Discursos João Paulo II 2001 - Segunda-feira, 19 de Novembro de 2001

AOS MEMBROS DA UNDA E OCIC


ORGANIZAÇÕES CATÓLICAS PARA OS MASS MEDIA


20 de Novembro de 2001

: Caros Irmãos e Irmãs em Cristo,

Estou muito contente por vos saudar, membros da UNDA, a Associação Católica Internacional para a Rádio e a Televisão e da OCIC, a Organização Católica Internacional para o Cinema e Audiovisuais, no momento em que vos preparais para, daqui a poucos dias, unir as duas organizações e a formar a SIGNIS, a nova organização católica internacional para todos os audiovisuais. A minha esperança, que, estou certo disso, é também a vossa, é a de que a SIGNIS se difunda e torne ainda mais eficaz o trabalho que as vossas duas organizações empreenderam nos últimos setenta anos, a obra de evangelização nos meios de comunicação social e, através deles, a proclamação do Evangelho salvífico do Senhor no mundo do cinema, da rádio, da televisão e da mais recente Internet.

A instituição desta organização no início do novo milénio mostra-se particularmente oportuna. De facto, com os grandes progressos na tecnologia das comunicações e o constante processo de globalização, a missão eclesial de tornar Cristo conhecido e amado por todas as pessoas adquire possibilidades cada vez mais novas e também desafios posteriores. Nos últimos anos assistiu-se a um notável crescimento das transmissões radiofónicas católicas em vários Países da África e da Europa e também a um grande desenvolvimento da televisão católica, devido especialmente às transmissões por satélite e à distribuição por cabo. SIGNIS deve continuar a criar novo público para a programação católica e trabalhar com outros organismos para garantir que o conteúdo espiritual e religioso que contém esteja sempre presente nas várias produções de comunicação social.

As pessoas, em particular as crianças e os adolescentes, são absorvidas por uma enorme quantidade de tempo de consumo dos meios de comunicação social. Uma parte importante do vosso trabalho consiste, pois, em ensinar um uso prudente e responsável dos meios de comunicação social. Isto significa estabelecer níveis altos não só para o público em geral, mas também para os responsáveis da indústria das comunicações. Significa levar as pessoas a uma maior consciência da grande influência que os meios de comunicação social exercem sobre a sua vida. Significa analisar a qualidade do conteúdo e promover um diálogo construtivo entre os produtores e os consumidores.

Caros amigos, estes são alguns dos vossos deveres, que pedem coragem e empenho, deveres que exerceis de boa vontade como parte da vossa vocação cristã. O próprio Senhor Jesus está convosco para vos ajudar e dar força, pois que, dando aos Apóstolos o mandato final de fazer discípulos, lhes disse: "e Eu estarei sempre convosco até ao fim do mundo" (Mt 28,20). Que a organização SIGNIS, de instituição próxima, seja um instrumento cada vez mais eficaz da presença permanente do Senhor no nosso mundo e do seu amor constante por todos os homens e por todas as mulheres!

Concedo-vos a todos, de coração, a minha Bênção Apostólica.




POR OCASIÃO DA PROMULGAÇÃO DA


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA "ECCLESIA IN OCEANIA"


22 de Novembro de 2001

"Alegrem-se os céus, exulte a terra! Ressoe o mar e quanto nele existe!" (Ps 96 [95], 11).

Queridos Irmãos e Irmãs

1. Viestes dos recantos mais afastados do mundo, como testemunhas da nossa vida gloriosa em Jesus Cristo e, de modo particular, como testemunhas da fé e do amor do Povo de Deus na Oceânia. É com gratidão pela feliz celebração da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Oceânia que nos unimos no grandioso hino de louvor que se eleva incessantemente do coração da Igreja para a Santíssima Trindade.

Gostaria de visitar a Oceânia de novo, a fim de apresentar os frutos dos trabalhos sinodais, a Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Oceania. Mas não foi possível! Por conseguinte, o Pacífico vem até junto do Bispo de Roma; e é "com a ternura de Jesus Cristo" (Ph 1,8) que vos saúdo a vós e a todas as pessoas por vós representadas. Em vós, vejo o oceano infinito que brilha ao sol, a Cruz austral que resplandece no firmamento nocturno, as ilhas grandes e pequenas, as cidades e as aldeias, as praias e as florestas. Mas sobretudo, vejo em vós os povos, que são a verdadeira riqueza da Oceânia: os melanésios, os polinésios e os micronésios nas suas maravilhosas populações; os aborígenes da Austrália; os maoris da Nova Zelândia; as inúmeras populações de imigrantes, que fizeram da Oceânia o seu lar. Na poderosa sinfonia da Oceânia ouvimos, por assim dizer, "a voz do Senhor [que] ressoa sobre as águas; o Deus da glória impera aos trovões, o Senhor, sobre as águas numerosas: a voz do Senhor com poder, a voz do Senhor com majestade" (Ps 29 [28], 3-4).

2. A Assembleia Especial foi uma experiência de comunhão intensa e uma das suas inúmeras graças constituiu o facto de que todos os Bispos puderam participar. Os Padres do Concílio Vaticano II e eu entre eles foram assinalados para sempre pela experiência da comunhão nesse acontecimento que, sem dúvida, foi uma grande graça derramada sobre a Igreja no século XX (cf. Novo millennio ineunte, 57). Na Assembleia Especial para a Oceânia, uma nova geração de Bispos que não participaram no Concílio puderam experimentar um pouco da sua atmosfera e do seu efeito extraordinários e, assim, sentir-se melhor preparados para pôr em prática os seus ensinamentos, como hoje a Igreja inteira deve fazer com maior coragem do que nunca, no momento em que entra no terceiro milénio.

Longe de ter esgotado o seu potencial, o Concílio Vaticano II permanece como uma luz-guia para a peregrinação da Igreja.

Como o grande Jubileu para o qual ela se preparou, a Assembleia Especial foi "não só... memória do passado, mas também... profecia do futuro" (Ibid., n. 3). Juntos, considerámos a história da evangelização na Oceânia e demos graças ao Pai de toda a misericórdia tanto pelo magnífico trabalho realizado pelos primeiros missionários, como pela generosidade com que os povos da Oceânia receberam o próprio Senhor Jesus, "seguindo o seu caminho, anunciando a sua verdade e levando a sua vida". Ouvimos a história do fantástico desenvolvimento da Igreja nas vossas terras, reconhecendo com grande gratidão que "foi Deus quem deu o crescimento" (1Co 3,7). O Sínodo alegrou-se pelos inúmeros sinais de santidade e de justiça, presentes no meio dos povos da Oceânia, uma garantia da primavera de fé a que aspiramos e pela qual estamos a trabalhar.

Todavia, reconhecemos também que os inúmeros desafios que se apresentam aos povos da Oceânia neste período impelem a Igreja a empenhar as populações do Pacífico e as suas culturas com renovados vigor e convicção. No Sínodo ouviu-se falar da crise económica, da instabilidade política, da corrupção dos conflitos étnicos, da erosão das formas tradicionais de organização social, do desrespeito à lei e à ordem, da ameaça do excesso de aquecimento da terra e, de modo especial nas sociedades mais abastadas, de uma crise do significado espiritual autêntico, que se manifesta de maneira mais clarividente na falta de respeito pela vida humana.

Contudo, os Bispos não se deixaram desanimar por nada disto. Pelo contrário, na medida em que se desenvolvia a Assembleia Especial, tornou-se cada vez mais óbvio que o Espírito Santo está a interpelar a Igreja na Oceânia a desempenhar a grande tarefa da nova evangelização. Neste sentido, o Sínodo tornou-se uma "profecia do futuro", e os Bispos sentiram de forma ainda mais profunda que são "servidores do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo", a esperança da qual a X Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos falou com muita veemência.

3. Esta nova aventura missionária está assente na "contemplação do rosto de Cristo", que é o centro da rica herança que nos foi transmitida pela experiência do grande Jubileu (cf. Novo millennio ineunte, 15). Que isto possa suscitar em cada um dos baptizados, em todos os quadrantes da Oceânia, um grandioso e renovado impulso de contemplação! Oxalá cada um dos habitantes do Pacífico repitam sem cessar: "É a vossa face, Senhor, que eu procuro" (Ps 27 [26], 8)! Que eles proclamem sempre alegremente, com o Evangelho: "Vimos o Senhor" (Jn 20,25)!

Das profundezas da contemplação nascem esta espiritualidade e esta experiência de comunhão, que os Bispos realçaram de modo muito particular por ocasião da Assembleia Especial. Trazendo consigo a riqueza das suas experiências e dos seus tesouros espirituais foram, por sua vez, fortalecidos pelo vínculo da communio, a níveis tanto local como universal. Ela foi para eles uma fonte de profunda renovação e de encorajamento para o futuro (cf. Ecclesia in Oceania, 9). A comunhão é a matriz da missão; ela há-de oferecer as energias necessárias para a nova evangelização. Que a Igreja nos vossos países possa dar prova de uma habilidade e de uma coragem cada vez maiores, ao voltardes a mergulhar nas profundezas do Pacífico! Com efeito, o mandato do Senhor é inequívoco: "Duc in altum!" (Lc 5,4).

4. Queridos Irmãos e Irmãs, no momento em que vos comprometeis nas ondas do porvir, não estais sozinhos. A Igreja universal acompanha-vos. Esta "nuvem de testemunhas" (He 12,1), constituída pela Comunhão dos Santos, circunda-vos. Os Santos da Oceânia, imagens da glória de Deus "que se reflecte na face de Cristo" (2Co 4,6), estão próximos de vós neste momento: São Pedro Chanel, os Beatos Diego Luís de San Vitores, Pedro Calungsod, João Mazzuconi, Maria MacKillop e Pedro To Rot. Que eles jamais cessem de interceder pelos povos, no meio dos quais viveram e pelos quais chegaram a morrer, ardentes de amor! No centro da Comunhão dos Santos encontra-se a Mãe de Cristo, Stella Maris, muito venerada pelos povos do Pacífico. Confio-lhe de modo deveras especial a Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Oceania. Que Maria, Auxílio dos Cristãos e Rainha da Paz, juntamente com todos os Santos, vos ajudem a vós, Bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis leigos, no momento de pordes em prática os ensinamentos e as directrizes deste documento nos vários contextos dos vossos vastos territórios. Como penhor da graça e da paz no Filho de Deus, "que tem na sua mão as sete estrelas" (Ap 2,1), concedo-vos a minha carinhosa Bênção Apostólica.




AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DE EL SALVADOR EM VISITA "AD LIMINA"


Sexta-feira, 23 de Novembro de 2001






Queridos Irmãos no Episcopado

1. Sinto grande alegria em receber-vos esta manhã durante a visita "ad Limina" com a qual renovais os vínculos de comunhão das vossas Igrejas particulares com o Bispo de Roma.

Saúdo-vos a todos com muito afecto e peço-vos que vos façais intérpretes da minha estima e proximidade ao querido povo salvadorenho, que servis com amor, generosidade e abnegação, tendo presente o testemunho do apóstolo Paulo no seu serviço à comunidade de Corinto: "Darei o que é meu e dar-me-ei a mim mesmo pelas vossas almas" (2Co 12,15).

Agradeço as palavras que me dirigiu D. Fernando Sáenz Lacalle, Arcebispo de São Salvador e Presidente da Conferência Episcopal, para me renovar a vossa adesão e me fazer presente o espírito com que exerceis o vosso ministério pastoral. Do meu lado, correspondo manifestando-vos o meu apreço pela obra que, com a ajuda de Deus e a colaboração de tantos servidores do Evangelho, realizais nas vossas dioceses.

2. Nos Relatórios que apresentastes e nos encontros que tive com cada um de vós, vi o processo que a Igreja na vossa Nação realiza. Ao concluir a minha segunda visita pastoral, no momento da despedida, disse-vos: "Parto com uma grande confiança no futuro desta amada terra: vivei à luz da fé, com o vigor da esperança e a generosidade do amor fraterno" (Discurso no aeroporto de São Salvador, 08/02/1996, n. 5; ed port. de 17/02/1996, pág. 6).

Tinha presentes as aspirações e esperanças deste querido povo que pude conhecer e apreciar mais profundamente; um povo que sofrera os anos difíceis de uma guerra fratricida, da qual felizmente se libertara e que estava iniciando com decisão o caminho do próprio desenvolvimento, para construir um futuro sereno e solidário para os seus filhos, que amam e desejam a paz.

Continuai a acompanhar o vosso povo como ministros da reconciliação, para que a grei que vos foi confiada, superando as dificuldades do passado, progrida pelos caminhos da concórdia e do amor sincero entre todos, sem excepção! Sabeis bem que o futuro do País se deve construir na paz, cujo fruto é a justiça (cf. Tg Jc 3,18). Seguindo esse caminho, não serão vãos os numerosos esforços realizados com a assinatura dos Acordos de Paz de 1992, com que foi posto fim aos terríveis anos de guerra interna. Ajudai a construir uma sociedade que favoreça a concórdia, a harmonia e o respeito pela pessoa e por todos os seus direitos fundamentais. Com a vossa palavra, valorosa e oportuna, e tendo sempre presentes as exigências do bem comum, deveis animar a todos, começando pelos responsáveis da vida política, administrativa e judicial da Nação, a promover melhores condições de vida, de trabalho ou de habitação.

3. São muito conhecidas a laboriosidade, a força moral e o espírito de sacrifício dos salvadorenhos defronte das necessidades. Demonstraram-no por ocasião do furacão Mitch e dos dois terramotos que, um mês mais tarde, sofreram no início deste ano. Nas mencionadas ocasiões, apressei-me a manifestar a minha proximidade, pedindo solidariedade e ajuda para os que foram atingidos por essas terríveis desgraças naturais que reduziram a condições precárias a existência de muitos salvadorenhos e causaram graves prejuízos a numerosas estruturas materiais.

Não há dúvida de que as ajudas externas são necessárias, vistas as proporções do fenómeno, mas deve-se ter presente que os próprios salvadorenhos, com as ricas qualidades que os distinguem, devem ser os protagonistas e artífices principais da reconstrução do País, empenhando-se, com os seus esforços e tenacidade para superar essa situação tão difícil, agravada, entre outras coisas, pela pobreza extrema de muitos, pelo desemprego, ou pela falta de uma vida digna. Nesta tarefa, deve realçar-se o empenho da Caritas, que pretende dar uma resposta perante estas necessidades.

4. Como objectivo principal da vossa tarefa pastoral propondes-vos estimular e vivificar a evangelização. De facto, uma das funções mais importantes do Bispo é incrementar a fé dos fiéis, fazendo amadurecer neles os ensinamentos do Evangelho mediante a pregação integral do mistério de Cristo, para que, assim, possam glorificar a Deus e seguir o caminho para alcançar a felicidade eterna (cf. Christus Dominus, CD 12).

No nosso tempo, em que os meios de comunicação social difundem continuamente notícias muito diferentes e o coração e a mente se sentem atraídos por tantas novidades, é necessário dar à Palavra de Deus e ao seu anúncio o lugar primordial e privilegiado que lhe corresponde. Quando o crente acolhe Jesus Cristo e a sua Palavra, pondo-a em prática, a verdade alcança a sua plenitude, como confessa Pedro diante de Jesus: "Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna" (Jn 6,68). Por isso, é de primordial importância que nunca falte o ministério da pregação, a catequese e o ensino, para que todos os fiéis "tenham vida e a tenham em abundância" (Jn 10,10).

O anúncio da Palavra tem um relevo especial quando é proclamado no âmbito da liturgia, porque Cristo "está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura" (Sacrosanctum concilium, SC 7). Não obstante, como a acção da Igreja não termina na liturgia, deve anunciar-se a Palavra com perseverança e com todos os meios para que a mensagem da salvação chegue tanto aos crentes como aos não crentes. Os meios de comunicação social de que hoje dispomos para comunicar devem ser usados também para evangelizar e catequizar, com a finalidade de aproveitar o seu grande potencial para cumprir melhor o mandato de Jesus de anunciar a Boa Nova a todas as criaturas (cf. Mc Mc 16,15). Por conseguinte, estimulo-vos a desenvolver os mencionados meios à vossa disposição e a pô-los ao serviço da difusão do Evangelho. Com eles, a mensagem de salvação pode alcançar a todos, nas mais diversas circunstâncias e nos lugares onde o acesso é mais difícil.

5. Os colaboradores directos do Bispo são os presbíteros que, em seu nome, presidem às diversas comunidades da Igreja particular, as alimentam com o Pão da Palavra e da Eucaristia, celebram os sacramentos e, devido à sua proximidade a todos, devem ser imagem e expressão da presença viva de Jesus Cristo, Bom Pastor, no meio do seu povo. Para poder viver com alegria e serenidade o mistério que lhes foi confiado na ordenação sacerdotal, devem guardar com todo o zelo e intensidade a graça que lhes foi concedida. Por isso, deveis animar sempre, os vossos sacerdotes a serem homens de oração assídua e frequente, pois "na oração, desenvolve-se aquele diálogo com Jesus que faz de nós seus amigos íntimos" (Novo millennio ineunte, 32), faz com que penetremos no profundo de Deus mistério e enche de esperança a existência perante os desafios do momento actual, que para o sacerdote revestem com frequência uma especial intensidade.

O sacerdote deve estar disponível para todos, deve saber ouvir, acompanhar o crescimento na fé dos seus irmãos e ser fonte de conforto para os atribulados e aflitos, sendo a todo o momento testemunha dos valores do reino, pois deve estar disposto a fazer muitas renúncias, a fim de realçar o que é essencial defronte ao que é efémero. Em conclusão, ser e apresentar-se sempre aquilo que ele é, um ministro de Jesus Cristo e da sua graça.

Os vínculos estreitos que unem o sacerdote com o seu Bispo exigem que estejais sempre próximos e atentos a cada um deles, para que vos vejam como verdadeiros pais e mestres. Com o carismo do vosso ministério episcopal ajudai-os em todas as suas necessidades, animai-os a perseverar no caminho da autêntica santidade sacerdotal e da caridade pastoral. Oferecei-lhes os meios mais adequados para poderem continuar a sua formação e desenvolver aquelas virtudes necessárias para o seu estado e para enfrentar com serenidade e força as dificuldades que se lhes possam apresentar.

6. Preocupados com o número de pessoal dedicado à missão, sei que vos esforçais por promover e seguir com atenção a pastoral vocacional, tão necessária para o desenvolvimento da vida da Igreja. Neste caminho, o primeiro é o recurso à oração assídua, pois é o próprio Senhor que nos diz para Lhe pedir que envie novos operários para a Sua messe (cf. Mt Mt 9,38). Além disso, é necessário organizar uma efectiva pastoral vocacional, ampla e pormenorizada, nas paróquias, movimentos, colégios e famílias, para que os jovens conheçam os valores e as exigências do reino de Deus e possam responder quando se lhes pedir a entrega total de si e das próprias forças à causa do Evangelho.

A respeito disto, também é importante o testemunho de vida dos sacerdotes e dos consagrados, testemunho que deve ser tão radical e eloquente que mova os outros, jovens e menos jovens, a desejar seguir esse caminho, no estilo do que São Paulo indicava: "Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo" (1Co 11,1).

7. A celebração da Eucaristia, num mundo muitas vezes afligido por divisões e desequilíbrios, consolida a comunhão e a esperança, é fonte de harmonia e de paz, e faz com que todos se sintam membros da mesma família, onde é reconhecida a cada um a sua dignidade. Por isso, deve promover-se a prática dominical, porque no processo de fortalecimento da fé, a Eucaristia é o momento privilegiado para o encontro com Jesus Cristo vivo. Tendo presente que a Missa dominical deve ser um compromisso e uma prática constante de todos os fiéis, não deixeis de vos empenhar, juntamente com os vossos sacerdotes, para promover este aspecto tão importante da vida eclesial, como recomendei na Carta apostólica Dies Domini (cf. cap. II). Mais recentemente também assinalei que se deve dar "particular relevo à Eucaristia dominical e ao próprio domingo, considerado um dia especial de fé, dia do Senhor ressucitado e do dom do Espírito, verdadeira Páscoa da semana" (Novo millennio ineunte, 35).

Na vida eclesial da vossa nação, como realçais nos vossos Relatórios quinquenais, está muito espalhada a devoção eucarística e assinalais como é celebrada, em quase todas as paróquias, sobretudo à quinta-feira, a adoração do Santíssimo Sacramento. Estou feliz por ver que é conservada esta prática entre os fiéis, pois desta forma não só se proclama abertamente a fé na presença real de Cristo na Eucaristia mas também se incrementa a união e a confiança n'Aquele que prometeu estar sempre connosco "até ao fim do mundo" (Mt 28,20).

8. Uma das urgências do nosso tempo, como realcei na Carta apostólica Novo millennio ineunte, é a atenção à família, porque se regista uma "crise generalizada e radical desta instituição fundamental" (n. 47), por causa das graves ameaças que hoje atentam contra ela: as rupturas matrimoniais, a chaga do aborto, a mentalidade anticoncepcional, a corrupção moral, as infidelidades e violências domésticas, factores que põem em perigo a família, célula fundamental da sociedade e da Igreja.

No matrimónio, elevado pelo Senhor à dignidade de Sacramento, não só se exprime o grande mistério do amor esponsal de Cristo à sua Igreja (cf. Ef Ep 5,32), mas também, de acordo com o plano de Deus, que o homem e a mulher realizam a vocação conjugal e colaboram com Ele na criação. Uma sólida preparação de quantos se preparam para contrair matrimónio e um acompanhamento dos lares cristãos fará com que se possam oferecer exemplos convincentes de como deve ser a família e o seu papel insubstituível na sociedade e na Igreja. Por isso, devem formar-se os jovens chamados ao matrimónio, assim como as famílias já constituídas, para que vençam as pressões de uma cultura oposta ao matrimónio e à instituição familiar, de forma que vivam segundo o plano de Deus e as verdades e genuínas exigências do homem e da mulher. A humanidade baseia-se muito na instituição familiar, chegando a hipotecar o seu futuro se ela não for defendida e promovida adequadamente. Não se pode ceder às modas e teorias que, sob uma aparência de falsa modernidade e progresso, se voltam contra o homem e fazem tantas vítimas, começando pelos próprios filhos ou pelos cônjuges abandonados.

9. Os leigos são chamados a desempenhar um papel da máxima importância perante os desafios que se apresentam ao presente e ao futuro de El Salvador. Na medida em que os leigos cristãos vivem cada vez mais abertos à presença e à graça, no fundo do seu coração serão cada vez mais capazes de oferecer aos seus irmãos o testemunho de uma vida renovada, terão a liberdade e a força de espírito necessárias para transformar as relações sociais e a prórpia solidariedade de acordo com os desígnios de Deus.

Para divulgar no meio do mundo os valores do Evangelho, os cristãos precisam de estar firmemente enraizados no amor de Deus e na fidelidade a Cristo. Por isso, desejo exortar-vos a intensificar os esforços na formação de um laicado adulto, que colabore activamente na vida e missão da Igreja; neste sentido são úteis os organismos, como o Instituto Superior de Catequese, em El Salvador, para a preparação adequada dos catequistas. Nesta tarefa de formação, animo-vos de igual forma a prestar uma particular atenção aos jovens que, devido à sua situação, são mais facilmente expostos aos perigos e às seduções de caminhos fáceis e ilusórios.

Apresentai-lhes, em toda a sua autenticidade e riqueza os nobres ideais da vida e da espiritualidade cristã, para que aprendam os valores e modelos de comportamento mais aptos para enfrentar os desafios do presente.

10. Ao concluir este encontro, desejo exprimir-vos a minha gratidão pelo trabalho incansável que desempenhais em todos os âmbitos da acção pastoral. Animo-vos a continuar com renovada esperança a tarefa de conduzir o Povo de Deus que vos está confiado para a meta da pátria celeste mediante o exercício do vosso ministério apostólico, prestando também desta forma um excelente serviço a toda a comunidade nacional. Transmiti também a minha saudação afectuosa e a minha bênção a todos os vossos sacerdotes, religiosos, religiosas e demais fiéis, sobretudo aos que colaboram com maior dedicação na obra da evangelização e aos que sofrem por vários motivos e que, por isso, têm um lugar privilegiado no coração do Papa. Celebra-se nestes dias a festa de Nossa Senhora Rainha da Paz, Padroeira de El Salvador. Ao invocar a sua materna protecção, peço-lhe que interceda pela santidade de todos os fiéis, pelo bem-estar das famílias e pela prosperidade do vosso País na justiça e na paz, enquanto concedo a todos de coração a Bênção apostólica.




AOS PARTICIPANTES NA


ASSEMBLEIA PLENÁRIA DA


CONGREGAÇÃO PARA O CLERO


Sexta-feira, 23 de Novembro de 2001

: Senhores Cardeais
Veneráveis Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É com alegria que vos recebo, por ocasião da Assembleia Plenária da Congregação para o Clero. Saúdo cordialmente o Senhor Cardeal Darío Castrillón Hoyos, Prefeito desta Congregação, e agradeço-lhe as amáveis palavras que me quis dirigir em nome de todos os presentes. Saúdo os Senhores Cardeais, os veneráveis Irmãos no Episcopado e os outros participantes na vossa Assembleia Plenária, que dedicou a sua atenção a um tema extremamente importante para a vida da Igreja: "O presbítero, pastor e guia da comunidade paroquial". Realçando a função do sacerdote na comunidade paroquial, põe-se em evidência a centralidade de Cristo, que deve distinguir-se sempre na missão da Igreja.

Cristo está presente na sua Igreja da maneira mais sublime no Santíssimo Sacramento do Altar. Na Constituição dogmática Lumen gentium, o Concílio Vaticano II ensina que, in persona Christi, o sacerdote celebra o Sacrifício da Missa e administra os Sacramentos (cf. n. 10). Além disso, como observava oportunamente o meu venerado Predecessor Paulo VI, na Carta Encíclica Mysterium fidei, a propósito da Constituição Sacrosanctum concilium (cf. n. 7), Cristo faz-se presente através da pregação e da orientação dos fiéis, tarefas estas para as quais o presbítero é interpelado pessoalmente (cf. AAS 57 [1965] 762 s.).

2. A presença de Cristo, que assim se realiza de maneira ordinária e quotidiana, faz da paróquia uma autêntica comunidade de fiéis. Por conseguinte, é de fundamental importância que a paróquia disponha do seu próprio pastor. E o título de pastor é reservado especificamente ao sacerdote. Com efeito, a Ordem sagrada do presbiterado representa para ele a condição indispensável e imprescindível para ser nomeado pároco de modo válido (cf. Código de Direito Canónico, cân. 521 1). Sem dúvida, também os outros fiéis podem colaborar activamente com ele, até mesmo a tempo inteiro, mas dado que não receberam o sacerdócio ministerial, não podem substituí-lo como pastor.

O que determina esta peculiar fisionomia eclesial do sacerdote é a sua fundamental relação com Cristo, Cabeça e Pastor, como sua representação sacramental. Na Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, observei que "a referência à Igreja se inscreve na única e mesma referência do sacerdote a Cristo, no sentido que é a "representação sacramental" de Cristo a fundamentar e animar a relação e referência do sacerdote à Igreja" (n. 16). A dimensão eclesial pertence à substância do sacerdócio ordenado. Ele está totalmente ao serviço da Igreja, a tal ponto que a comunidade eclesial tem absoluta necessidade do sacerdócio ministerial para que Cristo, Cabeça e Pastor, esteja presente na mesma. Se o sacerdócio comum é uma consequência do facto de que o Povo cristão é escolhido por Deus como ponte com a humanidade e diz respeito a cada crente, uma vez que está inserido neste mesmo povo, contudo o sacerdócio ministerial é fruto de uma eleição, de uma vocação específica: "Jesus chamou a si os seus discípulos e de entre eles escolheu os Doze" (cf. Lc Lc 6,13-16). Graças ao sacerdócio ministerial, os fiéis tornam-se conscientes do seu sacerdócio comum e actualizam-no (cf. Ef Ep 4,11-12); com efeito, o sacerdote recorda-lhes que são o Povo de Deus e capacita-os para a "oferta destes sacrifícios espirituais" (cf. 1P 2,5), mediante os quais o próprio Cristo faz de nós um dom eterno ao Pai (cf. 1P 3,18). Sem a presença de Cristo representado pelo presbítero, guia sacramental da comunidade, ela não seria plenamente eclesial.

3. Como afirmei antes, Cristo está presente na Igreja de maneira eminente na Eucaristia, fonte e ápice da vida eclesial. Encontra-se realmente presente na celebração do santo Sacrifício, como quando o pão consagrado é conservado no tabernáculo "como o coração espiritual da comunidade religiosa e paroquial" (Paulo VI, Carta Encíclica Mysterium fidei, AAS 57 [1965] 772).

Por este motivo, o Concílio Vaticano II recomenda: "Procurem os párocos que a celebração do Sacrifício eucarístico seja o centro e o vértice de toda a vida cristã da Comunidade" (Decreto Christus Dominus, CD 30 CD 2).

Sem o culto eucarístico, como seu próprio coração pulsante, a paróquia torna-se árida. A este propósito, é útil recordar tudo o que escrevi na Carta Apostólica Dies Domini: "De entre as numerosas actividades que uma paróquia realiza... "nenhuma é tão vital ou formativa para a comunidade, como a celebração dominical do Dia do Senhor e da sua Eucaristia"" (n. 35). Nada jamais será capaz de a substituir. A própria liturgia da Palavra, quando é efectivamente possível assegurar a presença dominical do sacerdote, é louvável para manter viva a fé, mas deve conservar sempre, como meta para a qual há-de tender, a celebração eucarística regular.

Onde falta o sacerdote é necessário, com fé e insistência, suplicar a Deus para que suscite numerosos e santos trabalhadores para a sua messe. Na citada Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, afirmei que "hoje, mais do que nunca, a expectativa orante de novas vocações deve tornar-se um hábito constante e largamente partilhado na comunidade cristã e em toda e qualquer realidade eclesial" (n. 38). O esplendor da identidade sacerdotal, o exercício integral do consequente ministério pastoral, juntamente com o compromisso de toda a comunidade na oração e na penitência pessoal, constituem os elementos imprescindíveis para uma urgente e improrrogável vocação pastoral. Seria um erro fatal resignar-se às actuais dificuldades e comportar-se efectivamente como se tivéssemos de nos preparar para uma Igreja do futuro, imaginada quase desprovida de presbíteros. Deste modo, as medidas adoptadas para resolver as carências actuais seriam para a Comunidade eclesial, apesar de toda a boa vontade, realmente perniciosas.

4. Além disso, a paróquia é um lugar privilegiado do anúncio da Palavra de Deus. Isto desenvolve-se de diversas formas, e cada fiel é chamado a participar activamente, de maneira especial com o testemunho da vida cristã e a proclamação explícita do Evangelho, tanto aos não-crentes em ordem a conduzi-los para a fé, como às pessoas que já são crentes, para as instruir, confirmar e induzir a uma vida mais ardente. Quanto ao sacerdote, ele "anuncia a Palavra na sua qualidade de "ministro", participante da autoridade profética de Cristo e da Igreja" (Pastores dabo vobis PDV 26). E para cumprir fielmente este ministério, correspondendo ao dom recebido, ele "deve ser o primeiro a desenvolver uma grande familiariadade pessoal com a Palavra de Deus" (Ibidem). Mesmo que ele fosse superado por outros fiéis na eloquência, isto não anularia o seu ser representação sacramental de Cristo, Cabeça e Pastor, e é disto que deriva sobretudo a eficácia da sua pregação. Desta eficácia tem necessidade a comunidade paroquial, de modo especial no momento mais característico do anúncio da Palavra por parte dos ministros ordenados: precisamente por isso, a proclamação litúrgica do Evangelho e a homilia que a acompanha são ambas reservadas ao sacerdote.

5. Também a função de orientar a comunidade como pastor, tarefa própria do pároco, deriva do seu peculiar relacionamento com Cristo, Cabeça e Pastor. Trata-se de uma função que reveste um carácter sacramental. Não é confiada ao sacerdote pela comunidade mas, através do Bispo, é-lhe concedida pelo Senhor. Afirmar isto com clarividência e exercer esta função com autoridade humilde constitui um serviço indispensável à verdade e à comunhão eclesial. A colaboração das pessoas que não receberam esta configuração sacramental a Cristo é desejável e, muitas vezes, necessária. Todavia, elas não podem substituir de forma alguma a tarefa de pastor, própria do pároco. Os casos extremos de escassez de sacerdotes, que aconselham uma colaboração mais intensa e alargada por parte dos fiéis não dotados do sacerdócio ministerial, no exercício do cuidado pastoral de uma determinada paróquia, não constituem absolutamente uma excepção a este critério essencial para a salvação das almas, como foi estabelecido de modo inequívoco pelas normas canónicas (cf. Código de Direito Canónico, cân. 517 2). Neste campo, hoje muito actual, a Exortação interdicasterial Ecclesiae de mysterio, que aprovei de forma específica, constitui a linha recta a seguir.

No cumprimento do seu próprio dever de guia, com responsabilidades pessoais, o pároco trará benefícios preciosos dos organismos de consulta, previstos pelo Direito (cf. Código de Direito Canónico, cânn. 521-537); todavia, estes organismos deverão manter-se fiéis à sua finalidade de consulta. Portanto, será necessário guardar-se de todas as formas que, efectivamente, tendam a desautorizar a orientação do sacerdoce pároco, porque a própria fisionomia da comunidade paroquial seria desnaturada.

6. Agora, dirijo o meu pensamento repleto de carinho e de reconhecimento aos párocos espalhados pelo mundo inteiro, de forma especial àqueles que trabalham nas linhas de vanguarda da evangelização. Encorajo-os a continuar a sua tarefa cansativa, mas verdadeiramente preciosa para toda a Igreja. Recomendo a cada um que recorra, no exercício do seu "múnus" pastoral quotidiano, à ajuda maternal da Bem-Aventurada Virgem Maria, procurando viver em profunda comunhão com Ela. No sacerdócio ministerial, como pude escrever na Carta aos Sacerdotes por ocasião da Quinta-Feira Santa de 1979, "está a dimensão maravilhosa e penetrante da proximidade da Mãe de Cristo" (n. 11). Caríssimos Irmãos no Sacerdócio, quando celebramos a Santa Missa, ao nosso lado está a Mãe do Redentor, que nos introduz no mistério da oferta redentora do seu Filho divino. "Ad Jesum per Mariam": seja este o nosso programa diário de vida espiritual e pastoral!

Com estes sentimentos, enquanto asseguro a minha oração, concedo a cada um de vós uma especial Bênção Apostólica que, de bom grado, faço extensiva a todos os sacerdotes do mundo!





Discursos João Paulo II 2001 - Segunda-feira, 19 de Novembro de 2001