AUDIÊNCIAS 2002

JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-feira 8 de maio de 2002

Senhor, tende piedade de mim!




Queridos irmãos e irmãs,

1. Cada semana da Liturgia das Laudes é marcada na sexta-feira pelo Salmo 50, o Miserere, o Salmo penitencial mais amado, cantado e meditado, hino ao Deus misericordioso elevado pelo pecador arrependido. Já tivemos ocasião, numa catequese precedente, de apresentar o quadro geral desta grande oração. Em primeiro lugar, entra-se na região tenebrosa do pecado para aí levar a luz do arrependimento humano e do perdão divino (cf. vv. 3-11). Depois, exalta-se o dom da graça divina, que transforma e renova o espírito e o coração do pecador arrependido: esta é uma região luminosa, cheia de esperança e de confiança (cf. vv. 12-21).

Detemo-nos, nesta nossa reflexão, nalgumas considerações, na primeira parte do Salmo 50, aprofundando alguns dos seus aspectos. Mas, no começo, desejaríamos mencionar a maravilhosa proclamação divina do Sinai, que é quase o retrato do Deus cantado pelo Miserere: "Javé! Javé! Deus misericordioso e clemente, vagaroso em encolerizar-Se, cheio de bondade e fidelidade, que mantém a Sua graça até à milésima geração, que perdoa a iniquidade, a rebeldia e o pecado" (Ex 34,6-7).

2. A invocação inicial eleva-se a Deus para obter o dom da purificação que faça como dizia o profeta Isaías "brancos como a neve" e "como a lã" os pecados, em si semelhantes ao "escarlate" e "vermelhos como a púrpura" (cf. Is Is 1,18). O Salmista confessa o seu pecado de forma clara e sem hesitações: "Reconheço, de verdade, a minha culpa... Contra Vós apenas é que eu pequei, pratiquei o mal perante os vossos olhos" (Ps 50,5-6).

Por conseguinte entra em cena a consciência pessoal do pecador que se abre para compreender claramente o seu mal. É uma experiência que envolve liberdade e responsabilidade, e leva a admitir que se quebrou o vínculo para construir uma escolha de vida alternativa em relação à Palavra divina. Disto deriva uma decisão radical de mudança. Tudo isto está encerrado naquele "reconhecer", um verbo que em hebraico não significa apenas uma adesão intelectual mas uma opção vital.

É o que, infelizmente, muitos não fazem, como nos adverte Orígenes: "Há quem, depois de ter pecado, se sinta completamente tranquilo e não se preocupe com o seu pecado nem tocado pela consciência do mal cometido, mas viva como se nada tivesse acontecido. Sem dúvida, esse não poderia dizer: tenho sempre consciência do meu pecado. Ao contrário, quando, depois do pecado, o pecador se inquieta e se aflige devido ao seu pecado, quando se sente atormentado pelos remorsos, dilacerado sem tréguas e sofre sobressaltos no seu íntimo que se eleva para o contestar, ele, com razão, exclama: não há paz para os meus ossos face ao aspecto dos meus pecados... Portanto, quando os pecados cometidos se apresentam aos olhos do nosso coração, os revemos um por um, os reconhecemos, nos envergonhamos e arrependemos do que fizemos, então perturbados e aterrorizados, justamente dizemos que não há paz para os nossos ossos face ao aspecto dos nossos pecados..." (Homilias sobre os Salmos, Florença 1991, págs. 277-279).

O reconhecimento e a consciência do pecado é, portanto, fruto de uma sensibilidade adquirida graças à luz da Palavra de Deus.

3. Na confissão do Miserere há um realce de particular evidência: o pecado não é compreendido apenas na sua dimensão pessoal e "psicológica", mas é analisado sobretudo na sua qualidade teológica. "Contra Vós apenas é que eu pequei" (Ps 50,6), exclama o pecador, ao qual a tradição deu o rosto de David, consciente do seu adultério com Betsabé, e da denúncia do profeta Natan contra este crime e contra o crime da morte do seu marido, Urias (cf v. 2; 2S 11,12).

Por conseguinte, o pecado não é apenas uma questão psicológica ou social, mas é um acontecimento que prejudica a relação com Deus, violando a sua lei, recusando o seu projecto na história, alterando a escala dos valores, "mudando as trevas em luz e a luz em trevas", isto é, "chamando bem ao mal e mal ao bem" (cf. Is Is 5,20). Antes de ser uma possível afronta contra o homem, o pecado é antes de mais traição a Deus. São emblemáticas as palavras que o filho desprovido de bens pronuncia diante de seu pai, pródigo de amor: "Pai, pequei contra o Céu isto é, contra Deus e contra ti!" (Lc 15,21).

4. A este ponto o Salmista introduz outro aspecto, mais directamente relacionado com a realidade humana. Foi a frase que suscitou muitas interpretações e que também foi relacionada com a doutrina do pecado original: "Eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-me pecador" (Ps 50,7). O orante deseja indicar a presença do mal dentro do nosso ser, como é evidente na menção da concepção e do nascimento, uma forma de exprimir toda a existência partindo da sua origem. Mas o Salmista não relaciona formalmente esta situação com o pecado de Adão e Eva, isto é, não fala explicitamente de pecado original.

Contudo, é evidente que, segundo o texto do Salmo, o mal se esconde nas próprias profundezas do homem, é inerente à sua realidade histórica e, por isso, é decisivo o pedido da intervenção da graça divina. O poder do amor de Deus supera o poder do pecado, o rio transbordante do mal pode menos do que a água fecundante do perdão: "Onde abunda o pecado, superabunda a graça" (Rm 5,20).

5. Por este caminho, a teologia do pecado original e toda a visão bíblica do homem pecador são indirectamente recordados com palavras que deixam, ao mesmo tempo, entrever a luz da graça e da salvação.

Como teremos ocasião de descobrir no futuro, voltando a falar deste Salmo e dos versículos seguintes, a confissão da culpa e a consciência da própria miséria não levam ao terror ou ao pesadelo do juízo, mas à esperança da purificação, da libertação, da nova criação.
De facto, Deus salva-nos "não por causa das obras da justiça que tivéssemos feito, mas por misericórdia, mediante o baptismo de regeneração e renovação do Espírito Santo, que derramou sobre nós abundantemente por Jesus Cristo, nosso Salvador" (Tt 3,5-6).

Saudações

Queridos Irmãos e Irmãs

Amados peregrinos do Brasil e dos restantes países de língua portuguesa, aproxima-se a festa da Ascensão do Senhor ao Céu, cuja ocorrência me sugere os votos que vos faço de uma vida orientada para as coisas do Alto, onde Cristo se encontra sentado à direita de Deus. A minha Bênção desça sobre todos vós, as vossas famílias e as comunidades cristãs.

Faço extensiva a minha saudação aos jovens de Toronto, reunidos na Universidade para recitar o Rosário no contexto de uma ligação televisiva com os jovens da Universidade La Sapienza em Roma. Prezados Amigos, espero ver muitos jovens do Canadá na Jornada Mundial da Juventude. Reunindo-vos em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, haveis de vos empenhar por ser o sal da terra e a luz do mundo.

Sobre todos os peregrinos e visitantes de expressão inglesa, presentes na Audiência de hoje, especialmente da Inglaterra, Noruega, Suécia, Índia, Coreia do Sul, Canadá e Estados Unidos da América, invoco a alegria e a paz do Senhor ressuscitado!

Saúdo com afecto os fiéis húngaros aqui presentes. Maio é o mês de Maria. Nas vossas preces, pedi a intercessão da nossa Mãe celestial. Concedo-vos de coração a minha Bênção apostólica.
Louvado seja Jesus Cristo!

Dou as boas-vindas aos peregrinos checos de Blansk.

Segunda-feira celebrámos a festividade de São João Sarkander. Este Sacerdote soube viver do Mistério pascal: para ele, o Salvador foi a força, mesmo na hora do martírio. Possais também vós haurir sempre o vigor da Cruz de Cristo e da sua Ressurreição.

Abençoo-vos todos do íntimo do meu coração!

Louvado seja Jesus Cristo!

Agora, dirijo uma saudação cordial aos peregrinos de língua italiana, em particular aos fiéis da Paróquia do Espírito Santo, em Avezzano, acompanhados pelo seu Bispo, D. Lúcio Renna, e aqui congregados por ocasião da inauguração da sua igreja. Caríssimos, o novo edifício de culto suscite em cada um de vós o desejo de ser uma pedra viva do templo espiritual, que é a Igreja, Povo de Deus.

Dirijo-me, enfim, aos jovens, aos doentes e aos novos casais.

Neste dia, dedicado a Nossa Senhora de Pompeia, convido-vos a todos, queridos jovens, a esforçar-vos na sua imitação, confiando sempre na sua intercessão maternal. Ela vos ajude a transmitir um raio de serenidade onde houver tristeza e solidão. Faço votos por que vós, dilectos doentes, vivais a vossa condição com a ajuda de Maria, confiadamente abandonados à vontade do Senhor. Maria vos sustente a vós, estimados novos casais, para que possais encontrar alegria e entustiasmo na vossa fidelidade recíproca, e ser sempre testemunhas do amor.

Hoje tem início em Nova Iorque a Sessão Especial da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas sobre as Crianças. Este importante encontro chama a atenção para o flagelo que continua a afligir a infância, tesouro precioso, mas também vulnerável, da família humana. Penso nas guerras, na pobreza, na exploração e nos abusos de todos os tipos, de que elas continuam a ser vítimas.

Durante estes dias, em que os Representantes dos países do mundo inteiro estão reunidos para reflectir sobre as condições em que vivem as crianças, convido-vos a todos a rezar pelo bom êxito dos trabalhos. Além disso, formulo votos a fim de que este encontro suscite um renovado compromisso da Comunidade internacional em favor das crianças, a fim de que toda a acção social que lhes diz respeito se inspire numa autêntica promoção da dignidade humana e no pleno respeito dos seus direitos fundamentais.



JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA

Quarta-feira 15 de maio de 2002

Deus vem para julgar




«Senhor, ouvi a tua mensagem,/ temo, Senhor, a tua obra! / Em nosso tempo faze revivê-la, em nosso tempo manifesta-a, na cólera lembra-te de ter compaixão!» (Ha 3,2)

Caríssimos Irmãos e Irmãs:

1. A Liturgia das Laudes propõe-nos uma série de cânticos bíblicos de profunda intensidade espiritual, para acompanhar a oração fundamental dos Salmos. Hoje ouvimos um exemplo tirado do terceiro e último capítulo do livro de Habacuc. Este profeta viveu nos finais do século XII a.C., quando o reino de Judá se sentia esmagado entre duas superpotênctias que se expandiam, por um lado o Egipto e, por outro, a Babilónia.

Contudo, muitos estudiosos consideram este hino final como uma citação. Por conseguinte, no apêndice ao breve escrito de Habacuc encontra-se um verdadeiro e próprio cântico litúrgico, "em tom de lamentação" que deve ser acompanhado por "instrumentos de corda", como dizem duas notas colocadas no início e no final do Cântico (cf. Hab Ha 3,1 Hab Ha 3,19). A Liturgia das Laudes, no prosseguimento da antiga oração de Israel, convida-nos a transformar em cântico cristão esta composição, escolhendo alguns dos seus versículos mais significativos (cf. vv. 2-4.13a.15-19a).

2. O hino, que revela também uma notável força poética, apresenta uma grandiosa imagem do Senhor (cf. vv. 3-4). A sua figura domina solenemente todo o cenário do mundo e o universo é percorrido por um estremecimento perante o seu andar solene. Ele prossegue do sul, de Teman e do monte Faran (cf. v. 3), isto é, da zona do Sinai, sede da grande epifania reveladora de Israel. Também no Salmo 67 se descreve "o Senhor que vém do Sinai ao Santuário" de Jerusalém (cf. v. 18). O seu aparecimento, de acordo com uma constante da tradição bíblica, está circundado de luz (cf. Hab Ha 3,4).

É uma irradiação do seu mistério transcendente mas que se comunica à humanidade: de facto, a luz está fora de nós, não a podemos prender ou parar; contudo ela envolve-nos, ilumina-nos e aquece-nos. Assim é Deus, distante e próximo, não se pode prender mas está ao nosso lado, ou melhor, sempre pronto para estar connosco e em nós. Quando se revela a sua majestade, a terra responde com um coro de louvor: é a resposta cósmica, uma espécie de oração à qual o homem dá voz.

A tradição cristã viveu esta experiência interior não só no âmbito da espiritualidade pessoal, mas também em audaciosas criações artísticas. Pondo de lado as majestosas catedrais da Idade Média, mencionamos sobretudo a arte do oriente cristão com os seus admiráveis ícones e com as geniais arquitecturas das suas igrejas e dos seus mosteiros.

A respeito disto, a Igreja de Santa Sofia de Constantinopla é uma espécie de arquétipo no que se refere à demarcação do espaço da oração cristã, na qual a presença e a incapacidade de conter a luz permitem sentir tanto a intimidade como a transcendência da realidade divina. Ele penetra toda a comunidade orante até à profundidade dos ossos e, ao mesmo tempo, convida-a a ultrapassar-se a si mesma para se imergir completamente na inefabilidade do mistério. São também significativas as propostas artísticas e espirituais, que caracterizam os mosteiros daquela tradição cristã. Naqueles verdadeiros e próprios espaços sagrados e o pensamento dirige-se imediatamente para o Monte Athos o tempo contém em si um sinal da eternidade. O mistério de Deus manifesta-se e esconde-se naqueles espaços através da oração contínua dos monges e dos eremitas, que sempre foram considerados semelhantes aos anjos.

3. Mas voltemos ao Cântico do profeta Habacuc. Para o autor sagrado a entrada do Senhor no mundo tem um significado bem determinado. Ele quer entrar na história da humanidade, "no decorrer dos anos", como se repete por duas vezes no versículo 2, para julgar e melhorar esta vicissitude, que nós conduzimos de maneira tão confusa e, muitas vezes, pervertida.

Então, Deus mostra a sua indignação (cf. v. 2c) contra o mal. E o cântico faz referência a uma série de intervenções divinas inexoráveis, mesmo sem especificar se se trata de acções directas ou indirectas. Recorda-se o Êxodo de Israel, quando a cavalaria do Faraó foi afundada no mar (cf. v. 15). Mas faz-se aparecer também a perspectiva da obra que o Senhor está para realizar em relação ao novo opressor do seu povo. A intervenção divina é descrita de maneira quase "visível" através de uma série de imagens agrícolas: "Porque então a figueira não brotará; nulo será o produto das vinhas, faltará o fruto da oliveira, e os campos não darão de comer. Não haverá mais ovelhas no aprisco, nem bois nos estábulos" (v. 17). Tudo o que é sinal de paz e de fertilidade é eliminado e o mundo mostra-se como um deserto. Esta é a imagem querida a outros profetas (cf. Jer Jr 4,19-26 Jr 12,7-13 Jr 14,1-10), para ilustrar o juízo do Senhor que não é indiferente perante o mal, a opressão e a injustiça.

4. Face à irrupção divina, o orante fica aterrorizado (cf. Hab Ha 3,16), tudo é um frémito, sente-se o esvaziar da alma, é atingido pelo tremor, porque o Deus da justiça é inefável, de maneira muito diferente dos juízes da terra.

Mas a entrada do Senhor tem também outra função, que o nosso cântico exalta com alegria. De facto, ele na sua indignação não se esquece da clemência compassiva (cf. v. 2). Ele sai do horizonte da sua glória não só para destruir a arrogância dos ímpios, mas também para salvar o seu povo e o seu consagrado (cf. v. 13), isto é, Israel e o seu rei. Ele também deseja ser libertador dos oprimidos, fazer desabrochar a esperança no coração das vítimas, iniciar uma nova era de justiça.
5. Por isso o nosso cântico, apesar de estar assinalado pelo "tom de lamento", transforma-se num hino de alegria. De facto, as calamidades anunciadas têm por finalidade a libertação dos oprimidos (cf. v. 15). Por isso, elas dão origem à alegria do justo que exclama: "Eu, porém, exultarei no Senhor, alegrar-me-ei em Deus, meu Salvador" (v. 18). A mesma atitude é sugerida por Jesus aos seus discípulos no tempo dos cataclismas apocalípticos: "Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai as vossas cabeças, porque a vossa libertação está próxima" (Lc 21,28).

No cântico de Habacuc é muito bonito o versículo final, que exprime a serenidade readquirida. O Senhor é definido como fizera David no Salmo 17 não só como "a força" do seu fiel, mas também como aquele que lhe dá agilidade, vigor, serenidade nos perigos. David cantava: "Eu vos amo, Senhor, minha força... Ele iguala os meus pés aos do veado, e mantém-me de pé nas alturas" (Ps 17,2 Ps 17,34). Agora o nosso cantor exclama: "O Senhor Deus é a minha força, Ele torna os meus pés ágeis como os da corça, e faz-me caminhar nas alturas" (Ha 3,19). Quando o Senhor está ao nosso lado, já não se receiam os pesadelos nem os obstáculos, mas prossegue-se o caminho da vida, apesar de ser áspero, com um andar leve e com alegria.

Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs

Saúdo as pessoas que me escutam em língua portuguesa, com votos cordiais de felicidades! Que Cristo, nossa Páscoa, "elevado aos céus", vos ajude a viver segundo o seu Espírito, com um "coração novo", pelos caminhos da justiça, do amor e da fraternidade!

É-me grato saudar os participantes na Conferência Internacional sobre o Tráfico de Pessoas Humanas, que está a ser realizada na Pontifícia Universidade Gregoriana. Dou também as boas-vindas aos membros do Colégio de Defesa da NATO e agradeço ao Coro de Bombaim, na Índia, os seus cânticos de louvor a Deus.

Depois, a minha saudação dirige-se de maneira especial para o grupo de Timor Leste. No momento em que a vossa Nação se prepara para a sua Independência na próxima segunda-feira, rezo para que os numerosos sacrifícios dos últimos anos inspirem, agora, a edificação de uma sociedade de justiça e de solidariedade. Deus abençoe o povo de Timor Leste com uma liberdade verdadeira e uma paz duradoura!

Sobre todos os peregrinos e visitantes de língua inglesa, presentes na Audiência deste dia, especialmente os fiéis provenientes da Inglaterra, Irlanda, Dinamarca, Trindade e Tobago, e Estados Unidos da América, invoco cordialmente a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo.

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Saúdo, em particular, a Delegação do "Fórum das Associações Familiares". Hoje é o Dia Mundial da Família instituído pelas Nações Unidas em 1994 que é celebrado pela primeira vez também na Itália, em ordem a reafirmar o papel social da instituição familiar. Caríssimos, ao manifestar o meu vivo apreço pelo vosso generoso compromisso, desejo que as Instituições reconheçam plenamente os valores da família com políticas destinadas a promover a sua alta função. Possa afirmar-se cada vez mais a consciência de que o futuro da humanidade e da Igreja passa pela família.

O meu pensamento dirige-se, por fim, para os jovens, os doentes e os novos casais. Enquanto nos preparamos para a solenidade do Pentecostes, exorto-vos, caros jovens, a ser sempre dóceis à acção do Espírito; encorajo-vos, queridos doentes, a invocar a sua luz e a força no sofrimento e na provação; e desejo-vos a vós, estimados novos casais, que cresçais no amor que o Espírto de Deus derrama nos corações.



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-feira 29 de maio de 2002

Uma intensa peregrinação apostólica no sinal da santidade

Queridos Irmãos e Irmãs,


1. Sinto-me feliz por reflectir hoje convosco acerca da viagem apostólica que realizei ao Azerbaijão e à Bulgária. Dela trago no coração um eco profundo. Em primeiro lugar, dou graças ao Senhor por me ter concedido a possibilidade de a realizar. Depois, dirijo o meu cordial reconhecimento a todos os que a tornaram possível: aos Chefes dos dois Estados e aos respectivos Governos, às Autoridades civis e militares, a quantos colaboraram na sua preparação e no seu desenvolvimento. Dirijo um obrigado especial aos Pastores da Igreja católica dos dois Países, e faço-a extensiva de coração aos das Igrejas ortodoxas e aos chefes das Comunidades muçulmanas e hebraicas.

Do rico património histórico e cultural do povo azerbaijano são parte integrante as grandes tradições religiosas: por isso foi eloquente encontrar em Baku, capital do País, além dos representantes da política, da cultura e da arte, também os das religiões.

A Comunidade católica do Azerbaijão é, além disso, uma das menos numerosas entre as que eu visitei. Aquele "pequeno rebanho" é herdeiro de uma tradição espiritual muito antiga, partilhada pacificamente com os irmãos ortodoxos, no meio de uma população prevalecentemente muçulmana.

2. Por isso, relacionando-me espiritualmente com o encontro de Assis, renovei daquela terra, verdadeira porta entre o Oriente e o Ocidente, o meu apelo pela paz, insistindo para que as religiões se oponham a qualquer forma de violência.

Sobretudo durante a santa Missa em Baku apercebi-me claramente que também no Azerbaijão bate o coração da Igreja una, santa, católica e apostólica.

3. A minha visita a Sófia coincidiu com a festa dos Santos Cirilo e Metódio, "Slavorum Apostoli", evangelizadores dos povos eslavos. Desde o início da evangelização, uma ponte sólida une a Sé de Pedro com o povo búlgaro. Este vínculo consolidou-se no século passado, graças ao precioso serviço prestado pelo Delegado Apostólico de então, Ângelo Roncalli, o beato João XXIII.

A minha visita, a primeira de um Bispo de Roma, propunha-se também fortalecer os vínculos de comunhão com a Igreja ortodoxa da Bulgária, guiada pelo Patriarca Maxim, que tive a alegria de encontrar depois da visita à Catedral Patriarcal.

4. Encontrei-me também, em Sófia, com os representantes da cultura, da ciência e da arte na recordação dos santos Cirilo e Metódio, que souberam conjugar admiravelmente fé e cultura, contribuindo de modo determinante para a constituição das bases espirituais da Europa.

Um exemplo notável desta síntese entre espiritualidade, arte e história é o Mosteiro de São João de Rila, coração da nação búlgara e pérola do património cultural mundial. Ao ir como peregrino àquele lugar santo, desejei prestar uma solene homenagem ao monaquismo oriental, que ilumina toda a Igreja com o seu secular testemunho.

5. Auge da breve mas intensa permanência na Bulgária foi a Celebração eucarística na praça central de Plovdiv, durante a qual proclamei beatos Kamen Vitchev, Pavel Djidjov e Josaphat Chichkov, sacerdotes Agostinhos da Assunção, fuzilados no cárcere de Sófia em 1952, juntamente com o Bispo Eugénio Bossilkov, já beatificado há quatro anos.

Estas corajosas testemunhas da fé, juntamente com os outros mártires do século passado, preparam uma nova primavera da Igreja na Bulgária. Situa-se nesta perspectiva o último encontro, o que realizei com os jovens, aos quais voltei a propor a mensagem sempre actual de Cristo:

"Vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo!" (Mt 5,13-14). Cristo convida todos ao heroísmo da santidade. Desta forma, também esta minha peregrinação apostólica se concluiu no sinal da santidade.

Oxalá a Igreja no Azerbaijão e na Bulgária, assim como na Europa e em todo o mundo, graças à constante intercessão de Maria, Rainha dos Santos e dos Mártires, difunda o bom perfume da santidade de Cristo na variedade das suas tradições e na unidade de uma só fé e de um só amor!

Saudações


Uma saudação cordial a todos os peregrinos de língua portuguesa, que confio à protecção da Virgem Maria, para que lhes alcance a graça de difundir o bom perfume da santidade de Cristo pelos caminhos da vida, nomeadamente no seio da sua família e comunidade cristã, que abençoo. Ide com Deus!

Dou as cordiais boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo as Religiosas participantes no Curso de formação na Faculdade "Auxilium", os Alunos da Escola de Suboficiais da Marinha Militar em "La Maddalena" e os Funcionários da Estação ferroviária de RomaSão Pedro. Agradeço-vos a todos a vossa participação e formulo votos cordiais a fim de que este encontro constitua uma ocasião providencial para confirmar a vossa ardente adesão a Cristo e ao seu Evangelho.

Saúdo agora os jovens, os doentes e os novos casais. O meu pensamento volta-se sobretudo para vós, queridos jovens e especialmente para vós, dilectas crianças da Primeira Comunhão e para vós, jovens do Crisma, presentes em grande número nesta Audiência. O encontro com Jesus seja para vós e para os vossos coetâneos, que neste período se aproximam pela primeira vez da mesa do Altar, assim como para aqueles que recebem a Unção crismal, uma exortação a crescer no amor a Deus e ao próximo. Vós, estimados doentes, tirai da Eucaristia aquele vigor espiritual que vos há-de tornar capazes de enfrentar todas as provas. E vós, queridos novos casais, sustentados pela intercessão da Virgem Maria, comprometei-vos a fazer da Eucaristia o alimento quotidiano da vossa existência e o coração da vossa família.

Celebra-se amanhã a solenidade do Corpus Christi. Convido os romanos e os peregrinos a participar em grande número na comemoração que terá lugar, como em todos os anos, amanhã à tarde na Praça de São João de Latrão, e para a solene Procissão eucarística, que terminará na Basílica de Santa Maria Maior.



                                                                               Junho de 2002

JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-feira 5 de junho de 2002

A Jerusalém reconstruída

Queridos irmãos e irmãs,


1. O Lauda Jerusalem, que acabamos de proclamar, é muito apreciado pela liturgia cristã. Ela entoou com frequência o Salmo 147 relacionando-o com a Palavra de Deus, que "corre veloz" sobre a face da terra, mas também com a Eucaristia, verdadeira "flor de trigo" concedida por Deus para "saciar" a fome do homem (cf. Sl Ps 147,14-15).

Orígenes, numa das suas homilias, traduzidas e difundidas no Ocidente por São Jerónimo, ao comentar o nosso Salmo, relacionava precisamente a Palavra de Deus com a Eucaristia: "Nós lemos as Sagradas Escrituras. Eu penso que o Evangelho é o Corpo de Cristo; penso que as Sagradas Escrituras são o seu ensinamento. E quando ele diz: Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue (cf. Jo Jn 6,53), mesmo se estas palavras se podem compreender também do Mistério [eucarístico], contudo o corpo de Cristo e o seu sangue são verdadeiramente a palavra das Escrituras, são o ensinamento de Deus. Quando assistimos ao Mistério [eucarístico], se dele se desperdiça uma pequena porção, sentimo-nos perdidos. E quando estamos a ouvir a Palavra de Deus, e nos chega aos ouvidos a Palavra de Deus, a carne de Cristo e o seu sangue, e nós pensamos noutras coisas, em que grande perigo nós caímos!" (74 Homilias sobre o Livro dos Salmos, Milão 1993, PP 543-544).

Os estudiosos fazem notar que este Salmo deve ser relacionado com o precedente, para constituir uma única composição, como acontece precisamente no original hebraico. De facto, tem-se um cântico único e coerente em honra da criação e da redenção realizadas pelo Senhor. Ele começa com um jubiloso apelo ao louvor: "Louvai o Senhor porque é bom cantar. Louvai o nosso Deus porque o louvor é agradável" (Ps 146,1).

2. Se detivermos a nossa atenção no trecho que agora acabamos de ouvir, podemos apercebernos de três momentos de louvor, introduzidos por um convite dirigido à cidade santa, Jerusalém, para que glorifique e louve o seu Senhor (cf. Sl Ps 147,12).

No primeiro momento (cf. vv. 13-14) entra em cena a acção histórica de Deus. Ela é descrita através de uma série de símbolos que representam a obra de protecção e de apoio realizada pelo Senhor em relação à cidade de Sião e dos seus filhos. Antes de mais faz-se referência às "grades" que fortificam e fazem com que as portas de Jerusalém sejam invioláveis. Talvez o Salmista se refira a Neemias que fortificou a cidade santa, reconstruída depois da experiência amarga do exílio em Babilónia (cf. 3, 3.6.13-15; 1-9; 6, 15-16; 12, 27-43). A porta, entre outras coisas, é um sinal para indicar toda a cidade na sua densidade e tranquilidade. No seu interior, representado como um seio seguro, os filhos de Sião, isto é, os cidadãos, gozam da paz e da serenidade, envolvidos no manto protector da bênção divina.

A imagem da cidade jubilosa e tranquila é exaltada pelo dom altíssimo e precioso da paz que faz com que as fronteiras sejam seguras. Mas precisamente porque para a Bíblia a paz-shalôm não é um conceito negativo, que recorda a ausência de guerra, mas um facto positivo de bem-estar e prosperidade, eis que o Salmista introduz a saciedade com a "flor de trigo", isto é, com o grão excelente, com as espigas cheias de grãos. Por conseguinte, o Senhor fortaleceu as defesas de Jerusalém (cf. Sl Ps 87,2), fez descer sobre ela a sua bênção (cf. Sl Ps 128,5 Ps 134,3), fazendo-a chegar a todo o país, concedeu a paz (cf. Sl Ps 122,6-8) e saciou os seus filhos (cf. Sl Ps 132,15).

3. Na segunda parte do Salmo (cf. Sl Ps 147,15-18), Deus apresenta-se sobretudo como criador. De facto, relaciona-se duas vezes a obra criadora com a palavra que fez desabrochar o aparecimento do ser: "Deus disse: "Faça-se a luz". E a luz foi feita... Envia as suas ordens à terra... Envia a Sua palavra..." (cf. Gn Gn 1,3 Ps 147,15 Ps 147,18).

De acordo com a Palavra divina, eis que surgem e se estabelecem as duas estações fundamentais: por um lado, a ordem do Senhor faz descer sobre a terra o inverno, representado de modo significativo pela neve suave como a lã, pelo orvalho semelhante à poeira, pelo granizo comparável às migalhas de pão e pelo gelo que tudo paraliza (cf. vv. 16-17). Por outro lado, outra ordem divina manda soprar o vento quente que traz o Verão e faz derreter a neve: as águas da chuva e dos rios podem correr livremente para regar a terra e a fecundar.

Por conseguinte, a Palavra de Deus está na base do frio e do calor, do ciclo das estações e da afluência da vida na natureza. A humanidade é convidada a reconhecer e a dar graças ao Criador pelo dom fundamental do universo, que a rodeia, faz com que ela respire, a alimenta e ampara.

4. Passa-se então ao terceiro e último momento do nosso hino de louvor (cf. vv. 19-20). Volta-se ao Senhor da história do qual se partiu. A Palavra divina leva a Israel um dom ainda mais nobre e precioso, o da lei, da Revelação. Um dom específico: "Não trata assim os outros povos, todos esses ignoram os seus mandamentos" (v. 20).

Portanto, a Bíblia é o tesourto do povo eleito à qual devemos aderir com amor e fidelidade. É o que diz Moisés aos Hebreus no Deuteronómio: "Qual é o grande povo, que possua mandamentos e preceitos tão justos como esta Lei que hoje vos apresento?" (Dt 4,8).

5. Assim como existem duas acções gloriosas de Deus na criação e na história, assim também existem duas revelações: uma inscrita na própria natureza e que está aberta a todos, a outra oferecida ao povo eleito, que a deverá testemunhar e comunicar a toda a humanidade e que está contida na Sagrada Escritura. Duas revelações distintas, mas Deus permanece único assim como a sua Palavra. Tudo foi feito por meio da Palavra dirá o Prólogo do Evangelho de João e sem ela nada de tudo o que existe foi feito. Mas a Palavra também se fez "homem", isto é, entrou na história, e levantou a sua tenda entre nós (cf. Jo Jn 1,3 Jo Jn 1,14).

Saudações

Queridos Irmãos e Irmãs

Saúdo todos os peregrinos de língua portuguesa, cuja amável visita agradeço. Na vossa romagem à Cidade Eterna, quisestes inserir este encontro com o Sucessor de Pedro, para se confirmarem os vossos propósitos de fidelidade a Cristo e à sua Igreja. A todos incluo na minha oração, enquanto de coração vos concedo, a vós e aos vossos entes queridos, a Bênção apostólica.

Agora saúdo todos os peregrinos provenientes da Holanda e da Bélgica!
Faço votos a fim de que a vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos, que recordam a história do cristianismo, vos torne mais conscientes da inestimável riqueza da fé.
Concedo-vos de coração a minha Bênção apostólica.
Louvado seja Jesus Cristo!

É-me grato saudar os peregrinos de língua francesa, presentes nesta Audiência. Que o Senhor vos dê um coração alegre e aberto ao louvor para cantardes, como Maria, as maravilhas que Ele fez!

Saúdo com afecto os alunos eslovacos da Escola católica primária São Vicente de Paulo, em Levice.

Caros peregrinos, na próxima sexta-feira celebraremos a solenidade do Sagrado Coração de Jesus que é, ao mesmo tempo, o dia mundial de oração pela santificação dos sacerdotes. Rezai pelos vossos Pastores, a fim de que sejam presbíteros segundo o Coração de Jesus.
Com estes votos, é de bom grado que vos abençoo, a vós e os vossos entes queridos na Pátria.

Louvado seja Jesus Cristo!

Desejo saudar todos os peregrinos e visitantes de expressão inglesa, presentes na Audiência de hoje, especialmente aqueles que provêm da Inglaterra, Irlanda, Austrália, Japão, Canadá e Estados Unidos da América. É de coração que invoco, sobre vós e as vossas famílias, a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo! Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo uma saudação cordial aos peregrinos de língua italiana. Em primeiro lugar, aos religiosos "Fatebenefratelli", participantes no curso de actualização para animadores da pastoral vocacional: caríssimos, formulo-vos votos cordiais para que esta experiência útil vos enriqueça a todos vós, provenientes de vários países, e vos ajude a servir Cristo e a sua Igreja com generosidade.

Depois, saúdo os estimados soldados do 6º Batalhão "Genio Pionieri", que acabam de voltar de uma operação de paz no Kossovo: valorizai esta importante experiência humana e trabalhai todos os dias pela paz e pela fraternidade entre os povos.

Depois de amanhã celebraremos a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que nos lembra o mistério do Amor divino pelos homens de todos os tempos. Caros jovens aqui presentes, saúdo-vos a todos com afecto: preparai-vos na escola do Coração de Cristo, para assumirdes com confiança os compromissos que vos esperam.

Agradeço-vos a todos, queridos doentes, a ajuda espiritual que ofereceis ao povo cristão, aceitando cumprir a vontade de Cristo, em fecunda união com o sacrifício salvífico do Crucificado.
Enfim, desejo-vos a todos, dilectos novos casais, muita felicidade no caminho diário, em fidelidade ao amor de Deus, de quem o vosso amor esponsal deve ser sempre um testemunho eloquente.

Saúdo cordialmente os Dirigentes e os Funcionários da Sociedade Daimler Chrysler, a quem agradeço o novo veículo panorâmico, que hoje quiseram entregar ao Papa. Agradeço-vos a todos do íntimo do coração!




AUDIÊNCIAS 2002