Discursos João Paulo II 2002 - Sexta-feira, 22 de Março de 2002

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NUM


CONGRESSO PROMOVIDO PELA


ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE GASTROENTEROLOGIA


Sábado, 23 de Março de 2002




Ilustres Senhores
Gentis Senhoras

1. É de bom grado que vos dirijo a minha cordial saudação a todos vós que participais neste Congresso, que deseja sensibilizar a opinião pública acerca do problema da prevenção do cancro do aparelho digestivo, com particular atenção ao cancro do cólon. Saúdo de maneira especial o Prof. Alberto Montori, Presidente da Federação Europeia das Doenças Digestivas, e todos aqueles que vieram de várias nações para participar neste vosso importante encontro internacional.

Ao mesmo tempo, exprimo a minha profunda estima aos organizadores do Congresso, aos membros da Comissão científica, aos delegados, moderadores, relatores, estudiosos e quantos estão comprometidos na luta contra a doença, à qual dedicais a vossa atenção.

Não se pode deixar de ficar feliz, ao constatar a crescente disponibilidade de recursos técnicos e farmacológicos, que permitem identificar de modo tempestivo, na maior parte dos casos, os sintomas do cancro e assim intervir com maior rapidez e eficácia. Exorto-vos a deter-vos nos resultados alcançados, mas também a continuar com confiança e tenacidade tanto na investigação como na terapia, utilizando os recursos científicos mais avançados. Tomem o vosso exemplo os médicos jovens para, graças à vossa ajuda, aprender a percorrer este caminho hoje mais proveitoso do que nunca para a saúde de todos.

2. Sem dúvida, não se pode esquecer que o homemé um ser limitado e mortal. Por conseguinte, é necessário cuidar da pessoa doente com um realismo sadio, evitando gerar em quantos sofrem a ilusão da omnipotência da medicina. Existem limites que não são humanamente ultrapassáveis; em tais casos, é necessário saber aceitar com serenidade a condição humana, que o fiel sabe ler à luz da vontade divina. Esta manifesta-se também na morte, meta natural do percurso da vida na terra. Educar as pessoas e aceitá-las serenamente faz parte da vossa missão.

Além disso, a complexidade do ser humano exige que, prestando-lhe os necessários cuidados, se tenha em conta não só o corpo, mas também o espírito. Então, seria presunçoso contar unicamente com a técnica. Nesta óptica, um exasperado excesso terapêutico, mesmo com as melhores intenções, em última análise revelar-se-ia não só inútil, como não plenamente respeitador do doente já em fase terminal.

O conceito de saúde, querido ao pensamento cristão, contrasta com uma sua visão, que a reduziria a um puro equilíbrio psico-físico. Descuidando as dimensões espirituais da pessoa, esta visão terminaria por prejudicar o verdadeiro bem. Para o crente, a saúde, como pude escrever na Mensagem para a VIII Jornada Mundial do Doente, "apresenta-se como orientação para uma harmonia mais plena e um equilíbrio sadio a níveis físico, psíquico, espiritual e social". O ensinamento e o testemunho de Jesus são muito sensíveis aos sofrimentos humanos. Com a sua ajuda, também nós devemos esforçar-nos por estar ao lado dos homens de hoje para tomar cuidado deles e, se for possível, para os curar, sem jamais esquecer as exigências do seu espírito.

3. Ilustres Senhores, gentis Senhoras! Graças à colaboração de muitos colaboradores e voluntários, dedicais um esforço notável para informar a opinião pública sobre as possibilidades de fruir de uma saúde melhor, regulando de forma racional os hábitos quotidianos e, periodicamente, submetendo-se a controlos de prevenção. Alegro-me com este vosso serviço e faço votos a fim de que a vossa profissão, seguindo as normas deontológicas que a regulam, se inspire sempre nos valores éticos perenes, que lhe dão um fundamento sólido.

Informar os cidadãos com respeito e verdade, sobretudo quando se encontram em condições patológicas, constitui uma verdadeira e própria missão para quantos se ocupam da saúde pública. Para isto quer contribuir o vosso Congresso, para o qual formulo votos de bom êxito. Além disso, desejo de coração que haja uma vasta resposta à mensagem que quereis lançar, de maneira a empenhar os mass media numa eficaz campanha de informação.

É de bom grado que vos acompanho com a minha oração e, confiando o vosso trabalho a Deus, enquanto vos concedo de coração a minha Bênção, extensiva aos vossos entes queridos e àqueles que cooperam convosco nesta importante missão humanitária.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS JOVENS PARTICIPANTES NO


XXXV CONGRESSO UNIVERSITÁRIO


INTERNACIONAL "UNIV 2002"


Segunda-feira, 25 de Março de 2002

Caríssimos jovens!

1. Sinto-me feliz em dar-vos as cordiais boas-vindas a todos vós, que viestes a Roma na ocasião do já tradicional encontro romano da UNIV. Participareis nos ritos da Semana Santa e fareis, desta forma, uma significativa experiência religiosa. Agradeço ao Senhor que me oferece a oportunidade de me encontrar também este ano com a vossa associação, a qual reúne jovens de várias nacionalidades, que participam nas numerosas actividades formativas da Prelazia do Opus Dei. Agradeço-vos esta visita, e dou-vos as boas-vindas a esta casa, que é a vossa casa!

2. Durante a vossa estadia em Roma, desejais aprofundar a vossa formação cristã e escolhestes como tema três palavras: Estudo, trabalho, serviço.

A palavra "serviço" representa uma chave de leitura para compreender as outras duas que a precedem. De facto, o estudo e o trabalho pressupõem uma atitude pessoal de disponibilidade e de doação de si, que chamamos precisamente serviço. Trata-se daquela dimensão típica que deve caracterizar o modo de ser da pessoa. O Concílio Vaticano II recorda isto, quando afirma que só através do dom sincero de si a criatura humana se pode reencontrar plenamente (cf. Gaudium et spes, GS 24). Com esta abertura aos irmãos cada um de vós, queridos jovens, aperfeiçoa, graças também ao estudo e ao trabalho, aspectos fundamentais da própria missão, fazendo frutificar os talentos que Deus vos confiou generosamente.

Como são úteis, a este propósito, os ensinamentos do Beato Josemaria Escrivá, do qual se celebra este ano o centenário do nascimento! Ele gostava de recordar várias vezes que Jesus é conhecido no Evangelho como carpinteiro (cf. Mc Mc 6,3), ou melhor, como o filho do carpinteiro (cf. Mt Mt 13,55). Aprendiz na escola de José, o Filho de Deus fez do trabalho manual não só uma necessária fonte de subsistência, mas um "serviço" à humanidade, e tornou-se de facto um elemento integrante do desígnio salvífico. Desta forma tornou-se para nós um exemplo para que cada um, seguindo a própria vocação, valorize plenamente as próprias capacidades, pondo-as ao serviço do próximo.

3. Nestes dias da Semana Santa a reflexão dos crentes é dominada pelo mistério da Cruz. Podemos compreender melhor, à sua luz, o valor do serviço, do trabalho e para vós, queridos jovens, também do estudo. A Cruz é símbolo de um amor que se torna doação total e gratuita. Não testemunha porventura a Cruz o amor de Cristo por nós? A Cruz é uma cátedra de amor silenciosa, junto da qual se aprende a amar a sério. No seguimento de Cristo, Rei crucificado, os crentes aprendem que "reinar" é servir procurando o bem do próximo, e descobrem que na doação sincera de si se exprime o sentido autêntico do amor. São Paulo repete-nos que Jesus "nos amou e Se entregou a Si mesmo por nós" (cf. Gl Ga 2,20).

"Toda a dignidade do trabalho escrevia o Beato Escrivá se baseia no amor". E continuava: "O grande privilégio do homem é poder amar, transcendendo desta forma o efémero e o transitório. O homem pode amar as outras criaturas, pode pronunciar um tu ou um eu cheios de significado [...]. O trabalho surge do amor, manifesta o amor, dispõe-se ao amor" (É Jesus que passa, 48).

Quando, fiéis a este itinerário espiritual, nos dedicamos seriamente ao estudo e ao trabalho, tornamo-nos realmente o sal da terra e a luz do mundo (cf. Mt Mt 5,13-14). Eis o convite que vos faz o tema do próximo Dia Mundial da Juventude: ser sal da terra e luz do mundo na existência quotidiana.

Trata-se de um caminho difícil, que com frequência está em contraste com a mentalidade dos vossos coetâneos. É sem dúvida um caminhar contra a corrente, em relação aos comportamentos e modas que hoje predominam.

4. Queridos jovens e moças! Não vos admireis de tudo isto: o mistério da Cruz educa para uma maneira de ser e de trabalhar que não se concilia com o espírito deste mundo. A respeito disto, o Apóstolo põe-nos de sobreaviso: "Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de conhecerdes a vontade de Deus: o que é bom, o que Lhe é agradável e o que é perfeito" (Rm 12,2).

Queridos jovens da UNIV, resisti à tentação da mediocridade e do conformismo. Só assim podereis fazer da vida um dom e um serviço à humanidade; só desta forma contribuireis para aliviar as feridas e os sofrimentos dos numerosos mártires e marginalizados que ainda se encontram neste nosso mundo tecnologicamente desenvolvido. Por isso, deixai que a Lei de Deus vos oriente hoje no estudo e, no futuro, na actividade profissional. Assim brilhará "a vossa luz diante dos homens de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai, que está nos Céus" (Mt 5,16).

Para que tudo isto seja possível, é necessário pôr em primeiro lugar a oração, diálogo íntimo com Aquele que vos chama a ser seus discípulos. Sede jovens e moças com uma generosa actividade, mas ao mesmo tempo de profunda contemplação do mistério de Deus. Fazei da Eucaristia o centro do vosso dia. Em união com o sacrifício da Cruz, que nela se apresenta, oferecei o estudo e o trabalho, de forma a serdes vós mesmos "sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus Cristo" (1P 2,5).

Ao vosso lado, como ao lado de Jesus, está sempre Maria. A ela, Ancilla Domini e Sedes Sapientiae, confio os vossos propósitos e desejos. Por meu lado, garanto-vos uma constante recordação na oração, enquanto vos desejo um fecundo Tríduo Pascal e uma Santa Páscoa. Com estes sentimentos, abençoo-vos a todos de coração.





VIA-SACRA NO COLISEU


ALOCUÇÃO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


Sexta-feira Santa, 29 de Março de 2002



"Adoramus te Christe". Neste dia, Sexta-Feira Santa, no centro de toda a liturgia, encontra-se: "Adoramus te Christe".

Hoje, a Igreja não pronuncia as palavras sacramentais da Eucaristia: "Hoc est corpus meum, quod pro vobis tradetur... Hic est enim calix Sanguinis mei, novi et aeterni testamenti, qui pro vobis et pro multis effundetur in remissionem peccatorum".

A Igreja canta: "Ecce lignum crucis in quo salus mundi pependit. Venite adoremus. Adoramus te, Christe".

Este é o centro da liturgia de hoje. A Via-Sacra no Coliseu leva-nos também a isto: "Per sanctam crucem tuam redemisti mundum; redemisti mundum!".

Eis que, depois da morte na cruz, o corpo de Cristo foi sepultado. Este túmulo, este sepulcro perto do Gólgota tornou-se o lugar de uma misteriosa transformação.

"Mors et vita duello conflixere mirando: dux vitae mortuus, regnat vivus".

Como Cristo preanunciou: "In tertia die resurrexit". É assim que caminhamos no dia de hoje, nesta Sexta-Feira Santa, nos arredores do Gólgota, perto do sepulcro vazio, com uma grande esperança.

Amanhã, Sábado Santo é o dia do silêncio, da misteriosa atenção à manifestação do Mistério da Ressurreição. "Tertia die", no domingo de manhã, Aquele que foi crucificado e sepultado vai sair do túmulo.

"Mors et vita duello conflixere mirando: dux vitae mortuus, regnat vivus".
Esperamo-lo, "tertia die", no domingo de manhã, como vencedor da morte e como Salvador do mundo inteiro.

"Adoramus te Christe, et benedicimus tibi. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum".

O Senhor nos inspire um profundo silêncio e uma intensa esperança com que havemos de chegar àquele momento, quando as mulheres encontrarem o túmulo vazio: "Não está aqui. Ressuscitou". Resurrexit! "Não está aqui: Resurrexit!".

Louvado seja Jesus Cristo!
***




1. Crucem tuam adoramus, Domine! - Adoramos vossa Cruz, ó Senhor!

No termo desta sugestiva evocação da Paixão de Cristo, nosso olhar permanece fixo na Cruz. Contemplamos na fé o mistério da salvação, que por ela nos é revelado. Jesus morrendo tirou o véu de diante dos nossos olhos, e agora a Cruz ergue-se sobre o mundo com todo o seu esplendor. O silêncio pacificador d’Aquele que a maldade humana suspendeu no Madeiro, comunica paz e amor. Sobre a Cruz morre o Filho do homem, assumindo o peso de todo o sofrimento e injustiça humana. Sobre o Gólgota, morre por nós Aquele que com a sua morte redimiu o mundo.

2. «Hão-de olhar para Aquele que trespassaram» (Jn 19,37).

Na Sexta-Feira Santa cumprem-se as palavras proféticas que o evangelista João, testemunha ocular, refere com ponderada precisão. Ao Deus feito homem, que por amor aceitou o suplício mais humilhante, contemplam multidões de toda raça e cultura. Quando os olhos são guiados pela intuiçno profunda da fé, reconhecem no Crucificado o «testemunho» supremo do Amor.

Desde a Cruz, Jesus reúne num único povo judeus e pagãos, manifestando a vontade do Pai celeste de fazer de todos os homens uma única família congregada em seu nome.

Na dor atroz do Servo sofredor percebe-se já o grito de triunfo do Senhor ressuscitado. Na Cruz, o Cristo é o Rei do novo povo resgatado do peso do pecado e da morte. Por mais complicado e confuso que possa parecer o curso da história, sabemos que, seguindo os passos do Nazareno crucificado, alcançaremos a meta. Por entre as contradições do mundo frequentemente dominado pelo egoísmo e pelo ódio, nós, os crentes, somos chamados a proclamar a vitória do Amor. Hoje, Sexta-Feira Santa, testemunhamos a vitória de Cristo crucificado.

3. Crucem tuam adoramus, Domine!

Sim, nós vos adoramos, Senhor elevado na Cruz entre a terra e o céu, Mediador único da nossa salvação. A vossa Cruz é o estandarte da nossa vitória!

Nós Vos adoramos, Filho da Virgem Santíssima, de pé junto à Cruz, numa atitude corajosa de partilha do vosso sacrifício redentor.

Através do Madeiro sobre o qual fostes crucificado, veio ao mundo inteiro a alegria - Propter Lignum venit gaudium in universo mundo. Disto somos, hoje, ainda mais conscientes, enquanto o nosso olhar se volta já para o prodígio inefável da vossa ressurreição. «Adoramos, Senhor, a vossa Cruz, louvamos e glorificamos a vossa ressurreição!».

Com estes sentimentos, dirijo a vós todos, caríssimos Irmãos e Irmãs, cordiais felicitações pascais, que, de bom grado, acompanho com a minha Bênção Apostólica.

                                                                               

                                                                            Abril de 2002

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS DA


ARQUIDIOCESE DE RUÃO (FRANÇA)


6 de Abril de 2002


Queridos jovens
da Arquidiocese de Ruão

É-me grato desejar-vos as minhas cordiais boas-vindas. Há alguns dias que estais a realizar uma peregrinação diocesana a Roma, dedicando o vosso tempo para vos pordes na escola de Cristo morto e ressuscitado, que vos convida a viver da sua vida e a ser suas testemunhas. Saúdo aqueles que vos acompanham na vossa iniciativa, de modo particular o vosso Arcebispo, D. Joseph Duval, assim como os sacerdotes, os seminaristas, as religiosas e os leigos aqui presentes. Durante esta semana de encontros, de oração e de visitas, eles ajudaram-vos a entrar em intimidade com Jesus, para vos deixardes instruir por Ele. Descobristes que sois preciosos aos olhos do Senhor, que confia em vós para serdes todos os dias responsáveis pela vossa existência e pelas decisões que deveis tomar. Formulo-vos votos calorosos a fim de que este tempo de graça vos permita abrir cada vez mais o vosso coração a Cristo, para responderdes com confiança e generosidade ao apelo pessoal que Ele dirige a cada um e a cada uma de vós. Não tenhais medo de vos deixar conquistar pelo Senhor! Ele ajudar-vos-á a levar uma vida plena, pois deseja fazer de toda a vossa existência algo de belo.

Ao longo das vossas jornadas romanas, pudestes descobrir a vida das comunidades cristãs dos primeiros séculos. Aprendestes a conhecer melhor os Apóstolos Pedro e Paulo, pilares da Igreja. Em conformidade com o seu exemplo, quando regressardes às vossas casas, sabei pôr-vos regularmente à escuta da Palavra de Deus, que transforma o coração e impele à audácia missionária! Tende a coragem de dedicar o vosso tempo à contemplação, no segredo da oração, do rosto daquele que deu a vida pelos seus amigos, e que vos convida a fazer a mesma coisa.

Acolhei esta vida que Cristo vos oferece plenamente nos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação! Assim, tereis a alegria de ser as testemunhas do Senhor, que é o Caminho, a Verdade e a Vida. A luz do Ressuscitado ajudar-vos-á a retirar as pesadas pedras do egoísmo, da violência, do prazer fácil e do desespero que, não raro, encerram o coração de muitos jovens, não favorecem a formação estável da sua vida interior, nem um compromisso autêntico para a promoção da paz, da justiça e da solidariedade. A Igreja, povo dos crentes de que sois membros mediante o Baptismo, convida-vos a receber o tesouro do Evangelho, para o viver plenamente e para o fazer conhecer com coragem. Possa o testemunho daqueles que, através de vós, recebem o sacramento da Confirmação durante esta peregrinação, reavivar em todos vós a graça do vosso Baptismo! Assim, jovens sentinelas deste novo milénio, desejosos de vos pordes ao serviço dos vossos irmãos e irmãs, podereis progredir sem medo de vos tornardes o sal da terra e a luz do mundo.

Ao longo deste caminho difícil mas extremamente exaltante! do vosso amadurecimento humano, intelectual e espiritual, permaneço próximo de vós através da oração e, confiando-vos à intercessão da Virgem Maria, que disse "sim" a Deus, concedo-vos de bom grado a Bênção apostólica a vós, assim como a todos aqueles que vos acompanham e às vossas famílias.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA "PAPAL FOUNDATION"


DURANTE A SUA PEREGRINAÇÃO ANUAL


AO TÚMULO DE SÃO PEDRO


Segunda-feira, 8 de Abril de 2002

Queridos Amigos em Cristo

Na alegria pascal da vitória do Senhor sobre o pecado e a morte, é-me grato cumprimentar-vos, a vós membros da "Papal Foundation", na vossa peregrinação anual a Roma. "Que a graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco" (Rm 1,7).

Estas palavras do Apóstolo Paulo recordam-nos que o nosso mundo está repleto de evidências prementes da urgente necessidade que a humanidade tem da graça e da paz de Deus. As consequências dramáticas dos acontecimentos trágicos de 11 de Setembro ainda estão vivas em nós; a espiral da violência e da hostilidade armada na Terra Santa terra do nascimento, da morte e da ressurreição de nosso Senhor; terra santa para as três grandes religiões monoteístas cresceu até atingir níveis inimagináveis e intoleráveis; no mundo inteiro, homens, mulheres e crianças inocentes continuam a sofrer a desolação da guerra, da pobreza, da injustiça e da exploração de todos os tipos.

Com efeito, actualmente estamos a viver uma situação internacional muito difícil. Contudo, a vitória do Senhor e a sua promessa de permanecer connosco "até ao fim do mundo" (Mt 28,20) constituem raios de luz que nos impelem a enfrentar com coragem e confiança os desafios que se nos apresentam. Através da generosidade de muitas pessoas, a própria "Papal Foundation" faz com que as obras necessárias sejam realizadas em nome de Cristo e da sua Igreja. Por isso, agradeço-vos imensamente: mediante o vosso apoio, a mensagem pascal de alegria, de esperança e de paz é proclamada de maneira mais vasta.

Asseguro-vos que o vosso amor e a vossa dedicação à Igreja e ao Sucessor de Pedro são muito estimados. Enquanto continuamos a percorrer em conjunto o caminho da luz, encorajo-vos a prosseguir no vosso compromisso de generosidade, a fim de que "as pessoas possam ver as boas obras que realizais e louvar a Deus" (cf. Mt Mt 5,16). Ao confiar-vos à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, de quem todos nós nos tornámos filhos (cf. Novo millennio ineunte, 58) concedo-vos cordialmente, tanto a vós bem como às vossas famílias, a minha Bênção apostólica como penhor de alegria e de paz no Salvador ressuscitado.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA JUGOSLÁVIA


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 11 de Abril de 2002



Senhor Embaixador

1. É com prazer que o recebo no Vaticano, no início da sua missão de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Federal da Jugoslávia junto da Santa Sé. Ao aceitar as suas Cartas Credenciais, agradeço-lhe as suas amáveis expressões e pedir-lhe-ia que transmitisse ao Presidente, Sua Ex.cia o Senhor Vojislav Kostunica, os meus melhores e mais sinceros votos, bem como a certeza das minhas preces pelo bem-estar da Nação neste importante e complexo período da sua história.

2. O conflito que teve lugar no seu País deixou atrás de si, como Vossa Excelência afirmou, "prejuízos materiais e morais", e uma sociedade inteira necessitada de ser reconstruída. Trata-se de um processo longo e difícil que, é-me grato observar, já está a ser realizado tanto na Sérvia como em Montenegro; contudo, se este processo quiser ser plenamente eficaz, são necessárias uma grande determinação e paciência da parte do povo em geral, assim como uma solidariedade constante para além das suas fronteiras.

Em primeiro lugar, é preciso que haja reconciliação dentro da própria Jugoslávia, de tal modo que todos possam trabalhar em conjunto, com respeito pelas diferenças uns dos outros, em ordem a reconstruir a sociedade e o bem comum. Isto nunca é fácil, e torna-se ainda mais díficil no caso da Jugoslávia, em virtude da instabilidade e dos conflitos que se seguiram à derrocada do regime precedente, fundamentado sobre o materialismo ateu.

Enquanto o processo de reconciliação e, verdadeiramente, de pacificação autêntica progride, há necessidade de pôr de parte as controvérsias étnicas e nacionalistas e de continuar a edificar uma Nação cujas instituições democráticas fomentem a unidade e, ao mesmo tempo, assegurem que todas as suas populações, especialmente as minorias, sejam participantes activas e igualitárias na vida política e económica das suas próprias comunidades.

3. Considerando a questão mais a longo prazo, é importante promover o processo de reconciliação dentro da região dos Balcãs em geral e rejeitar com determinação qualquer recurso à violência, como modo de resolver as questões. O seu próprio País aprendeu agora mais do que durante quase toda a sua história, que a violência chama mais violência, e que somente o diálogo pode interromper esta espiral mortífera. As diferenças étnicas e religiosas nessa região são concretas e muitos dos antagonismos têm profundas raízes históricas, que às vezes fazem parecer remota a perspectiva da paz verdadeira e duradoura.

Na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, observei que "no passado, as diferenças culturais constituíram com frequência uma fonte de mal-entendidos entre os povos e uma causa de conflitos e de guerras" (n. 8); contudo, continuei, insistindo que "o diálogo entre as culturas é um meio privilegiado para a edificação da civilização do amor", e que este diálogo "se fundamenta no reconhecimento de que existem valores que são comuns a todas as culturas, porque estão enraizados na natureza da pessoa" (Ibid., n. 16). Entre estes valores universais, mencionei a solidariedade, a paz, a vida e a educação e, para os povos da Jugoslávia, eles são faróis que iluminam o caminho rumo ao futuro. Gostaria de me referir também à minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002, em que realcei o perdão como um valor superior, porque não há paz sem justiça, e não há justiça sem perdão; e só haverá uma pacificação verdadeira para as numerosas "almas feridas", das quais Vossa Excelência desejou falar, se existirem o perdão e a reconciliação.

A necessidade de construir pontes vai para além da região dos Balcãs e chega a toda a Europa. Os esforços continentais em ordem a edificar um novo tipo de unidade exigem, como o Senhor Embaixador observou, "a plena integração da Europa sul-oriental numa renovada estrutura política, económica e cultural". A Europa precisa das nações da região dos Balcãs e elas têm necessidade da Europa. Este é um facto que os recentes antagonismos podem ter obscurecido, mas sobre os quais insistem tanto a história como a cultura.

4. Fiel aos princípios espirituais e éticos da sua missão universal, a Igreja católica não procura promover um limitado interesse ideológico ou nacional, mas o pleno desenvolvimento de todos os povos, com particular atenção e solidariedade para com os mais necessitados. Este é o motivo pelo qual, com o seu etos de comunhão e de prolongada experiência na negociação das diversidades, a Igreja se encontra profundamente comprometida, através da sua obra religiosa e moral, para cooperar com a Jugoslávia no processo que vê a Nação desenvolver uma democracia amadurecida e clarividente, assente no respeito pela dignidade, liberdade e direitos de cada pessoa humana.

É importante que todos reconheçam que, numa situação como a que o seu País está a enfrentar, a religião não é a raiz do problema, mas uma parte essencial da sua solução. No recente Dia de Oração pela Paz em Assis, afirmei que "as religiões estão ao serviço da paz" e que o seu dever consiste em "suscitar nas pessoas do nosso tempo um renovado sentido da urgência da edificação da paz" (Discurso em Assis, 24 de Janeiro de 2002, n. 3). Esta é a razão por que tenho gosto de saber que a educação religiosa foi novamente introduzida nas escolas sérvias, dado que ela oferece uma oportunidade especial para educar os jovens naqueles valores universais que estão enraizados na natureza da pessoa e, em última análise, em Deus. Desta forma, os cidadãos são formados num humanismo e numa cultura da paz autênticos. A educação religiosa também abre os jovens para a transcendência, de maneira a tornar mais difícil qualquer nova queda no mundo do ateísmo materialista, que aniquila a alma.

5. Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência entra na comunidade dos diplomatas acreditados junto da Santa Sé, asseguro-lhe a pronta colaboração dos diversos Departamentos da Cúria Romana. Possa a sua missão servir para revigorar os vínculos de amizade e de cooperação entre o seu Governo e a Santa Sé; e oxalá tais vínculos contribuam enormemente para o bem-estar da sua Nação neste momento decisivo. Sobre Vossa Excelência e o querido povo da República Federal da Jugoslávia, invoco as abundantes Bênçãos de Deus todo-poderoso.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA SESSÃO PLENÁRIA


DA PONTIFÍCIA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


Quinta-feira, 11 de Abril de 2002


Senhor Presidente
Excelência
Senhoras e Senhores Académicos

1. É com alegria que vos acolho por ocasião da VIII Assembleia Geral da Pontifícia Academia das Ciências Sociais. Saúdo de maneira particular Sua Ex.cia o Senhor Edmond Malinvaud, vosso Presidente, a quem exprimo a minha gratidão pela mensagem que, em nome de todos vós, acaba de me dirigir, e agradeço também ao Rev.mo Mons. Marcelo Sánchez Sorondo e a todas as pessoas que coordenam os trabalhos da vossa Academia. Mediante as competências que vos são próprias, quisestes dar continuidade à vossa reflexão sobre os temas da democracia e da mundialização, abrindo desta forma a investigação para a questão da solidariedade entre as gerações. Esta abordagem é preciosa para o desenvolvimento da doutrina social da Igreja, para a educação dos povos e para a participação dos cristãos na vida pública, em todos os organismos da sociedade civil.

2. A vossa análise visa oferecer um esclarecimento sobre a dimensão ética das opções que os responsáveis da sociedade civil e cada homem em particular devem efectuar. A crescente interdependência entre as pessoas, as famílias, as empresas e as nações, assim como entre as economias e os mercados em geral - aquilo a que se tem chamado mundialização - transformou o sistema das interacções e dos relacionamentos sociais. Embora tenha realizado progressos positivos, ela comporta também ameaças inquietadoras, em particular o aumento das desigualdades entre as economias poderosas e as economias dependentes, entre as pessoas que beneficiam das novas oportunidades e aquelas que são deixadas de parte. Por conseguinte, tudo isto convida a examinar de maneira renovada a questão da solidariedade.

3. Nesta perspectiva, e com o progressivo prolongamento da vida humana, a solidariedade entre as gerações deve ser objecto de grande atenção, com uma solicitude particular pelos membros mais frágeis, as crianças e as pessoas idosas. No passado, a solidariedade entre as gerações constituía, em muitos países, uma atitude natural por parte da família; hoje, tornou-se também um dever da comunidade, que deve exercê-la com espírito de justiça e de equidade, prestando atenção a fim de que cada um receba a sua justa parte dos frutos do trabalho e possa viver com dignidade em todas as circunstâncias. Com os progressos da era industrial, observou-se que determinados Estados puseram em prática sistemas de ajuda às famílias, nomeadamente no que diz respeito à educação dos jovens e aos sistemas de reforma. É justo que se desenvolva a atitude de cuidar das pessoas graças a uma autêntica solidariedade nacional, a fim de que ninguém seja excluído e se permita que todos possam gozar de uma assistência social. Não podemos deixar de nos alegrar com a realização destes progressos, dos quais beneficia, porém, apenas uma pequena parte dos habitantes do planeta.

Com este espírito, compete em primeiro lugar aos responsáveis políticos e económicos fazer tudo o que lhes é possível, a fim de que a mundialização não se realize em desvantagem dos mais necessitados e das pessoas mais fracas, alargando ainda mais o fosso já existente entre os ricos e os pobres, entre as nações pobres e os países abastados. Convido as pessoas que desempenham funções governamentais e os responsáveis da vida social em geral a serem particularmente vigilantes, promovendo uma reflexão em ordem a definir decisões a longo prazo e assim promover os equilíbrios económicos e sociais, sobretudo pondo em prática sistemas de solidariedade que tenham em consideração as mudanças produzidas pela mundialização e que evitem que tais fenómenos empobreçam ulteriormente as camadas importantes de determinadas populações, se não mesmo de países inteiros.

4. A nível mundial, devem delinear-se e aplicar-se opções colectivas, através de um processo que favoreça a participação responsável de todos os homens, chamados a construir em conjunto o seu futuro comum. Nesta perspectiva, a promoção de formas democráticas de governo permite empenhar toda a população na gestão da res publica, "sobre a base de uma recta concepção da pessoa humana" (Centesimus annus CA 46) e no respeito dos valores antropológicos e espirituais fundamentais. A solidariedade social pressupõe a superação da simples busca de interesses pessoais, que devem ser avaliados e harmonizados "com base numa equilibrada hierarquia de valores e, em última análise, numa correcta compreensão da dignidade e dos direitos da pessoa" (Ibid., n. 47). Por conseguinte, é oportuno esforçar-se por educar as jovens gerações num espírito de solidariedade e numa verdadeira cultura de abertura ao universal e de atenção por todas as pessoas, independentemente da sua raça, cultura ou religião de pertença.

5. Os responsáveis da sociedade civil são fiéis à sua missão, quando promovem em primeiro lugar o bem comum, no respeito absoluto da dignidade do ser humano. A importância das questões que as nossas sociedades devem enfrentar e dos riscos para o futuro deveriam estimular uma vontade conjunta de procurar o bem comum, em ordem a um crescimento harmonioso e pacífico das sociedades, assim como para o bem-estar de todos. Convido os organismos de regulamentação, que estão ao serviço da comunidade humana, bem como as instituições governamentais ou internacionais, a defender com rigor, justiça e compreensão, os esforços realizados pelas Nações, em ordem ao "bem comum universal". É assim que, pouco a pouco, serão garantidas as modalidades de uma mundialização não imposta, mas controlada.

Efectivamente, compete à esfera política regular os mercados e submeter as leis do mercado às da solidariedade, a fim de que as pessoas e as sociedades não fiquem à mercê das mudanças económicas de todos os tipos e sejam protegidas das mudanças ligadas à falta de regulamentações dos mercados. Portanto, encorajo uma vez mais os protagonistas da vida social, política e económica a aprofundarem os caminhos da cooperação entre as pessoas, as empresas e as nações, de tal forma que a gestão da nossa Terra se realize em favor das pessoas e dos povos, e não em ordem ao simples lucro. Os homens são chamados a ultrapassar os seus egoísmos e a mostrar-se mais solidários. Possa a humanidade de hoje, no seu caminho rumo a uma maior unidade, solidariedade e paz, transmitir às gerações vindouras os bens da criação e a esperança num futuro melhor!

Enquanto vos renovo a certeza da minha consideração e o meu agradecimento pelo serviço que prestais à Igreja e à humanidade, invoco sobre vós a assistência do Senhor ressuscitado e, do íntimo do coração, concedo-vos a vós, às vossas famílias e a todas as pessoas que vos são queridas, a minha Bênção apostólica.




Discursos João Paulo II 2002 - Sexta-feira, 22 de Março de 2002