Rationes magisterii cum theologia sobre a mútua relação entre magistério eclesiástico e teologia (6 de junho de 1976), tesi n. 8: “Gregorianum” 57 (1976), 549-556.


Formação humana

93 A formação humana é particularmente importante, pois «sem uma oportuna formação humana, toda a formação sacerdotal ficaria privada do seu necessário fundamento»[401]; constitui objetivamente a plataforma e o fundamento sobre o qual é possível edificar o edifício da formação intelectual, espiritual e pastoral. O presbítero não deve esquecer que «escolhido entre os homens, [...] permanece um deles e é chamado a servi-los, doando-lhes a vida de Deus»[402]. Por isso, como irmão entre os seus irmãos, para santificar-se e para ser bem-sucedido em sua missão sacerdotal, ele deverá  se apresentar com uma bagagem de virtudes humanas que o tornem digno da estima dos outros. É necessário recordar que, «para o sacerdote, que terá de acompanhar os outros ao longo do caminho da vida e até às portas da morte, é importante que ele mesmo tenha posto em justo equilíbrio coração e intelecto, razão e sentimento, corpo e alma, e que seja humanamente “íntegro”»[403].

Em especial, com o olhar fixo em Cristo, o sacerdote deverá também praticar a bondade de coração, a paciência, a amabilidade, a força de ânimo, o amor à justiça, o equilíbrio, a fidelidade à palavra dada, a coerência com os compromissos livremente assumidos, etc[404]. A formação permanente neste campo favorece o crescimento nas virtudes humanas, ajudando os presbíteros a viverem cada momento em «unidade de vida [...] na prática do ministério»[405], desde a cordialidade no trato até às ordinárias regras de boas maneiras ou a capacidade de comportar-se adequadamente em cada situação.

Existe um nexo entre a vida humana e a vida espiritual que depende da unidade de alma e corpo, própria da natureza humana, razão pela qual, aonde restam graves déficits humanos, a “estrutura” da personalidade não está nunca preparada para “choques” imprevistos.

É importante também que o sacerdote faça uma reflexão sobre o seu comportamento social, sobre a correção e boa educação – que nascem sempre da caridade e da humildade – nas várias formas de relações humanas, sobre os valores da amizade, sobre a distinção no trato, etc.

Finalmente, no atual contexto cultural, deve-se abordar esta formação também com a finalidade de contribuir – recorrendo, se for necessário, ao auxílio das ciências psicológicas[406] – com o amadurecimento humano: que indubitavelmente implica, mesmo que seja difícil de precisá-lo nos seus conteúdos, equilíbrio e harmonia na integração das tendências e dos valores, estabilidade psicológica e afetiva, prudência, objetividade nos juízos, fortaleza no domínio do próprio caráter, sociabilidade, etc. Deste modo, os presbíteros, especialmente os jovens, são ajudados a crescer em maturidade humana e afetiva. Neste último aspecto, também se deve ensinar a viver a castidade com delicadeza, conjuntamente com a modéstia e com o pudor, de modo particular no uso da televisão e da internet.

De fato, reveste-se de especial importância a formação para o uso da internet e, em geral, das novas tecnologias de comunicação. A sobriedade e a temperança são necessárias para evitar obstáculos para a vida de intimidade com Deus. O mundo da web apresenta muitas potencialidades para a evangelização, que, todavia, se forem mal gerenciadas, podem acarretar graves danos às almas; às vezes, com o pretexto de um melhor aproveitamento do tempo ou da necessidade de estar informado, pode-se fomentar uma curiosidade desordenada, que obstaculiza o sempre necessário recolhimento, do qual deriva a eficácia do compromisso.

Nesta linha, mesmo que o uso da internet também seja uma oportunidade útil para levar o anúncio do Evangelho a muitas pessoas, o sacerdote deve avaliar com prudência e ponderação o seu envolvimento, de tal modo que não se subtraia tempo de seu ministério pastoral em aspectos tais como a Pregação da Palavra de Deus, a celebração dos sacramentos, a direção espiritual, etc., nos quais ele é verdadeiramente insubstituível. Em todo caso, a sua participação nestes novos âmbitos deverá refletir sempre especial caridade, sentido sobrenatural, sobriedade e temperança, de tal modo que todos se sintam atraídos tanto pela sua figura, quanto ainda mais pela Pessoa de Jesus Cristo nosso Senhor.

[401]   João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis,
PDV 43; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Optatam totius, OT 11.
[402]   Bento XVI, Videomensagem aos participantes do Retiro Sacerdotal Internacional (27 de setembro - 3 de outubro de 2009): Insegnamenti V/2 (2009), 300-303.
[403]   Bento XVI, Carta aos seminaristas (18 de outubro de 2010), 6: l.c., 797-798.
[404]   Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, PO 3.
[405]   Ibid., PO 14.
[406]   Cf. Congregação para a Educação Católica, Orientações Ogni vocazione sobre a utilização das competências psicológicas na admissão e na formação dos candidatos ao sacerdócio (29 de junho de 2008), 5: “L’Osservatore Romano”, 31 ottobre 2008, 4ss.


Formação espiritual

94 Tendo presente tudo quanto foi já largamente exposto sobre a vida espiritual, limitamo-nos aqui a apresentar alguns meios práticos de formação.

Seria necessário, antes de tudo, aprofundar os aspectos principais da existência sacerdotal, fazendo referência, em particular, ao ensino bíblico, patrístico e hagiográfico, no qual o presbítero deve continuamente atualizar-se, não só por meio de leituras de bons livros, mas também participando em cursos de estudo, congressos, etc[407].

Poderiam ser dedicadas seções particulares ao cuidado na celebração dos sacramentos, bem como ao estudo de questões de espiritualidade, como as virtudes cristãs e humanas, os métodos de oração, a relação entre a vida espiritual e o ministério litúrgico, pastoral, etc.

Mais concretamente, é de se desejar que cada presbítero, talvez em concomitância com os periódicos exercícios espirituais, elabore um concreto plano de vida pessoal, possivelmente de acordo com o diretor espiritual, para o qual se assinalam alguns pontos:
1. Meditação cotidiana da Palavra ou dum mistério da fé;
2. encontro pessoal cotidiano com Jesus na Eucaristia, para além da devota celebração da Santa Missa e da confissão frequente;
3. devoção mariana (rosário, consagração ou entrega, colóquio íntimo);
4. momento formativo doutrinal e hagiográfico;
5. repouso devido;
6. renovado compromisso de pôr em prática as indicações do Bispo próprio e de avaliação da própria adesão convicta ao Magistério e à disciplina eclesiástica;
7. solicitude pela comunhão e fraternidade sacerdotal.
Devem-se aprofundar também outros aspectos, como a administração do próprio tempo e dos próprios bens, o trabalho e a importância de se trabalhar em conjunto com os outros.

[407]   Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis,
PO 19; Decr. Optatam totius, OT 22; C.I.C., can. CIC 279, § 2; Sagrada Congregação para a educação católica, Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis (19 de março de 1985), 101.


Formação intelectual

95 Dada a enorme influência que as correntes humanístico-filosóficas têm na cultura moderna, e o fato de que alguns presbíteros nem sempre tenham recebido uma preparação adequada em tais disciplinas, mesmo porque vindos de diferentes proveniências escolares, é necessário que, nos encontros, se tenham em conta as mais importantes temáticas de caráter humanístico e filosófico, ou que, de algum modo, «tenham uma relação com as ciências sagradas, particularmente enquanto podem ser úteis no exercício do ministério pastoral»[408].

Estas temáticas constituem também uma ajuda válida para tratar corretamente os principais temas de Sagrada Escritura, de teologia fundamental, dogmática e moral, de liturgia, de direito canônico, de ecumenismo, etc., tendo presente que o ensino destas matérias não deve desenvolver excessivamente a problematização nem ser apenas teórico ou informativo, mas deve levar a uma autêntica formação, isto é, à oração, à comunhão e à ação pastoral. Ademais, dedicar um tempo – possivelmente cotidiano – ao estudo dos manuais ou ensaios de filosofia, teologia e direito canônico será muito útil para aprofundar o sentire cum Ecclesia; nesta tarefa, o Catecismo da Igreja Católica e o seu Compêndio constituem um precioso instrumento de base.

Nos encontros sacerdotais, proceda-se de tal modo que os documentos do Magistério sejam estudados comunitariamente, sob a guia duma autoridade competente, de maneira a conseguir, na pastoral diocesana, a unidade de interpretação e de praxe que tanto ajuda à obra de evangelização.

Uma particular importância na formação intelectual deve ser dada aos temas que hoje têm mais relevo no impacto cultural e na prática pastoral, como, por exemplo, os relativos à ética social, à bioética, etc.

Uma atenção especial deve ser dada às questões postas pelo progresso científico, particularmente influentes na mentalidade e na vida dos homens contemporâneos. O presbítero não deve dispensar-se de estar adequadamente atualizado e pronto para dar razão da sua esperança (cf.
1P 3,15) diante das interrogações que os fiéis – muitos dos quais de elevada cultura – possam apresentar, estando a par do progresso das ciências e não deixando de consultar especialistas preparados e de doutrina segura. De fato, ao apresentar a Palavra de Deus, o presbítero deve levar em conta o crescimento progressivo da formação intelectual das pessoas e, por isso, saber adequar-se ao seu nível, também de acordo com os vários grupos ou lugares de proveniência.

É de interesse máximo estudar, aprofundar e difundir a doutrina social da Igreja. Seguindo o estímulo do ensinamento magisterial, é necessário que o interesse de todos os sacerdotes e, por meio deles, de todos os fiéis a favor dos necessitados, não fique apenas no nível do piedoso desejo, mas que se converta num concreto empenho de vida. «Hoje, mais do que nunca, a Igreja está consciente de que a sua mensagem social encontrará credibilidade no testemunho das obras, antes de encontrá-la na sua coerência e lógica interna»[409].

Uma exigência imprescindível para a formação intelectual dos sacerdotes é o conhecimento e a prudente utilização, na sua atividade pastoral, dos meios de comunicação social. Estes, se bem utilizados, constituem um instrumento providencial de evangelização, podendo não só atingir uma massa enorme de fiéis e de afastados, mas também incidir profundamente sobre a sua mentalidade e sobre o seu modo de agir.

A este propósito, seria conveniente que o Bispo ou a própria Conferência Episcopal preparassem programas e instrumentos técnicos aptos para tal fim. Ao mesmo tempo, o sacerdote deve evitar qualquer protagonismo, de tal modo que seja o Senhor Jesus, não ele, a brilhar diante dos homens e das mulheres do seu tempo.

[408]   C.I.C., can. CIC 279, § 3; Congregação para a Educação Católica, Decreto de Reforma dos estudos eclesiásticos de Filosofia (28 de janeiro de 2011), 8ss.: AAS 103 (2011), 148ss.
[409]   Cf. João Paulo II, Carta enc. Centesimus annus (1 de maio de 1991), CA 57: AAS 83 (1991), 862-863.


Formação pastoral

96 Para uma adequada formação pastoral, é necessário realizar encontros que tenham como objetivo principal a reflexão sobre o plano pastoral da Diocese. Neles não deveria faltar também a abordagem de todas as questões relativas à vida e à prática pastoral dos presbíteros como, por exemplo, a moral fundamental, a ética na vida profissional e social, etc. Pode ser particularmente interessante a organização de cursos ou seminários sobre a pastoral do sacramento da Confissão[410] ou sobre questões práticas de direção espiritual, tanto em geral como em situações específicas. A formação prática no campo da liturgia também tem uma importância especial. Dever-se-ia reservar particular atenção para se aprender a celebrar bem a Santa Missa – como já foi sublinhado, a ars celebrandi é uma condição sine qua non da actuosa partecipatio dos fiéis – e a adoração fora da Missa.

Outros temas, particularmente úteis a tratar para uma adequada formação pastoral, podem ser os referentes à catequese, à família, às vocações sacerdotais e religiosas, ao conhecimento da vida e da espiritualidade dos santos, aos jovens, aos idosos, aos enfermos, ao ecumenismo, aos assim chamados «afastados», às questões bioéticas, etc.

É muito importante para a catequese, nas atuais circunstâncias, organizar ciclos especiais para aprofundar e assimilar o Catecismo da Igreja Católica que, sobretudo para os sacerdotes, constitui um instrumento precioso de formação, quer para a pregação, quer, em geral, para a obra de evangelização.

[410]   Cf. Pontifício Conselho para a Família, Documento Cristo continua “Vademecum” para os confessores sobre alguns temas de moral relacionados com a vida conjugal (12 de fevereiro de 1997): “L’Osservatore Romano”, 2 de março de 1997, supplemento inserido como tabloide.


Deve ser orgânica e completa

97 Para que a formação permanente seja completa, é necessário que ela seja estruturada «não como qualquer coisa de episódico, mas como uma proposta sistemática de conteúdos, que se desenrola por etapas e se reveste de modalidades precisas»[411]. Isto comporta a necessidade de uma certa estrutura organizativa, que estabeleça oportunamente instrumentos, tempos e conteúdos para a sua concreta e adequada realização. Neste sentido, na vida do sacerdote, será útil retornar a temas como: o conhecimento da Escritura em sua totalidade, dos Padres da Igreja e dos grandes Concílios; de cada um dos conteúdos da fé em sua unidade; de questões essenciais da teologia moral e da doutrina social da Igreja; da teologia ecumênica e da orientação fundamental sobre grandes religiões em relação ao diálogo ecumênico, inter-religioso e intercultural; da filosofia e do direito canônico[412].

Tal organização deve ser acompanhada pelo hábito do estudo pessoal, uma vez que mesmo os cursos periódicos teriam escassa utilidade se não fossem acompanhados da aplicação ao estudo[413].

[411]   João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis,
PDV 79.
[412]   Cf. Sagrada Congregação para a educação Católica, Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis (19 de março de 1985), 76ss.
[413]   Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, PDV 79.


Deve ser personalizada

98 Embora seja para todos, a formação permanente tem como objetivo direto o serviço de cada um dos que a recebem. Assim, ao lado dos meios coletivos ou comuns, devem existir todos aqueles outros meios que tendem a personalizar a formação de cada um.

Por este motivo, deve ser promovida, sobretudo entre os responsáveis, a consciência de dever atingir cada sacerdote pessoalmente, tomando cuidado de cada um, não se contentando em colocar à disposição de todos as diversas oportunidades.

Por sua vez, cada presbítero deve sentir-se encorajado, com a palavra e com o exemplo do seu Bispo e dos seus irmãos no sacerdócio, a assumir a responsabilidade da sua própria formação, sendo ele o primeiro formador de si mesmo[414].

[414]   Cf. ibid.
PDV 79


3.2. Organização e meios


Encontros sacerdotais

99 O itinerário dos encontros sacerdotais deve ser unitário e progressivo. Tal característica unitária deve convergir para a conformação com Cristo, de modo que a verdade de fé, a vida espiritual e a atividade ministerial conduzam ao amadurecimento progressivo de todo o presbitério.

O caminho formativo unitário caracteriza-se por etapas bem definidas. Isto exigirá uma atenção específica às diversas faixas etárias dos presbíteros, sem esquecer nenhuma, bem como uma verificação das etapas realizadas, tendo o cuidado de fazer concordar, entre elas, os caminhos de formação comunitários com os pessoais, sem os quais os primeiros não poderiam surtir efeito.

Os encontros dos sacerdotes devem ser considerados necessários para crescer na comunhão para uma cada vez maior tomada de consciência e para uma adequada resolução dos problemas próprios de cada faixa etária.

Acerca do conteúdo de tais reuniões pode recorrer-se aos temas eventualmente propostos pelas Conferências Episcopais nacionais e regionais. Em todo o caso, é necessário que eles sejam estabelecidos num plano preciso de formação na Diocese, possivelmente cada ano[415].

A sua organização e o seu desenvolvimento poderão ser prudentemente confiados pelo Bispo a Faculdades ou institutos teológicos e pastorais, ao Seminário, a organismos ou federações empenhados na formação sacerdotal[416], a qualquer outro Centro ou Instituto especializado que, segundo as possibilidades e oportunidades, poderá ser diocesano, regional ou nacional, desde que seja verificada a correspondência às exigências da ortodoxia doutrinal, de fidelidade ao Magistério e à disciplina eclesiástica, bem como a competência científica e o conhecimento adequado das situações pastorais de fato.

[415]   Cf. ibid.
PDV 79
[416]   Cf. ibid. PDV 79; Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Optatam totius, OT 22; Decr. Presbyterorum Ordinis, PO 19.


Ano Pastoral

100 Estará aos cuidados do Bispo, mesmo por meio de eventuais cooperadores prudentemente escolhidos, providenciar que, no ano sucessivo à ordenação presbiteral e à diaconal, seja programado um ano chamado pastoral, que facilite a passagem gradual da indispensável vida de seminário ao exercício do ministério sagrado, facilitando um progressivo e harmônico amadurecimento humano e especificamente sacerdotal[417].

Durante o curso deste ano, será necessário evitar que os recém-ordenados sejam colocados em situações excessivamente duras ou delicadas, bem como se deverão também evitar lugares onde eles se encontrem trabalhando longe dos colegas. Pelo contrário, será bom, se for possível, propor alguma forma conveniente de vida comum.

Este período de formação poderia ser passado numa residência de propósito destinada a esse fim (Casa do Clero) ou num lugar que possa ser um ponto de referência preciso e sereno para todos os sacerdotes que realizam as primeiras experiências pastorais. Isto facilitará o colóquio e o diálogo com o Bispo e com os colegas sacerdotes, a oração comum, em particular a Liturgia das Horas, e o exercício de outras frutuosas práticas de piedade, tais como a adoração eucarística, o santo Rosário, etc., bem como a troca de experiências, o encorajamento recíproco, o florescer de boas relações de amizade.

É oportuno que o Bispo envie os neo-sacerdotes para junto de colegas de vida exemplar e zelo pastoral. O primeiro cargo, não obstante as frequentes urgências pastorais graves, deveria, sobretudo, ter em vista encaminhar corretamente os jovens presbíteros. O sacrifício de um ano poderá, então, frutificar largamente no futuro.

Não é supérfluo sublinhar o fato de que este ano, delicado e precioso, deverá ajudar no amadurecimento pleno do conhecimento entre o presbítero e o Bispo, que, iniciado no seminário, deve tornar-se uma verdadeira relação de filho para com o pai.

No que se refere à parte intelectual, este ano não deverá ser tanto um período de aprendizagem de novas matérias, quanto, sobretudo, de profunda assimilação e interiorização do que se estudou nos cursos institucionais, de maneira a ajudar a formação de uma mentalidade capaz de avaliar as particularidades à luz do desígnio de Deus[418].

Em tal contexto, poderão oportunamente ser organizadas lições e seminários sobre prática da confissão, de liturgia, de catequese e de pregação, de direito canônico, de espiritualidade sacerdotal, laical e religiosa, de doutrina social, da comunicação e dos seus meios, de conhecimento das seitas e das novas religiosidades, etc.

Na prática, o ano pastoral deve constituir um trabalho de síntese. Cada elemento deve corresponder ao projeto fundamental de amadurecimento da vida espiritual.

O êxito do ano pastoral é, de qualquer modo e sempre, condicionado pelo empenho pessoal do próprio interessado que deve tender cada dia à santidade, procurando continuamente os meios de santificação que o ajudaram desde o tempo de seminário. Além disso, quando em algumas dioceses existem dificuldades práticas – escassez de sacerdotes, muito trabalho pastoral, etc. – para organizar um ano com as características supramencionadas, o Bispo deve estudar como adaptar as diversas propostas para o ano pastoral às situações concretas, levando em conta que este é de grande importância para a formação e a perseverança no ministério dos jovens sacerdotes.

[417]   Cf. Paulo VI, Carta ap. Ecclesiae Sanctae (6 de agosto de 1966), I, 7: AAS 58 (1966), 761; Sagrada Congregação para o Clero, Carta circular aos Presidentes das Conferências Episcopais Inter ea (4 de novembro de 1969), 16: l.c., 130-131; Sagrada Congregação para a educação católica, Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis (19 de março de 1985), 63; 101; C.I.C., can.
CIC 1032, § 2.
[418]   Cf. Congregação para a educação católica, Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis (19 de março de 1985), 63.



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