Discursos João Paulo II 2002 - Terça-feira, 26 de novembro de 2002

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO FIM DO CONCERTO EM HOMENAGEM


ÀS MONTANHAS


26 de Novembro de 2002




Senhores e Senhoras
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Foi-nos oferecido um concerto singular, que une numa síntese harmoniosa música, espiritualidade e amor pela montanha. Saúdo e agradeço aos seus idealizadores, organizadores e aos que contribuiram activamente para a realização deste acontecimento solene, que assume especial relevo no Ano Internacional das Montanhas.

Saúdo o Ministro dos Assuntos Regionais, Senhor Enrico la Loggia, e as outras Autoridades que aqui vieram, assim como os representantes da União Nacional dos Municípios, das Comunidades e Entidades Montanheses, que quiseram festejar os cinquenta anos da sua Associação, oferecendo ao Papa, também ele amigo da montanha, este gratíssimo dom. Saúdo os presentes e aqueles que se uniram a nós através da televisão, em particular tantos habitantes das montanhas.

Dirijo um grato pensamento à orquestra sinfónica húngara de Pecs, com o Maestro de concerto Stefano Pellegrino Amato; ao coro da Região Friul-Veneza Júlia, com o seu Director; aos realizadores do projecto televisivo; aos dirigentes e operadores da RAI, que prepararam a ligação por satélite dos cimos do monte Lussari e do Gran Sasso.

2. Segui com viva emoção a execução das maravilhosas composições musicais de Raff e de Brahms, acompanhadas de imagens de maciços imponentes e de localidades amenas da península italiana. Pudemos assim realizar, em conjunto, um interessante percurso artístico que, através da audição da música e da contemplação dos encantadores panoramas, nos convidou a elevar um cântico de louvor ao Criador pelas maravilhas da natureza, obra das suas mãos.

A árdua majestade dos cimos leva-nos a destacar os valores da tenacidade e humildade que são indispensáveis para enfrentar a vida de cada dia e para subir com coragem até à alta montaha da santidade.

3. Esta tarde estreitaram-se num simbólico abraço a montanha e a cidade, as belezas naturais, a riqueza de imaginação do homem e o mistério de Deus. O silêncio dos cimos cobertos de neve encontrou-se com a vivacidade das metrópoles frenéticas. "As montanhas canta o Salmista levam a paz ao povo e as colinas, a justiça" (Ps 71,3). É do monte onde o Senhor habita que vêm a justiça e a paz, condições indispensáveis para fazer do mundo uma pátria acolhedora de cada ser humano.

Esta interessante manifestação possa contribuir para realizar o projecto de solidariedade e de amor!

Com estes votos, é de coração que vos abençoo a todos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amen.

Obrigado



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS,


AO CORPO DOCENTE E AOS ALUNOS


DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE URBANIANA


: Sexta-feira, 29 de Novembro de 2002






Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
Autoridades Eclesiásticas
Caríssimos Alunos

1. É com grande alegria que vos recebo hoje, por ocasião da solene celebração dos 375 anos de história do Colégio Urbano e dos 40 anos de instituição da Pontifícia Universidade Urbaniana. Saúdo o Cardeal Sepe e agradeço-lhe o cordial discurso com que interpretou e exprimiu os sentimentos de todos.

Dirijo a minha saudação ao Reitor Magnífico da Universidade, aos Cardeais e aos Prelados aqui presentes, às Autoridades académicas, aos Professores, aos participantes no Congresso internacional e aos alunos do Colégio e da Universidade, que enriquecem este nosso encontro com o ânimo do seu entusiasmo.

2. Foi o meu inesquecível Predecessor, o Beato João XXIII, que atribuiu à Urbaniana, precisamente na vigília do Concílio Vaticano II, o título de Universidade. Durante estes anos, um elevado número de jovens seminaristas, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos receberam ali uma formação espiritual e cultural, que lhes permitiu preparar-se para viver a fé de maneira sólida, testemunhando-a também em situações de dificuldade. Sem dúvida, alguns deles passaram a fazer parte daquelas "testemunhas da fé", mortas no século passado, que recordamos na emocionante oração recitada no Coliseu, durante o Ano jubilar.

Fundada como Collegium pelo Papa Urbano VIII com a Bula Immortalis Dei Filius, a vossa Universidade, que dele recebe o nome, teve desde o começo uma finalidade missionária. A preocupação do Papa Urbano consistia, justamente, em emancipar a Igreja dos poderes coloniais. Com efeito, era preciso assegurar a liberdade da evangelização nas terras recentemente descobertas e nos países onde o cristianismo tinha sido anunciado noutros tempos, como na China.

3. Se aqueles eram tempos difíceis, não podemos dizer que os nossos são fáceis. E isto é do conhecimento daqueles de entre vós que provêm de regiões onde a guerra, as doenças e a pobreza ceifam todos os dias numerosas vidas. Portanto, é mais necessária do que nunca uma Instituição académica como a vossa, que saiba transmitir a ciência filosófica, teológica, histórica e jurídica no interior das culturas de povos muito diversos entre si.

Como tive a oportunidade de dizer na minha primeira visita, em 1980, a vossa Universidade exprime o carácter universal que é típico da Igreja católica. Quem nela estuda deve ser dotado de uma sensibilidade aberta aos valores das várias culturas, pondo-as em diálogo com a mensagem evangélica. Hoje, noventa Institutos espalhados pelo mundo estão filiados na vossa Universidade, testemunhando também desta forma a abertura verdadeiramente "católica" que a distingue. Desejo dirigir-lhes uma saudação especial: cultivai sempre no coração e na investigação académica este carácter universal, tão precioso no nosso mundo dividido, que exalta especialmente os elementos particulares, tanto do indivíduo, como do grupo, da etnia ou da nação, a ponto de, às vezes, prejudicar o compromisso da solidariedade.

A violência, o terrorismo e a guerra só edificam novos muros entre os povos. A vossa Universidade é uma escola de universalidade, onde deve existir aquele sentido de comunhão profunda que caracterizava a comunidade cristã primitiva (cf. Act Ac 4,32).

4. Precisamente no ano passado, celebrámos em conjunto e de forma solene os dez anos da Carta Encíclica Redemptoris missio. Este documento deve ser, para vós, um programa de estudo e de vida. Nele falei de uma missão que ainda está no começo, depois de dois mil anos de vida cristã. A missão é um compromisso que continua também nos dias de hoje: e este é o espírito que deve animar a vossa vida espiritual e académica.

Hoje faz parte deste espírito, de modo particular, o desenvolvimento de uma atenção singular às culturas dos povos e às grandes religiões mundiais. Sem deixar de afirmar a força da mensagem evangélica, no mundo dilacerado de hoje, é importante que os cristãos sejam homens de diálogo e lutem contra aquele embate de civilizações que, às vezes, parece inevitável.

Por isso, olhando para o futuro, seria para desejar que a Urbaniana se distinguisse entre os Ateneus Romanos, precisamente por uma atenção especial às culturas dos povos e às grandes religiões mundiais, a começar pelo Islão, o Budismo e o Hinduísmo e, por conseguinte, considerasse com cuidado o problema do diálogo inter-religioso nas suas implicações teológicas, cristológicas e eclesiológicas. Sei que já estais a desenvolver intensamente este sector de investigação, também em colaboração com a Congregação para a Evangelização dos Povos e com o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, no espírito da Encíclica Redemptoris missio.

5. Por fim, exorto-vos a não esquecer que a finalidade do Colégio Urbano, do qual nascestes como Universidade, é a formação integral dos seus alunos. A Igreja do terceiro milénio tem necessidade de sacerdotes, religiosos e leigos que sejam santos e doutos. Como escrevi na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, não se trata de inventar um novo programa: "O programa já existe: é o mesmo de sempre, expresso no Evangelho e na Tradição viva. Concentra-se, em última análise, no próprio Cristo, que temos de conhecer, amar e imitar, para n'Ele viver a vida trinitária e com Ele transformar a história até à sua plenitude na Jerusalém celeste" (n. 29).

Este programa é válido para todos, também para vós, estimados professores e estudantes da Pontifícia Universidade Urbaniana, do Colégio Urbano e dos Colégios que dependem da Congregação para a Evangelização dos Povos. O Senhor seja o coração do vosso estudo e da vossa vida, a fim de poderdes ser animados pelo amor ao Evangelho, que levou as testemunhas dos primórdios até aos extremos confins da terra.

Enquanto vos formulo votos de um ano jubilar rico de frutos para vós e para todos aqueles que vos estão próximos com a sua amizade e o seu apoio, confio-vos à protecção da Virgem Maria, Sede da Sabedoria, e abençoo-vos a todos de coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR


DA BÓSNIA E HERZEGÓVINA


JUNTO DA SANTA SÉ


Sábado, 30 de Novembro de 20002



Senhor Embaixador

1. É de bom grado que recebo as Cartas Credenciais com que Vossa Excelência é acreditado como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Bósnia e Herzegovina junto da Santa Sé.

Dou-lhe as boas-vindas e, através da sua pessoa, transmito a minha respeitosa saudação às Autoridades do País que o Senhor Embaixador é chamado a representar junto desta Sé Apostólica.

É também de bom grado que aproveito esta ocasião para confirmar a minha constante proximidade às queridas populações da Bósnia e Herzegovina, que sofreram não só devido a um sistema político fundamentado numa ideologia contrária aos valores inscritos no espírito do homem, mas também a uma guerra dolorosa. E foi por este motivo que desejei ir a Sarajevo. Assim, nos dias 12-13 de Abril de 1997, a Providência concedeu-me a oportunidade de realizar uma Visita pastoral a essa Cidade tão provada, e de confirmar a necessidade "de assegurar o respeito por cada homem e pelos seus direitos, sem distinção de povo e de religião" (Discurso na chegada a Sarajevo, 12 de Abril de 1997, n. 1).

2. Graças a Deus, o compromisso dos homens de boa vontade levou primeiro à assinatura do Acordo de Washington e, em seguida, à dos Acordos de Dayton, que foram inseridos na base do Estado da Bósnia e Herzegovina. Tudo isto fez com que as armas se calassem. Porém, é preciso trabalhar intensamente para construir e tornar eficaz a paz na justiça, resolvendo os problemas relativos ao futuro do País, entre os quais se encontram tanto a questão dos prófugos e dos exilados, que esperam poder voltar para casa, como a recuperação económica, que daria serenidade e confiança às populações.

Portanto, são necessários programas concretos, que partam da pessoa e do respeito pela sua dignidade, que ofereçam a possibilidade de trabalhar e de adquirir os meios suficientes para viver, que promovam o diálogo e a colaboração entre os vários sectores da sociedade civil, no pleno respeito pela identidade de cada um. Somente desta forma será possível dar vida a uma democracia autêntica, "fruto da valorização das particularidades culturais, sociais e religiosas dos vários componentes da Bósnia e Herzegovina, no respeito pela equidade, a justiça e a verdade" (Discurso aos participantes na peregrinação jubilar da Província Eclesiástica de Vrhbosna, 30 de Abril de 2000, n. 3).

A democracia é uma tarefa exigente, que requer moralidade, honestidade, sensibilidade humana, sabedoria, paciência, respeito pelos outros, disponibilidade para a renúncia todas as vezes que o bem comum o exigir e uma firme vontade de expor e de não impor os pontos de vista e as ideias pessoais. Esta tarefa é ainda mais exigente num país multiétnico, multicultural e multirreligioso, como é precisamente o caso da Bósnia e Herzegovina, chamada a construir o seu presente e o seu futuro sobre as sólidas bases da justiça, do respeito pelo próximo, da colaboração e da solidariedade entre todos os seus membros, salvaguardando as sãs tradições de cada uma das suas populações.

3. Em ordem a olhar com maior confiança para o futuro, é também indispensável promover uma verdadeira reconciliação e um perdão sincero. "A espiral das "culpas" e das "penas" nunca terminará, se num dado momento não se chegar ao perdão" (Homilia em Castelgandolfo, 8 de Setembro de 1994, n. 6). Sim! Não é fácil perdoar, mas é urgentemente necessário, para o bem de todos!

É verdade que não se pode apagar da memória aquilo que aconteceu no passado, mas pode-se e deve-se libertar os corações do rancor e da vingança. A recordação dos erros e das injustiças permanece como uma exigente admoestação a não repetir nem uns nem as outras, de maneira a evitar novas tragédias, talvez ainda mais graves.

A Igreja que está na Bósnia e Herzegovina já está a trabalhar e a oferecer a sua contribuição para a reconciliação e o perdão, anunciando fielmente o Evangelho. Ela só pede que lhe seja permitido cumprir esta sua missão, permanecendo perto dos pobres e dos marginalizados e dando voz a quantos, na sociedade, a não têm.

É precisamente neste espírito que a Igreja se esforça em ordem a promover a formação das novas gerações através de escolas abertas a quem quer que deseje aceder à educação obrigatória e à instrução liceal. Estou convicto de que os representantes das instituições do Estado saberão valorizar esta contribuição da Igreja, e não deixarão de facilitar todo o desenvolvimento oportuno dos seus Institutos escolares, para o bem dos adolescentes e dos jovens de todas as etnias e religiões presentes na Bósnia e Herzegovina.

4. É necessária a contribuição de todos, com vista a consolidar uma sociedade que rejeite toda a tentação de favorecer uma pessoa em detrimento das outras; uma sociedade pronta a assegurar a todos a igualdade efectiva e atenta ao respeito pelos direitos, as liberdades e a identidade de cada um, tendo em conta as experiências locais históricas, sociais e culturais; em síntese, uma sociedade que se fundamente na justiça e na paz.

Embora a guerra já tenha terminado há sete anos, infelizmente ainda não se vêem soluções concretas para o drama dos numerosos prófugos e exilados, desejosos de voltar para casa. Penso de maneira particular nas populações que estão à espera de poder regressar às regiões de Banja Luka e de Bosanska Posavina. A estas populações, assim como aos refugiados e aos exilados de outras áreas, é negado o direito de viver serenamente na sua terra natal. Então, com muita frequência, não poucos de entre eles são obrigados a procurar a sorte alhures.

Estas pessoas pedem que lhes sejam dadas garantias para a sua incolumidade, bem como para a criação de condições políticas, sociais e económicas aceitáveis. Além disso, elas exigem a restituição dos seus bens, dos quais foram privados com a violência durante a guerra.

5. É indispensável construir um clima de paz que seja autêntico. A paz afirma o Concílio Ecuménico Vaticano II não é unicamente a ausência da guerra, nem se reduz a um mero equilíbrio de forças adversas" (Gaudium et spes, GS 78). De resto, o Concílio recorda que a paz "se define, com razão e propriedade, [como] obra de justiça" e que ela exige "a vontade firme de respeitar os outros homens e povos, bem como a sua dignidade" (Ibidem).

Pôr em prática este ensinamento exige o compromisso em ordem a não favorecer situações que pareçam privilegiar os resultados alcançados com a violência, em detrimento de pessoas inermes; além disso, comporta a vontade de reparar e de corrigir com oportunas intervenções políticas e económicas, tanto a nível local como institucional as injustiças cometidas. Neste esforço, "os eventuais imprevistos não devem desanimar ninguém, mas somente comprometer a sabedoria de todos, com vista a reparar e a aperfeiçoar os planos já predispostos" (Discurso ao Embaixador da Bósnia e Herzegovina, 11 de Setembro de 1998, n. 3).

6. Senhor Embaixador, formulo votos cordiais a fim de que o País, representado por Vossa Excelência, encontre compreensão e apoio concretos no que diz respeito à cicatrização das feridas infligidas pela recente guerra e pelos sistemas políticos do passado, que causaram enormes tragédias na Bósnia e Herzegovina e nos outros países dessa região, durante o século XX. As nações do velho continente e a comunidade internacional não deixarão de oferecer as ajudas necessárias para apoiar programas destinados a fazer com que a Bósnia e Herzegovina e os países de toda a região do Sudeste da Europa possam participar, quantos antes, nos processos de integração europeia e mundial.

Estou persuadido, outrossim, de que a Bósnia e Herzegovina saberá oferecer o seu próprio contributo para a construção de uma "casa comum", aberta a todos os povos do nosso continente. Com efeito, ninguém tem o direito de excluir o próximo, mas todos têm a obrigação de respeitar os outros, quer se trate de países pequenos ou grandes.

7. Senhor Embaixador, foi com satisfação que tomei conhecimento de tudo o que Vossa Excelência mencionou acerca das relações mútuas entre a Bósnia e Herzegovina e a Santa Sé, e dos seus ulteriores desenvolvimentos e aprofundamentos. Estas relações continuarão a beneficiar, como até ao presente têm feito, todos os cidadãos da Bósnia e Herzegovina.
No cumprimento da alta missão que lhe foi confiada, também Vossa Excelência como o seu predecessor, encontrará a plena disponibilidade da parte da Santa Sé, na abordagem das questões de interesse conjunto.

Senhor Embaixador, que a sua permanência em Roma seja agradável e Deus lhe permita desempenhar um trabalho profícuo e interessante.

Acompanho estes bons votos com a minha oração, a fim de que Deus, Pai de todos os homens e povos, assista com as suas dádivas não só o Senhor Embaixador, mas também os seus Colaboradores, as Autoridades do Estado, e as queridas populações da Bósnia e Herzegovina, sempre presentes no meu coração.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PATRIARCA ECUMÉNICO BARTOLOMEU I


POR OCASIÃO DA FESTIVIDADE DE SANTO ANDRÉ




A Sua Santidade Bartolomeu I
Arcebispo de Constantinopla
Patriarca Ecuménico

"Graça e paz vos sejam dadas em abundância", a vós que fostes eleitos "segundo o desígnio de Deus-Pai, para a santificação do Espírito, em obediência a Jesus Cristo" (1P 1,2).

Com estas palavras de saudação o apóstolo Pedro dirigiu-se aos cristãos do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bitínia. É com estas mesmas palavras de saudação de paz que eu me dirijo a vós nesta feliz circunstância da festa do santo Padroeiro do Patriarcado ecuménico.

Hoje, este voto torna-se oração. A delegação, guiada pelo Cardeal Walter Kasper, Presidente do Pontifício Conselho para a promoção da Unidade dos Cristãos, que, a meu pedido, foi até vós, une-se a Vossa Santidade ao Santo Sínodo e a toda a Igreja de Constantinopla para elevar a Deus nosso Pai, num fervor comum, a grande doxologia na qual as tradições oriental e latina se encontram na comemoração do apóstolo André, o Protóclito, irmão de Pedro.

A fraternidade dos dois apóstolos Pedro e André, assim como a mesma e única vocação para a qual foram chamados enquanto se dedicavam ao seu trabalho quotidiano (cf. Mc Mc 1,16-17), convidam-nos a procurar juntos, dia após dia, a comunhão plena, para realizar a nossa missão comum de reconciliação em Deus e de promoção de um autêntico espírito pacífico e cristão, no mundo atormentado por dramáticas lacerações e conflitos armados.

A fidelidade a Cristo dos dois Santos Irmãos, Pedro e André, até ao seu último sacrifício, o do martírio, chama as nossas comunidades, que surgiram da pregação dos Apóstolos e se enquandram na sucessão apostólica ininterrupta, a empenharem-se com vista a abater as dificuldades que ainda impedem a concelebração eucarística.

Esta mesma fidelidade, que tem as suas raízes no sacrifício do martírio, é o modelo para o qual devemos continuamente tender sem hesitações, e que deve orientar os nossos passos e dispôr-nos plena e humildemente para o sacrifício pela unidade querida pelo Senhor.

Os nossos contactos, as nossas conversações e as nossas experiências de colaboração estão orientadas para uma única finalidade: a unidade, condição essencial indicada por Cristo, que deve caracterizar as relações entre os seus discípulos. Por seu lado, a Igreja católica empenhou-se com convicção neste processo, com a vontade de fazer progredir qualquer iniciativa que possa favorecer a busca da plena unidade entre todos os discípulos e Cristo. Por conseguinte, consideramos que seria bom encontrarmos formas mais frequentes de comunicação e de intercâmbio regulares e recíprocos entre nós, para tornar mais harmoniosas as nossas relações e para coordenar de modo mais eficaz os nossos esforços comuns. Como deixar de recordar, neste contexto, a preocupação que levo sempre no coração e que Vossa Santidade partilha comigo, de saber começar de novo o diálogo teológico para uma nova fase, depois das incertezas, das dificuldades e das hesitações do último decénio?

São estes os pensamentos que surgem no meu espírito e no meu coração, quando celebramos a festa de Santo André, irmão de Pedro. Penso também no ícone que Sua Santidade Atenágoras I ofereceu a Sua Santidade Paulo VI como recordação do seu primeiro e feliz encontro em Jerusalém. Ele representa os dois apóstolos Pedro e André, num abraço fraterno, e é o símbolo da realidade para a qual devemos tender: o abraço das nossas Igrejas na plena comunhão.

Com estes sentimentos e a esperança de que as nossas relações eclesiais, vivificadas por um estímulo sempre renovado, possam conhecer novos progressos, asseguro-lhe, Santidade, o meu afecto fraterno no Senhor.

Vaticano, 25 de Novembro de 2002.



                                                                             Dezembro de 2002

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA APRESENTAÇÃO


DO LIVRO "IMAGENS" SOBRE A ACTIVIDADE DO PAPA


NO INÍCIO DO 25° ANO DE PONTIFICADO


3 de Dezembro de 2002




Senhor Cardeal
Estimados Irmãos no Episcopado
Ilustres Senhores e Senhoras!

Dirijo a cada um de vós as minhas cordiais boas-vindas, feliz por manifestar a minha profunda gratidão por esta visita, e pela apreciada entrega do volume fotográfico com o título "Imagens".

Estou grato ao estimado Cardeal Andrzej Maria Deskur, ao Presidente, ao Secretário, ao Subsecretário e aos colaboradores do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, que promoveram esta iniciativa editorial para recordar o início do 25º ano do meu Pontificado. Incluo no meu grato pensamento os representantes das Sociedades "Edindústria" e "Tosinvest" que financiaram a obra, assim como os fotógrafos, que puseram generosamente à disposição eloquentes instantâneos, habilmente reproduzidos pela Empresa gráfica "Arc en ciel".

Esta nova publicação deseja testemunhar, com a linguagem eficaz das imagens, a actividade desempenhada pelo Sucessor de Pedro nestes 24 anos, ilustrando os seus momentos e os acontecimentos mais significativos. Desejo de coração que os encontros do Papa com os fiéis de todo o mundo, que quisestes em grande medida documentar nesta recolha fotográfica, sirvam de encorajamento para todos a prosseguir fielmente o caminho do testemunho evangélico.

Com estes sentimentos, abençoo-vos de coração a vós, às vossas famílias e a todos os que vos são queridos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE MARINHEIROS


MILITARES ITALIANOS


NO DIA DE SANTA BÁRBARA


4 de Dezembro de 2002

Caríssimos Marinheiros

Sinto-me feliz por vos encontrar no dia da memória litúrgica de Santa Bárbara, a vossa celeste Padroeira. Saúdo-vos a todos com amizade. Saúdo em particular o vosso Arcebispo, D. José Mani, a quem agradeço as gentis palavras que me dirigiu, e os vossos capelães. Dirijo um pensamento particular para o Ministro da Defesa, que quis estar presente, e conjuntamente com ele saúdo o Estado Maior da vossa Força armada.

A memória litúrgica de Santa Bárbara reúne em cada ano a Marinha Militar para celebrar, com especial devoção, aquela que constitui um modelo de vida e de serviço mesmo para os marinheiros. Esta joven mártir tornou-se uma impávida testemunha da sua fé, não temendo enfrentar a morte para não abandonar o seu compromisso de fidelidade a Cristo e ao Evangelho.

Também vós, caros marinheiros, sois chamados a dar provas de fidelidade a Deus e aos irmãos, servindo generosamente como agentes da segurança e da liberdade do vosso povo e concorrendo, assim, de modo eficiente para a estabilidade e a paz internacional (cf. Gaudium et spes, GS 79). O vosso serviço, não isento de sacrifícios, leva-vos a encontrar pessoas e povos de culturas diversas em todo o mundo. Como cristãos, é-vos pedido o testemunho da fé de modo coerente. Para serdes instrumentos eficazes de paz em toda a parte, mantende, caros militares, um contacto ininterrupto com Cristo na oração. Estareis, assim, em grau de indicar também aos outros a via que conduz ao Senhor, caminho, verdade e vida.

Santa Bárbara vos proteja e esteja convosco na vida de cada dia. O Papa abençoa-vos e acompanha-vos com afecto, assegurando uma recordação diária na oração por cada um de vós e pelas vossas famílias.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NUMA CONFERÊNCIA


PROMOVIDA PELA CONGREGAÇÃO


PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA


Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2002



Senhores Cardeais
Senhor Presidente
da Federação Internacional
das Universidades Católicas
Dilectos Reitores e Professores
das Universidades Católicas
Estimados Amigos

1. É-me grato apresentar-vos a minha cordial saudação e manifestar-vos o meu reconhecimento pelo compromisso cultural e evangelizador das Universidades Católicas do mundo inteiro. A vossa presença oferece-me a oportunidade para me dirigir ao Corpo académico, ao pessoal e aos estudantes das vossas instituições que, em conjunto, formam a comunidade universitária. O encontro deste dia recorda-me com emoção o período em que também eu participei no ensino superior.

Agradeço ao Senhor Cardeal Zenon Grocholewski as palavras com que interpretou os sentimentos de todos vós, indicando, ao mesmo tempo, as motivações e as perspectivas que animam a actividade de investigação e de ensino, em acto nos vossos Ateneus.

2. Organizado conjuntamente pela Congregação para a Educação Católica e pela Federação Internacional das Universidades Católicas, o vosso Congresso sobre o tema "A globalização e a universidade católica", é particularmente oportuno, porque realça que a Universidade Católica deve ter sempre presente, na sua reflexão, as mudanças da sociedade, para promover novas considerações.

A instituição universitária nasceu no seio da Igreja, nas grandes cidades europeias, como Paris, Bolonha, Salamanca, Pádua, Oxford, Coimbra, Roma, Cracóvia e Praga, evidenciando o papel da Igreja no âmbito do ensino e da investigação. Foi à volta de homens que eram teólogos e, ao mesmo tempo, humanistas que se organizou o ensino superior não só em teologia e em filosofia, mas também na maioria das matérias profanas. Actualmente, as Universidades Católicas continuam a desempenhar um papel importante no panorama científico internacional e são chamadas a participar activamente na investigação e no desenvolvimento do saber, em ordem à promoção das pessoas e ao bem da humanidade.

3. As novas questões científicas exigem grande prudência e estudos sérios e rigorosos; elas apresentam numerosos desafios, tanto para a comunidade científica como para as pessoas que devem tomar decisões, especialmente nos âmbitos político e jurídico. Assim, encorajo-vos a permanecer vigilantes, para discernir nos progressos científicos e técnicos, e também no fenómeno da globalização, o que é promissor para o homem e a humanidade, mas também os perigos que eles comportam em relação ao futuro; entre os temas que, actualmente, revestem um interesse particular, gostaria de citar os que dizem respeito directamente à dignidade da pessoa e aos seus direitos fundamentais, e com os quais estão intimamente relacionadas as principais interrogações da bioética, como o estatuto do embrião humano e as células estaminais, hoje em dia objecto de experiências e manipulações inquietadoras, nem sempre moral e cientificamente justificadas.

4. A globalização é com frequência o resultado de factores económicos que, hoje mais do que nunca, formam as decisões políticas, legais e bioéticas, muitas vezes em detrimento das solicitudes humanas e sociais. O mundo da universidade deveria comprometer-se na análise dos factores inerentes a tais decisões e, por sua vez, contribuir para fazer com que se tornem actos verdadeiramente morais, dignos da pessoa humana. Isto significa que é necessário realçar vigorosamente a centralidade da dignidade inalienável da pessoa humana na investigação científica e nas políticas sociais. Através das suas actividades, os professores e os estudantes das vossas instituições são chamados a dar um testemunho clarividente da sua fé diante da comunidade científica, manifestando o seu compromisso em benefício da verdade e o seu respeito pela pessoa humana. Com efeito, para os cristãos a investigação deve realizar-se à luz da fé enraizada na oração, na escuta da Palavra de Deus, na Tradição e no ensinamento do Magistério.

5. O papel das Universidades consiste em formar os homens e as mulheres nas diferentes disciplinas, procurando mostrar o profundo nexo estrutural existente entre fé e razão, como que "as duas asas com que o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade" (Fides et ratio, FR 1). Não podemos esquecer que a verdadeira educação deve apresentar uma visão completa e transcendente da pessoa humana e educar a consciência das pessoas. Estou consciente dos vossos esforços, tanto em ordem a ensinar as disciplinas seculares, como a transmitir aos vossos estudantes um humanismo cristão e a apresentar-lhes, no seu currículo universitário, os elementos essenciais da filosofia, da bioética e da teologia; isto contribuirá para confirmar a sua fé e formar a sua consciência (cf. Ex corde Ecclesiae, 15).

6. A Universidade Católica deve exercer a sua missão com o cuidado de manter a sua identidade cristã, participando na vida da Igreja local. Embora conserve a sua autonomia científica, ela tem a tarefa de viver o ensinamento do Magistério nos diferentes campos da investigação, em que se encontra comprometida. A Carta Ex corde Ecclesiae realça esta dúplice missão: como Universidade, ela "é uma comunidade académica que, de maneira rigorosa e crítica, contribui para a salvaguarda e o desenvolvimento da dignidade humana e da herança cultural, graças à investigação, ao ensinamento e à oferta dos mais diversos serviços" (n. 12). Como Católica, manifesta a sua identidade fundamentada na fé católica, na fidelidade aos ensinamentos e às orientações que são oferecidas pela própria Igreja, garantindo assim "uma presença cristã no mundo universitário, face aos grandes problemas da sociedade e da cultura" (n. 13). Com efeito, compete a cada um dos professores ou investigadores, mas inclusivamente a toda a comunidade universitária e à própria instituição, viver este compromisso como um serviço ao Evangelho, à Igreja e ao homem. No que lhes diz respeito, as Autoridades universitárias têm o dever de velar pela rectidão e a manutenção dos princípios católicos no ensino e na investigação, no seio das suas instituições. É óbvio que os centros universitários que não respeitam as leis da Igreja e o ensinamento do Magistério, especialmente em matéria de bioética, não podem valer-se do carácter de Universidade Católica. Por conseguinte, convido cada pessoa e cada Universidade a reflectir sobre o seu modo de viver na fidelidade aos princípios característicos da identidade católica e a tomar as consequentes decisões que se impõem.

7. No termo do nosso encontro, gostaria de transmitir-vos a minha confiança e o meu encorajamento. As Universidades Católicas são inestimáveis para a Igreja. Elas cumprem uma missão ao serviço da inteligência da fé e do desenvolvimento do saber e, incansavelmente, lançam pontes entre os peritos de todas as disciplinas. Além disso, são chamadas a ser cada vez mais, lugares de diálogo com o conjunto do mundo universitário, para que a formação cultural e a investigação se ponham ao serviço do bem comum e do homem, que não pode ser considerado como um simples objecto de investigação.

Enquanto vos confio à intercessão da Virgem Maria, de S. Tomás de Aquino e de todos os Doutores da Igreja, concedo-vos a vós, às pessoas e às Instituições que vós representais, a minha Bênção apostólica.




Discursos João Paulo II 2002 - Terça-feira, 26 de novembro de 2002