Ezequiel (SAV) 29

29 1 No décimo ano, no décimo segundo dia do décimo mês, a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
2
filho do homem, volta a face para o faraó, rei do Egito, e profetiza contra ele, assim como contra todo o Egito:
3
faze-lhe este discurso: eis o que diz o Senhor Javé: É contra ti, faraó, rei do Egito, que venho; crocodilo monstruoso, que estás deitado no meio dos teus Nilos. E que dizes: meus Nilos são meus, fui eu que os fiz.
4
Vou pôr freios em tuas mandíbulas, em tuas escamas prenderei os peixes dos teus Nilos e tirar-te-ei dos teus Nilos com todos os peixes de teus Nilos agarrados às tuas escamas.
5
Lançar-te-ei no deserto com todos os peixes de teus Nilos, ficarás estendido sobre a terra, sem ser recolhido nem enterrado. Às feras da terra e aos pássaros do céu dar-te-ei por pasto.
6
Todos os egípcios saberão então que eu sou o Senhor. Teu apoio foi o apoio de um caniço para a casa de Israel:
7
quando te tomaram na mão, tu te quebraste, e lhes feriste o ombro todo; quando eles se apoiaram em ti, tu te rompeste, e tu lhes fizeste vacilar os rins.
8
Eis por que diz o Senhor Javé: vou levar contra ti a espada, para separar de teu meio homens e animais.
9
O Egito se tornará um deserto e uma solidão; dessa forma, se saberá que sou eu o Senhor. Pois disseste: o Nilo é meu, fui eu que o fiz;
10
por isso vou arremessar-me contra ti, e contra os teus Nilos; farei do Egito um deserto e uma solidão, desde Migdol até Siene e até os confins da Etiópia.
11
Nenhum pé humano passará aí, e também nenhum pé de animal; ele ficará inabitado durante quarenta anos.
12
Farei do Egito um deserto entre os desertos e suas cidades ficarão desoladas entre as cidades desoladas durante quarenta anos; dispersarei os egípcios entre os povos e disseminá-los-ei entre outros países.
13
Eis o que diz o Senhor Javé: ao fim de quarenta anos, reunirei os egípcios dentre os povos onde estiverem dispersos.
14
Trarei os egípcios cativos e os restabelecerei na terra de Patros, de onde são originários; eles aí constituirão um pequeno reino.
15
Será o Egito o mais modesto de todos os reinos, e não mais se erguerá acima das nações. Reduzirei sua população, para que ele não mais domine outras nações.
16
Ele não será mais para Israel objeto de confiança; porque recordará a falta que cometeu Israel, em se voltando para ele. Assim se saberá que sou eu o Senhor Javé.
17
No vigésimo sétimo ano, no primeiro mês, no primeiro dia do mês, a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
18
filho do homem, Nabucodonosor, rei de Babilônia, impôs a seu exército a rude faina de guerrear Tiro: calvície em todos os crânios, esfoladuras em todas as espáduas! Todavia, nem ele nem seu exército retirarão de Tiro qualquer vantagem da opressão contra ela dirigida.
19
Eis por que diz o Senhor Javé: irei dar o Egito a Nabucodonosor, rei de Babilônia; ele pilhará suas riquezas; fará dele a sua presa, e repartirá os seus despojos; tal será o salário de seu exército.
20
Por preço do trabalho feito contra Tiro, eu lhe dou o Egito, pois é para mim que trabalharam - oráculo do Senhor Javé.
21
Naquele dia, farei brotar um corno na casa de Israel e te darei licença para abrir a boca no meio deles, e assim saberão que sou eu o Senhor.

Julgamento de Deus sobre o Egito

30 1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
2
filho do homem, profetiza o seguinte: eis o que diz o Senhor Javé: soltai gritos: Ah! Que dia!
3
Porque está próximo o dia, está próximo o dia do Senhor, dia carregado de nuvens, dia marcado para as nações.
4
Sobre o Egito vai abater-se a espada, sobre a Etiópia vai reinar o terror, quando os mortos tombarem no Egito, quando se arrebatarem as riquezas da terra, e forem destruídos os seus fundamentos.
5
Etíopes, gente de Put e de Lud, populações mescladas, gentes de Cub, assim como os filhos da minha aliança cairão com eles sob a espada.
6
Eis o que diz o Senhor: eles cairão, os sustentáculos do Egito, e o orgulho que lhe inspirava sua potência será humilhado: desde Migdol até Siene se sucumbirá sob o gládio - oráculo do Senhor Javé.
7
O Egito será uma terra desolada entre todas, e suas cidades serão cidades arruinadas entre as demais.
8
Saber-se-á que sou eu o Senhor, quando eu tiver posto fogo no Egito e quando todos os seus aliados houverem fracassado.
9
Naquele dia, mensageiros de minha parte irão de navio para perturbar a segurança da Etiópia: sofrerá o terror, quando vier o dia do Egito; ora, ei-lo que vem.
10
Eis o que diz o Senhor Javé: eu vou aniquilar as multidões que povoam o Egito, pela mão de Nabucodonosor, rei de Babilônia.
11
Ele e seu povo, povo brutal entre todos, vão ser enviados para assolar a terra; desembainharão a espada contra o Egito e cobrirão a terra de cadáveres.
12
Eu deixarei secos os braços do Nilo, entregarei a terra a celerados, saqueá-la-ei e a tudo quanto encerra por mão de bárbaros. Sou eu, o Senhor, que o digo.
13
Eis o que diz o Senhor Javé: farei desaparecer os ídolos e suprimirei os falsos deuses de Nof. Não haverá mais príncipe no Egito, e espalharei o terror nessa terra.
14
Devastarei Patros, meterei fogo a Tânis, exercerei meus julgamentos sobre No;
15
desencadearei o meu furor sobre Sin, a fortaleza do Egito; exterminarei a imensa população de No.
16
Meterei fogo ao Egito. Sin se retorcerá no sofrimento. No será estraçalhada e Nof será assaltada em pleno dia.
17
Os jovens de On e de Bubasta tombarão sob a espada e sua população será deportada.
18
Em Tafnes, o dia se escurecerá quando eu quebrar o poder do Egito, e puser termo ao orgulho que lhe inspira esse poderio. Uma nuvem cobrirá a cidade, e suas filhas serão deportadas.
19
Exercerei os meus juízos contra o Egito, e se saberá assim que sou eu o Senhor.
20
No décimo primeiro ano, no sétimo dia do primeiro mês, a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
21
filho do homem, quebrei o braço do faraó, rei do Egito, e ninguém o procurou para curar, ninguém lhe pôs ligadura para lhe dar força de manejar a espada.
22
E por isso, eis o que diz o Senhor Javé: é contra o faraó, rei do Egito, que eu venho: vou romper-lhe também o braço são, do mesmo modo que aquele que já foi quebrado, e farei cair a espada de sua mão.
23
Dispersarei os egípcios entre as nações, eu os disseminarei por diversos lugares.
24
Darei força ao braço do rei de Babilônia e lhe meterei na mão a minha espada; quebrarei o braço do faraó, que soltará diante de si gemidos de um homem ferido de morte.
25
Darei vigor ao braço do rei de Babilônia, enquanto tombarem os braços do faraó. Saber-se-á que sou eu o Senhor, quando eu puser a minha espada na mão do rei de Babilônia, a qual ele brandirá contra o Egito.
26
Eu dispersarei os egípcios entre as nações, disseminá-los-ei por diversos países. Assim reconhecerão que eu sou o Senhor.

Apólogo de cedro

31 1 No décimo primeiro ano, no primeiro dia do terceiro mês, a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
2
filho do homem, dize ao faraó, rei do Egito, e a seu povo numeroso: a quem te assemelhas, em tua grandeza?
3
Eis (a Assíria), é um cedro do Líbano, de magníficas ramagens, com espessa ramagem e elevada estatura, cujo cimo se alteia em meio às nuvens.
4
As águas fizeram-no crescer; o abismo fê-lo altear-se, dirigindo suas águas para onde ele estava plantado, e enviando seus regatos a todas as árvores da região.
5
Dessa forma dominava ele todas as árvores dos campos; seus galhos se alongavam, sua ramagem se desenvolvia, graças à abundância das águas que o tinham feito crescer.
6
Em seus galhos se aninhavam todas as aves do céu. Sob seus ramos davam cria todos os animais dos campos à sua sombra descansava toda espécie de gente!
7
Era belo por sua grandeza, pela extensão de seus galhos, porque suas raízes mergulhavam nas águas abundantes.
8
Nenhum cedro do jardim de Deus rivalizava com ele, os ciprestes não atingiam o talhe de seus ramos, e os plátanos não igualavam suas ramagens; nenhuma árvore do jardim de Deus se equiparava a ele em esplendor.
9
Eu o havia dotado de tão luxuriante ramagem, que todas as árvores do Éden, jardim de Deus, dele tinham inveja.
10
Por isso, eis o que diz o Senhor Javé: porque ele foi tão orgulhoso de seu porte, e ergueu o seu cimo até as nuvens, e o seu coração se ensoberbeceu devido à sua altitude,
11
entreguei-o nas mãos de um poderoso das nações, que o tratará como merece a sua malignidade, e o destruirá.
12
Bárbaros, nação brutal entre todas, cortaram-no e o atiraram sobre as montanhas; seus ramos caíram em todos os vales, seus galhos quebrados juncam todas as torrentes da terra; todas as gentes da terra deixaram sua sombra e o abandonaram.
13
Sobre seu tronco mutilado se abatem todas as aves do céu, e em seus ramos se acolhem todos os animais dos campos.
14
Tudo isso, a fim de que nenhuma árvore que cresce à borda das águas tenha orgulho de sua altura, e não eleve o cimo até as nuvens, e que nenhuma árvore bem regada pelas águas confie em sua estatura. Porque todas serão entregues à morte, votadas às moradas subterrâneas, em companhia do comum dos mortais que descem à fossa.
15
Eis o que diz o Senhor Javé: no dia em que o cedro desceu à morada dos mortos, ordenei um luto; por causa dele fechei o abismo (das águas), parei os regatos e as grandes águas foram imobilizadas. Por causa dele denegri o Líbano, por causa dele todas as árvores do campo murcharam e secaram.
16
Ao ruído de sua queda abalei as nações, quando o precipitei na região dos mortos, com aqueles que descem à fossa. Todas as árvores do Éden, as mais belas, as mais esplendorosas do Líbano, todas aquelas que estavam banhadas pelas águas foram consoladas nas moradas infernais.
17
E, juntamente com ele, desceram à morada dos mortos, para junto das vítimas da espada, aqueles que eram seu braço e se mantinham debaixo de sua sombra entre as nações.
18
A quem eras igual, em glória e grandeza, entre as árvores do Éden? Com elas te precipitaste nas moradas subterrâneas: jazes no meio dos incircuncisos, com os trespassados pelo gládio. Tal é o destino do faraó e do seu povo numeroso - oráculo do Senhor Javé.

Ode fúnebre ao faraó

32 1 No décimo segundo ano, no primeiro dia do décimo segundo mês, foi-me a palavra do Senhor dirigida nestes termos,
2
filho do homem, entoa sobre o faraó, rei do Egito, a seguinte ode fúnebre: Jovem leão das nações, pereceste! Eras semelhante ao crocodilo no seio das águas; tu te lançavas nos rios, com tuas patas perturbavas a água, agitando a torrente.
3
Eis o que diz o Senhor Javé: estenderei sobre ti o o meu laço perante grande concurso de povo; serás tirado para fora, na rede.
4
Lá te deixarei sobre o solo; lançar-te-ei por terra, farei vir sobre ti todos os pássaros do céu, dar-te-ei por pasto a todos os animais da terra,
5
largarei teu cadáver sobre as montanhas, encherei os vales com os teus destroços.
6
Com o líquido que de ti correr, regarei as montanhas, teu sangue encherá as torrentes.
7
Quando estiveres morto, velarei os céus, obscurecerei as estrelas, cobrirei o solo de nuvens, e a lua cessará de clarear.
8
Eu obumbrarei todos os astros do céu por tua causa; sobre a terra estenderei trevas - oráculo do Senhor Javé.
9
Mergulharei na dor o coração de inúmeras gentes, enviando teus cativos entre as nações, a terras que não conheces;
10
farei tremer por causa de ti numerosos povos, cujos reis serão enregelados de horror; quando eu brandir diante deles a minha espada, eles tremerão sem cessar, pela sua própria vida, no dia da tua queda.
11
Eis o que diz o Senhor Javé: a espada do rei de Babilônia virá sobre ti.
12
Farei tombar todo o teu povo sob o gládio dos guerreiros; os mais ferozes de todos os povos abaterão o orgulho do Egito. Sua população inteira será aniquilada.
13
Exterminarei todo o seu gado às margens de seus grandes rios, cujas águas não mais serão perturbadas por nenhum pé de homem nem de animal.
14
Então deixarei repousar as suas águas, farei correr as águas como óleo, - oráculo do Senhor Javé.
15
Quando eu houver reduzido o Egito a um deserto, quando ele estiver despojado de tudo o que contém, quando eu tiver ferido seus habitantes, saber-se-á que sou eu o Senhor.
16
Tal é a ode fúnebre que cantarão as filhas das nações; elas a cantarão sobre o Egito e seus habitantes, - oráculo do Senhor Javé.

O faraó no cheol, região dos mortos

17 No décimo segundo ano, no décimo quinto dia do... mês, foi-me a palavra do Senhor dirigida nestes termos:
18
filho do homem, entoa um cântico fúnebre sobre o povo do Egito: faze-os descer, ele e as filhas das nações, às moradas infernais, com aqueles que descem à fossa.
20
Eles tombarão no meio dos que pereceram pela espada; toda a sua força desaparecerá.
21
A elite dos heróis com seus aliados dirão ao faraó, do seio da região dos mortos:
19
não vales mais do que os outros. Desce; deita-te aos pés dos incircuncisos, dos que pereceram pela espada.
22
É lá que se encontram Assur e todo o seu exército em torno do seu sepulcro, todos degolados, feridos pela espada;
23
foram postos seus túmulos no mais profundo da fossa; seu exército está ordenado em torno de seu sepulcro, todos degolados, feridos pela espada, eles, que haviam semeado o terror na terra dos vivos.
24
É lá que se encontram Elão e seu exército, em volta do seu sepulcro; todos degolados, feridos pela espada, lá desceram eles incircuncisos às moradas subterrâneas. Os que haviam semeado o terror sobre a terra dos vivos levam sua ignomínia com os que descem à fossa.
25
No meio desses mortos, foi-lhe dado seu lugar, com suas tropas que rodeiam o túmulo, todos incircuncisos, degolados, traspassados pela espada; os que haviam semeado o terror sobre a terra dos vivos levam sua ignomínia com os que desceram à fossa, e estão colocados entre os mortos.
26
É lá que se encontram Méchec, Tubal e suas tropas em torno dos seus sepulcros, todos incircuncisos, degolados pela espada. Eles, que haviam semeado o terror na terra dos vivos.
27
eles não jazem entre os heróis que outrora tombaram, que desceram à morada dos mortos com suas armas de guerra, sobre cuja cabeça foi colocada sua espada e seu escudo sobre seus ossos, porque sua valentia era temida na terra dos vivos.
28
Mas tu estarás deitado entre os incircuncisos, entre os que morreram a fio de espada.
29
É lá que se encontram Edom, seus reis e todos os seus príncipes, que foram postos, a despeito de sua valentia, com as vítimas da espada; ei-los jazendo com os incircuncisos, entre aqueles que desceram à fossa.
30
É lá que se encontram todos os príncipes do norte, assim como os sidônios que, apesar do terror inspirado pela sua valentia, lá desceram com os mortos. Eles jazem entre os incircuncisos, entre as vítimas da espada, e trazem sua ignomínia com aqueles que desceram à fossa.
31
Vendo-os todos, o faraó se consolará da sorte de seu povo; porque o faraó estará transpassado pela espada com todo o seu exército - oráculo do Senhor Javé.
32
A despeito do terror que ele tinha semeado sobre a terra dos vivos, ei-lo que jaz entre os incircuncisos, no meio dos que foram mortos pela espada, o faraó, com todo o seu exército, - oráculo do Senhor Javé.

IV - RESTAURAÇÃO DE ISRAEL (33-39)

Nova missão do profeta

33 1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
2
filho do homem, dirige-te a teus compatriotas e dize-lhes: quando eu erguer a espada contra uma terra, e seus habitantes escolherem um dentre eles para ser sentinela,
3
suposto que esse homem, vendo vir a espada, faça soar a trombeta para dar alarme à população,
4
todo aquele que escutar o seu som sem lhe dar atenção, e então venha a espada fazer com que ele pereça, esse homem é responsável por aquilo que lhe suceder:
5
ouviu o soar da trombeta e todavia não tomou precaução - é ele responsável pelo que lhe advier. Mas aquele que levou em consideração o alarme, esse terá salva a sua vida.
6
Suposto, ao contrário, que a sentinela veja vir a espada, não faça soar a trombeta, de sorte que o alarme não seja dado às gentes e que a espada venha a tirar a vida de alguém, este, é certo, perecerá devido à sua iniqüidade, mas eu pedirei conta do seu sangue à sentinela.


7 Filho do homem, eu te constituí sentinela na casa de Israel. Logo que escutares um oráculo meu, tu lhe transmitirás esse oráculo de minha parte.
8
Se eu disser ao pecador que ele deve morrer, e tu não o avisares para pô-lo de guarda contra seu proceder nefasto, ele perecerá por causa de seu pecado, mas a ti pedirei conta do seu sangue.
9
Todavia, se depois de receber tua advertência para mudar de proceder, nada fizer, ele perecerá devido a seu pecado, enquanto tu salvarás a tua vida.

Possibilidade de conversão

10 Filho do homem, dize aos israelitas: não cessais de repetir: são os nossos delitos e os nossos pecados que pesam sobre nós; eis por que perecemos. Como poderemos nós subsistir?
11
Dize-lhes isto: Por minha vida - oráculo do Senhor Javé -, não me comprazo com a morte do pecador, mas antes com a sua conversão, de modo que tenha a vida. Convertei-vos! Afastai-vos do mau caminho que seguis; por que haveis de perecer, ó casa de Israel?
12
Filho do homem, dize a teus compatriotas: no dia em que o justo vier a pecar, a sua justiça não o salvará; do mesmo modo, a malícia do pecador não há de fazê-lo sucumbir, se ele, um dia, renunciar à sua perversidade. Não, o justo, desde que haja cometido delito, não poderá viver em virtude de sua justiça.
13
Ainda mesmo que eu lhe tenha declarado que ele viveria, se ele praticar o mal confiando em sua justiça, nem uma de suas boas ações será computada: ele morrerá por causa de suas faltas.
14
E ainda mesmo que houvesse eu afirmado ao pecador que ele haveria de morrer, se, renunciando ao mal, ele praticar a justiça e a honestidade,
15
se ele devolver o penhor que exigiu, se restituir o que roubou, se observar as leis que dão vida e se se abstiver de todo o mal, ele viverá e será preservado da morte.
16
Nenhum delito que tenha ele cometido será computado. Ele viverá porque terá observado a justiça e a honestidade.
17
Teus compatriotas dizem que o proceder do Senhor não é justo. É o deles que não o é.
18
Se um justo abandonar sua retidão para cometer o mal, ele morrerá.
19
Se o mau renunciar à sua malícia para praticar o bem e ser honesto, ele viverá por essa razão.
20
E vós ousais dizer que o modo de proceder do Senhor é injusto! Será segundo os atos de cada um que vos julgarei, ó israelitas!
21
No décimo segundo ano, no quinto dia do décimo mês de nosso cativeiro, um fugitivo de Jerusalém veio a mim, dizendo: a cidade está tomada!
22
Ora, a mão do Senhor se achava posta sobre mim na noite precedente à chegada desse fugitivo, e, pela manhã, no momento em que ele chegava, o Senhor me abriu a boca. Tendo-me sido aberta a boca, meu mutismo cessou.

Oráculo sobre os judeus que permaneceram na Judéia

23 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
24
filho do homem, os habitantes das ruínas de que se acha coberto o solo de Israel dizem: Abraão estava sozinho, quando ele se apossou desta terra; a nós, que somos numerosos, ele a deixou em partilha.
25
Responde-lhes, pois: eis o que diz o Senhor Javé: comeis a carne com sangue, ergueis os olhos para os ídolos, derramais o sangue: e tereis a posse da terra?
26
Vós vos fiais em vossa espada, cometeis abominações, manchais cada um de vós a mulher do próximo: e haveis de ter a posse da terra?
27
Eis, dir-lhes-ás, o que diz o Senhor Javé: Por minha vida, aqueles que habitam as ruínas tombarão sob o gládio; aquele que vive no campo, eu o lançarei como pasto às feras, e aqueles que estão nos fortes e nas cavernas morrerão de peste.
28
Assim farei da terra uma desolação e uma solidão, o que porá termo ao orgulho que ela concebia de sua força. As montanhas de Israel ficarão desoladas de tal modo que ninguém mais passará por elas.
29
Então se saberá que sou eu o Senhor, quando eu houver feito da terra uma triste solidão, por causa de todas as abominações que cometeram.
30
Quanto a ti, filho do homem, teus compatriotas falam de ti ao longo dos muros e nas portas das casas: vinde, dizei um ao outro entre vizinhos: vinde escutar o derradeiro oráculo do Senhor.
31
Depois, eles acorrem em multidão até ti, sentam-se diante de ti, ouvem o que dizes, mas não o põem em prática. Eles só fazem o que lhes agrada e só procuram o próprio proveito.
32
Tu és para eles como um cantor romântico, dotado de bela voz, que toca bem o seu instrumento; escutam o que dizes, porém não o põem em prática.
33
Entretanto, quando tudo isso se realizar - e eis que está em vésperas de acontecer -, saberão que houve um profeta no meio deles.

Oráculo contra os pastores infiéis

34 1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
2
filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; dize-lhes, a esses pastores, este oráculo: eis o que diz o Senhor Javé: ai dos pastores de Israel que só cuidam do seu próprio pasto. Não é seu rebanho que devem pastorear os pastores?
3
Vós bebeis o leite, vestis-vos de lã, matais as reses mais gordas e sacrificais, tudo isso sem nutrir o rebanho.
4
Vós não fortaleceis as ovelhas fracas; a doente, não a tratais; a ferida, não a curais; a transviada, não a reconduzis; a perdida, não a procurais; a todas tratais com violência e dureza.
5
Assim, por falta de pastor, dispersaram-se minhas ovelhas, e em sua dispersão foram expostas a tornarem-se presa de todas as feras.
6
Minhas ovelhas vagueiam em toda parte sobre a montanha e sobre as colinas, elas se acham espalhadas sobre toda a superfície da terra, sem que ninguém cuide delas ou se ponha a procurá-las.
7
Pois bem, pastores, escutai a palavra do Senhor:
8
por minha vida - oráculo do Senhor Javé -, já que por falta de pastor foram minhas ovelhas entregues à pilhagem, e serviram de pasto às feras, pois os meus pastores não têm o mínimo cuidado com elas, e que, em vez de pastoreá-las, só têm procurado se fartar eles próprios,
9
por isso, escutai, pastores, o que diz o Senhor:
10
Eis o que diz o Senhor Javé: vou castigar esses pastores, vou reclamar deles as minhas ovelhas, vou tirar deles a guarda do rebanho, de modo que não mais possam fartar a si mesmos; arrancarei minhas ovelhas da sua goela, de modo que não mais poderá devorá-las.


11 Pois eis o que diz o Senhor Javé: vou tomar eu próprio o cuidado com minhas ovelhas, velarei sobre elas.


12 Como o pastor se inquieta por causa de seu rebanho, quando se acha no meio de suas ovelhas tresmalhadas, assim me inquietarei por causa do meu; eu o reconduzirei de todos os lugares por onde tinha sido disperso num dia de nuvens e de trevas.


13 Eu as recolherei dentre os povos e as reunirei de diversos países, para reconduzi-las ao seu próprio solo e fazê-las pastar nos montes de Israel, nos vales e nos lugares habitados da região.
14
Eu as apascentarei em boas pastagens, elas serão levadas a gordos campos sobre as montanhas de Israel; elas repousarão sobre as verdes relvas, terão sobre os montes de Israel abundantes pastagens.


15 Sou eu que apascentarei minhas ovelhas, sou eu que as farei repousar - oráculo do Senhor Javé.
16
A ovelha perdida eu a procurarei; a desgarrada, eu a reconduzirei; a ferida, eu a curarei; a doente, eu a restabelecerei, e velarei sobre a que estiver gorda e vigorosa. Apascentá-las-ei todas com justiça.


17 Quanto a vós, minhas ovelhas, eis o que diz o Senhor Javé: vou julgar entre ovelha e ovelha, vou julgar os carneiros e os bodes.


18 Não vos bastava pastorear numa excelente pastagem, para que calqueis ainda aos pés o resto do prado? Não vos bastava beber as águas límpidas, para que calqueis ainda o resto com os pés?
19
E minhas ovelhas devem comer o que pisastes e beber o que sujastes?
20
Pois bem, eis o que diz o Senhor Javé: vou julgar entre ovelha gorda e magra.
21
Porque tendes batido o flanco ou a espádua, e ferido com vossos cornos todas as ovelhas fracas, até lançá-las fora,
22
eu irei em socorro de minhas ovelhas para poupá-las de serem atiradas à pilhagem; e julgarei entre ovelha e ovelha:
23
Para pastoreá-las suscitarei um só pastor, meu servo Davi. Será ele quem as conduzirá à pastagem e lhes servirá de pastor.
24
Eu, o Senhor, serei seu Deus, enquanto o meu servo Davi será um príncipe no meio delas. Sou eu, o Senhor, que o declaro.
25
Eu concluirei com elas um tratado de paz; suprimirei as feras de sua terra, de sorte que possam habitar o deserto com segurança e dormir nos bosques.
26
Farei deles e das imediações de minha colina uma bênção; farei cair chuva em tempo oportuno: serão chuvas de bênção.
27
As árvores dos bosques darão seus frutos e a terra dará o seu produto. Viverão com segurança na terra. Quando eu tiver rompido as cadeias de seu jugo, e os houver livrado das mãos de seus tiranos, eles saberão que sou eu o Senhor.
28
Não mais serão pilhados pelas nações nem devorados pelas feras; habitarão a terra com segurança, sem serem incomodados mais por ninguém.
29
Farei crescer para eles uma vegetação luxuriante, que constituirá o seu orgulho. Não haverá mais fome devoradora na terra; não mais sofrerão os insultos das nações.
30
Saberão que sou eu o Senhor, que sou o seu Deus, e que eles, os israelitas, são o meu povo - oráculo do Senhor Javé.
31
E vós, minhas ovelhas, vós sois homens, o rebanho que apascento. E eu, eu sou o vosso Deus - oráculo do Senhor Javé.

Oráculo contra Edom

35 1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
2
filho do homem, volta-te para o lado da montanha de Seir, e profetiza contra ela;
3
Dize-lhe: eis o que diz o Senhor Javé: é contra ti que venho, monte de Seir; eu vou levantar a mão contra ti. Farei de ti um deserto e uma solidão;
4
reduzirei as tuas cidades a ruínas, a fim de que saibas que sou eu o Senhor.
5
Já que tens nutrido ódio eterno pelos israelitas, e os entregaste ao fio da espada no dia de sua aflição, e ao termo da sua iniqüidade,
6
pois bem: por minha vida - oráculo do Senhor Javé -, eu te entregarei ao sangue, e o sangue há de perseguir-te; porquanto não te horrorizes em derramar sangue, o sangue há de perseguir-te.
7
Farei da montanha de Seir um deserto e uma solidão, e suprimirei da terra todos os transeuntes.
8
Cobrirei tuas montanhas de cadáveres: sobre teus outeiros, teus vales e tuas torrentes tombarão aqueles a quem corta o gládio.
9
Reduzir-te-ei a solidões eternas; tuas cidades serão despovoadas. Assim saberás tu que eu é que sou o Senhor.
10
Já que disseste: as duas nações, os dois países serão meus, e tomarei posse deles, ainda que o Senhor aí resida,
11
pois bem: por minha vida - oráculo do Senhor Javé -, eu te tratarei com a mesma furiosa cólera com que os trataste, e far-me-ei conhecer no modo por que hei de exercer o meu julgamento contra ti.
12
Saberás que eu, o Senhor, ouvi todas as blasfêmias que proferiste contra as montanhas de Israel, quando dizias: ei-las devastadas! Elas nos são dadas como pasto.
13
Haveis-me afrontado com uma multidão de palavras insolentes contra mim. Eu as ouvi.
14
Eis o que diz o Senhor Javé:
15
enquanto toda a terra estiver em alegria, farei de ti uma solidão. Porque te tens alegrado com a devastação da herança da casa de Israel, eu te tratarei do mesmo modo: serás devastada, montanha de Seir, assim como toda a Iduméia. Assim reconhecerás que sou eu o Senhor.

Restauração de Israel

36 1 E tu, filho do homem, profere o seguinte oráculo acerca das montanhas de Israel: montes de Israel, ouvi a palavra do Senhor.
2
Eis o que diz o Senhor Javé: o inimigo gritou a respeito de vós. Ah! Ah! As colinas eternas nos hão de ser dadas em propriedade!
3
Profere, pois, o seguinte oráculo: eis o que diz o Senhor Javé: Já que de todos os lados tendes sido devastados e tendes vos tornado propriedade de outras nações, pois tendes sido objeto de maledicências e de calúnias dos povos,
4
pois bem, montes de Israel, escutai o que diz o Senhor Javé às montanhas, às colinas, às torrentes, aos vales, às ruínas desoladas e às cidades abandonadas, que foram entregues à pilhagem e às zombarias das nações vizinhas;
5
pois bem, eis o que diz o Senhor Javé: juro que é no ardor do meu zelo que vou falar contra os demais povos e contra Edom todo que, com uma alegria cheia de desprezo, se estão atribuindo a posse de minha terra para saqueá-la.
6
Por isso, pronuncia o teu oráculo sobre a terra de Israel, e dize às montanhas, aos outeiros, às torrentes e aos vales: eis o que diz o Senhor Javé: é no furor do meu zelo que falo. Tendes carregado o desprezo injurioso das nações.
7
Por isso, eis o que diz o Senhor Javé: eu o juro. As nações que vos rodeiam terão também elas que sofrer ignomínia,
8
enquanto vós, montes de Israel, vós lançareis os vossos ramos e trareis vosso fruto para o meu povo de Israel, porque sua volta está próxima.
9
Porque eis que venho até vós, eu me volto para vós, a fim de que sejais (novamente) cultivados e semeados.
10
Multiplicarei sobre o vosso solo os homens de toda a casa de Israel: as cidades serão repovoadas e as ruínas, reconstruídas.
11
Multiplicarei sobre vosso solo homens e animais, que serão numerosos e fecundos; eu vos repovoarei como outrora e vos tornarei mais prósperos do que nunca. Vós reconhecereis assim que eu é que sou o Senhor.
12
É meu povo de Israel, esses homens que farei nascer sobre o vosso solo; serás a sua posse e herança, e não os privarás mais dos seus filhos.
13
Eis o que diz o Senhor Javé: como se diz de ti que és uma devoradora e que privas a tua nação de seus filhos,
14
pois bem, por isso não devorarás mais homens e não mais privarás tua nação de seus filhos - oráculo do Senhor Javé.
15
Farei de maneira a não mais ouvires as injúrias das nações pagãs, e que não sofras mais os ultrajes dos povos, e não mais farás tropeçar tua nação - oráculo do Senhor Javé.


16 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
17
filho do homem, quando os israelitas habitavam sobre o seu território, eles mancharam-no por seu comportamento e seus atos: seu proceder era, a meus olhos, como a menstruação de uma mulher.
18
Por isso desencadeei sobre eles o meu furor, devido ao sangue que tinham derramado sobre a terra e aos ídolos com que a profanaram;
19
eu os dispersei no meio das nações e os disseminei entre as nações estrangeiras: foi esse um julgamento apropriado a seu comportamento e aos seus atos.
20
Entre todos os povos aonde foram, aviltaram o meu santo nome, porque se dizia deles: eis o povo do Senhor, eles deixaram a sua terra.
21
Eu, pois, quis salvar a honra do meu santo nome, que os israelitas profanaram entre as nações, às quais tinham ido.
22
Por isso, declara à casa de Israel o que segue: eis o que diz o Senhor Javé: não é por vós que faço isto, ó israelitas, mas por honra do meu santo nome que profanastes entre pagãos, aonde tínheis ido.


23 Quero manifestar a santidade do meu augusto nome que aviltastes, profanando-o entre as nações pagãs, a fim de que conheçam que eu sou o Senhor - oráculo do Senhor Javé -, quando sob seus olhares eu houver manifestado a minha santidade por meu proceder em relação a vós.


24 Eu vos retirarei do meio das nações, eu vos reunirei de todos os lugares, e vos conduzirei ao vosso solo.
25
Derramarei sobre vós águas puras, que vos purificarão de todas as vossas imundícies e de todas as vossas abominações.
26
Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne.
27
Dentro de vós meterei meu espírito, fazendo com que obedeçais às minhas leis e sigais e observeis os meus preceitos.
28
Habitareis a terra de que fiz presente a vossos pais; sereis meu povo, e serei vosso Deus.


29 Purificar-vos-ei de todas as vossas imundícies. Farei vir o trigo, farei com que seja produzido em abundância e isentar-vos-ei da fome.
30
Farei abundar os frutos das árvores e a colheita dos campos, a fim de que não tenhais mais de sofrer entre as nações a vergonha da fome.
31
Então, lembrando-vos de vosso perverso proceder e de vossas ignóbeis ações, vos desgostareis de vós mesmos, por causa das vossas iniqüidades e de vossas abominações.
32
Não é por vós que faço isso - oráculo do Senhor Javé -, sabei-o bem. Tende vergonha, enrubescei-vos por causa de vosso comportamento, ó israelitas!
33
Eis o que diz o Senhor Javé: no dia em que eu vos purificar de todas as vossas iniqüidades, repovoarei as cidades; as ruínas serão reerguidas,
34
e a terra inculta de novo cultivada, ao invés desse espetáculo de desolação oferecido aos olhares de todos os passantes.
35
Dir-se-á: esta terra que se achava devastada tornou-se um jardim do Éden! Essas cidades em ruínas, desertas e desoladas, estão agora restauradas e repovoadas.
36
Então as nações que restaram em torno de vós saberão que sou eu o Senhor, que reconstruí o que estava em ruínas e replantei o que estava baldio. Sou eu, o Senhor, que o digo e o farei.
37
Eis o que diz o Senhor Javé: nisto ainda me deixarei abrandar pela casa de Israel e o farei por eles: eu os multiplicarei como um rebanho.
38
Tais como os rebanhos dos animais consagrados, tais como as manadas que se conduzem a Jerusalém, por ocasião das festas solenes, tais serão os rebanhos de homens que povoarão vossas cidades em ruínas. Então se saberá que sou eu o Senhor.


Ezequiel (SAV) 29