Diretório 2013 101

Tempos de repouso

101 O perigo da habituação, o cansaço físico devido ao excesso de trabalho, a que, sobretudo, hoje, são submetidos os presbíteros, por causa do seu ministério, o próprio cansaço psicológico, causado, frequentemente, por ter de lutar continuamente contra a incompreensão, o equívoco, os preconceitos, a oposição contra forças organizadas e poderosas que agem para confirmar publicamente a opinião segundo a qual, atualmente, o sacerdote pertence a uma minoria culturalmente obsoleta, constituem alguns fatores que podem instilar mal-estar no ânimo dos pastores.

Não obstante as urgências pastorais, antes, precisamente para enfrentá-las de modo adequado, é conveniente reconhecer os nossos limites, «encontrar e ter a humildade, a coragem de repousar»[419]. Mesmo que, normalmente, o repouso ordinário seja o meio mais eficaz para retomar as forças e continuar a trabalhar pelo Reino de Deus, pode ser útil que sejam concedidos tempos mais ou menos amplos para que os presbíteros possam descansar mais serenamente e intensamente poderem estar com o Senhor Jesus, retomando força e coragem para continuarem o caminho de santificação.

Para responder a esta exigência particular, em muitos lugares já foram experimentadas, muitas vezes com resultados promissores, diversas iniciativas. Estas experiências são válidas e podem ser tomadas em consideração, não obstante as dificuldades que se encontram em algumas zonas onde mais se sofre a carência numérica dos presbíteros.

Para esse fim, poderiam ter uma função notável os mosteiros, os santuários ou outros lugares de espiritualidade, possivelmente fora dos grandes centros, deixando o presbítero livre de responsabilidades pastorais diretas pelo período em que aí se hospeda.

Em certos casos, poderá ser útil que estas pausas tenham finalidade de estudo ou de aprofundamento nas ciências sagradas, sem esquecer, entretanto, o objetivo do fortalecimento espiritual e apostólico.

Em todo o caso, seja cuidadosamente evitado o perigo de considerar estes períodos como um tempo de meras férias ou de reivindicá-los como um direito; e, mais do que nunca, o sacerdote sinta a necessidade de, nos dias de repouso, celebrar o Sacrifício eucarístico, centro e origem da sua vida.

[419]   Bento XVI, Vigília por ocasião da Conclusão do Ano Sacerdotal (10 de junho de 2010): l.c., 397-406.


Casa do Clero

102 Onde for possível, é desejável a ereção de uma “Casa do Clero”, que poderia ser também um lugar onde se pudessem reunir para aí realizar os mencionados encontros de formação, e também um ponto de referência para numerosas outras circunstâncias. Tal casa deveria apresentar estruturas organizativas de modo a tornar-se confortável e atraente.

Onde, ainda, não existir e as necessidades o sugerirem, é aconselhável criar, em nível nacional ou regional, estruturas aptas para a recuperação físico-psíquico-espiritual de sacerdotes com necessidades especiais.



Retiros e Exercícios Espirituais

103 Como demonstra a longa experiência espiritual da Igreja, os Retiros e os Exercícios Espirituais são um instrumento idôneo e eficaz para uma adequada formação permanente do clero. Eles conservam, ainda hoje, toda a sua necessidade e atualidade. Contra a praxe que tende a esvaziar o homem de tudo o que é interioridade, o sacerdote deve encontrar Deus e a si mesmo fazendo paragens espirituais para mergulhar na meditação e na oração.

Por isso, a legislação canônica estabelece que os clérigos: «são obrigados a participar nos retiros espirituais, segundo as disposições do direito particular»[420]. As duas modalidades mais usuais, que poderiam ser prescritas pelo Bispo na própria diocese, são o retiro espiritual de um dia, possivelmente mensal, e os retiros anuais, por exemplo, de seis dias.

É muito oportuno que o Bispo programe e organize os retiros periódicos e os exercícios espirituais anuais de maneira que cada sacerdote possa escolher entre aqueles que normalmente são feitos na diocese ou fora, por sacerdotes exemplares, Associações sacerdotais[421] ou por Institutos religiosos particularmente experimentados pelo seu carisma na formação espiritual ou em mosteiros.

É também aconselhável a organização de um retiro especial para os sacerdotes ordenados nos últimos anos, no qual participe ativamente o próprio Bispo[422].

Durante tais encontros, é importante que se tratem temas espirituais, que haja largos espaços de silêncio e de oração e celebrações litúrgicas bem feitas, o sacramento da Penitência, a adoração eucarística, a direção espiritual e os atos de veneração e de culto à Bem-Aventurada Virgem Maria.

Para conferir mais importância e eficácia a estes meios de formação, o Bispo poderia nomear um sacerdote com o encargo de organizar os tempos e os modos do seu desenvolvimento.

Em todo o caso, é necessário que os retiros e especialmente os exercícios espirituais anuais sejam vividos como tempos de oração e não como cursos de atualização teológico-pastoral.

[420]   C.I.C., can.
CIC 276, § 2, 4°; cf. cann. CIC 533, § 2; CIC 550, § 3.
[421]   Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, PO 8.
[422]   Cf. Sagrada Congregação para a educação católica, Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis (19 de março de 1985), 101.


Necessidade da programação

104 Embora reconhecendo as dificuldades que a formação permanente costuma encontrar, sobretudo por causa das numerosas e difíceis tarefas a que os sacerdotes são chamados, é necessário dizer que todas as dificuldades são superáveis, se existir um verdadeiro e responsável compromisso.

Para manter-se à altura das circunstâncias e enfrentar as exigências do trabalho urgente de evangelização, torna-se necessária – entre outros meios – uma corajosa ação pastoral com o fim de cuidar dos sacerdotes. É indispensável que os Bispos exijam, com a força da caridade, que os seus sacerdotes ponham em prática generosamente as legítimas instruções emanadas acerca desta matéria.

A existência dum “plano de formação permanente” comporta que ele seja não só concebido ou programado, mas também realizado. Por isso, é necessária uma clara organização do trabalho, com objetivos, conteúdo e meios para realizá-lo. «Esta responsabilidade leva o Bispo, em comunhão com o presbitério, a delinear um projeto e a estabelecer uma programação capaz de configurar a formação permanente não como algo de episódico, mas como uma proposta sistemática de conteúdos, que se desenrola por etapas e se reveste de modalidades precisas»[423].

[423]   João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis,
PDV 79.



3.3. Responsáveis


O próprio presbítero

105 O primeiro e principal responsável por sua formação permanente é o próprio presbítero. De fato, sobre cada sacerdote recai o dever de ser fiel ao dom de Deus e ao dinamismo de conversão cotidiana que provém do próprio dom[424].

Tal dever deriva do fato de que ninguém pode substituir cada um dos presbíteros no vigiar sobre si mesmo (cf.
1Tm 4,16). Com efeito, participando no único sacerdócio de Cristo, cada um deles é chamado a revelar e a pôr em prática, segundo uma sua vocação única e não repetível, qualquer aspecto da extraordinária riqueza de graça que recebeu.

Por outro lado, as condições e situações de vida de cada um dos sacerdotes são tais que, mesmo do ponto de vista simplesmente humano, exigem que se empenhe pessoalmente na sua formação, de maneira a fazere frutificar as próprias capacidades e possibilidades.

Portanto, ele participará de boa vontade nos encontros de formação, dando o próprio contributo com base nas suas competências e nas possibilidades concretas e deve comprar e ler livros e revistas de doutrina segura e de utilidade experimentada para a sua vida espiritual e para a realização frutuosa do seu ministério.

Entre as leituras, o primeiro lugar deve ser ocupado pela Sagrada Escritura; depois, pelos escritos dos Padres, dos Doutores da Igreja, dos Mestres de espiritualidade antigos e modernos, e pelos Documentos do Magistério eclesiástico, os quais constituem a fonte mais autorizada e atualizada da formação permanente; além disso, os escritos e as biografias dos santos serão também de grande utilidade. Por isso, os presbíteros os estudarão e aprofundarão direta e pessoalmente para podê-los apresentar adequadamente aos fiéis leigos.

[424]   Cf. ibid., PDV 70.


Ajuda dos colegas

106 Em todos os aspectos da existência sacerdotal, emergirão «especiais vínculos de caridade apostólica, de ministério e de fraternidade»[425], sobre os quais se funda a ajuda recíproca que os presbíteros darão uns aos outros[426]. É desejável que cresça e se desenvolva a cooperação de todos os presbíteros no cuidado da sua vida espiritual e humana, bem como no serviço ministerial. A ajuda, que neste campo deve ser dada aos sacerdotes, pode encontrar um sólido apoio nas diversas Associações sacerdotais. Trata-se de realidades que «tendo estatutos aprovados pela autoridade competente, mediante uma regra de vida, adaptada e convenientemente aprovada, e pela ajuda fraterna, estimulam à santidade no exercício do ministério e promovem a unidade dos clérigos entre si e com o próprio Bispo»[427].

Deste ponto de vista, é necessário respeitar, com todo o cuidado, o direito de cada sacerdote diocesano organizar a própria vida espiritual da maneira que julgar mais conveniente, sempre de acordo – como é óbvio – com as características da própria vocação e dos vínculos que dela derivam.

O trabalho que estas Associações, bem como os Movimentos e as novas comunidades aprovados, realizam em favor dos sacerdotes é tido em grande consideração pela Igreja[428], que o reconhece hoje como um sinal da vitalidade com que o Espírito Santo continuamente a renova.

[425]   Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis,
PO 8.
[426]   Cf. ibid. PO 8
[427]   C.I.C., can. CIC 278, § 2.
[428]   Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, PO 8; C.I.C., can. CIC 278, § 2; João Paulo II, Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, PDV 81.


O Bispo

107 Por maior e necessitada que seja de atenção pastoral a porção do Povo de Deus que lhe foi confiada, o Bispo deve reservar uma solicitude muito particular à formação permanente dos seus presbíteros[429].

Existe, com efeito, uma relação especial entre estes e o Bispo, devido ao «fato de que os presbíteros recebem através dele o seu sacerdócio e partilham com ele a solicitude pastoral pelo Povo de Deus»[430]. Isto determina, também, responsabilidades específicas do Bispo no campo da formação sacerdotal. De fato, o Bispo deve ter uma atitude de Pai para com os seus sacerdotes, começando desde o seminário, deve evitar a distância e o estilo pessoal que são próprios de um simples empregador. Em virtude desta sua função, deve estar sempre próximo aos seus presbíteros, facilmente acessível: a sua primeira preocupação deve ser com os próprios sacerdotes, que são, vale a pena dizê-lo, colaboradores de seu ministério episcopal.

Tais responsabilidades manifestam-se, quer em relação a cada um dos presbíteros, para o qual a formação deve ser a mais personalizada possível, quer em relação a todos, enquanto componentes do presbitério diocesano. Neste sentido, o Bispo não deixará de cultivar cuidadosamente a comunicação e a comunhão entre os presbíteros, em especial, tendo o cuidado de guardar e promover a verdadeira índole da formação permanente, de educar a sua consciência acerca da importância e necessidade desta e, enfim, de programá-la e organizá-la, estabelecendo um plano de formação com as estruturas necessárias e as pessoas aptas para realizá-lo[431].

Provendo à formação dos seus sacerdotes, é necessário que o Bispo se comprometa mediante a sua própria formação permanente pessoal. A experiência ensina que quanto mais o Bispo, começando por ele mesmo, estiver convencido e empenhado na sua formação, tanto mais saberá estimular e sustentar a do seu presbitério.

Para este trabalho delicado, o Bispo, embora realizando um papel insubstituível e indelegável, pedirá a colaboração do Conselho presbiteral o qual, pela sua natureza e finalidades, é o organismo idôneo a coadjuvá-lo, especialmente no que se refere, por exemplo, à elaboração do plano de formação.

Depois, cada Bispo deve sentir-se apoiado e ajudado na sua missão pelos outros irmãos Bispos, reunidos em Conferência[432].

[429]   Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Christus Dominus,
CD 16; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores gregis (16 de outubro de 2003), .
[430]   João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, PDV 79.
[431]   Cf. ibid. PDV 79
[432]   Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Optatam totius, OT 22; Sagrada Congregação para a Educação católica, Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis (19 de março de 1985), 101.


A formação dos formadores

108 Não é possível nenhuma formação se, além do sujeito que se deve formar, não existir também o sujeito que forma, o formador. O valor e a eficácia de um plano de formação dependem em parte das estruturas, mas, principalmente das pessoas dos formadores.

É evidente que, relativamente a tais formadores, é particularmente imprescindível a responsabilidade do Bispo, que tem em primeiro lugar o delicado dever de formar os formadores para que tenham «a “ciência do amor”, que só se aprende de “coração a coração” com Cristo»[433]. Assim, sob a guia do Bispo, estes presbíteros aprenderão a não ter outro desejo, senão o de servir os seus colegas com este trabalho de formação.

Portanto, é necessário que o próprio Bispo nomeie um “grupo de formadores” e que as pessoas sejam escolhidas entre aqueles sacerdotes altamente qualificados e estimados pela sua preparação e maturidade humana, espiritual, cultural e pastoral. Com efeito, os formadores devem ser antes de mais homens de oração, docentes com forte sentido do sobrenatural, de profunda vida espiritual, de conduta exemplar, com adequada experiência no ministério sacerdotal, capazes de conjugar, como os Padres da Igreja e os santos mestres de todos os tempos, as exigências espirituais com as exigências mais propriamente humanas do sacerdote. Eles podem ser escolhidos também entre os membros dos Seminários, dos Centros ou Instituições acadêmicas aprovadas pela Autoridade eclesiástica, bem como naqueles Institutos Religiosos cujo carisma é próprio o da vida e espiritualidade sacerdotal. Em todo o caso, devem ser garantidas a ortodoxia da doutrina e a fidelidade à disciplina eclesiástica. Além disso, os formadores devem ser colaboradores de confiança do Bispo, que permanece o último responsável da formação dos presbíteros, que são os seus mais preciosos colaboradores.

É conveniente que se crie também um grupo de programação e de realização, diferente daquele dos formadores, com o fim de ajudar o Bispo a fixar o conteúdo a ser desenvolvido todos os anos em cada um dos âmbitos da formação permanente; a preparar os subsídios necessários, os cursos, as sessões, os encontros, e os retiros; a organizar oportunamente os horários, de maneira a prever as ausências e as substituições dos presbíteros, etc. Para uma boa programação pode também consultar-se qualquer especialista sobre temas determinados.

Enquanto é suficiente um só grupo de formadores, é ao contrário possível que existam, se as necessidades o exigirem, vários grupos de programação e de realização.

[433]   Bento XVI, Homilia. Abertura do Ano Sacerdotal com a celebração das segundas Vésperas (19 de junho de 2009): Insegnamenti V/1 (2009), 1036.


Colaboração entre as Igrejas

109 No que se refere, sobretudo, aos meios coletivos, a programação dos diferentes meios de formação permanente e do seu conteúdo concreto pode ser estabelecida – permanecendo a firme responsabilidade de cada Bispo pela sua circunscrição – de comum acordo entre as várias Igrejas particulares, quer em nível nacional e regional – por meio das respectivas Conferências dos Bispos – quer, principalmente, entre Dioceses limítrofes ou mais próximas. Assim, por exemplo, poder-se-iam utilizar, se forem consideradas adaptadas, as estruturas interdiocesanas, como as Faculdades e os Institutos teológicos e pastorais, bem como os organismos ou as federações empenhadas na formação presbiteral. Tal união de forças, para além de realizar uma autêntica comunhão entre as Igrejas particulares, poderia proporcionar a todos, mais qualificadas e estimulantes possibilidades para a formação permanente[434].

[434]   Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis,
PDV 79.


Colaboração de centros acadêmicos e de espiritualidade

110 Além disso, os institutos de estudo e de investigação, bem como os mosteiros de observância exemplar e os Santuários constituem outros tantos pontos de referência para a atualização teológica e pastoral, e espaços para se cultivar o silêncio, a oração, a confissão sacramental e a direção espiritual, um salutar repouso também físico, momentos de fraternidade sacerdotal. Deste modo, também as famílias religiosas poderiam colaborar na formação permanente e contribuir para aquela renovação do clero, que é exigida pela nova evangelização do Terceiro Milênio.



3.4. Necessidades no tocante às idades e às situações especiais


Primeiros anos de sacerdócio

111 Durante os primeiros anos depois da ordenação, os sacerdotes deveriam ser sumamente ajudados a encontrar aquelas condições de vida e de ministério que lhes permitam pôr em prática os ideais aprendidos durante o período de formação no seminário[435]. Estes primeiros anos, que constituem uma avaliação necessária da formação inicial depois do primeiro impacto com a realidade, são os mais decisivos para o futuro. Por isso, eles requerem um amadurecimento harmônico para fazer frente, com fé e fortaleza, aos momentos de dificuldade. Para isso, os jovens sacerdotes devem ter um contato pessoal com o seu Bispo e com um sábio padre espiritual, e gozar de momentos de repouso, de meditação, de retiro mensal. Ademais, parece importante destacar a necessidade que, em especial, os jovens presbíteros sejam inseridos num autêntico caminho de fé no presbitério ou na comunidade paroquial, acompanhados pelo Bispo e pelos irmãos sacerdotes delegados para isto.

A partir de tudo que foi tratado sobre o ano pastoral, é necessário organizar, nos primeiros anos de sacerdócio, encontros anuais de formação nos quais se tratem e aprofundem adequados temas teológicos, jurídicos, espirituais e culturais, sessões especiais dedicadas a problemas de moral, de pastoral, de liturgia, etc. Tais encontros podem servir também de ocasião para renovar a faculdade de confessar, segundo o que está estabelecido pelo Código de Direito Canônico e pelo Bispo[436]. Seria útil, também, que fosse promovida a convivência familiar entre os jovens presbíteros e aqueles mais amadurecidos, de maneira a permitir a troca de experiências, o conhecimento recíproco e também a delicada prática evangélica da correção fraterna.

Em muitos lugares, tem sido uma boa experiência organizar, sob a direção do Bispo, breves encontros ao longo do ano para os sacerdotes jovens, por exemplo, para aqueles com menos de dez anos de sacerdócio, com o objetivo de acompanhá-los mais de perto nestes primeiros anos; sem dúvida, serão também ocasiões para falar da espiritualidade sacerdotal, dos desafios para os ministros, da prática pastoral, etc., em um ambiente de convivência fraterna e sacerdotal.

É necessário, enfim, que o clero jovem cresça num ambiente espiritual de verdadeira fraternidade e delicadeza, que se manifesta na atenção pessoal, mesmo no que diz respeito à saúde física e aos diversos aspectos materiais da vida.

[435]   Cf. ibid.,
PDV 76.
[436]   Cf. C.I.C., cann. CIC 970 CIC 972.


Depois de um certo número de anos

112 Depois de um certo número de anos de ministério, os presbíteros adquirem uma grande experiência e grande mérito de se terem gasto pela dilatação do Reino de Deus no trabalho cotidiano. Estes sacerdotes constituem um grande recurso espiritual e pastoral.

Eles têm necessidade de encorajamento, de inteligente valorização, de aprofundamento da formação em todas as suas dimensões, para uma revisão de si mesmos e do seu próprio agir; de reavivar as motivações do sagrado ministério; de refletir sobre as metodologias pastorais à luz do essencial, na comunionalidade presbiteral e na amizade com seu Bispo; de superar eventuais manifestações de cansaço, de frustração, de solidão; e enfim, de redescobrir as veias nas quais nasce a espiritualidade sacerdotal[437].

É importante, por isso, que estes presbíteros beneficiem de especiais e aprofundadas sessões de formação nas quais, para além do conteúdo teológico-pastoral, se examinem todas as dificuldades psicológicas e afetivas que podem nascer em tal período. É, pois, aconselhável que em tais encontros tomem parte não só o Bispo, mas também especialistas que possam dar um contributo válido e seguro à solução dos problemas referidos.

[437]   Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis,
PDV 77.


Idade avançada

113 Os presbíteros anciãos ou de idade avançada, para os quais devem convergir todos os sinais de afetuosa consideração, entram também no circuito vital da formação permanente, não tanto como empenho de estudo aprofundado e de debate cultural, quanto «pela confirmação serena e tranquilizadora do papel que são chamados ainda a realizar no Presbitério»[438].

Para além da formação organizada para os padres de meia idade, eles poderão fruir de convenientes momentos, de ambientes e de encontros especiais para aprofundar o sentido contemplativo da vida sacerdotal, para redescobrir e saborear as riquezas doutrinais de tudo o que estudaram, para se sentirem úteis – como o são, de fato –, podendo ser valorizados em formas adaptadas de verdadeiro e próprio ministério, sobretudo como confessores e diretores espirituais experimentados. De um modo particular, eles poderão partilhar as suas experiências com outros, encorajar, acolher, ouvir e dar serenidade aos colegas, estar disponíveis sempre que se lhes peça o serviço de «eles mesmos se tornarem mestres válidos e formadores de outros sacerdotes»[439].

[438]   Ibid.
PDV 77
[439]   Ibid. PDV 77


Sacerdotes em situações especiais

114 Independentemente da idade, os presbíteros podem encontrar-se «numa condição de debilidade física ou de cansaço moral»[440]. Com o oferecimento do seu sofrimento, contribuem de um modo eminente para a obra da redenção, dando «um testemunho assinalado pela opção da cruz acolhida na esperança e na alegria pascal»[441].

Para estes presbíteros, a formação permanente deve oferecer estímulos para «continuar de maneira serena e forte o seu serviço à Igreja»[442] e ser sinal eloquente do primado do ser sobre o agir, do conteúdo sobre a técnica, da graça sobre a eficiência exterior. Deste modo, poderão viver a experiência de São Paulo: «Estou contente com os sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta à Paixão de Cristo, em favor do seu Corpo que é a Igreja» (
Col 1,24).

O Bispo e os colegas sacerdotes não deixarão de visitar periodicamente estes irmãos doentes, que poderão ser informados, sobretudo, sobre os acontecimentos da diocese, de maneira a fazer-lhes sentir que são membros vivos do presbitério e da Igreja universal, que edificam com o seu sofrimento.

Com um particular e afetuoso cuidado, devem ser circundados os presbíteros já próximos a concluir os seus dias neste mundo e que se consumiram no serviço de Deus para a salvação dos irmãos.

Ao contínuo conforto da fé, à solicitude na administração dos Sacramentos, devem seguir-se os sufrágios por parte de todo o presbitério.

[440]   Ibid. PDV 77
[441]   Ibid., PDV 41.
[442]   Ibid., PDV 77.


Solidão do sacerdote

115 O sacerdote pode experimentar, em qualquer idade e em qualquer situação, o sentimento da solidão[443]. Esta, longe de compreender-se como isolamento psicológico, pode ser perfeitamente normal e consequente à sincera sequela evangélica e constituir uma dimensão preciosa da própria vida. Porém, em alguns casos, tal circunstância poderia ser resultado de dificuldades especiais, como marginalização, incompreensões, desvios, abandono, imprudências, limitações do próprio caráter ou de outros, calúnias, humilhações, etc. Daí pode derivar um sentimento pungente de frustração que seria extremamente nocivo.

Todavia, também estes momentos de dificuldade podem tornar-se, com a ajuda do Senhor, ocasiões privilegiadas de crescimento no caminho da santidade e do apostolado. Com efeito, neles o padre pode descobrir que «se trata duma solidão habitada pela presença do Senhor»[444]. É claro que isto não deve fazer esquecer a grave responsabilidade do Bispo e de todo o presbitério em evitar toda a solidão produzida pelo desleixo na comunhão sacerdotal. É tarefa da diocese, estabelecer como realizar encontro entre sacerdotes, para que se sintam agregados, aprendam um com o outro, se congreguem e ajudem mutuamente, porque ninguém é sacerdote sozinho, e é exclusivamente nesta comunhão com o Bispo que o serviço de cada um poderá render.

Nem, sequer, dever-se-ão esquecer os irmãos que abandonaram o exercício do sagrado ministério, oferecendo-lhes a ajuda necessária, sobretudo da oração e da penitência. A devida atitude de caridade para com eles não deve, todavia, induzir de nenhum modo à consideração de confiar-lhes funções eclesiais, que poderiam criar confusão e desconcerto entre os fiéis, precisamente por causa da sua situação.

[443]   Cf. ibid.,
PDV 74.
[444]   Ibid. PDV 74



CONCLUSÃO

O Senhor da messe, que chama e convida os trabalhadores que devem trabalhar no seu campo (cf. Mt Mt 9,38), prometeu com fidelidade eterna: «dar-vos-ei pastores segundo o meu coração» (Jr 3,15). Nesta fidelidade divina, sempre viva e ativa na Igreja[445], repousa a esperança de receber abundantes e santas vocações sacerdotais, aliás, já constatáveis em muitos Países, bem como a certeza de que o Senhor não faltará à Igreja com a luz necessária para afrontar a aventura apaixonante de lançar as redes ao largo.

Ao dom de Deus, a Igreja responde com a ação de graças, a fidelidade, a docilidade ao Espírito, a oração humilde e perseverante.

Para realizar a sua missão apostólica, cada sacerdote deve trazer esculpidas no seu coração as palavras do Senhor: «Pai, eu glorifiquei-te na terra, tendo cumprido a obra que tu me deste para fazer, dar a vida eterna aos homens» (Jn 17,2-4). Por isso, ele fará da própria vida dom de si – raiz e síntese da caridade pastoral – à Igreja, à imagem do dom de Cristo[446]. Deste modo, gastará com alegria e paz todas as suas forças no auxílio aos irmãos, vivendo como sinal de caridade sobrenatural na obediência, na castidade celibatária, na simplicidade de vida e no respeito da disciplina de comunhão da Igreja.

Na sua obra evangelizadora, o presbítero transcende a ordem natural para fixar-se «nas coisas que dizem respeito a Deus» (He 5,1). Com efeito, ele é chamado a elevar o homem, gerando-o para a vida divina e fazendo-o crescer nela até a plenitude de Cristo. É por isso que um autêntico sacerdote, motivado na sua fidelidade a Cristo e à Igreja, constitui de fato uma força incomparável de verdadeiro progresso para todo o mundo.

«A nova evangelização tem necessidade de novos evangelizadores e estes são os sacerdotes que se empenham em viver o seu sacerdócio como caminho específico para a santidade»[447]. As obras de Deus são cumpridas pelos homens de Deus!

Como Cristo, o sacerdote deve apresentar-se ao mundo como modelo de vida sobrenatural: «dei-vos o exemplo para que, como eu fiz, vós façais também» (Jn 13,15).

O testemunho dado com a vida qualifica o presbítero e constitui a sua pregação mais convincente. A mesma disciplina eclesiástica, vivida com autênticas motivações interiores, revela-se como um cuidadoso serviço para viver a própria identidade, para fomentar a caridade e para fazer brilhar o testemunho, sem o qual toda a preparação cultural ou rigorosa programação seriam só ilusão. A nada serve o fazer se falta o ser com Cristo.

Aqui reside o horizonte da identidade, da vida, do ministério, da formação permanente do sacerdote: uma tarefa de trabalho imenso, aberto, corajoso, iluminado pela fé, sustentado pela esperança, enraizado na caridade.

Nesta obra, tão necessária quanto urgente, ninguém está só. É necessário que os presbíteros sejam ajudados por uma exemplar, autorizada e vigorosa ação pastoral dos seus Bispos, em clara comunhão com a Sé Apostólica, bem como pela fraterna colaboração do conjunto do presbitério e de todo Povo de Deus.

A Maria, estrela da nova evangelização, se confie todo o sacerdote. Nela, que «foi o modelo daquele amor materno, do qual devem ser animados todos os que na missão apostólica da Igreja cooperam para a regeneração dos homens»[448], os sacerdotes encontrarão constante proteção e ajuda para a renovação da sua vida e para fazer brotar do seu sacerdócio um mais intenso e renovado impulso evangelizador, neste terceiro milênio da Redenção.



O Sumo Pontífice Bento XVI aprovou o presente Diretório e ordenou a sua publicação no dia 14 de janeiro de 2013.



Roma, Palácio das Congregações, 11 de fevereiro, memória de Nossa Senhora de Lourdes, do ano de 2013.


Mauro Card. Piacenza

Prefeito



+ Celso Morga Iruzubieta

Arcebispo tit. de Alba marittima

Secretário





Oração a Maria Santíssima


Maria,

Mãe de Jesus Cristo e Mãe dos sacerdotes
recebei este preito que nós Vos tributamos
para celebrar a Vossa maternidade
e contemplar junto de Vós o Sacerdócio
do Vosso Filho e dos vossos filhos,
ó Santa Mãe de Deus.

Mãe de Cristo,
ao Messias Sacerdote destes o corpo de carne
para a unção do Espírito Santo
a salvação dos pobres e contritos de coração,
guardai no Vosso Coração
e na Igreja os sacerdotes,
ó Mãe do Salvador.

Mãe da fé,
acompanhastes ao templo o Filho do Homem,
cumprimento das promessas feitas aos nossos Pais,
entregai ao Pai para Sua glória
os sacerdotes do Filho Vosso,
ó Arca da Aliança.

Mãe da Igreja,
entre os discípulos no Cenáculo,
suplicastes o Espírito
para o Povo novo e os seus Pastores,
alcançai para a ordem dos presbíteros
a plenitude dos dons,
ó Rainha dos Apóstolos.

Mãe de Jesus Cristo,
estivestes com Ele nos inícios
da Sua vida e da Sua missão,
Mestre O procurastes entre a multidão,
assististe-l'O levantado da terra,
consumado para o sacrifício único eterno,
e tivestes perto João, Vosso filho,
acolhei desde o princípio os chamados,
protegei o seu crescimento,
acompanhai na vida e no ministério
os Vossos filhos,
ó Mãe dos sacerdotes.

Amém! [449]


[445]   Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, PDV 82.
[446]   Cf. ibid., PDV 23.
[447]   Ibid., PDV 82.
[448]   Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, LG 65.
[449]   João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, PDV 82.



Diretório 2013 101