Discursos João Paulo II 2002 - Sábado, 2 de Março de 2002

Além disso, a próxima comemoração dos 125 anos da fundação do Instituto será uma ocasião privilegiada para dar um novo impulso ao desejo, tantas vezes repetido, da Madre Fundadora, Santa Rafaela Maria, de que a vida de cada Irmã seja "toda ela um tecido de fé e generosidade". Em Roma, onde se veneram as suas relíquias, o murmúrio da sua voz, o calor da sua devoção à Eucaristia e o vigor do seu empenho ardente de "propor Cristo à adoração de todos os povos" vos guiarão nos vossos trabalhos e deliberações.

2. Em sintonia com toda a Igreja, propusestes-vos desenvolver nesta Congregação Geral as directrizes que vos ajudem a "remar pelo mar dentro" neste começo do terceiro milénio, unindo o encontro profundo com a pessoa de Cristo e a contemplação da sua misericórdia, expressa de maneira exímia no seu Sagrado Coração, ao compromisso de colaborar intensamente com a sua acção salvadora entre os homens e mulheres de hoje. Esta indispensável interacção entre a vida espiritual profunda e a dimensão evangelizadora é particularmente importante para todas as pessoas consagradas com projecção apostólica, nas quais "a união íntima entre a contemplação e a acção permitirá, hoje como ontem, enfrentar as missões mais difíceis" (Vita consecrata, VC 74).

Muitas de vós e das vossas Irmãs têm uma grande experiência das dificuldades que encontram no desempenho da sua missão nos quatro continentes onde o Instituto está presente. Algumas adquirem dimensões dramáticas, por causa do perigo, condições de indigência extrema ou injustiça, enquanto que outras provêm de âmbitos sociais particularmente insensíveis ao espírito das bem-aventuranças que as Irmãs são chamadas a testemunhar (cf. Lumen gentium, LG 31). Mas não faltam ocasiões em que os obstáculos à plena identificação com a própria missão se encontram mesmo na vida das pessoas e comunidades, tentadas às vezes pelo tédio em desempenhar actividades consideradas pouco reconhecidas ou de escasso rendimento a curto prazo. Também nestes casos há-de ressurgir constantemente o autêntico espírito de serviço, vivendo com alegria a opção radical de procurar e fazer antes de tudo a vontade de Deus, tão característica da tradição inaciana em que o vosso Instituto se reconhece. "Na causa do Reino, não há tempo de olhar para trás, menos ainda para se dar à preguiça" (Novo millennio ineunte, 15).

Por isso, desejo expressar-vos o agradecimento da Igreja pelo serviço que prestais à evangelização, tanto mediante o testemunho de vida como através da actividade que realizais nos diversos campos da educação, o cuidado de centros de espiritualidade, a pastoral juvenil ou a promoção dos menos favorecidos da sociedade. Mas, à gratidão junta-se a esperança e o convite a desenvolver uma nova fantasia da caridade, tão necessária para a missão da Igreja, e que não se mede tanto pela novidade externa ou pela eficácia aparente, como por ser, na atitude, nas formas e nos métodos, uma verdadeira partilha fraterna (cf. Novo millennio ineunte, 50).

3. Quero terminar confiando à Virgem Maria os frutos da Congregação e o futuro do Instituto. Que Ela seja o modelo de docilidade gozosa à vontade de Deus, própria da sua "humilde serva" (cf. Lc Lc 1,48) mestra em saber acompanhar a Cristo em todos os momentos da sua vida e da sua missão, até à cruz (cf. Jo Jn 19,26), e intercessora nos momentos de dificuldade ou incerteza.
Com estes sentimentos, e implorando a protecção de Santo Inácio de Loyola e de Santa Rafaela Maria, concedo-vos a Bênção Apostólica, que com prazer torno extensiva a todas as vossas Irmãs, as Escravas do Sagrado Coração de Jesus.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


NO FINAL DA ORAÇÃO MARIANA COM OS


ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DA EUROPA


Sábado, 2 de março de 2002



Caríssimos jovens universitários!

1. Saúdo-vos com muita alegria, no final deste encontro de reflexão e de oração mariana, no primeiro sábado do mês de Março. Ao agradecer-vos a vós, que vos reunistes em grande número na Sala Paulo VI, o meu pensamento dirige-se com afecto para todos os que se uniram a nós, de algumas cidades da Europa, graças à rádio e à televisão. Sobretudo, saúdo os universitários de Atenas, Moscovo, Estrasburgo, Budapeste, Valência e Viena. Dirijo um caloroso obrigado aos coros e à orquestra pelo seu contributo, assim como à Rádio Vaticana e ao Centro Televisivo, que cooperaram na realização deste importante e significativo acontecimento.

2. Queridos jovens universitários que, de Atenas e de Estrasburgo, rezastes o rosário connosco, saúdo-vos calorosamente. Pedi a Maria que vos ajude a compreender profundamente o mistério do seu Filho, para que Ele seja a vossa alegria e força. Recordai-vos de que, seguindo o seu exemplo, vencereis todas as dificuldades e encontrareis a verdadeira felicidade! Marco encontro convosco em Toronto.

3. Dirijo-vos uma afectuosa saudação a vós, queridos estudantes da universidade de Budapeste e de Viena. Este momento de oração comum faz com que compreendamos jubilosamente que a nossa fé ultrapassa as fronteiras e une os povos. Deixemo-nos guiar por Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, no caminho da autêntica vida cristã! Desta forma, poderemos ser testemunhas de Deus, o Pai de todos os homens. Sinto-me feliz por me poder encontrar com muitos de vós em Toronto por ocasião do Dia Mundial da Juventude.

4. Saúdo com afecto os estudantes universitários reunidos na Catedral da Imaculada Conceição em Moscovo. Caríssimos, agradeço-vos a vossa participação neste momento de oração, em nome da Virgem Maria. Permaneçamos sempre unidos na fé e no serviço ao Evangelho. O Senhor vos abençoe!

5. Ao saudar-vos a vós, queridos universitários valencianos, tenho presente todos os professores, alunos e alunas das distintas universidades da Espanha, sobretudo os que, dia a dia, vão concretizando, em colaboração com os Delegados e Capelães universitários, a sua identidade de cristãos nos nobres âmbitos da Pastoral Universitária. Oxalá a oração desta tarde, à volta da Mãe do Senhor, vos ajude a prosseguir a vossa tarefa evangelizadora, fazendo brilhar através das vossas vidas, a luz Pascal que é Cristo. Espero por vós em Toronto!

6. É motivo de uma esperança confortadora o vínculo de uma fé comum, que une jovens de várias nações da Europa, que pertencem a várias tradições culturais. Foi sempre assim na história da evangelização do "velho" continente: o Evangelho e as culturas caminharam juntos. Este é, também hoje, o empenho da Igreja. Peço-vos a vós, queridos jovens, que promovais nas Universidades o diálogo entre a fé e a cultura, para que o fermento evangélico estimule e apoie a qualidade espiritual e moral da investigação e do estudo universitários.

O ponto comum de partida para esta estimulante missão é o Baptismo, do qual é sempre necessário partir, porque é a fonte da vida cristã. A Quaresma, que estamos a viver, constitui o tempo litúrgico mais propício para tomar renovada consciência da nossa identidade baptismal. Através do Baptismo fomos unidos à morte e ressurreição de Cristo; graças ao Baptismo, o Espírito Santo tornou-nos testemunhas do amor de Deus, artífices de comunhão, de fraternidade e de paz. A vida nova, que surge da fonte baptismal, por sua vez, regenera constantemente as mentalidades e as escolhas, as relações interpessoais e sociais, assim como as culturas dos povos.

7. Só homens e mulheres novos podem renovar a história. Eis o grande desafio que se apresenta de modo particular a vós, queridos jovens europeus. O próximo encontro mundial de Toronto, no qual espero que sejais numerosos, ajudar-vos-á a compreender ainda mais esta urgência apostólica: ser, no início do terceiro milénio, "sal da terra e luz do mundo" (Mt 5,13). Marco encontro com os jovens de Roma para o próximo dia 21 de Março, quinta-feira, na Praça de São Pedro, para o tradicional momento de festa e de oração como preparação para o Dia Mundial da Juventude.

Caríssimos jovens, esta tarde é a Virgem Santa que nos reúne de todos os recantos da Europa. Façamos convergir os nossos olhares para a imagem de Nossa Senhora de Loreto, Virgem do silêncio e da escuta, Mãe do Filho de Deus feito homem. Olhemos sempre para ela, pedindo-lhe a mesma disponibilidade para a graça divina. E assim também em cada um de vós o Omnipotente fará maravilhas.

Com estes votos abraço-vos a todos, a vós que estais perto e aos que estão longe mas todos próximos de mim! enquanto com afecto vos abençoo a vós, às vossas famílias, às vossas Universidade e aos jovens de todo o mundo.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


A UMA DELEGAÇÃO DA


IGREJA ORTODOXA GREGA


11 de Março de 2002

Excelências
Caríssimos Irmãos em Cristo

"Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo" (2Co 1,2).

1. É com esta saudação de São Paulo aos cristãos de Corinto que vos recebo hoje com alegria, na esperança de um futuro de fraternidade e de comunhão.

Estou profundamente reconhecido a Sua Beatitude Christodoulos, Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, por vos haver enviado a Roma como mensageiros de paz, depois do encontro fraterno que tive com ele durante a minha peregrinação junto do Areópago, nos passos benditos de São Paulo.

2. O conhecimento pessoal recíproco, a troca de informações, assim como um franco diálogo sobre os meios para instaurar relações entre as nossas Igrejas, constituem um requisito indispensável para poder progredir num espírito de fraternidade eclesial. São também as condições essenciais para pôr em prática uma colaboração que permitirá aos católicos e aos ortodoxos oferecer em conjunto um testemunho vivo do seu património cristão comum. Isto tem valor sobretudo na sociedade de hoje onde a harmonia entre os estilos de vida e o Evangelho parece enfraquecer, como também parece diminuir o reconhecimento do valor dos ensinamentos evangélicos naquilo que diz respeito ao homem, criado à imagem de Deus, e da sua dignidade, assim como a justiça, a caridade e a procura da verdade.

3. No contexto da evolução que caracteriza actualmente o nosso continente, chegou a hora da colaboração. Tendo em conta a necessidade de uma nova evangelização da Europa, que lhe permitirá reencontrar plenamente as suas raízes cristãs, a tradição oriental e a ocidental, cada uma das quais se fundamenta sobre a grande e única tradição cristã e sobre a Igreja apostólica, deveriam basear-se no carisma luminoso de Máximo, o Confessor, que foi uma espécie de ponte entre as duas tradições, entre o Oriente e o Ocidente, e que soube privilegiar a prática do sympathos para fazer frente às questões do mundo. Diz-nos respeito a nós, também a nós, enfrentar tais questões de modo dinâmico e positivo e, fortes com a esperança que o Espírito Paráclito infunde em nós, procurar encontrar soluções para elas.

O nosso dever é de transmitir o património cristão que herdámos. É pois, cada vez mais urgente que os cristãos ofereçam à sociedade uma imagem exemplar do seu comportamento comum, enraizando-se na fé; que procurem encontrar em conjunto um remédio para os graves problemas éticos postos pelas ciências e as práticas que queriam prescindir de qualquer referência à dimensão transcendental do homem, ou até negá-la. Isto sublinha novamente, como o Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia e eu próprio já fizemos no ano passado, o nosso dever de "fazer tudo o que for possível para que sejam conservadas invioladas as raízes e a alma cristã da Europa" (Declaração comum do Areópago de Atenas, 4 de Maio de 2001).

4. A Igreja Ortodoxa da Grécia, pelo modo como preservou a sua herança de fé e de vida cristã, tem uma responsabilidade particular em tudo isto. Durante a minha permanência em Atenas, recordei que "o nome da Grécia ressoa por toda a parte onde é pregado o Evangelho... Desde a época apostólica até aos dias de hoje, a Igreja Ortodoxa da Grécia foi uma fonte rica, da qual também a Igreja do Ocidente bebeu no campo da liturgia, da tradição espiritual e da ordem jurídica" (Discurso ao Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, Sua Beatitude Christodulos, 4 de Maio de 2001). Na nossa responsabilidade, que consiste na tendência para o ecumenismo da santidade que, enfim, nos conduzirá com a ajuda de Deus, para a plena comunhão que não significa nem absorção nem fusão, mas encontro na verdade e no amor (cf. Slavorum apostoli, 27), nós devemos aprofundar a nossa colaboração e trabalhar em conjunto para fazer ressoar com força a voz do Evangelho "nesta nossa Europa, onde as raízes cristãs dos povos devem retomar vida.

5. Neste período que nos conduz para a Páscoa, Festa das Festas, que não podemos infelizmente celebrar na mesma data, nós, católicos e ortodoxos, estamos todavia unidos na proclamação do Kerigma da Ressurreição. Este anúncio que desejamos fazer em comum dará aos homens de hoje uma razão para viver e esperar; a nossa vontade de procurar a comunhão entre nós poderá assim inspirar à sociedade civil um justo modelo de convivência.

6. Agradecendo-vos pela vossa gentilíssima visita, peço-vos que transmitais as minhas cordiais saudações a Sua Beatitude Christodoulos, aos membros do Santo Sínodo e a todos os fiéis cristãos da Grécia. Retomando as palavras de São Paulo com que se conclui a nossa Declaração comum de Atenas, peço ao Senhor que guie o nosso caminho e "possamos crescer e abundar no amor que temos uns para com os outros e para com todos".

Que a graça e a paz de Deus vos acompanhem na vossa visita e vos permitam conhecer a caridade sincera e fraterna com que a Santa Sé e o Bispode Roma vos acolhem!



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA COREIA


JUNTO DA SANTA SÉ


14 de Março de 2002


Senhor Embaixador

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e recebo as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Coreia junto da Santa Sé. Estou-lhe muito reconhecido por se ter feito intérprete das saudações que o Presidente Kim Dae Jung houve por bem enviar-me e peço-lhe a gentileza de lhe transmitir os meus cordiais e melhores votos. Garanto ao Governo e a todos os cidadãos da Coreia a minha profunda estima e ofereço as minhas orações pelo bem da nação, da qual nunca esqueci a maravilhosa hospitalidade por ocasião das minhas visitas de 1984 e de 1989.

O seu País, Senhor Embaixador, está a viver uma fase muito delicada das relações entre Norte e Sul e devemos ter esperança que seja facilitada a maturação da recente manifestação de boa vontade e progresso, apesar de ser moderada, e que não seja impedida por preocupações não directamente relacionadas com o bem-estar do povo coreano no seu conjunto. Como Vossa Excelência realçou, verificou-se uma mudança significativa na península, porque os Governos de Seul e de Pyongyang estão a dar passos rumo à reconciliação de toda a nação coreana, independentemente da forma que a orientação política assumir. Trata-se de um processo difícil e complexo que tem importantes implicações para a região e para todo o mundo.

É verdade que num mundo cada vez mais interdependente, nenhuma região pode evitar ser profundamente inflenciada por um conjunto mais amplo de acontecimentos e relações globais, mas também é verdade que o que acontece num determinado País tem imediatamente repercussões sobre os outros.

Precisamente por este motivo a comunidade internacional deve encontrar modos eficazes para equilibrar todas as forças em acção no campo internacional, onde entidades comerciais, financeiras e meios de comunicação social exercem cada vez mais uma autoridade que outrora pertenciam exclusivamente ao sector da vida pública e política.

A variável configuração da comunidade internacional lança um grande desafio à função e missão da diplomacia, precisamente aquela arte que Vossa Excelência, Senhor Embaixador, está chamado a exercer em nome do seu País. Devido às mudanças nas relações entre mundo dos negócios e Governo, por exemplo, as relações internacionais e comerciais muitas vezes misturam-se entre si.

Talvez isto seja inevitável, mas faz correr o risco de se concentrar apenas sobre a economia e reduzir as relações entre nações e povos a transações comerciais, motivadas quase exclusivamente pelo lucro e pela utilidade. A diplomacia deve apoiar o seu elevado ideal de servir o desenvolvimento integral dos povos e o bem comum de toda a família humana, como, de resto, tenciona fazer. A diplomacia deve desempenhar um papel importante para garantir que as relações e as políticas internacionais se baseiem numa compreensão correcta e iluminada da pessoa e da sociedade, como a que está contida na Carta de fundação da Organização das Nações Unidas e, sobretudo, na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Neste contexto, a Igreja católica está presente e activa no Foro internacional para servir o progresso integral dos povos, como pede o Evangelho. Vossa Excelência está consciente do facto de que no centro da Igreja existe uma ética de comunhão entre os indivíduos, os povos e as suas comunidades e instituições.

A longa experiência desta ética confere à Igreja a capacidade de empreeender aquele diálogo e solidariedade tão necessários neste momento difícil da História. Falar de diálogo e de solidariedade significa implicitamente repetir o que realcei na Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, ao qual Vossa Excelência fez referência: não pode haver paz sem justiça e não pode haver justiça sem perdão. A Igreja católica na Coreia está profundamente empenhada em testemunhar que a justiça, o perdão e a paz não se podem separar se se deseja ajudar todos os coreanos a percorrer o caminho do diálogo e da solidariedade, o único que pode levar a uma nova era de concórdia.

Senhor Embaixador, ao assumir as suas nobres responsabilidades no âmbito da comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, apresento-lhe os meus melhores votos para o bom êxito da sua missão e garanto-lhe que as várias repartições da Cúria Romana estarão sempre prontas para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Invoco de coração sobre Vossa Excelência e sobre o querido povo coreano abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


A UMA DELEGAÇÃO DA


"RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO"


14 de Março de 2002


Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É com grande alegria que vos recebo, representantes do Grupo de Renovação no Espírito Santo, por ocasião do trigésimo aniversário da vossa presença na Itália. Saúdo o coordenador da Comissão Nacional de Serviço e quantos o coadjuvam.

É com prazer que me recordo dos encontros que tive convosco nos anos passados. Desde o primeiro, na solenidade de Cristo Rei em 1980, ao de 1998 na vigília do Encontro com os Movimentos eclesiais e as novas Comunidades, por ocasião do Pentecostes. Além disso, não posso esquecer o contributo que a Renovação no Espírito ofereceu por ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000, de modo especial ajudando os jovens e as famílias que, desde o início do meu Pontificado, não me canso de indicar como âmbitos privilegiados de compromisso pastoral.

Quero, outrossim, transmitir o meu agradecimento aos vossos dirigentes por terem desejado dar à Renovação uma acentuada índole de colaboração com a Hierarquia e com os responsáveis dos outros movimentos, associações e comunidades. Juntamente convosco, por tudo isto dou graças a Deus, que enriquece a sua Igreja com inumeráveis dádivas espirituais.

2. Sim, a Renovação no Espírito pode considerar-se como um dom do Espírito Santo para a Igreja neste nosso tempo. Nascido na Igreja e para a Igreja, o vosso é um Movimento em que, à luz do Evangelho, se experimenta o encontro vivo com Jesus, de fidelidade a Deus na oração pessoal e comunitária, de escuta confiante na sua Palavra, de redescoberta vital dos Sacramentos, mas também de coragem nas provações e de esperança nas tribulações.

O amor pela Igreja e a adesão ao seu Magistério, num caminho de amadurecimento eclesial sustentado por uma sólida formação permanente, constituem sinais eloquentes do vosso empenho em ordem a evitar o perigo de promover, sem o desejar, uma experiência divina exclusivamente a nível emocional, uma busca exagerada do "extraordinário" e um egoísmo intimista que evita o compromisso apostólico.

3. Nesta circunstância especial, desejo abençoar espiritualmente três projectos, pelos quais vos estais a prodigalizar e que projectam para "fora do Cenáculo" os Grupos e as Comunidades da Renovação no Espírito, com generoso impulso missionário.

Antes de mais nada, refiro-me à ajuda que estais a oferecer à implantatio Ecclesiae in Moldavia, em estreita colaboração com a Fundação "Regina Pacis" da Arquidiocese de Lecce, constituindo uma comunidade missionária vinculada à Diocese de Chisinau. Saúdo com afecto os Pastores daquelas Comunidades eclesiais, D. Cosmo Francesco Ruppi e D. Anton Cosa, juntamente com os Bispos que participam neste encontro.

Outro interessante projecto é a animação espiritual nos Santuários marianos, lugares privilegiados do Espírito, que vos dá a ocasião de oferecer aos peregrinos percursos de aprofundamento da fé e de reflexão espiritual.

Depois, há também o projecto "Roveto ardente" (sarça ardente), que constitui um convite à adoração incessante, dia e noite. Quisestes promover esta iniciativa oportuna, em ordem a ajudar os fiéis a "voltar para o Cenáculo" a fim de, unidos na contemplação do Mistério eucarístico mediante o Espírito, interceder pela plena unidade dos cristãos e pela conversão dos pecadores.
Trata-se de três campos apostólicos diferentes, nos quais a vossa experiência pode oferecer um testemunho mais providencial do que nunca. O Senhor oriente os vossos passos e torne os vossos propósitos ricos de frutos para vós mesmos e para a Igreja.

4. Em última análise, todas as vossas actividades de evangelização tendem a promover no Povo de Deus um crescimento constante na santidade. Com efeito, a santidade é a prioridade de todos os tempos e, por conseguinte, inclusivamente desta nossa época. A Igreja e o mundo têm necessidade de santos, e nós somos tanto mais santos quanto mais deixamos que o Espírito Santo nos configure com Cristo. Eis o segredo da experiência regeneradora da "efusão do Espírito", experiência típica que caracteriza o caminho de crescimento proposto pelos membros dos vossos Grupos e das vossas Comunidades. Faço votos cordiais para que a Renovação no Espírito seja na Igreja uma verdadeira "escola" de oração e de ascese, de virtude e de santidade.

De maneira especial, continuai a amar e a fazer com que se ame a oração de louvor, forma de prece que mais imediatamente reconhece que Deus é Deus; canta-O por Ele mesmo, glorifica-O porque Ele é, antes ainda do que por aquilo que Ele faz (cf. Catecismo da Igreja Católica, CEC 2639).

No nosso tempo, ávido de esperança, fazei com que o Espírito Santo seja conhecido e amado. Assim, ajudareis a fazer que tome forma aquela "cultura do Pentecostes", a única que pode fecundar a civilização do amor e da convivência entre os povos. Com insistência fervorosa, não vos canseis de invocar: "Vem, ó Espírito Santo! Vem! Vem!"".

A Santíssima Mãe de Cristo e da Igreja, a Virgem orante no Cenáculo esteja sempre ao vosso lado. Acompanhe-vos também a minha Bênção, que vos concedo com afecto a vós e a todos os membros da Renovação no Espírito Santo.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


A D. LUIGI DE MAGISTRIS POR OCASIÃO


DO FORO INTERNO PROMOVIDO


PELA PENITENCIARIA APOSTÓLICA


Ao Venerado Irmão D. LUIGI DE MAGISTRIS
Pró-Penitenciário-Mor

1. Também este ano o Senhor me concede a alegria de dirigir a minha palavra a esta Penitenciaria. Saúdo cordialmente Vossa Excelência, venerado Irmão, assim como os Prelados e os Oficiais da Penitenciaria Apostólica, e os religiosos das várias Famílias que exercem o ministério penitencial nas Basílicas Patriarcais da Cidade. Dirijo um pensamento particular aos jovens sacerdotes e candidatos ao sacerdócio, que participam no tradicional curso sobre o foro interno, oferecido como serviço eclesial pela Penitenciaria.

Desejaria que nesta Mensagem se lesse o testemunho do apreço que o Papa destina não só à função da Penitenciaria, vigária em seu lugar no exercício ordinário do Poder das Chaves, mas também do empenho dos Padres Penitenciários, os quais desempenham na relação directa com a consciência de cada penitenciário o ministério da Reconciliação e, por fim, a dedicação com que os jovens sacerdotes e candidatos ao sacerdócio se estão a preparar para o altíssimo cargo de confessores.

2. A missão do sacerdote sintetiza-se de modo eficaz nas conhecidas palavras de São Paulo: "Somos... embaixadores de Cristo, e é Deus que vos exorta por nosso intermédio. Suplicamo-vos, pois, em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus" (2Co 5,20).

Desejo retomar e ampliar, nesta ocasião, um conceito que já expressei na primeira Audiência à Penitenciaria Apostólica e aos Padres Penitenciários das Basílicas Patriarcais da Urbe, no dia 30 de Janeiro de 1981: "O sacramento da Penitência... é não só instrumento que se destina a destruir o pecado momento negativo mas um exercício precioso da virtude, ele próprio expiação, escola insubstituível de espiritualidade, obra altamente positiva de regeneração nas almas do "vir perfectus", "in mensuram aetatis plenitudinis Christi" (cf. Ef Ep 4,13). Desejaria realçar esta eficiência "em positivo" do Sacramento, para exortar os sacerdotes a recorrerem pessoalmente a ele, como ajuda válida no próprio caminho de santificação, e por conseguinte, a servir-se dele também como forma qualificada de direcção espiritual.

De facto, pode-se alcançar a santidade, e sobretudo a santidade sacerdotal, só com o recurso habitual, humilde e confiante ao sacramento da Penitência, entendido como veículo da graça, indispensável quando esta, infelizmente, se perdeu devido ao pecado mortal, e privilegiado quando o pecado mortal não se verificou, e por isso a confissão sacramental é Sacramento dos vivos que aumenta a própria graça, mas não só, também fortalece as virtudes e ajuda a diminuir as tendências hereditárias devido à culpa de origem agravadas pelos pecados pessoais.

3. Insiro entre os máximos dons, que a celebração do Ano Santo de 2000 nos obteve do Senhor, uma renovada consciência em muitos fiéis do papel decisivo que o sacramento da Penitência desempenha na vida cristã, e por conseguinte, um confortador incremento do número de quantos a ele recorrem.

Sem dúvida, no caminho de ascese cristã, o Senhor pode orientar interiormente as almas mediante formas que transcendem a ordinária mediação sacramental. Contudo, isto não excluiu a necessidade do recurso ao sacramento da Penitência, nem a subordinação dos carismas à responsabilidade da Hierarquia. É quanto transparece do conhecido trecho da primeira Carta aos Coríntios, onde o apóstolo Paulo afirma: "Quosdam quidem posuit Deus in ecclesia primum apostolos, secundum prophetas, tertio doctores..." com o que disto deriva (cf. 1Co 12,28-31). Está claramente enunciada no texto uma ordem hierárquica entre as diversas funções, institucionais ou carismáticas, na estrutura da vida da Igreja. São Paulo reafirma depois este ensinamento no capítulo 14 da mesma Carta, onde enuncia o princípio da subordinação dos dons carismáticos à sua autoridade de Apóstolo. Por isso, recorre sem hesitações ao verbo quero e a formas imperativas.

4. Mas é o próprio Senhor Jesus, fonte de qualquer carisma, que afirma da maneira mais solene a insubstituibilidade, para a vida da graça, do sacramento da Penitência, por Ele confiado aos Apóstolos e aos seus sucessores: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jn 20,22-23).

Por conseguinte, não é conforme com a Fé desejar reduzir a remissão dos pecados a um contacto, por assim dizer, privado e individualista entre a consciência de cada fiel e Deus. Sem dúvida, o pecado não é perdoado se não há o arrependimento pessoal, mas na ordem actual da Providência a remissão está subordinada ao cumprimento da vontade positiva de Cristo, que ligou a própria remissão com o ministério eclesial ou, pelo menos, com a vontade séria de recorrer a ele o mais depressa possível, quando no imediato não existe a possibilidade de fazer a confissão sacramental.

É também errada a convicção dos que, mesmo não negando um valor positivo ao sacramento da Penitência, o concebem contudo como coisa superabundante, porque o perdão do Senhor teria sido concedido "semel pro semper" no Calvário e a aplicação sacramental da misericórdia divina não resultaria ser necessária para recuperar a graça.

5. Analogamente, é positivo recordar que o sacramento da Penitência não é um acto de terapia psicológica, mas uma realidade sobrenatural destinada a produzir no coração efeitos de serenidade e de paz, que são fruto da graça. Mesmo quando fossem consideradas úteis técnicas psicológicas externas ao Sacramento, elas poderão ser aconselhadas com prudência, mas nunca impostas (cf. por analogia a admoestação do Santo Ofício, de 15 de Julho de 1961, n. 4).

No que se refere depois à especificação de formas de ascetismo para as quais orientar o penitente, o confessor poderá servir-se delas, sob condição de que não sejam inspiradas em concepções filosóficas ou religiosas contrárias à verdade cristã. Elas são, por exemplo, as que reduzem o homem a um elemento da natureza ou, ao contrário, o exaltam como detentor de uma liberdade absoluta. É fácil reconhecer, sobretudo neste último caso, uma forma renovada de pelagianismo.
6. O sacerdote, ministro do Sacramento, terá presentes estas verdades quer no contacto com cada um dos penitentes, quer no ensinamento catequético que deve dar aos fiéis.

Além disso, é evidente que os sacerdotes, como depositários do sacramento da Penitência, são chamados a aplicar antes de mais a si próprios estas certezas com as relativas orientações práticas. Isto ajudá-los-á na busca pessoal da santidade, assim como no apostolado vivo e vital que devem desempenhar sobretudo com o exemplo: "verba movent, exempla trahunt".

De maneira privilegiada, estes critérios orientam os sacerdotes confessores e directores espirituais no tratamento dos candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada. O sacramento da Penitência é o instrumento principal para o discernimento vocacional. De facto, a fim de prosseguir rumo à meta do sacerdócio é necessário possuir uma virtude madura e sólida, isto é, capaz de garantir, na medida do possível "in humanis", uma perspectiva de perseverança no futuro. Não há dúvida que o Senhor, como fez com Saulo no caminho de Damasco, pode transformar instantaneamente um pecador num santo. Contudo, isto não faz parte da vida habitual da Providência. Portanto, quem tem a responsabilidade de autorizar um candidato a prosseguir no caminho do sacerdócio deve ter "hic et nunc" a segurança da sua actual idoneidade. Se isto é válido para todas as virtudes e hábitos morais, é claro que se exige também em maior medida no que se refere à castidade, a partir do momento em que, ao receber as Ordens, o candidato se manterá no celibato perpétuo.

7. Confio estas reflexões, que se transformam agora numa premente súplica, a Jesus, Sumo e Eterno Sacerdote. Que a Virgem Santíssima, Mãe da Igreja, interceda junto do seu Filho, para que se digne conceder à sua Igreja penitentes santos, sacerdotes santos, candidatos ao sacerdócio santos.

Com estes votos, concedo de coração a todos a Bênção apostólica.

Vaticano, 15 de Março de 2002.




Discursos João Paulo II 2002 - Sábado, 2 de Março de 2002