Discursos João Paulo II 2002 - 18 de Outubro de 2002

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DO REGIONAL NORDESTE 5


DO BRASIL EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 19 de outubro de 2002



Venerados Irmãos no Episcopado!

1. «Cristo amou a Igreja e por ela Se entregou para a santificar» (Ep 5,25).

Me é grato recordar esta afirmação da Carta aos Efésios ao receber-vos hoje, Bispos do Maranhão, aproveitando a ocasião para compartilharmos a riqueza do ministério pastoral que nos foi confiado por Cristo. Encontrando-me convosco pessoalmente nos dias passados, muito me alegrei pelo vosso zelo apostólico, cuja fonte e modelo é a entrega de Cristo referida por S. Paulo.

Abraço-vos com estima, amados Irmãos, e de modo especial quantos dentre vós iniciaram o serviço pastoral nestes últimos anos. Agradeço as palavras que me dirigiu, em vosso nome, D. Affonso Felippe Gregory, bispo de Imperatriz e presidente do Regional Nordeste 5, dando conta do estado atual das comunidades cristãs a vós confiadas e das quais conservo uma grata lembrança da minha segunda Visita pastoral à vossa Nação.

2. A missão fundamental do bispo é a evangelização, uma tarefa a desempenhar não apenas individualmente, mas como Igreja, e é missão que se desdobra no tríplice múnus de ensinar, santificar e governar.

Como vigários e legados de Cristo, sois chamados inicialmente a oferecer o anúncio claro e vigoroso do Evangelho, de tal modo que se exprima na inteira existência do cristão em todas as situações. Anuncie-se com a palavra, sem a qual o valor apostólico das boas ações diminui ou se perde. Anuncie-se com as obras da caridade, testemunho vivo da fé, não esquecendo as obras de misericórdia espiritual ao lado das obras materiais. Não haja reservas no associar a palavra de Cristo às atividades caritativas, por um mal entendido sentido de respeito pelas convicções dos demais. Não é caridade suficiente deixar os irmãos ao obscuro da verdade; não é caridade nutrir os pobres ou visitar os doentes, levando-lhes recursos humanos e não lhes dizendo a Palavra que salva. «Tudo quanto fizerdes por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai» (Col 3,17).

3. Como é sabido, o Maranhão participou do início da história da evangelização no Brasil pois, na segunda metade do século XVII, sua Igreja era sufragânea da Província eclesiástica da Bahia. Vosso Estado, desde cedo, tornou-se o centro irradiador da ação missionária de grandes famílias religiosas - jesuítas, capuchinhos, mercedários etc...- muitas das quais, ainda hoje, prestam sua colaboração na ação pastoral da maioria das vossas Dioceses. Vai, pois, aqui o sentimento de gratidão, elevado ao Todo Poderoso, pela obra evangelizadora aí realizada, e que o Sucessor de Pedro deseja estimular com «graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo! (Rm 1,7).

O Evangelho pregado com fidelidade pelos Pastores, como «mestres da fé» e defensores da Verdade que liberta, é algo que marcará sempre a pauta, como o denominador comum, de cada um dos nossos encontros. As dificuldades que encontrais no desempenho do vosso múnus pastoral não me são desconhecidas: a falta de emprego, de habitação para tantas pessoas (penso, em concreto, nos problemas ligados à migração interna do campo às cidades); os problemas relativos à educação básica e da saúde de muitos segmentos da sociedade que, junto aos desequilíbrios sociais e à agressiva presença das seitas, são fatores geradores de incertezas para definir vossas prioridades pastorais.

Mesmo levando-se em conta os delicados problemas sociais existentes nas vossas regiões, é necessário não reduzir a ação pastoral à dimensão temporal e terrena. Não é possível pensar, por exemplo, nos desafios da Igreja no Brasil limitando-se a algumas questões, importantes mas circunstanciais, relativas à política local, à concentração da terra, questão do meio ambiente e assim por diante. Reivindicar para a Igreja um modelo participativo de caráter político, onde as decisões são votadas na "base", limitada aos pobres e excluídos da sociedade, mas abstraído da presença de todo os segmentos do Povo de Deus, desvirtuaria o sentido original redentor preconizado por Cristo.

4. O próprio Filho, enviado pelo Pai, confiou aos Apóstolos a missão de instruir «todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28,19-20). Esta solene missão de Cristo de anunciar a Verdade salvadora foi transmitida pelos Apóstolos aos Bispos, seus sucessores, chamados a levá-la até aos extremos confins da terra (cf. Act Ac 1,8), «para a edificação do Corpo de Cristo» (Ep 4,12) que é a Igreja.

Os Bispos são chamados pelo Espírito Santo a fazer as vezes dos Apóstolos, como Pastores das Igrejas particulares. Para isto estão revestidos de um poder próprio, que «não é diminuído pela autoridade suprema e universal, mas pelo contrário, é por ela assegurado, fortificado e defendido» (Lumen gentium, LG 27). Juntamente com o Sumo Pontífice e sob a sua autoridade, os Bispos têm a missão de perpetuar a obra de Cristo, Pastor eterno. Com efeito, nosso Salvador deu aos Apóstolos e aos seus sucessores o mandato e o poder de ensinar todas as nações, de santificar os homens na verdade e de os governar (cf. Christus Dominus, CD 2).

Antes de refletir sobre a tríplice dimensão da missão pastoral, apraz-me primeiramente exaltar o centro para o qual todas as vossas atividades devem convergir: «O mistério de Cristo como fundamento da missão da Igreja» (Carta Enc. Redemptor hominis RH 11). Aquele que, de algum modo, participa na missão da Igreja deve crescer na fiel adesão ao mandato recebido. Isto vale em primeiro lugar para os Bispos que foram, por assim dizer, «inseridos» de maneira muito especial no mistério de Cristo. Revestido da plenitude do sacramento da Ordem, o Bispo é chamado a propor e viver o mistério integral do Mestre (cf. Christus Dominus, CD 12) na Diocese a ele confiada. É mistério que contém «insondáveis riquezas» (Ep 3,8). Conservemos este tesouro!

5. No tríplice ministério dos Bispos, como ensina o Concílio Vaticano II, sobressai a pregação do Evangelho. Os Pastores devem ser sobretudo «arautos da fé que para Deus conduzem novos discípulos» (Lumen gentium, LG 25). Como homens «que distribuem integralmente a palavra da verdade» (2Tm 2,15) devemos transmitir juntos aquilo que nós mesmos recebemos: não a nossa própria palavra, por mais douta que for, porque não pregamos a nós mesmos, mas a Verdade revelada que deve ser transmitida com fidelidade, conforme o ensinamentos da Igreja.

Quanto ao ministério de ensinar, encontrais um clima cultural de difícil equacionamento devido ao analfabetismo adulto e infantil, mesmo quando os dados do último Censo revelaram o encorajador aumento da média de anos de estudos entre a população mais pobre.

Por outro lado, permanecem elevados os índices relativos à fragilidade do matrimônio, à violência infantil e à desnutrição; a estes, juntam-se os problemas de moradia, de falta de saneamento básico em muitos lugares e da evidente influência, às vezes negativa, dos meios de comunicação social; estes últimos, em particular, quando orientados por uma mentalidade, hoje muito difundida, de excluir da vida pública os interrogativos acerca das verdades últimas, confinam na esfera privada a fé religiosa e as convicções acerca dos valores morais. Corre-se assim o perigo da existência de leis que exercem uma forte influência sobre o pensamento e o comportamento dos homens, prescindindo do fundamento moral cristão da sociedade.

Caros Irmãos, vós sabeis que é dever fundamental do Bispo, como Pastor, convidar os membros das Igrejas particulares a ele confiadas, a aceitar em toda a sua plenitude o ensinamento da Igreja a respeito das questões de fé e moral. Não devemos desanimar se, às vezes, o anúncio da Palavra é acolhido somente em parte. Com a ajuda de Cristo, que venceu o mundo (cf. Jo Jn 16,33), o remédio mais eficaz é prosseguir, «oportuna e inoportunamente» (2Tm 4,2), na divulgação serena, mas corajosa, do Evangelho.

Exprimo estes votos especialmente pensando nos jovens do vosso Estado, que chegam a constituir, por exemplo, na capital, a metade da população. Ao exercerdes o ministério eclesial de ensinar, em união com os vossos sacerdotes e com os colaboradores no serviço catequético, tende particular cuidado na formação da consciência moral, que deve ser respeitada como «santuário» do homem a sós com Deus, cuja voz ressoa na intimidade do coração (cf. Gaudium et spes, GS 16). Mas, com igual fervor, recordai aos vossos fiéis que a consciência é um tribunal exigente, cujo juízo deve sempre conformar-se às normas morais reveladas por Deus e propostas com autoridade pela Igreja, com a assistência do Espírito Santo.

Um claro e unívoco ensinamento a respeito dessas questões não deixará de influir de maneira positiva no necessário retorno ao sacramento da reconciliação, hoje infelizmente - também nas regiões católicas do vosso País - bastante abandonado.

6. Quanto ao exercício da missão de santificar, «o Bispo deve ser considerado como o sumo sacerdote do seu rebanho, de quem deriva e depende, de algum modo, a vida de seus fiéis em Cristo» (Sacrosanctum Concilium, SC 41). Por isso, ele é, por assim dizer, o primeiro liturgo da sua Diocese e o principal dispensador dos Mistérios de Deus, organizando, promovendo e defendendo a vida litúrgica na Igreja particular a ele confiada (cf. Christus Dominus, CD 15).

A este respeito, recomendo-vos vivamente os dois sacramentos fundamentais da vida cristã: Batismo e Eucaristia. Logo após ser elevado à Cátedra de Pedro, aprovei a Instrução sobre o Batismo das crianças, na qual a Igreja confirmou a praxe batismal das crianças, em uso desde o início. Justamente nas vossas Igrejas locais se insiste na exigência de só administrar o Batismo no caso em que se tenha a fundada esperança de que a criança seja educada na fé católica, de maneira que o sacramento possa frutificar (cf. CIC, cân. 868, 2). Às vezes, porém, as normas da Igreja são interpretadas de modo restritivo, descurando-se o bem mais profundo das almas. Acontece assim que, aos pais, é adiado ou até mesmo rejeitado, em determinadas circunstâncias, o batismo dos filhos. É justo que pais e padrinhos sejam preparados de modo adequado para o Batismo das crianças, mas também é importante que o primeiro sacramento da iniciação cristã seja visto sobretudo como um dom gratuito de Deus-Pai, pois «quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus» (Jn 3,7).

Com a exigência, em si justificada, de preparar pais e padrinhos, não podem faltar a bondade e prudência pastorais. Não se pode exigir dos adultos de boa vontade, aquilo para o que não lhes foi dada adequada motivação. Quando for requerido o Batismo, pode-se aproveitar para iniciar uma catequese aos pais que os torne capazes de compreender melhor o Sacramento, e dar assim uma educação cristã ao novo membro da família. - De qualquer forma, não se deve jamais extinguir a mecha que ainda fumega, mas criar novos processos de evangelização adaptados ao mundo de hoje e às necessidades do povo. - O Bispo é o primeiro responsável para que todos os presbíteros, diáconos e agentes de pastoral tenham todo o zelo necessário, e toda a bondade e paciência com o povo menos instruído.

Outra tarefa primordial do vosso ministério sacerdotal consiste em reafirmar o papel vital da Eucaristia como «fonte e centro de toda a vida cristã» (Lumen gentium, LG 11). Na celebração do sacrifício eucarístico culmina não só o serviço dos Bispos e presbíteros, mas nele encontra o seu centro dinâmico a vida de todos os demais membros do Corpo de Cristo. A falta de sacerdotes e a sua distribuição desigual, por um lado e, por outro, a redução preocupante do número de quantos regularmente frequentam a Santa Missa dominical constituem um constante desafio para as vossas Igrejas. É evidente que essa situação sugere uma solução provisória, para não deixar a comunidade no abandono, com o risco de um progressivo empobrecimento espiritual. Porém, o incompleto carácter sacramental dessas funções litúrgicas, levadas a cabo por pessoas não ordenadas (leigos ou religiosos), deveria induzir toda a comunidade paroquial a orar com maior fervor a fim de que o Senhor envie trabalhadores para a sua messe (cf. Mt Mt 9,38).

7. Por fim, uma palavra sobre a missão de governar a vós confiada. Ao exercerdes esta tarefa, tendes sem dúvida diante dos olhos a imagem do Bom Pastor, que não veio para ser servido, mas para servir (cf. Mt Mt 20,28).

Neste sentido, recomendo-vos vivamente sobretudo os presbíteros das vossas Igrejas locais, para os quais, como Bispos, constituís «o perpétuo e visível fundamento da unidade» (Lumen gentium, LG 23). Velar pelos vossos sacerdotes é um serviço muito exigente, sobretudo quando tardam os frutos do trabalho pastoral, com a possível tentação de esmorecimento e tristeza. Muitos pastores têm a impressão de trabalhar não numa vinha evangélica, mas numa estepe árida.

Conheço o peso dos empenhos diários ligados ao vosso ministério. Porém, com paterna solicitude recordo as palavras claras e repletas de sensibilidade do Concílio Vaticano II: «Por causa desta comunhão no mesmo sacerdócio e ministério, os Bispos devem estimar os presbíteros, como irmãos e amigos, e ter a peito o bem deles, quer o material, quer sobretudo o espiritual... Estejam dispostos a ouvi-los, consultem-nos e troquem com eles impressões sobre os problemas pastorais e o bem da Diocese» (Presbyterorum ordinis PO 7). «Tenham uma compaixão prática pelos sacerdotes que se encontram em algum perigo ou faltaram já a alguns dos seus deveres» (Christus Dominus, CD 16).

8. Ante a imensidade da missão que vos está confiada, venerados Irmãos, nunca vos deixeis vencer pelo cansaço ou pelo desânimo porque o Senhor ressuscitado caminha convosco e torna fecundos os vossos esforços. É verdade que são numerosas as urgências pastorais, mas notáveis são também os recursos humanos e espirituais, com os quais podeis contar. A vós cabe a tarefa de conduzir este povo de Deus à plenitude da resposta fiel ao desígnio divino.

Acompanhe-vos Maria neste árduo mas entusiástico caminho. A cada um de vós, bem como aos sacerdotes e consagrados e a todos os fiéis das vossa Comunidades, de todo o coração concedo a minha Bênção.





MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO VI CONGRESSO ANUAL SOBRE


O ROSTO DE CRISTO


Ao venerado Irmão Cardeal Fiorenzo ANGELINI
Presidente Emérito do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde

1. Senhor Cardeal, a celebração em Roma do VI Congresso anual, promovido pelo Instituto Internacional de Investigação sobre o Sagrado Rosto de Cristo, oferece-me a ocasião de lhe dirigir a minha cordial saudação e de lhe expressar a minha profunda estima pela nova contribuição, que este encontro não deixará de trazer ao estudo deste importante tema.

Venerado Irmão, com tenacidade exemplar e com entusiasmo crescente, valendo-se também da colaboração da benemérita Congregação Beneditina das Irmãs Reparadoras do Sagrado Rosto de Nosso Senhor Jesus Cristo, Vossa Eminência continua a interpelar ilustres estudiosos de todas as regiões do mundo, enriquecidos com a sua mais diversificada preparação cultural, a aprofundar um tema de tão relevante eficácia evangelizadora. Com efeito, "o Reino de Deus não é um conceito, uma doutrina, um programa sujeito à livre elaboração mas é, acima de tudo, uma Pessoa que tem o nome e o rosto de Jesus de Nazaré, imagem de Deus invisível" (Carta Encíclica Redemptoris missio RMi 18, em: AAS 83, 1991, pág. 282).

Além disso, Senhor Cardeal, não posso deixar de lhe manifestar a minha reconhecida estima por ter escolhido, este ano, como tema para o aprofundamento da doutrina, da espiritualidade e da devoção ao Sagrado Rosto de Cristo, o magistério e o ministério pastoral que eu mesmo tenho levado a cabo a este respeito: um magistério e um ministério que, desde a minha primeira Encíclica Redemptor hominis (4 de Março de 1979) até aos Documentos mais recentes, privilegiou fortemente esta particular referência à Pessoa de Cristo.

No final do Grande Jubileu do Ano 2000, desejei afirmar: "E não é porventura a missão da Igreja reflectir a luz de Cristo em cada época da história e, por conseguinte, fazer resplandecer o seu Rosto também diante das gerações do novo milénio? Mas o nosso testemunho seria excessivamente pobre, se não fôssemos primeiro contemplativos do seu Rosto" (Carta Apostólica Novo millennio ineunte, 6 de Janeiro de 2001, n. 16).

2. Favorecendo com zelo e inteligência a contribuição que muitos estudiosos, investigadores, teólogos, escritores e artistas ilustres oferecem em ordem ao estudo do Rosto de Cristo, o Instituto Internacional de Investigação dá um significativo contributo de comprovada autoridade à apresentação da figura humana e divina de Cristo, favorecendo o progresso dos conhecimentos, tanto a nível da reflexão teológica como da práxis pastoral.

Dado que "somente no mistério do Verbo encarnado o mistério do homem encontra a sua verdadeira luz" (Gaudium et spes, GS 22), é no plano da reflexão teológica que o estudo sobre o Rosto de Cristo, prefigurado nos Salmos e nos Profetas, e descrito com riqueza de expressões no Novo Testamento, se torna caminho e introdução de uma ciência cristológica e antropológica cada vez mais aprofundada. E além disso, também no plano da práxis pastoral, porque no Rosto de Cristo, doloroso e ressuscitado, a Igreja, que é perita em humanidade, reconhece o Rosto mais verdadeiro e profundo do homem, a quem Cristo oferece a redenção e a salvação. Por conseguinte, a contemplação do Rosto de Cristo recupera e volta a propor aquela teologia viva dos Santos, que podemos considerar como o mais iluminador testemunho do verdadeiro seguimento de Jesus, e como a mais válida ajuda para uma eficaz catequese cristã no nosso tempo.

Senhor Cardeal, também não pode passar despercebido o valor ecuménico da contemplação do Rosto de Cristo: na investigação cada vez mais aprofundada daqueles santos traços, o Oriente e o Ocidente encontram-se e completam-se, como no-lo mostram as contribuições a este respeito, apresentados durante os Congressos que o Instituto Internacional de Investigação sobre o Sagrado Rosto de Cristo já dedicou a este tema.

3. Formulando bons votos a fim de que também este VI Congresso sobre o Rosto de Cristo seja fecundo de frutos de bem, peço ao Senhor Cardeal que se faça intérprete da minha presença espiritual nos trabalhos do Congresso, transmitindo os meus votos de bem aos ilustres Relatores, aos participantes e a quantos, das formas mais diversas, contribuem para a actividade e as iniciativas deste Instituto internacional. Em particular, queira Vossa Excelência fazer-se intermediário do meu afectuoso encorajamento às Religiosas da Congregação Beneditina das Irmãs Reparadoras do Sagrado Rosto de Nosso Senhor Jesus Cristo que, com louvável dedicação, o coadjuvam nas suas actividades sempre diligentes.

Venerado Irmão, enquanto confio à Virgem Santíssima o seu trabalho e a obra daqueles que, de várias maneiras, participam neste Congresso, a todos concedo do íntimo do coração uma especial Bênção apostólica.



Vaticano, 19 de Outubro de 2002.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS VINDOS A ROMA


PARA A BEATIFICAÇÃO DE SEIS SERVOS DE DEUS


Segunda-feira, 21 de Outubro de 2002








Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É-me grato receber-vos novamente hoje de manhã. Saúdo-vos a todos com afecto. Saúdo de maneira particular os Cardeais, os Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, os Religiosos e as Religiosas.

Estamos em Outubro, mês dedicado de modo especial à recitação do Rosário, "oração amada por numerosos Santos" (Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae RVM 1). Neste contexto, desejamos reflectir sobre as "maravilhas" realizadas por Deus através dos novos Beatos, que a Igreja nos apresenta como modelos a imitar e como nossos poderosos intercessores junto de Deus.

2. É-me grato saudar os peregrinos que vieram de Uganda, acompanhados do Cardeal Emmanuel Wamala, assim como os fiéis provenientes das outras partes da África e de outras regiões do mundo inteiro, para celebrar a beatificação dos Servos de Deus David Okelo e Jildo Irwa. Como observámos ontem, estes dois jovens catequistas são um exemplo luminoso de fidelidade a Cristo, de compromisso de vida cristã e de abnegada dedicação ao serviço do próximo. Com a sua esperança firmemente posta em Deus e com uma profunda fé na promessa de Jesus, de estar sempre com eles, partiram para transmitir a Boa Nova da salvação aos seus compatriotas, aceitando inteiramente as dificuldades e os perigos que os esperavam. Que o seu testemunho sirva para vos fortalecer, enquanto procurais dar o verdadeiro exemplo de vida cristã em todos os sectores da vossa existência. Através da sua intercessão, oxalá a Igreja seja um instrumento cada vez mais eficaz de bondade e de paz na África e no mundo. Deus abençoe Uganda!

3. Agora, dirijo-me aos fiéis da Diocese de Treviso, acompanhados do seu Bispo, D. Paolo Magnani, que exultam pela elevação à glória dos altares de um dos seus zelosos e iluminados Pastores, André Jacinto Longhin. Juntamente com eles, saúdo com afecto também os queridos Frades Menores Capuchinhos.

Grande foi a atenção que D. Longhin dedicou à formação do clero. No seu testamento espiritual, ele quis reservar um pensamento especial aos seus sacerdotes, exortando-os: "Fazei-vos santos!".

Ele mostrou-se sempre como um pai atento e cuidadoso para com eles, como o foi para todo o seu povo, especialmente para os humildes e os pobres.

A fecundidade do ministério episcopal do Beato Longhin exprimiu-se particularmente nas três visitas pastorais que realizou na sua Diocese, na celebração do Congresso Eucarístico e do Congresso Catequético, na execução daquele que é considerado como a sua obra-prima: o Sínodo diocesano. Assim, ele continua a ser um exemplo extremamente actual de verdadeira evangelização.

4. Uma profunda aspiração missionária caracterizou também a vida do Beato Marcos António Durando. É-me grato saudar o Cardeal Severino Poletto, Arcebispo de Turim, juntamente com os Padres da Congregação da Missão e com quantos fazem parte da grande Família religiosa vicentina, que festeja a inscrição de um dos seus membros mais ilustres no álbum dos Santos.

Definido por um dos seus irmãos religiosos como "o São Vicente da Itália", ele brilhou pela sua extraordinária caridade, que soube infundir em todas as obras em que pôde participar: da actividade de governo da comunidade, às missões populares; da animação das Filhas da Caridade, à iniciativa das "Misericórdias", uma verdadeira e própria antecipação dos modernos centros de escuta e de contínua assistência a domicílio dos doentes.

Como ainda temos necessidade desta profunda referência às raízes da caridade e da evangelização! Segundo o exemplo do Beato Marcos António saibamos pôr-nos, por nossa vez, ao serviço dos pobres e dos necessitados, que infelizmente não faltam nem sequer na actual sociedade do bem-estar.

5. Estimados peregrinos, vindos para celebrar a beatificação de Maria da Paixão, é-me grato dar-vos as minhas boas-vindas. Saúdo a Superiora-Geral das Franciscanas Missionárias de Maria, assim como o seu novo grupo de Conselheiras. Queridas Irmãs, dou graças pela vossa vocação, que une a contemplação à missão, e pelo precioso testemunho oferecido pelas vossas comunidades internacionais, sinal de fraternidade e de reconciliação para os povos. Encorajo-vos a fazer crescer nelas cada vez mais o amor fraternal, num clima repleto de alegria e de simplicidade franciscanas. Convido-vos a continuar, com clarividência e na verdade, o diálogo empreendido com as várias culturas. Aprofundando a rica espiritualidade da vossa fundadora, oxalá possais fazer com que os jovens descubram o júbilo de se consagrarem totalmente a Cristo! Aos fiéis aqui presentes, às Franciscanas Missionárias de Maria, às pessoas que trabalham ao seu lado e a todos os indivíduos que beneficiam do seu apostolado, concedo do íntimo do coração a Bênção apostólica.

6. Por fim, saúdo ainda os peregrinos vindos a Roma, acompanhados do seu Bispo, D. António Mattiazzo, para a beatificação de Liduína Meneguzzi, em particular as dilectas Religiosas de São Francisco de Sales, mais conhecidas como Irmãs Salésias. A dimensão mais viva e concreta que transparece da existência da Irmã Liduína é uma alma profundamente missionária. Na África, ela fez-se "toda para todos" na caridade, assistindo os feridos, animando os aflitos e consolando os moribundos.

A Irmã Liduína encoraja-nos a amar a vida desde o seu desabrochar inicial até ao seu crepúsculo natural; e a respeitar cada pessoa humana, encontrando na dádiva generosa e abnegada de si mesmas a resposta ao amor de Deus. Esta é a sua mensagem cheia de alegria e de optimismo, com a qual a nova Beata nos convida a abrir-nos generosamente à acção da graça de Deus.

7. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Os novos Beatos animam e apoiam o nosso caminho rumo ao Senhor. Acompanha-nos também a materna protecção de Maria Santíssima a quem, especialmente neste mês de Outubro, invocamos com a recitação do Rosário.

Enquando confio as vossas pessoas e todas as vossas actividades à intercessão celestial de Nossa Senhora e dos novos Beatos, abençoo-vos do íntimo do coração, juntamente com os vossos entes queridos e com quantos encontrais no cumprimento do vosso serviço missionário e caritativo.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA HUNGRIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 24 de outubro de 2002


Senhor Embaixador

1. É com prazer que recebo Vossa Excelência na ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Hungria junto da Santa Sé e agradeço-lhe as gentis palavras que me dirigiu. Ficar-lhe-ia grato se se dignar transmitir a Sua Excelência o Senhor Ferenc Mádl, Presidente da República, assim como aos membros do Governo, a minha gratidão pelas cordiais saudações que me dirigiram. Recordando-me com prazer da sua recente visita ao Vaticano, desejo retribuir ao Senhor Presidente da República os meus melhores votos para a sua pessoa, para os dirigentes do pais e para todo o povo húngaro.

2. Senhor Embaixador, Vossa Excelência acaba de recordar a rica história do seu país e os vínculos com a Sé Apostólica. Depois das dolorosas rupturas provocadas no século passado pelas duas guerras mundiais e depois dos anos sombrios do poder comunista, a Hungria reencontrou a possibilidade de estabelecer livremente o seu futuro. Durante o ano jubilar, ela celebrou solenemente o milénio da fundação da Nação e do seu Baptismo, sob o reinado de Santo Estevão I, ocasião excepcional para manifestar a unidade nacional e recordar como ela tira das suas raízes religiosas a força para edificar uma sociedade na qual todos são reconhecidos e respeitados, e tem a possibilidade de participar na vida democrática do País. Como Vossa Excelência realçou, a Igreja partilha as esperanças e os sofrimentos do povo húngaro, e acompanhou-o nas numerosas dificuldades que marcaram a sua história. Hoje, também ela rejubila por ter reencontrado a sua liberdade de acção na sociedade húngara, graças sobretudo aos acordos assinados com os governos posteriores, que manifestam as relações cordiais, que se distinguem pelo respeito e confiança recíprocos, renovados entre a Igreja católica e as Autoridades do país.

3. A Hungria empenhou-se num grande movimento de reformas e de reconstrução da vida da Nação, em todos os seus componentes. Entre eles, encontram-se as familias, células básicas da vida social, que é importante apoiar e ajudar, particularmente quando as dificuldades económicas atingem as mais desfavorecidas. Mediante várias instituições, a Igreja dá o seu contributo à ajuda recíproca e à partilha com os mais pobres da sociedade, e não deixa de apoiar a instituição familiar, recordando, sobretudo com o seu ensinamento, a grandeza do matrimónio e da familia.

O futuro de um povo começa a preparar-se a partir da atençao que dedica aos mais jovens e à sua educaçao. É de modo especial necessário transmitir aos jovens os valores civicos, morais e espirituais que forjaram a alma do povo hùngaro durante gerações, preparando-os para viver num mundo aberto e secularizado, marcado pelo individualismo e pela atracçao pelos bens materiais. Esta obra educativa, se se baseia antes de mais na familia, empenha também a responsabilidade da Naçao, através da escola e de todos os que nela colaboram. A Igreja, que dedica sempre grande atençao à juventude, dispõe no seu Pais de uma ampla rede de escolas, através das quais participa nesta obra educativa, e podeis contar sempre com a sua disponibilidade neste âmbito.

4. O seu País, Senhor Embaixador, já restabeleceu os seus vínculos económios, políticos e culturais com o conjunto dos seus vizinhos europeus. A Santa Sé rejubila com a perspectiva desta abertura da União Europeia que deveria permitir o restabelecimento progressivo da unidade do continente europeu, interrompida durante muito tempo com a divisão de Yalta e pelo fechamento do bloco soviético. A livre circulação das pessoas e dos bens, assim como o diálogo das culturas e o intercâmbio das riquezas espirituais entre as nações são os meios susceptiveis de vencer os receios, os fechamentos em si mesmos e as pobrezas nacionalistas que suscitaram, ainda num passado muito recente, tantas hostilidades a nível do continente europeu assim como à escala mundial.

A sua Nação sabe isto muito bem, e a sua história tornou-a particularmente sensível ao respeito pelas minorias, porque numerosos cidadãos de origem e cultura húngara vivem hoje no estrangeiro.

É uma preocupação permanente que estimula os responsáveis a procurar cada vez mais os meios de diálogo com os seus vizinhos, a fim de garantir aos seus irmãos de origem as melhores condições de vida possíveis, no respeito da sua própria cultura. É a mesma preocupação que, em contrapartida, exige que seja dedicada atenção e respeito a todos os que, no solo húngaro, podem pertencer a minorias culturalmente diferentes. A Sé Apostólica, atenta a esta realidade das diferenças culturais, não deixa de fazer apelo aos responsáveis das Nações, assim como aos chefes religiosos, para um diálogo corajoso, o único capaz de vencer os conflitos entre os homens e de os preparar a todos para um futuro de justiça e de paz.

Faço votos por que ao dar testemunho da sua história e da sua rica identidade cultural, o seu País contribua para fazer viver a Europa de amanhã, não só como um grande mercado de bens materiais, mas como a expressão viva de tantas riquezas culturais e espirituais, próprias de cada Nação e postas em comum ao serviço da União. Esta é uma importante responsabilidade das Nações europeias, em relação aos povos de outros continentes, que também desejam unir as suas riquezas e as suas forças, para servir o desenvolvimento e a paz.

5. Senhor Embaixador, permita que eu saúde, por seu intermédio, a comunidade católica da Hungria e os seus pastores. Garanto-lhes a oração e a proximidade espiritual do Sucessor de Pedro, e encorajo-os a testemunhar incansavelmente as palavras do Evangelho, sobretudo junto dos jovens que procuram dar sentido à sua vida e que desejam empenhar-se ao serviço dos seus irmãos. Sei que os católicos participam plenamente da vida da Nação, de acordo com a sua vocação. Que eles sejam fiéis a exemplo dos grandes santos que marcaram a sua história, como Santo Estêvão, Santa Isabel, o Bispo Vilmos Apor, que tive a alegria de beatificar recentemente, e de todas as testemunhas da fé durante a perseguição do regime comunista, entre os quais sobressai a figura do saudoso Cardeal Jósef Mindszenty, de venerada memória!

6. No momento em que Vossa Excelência começa a sua nobre missão, garanto-lhe a disponibilidade atenta de todos os meus colaboradores, e desejo-lhe um trabalho frutuoso ao serviço das boas relações entre a Hungria e a Santa Sé!

Sobre Vossa Excelência, sobre a sua familia e os seus colaboradores, bem como sobre todo o povo húngaro, invoco a abundância das Bênçãos divinas.






Discursos João Paulo II 2002 - 18 de Outubro de 2002