Discursos João Paulo II 2001 - 6 de Dezembro de 2001

AO EMBAIXADOR DA FINLÂNDIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


6 de Dezembro de 2001






Senhor Embaixador

1. Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência nesta solene circunstância da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República da Finlândia junto da Santa Sé.

Senhor Embaixador, agradeço-lhe profundamente as saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência a Senhora Tarja Halonen, Presidente da República. Ficar-lhe-ia grato por se dignar transmitir os meus respeitosos votos pela sua pessoa, assim como pelo povo finlandês que hoje celebra a sua festa nacional. Peço a Deus que acompanhe os esforços de cada um na obra de edificação de uma nação cada vez mais fraterna e solidária.

2. Vossa Excelência recordou que a Finlândia festeja hoje o 84º aniversário da sua independência, adquirida durante a tragédia da grande guerra que assolou a Europa. O seu país, que se empenha sempre pela busca da paz, uniu-se ao projecto de reconstrução da Europa, e actualmente participa nele plenamente. A Santa Sé, como Vossa Excelência sabe, segue com atenção o desenvolvimento desta realização, que se distingue pelo espírito de diálogo e de negociação, dado que permitiu a nações outrora inimigas empenharem-se primeiro num projecto de cooperação recíproca, e depois, numa verdadeira comunidade de nações. A moeda comum, que começará a circular a partir de 1 de Janeiro próximo, representa mais um passo no caminho desta evolução. O processo de alargamento da União a novos países membros na Europa já está claramente em curso, e com isto nos alegramos; como não pensar no facto de que o que se realiza neste continente não possa, duma ou doutra forma, ser um exemplo para muitas outras nações ou regiões do mundo ainda submetidas à hostilidade e aos conflitos internos? Felicitamo-nos porque, neste espírito, o seu país, consciente desta responsabilidade moral e política da Europa, se empenha com determinação na defesa dos direitos do homem e na ajuda aos países em vias de desenvolvimento.

3. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, realçou também como a situação internacional que o nosso mundo vive há vários meses suscita questões junto das Autoridades civis das nações e dos seus cidadãos. Além do terrível e intolerável desencadeamento do terrorismo que atingiu os Estados Unidos da América, esta situação realçou as graves tensões que ameaçam os equilíbrios frágeis entre as nações, e as situações de injustiça que, desde há muito tempo causam danos e fomentam o rancor e o ódio, se tornaram verdadeiras fontes de violências entre os homens. Como Vossa Excelência recordou oportunamente, esta situação leva-nos a fazer uma reavaliação do mundo actual e a interrogar-nos sobre quais sejam os nossos valores fundamentais.

O projecto europeu, que acabamos de recordar, não nasceu por acaso. Ele tem uma história e uma alma, forjadas ao longo de séculos de tradição cultural, moral e religiosa, onde a fé cristã ocupa um lugar importante que ninguém pode negar. E se hoje os Estados europeus vivem segundo o princípio da legítima autonomia das realidades terrestres, eles não podem nem devem esquecer a tradição que está na sua origem. O homem europeu tem o gosto da liberdade e o sentido da pessoa, conhece os direitos do homem e a dignidade fundamental de cada um, e deseja a paz. Deve tudo isto em grande parte a esta rica história. A Europa está chamada a manter viva esta herança, dando um novo vigor às instituições que estão na base da sua vida social, como o matrimónio e a família. Ela não pode deixar de proclamar os direitos imprescindíveis da pessoa e, ao mesmo tempo, deixar que se atente contra a existência do homem, quer no seu início quer no seu fim, ou mediante manipulações que são contrárias ao respeito devido a qualquer ser humano. Oxalá ela possa, ao contrário, promover em todos os campos uma verdadeira cultura da vida!

4. Sinto-me feliz por poder saudar, através de Vossa Excelência, a comunidade católica da Finlândia. Ela é pouco numerosa e está habituada a viver um ecumenismo na vida quotidiana com os cristãos de outras confissões, que são os mais numerosos. Encorajo-os a assumir o seu lugar original na sociedade finlandesa, testemunhando com convicção a sua fé em cristo, desenvolvendo os vínculos fraternos na oração e mediante o testemunho com os irmãos cristãos de outras confissões, em comum, todas as vezes que for possível. Alegro-me por saber que a presença da Igreja católica é apreciada no seu país, não só pelo seu contributo espiritual mas também pelo social e educativo, e faço votos para que a nova lei sobre a liberdade religiosa permita reconhecer e promover concretamente uma igualdade cada vez maior entre todas as religiões oficialmente reconhecidas na Finlândia.

5. Senhor Embaixador, hoje Vossa Excelência inicia a nobre missão de representar o seu país junto da Santa Sé. Digne-se aceitar os votos mais cordiais que formulo pelo seu feliz êxito e tenha a certeza de que terá sempre a compreensão e o apoio necessário dos meus colaboradores!

Sobre Vossa Excelência, a sua família, os seus colaboradores e sobre todos os seus compatriotas, invoco do coração a abundância das Bênçãos divinas.






AO EMBAIXADOR DA ERITREIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 6 de Dezembro de 2001




Senhor Embaixador

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano, neste dia em que Vossa Excelência apresenta as Cartas que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Estado da Eritreia junto da Santa Sé. As saudações que me transmitiu da parte do Presidente, Sua Ex.cia o Senhor Isaías Afwerki, assim como do Governo e do Povo da Eritreia são muito apreciadas, e asseguro-lhe os meus sinceros bons votos pelo bem-estar do seu País, de maneira especial neste período em que está a esforçar-se para se restabelecer das devastações da guerra e para dar aos seus cidadãos a possibilidade de voltar a levar uma vida normal.

Quando falou dos Acordos de Cessação das Hostilidades, assinados pela Eritreia e pela Etiópia no ano passado, Vossa Excelência fez uma alusão às dificuldades e às tensões ainda existentes no caminho da plena realização das exigências de tais acordos. Sem dúvida, o compromisso incessante de todas as partes é absolutamente necessário, se se quiser alcançar uma paz justa e duradoura, assente na reconciliação e na cooperação. A comunidade internacional não pode esquecer a sua responsabilidade a respeito disto. Embora se tenha em consideração a emergência a longo prazo, em que o mundo veio a encontrar-se a partir do dia 11 do passado mês de Setembro, contudo os países mais desenvolvidos devem continuar a oferecer a assistência necessária em muitas outras situações, se quiser alcançar uma paz e solidariedade a nível mundial.

Nas últimas décadas, observou-se a existência de um laço estreito entre a paz e o desenvolvimento, dois dos maiores desafios que se apresentam ao nosso mundo contemporâneo.

Na perspectiva dos recentes ataques terroristas e dos consequentes acontecimentos, a relação entre o progresso autêntico e a paz verdadeira foi posta numa óptica ainda mais clara. Tornou-se mais evidente que as relações políticas e económicas entre nações e povos devem edificar-se sobre um novo fundamento. Há que deixar de lado os interesses egoístas e os esforços que visam revigorar as posições de domínio. As nações em vias de desenvolvimento não podem ser consideradas como simples fontes de matéria-prima ou mercados para produtos já manufacturados, mas como verdadeiros parceiros numa ordem internacional mais justa, parceiros que têm uma contribuição vital a oferecer para o bem de toda a família humana.

Há urgente necessidade de uma filosofia do progresso que seja mais elevada. As políticas do desenvolvimento não podem limitar-se unicamente ao encorajamento do progresso material; elas devem ter em vista ajudar os homens e as mulheres a alcançar a verdadeira liberdade à qual todos os povos aspiram de modo profundo e constante. A busca da liberdade deriva do sentido da dignidade e do valor inestimáveis da pessoa humana, e é precisamente este valor inalienável de todas e de cada uma das pessoas que há-de ser aceite como critério para a acção económica, social e política. A pessoa humana deve ser sempre o ponto central. A todos os níveis de desenvolvimento, é necessário um compromisso resoluto em favor dos direitos e da dignidade inalienáveis do ser humano. É este empenhamento que a Santa Sé procura promover e fortalecer através da sua presença no seio da comunidade internacional.

De resto, é necessária uma compreensão correcta da pessoa humana, se a promoção do desenvolvimento e o impulso da paz quiserem obter bons resultados. A Igreja tem um importante contributo a oferecer neste campo específico. Através do seu ensinamento social, ela procura aumentar a consciência a respeito das exigências da justiça e da solidariedade. Compartilhando com os povos do nosso tempo o profundo e ardente desejo de uma vida justa e digna em todos os seus aspectos, a Igreja está comprometida em muitos esforços práticos que visam melhorar a sociedade e corresponder às necessidades humanas concretas. Esta é a motivação que se encontra na base do seu trabalho nos campos da educação, da assistência médica e dos serviços sociais em geral, que ela desempenha em fidelidade ao seu divino Fundador, que "não veio para ser servido, mas para servir" (Mt 20,28). Neste momento, desejo expressar a minha gratidão pelas suas palavras de estima a propósito da contribuição positiva que a Igreja tem oferecido em favor da sociedade eritreia e, agora, de maneira especial com os esforços em ordem a ajudar as vítimas da guerra.

Senhor Embaixador, durante o período da sua missão não lhe faltará a assistência da parte da Santa Sé, em benefício do cumprimento das suas responsabilidades. Transmito-lhe os meus melhores votos para o bom êxito dos seus esforços que visam desenvolver daqui em diante os relacionamentos já existentes entre o seu País e a Santa Sé, e rezo a fim de que Deus todo-poderoso lhe conceda, assim como ao seu amado povo eritreu, as abundantes Bênçãos celestiais.






AO PRIMEIRO EMBAIXADOR DA GEÓRGIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 6 de Dezembro de 2001







Senhor Embaixador

É com grande prazer que o recebo hoje e aceito as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeado primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Geórgia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as saudações que me transmitiu da parte do Presidente, Sua Ex.cia o Senhor Eduard Shevardnadze, e peço que lhe comunique, bem como ao Governo e ao povo da Geórgia, os meus bons votos e a certeza das minhas preces pela paz e a prosperidade da Nação. A vossa presença hoje aqui, que está a inaugurar um novo período de relações diplomáticas formais entre a Geórgia e a Santa Sé, constitui uma ocasião muito estimada, repleta de esperança e de promessas.

Estou-lhe grato pelas suas palavras de apreço acerca dos esforços da Santa Sé em ordem a edificar a paz e promover a reconciliação, diante daquilo que Vossa Excelência define como "a emergência e o crescimento de antigas e novas tensões, em inúmeras partes do mundo". Através da sua actividade, inclusivamente das suas relações diplomáticas, a Santa Sé procura ajudar todas as pessoas a levar uma vida plenamente humana, em paz e harmonia, tendo em consideração também o desenvolvimento integral dos indivíduos e das nações. Vossa Excelência falou sobre os esforços que a Geórgia está a fazer em ordem a "revigorar os princípios democráticos... e a assegurar a salvaguarda das liberdades fundamentais de todos os cidadãos"; e tais princípios e liberdades constituem também um elemento fulcral na perspectiva da Santa Sé, no que diz respeito às questões internacionais.

A abordagem da Santa Sé é singular, porque não está vinculada ao interesse nacional de qualquer género, mas procura o bem comum de toda a família humana. Trata-se de uma perspectiva orientada não pela ideologia, mas por uma visão da pessoa humana, e por uma convicção de que se abala o próprio fundamento da sociedade humana, quando esta visão é debilitada ou abandonada. É uma óptica de liberdade que, por si só, oferece uma base sólida para actividades políticas e diplomáticas construtivas. A história da sua nação ensina que a liberdade é sempre frágil; e o século passado demonstrou de modo dramático que a liberdade se desintegra, quando é negada a verdade sobre a pessoa humana.

A mais destrutiva das falsidades acerca da pessoa humana, produzida pelo século XX, nasceu das visões materialistas do mundo e da pessoa. O comunismo e o fascismo foram eliminados, mas na sua esteira às vezes vemos novas formas de materialismo, talvez menos ideológicas e menos espectaculares nas suas manifestações e contudo, à sua maneira, igualmente destruidoras. Elas derivam de uma visão deturpada da pessoa humana, considerada quase exclusivamente sob o ponto de vista do bem-estar económico. É natural e justo que as pessoas aspirem ao bem-estar, mas há outras características fundamentais da nossa humanidade que também devem ser consideradas.

Durante a minha breve mas intensa visita à Geórgia, realizada em 1999, percebi claramente que, embora tenham sido obrigados à clandestinidade no decorrer dos anos da opressão comunista, os recursos espirituais e culturais da Nação ainda são vibrantes. Não obstante o processo de reconstrução ser mais difícil e mais complexo do que se esperava ou se imaginava há uma década, o comunismo não conseguiu afastar completamente a cultura georgiana das suas fontes religiosas.

Estou persuadido de que estas são as garantias mais convincentes de que, por detrás das dificuldades do tempo actual, há um futuro luminoso.

Enquanto falo sobre o processo de reconstrução do País, permita-me reiterar aquilo que disse em Tbilisi: "Um dos desafios mais difíceis do nosso tempo é o encontro entre a tradição e a modernidade. Este diálogo entre o antigo e o novo determinará, em grande medida, o futuro das gerações mais jovens e, por conseguinte, o porvir da nação" (Discurso ao mundo da cultura e da ciência, 9 de Novembro de 1999, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 20.11.1999, PP 6-7). A redescoberta da profunda herança espiritual da Geórgia e do seu humanismo tradicional, que se desenvolveram ao longo de vários séculos de vida cristã, será o melhor instrumento para a sociedade realizar uma autêntica renovação cívica e cultural, a que muitos dos seus concidadãos aspiram.

Senhor Embaixador, estou convicto de que a missão diplomática que hoje tem início ajudará a fortalecer os vínculos de compreensão e de colaboração entre a Geórgia e a Santa Sé. Asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão disponíveis para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Enquanto lhe transmito todos os votos para o bom êxito da sua tarefa e para a sua felicidade, invoco sobre Vossa Excelência e o povo da sua querida terra, as abundantes bênçãos de Deus todo-poderoso.






AO EMBAIXADOR DO LESOTO JUNTO À SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 6 de Dezembro de 2001






Senhor Embaixador

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano, no início da sua missão como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino do Lesoto junto da Santa Sé. Ao receber as suas Cartas Credenciais, peço-lhe que transmita a Sua Majestade o Rei Letsie III e a Sua Excelência o Ilustríssimo Senhor Primeiro-Ministro os meus bons votos e a certeza das minhas preces pela paz e pela prosperidade da Nação.

Os trágicos acontecimentos mundiais dos últimos tempos e a crise em que a Comunidade internacional se encontra actualmente demonstram de maneira mais clarividente do que nunca a necessidade de uma radical renovação a níveis pessoal e social, em ordem a oferecer maiores justiça e solidariedade ao mundo. Sem dúvida, esta renovação vai exigir esforços enormes, por causa dos inúmeros desequilíbrios que ainda devem ser resolvidos.

Isto é dramaticamente verdadeiro acerca da África, cujos povos continuam a sofrer enormemente, debaixo do jugo da pobreza endémica, da instabilidade política, da desorientação social e da má administração dos recursos. Por conseguinte, durante todo o meu Pontificado procurei chamar a atenção para as necessidades da África e para a responsabilidade que as nações mais abastadas têm de contribuir de modo mais eficaz para o desenvolvimento dos seus povos; e faço-o de novo hoje, a fim de que os problemas das outras partes do mundo não desviem a atenção que é devida às urgentes necessidades da África.

Infelizmente, o interesse da Comunidade internacional por esse continente nem sempre foi motivado pela autêntica solicitude pelo bem-estar dos seus povos. É particularmente desencorajador o facto de que, com algumas excelentes excepções, se tem feito demasiado pouco em ordem a melhorar as oportunidades educativas para os jovens, dado que esta é uma das chaves para um futuro mais profícuo para os povos da África.

A falta de progresso significa que os países menores, como o Lesoto, se tornam particularmente vulneráveis às pressões económicas que acompanham o processo de globalização. Com efeito, há o perigo de que a globalização faça alargar o fosso já existente entre os ricos e os pobres, levando os países em vias de desenvolvimento, como o de Vossa Excelência, a enfrentar dificuldades cada vez maiores e desafios quase insuperáveis. Nesta situação, a Igreja continuará a trabalhar por uma globalização da solidariedade, em ordem a assegurar que os benefícios potenciais cheguem a todos os povos e alcancem cada um dos sectores da sociedade.

As pressões exercidas sobre a África não são exclusivamente externas, pois dentro do próprio continente africano os ventos de novidade estão a soprar com vigor (cf. Ecclesia in Africa ), e as pessoas tornam-se cada vez mais conscientes da sua dignidade humana e da necessidade de defender os seus direitos e as suas liberdades. Muitos países estão a lutar para consolidar a democracia a cada nível da vida pública e para ultrapassar a resistência à aplicação da lei. Vossa Excelência observou que o seu País está profundamente comprometido no processo de democratização que, sem dúvida, dará resultados positivos em termos de promoção dos valores da dignidade e dos direitos humanos, do bom governo, do diálogo e da paz. A Santa Sé apoia totalmente este processo, dado que não existe outro fundamento sobre o qual as nações possam edificar um futuro digno dos seus próprios cidadãos.

O processo de transformação, hoje evidente no Lesoto, está deveras longe de ser superficial. Com efeito, ele chega ao próprio centro da sua cultura, uma vez que atinge o sentido moral das pessoas que, por sua vez, está intimamente vinculado à religião (cf. Veritatis splendor VS 98). No âmago de cada cultura subsiste a atitude que os homens e as mulheres adoptam em relação ao maior mistério da vida: o mistério de Deus. Como observei na minha Carta Encíclica Centesimus annus, "as culturas das diversas Nações constituem, fundamentalmente, modos diferentes de enfrentar a questão sobre o sentido da existência pessoal: quando esta questão é eliminada, corrompem-se a cultura e a vida moral das Nações" (n. 24). Por conseguinte, enquanto os povos, as nações e os organismos internacionais procuram melhorar a vida social e política, incrementar a segurança e encorajar o desenvolvimento económico, não se pode deixar de promover, ao mesmo tempo, os valores e as perspectivas transcendentais que são autenticamente religiosas e que tornam os indivíduos, as comunidades e as nações capazes de progredir de maneira verdadeiramente humana. Entre as inúmeras implicações de tudo isto está o facto de que a pessoa humana deve ocupar o lugar central de toda a análise e de cada um dos actos decisórios, de tal maneira que o indivíduo receba os benefícios que lhe são próprios, e o bem comum seja efectivamente salvaguardado e promovido.

É esta visão da pessoa e da sociedade que inspira o compromisso da Igreja católica no serviço à família humana em todas as regiões do mundo, mediante a educação, a assistência médica e os programas de ajuda social. A este propósito, aprecio imensamente a sua observação de reconhecimento da influência positiva da Igreja católica no seu País, já a partir da época do Rei Moshoeshoe I. E a Igreja não deixará de oferecer toda a assistência possível, enquanto o Lesoto se encontra a lutar para passar desta era de tumultos para um porvir estável e próspero.
Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência entra na comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, asseguro-lhe que os departamentos da Cúria Romana estarão prontos a oferecer-lhe toda a assistência de que poderá precisar para o cumprimento dos seus deveres. A sua missão sirva para fortalecer os vínculos de compreensão e de cooperação entre a sua Nação e a Santa Sé. Sobre Vossa Excelência, a sua família e o amado povo do Lesoto, invoco as abundantes Bênçãos de Deus todo-poderoso.




À EMBAIXADORA DE RUANDA JUNTO À SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


6 de Dezembro de 2001






Excelência

No momento de receber as Cartas que a acreditam como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República de Ruanda junto da Santa Sé, apresento-lhes as boas-vindas ao Vaticano. Peço-lhe que tenha a amabilidade de transmitir ao Presidente, Sua Excelência o Senhor Kagame, assim como a todos os seus concidadãos, a certeza da minha proximidade, enquanto o seu País dá continuidade à difícil tarefa de reconstrução material e espiritual, depois dos imensos sofrimentos causados pela violência genocida na década passada. Deus omnipotente inspire no coração de todos um compromisso cada vez mais determinado em defesa dos valores da justiça, da solidariedade, da reconciliação e do perdão, que constituem o único fundamento seguro para o renascimento da Nação.

Tenho acompanhado com profundo interesse os incessantes esforços do seu País em ordem a restabelecer a unidade nacional, com base numa nova Constituição e renovados programas sociais, destinados a recuperar a prática da lei, a oferecer assistência aos sobreviventes do genocídio e a reintegrar os refugiados. O exigente compromisso de todos os ruandeses em favor da renovação social, política e moral é essencial não só para o futuro do seu País mas também, a nível mais vasto, para a pacificação de toda a Região dos Grandes Lagos. Formulo votos a fim de que, restabelecendo-se do pesadelo do passado ainda recente, Ruanda receba a assistência da Comunidade internacional nos seus esforços de reforma das estruturas da sociedade civil e de promoção de um desenvolvimento económico e humano integral, capaz de eliminar as mais profundas causas de injustiça e da agitação social.

Excelência, se os trágicos acontecimentos do passado recente revelaram o poder destruidor do mal e do ódio, a presente obra de reconstrução nacional oferece uma importante oportunidade para o povo ruandês dar testemunho do maior poder da magnanimidade, sempre presente no coração do homem, um bem que se exprime politicamente na busca de uma sociedade justa e fraternal, fundamentada no respeito incondicional pela dignidade e pelos direitos inatos de cada pessoa humana, independentemente da sua origem étnica ou da sua opinião política. Como a doutrina da Igreja afirma e a experiência no-lo demonstra, as mudanças externas nas estruturas e nos programas nunca são suficientes em si mesmas: o autêntico restabelecimento social exige uma notável renovação dos corações e das mentes, que possa transformar as atitudes inflexíveis e inspirar programas concretos. Isto é particularmente verdade no que se refere à administração da justiça, que deve salvaguardar e promover o bem comum e, ao mesmo tempo, tutelar escrupulosamente os direitos humanos, a prática da lei, a justiça e a equidade na aplicação do castigo, evitando de maneira especial as medidas drásticas como o recurso à pena de morte. Em última análise, não pode existir paz sem a firme resolução de respeitar e proteger a vida, como a realidade humana mais sagrada e inviolável: "Não se pode invocar a paz e desprezar a vida" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 19).

A Igreja católica no seu País colocou-se ao serviço deste grandioso renascimento moral e do programa de reconciliação e de renovação sociais. Durante este ano, a Igreja que está em Ruanda comemora o centenário da sua fundação e, recentemente, celebrou em união com a Igreja universal o grande Jubileu do nascimento de Jesus Cristo. Estes dois acontecimentos representaram um desafio para uma sóbria avaliação do seu passado, a "purificação da memória" e um renovado compromisso na sua missão divina. Através da sua proclamação do Evangelho e do seu testemunho das obrigações morais, a Igreja procura inculcar a reverência a Deus, Criador de todos, a compreensão do destino sublime de cada homem e de cada mulher, e a consciência da unidade divina da raça humana, uma unidade que abrange a diversidade e é por ela enriquecida. Aprecio profundamente as expressões de gratidão com que Vossa Excelência falou sobre as contribuições passadas e presentes da Igreja católica para a vida nacional, exercidas através dos programas de educação, do auxílio caritativo e da assistência médica. Em todos estes sectores, a Igreja procura expressar a sua própria natureza, como comunhão de fé que é exercida mediante o amor (cf. Gl Ga 5,6). Exortando a uma conversão constante do coração e a um sincero exame de consciência, ela procura ser uma voz profética no seio da sociedade ruandesa. Além disso, é impelida unicamente pelo desejo de contribuir para o bem-estar da Nação, em cooperação com as autoridades civis, os membros das outras tradições religiosas e todos os homens e mulheres de boa vontade.

Em Ruanda, assim como noutras regiões do continente africano, o futuro já se encontra nas mãos dos jovens. A vigorosa tradição da vida familiar constitui o recurso mais precioso da África, na preparação da geração mais jovem, para que possa enfrentar os desafios do novo século. As famílias de Ruanda precisam de ser encorajadas e de receber apoio e assistência concretos na sua tarefa de modelar as mentes e os corações dos jovens, formando-os a fim de que se tornem membros responsáveis e generosos da sociedade. O Ruanda do futuro tem grande necessidade do imenso entusiasmo e das reservas de energia que se desencadeiam, quando os jovens são inspirados por ideais sublimes e por finalidades dignas de mérito, e quando podem recorrer aos recursos culturais e espirituais em ordem a alcançá-los. A cada um dos níveis da vida nacional, devem realizar-se esforços destinados a combater as ameaças que se apresentam aos jovens, como o analfabetismo, o ócio, o abuso das drogas e a importação de modos de pensar e de modelos de comportamento que vão contra os valores nobres da tradição africana. O que é mais importante, é que os jovens precisam de receber exemplos concretos de integridade, de honestidade e de solicitude pelo próximo, tornando-se capazes de compreender que a felicidade e a realização humanas autênticas só podem chegar mediante o generoso dom de si mesmo aos outros. Desta maneira, eles serão "artífices de uma nova humanidade onde irmãos e irmãs, todos membros da mesma família, possam finalmente viver em paz!" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 22).

Excelência, nos longos anos dos sofrimentos do seu País e da sua paciente luta para o reconstruir depois da destruição, permaneci próximo do seu povo através da oração. No momento em que a Senhora Embaixadora dá início à sua missão junto da Santa Sé, desejo assegurar-lhe de novo a minha estima e solicitude por todos os ruandeses e exprimir-lhe a minha confiança de que a justiça e a solidariedade fraternal hão-de prevalecer. Enquanto invoco sobre Vossa Excelência e os seus compatriotas as Bênçãos divinas da sabedoria e da fortaleza, imploro a Deus omnipotente que oriente a sua Nação pelas veredas do progresso e da paz.






AO EMBAIXADOR DAS ILHAS MAURÍCIAS


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


6 de Dezembro de 2001





Excelência

É-me grato aceitar as Cartas mediante as quais Vossa Excelência é acreditado como Embaixador Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da República das Ilhas Maurícias junto da Santa Sé. Peço-lhe a amabilidade de transmitir ao Presidente, Sua Excelência o Senhor Cassam Uteem, assim como ao Ilustríssimo Senhor Primeiro-Ministro as minhas cordiais saudações e a certeza das minhas preces pelo seu País e povo. Embora já tenham passado doze anos desde a minha Visita Pastoral às Ilhas Maurícias, ainda conservo as lembranças da calorosa hospitalidade que me foi reservada pelos seus compatriotas e das surpreendentes belezas naturais com que o Criador abençoou a sua terra.

Durante a minha visita, foi-me concedido observar pessoalmente a rica diversidade étnica, religiosa e cultural da sua Nação, e tomar conhecimento dos esforços que se estão a levar a cabo para promover uma vida cívica caracterizada pela tolerância, o respeito ao próximo e o progresso do bem comum. No momento em que Vossa Excelência e os seus compatriotas se preparam para comemorar o 10º aniversário da proclamação da República das Ilhas Maurícias, estes valores profundamente enraizados na sua história e cultura indicam o caminho para um futuro de promessas e de esperanças. No Oceano Índico, a sua Nação tem procurado ser um modelo de harmonia entre os diferentes grupos e de cooperação frutuosa para a construção de um mundo justo e hospitaleiro. Continuando a aceitar-se mutuamente na diversidade das suas culturas, crenças, raças e línguas, o povo das Ilhas Maurícias há-de tornar-se, como disse durante essa minha Visita, "a imagem de uma sociedade de convivência pacífica, prefigurando de algum modo, em diversas escalas, uma comunidade internacional que seja Pátria verdadeira para todos os povos" (Discurso em Plaisance, 14 de Outubro de 1989, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 22.10.1989, pág. 8, n. 4).

O Senhor Embaixador está a dar início à sua missão junto da Santa Sé num momento em que a atenção do mundo se encontra centrada na questão do terrorismo global, que ameaça exacerbar as divisões já sérias, existentes no seio da família humana, e impedir o progresso que se está a realizar em ordem a uma maior solidariedade na vida internacional. A crise actual apresenta um desafio a todas as nações, grandes e pequenas, para que renovem os seus esforços destinados à formação de uma cultura da paz através do diálogo, da compreensão e da cooperação. É precisamente como modo de contribuir para este grande empreendimento que a Santa Sé está presente na família das nações. A Santa Sé procura confirmar os valores religiosos e espirituais, que são essenciais para a aspiração da humanidade à criação de uma ordem internacional assente sobre o respeito pela cultura específica de cada povo e, ao mesmo tempo, à realização do anseio humano universal pelo bem-estar e pela paz.

Como Vossa Excelência observou e como a longa experiência de pluralismo étnico, religioso e cultural do seu País tem demonstrado, os seguidores das várias religiões têm um papel importante a desempenhar no serviço à causa da paz. Com efeito, "a relação com o único Deus, Pai comum de todos os homens, não pode deixar de nos ajudar a sentir-nos irmãos e a vivermos como tal" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 1). Hoje, mais do que nunca, os crentes são chamados a condenar toda a tentativa de exploração da raça ou da religião para fomentar o ódio, a violência e a divisão. Ao mesmo tempo, podem lançar um fundamento firme para a autêntica renovação social, contribuindo para formar as consciências nos caminhos da fraternidade e no respeito pela dignidade e pelos direitos invioláveis de cada indivíduo. A todos os níveis, deve existir um compromisso convicto em ordem à eliminação radical, ou seja, nas profundezas do coração do homem, de todas as formas de hostilidade, preconceito e discórdia.

Um papel fundamental na edificação desta cultura da paz é desempenhado pela família, pelos mestres e pelas instituições educativas. Desde o início da sua presença nas Ilhas Maurícias, em fidelidade ao Evangelho, a Igreja católica proclamou as dignidade da família e o seu papel no desígnio de Deus para a sociedade humana. De modo especial agora, que a identidade da família está a ser ameaçada por modelos culturais alheios aos valores que, tradicionalmente, formaram a sua sociedade, é essencial que esta "unidade fundamental da sociedade" receba o reconhecimento que lhe é devido e o apoio necessário, se quiser cumprir a sua missão de prover à preparação moral e cívica dos cidadãos que devem edificar e defender o futuro da sua democracia. A educação católica desempenha um papel significativo, não só ajudando os pais a criar os seus filhos, de acordo com os valores humanos e espirituais que orientam a sua vida, mas também formando os jovens para que sejam membros amadurecidos, responsaveis e produtivos da comunidade. Trata-se de um serviço vital para o bem de todos os habitantes da Nação.
No momento em que dá início à sua missão junto da Santa Sé, transmito a Vossa Excelência os meus sinceros votos pelo bom êxito do cumprimento das responsabilidades que agora assume, ao serviço da sua Nação. Asseguro-lhe, outrossim, as constantes disponibilidade e assistência dos departamentos da Santa Sé. Sobre o Senhor Embaixador, a sua família e todo o querido povo das Ilhas Maurícias, invoco cordialmente as abundantes Bênçãos de Deus.




AO EMBAIXADOR DO MALI JUNTO À SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


6 de Dezembro de 2001





Discursos João Paulo II 2001 - 6 de Dezembro de 2001