Discursos João Paulo II 2001 - Sábado, 24 de Novembro de 2001

AOS REPRESENTANTES DA CÁRITAS ITALIANA,


POR OCASIÃO DO 30° ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO


24 de Novembro de 2001






Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É de bom grado que me uno à alegria de todos vós, que celebrais o 30º aniversário de fundação da Cáritas italiana, e que vos saúdo do íntimo do meu coração.

Em primeiro lugar, saúdo o venerado Irmão D. Benito Cocchi, Arcebispo de Módena, Presidente da Cáritas, e agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos os presentes, explicando-me o caminho até agora percorrido e as novas perspectivas. Saúdo também os outros Prelados, que desejaram participar neste encontro, bem como os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os voluntários e quantos trabalham neste importante organismo pastoral, desejado pelo meu predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, em ordem a "sensibilizar as Igrejas locais e os fiéis singularmente para o sentido e o dever da caridade, em conformidade com as necessidades e os tempos" (Insegnamenti di Paolo VI, X [1972], pág. 989).

Durante estas três décadas, a Cáritas italiana desempenhou com fidelidade o mandato recebido e agora traça novos itinerários para aprofundar e orientar da melhor forma o que conseguiu desenvolver até aqui.

2. É impossível voltar a percorrer, mesmo que seja de maneira resumida, todas as etapas desta experiência de trinta anos: desde o plano pastoral Evangelização e Sacramentos, dos anos 70 e da primeira assembleia eclesial sobre Evangelização e promoção humana, até aos anos 80, com o documento Igreja italiana e perspectivas do país, que indicava a toda a Comunidade eclesial o caminho para "recomeçar a partir dos últimos". Essa foi a década do nascimento da Consulta das obras caritativas e assistenciais, que depois se tornou Consulta eclesial dos Organismos socioassistenciais, e da realização do Simpósio eclesial de Loreto, que lançou a proposta dos "Observadores permanentes das necessidades e das pobrezas". As emergências e os problemas internacionais abriram a Cáritas para uma acção planetária.

Desde os anos 80 até aos nossos dias, com o documento Evangelização e testemunho da caridade, a Conferência Episcopal Italiana propôs como finalidade a existência da Cáritas em cada paróquia, como lugar pastoral ordinário da promoção e da animação do testemunho da caridade. Trata-se de um testemunho conjunto de amor a cada ser humano, com uma opção preferencial pelos pobres.

3. Caríssimos, através da obra das várias Cáritas paroquiais, e faço votos a fim de que continuem a difundir-se e a multiplicar-se, alimentai e fazei crescer a caridade popular e paroquial, que comprometa todos os baptizados em actividades pastorais ordinárias: uma caridade que se traduza em educação para a interculturalidade, a mundialidade e a paz, esforçando-se por influir eficazmente sobre o território. Deste modo, manifestar-se-á o rosto de uma Igreja não só preocupada em promover serviços para os pobres, mas também e sobretudo em percorrer juntamente com eles itinerários de partilha autêntica.

A família seja o primeiro lugar onde se aprenda a viver esta caridade, feita de atenção e dedicação recíprocas, de presença conjunta, de complementaridade, de co-participação e de partilha. Para esta finalidade, exorto-vos a relançar, segundo um estilo adequado para o nosso tempo, ocasiões de encontro e de partilha entre as famílias.

4. De resto, é necessário enfrentar os desafios da globalização moderna. Não se globalizaram apenas a tecnologia e a economia, mas também a insegurança e o medo, a criminalidade e a violência, as injustiças e as guerras. Portanto, é urgente construir em conjunto a "civilização do amor" e, por isso, educar para o diálogo no respeito e no amor fraternal entre culturas e civilizações. É necessário dar forma a uma acção caritativa globalizada, que fomente o desenvolvimento dos "pequenos" da terra. Estanto próximos de cada uma das situações de pobreza, a partir das actuais emergências nacionais e internacionais, podereis fazer com que, em cada comunidade, os pobres se sintam "em casa".

Não é esta a mais eficaz apresentação da boa nova do Reino? Sem esta forma de evangelização, levada a cabo através da caridade e do testemunho da pobreza cristã, o anúncio do Evangelho corre o risco de ser imcompreensível e de naufragar num mar de palavras. "A caridade das obras garante uma força inequivocável à caridade das palavras" (Novo millennio ineunte, 50).
Trata-se de educar não só os fiéis singularmente, mas toda a comunidade no seu conjunto, a tornar-se "sujeito de caridade", pronta a fazer-se próxima de quem se encontra em necessidade. Esta proximidade profética e generosa expressou-se com oportunidade exemplar, por ocasião dos terremotos, das calamidades naturais e das guerras como, por exemplo, nas regiões da Úmbria e das Marcas, na região dos Grandes Lagos da África, nos Balcãs, na América Central e, durante estes dias, na mobilização em favor dos refugiados do Afeganistão.

5. Quanto mais se conseguir empenhar as pessoas e a comunidade em geral, tanto mais eficazes serão os esforços em ordem a prevenir a marginalização, a influir sobre os mecanismos geradores de injustiça, a defender os direitos dos mais frágeis, a eliminar as causas da pobreza e a "unir solidariamente" o Sul ao Norte, o Leste ao Oeste do planeta. Neste campo, quantas possibilidades se apresentam ao voluntariado! Cabe a vós valorizá-las todas! Penso, de modo particular, nas vigorosas energias de muitos jovens e de inúmeras jovens que, graças ao serviço civil, podem dedicar uma parte do seu tempo a intervenções sociocaritativas na Itália e noutros países. É desta maneira que podereis contribuir para dar vida a um mundo em que as armas finalmente se calem e se levem a cabo projectos de desenvolvimento sustentável.

6. Dilectos Irmãos e Irmãs! Porém, para cumprirdes o mandato que a Igreja vos confia, é indispensável que permaneçais à escuta e em contemplação de Cristo. É preciso que a oração preceda, acompanhe e siga cada uma das vossas acções.

Somente assim podereis responder prontamente ao Senhor, que se encontra à porta do nosso coração, das nossas comunidades, e "bate" de modo discreto mas insistente.

A Virgem Maria, Mãe da Caridade, vos proteja e assista sempre. Acompanho-vos com a oração e, de bom grado, vos concedo a Bênção apostólica, enquanto a faço extensiva a quantos encontrais quotidianamente nas vossas múltiplas actividades.



SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO DO


PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA





Agora, é-me grato saudar os participantes no Congresso sobre o tema "A Familiaris consortio no seu 20º aniversário, dimensões antropológica e pastoral". A vinte anos de distância da publicação da Exortação Apostólica pós-sinodal Familiaris consortio, o Pontifício Conselho para a Família quis, oportunamente, comemorar um acontecimento de tão singular importância para a Igreja. Ele diz respeito a um dos temas que me estão mais a peito: a família.

Saúdo de modo especial o Senhor Cardeal Alfonso López Trujillo, enquanto lhe agradeço as palavras que me dirigiu em nome dos participantes no Congresso. Depois, saúdo o Secretário, os colaboradores do Pontifício Conselho e quantos cuidaram da organização deste interessante encontro, bem como as pessoas que nele participaram activamente.

Formulo votos sinceros a fim de que as reflexões feitas durante os trabalhos contribuam para iluminar as consciências sobre a importância da família e da sua missão no nosso tempo.
Por intercessão da Virgem Maria, Rainha da Família, o Senhor ajude cada família cristã a ser um sinal eloquente do amor de Deus. Com estes sentimentos, abençoo-vos de todo o coração.




A UMA DELEGAÇÃO DA ALIANÇA BÍBLICA UNIVERSAL


E DA SOCIEDADE BÍBLICA ITALIANA


26 de Novembro de 2001





Caríssimos Irmãos em Cristo

1. Para mim, é motivo de alegria encontrar-me com todos vós, ilustres Responsáveis da Aliança Bíblica Universal, representantes dos Editores e das Igrejas e Comunidades eclesiais italianas, por ocasião do 25º aniversário da publicação do livro "Parola del Signore, il Nuovo Testamento, Traduzione interconfessionale in lingua corrente". Agradeço de modo especial ao Dr. Markku Kotila, Presidente da Comissão "Europa-Médio Oriente" da Aliança Bíblica Universal, e a Mons. Alberto Ablondi, Presidente da Federação Bíblica Católica, as amáveis palavras que me dirigiriam em nome dos presentes.

Como se acaba de realçar, ao longo de cinco lustros esta importante iniciativa bíblica e ecuménica alcançou metas louváveis, que ultrapassaram as próprias expectativas daqueles que a conceberam e a instituíram há 25 anos. A publicação da tradução interconfessional na linguagem do povo comum apresenta-se como a iniciativa de maior relevância ecuménica realizada na Itália. Ela constitui, para um grande número dos nossos contemporâneos, uma válida contribuição em ordem ao conhecimento e à familiaridade com a Palavra de Deus.

2. Sabe-se que o trabalho do tradutor é sempre uma arte difícil. Exige o compromisso de estabelecer um contacto e de criar uma comunicação entre histórias, culturas e linguagens, às vezes muito distantes entre si no espaço e no tempo. Por conseguinte, uma boa tradução fundamenta-se sobre três pilares que, ao mesmo tempo, devem reger todo o trabalho. Em primeiro lugar, é necessário um aprofundado conhecimento da língua e do mundo cultural do ponto de origem. Em segundo lugar, não deve faltar também uma boa familiaridade com a língua e o contexto do ponto de chegada. Enfim, para coroar a obra de bom êxito, exige-se um adequado domínio dos conteúdos e do significado daquilo que se traduz.

Na tradução interconfessional da Bíblia, por vós realizada, procurastes permanecer fiéis à índole dos textos originais. Além disso, quisestes tornar o texto compreensível aos leitores contemporâneos, utilizando as palavras e as formas da língua do dia-a-dia.

A extraordinária difusão deste livro demonstra o favor e a vasta estima alcançados nos diversos ambientes eclesiais e culturais. Entre outras coisas, quero recordar aqui, que foi precisamente a esta tradução que se recorreu, durante a celebração da XV Jornada Mundial da Juventude, realizada em Roma no mês de Agosto do ano passado, assim como em muitas outras iniciativas ecuménicas levadas a cabo durante o Jubileu.

3. Esta obra que realizastes representa um dos frutos mais bonitos e significativos da colaboração entre as Igrejas e as Comunidades eclesiais na Itália. É interessante observar que o estudo para uma compreensão mais apropriada do texto sagrado favorece a superação de divisões produzidas ao longo da história, que eram estimuladas precisamente pelas interpretações divergentes de algumas passagens bíblicas. Todos nós fazemos votos para que esta possibilidade de encontro e de diálogo se aprofunde cada vez mais, na convicção de que as Sagradas Escrituras "podem dar... a sabedoria que leva à salvação pela fé em Jesus Cristo" (2Tm 3,15).

Invoco sobre vós e o vosso precioso trabalho as abundantes bênçãos de Deus, enquanto vos formulo votos a fim de que esta tradução interconfessional da Bíblia tenha a mais vasta difusão. Que a Palavra de Deus, cada vez melhor conhecida pelos homens e pelas mulheres do nosso tempo, seja recebida com um coração sincero e traduzida em opções concretas de vida.




AOS PEREGRINOS VINDOS A ROMA


PARA O RITO DE CANONIZAÇÃO


26 de Novembro de 2001


Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É-me muito grato encontrar-me de novo convosco, no dia seguinte à solene Canonização de José Marello, Paula Montal Fornés de São José de Calasanz, Leónia Francisca de Sales Aviat e Maria Crescência Höss. O encontro deste dia oferece-nos a oportunidade de prolongar a acção de graças que ontem elevámos ao Senhor. Ao mesmo tempo, podemos deter-nos ainda, por alguns momentos, para contemplar o luminoso testemunho destes discípulos exemplares de Cristo.

Saúdo cordialmente os senhores Cardeais, assim como as Autoridades civis que desejaram participar neste momento de festa. Dirijo um "obrigado" especial aos Bispos e aos sacerdotes, que orientaram os numerosos grupos de peregrinos.

2. Os primeiros que se alegram com a canonização de José Marello são os seus filhos espirituais, os Oblatos de São José, a quem transmito a minha carinhosa saudação, juntamente com as minhas sinceras felicitações. Caríssimos, passaram apenas oito anos desde quando, na Praça de Asti, proclamei Beato o vosso Fundador. Mais um sinal prodigioso a cura de duas crianças no Peru permitiu coroar também na terra o seu itinerário de santidade. É mais significativo do que nunca que isto se tenha verificado logo a seguir à Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, consagrada exactamente ao ministério do Bispo no hoje da Igreja e do mundo.

Dirijo uma saudação especial aos peregrinos de Asti e aos de Acqui, cidades que, respectivamente, o tiveram como sacerdote e como Bispo. E faço-a extensiva imediatamente a todas as comunidades, em várias partes do mundo, aonde a Providência levou os Oblatos e a sua missão. Juntamente com todos vós, filhos e devotos de São José Marello, desejo prestar louvor ao glorioso São José, Padroeiro da Igreja universal. O profundo amor pela Virgem Maria fez com que o jovem Marello escolhesse José como modelo de vida e de orientação no seguimento de Cristo. Em síntese, esta é a mensagem que ele deixa a todos os cristãos religiosos, famílias e sacerdotes: amar a Mãe do Redentor e imitar o seu Guardião.

3. Agora saúdo com afecto os Bispos, sacerdotes e fiéis vindos para a Canonização de Madre Paula Montal Fornés e, de modo muito especial, as Filhas de Maria, Religiosas das Escolas Pias, assim como os Padres esculápios e os alunos, alunas e o numeroso grupo de ex-alunas das Famílias de São José de Calasanz.

Para vós, a nova Santa é uma personagem conhecida e admirada; por isso, quisestes vir a Roma para a solene cerimónia do dia de ontem. Agora, com a canonização de Santa Paula Montal, a sua figura é proposta a toda a Igreja como modelo e intercessora. O seu perfil espiritual mostra-nos uma pessoa que confia em Deus e a Ele se consagra, participando no seu plano de salvação, especialmente através da dedicação ao ensino. Ela foi uma mística arraigada na acção, consagrada à realização de uma obra bem feita, ao serviço da Igreja e do mundo. Nas circunstâncias concretas nada fáceis do seu tempo, ela intuiu o papel da mulher na família e na sociedade, entregando-se a um ideal: a educação humano-cristã da mulher.

A sua mensagem é plenamente actual. A este respeito, apraz-me recordar que, numa das suas cartas, escreve: "Temos a obrigação de buscar a tranquilidade e o progresso da sociedade, que só são possíveis com uma vida pura, como Deus no-la pede. Com a sua intercessão, o mundo actual percorra estes caminhos, para o que são necessários educadores cristãos que transmitam, com competência e com o testemunho da sua própria vida, os valores do Evangelho às crianças e aos jovens de hoje, chamados a ser os protagonistas do futuro.

4. Queridos peregrinos, a vossa presença é significativa pela vossa atenção ao carisma sempre actual de Santa Francisca de Sales Aviat, Fundadora da Congregação das Irmãs Oblatas de São Francisco de Sales, da qual saúdo a Superiora-Geral, Ir. Françoise-Isabelle Stiegler. Saúdo de igual modo D. Stenger, Bispo de Troyes, e D. Louis, Bispo de Châlons, Dioceses em que nasceu e viveu Léonie, assim como os membros das representações civis dessa região.

Professores e educadores, que garantis uma missão com as Irmãs Oblatas, prestando assim um serviço indispensável à juventude em várias regiões do mundo, encorajo-vos a dar continuidade a este trabalho educativo, para transmitir aos jovens os valores humanos e cristãos necessários para o seu amadurecimento, mediante uma formação integral e o testemunho da vossa vida. Dilectas Religiosas, dou graças pela vossa bonita vocação que une contemplação e acção. O vosso desejo de viver a vida quotidiana com amor já possui uma orientação missionária. Não vos deixeis desencorajar pelas dificuldades, das quais Madre Aviat dizia que "são sempre instrumentos que Deus nos concede para O alcançar"! Seguindo o seu exemplo, testemunhai a alegria do dom pessoal a Cristo, felizes por "se pôr ao serviço do nosso Senhor, alegres por conquistar para Ele almas jubilosas [...] por lhes ensinar a vencer-se a si mesmas e a renunciar"! Concedo-vos a todos uma afectuosa Bênção apostólica.

5. É com grande alegria que apresento as minhas boas-vindas aos fiéis alemães que vieram aqui por ocasião desta elevação às honras dos altares. Em particular, saúdo o Cardeal Friedrich Wetter e D. Viktor Josef Dammertz, que chefiou a vossa peregrinação à Cidade Eterna.

Santa Maria Crescência Höss é um grande dom. Deveis sentir-vos orgulhosos desta mulher. Ela constitui um sinal não só para a Cidade de Kaufbeuren, mas também para a Diocese de Ausburgo, para a Província eclesial de Munique e Frisinga, assim como para toda a Igreja que está na Alemanha.

Embora estejamos separados dela por uma grande distância em termos de tempo, contudo a nova Santa fala-nos no início do terceiro milénio.

Todos os dias, junto do seu túmulo, pessoas orantes de diversas confissões confiam-lhe as suas preocupações. Quando era viva, Maria Crescência Höss recordava às pessoas Alguém de quem temos necessidade: o Espírito Santo!

O Espírito Santo pode realizar grandes coisas na nossa vida e em toda a Igreja, se lho permitirmos. Com estes bons votos, concedo-vos a Bênção apostólica, a vós e a quantos trouxeram a Roma as suas preocupações.

6. Caríssimos, uma vez mais, através destes quatro novos Santos, a Igreja indica-nos e chama-nos para a "medida alta" da vida cristã, para a santidade. A santidade não consiste em realizar empreendimentos excepcionais, mas em viver de modo extraordinário as coisas ordinárias, ou seja, com todo o amor possível. Quando voltardes para as vossas ocupações habituais, valorizai este ensinamento, aprendido na escola de Maria e destes Santos. Assim, experimentareis um reflexo da bem-aventurança eterna, que Deus promete aos seus fiéis no Reino celeste.

Com estes bons votos, que acompanho com a minha oração, é do íntimo do coração que vos renovo a minha Bênção.



MENSAGEM DO SANTO PADRE


AOS PARTICIPANTES NA


X ASSEMBLEIA DA UCESM


(UNIÃO DAS CONFERÊNCIAS


EUROPEIAS DE SUPERIORES MAIORES)







Venerado Padre Jesus Maria Lecea Sch. P. Presidente da UCESM

Passaram-se vinte anos da criação da União das Conferências dos Superiores Maiores Europeus. Esta União tem como finalidade a cooperação e auxílio mútuo entre os Superiores e as Superioras Maiores nos países europeus e dar impulso à colaboração com as Conferências Episcopais da Europa, de modo a que no âmbito social de cada um se transmita o testemunho da vida da Ordem.

Caros Irmãos e Irmãs, na celebração do XX aniversário da vossa União, quero dirigir-vos os meus melhores votos de parabéns. Por vosso intermédio dirijo também saudações amigas aos membros das vossas comunidades, que representais em toda a Europa. Dou graças a Deus Uno e Trino por todo o bem realizado através da generosidade da vossa doação e do testemunho da vossa vida consagrada pela Sua Igreja e pelo advento do Seu Reino: "Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações... a fim de saberdes que esperança constitui o Seu chamamento, que tesouros de glória encerra a Sua herança entre os santos" (Ep 1,16-18).

2. O tema do vosso encontro remonta às origens. Pergunta-se que perspectivas têm os religiosos na Europa, no início do terceiro milénio. Por um lado, é a exigência de vos empenhardes nos conselhos evangélicos de pobreza, obediência e castidade, por outro, com o vosso estilo de vida, deparais no velho continente com os contemporâneos que não mais ou ainda não compreendem o Evangelho de maneira profunda. O Evangelho e o mundo: a vossa existência é tensa entre estes dois polos. Como diminuir esta tensão?

3. "Deus é amor", escreve o Apóstolo João (1Jn 4,8): amor que chama e amor que envia. Daquela "fonte de amor", que é Deus Pai, deriva a missão do Filho e do Espírito Santo. É o amor divino que através da história chama homens e mulheres a unir-se a Si de maneira particular. É este mesmo amor divino que envia homens a anunciar o Evangelho. Como é encorajador a este propósito dirigir o olhar para os religiosos, que no decurso dos séculos se ergueram no horizonte da Europa e até aos dias de hoje nos circundam como "uma nuvem de testemunhas" (He 12,1), a fim de que Cristo possa abrir caminhos neste continente!

4. Todavia, não há nenhuma receita infalível para reevangelizar a Europa. É precisamente o amor que os homens e as mulheres de vida consagrada devem aos seus contemporâneos. O mistério de toda a evangelização consiste na descoberta de que o amor para com Deus se deve transformar em serviço ao próximo. Por isso, o testemunho vivido com um amor puro e autêntico é a melhor carta de recomendação que os religiosos podem apresentar. Às vezes é lida e observada por aqueles para quem Cristo é um estranho ou que se afastaram da sua Igreja.

Por isso, espero que a vida consagrada vos una mais estreitamente a Deus e vos torne mais próximos das pessoas, contribuindo desse modo para a renovação da Igreja: "De facto, a missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se fortalece!" (Redemptoris missio, RMi 2). Se estiverdes atentos a um testemunho de vida credível, então, sem dúvida, contribuireis para o rejuvenescimento e o aformoseamento da Igreja como Esposa de Cristo. Ao mesmo tempo, experimentareis alegremente que não sois somente administradores de uma rica herança, mas também precursores do futuro que o Senhor deseja preparar para o terceiro milénio da Igreja e das vossas comunidades.

5. Não quero terminar as minhas reflexões sem mencionar um problema que preocupa muitos de vós. A falta de vocações e o envelhecimento de muitas comunidades podem alimentar a tentação de desencorajamento ou de vos fechardes dentro dos vossos quatro muros. Fechar os olhos perante as coisas não é, certamente, um caminho a percorrer. Além disso, a confiança em Deus ensina-nos que a realidade autêntica supera em muito os números e as estatísticas. Espero que vós, com as vossas comunidades, descubrais sempre mais espaços em que se pedem e se oferecem a cooperação e a permuta recíproca. Quando fordes surpreendidos por pensamentos negativos, lembrai-vos das palavras encorajadoras que Jesus dirigiu uma vez aos seus discípulos hesitantes: "Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o seu Reino" (Lc 12,32).
Por intercessão da Mãe de Deus, rezo a Jesus, cabeça da Igreja, que fortaleça os vossos bons esforços e que realize as vossas esperanças. Que leve a bom termo nas vossas famílias religiosas a obra da graça, que Ele iniciou na criação de cada um, de maneira que os Institutos de Vida Consagrada se tornem sempre aquilo que são: instrumentos ao serviço da nova evangelização da Europa! Com estes votos concedo-vos do coração a Bênção Apostólica.



Vaticano, 17 de Novembro de 2001.




AOS PRESIDENTES DAS REGIÕES E DAS PROVÍNCIAS AUTÓNOMAS ITALIANAS


29 de Novembro de 2001



Ilustres Senhores
Presidentes das Regiões
e das Províncias autónomas italianas
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Sinto-me satisfeito por dirigir a minha muito cordial saudação a todos vós. Obrigado por esta vossa visita! Saúdo antes de mais o Doutor Enzo Ghigo, Presidente da Conferência das Regiões, e agradeço-lhe as palavras amáveis, assim como os votos de felicidades que há pouco me quis dirigir em nome dos presentes. Dirijo o meu afectuoso pensamento para cada um de vós, para os vossos colaboradores e para as populações das diversas zonas da Itália que aqui representais.

As Regiões italianas estão hoje a atravessar uma fase de não leves mudanças e de grandes expectativas. Na actuação do princípio autonómo, sancionado pela Constituição da República (cf. art. 5), e aplicando o princípo da subsidiariedade, foram-lhes atribuídas competências específicas para o exercício do poder legislativo e a administração das comunidades locais. Foi-lhes oferecida, assim, a oportunidade de traçar, de harmonia com a Constituição, uma forma própria de governo, juntamente com os princípios fundamentais de organização e de funcionamento.

A elaboração de estatutos confiados totalmente à determinação autónoma constitui por certo o reconhecimento do seu crescente papel na sociedade italiana. Ao mesmo tempo, assinala uma ocasião singular para repensar as instituições públicas, na sua estrutura e nas relações com a comunidade local, que elas representam.

2. Ilustres Senhoras e Senhores! Agindo com espírito de altruísmo e de leal cooperação, fazei com que as instituições ofereçam a todos os cidadãos, sem qualquer discriminação, "a possibilidade efectiva de participar livre e activamente tanto no estabelecimento dos fundamentos jurídicos da comunidade política, como na gestão da vida pública e na determinação dos limites do campo de acção das várias instituições" (Gaudium et spes, GS 75). Estas são indicações do Concílio Vaticano II que mantêm ainda a sua força e o seu valor. Que elas sejam uma orientação para vós no vosso dever tão vasto e cheio de responsabilidade!

De facto, não vos é pedido que façais uma simples reorganização das instituições. É preciso, também, assegurar que as instituições sejam sempre capazes de promover a solidariedade entre as pessoas, procurar o bem comum e acolher o original e autónomo contributo das formações sociais, reconhecendo-lhes um específico campo de acção, segundo o princípio da subsidiariedade.

Quero, pois, recordar que, no respeito das competências recíprocas, se abrem espaços de frutuosa colaboração mesmo entre as Regiões e as várias articulações das Comunidades eclesiais locais, como está previsto, de resto, no art.º 1 do acordo de revisão de 1984 do Tratado de Latrão, acerca da colaboração recíproca entre o Estado e a Igreja Católica "para a promoção do homem e o bem do País".

3. Para dar solução aos emergentes desafios sociais e económicos do momento presente, é pedido o contributo generoso de todos. Os administradores públicos, aos quais o povo confiou encargos de orientação e de governo, devem fazer constante referência a isso, considerando a actividade política e administrativa como um serviço.

No centro de todos os vossos projectos e intervenções esteja, portanto, sempre o homem. Prestai particular atenção à família, cuja missão é fundamental para a construção da sociedade. Facilitai a formação do núcleo familiar, apoiando-o com medidas apropriadas no cumprimento das funções que lhe são peculiares. Penso, entre outras coisas, nas expectativas dos jovens casais, nas dificuldades conhecidas com o trabalho e a casa que, muitas vezes, retardam muito o matrimónio e a formação da família, a educação dos filhos e a necessária ajuda mútua entre os membros do lar. Preocupai-vos com o mundo da escola. Neste campo, concorrem competências estatais e regionais, que são igualmente orientadas para garantir a liberdade das opções educativas de cada família.

E que dizer, pois, da solidariedade para com as pessoas débeis, doentes ou em dificuldade?

Graças a opções atentas de política social, não lhes deixeis faltar o apoio necessário para dar solução aos seus complexos e múltiplos problemas. Seja um vosso cuidado constante ir ao encontro de tudo o que diz respeito à vida e necessidades do ser humano: desde a saúde à assistência social, à instrução e formação profissional, à cultura e bens histórico-artísticos, ao trabalho e actividade produtiva, ao arranjo do território e tutela do meio ambiente.

4. A legítima pluraliddae de orientações, nas quais se manifesta a identidade específica e a autonomia de cada Região, não se opõe à necessária solidariedade e à cooperação que não deve faltar com as diversas relidades locais. Assim, cada Região ou Província Autónoma deve estar sempre animada pela consciência e responsabilidade de que pertence a uma única e unitária comunidade nacional. Vivemos, é verdade, numa sociedade globalizada, mas é necessário salvaguardar também os direitos das entidades locais, embora conjugando-os sempre com as exigências da comunidade universal.

Além disso, a abertura a relações directas com Regiões de outros Países poderá concorrer para o desenvolvimento de um frutuoso conhecimento recíproco e colaboração entre povos diferentes pela história e pela cultura. Isto é válido, especialmente, para as Regiões que se reconhecem pela pertença comum ao Continente europeu. Este é um elemento significativo de integração capaz de favorecer a construção da unidade, respeitando e valorizando as identidades locais de cada uma.

Fiéis às suas raízes e abrindo-se a outras realidades, as Regiões italianas poderão renovar as próprias instituições, mantendo sólida a relação com as comunidades que representam e contribuindo para a construção de uma sociedade mais vasta, livre e solidária.

5. Ilustres Senhoras e Senhores! Faço votos para que o vosso trabalho seja cada vez mais incisivo e frutuoso, atento às expectativas quotidianas e às necessidades das pessoas. Podereis prtestar um serviço notável às vossas comunidades se, indo ao encontro das suas legítimas expectativas, mantiverdes o olhar aberto às necessidades do mundo. Deus vos proteja e torne frutuosos os esforços que desenvolveis para servir cada pessoa humana, criada à sua imagem e semelhança. A Virgem Maria, tão querida do povo italiano, vos assista e acompanhe maternalmente.

Asseguro-vos uma lembrança especial na oração e com afecto concedo-vos a Bênção Apostólica a vós aqui presentes, aos vossos familiares e colaboradores, assim como a quantos aqui representais.




AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DA COSTA RICA EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


30 de Novembro de 2001







Estimados Irmãos no Episcopado

1. Durante estes dias da vossa visita ad Limina, tivestes a oportunidade de venerar os túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, renovando diante deles a vossa fidelidade à fé recebida, e de revitalizar o vosso espírito evangelizador, que fez destas grandes testemunhas de Cristo, juntamente com todos os outros Apóstolos, o fundamento sólido da Igreja de todos os tempos (cf. Ef Ep 2,20). Pois bem, é como um regresso às próprias origens do ministério apostólico que desempenhais nas diversas Igrejas particulares da Costa Rica, plantando e regando a semente do Evangelho, a fim de que Deus a faça crescer abundantemente (cf. 1Co 6-7).

É com este Espírito que vos recebo hoje com grande alegria, para compartilhar convosco as vossas preocupações pastorais, animar os vossos esforços em ordem a incutir cada vez mais o Evangelho no coração dos queridos filhos e das amadas filhas da Costa Rica e cumprir a tarefa que Jesus transmitiu a Pedro, de confirmar os seus irmãos na fé (cf. Lc Lc 22,32).

Agradeço cordialmente a Sua Ex.cia D. Román Arrieta Villalobos, Arcebispo de São José e Presidente da Conferência Episcopal, as palavras que me quis dirigir em nome de todos, expressando a proximidade e o espírito de comunhão com o Bispo de Roma, a quem estais unidos por laços de unidade, de amor e de paz (cf. Lumen gentium, LG 22). Nelas sinto inclusivamente a palpitação de um povo "de história fecunda e amante da paz" (Discurso de saudação no aeroporto de São José, 2 de Março de 1983, n. 1), de que conservo uma grata recordação por ocasião da minha visita pastoral à Costa Rica em 1983.

2. Apraz-me saber que, perante os desafios do novo milénio, o vosso País está aberto à esperança, fundamentada sobretudo na abnegação generosa dos Pastores e dos seus colaboradores na missão evangelizadora. Durante este ano, ela é animada pela comemoração do centenário de um vosso exímio predecessor, Sua Ex.cia D. Bernardo Agusto Thiel, segundo Bispo de São José, que desenvolveu uma vasta e fecunda actividade pastoral e soube lançar prontamente as primeiras sementes da doutrina social da Igreja. É a ele que se deve, em boa parte, a ampla tradição de democracia, de diálogo e de tolerância na Costa Rica, herança preciosa que vos há-de levar a uma renovada confiança na força pacificadora do Evangelho, num momento histórico em que este valor, indispensável para as nações e para o conjunto do género humano, parece estar profundamente ameaçado e quase impossível de alcançar. Esta convicção ajudará também a realçar com clarividência cristã os actuais processos de convivência social, um dos quais é a presença, na Costa Rica, de numerosos emigrantes provenientes dos países vizinhos.

Também constitui um motivo de satisfação a vossa sensibilidade em ordem a conservar e a incrementar o espírito de comunhão, tanto em cada uma das vossas comunidades eclesiais como entre vós mesmos e com as Igrejas irmãs da América Central. Estas relações adquirem um grande valor, não somente porque promovem com maior eficácia determinados aspectos da acção pastoral, mas também porque fazem da Igreja "a casa e a escola da comunhão", que constitui "o grande desafio que nos espera no milénio que começa" (Novo millennio ineunte, 43).

3. A espiritualidade da comunhão ocupa um privilegiado âmbito de aplicação nos relacionamentos entre os Bispos e os seus sacerdotes, em virtude da perfeita harmonia que deve existir entre o Pastor e os seus mais imediatos colaboradores no impulso da pastoral conjunta de toda a diocese (cf. Christus Dominus, CD 16). Nos relatórios que enviastes, realçastes a atenção especial que dedicais ao vosso clero, relativamente numeroso em termos de comparação, de quem agora vos preocupa sobretudo a renovação espiritual e pastoral. Desejais que cada sacerdote viva "o seu encontro pessoal de Jesus Cristo vivo, para se tornar um agente qualificado de conversão, de comunhão e de solidariedade e, desta forma, impelir a nova evangelização", como afirmais na mais recente mensagem que enviastes aos vossos presbíteros (Mensagem dos Bispos da Costa Rica aos seus Presbíteros, "El sacerdote que queremos", 12 de Abril de 2001, IV).
Tudo isto deve traduzir-se em acções concretas que levem a um discernimento mais atento na admissão dos aspirantes, a uma intensificação da formação especificamente espiritual dos seminaristas, acompanhando-os e orientando-os "para uma maturidade afectiva que os faça aptos para abraçar o celibato sacerdotal e capazes de viver em comunhão com os seus coirmãos na vocação sacerdotal" (Ecclesia in America ). Tão-pouco se devem esquecer os necessários programas de formação permanente para todos os presbíteros, uma vez que, se a acção pastoral tem como objectivo prioritário a santidade, os ministros do Evangelho devem ser os primeiros a oferecer um testemunho deste "dever que há-de moldar a existência cristã inteira" (Novo millennio ineunte, 30). Neste aspecto, é insubstituível o tratamento pessoal, amistoso e próximo do Bispo em relação aos seus sacerdotes, para os animar na sua vocação, orientar nas suas actividades, despertar neles o zelo apostólico e, se for necessário, os corrigir paternalmente, com bondade e com prontidão.

4. Tanto na Costa Rica como noutros países, a humanidade está a viver um momento dramático e, ao mesmo tempo, fascinante. Por um lado, parece difundir-se em toda a parte um estilo de vida baseado em critérios meramente materiais, que encorajam o consumismo superficial, que comporta muitas consequências negativas para a dignidade das pessoas e para o bem comum da sociedade em geral. Por outro, assiste-se sem dúvida ao renascimento de um profundo espírito religioso, bem enraizado no povo da Costa Rica, e à busca de um profundo e consistente sentido da vida. Neste contexto, tem uma actualidade ainda maior a urgência de "recuperar e repropor o verdadeiro rosto da fé cristã, que não é simplesmente um conjunto de proposições a serem acolhidas e ratificadas com a mente. Trata-se, antes, de um conhecimento existencial de Cristo, uma memória viva dos seus mandamentos, uma verdade a ser vivida" (Veritatis splendor VS 88). Com efeito, a Igreja tem a missão de levar a luz do Evangelho a todos os âmbitos da existência humana, com a finalidade de que todos os homens sejam salvos (cf. Lumen gentium, LG 24) e em cada um se realize a vocação universal para a santidade.

Por este motivo, é de suprema importância que se empreenda com decisão uma acção evangelizadora que não somente alcance todos os sectores da sociedade, mas que faça aumentar nos fiéis a alegria de acreditar e celebrar a sua fé, a sua responsabilidade de ser membros do Corpo de Cristo (cf. 1Co 12,27) e a sua participação na missão de proclamar a Boa Nova a toda as criaturas (cf. Mc Mc 16,15). Por isso, é necessário um impulso decisivo da catequese que, de forma paulatina, constante e perfeitamente esquematizada, proporcione uma formação cada vez mais consistente na fé. Desta maneira, preparam-se os cristãos de hoje para responderem às pessoas que lhes perguntarem a razão da sua esperança (cf. 1P 3,15) no meio das tendências seculares. Ao mesmo tempo, fazendo-se eco fiel do ensinamento de Jesus Cristo, que sucitava uma grande maravilha nas multidões (cf. Mt Mt 22,22-23), oferece-se o verdadeiro sentido transcendente da existência, prevenindo assim o avanço do proselitismo das seitas e dos novos grupos religiosos (cf. Ecclesia in America ).

5. Conheço perfeitamente os vossos esforços em ordem a empenhar os leigos nesta tarefa, como já vos disse durante a minha visita à Costa Rica (cf. Discurso aos Bispos da América Central, 2 de Março de 1983, n. 3), e é com satisfação que tomo conhecimento do aumento do número dos catequistas nas vossas dioceses durante os últimos anos. Muitas vezes, eles constituem os canais mais próximos, através das quais o dom da fé cresce nas crianças e ilumina as diversas fases e situações da vida, e por isso merecem uma especial atenção da parte dos Pastores, de maneira a que não lhes falte a devida formação teológica e espiritual; que, com a sua vida, sejam testemunhas daquilo que ensinam; e que tomem plena consciência do transcendente da sua missão na Igreja.
Além disso, em virtude do seu especial vínculo à paróquia ou às outras comunidades eclesiais, da sua formação teológica e da sua familiaridade com a doutrina da Igreja, os catequistas leigos devem ser também cristãos comprometidos nos vários âmbitos da vida quotidiana. Deste modo, oferecem a sua colaboração aos Pastores, nas áreas mais directamente pastorais, com a sua vocação específica, que os leva a actuar na ordem temporal "de maneira directa e concreta, orientados pela luz do Evangelho e pelo pensamento da Igreja, impelidos pelo amor cristão" (Apostolicam actuositatem, AA 7 cf. Novo millennio ineunte AA 46).

As grandes esperanças que na Costa Rica, assim como na América e nas outras Igrejas do mundo inteiro, são depositadas nos leigos, constituem uma exortação aos Pastores, para que sintam como uma urgência insubstituível promover com esmero a sólida formação na vida espiritual e nos cristérios cristãos, que os fiéis leigos devem tornar operativa no mundo da família, da sociedade, da política, do trabalho ou da cultura (cf. Ecclesia in America ). Por isso, serão de grande ajuda a presença próxima e a promoção de movimentos ou associações específicas, que sirvam de canal para um apoio mútuo dos seus membros, para uma mais fácil inserção das novas gerações e para a realização mais organizada e estável dos seus compromissos.

6. Também manifestastes a vossa preocupação pela situação da família no vosso País, que não está imune da "crise generalizada e radical desta instituição fundamental" (Novo millennio ineunte, 47). Talvez nalgumas das vossas dioceses este fenómeno pode ter causado um impacto especial, tanto pela rapidez com que se produziu como pela grande estima que em geral se tem pela família, provocando um certo desânimo perante um fenómeno inesperado e, aparentemente, inexorável. Por isso, desejo recordar-vos as confortadoras palavras de Jesus, quando os seus discípulos mais próximos titubearam: "Tranquilizai-vos, sou Eu; não tenhais medo!" (Mt 14,27). Com estas palavras na mente e no coração, havemos de afastar a tentação de renunciar ao dever de velar pelo grande tesouro de amor e de vida que Deus nos concedeu, com a instituição familiar, assente no matrimónio indissolúvel.

Com efeito, a Igreja não pode ficar impassível, quando se interroga sobre o dom e o direito fundamental à vida, desde o seu início; ou quando se empobrece o amor dos esposos, se degrada o valor da fidelidade recíproca ou se interrompe a relação natural entre o homem e a mulher, que alcança a sua plenitude autêntica no matrimónio. Em virtude da fidelidade ao Evangelho e da valorização radical da dignidade de todo o ser humano, não se pode ser neutro perante fenómenos que denotam uma cultura hedonista, egoísta e mortífera, por maiores que sejam as dificuldades e por mais poderosas que se manifestem as influências externas.

A este respeito, é necessário revitalizar constantemente uma pastoral da família que prepare de maneira adequada os jovens para formar um lar renovado; que acompanhe inclusive os casais nas dificuldades que podem vir a encontrar, ajudando-os a aceitar com alegria os filhos, a educá-los com ternura e a transmitir-lhes a fé. Também será preciso encorajar as condições sociais, económicas e legais que melhor salvaguardam a unidade e a estabilidade dos lares, convidando as próprias famílias a "tornar-se sujeitos activos, na Igreja e na sociedade, com uma presença eficaz na defesa dos seus direitos" (Novo millennio ineunte, 47).

7. Além disso, neste encontro convosco desejo referir-me a um sector extremamente decisivo para a Igreja, que é o dos Institutos religiosos e das outras pessoas consagradas. Eles têm contribuído de maneira determinante, não só para a evangelização das vossas terras, mas também para formar em boa medida a própria identidade cultural da Costa Rica, fortalecendo de modo muito significativo a actual acção pastoral nos vários sectores.

A Igreja não cessa de dar graças ao Espírito pela vida consagrada, que Ele mesmo suscitou no seu seio, a qual "assenta as suas raízes no Evangelho e produz frutos abundantes em cada estação" (Vita consecrata VC 5). Alguns destes frutos são bem visíveis através nas numerosas obras e instituições dedicadas à educação, ao apostolado juvenil, ao cuidado dos enfermos ou à atenção às múltiplas formas de pobreza e de marginalização. Contudo, além das suas actividades concretas, a comunidade eclesial deve valorizar o facto de que constitui "uma manifestação particularmente rica dos valores evangélicos e uma actuação mais completa do objectivo da Igreja" (Vita consecrata VC 32). O desenvolvimento da vida consagrada em cada uma das Igrejas particulares denota, de certa forma, a sua capacidade de apresentar Jesus Cristo com um vigor e um atractivo que sejam capazes de suscitar em muitos dos seus membros os desejos de O seguir com uma radicalidade evangélica total.

Por isso, é aos Pastores que cabe o dever de promover as vocações também para a vida consagrada, e de velar para que seja respeitada a identidade própria de cada Instituto (cf. Código de Direito Canónico, cânn. 385 e 586), em cuja ordem devem fomentar entre os fiéis a estima de uma vida totalmente consagrada a Deus e estabelecer formas de pastoral vocacional que manifestem "o compromisso conjunto de toda a Igreja" neste campo (cf. Vita consecrata VC 64).

8. Então encorajo-vos, queridos Irmãos Bispos da Costa Rica, a continuar a dar um renovado impulso às tarefas da nova evangelização, para cumular com a mensagem de Cristo os anseios mais profundos de todos os membros do Povo de Deus: crianças e jovens, enfermos e idosos, mulheres e homens, famílias e povos, pobres e desamparados. Ponho debaixo da salvaguarda de Nossa Senhora dos Anjos, Mãe e Advogada do Povo da Costa Rica, os propósitos pastorais que vos animam e que, com a estreita colaboração dos sacerdotes, das pessoas consagradas e dos leigos comprometidos, hão-de revigorar no início deste milénio a determinação da fé nas Igrejas particulares que vos foram confiadas.

Enquanto agradeço a generosidade com que desempenhais o vosso ministério, peço-vos que transmitais às comunidades que esperam por vós depois desta visita ad Limina, a saudação cordial e a proximidade afectuosa do Papa, juntamente com a Bênção apostólica, que vos concedo do íntimo do coração.





Discursos João Paulo II 2001 - Sábado, 24 de Novembro de 2001