Discursos João Paulo II 2002 - Sábado, 13 de Abril de 2002

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS VINDOS PARA A


CERIMÓNIA DE ELEVAÇÃO DE


SEIS SERVOS DE DEUS À GLORIA DOS ALTARES


Segunda-feira, 15 de Abril de 2002


Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. No dia seguinte à proclamação dos seis novos Beatos, sinto-me feliz por me encontrar de novo com todos vós, que viestes a Roma para participar nesta solene celebração eclesial. Neste clima festivo, em sintonia com a exultação pascal, queremos deter-nos uma vez mais para contemplar as maravilhosas obras realizadas pelo Senhor através da vida e da actividade dos novos Beatos: Caetano Errico, Ludovico Pavoni, Luís Variara, Maria Romero, Artemides Zatti e Maria do Trânsito de Jesus Sacramentado. Queremos aprofundar a sua espiritualidade e imitar o seu exemplo, para os seguir no generoso caminho da santidade.

Caetano Errico

2. Dirijo-me em primeiro lugar a vós, caríssimos Missionários dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, e a quantos compartilham convosco a alegria pela Beatificação de Caetano Errico, apóstolo do amor misericordioso de Deus e mártir do confessionário.

Como a nossa época tem necessidade de pessoas que anunciem a ternura e o perdão de Deus aos pecadores, em particular mediante o sacramento da Penitência! No segredo do confesssionário é confiado aos sacerdotes um grande ministério, como desejei confirmar na Carta que dirigi a todos os sacerdotes, por ocasião da Quinta-Feira Santa: "O Bom Pastor escrevi-lhes através do rosto e da voz do sacerdote, aproxima-se de cada um, iniciando um diálogo pessoal feito de escuta, conselho, conforto e perdão" (n. 9).

Aos jansenistas, que insistiam demasiado sobre a justiça de Deus, difundindo medo e mágoa nas almas, Caetano Errico contrapunha o anúncio da Misericórdia divina. Ele não se cansava de exortar os presbíteros: "Se vierem almas cheias de culpas graves, animai-as a erguer-se, enrorajai-as à confiança, dizei-lhes que o Senhor as perdoará todas, se se arrependerem de coração" Como ainda hoje fala ao coração o Amor misericordioso de Deus, que encoraja a vencer o mal, o sofrimento, a injustiça e o pecado!

Ludovico Pavoni

3. Além disso, o meu pensamento cordial dirige-se para vós, caríssimos Filhos de Maria Imaculada, que vos alegrais juntamente com toda a comunidade eclesial para a Beatificação do vosso Fundador, Ludovico Pavoni. O novo Beato soube elaborar, seguindo a tradição secular de Bréscia, um método educativo que se fundamenta nos meios típicos da pedagogia de prevenção, como a religião e a razão, o amor e a docilidade, a vigilância e o saber.

Ele conseguiu elaborar um modelo de educação e de guia para o trabalho, como um prelúdio às modernas escolas profissionais, introduzindo reformas que antecipavam profeticamente a doutrina social da Igreja, expressa em seguida na Encíclica Rerum novarum, de Leão XIII. Mas qual foi o segredo de uma actividade assim tão intensa? É ele mesmo que no-lo recorda: "Na fé bem meditada encontram um sustentáculo muito seguro a vontade e o coração, depositando toda a nossa confiança em Deus. A esperança firme conserva a verdadeira humildade... A caridade bem acesa no coração fará sentir vivamente os interesses de Deus e do próximo".

4. De resto, é-me grato saudar os peregrinos italianos, vindos a Roma para a Beatificação do Padre Luís Variara e do Coadjutor salesiano Artemides Zatti. Uno-me à alegria das Paróquias de Viarigi, na Diocese de Asti, e de Boretto, na Diocese de Régio da Emília, para a exaltação dos filhos das suas terras.

5. Saúdo agora, com grande afecto, os peregrinos latino-americanos, especialmente da Costa Rica, Nicarágua, Colômbia e Argentina, vindos para participar com júbilo na solene cerimónia de Beatificação do Padre Luís Variara, da Irmã Maria Romero e de Artemides Zatti, todos eles salesianos, bem como da Madre Maria do Trânsito de Jesus Sacramentado Cabanillas, argentina, fundadora das Irmãs Terciárias Missionárias Franciscanas.

A grande Família salesiana acrescenta agora três novos nomes à legião dos Santos e Beatos salesianos.

A sua vida não ficou limitada dentro das paredes da sua comunidade religiosa. Manifestou-se com as suas obras e chegou a muitos homens e mulheres, crianças e jovens que os conheceram e beneficiaram do seu trabalho apostólico inspirado nos ensinamentos de Dom Bosco.

Luís Variara

O Padre Luís Variara apresenta-se aos nossos olhos, enriquecendo o carisma salesiano, ao qual foi sempre fiel, com uma nova dimensão, a de fundador das Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, com a intenção de enxugar as lágrimas das pessoas mais segregadas e às vezes esquecidas da sociedade. A sua vida convida a estender a mão a todos, a não desprezar ninguém, a ser hospitaleiro. Hoje a Colômbia, onde ele viveu e deu o melhor de si mesmo, com a ajuda da graça de Deus, pode encontrar nos exemplos desta testemunha de Jesus Cristo uma ajuda a superar a difícil situação que o País vive desde há anos, orientando-se para uma sociedade mais fraterna e solidária.

Artemides Zatti

6. O Coadjutor Artemides Zatti semeou nas terras de Viedma, com a sua incessante e alegre actividade em favor dos enfermos, a misericórdia que Jesus nos convidou a praticar: "Eu estava doente, e cuidastes de mim" (Mt 25,36). O seu carácter alegre e a sua competência singular, unidas a uma disponibilidade incondicional, tornaram-no merecedor da simpatia e da estima dos seus contemporâneos, o que deve sobreviver hoje com uma disposição para imitar os seus valiosos exemplos, favorecendo em todos os profissionais do campo da saúde uma renovada atitude de serviço aos doentes, que leve a pôr em primeiro lugar a sua condição de pessoas, dotadas de direitos inalienáveis.

Maria Romero Meneses

Da Irmã Maria Romero atrai o seu serviço aos pobres, com criatividade e eficácia. As obras que ela fundou para promover a vida cristã dos mais deserdados e aliviar a situação de necessidade por que passavam inúmeros habitantes de São José e da sua periferia subsistem nos dias de hoje e continuam a suscitar motivos de fundada esperança através dos gestos de solidariedade para com os mais pobres. Oxalá nunca venha a faltar este serviço, que tanta honra dá à Igreja de Cristo!

Maria do Trânsito de Jesus Sacramentado

7. A populosa cidade de Córdova, na Argentina, foi testemunha privilegiada da santidade de vida da Beata Madre Maria do Trânsito de Jesus Sacramentado Cabanillas. A sua vida constitui um cântico às grandes obras que Deus realiza nos acontecimentos ordinários da vida quotidiana. Sem manifestações espectaculares, esta nova Beata percorreu o caminho da santidade, vivendo em cada momento a proximidade de Jesus e o seu convite a segui-lo até às extremas consequências.
Interrogando-se acerca daquilo que Deus desejava dela, descobriu a sua vocação franciscana e a inspiração de um projecto de vida religiosa, que se ocupasse de ajudar a mulher a progredir na experiência da fé. Soube ser firme e, ao mesmo tempo, paciente e compreensiva, abraçar a cruz nas dificuldades e permanecer no serviço humilde, mesmo quando sobre elas pesavam graves humilhações e desprezos. Que o seu testemunho sirva de exemplo para muitos dos seus compatriotas que, no momento actual, devem seguir com entusiasmo a sua vida de cristãos e de cidadãos, sem cair na tentação do desânimo ou, o que seria ainda pior, com espírito de rivalidade ou de desforra.

8. Caríssimos Irmãos e Irmãs, como é maravilhosa a companhia que o Senhor nos oferece nestes novos Beatos! Enquanto admiramos os seus exemplos de santidade, esforcemo-nos por seguir os seus passos para ser, por nossa vez, corajosas testemunhas do Evangelho.

A Virgem Maria, Mãe da Igreja e Rainha de todos os Santos, vos oriente e vos proteja sempre ao longo do vosso caminho. Acompanhe-vos também a minha Bênção que, com afecto, vos concedo a vós aqui presentes, às vossas famílias e comunidades de proveniência, assim como a todos aqueles que vos são queridos.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO PRIMEIRO GRUPO DE BISPOS DA


CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA NIGÉRIA


EM VISITA "AD LIMINA"


Sábado, 20 de Abril 2002

Dilectos Irmãos no Episcopado

1. É com afecto no Senhor ressuscitado que vos saúdo a vós, Bispos da Nigéria, por ocasião da vossa peregrinação a Roma, que se realiza no contexto da vossa Visita ad limina Apostolorum. Para mim, é verdadeiramente uma grande alegria dar-vos as boas-vindas a vós e, através das vossas pessoas, abraçar todos os fiéis das vossas comunidades particulares, de quem me recordo com muita estima no Senhor e que permanecem sempre vivas nas minhas orações. Efectivamente, a vossa presença aqui volta a evocar em mim as memórias vivas da visita que realizei ao vosso País há quatro anos, quando o Deus omnipotente me concedeu o privilégio de beatificar o Padre Cipriano Miguel Iwene Tansi na sua própria Pátria. Enquanto recomendo as vossas comunidades locais à intercessão do Beato Cipriano Miguel, rezo por cada um de vós, Pastores do santo povo de Deus, pelos sacerdotes, pelos religiosos, pelas religiosas e pelos leigos confiados aos vossos cuidados pastorais. A minha oração por vós é "para que Deus, com o seu poder, vos faça realizar todo o bem que desejais e dinamize o trabalho da fé que tendes. Desta maneira, o nome do Senhor Jesus será glorificado em vós, e também vós sereis glorificados nele, conforme a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo" (2Th 1,11-12).

2. O vosso País orgulha-se de contar com uma das populações católicas mais numerosas de toda a África, enquanto se regista um incessante aumento no número das pessoas que, no dia-a-dia, se aproximam do Senhor. "Isto provém do Senhor, e é uma maravilha aos nossos olhos" (Ps 118 [117], 23). Além disso, recebestes a bênção de numerosas vocações para o sacerdócio e a vida religiosa, que inclusivamente vos permite enviar missionários às outras nações africanas. A vossa generosidade, a este propósito, deve ser reconhecida e encorajada: com efeito, Deus "multiplicará a semente e ainda fará crescer o fruto da justiça que vós tendes... O serviço desta colheita não deve apenas satisfazer às necessidades dos cristãos, mas há-de ser ocasião de dar efusivas graças a Deus" (2Co 9,10 2Co 9,12).

Através da vossa liderança, a Igreja encontra-se activamente comprometida na vida nacional da Nigéria, exortando de modo incessante à solidariedade, ao exercício da responsabilidade cívica e à superação das tensões e dos conflitos, através do diálogo e da reconciliação. Estes esforços são ainda mais importantes, dado que a Nigéria continua a percorrer o caminho da transição do governo militar para uma forma democrática de governo e, de maneira mais particular, à luz dos recentes incidentes de violência que se verificaram nas diferentes regiões do País. Em tudo isto, assim como noutras circunstâncias - tanto ordinárias como extraordinárias - da vida quotidiana, a Igreja deve sentir-se livre de dar continuidade à sua missão espiritual, que inclui a sua participação nos sectores do ministério pastoral, da educação, da assistência médica e do desenvolvimento humano e social. Neste sentido, o vosso Plano Pastoral Nacional para a Nigéria (1997), com as necessárias modificações e actualizações, continua a oferecer um contexto excelente para a obra permanente da Igreja.

3. Como muitos de vós indicaram nos vossos relatórios, a persistência da pobreza difundida, com frequência extrema, e o aumento da indiferença moral e ética, que dão origem ao crime, à corrupção e aos ataques contra a santidade da própria vida humana, formam o contexto em que a Igreja leva a cabo a missão que lhe é própria. Por este motivo, há a particular necessidade de intensificar os esforços em ordem a oferecer aos fiéis programas de formação sérios, que os deverá ajudar a aprofundar a sua fé e a sua compreensão cristãs, habilitando-os desta forma a assumir o lugar que lhes compete na Igreja de Cristo e na sociedade em geral.

A catequese completa e aperfeiçoa o anúncio da Boa Nova, ajudando a fé a alcançar a maturidade e educando os discípulos de Cristo a chegar a um conhecimento íntegro e sistemático da pessoa e da mensagem do próprio Senhor Jesus (cf. Catechesi tradendae, CTR 19). O estudo da Bíblia, ou seja, o contacto directo com os textos sagrados da palavra de Deus, acompanhado da oração sincera (cf. Dei Verbum, DV 25) e completado por uma exposição clarividente da doutrina, como se apresenta inserida no Catecismo da Igreja Católica, garantirá ulteriormente que os leigos e as leigas se sintam seguros da sua própria fé e preparados para cumprir os seus deveres em todas as circunstâncias das suas vidas e actividades. Muitos dos vossos fiéis leigos já estão a responder positivamente ao desafio de desempenhar um papel activo na vida pública, inclusive no campo político. Os vossos esforços incansáveis neste sentido deveriam torná-los capazes de ser verdadeiramente "orientados pelo espírito do Evangelho" e de "contribuir para a santificação do mundo, como que a partir de dentro, em jeito de fermento" (Lumen gentium, LG 31).

4. Se os membros das vossas comunidades particulares forem revigorados e confirmados na verdade revelada, serão fortalecidos também na sua identidade católica. Tornar-se-ão também capazes de responder às interrogações levantadas com crescente frequência pelas seitas e pelos novos movimentos religiosos, que no vosso País são numerosos. A catequese é particularmente importante para os jovens, para quem uma fé iluminada representa uma lâmpada a orientar o seu caminho rumo ao futuro. De igual modo, ela será a sua fonte de fortaleza, no momento de enfrentar as incertezas da situação económica, que se modifica incessantemente. Por este motivo, é da máxima importância que os programas pastorais destinados de maneira especial às crianças e aos jovens constituam uma parte prioritária de todos os vossos projectos no campo pastoral.

Desta maneira também a família será fortalecida, dado que hoje é ameaçada nos seus aspectos fundamentais da unidade e da estabilidade, por práticas como a poligamia, o divórcio, o aborto e a prostituição, pela difusão de uma mentalidade contraceptiva e por uma actividade sexual irresponsável, que inclusivamente faz aumentar a incidência da sida. Por conseguinte, trabalhar em ordem a ajudar as famílias a viver as suas vidas cristãs com fidelidade e generosidade, como verdadeiras "igrejas domésticas" (cf. Lumen gentium, LG 11), permanece uma prioridade, porque ainda existe a necessidade de reconciliar as práticas tradicionais com o ensinamento da Igreja, no que diz respeito à vida conjugal e familiar. Analogamente, o apoio que ofereceis aos programas que visam assistir as mulheres - inserindo a Igreja na linha de vanguarda do movimento de promoção de um maior respeito pela sua dignidade e pelos seus direitos - adquire um significado ainda mais evidente. Gostaria de vos exortar também a descobrir novas formas de fazer com que a participação da Igreja na luta contra a sida seja cada vez mais activa e visível.

5. A submissão firme e humilde à palavra de Cristo, como é autenticamente proclamada no seio da Igreja, constitui também o fundamento para o vosso relacionamento com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais, bem como para o necessário diálogo com os seguidores da Tradição religiosa africana e com o Islão. Apraz-me observar, através da leitura dos vossos relatórios que, apesar das dificuldades, estais a progredir em vários campos do diálogo ecuménico e inter-religioso. Efectivamente, a herança cultural dos numerosos grupos étnicos presentes na Nigéria devem ser vistos como uma fonte de enriquecimento para a Nação, e não como uma causa de conflito e de divisão. Estou consciente de que, tendo em consideração as eleições programadas para o próximo ano, procurareis intensificar a cooperação ecuménica e inter-religiosa, em ordem a ajudar os políticos, os governantes tradicionais e os chefes religiosos a trabalhar em conjunto para garantir um processo eleitoral livre, oportuno e pacífico.

A este propósito, tenho o dever de levantar também uma importante questão que, bem sei, constitui para vós e para o vosso povo uma fonte de grave solicitude. Em determinadas regiões do País, os defensores do Islão estão a agir com uma militância cada vez mais agressiva, a ponto de chegar a impor a sua compreensão da lei islâmica em Estados inteiros da Federação Nigeriana e, desta forma, negando aos outros crentes a liberdade da expressão religiosa. Animo-vos prementemente e apoio-vos nos vossos esforços em ordem a pronunciardes-vos com coragem e vigor neste sentido: os líderes governamentais, quer locais quer federais, assim como o povo de boa vontade de todas as confissões, devem recordar-se da obrigação que cada governo tem, de assegurar que a igualdade de todos os cidadãos perante a lei nunca seja violada por motivos religiosos, nem aberta nem ocultamente. Do mesmo modo, mesmo nos casos em que uma posição jurídica especial seja concedida a um grupo religioso em particular, é necessário garantir sempre que o dever da liberdade de consciência seja legalmente reconhecido e respeitado de maneira efectiva para todos os cidadãos, e inclusive no que diz respeito aos estrangeiros que estão a residir no País (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1998, n. 1).

6. Voltando-me para aqueles que trabalham mais intimamente convosco no ministério pastoral, desejo encorajar os vossos esforços em ordem a assegurar uma formação cada vez mais completa e permanente dos vossos sacerdotes. Os vossos relacionamentos com eles deveriam caracterizar-se sempre pela unidade, fraternidade e estima. Todos aqueles que receberam o sacramento das Ordens sagradas foram configurados com Cristo, Pastor da Igreja. Por conseguinte, devem imitar a Sua completa abnegação pela salvação do rebanho e pelo progresso do Reino. Um compromisso de conversão pessoal permanente constitui um elemento essencial na vida e no ministério dos sacerdotes. Devemos reavivar sempre esta dádiva que nos pertence, o dom da nossa configuração sacramental com Cristo.

O sacerdócio jamais deve ser considerado como um modo de melhorar a sorte na vida ou de adquirir um certo prestígio. Os sacerdotes e os candidatos ao sacerdócio vivem com frequência uma vida, sob os pontos de vista material e educativo, superior ao das suas respectivas famílias e ao dos seus próprios coetâneos; por conseguinte, é muito fácil que sucumbam à tentação de pensar que são melhores do que os outros. Quanto isto acontece, o ideal do serviço presbiteral e a dedicação abnegada podem esmorecer, deixando o presbítero insatisfeito e desanimado.

Por este motivo, as vossas vidas e a dos vossos sacerdotes deveriam reflectir uma autêntica pobreza evangélica e um desapego das coisas e das atitudes deste mundo, da mesma forma que o valor do celibato como um dom completo de si mesmo ao Senhor e à sua Igreja deve ser cuidadosamente salvaguardado. O comportamento que pode ser motivo de escândalo deve ser oportunamente evitado, e vós mesmos deveis investigar de maneira diligente as acusações em relação a qualquer um destes comportamentos, dando passos decisivos em ordem a corrigi-los, quando forem concretos. Também aqui a formação dos seminaristas é muito importante, uma vez que as convicções e a formação prática oferecida aos futuros presbíteros são essenciais para o bom êxito da missão da Igreja. Então, como verdadeiros pais, também a este propósito, a renovação e o crescimento espirituais dos vossos sacerdotes devem constituir uma das vossas principais prioridades (cf. Optatam totius, OT 22). Além disso, considerando o facto de que um elevado número dos vossos sacerdotes são enviados para estudar no estrangeiro, é aconselhável que se definam prazos razoáveis, dentro dos quais eles devem completar os seus estudos e então regressar às suas dioceses de origem. O mesmo é válido para os religiosos e as religiosas que estudam e vivem no estrangeiro: a este respeito, todo o encorajamento e apoio que podeis oferecer aos superiores das Comunidades religiosas é também de grande importância.

7. Com efeito, a vossa solicitude e preocupação pastorais incluem também os religiosos e as religiosas das vossas dioceses. Eles receberam uma especial consagração que tem necessidade de ser cada vez mais aprofundada. Mediante a profissão dos conselhos evangélicos da castidade, da pobreza e da obediência, eles dão testemunho do Reino e edificam o Corpo de Cristo, conduzindo os outros para a conversão e para uma vida de santidade. Eles devem permanecer firmemente enraizados em Cristo, a fim de que os altos ideais da sua vocação continuem a viver plenamente nos seus corações e aos olhos do povo, para o qual eles são um especial sinal do cuidado amoroso de Deus. O vosso papel, no respeito e na defesa da autonomia própria e do governo interno das Comunidades religiosas no território que vos é próprio, consiste em manter contactos estreitos com eles, oferecendo-lhes todo o apoio necessário para que permaneçam fiéis ao carisma dos seus Institutos, enquanto trabalham convosco, que sois os Pastores da Igreja, no cumprimento do seu apostolado (cf. Mutuae relationes, 8).

A vida de castidade, de pobreza e de obediência, abraçada de livre vontade e vivida com fidelidade, rejeita a sabedoria convencional do mundo e desafia o estilo de vida geralmente aceite. O testemunho oferecido pelos religiosos e pelas religiosas pode transformar o modo de pensar e de agir da comunidade, precisamente através do amor que os religiosos demonstram em relação a cada um, mediante a sua atenção às questões espirituais, e não tanto às problemáticas materiais, e através do seu serviço abnegado e da sua solidariedade para com as pessoas que se encontram em necessidade. Neste contexto, é deveras oportuno que demonstreis a vossa estima e gratidão aos religiosos e às religiosas das vossas dioceses, por todo o bem que eles realizam através da sua oração e da sua actividade, nos diferentes sectores da vida pastoral local.

8. Queridos Irmãos, Pastores do povo santo de Deus, é da máxima importância que a abertura, a honestidade e a transparência constituam sempre a característica distintiva de tudo aquilo que a Igreja leva a cabo, em todos os seus empreendimentos espirituais, educativos e sociais, assim como em cada aspecto das suas funções administrativas. Num verdadeiro espírito de amor e de serviço à Igreja e aos irmãos, tendes a tarefa de orientar, encorajar e unir todos aqueles que trabalham na vinha do Senhor. No início do terceiro milénio cristão, recordamo-nos muito bem das palavras do Senhor acerca da abundância da colheita que devemos realizar através do nosso serviço ao Evangelho (cf. Mt Mt 9,37). Devemos dedicar-nos a nós mesmos, com um renovado vigor, à obra de partilha da luz da verdade com todos os homens e com todas as mulheres.

Rezo para que, mediante a vossa peregrinação ao túmulo dos Apóstolos Pedro e Paulo, o Espírito Santo de Deus vos conceda uma renovada fortaleza em ordem à realização do trabalho da nova evangelização. É com afecto no Senhor que vos recomendo, a vós, aos vossos sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos, à intercessão do Beato Cipriano Miguel Iwene Tansi e à protecção de Maria, Mãe da Igreja e nossa Mãe. Como penhor de graça e de paz no Salvador ressuscitado, concedo-vos cordialmente a minha Bênção apostólica.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


NA CELEBRAÇÃO DAS BODAS DE PRATA EPISCOPAIS


DO PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ


CARDEAL JOSEPH RATZINGER


Caríssimo Senhor Cardeal Ratzinger
Prezados Irmãos no Episcopado
Ilustre Ministro
Colaboradores da Congregação para a Doutrina da Fé
Dilectos membros do grupo de ex-alunos do Cardeal Ratzinger
Estimados caçadores alpinos da Baviera
Queridos Irmãos e Irmãs

1. Apresento-vos a todos a minha mais cordial saudação. Os diversos aniversários do meu estimado Irmão no Episcopado e íntimo colaborador, o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, constituíram o motivo que vos induziu a realizar uma peregrinação a Roma, até à Sé do Sucessor de Pedro. Há poucos dias, o Cardeal Joseph Ratzinger celebrou o seu 75º aniversário; ao mesmo tempo, durante estas semanas contempla com gratidão a sua nomeação para Arcebispo de Munique e Frisinga e a sua ordenação episcopal, ocorrida há 25 anos. É com grande alegria que vos dou as boas-vindas, neste Palácio Apostólico, a todos vós que viestes da região da Baviera e também de outras regiões. Possam as solenes Santas Missas e os encontros realizados nestes dias tornar-se para vós uma inesquecível "festa da fé".

2. Vós estais a agir em fidelidade às palavras do Apóstolo: "Lembrai-vos daqueles que vos precederam, que vos pregaram a palavra de Deus, e imitai a sua fé" (cf. Hb He 13,7). Efectivamente, a homenagem que prestais ao Emintentíssimo Cardeal Ratzinger não diz respeito apenas à sua personalidade, mas também e sobretudo ao seu serviço presbiteral e episcopal, que o festejado desempenhou em primeiro lugar na Alemanha, sobretudo na sua terra da Baviera, e em seguida, a partir de 1981, aqui em Roma, com o incansável compromisso em benefício da verdade, que conduz os filhos de Deus para a liberdade autêntica (cf. Jo Jn 8,32).

3. Tendo sido nomeado Arcebispo de Munique e Frisinga em 1977, pelas mãos do meu venerado predecessor Papa Paulo VI, e criado Cardeal nesse mesmo ano, Joseph Ratzinger aprofundou e deu continuidade ao seu trabalho de teólogo na grande responsabilidade inerente ao seu compromisso de Pastor. Com efeito, o múnus de salvação confiado ao Bispo cumulou a sua actividade de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, de Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica, de Presidente da Comissão Teológica Internacional e de membro de outras Congregações da Santa Sé. Entre os vários documentos do magistério, para publicação dos quais o Cardeal ofereceu a sua notável contribuição, sobressai o Catecismo da Igreja Católica, de cuja redacção foi encarregada de 1986 a 1992 uma Comissão que trabalhava sob a sua orientação. Para além do âmbito da sua competência, já repleto de desafios, o Cardeal conseguiu, mediante inúmeras conferências e publicações, dar testemunho do vigor de irradiação da fé católica, na sua profundidade e beleza.

4. Dilectos Irmãos e Irmãs! O Cardeal Ratzinger propôs-se como missão de vida ser "colaborador da verdade", em conformidade com o exemplo de um grande número de meritórios Pastores da Santa Igreja de Cristo. Através do seu exemplo, ele encoraja-vos a descobrir o serviço da Verdade, que é o próprio Deus, nas diversas situações da vossa vida, com a alegria da fé e de modo constante. Agradeço sinceramente ao festejado todo o seu trabalho e peço a Deus que ele possa dar continuidade ao seu serviço na Igreja. A todos vós, que viestes aqui para celebrar os seus aniversários, formulo votos a fim de que, enriquecidos pela experiência de uma fé que traz a felicidade, possais dar um generoso testemunho de Cristo, que disse de si mesmo: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!" (cf. Jn 14,6). Assim, concedo-vos de coração, a vós e aos vossos entes queridos na Pátria, a minha Bênção Apostólica.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA UNIÃO CATÓLICA


DA IMPRENSA ITALIANA NA INICIATIVA


"JOVENS E MASS MEDIA: CEM ENCONTROS"





Ao Dr. Emilio ROSSI
Presidente da União Católica da Imprensa Italiana

1. Na conclusão da iniciativa "Jovens e mass media: cem encontros", promovida pela União Católica da Imprensa Italiana, da qual Vossa Excelência é Presidente, é com prazer que lhe dirijo, assim como aos participantes, a minha cordial saudação, juntamente com a expressão do mais sentido apreço pela actividade que esta Associação desempenha.

Os numerosos encontros sobre o tema "jovens e mass media", realizados com várias fórmulas em muitas cidades italianas, ajudaram os operadores e os beneficiários das comunicações sociais a compreender melhor como a presença dos mass media é cada vez mais incisiva na sociedade. É uma presença que apresenta novas problemáticas e interpela as famílias, os educadores, os operadores e todos os que se preocupam, de maneira especial, pelo futuro das novas gerações.
2. Não se pode negar que a rápida difusão dos mass media ofereceu aos jovens possibilidades mais amplas de aprendizagem e de conhecimento. É justo reconhecer e valorizar estes elementos positivos, mesmo se começam a surgir alguns aspectos problemáticos, que é bom realçar.

Com frequência a televisão é para os jovens o principal ponto de referência, com um valor e funções impróprias, que exercem uma influência negativa sobre o seu desenvolvimento, sobretudo quando o uso prolongado chega quase a substituir a presença dos pais. Se parece que todos estão de acordo ao defender que deve ser eliminada qualquer forma de exploração dos menores por parte dos meios de comunicação, contudo é necessário reconhecer que são poucos os programas e eles destinados e que correspondem às suas exigências. Por conseguinte, é urgente realizar programas que, no respeito das dinâmicas pedagógicas e dos valores éticos, tenham em consideração a sensibilidade e as exigências educativas dos jovens.

3. Também se deve ter em consideração que os menores seguem, sozinhos ou juntamente com os pais, a programação ordinária. Sem dúvida são úteis, para distinguir os diversos tipos dos programas, os meios usados, mas estes não devem constituir de forma alguma uma desculpa para delegar às famílias toda a responsabilidade. De facto, não é suficiente estabelecer proibições em defesa dos menores; mas é necessário propor programas mediáticos e sobretudo televisivos, que não precisem de proibições, elevando ao mesmo tempo a sua qualidade. São necessários programas que promovam o crescimento da pessoa, o sentido do bem, a capacidade de enfrentar correctamente, sem traumas nem distorções, até os aspectos mais difíceis da existência.

Sobretudo, é urgente indicar, através dos mass media, valores e modelos que evidenciem as verdades fundamentais sobre o ser humano e sobre as grandes interrogações que ele faz. Entre eles, de modo particular, devem ser realçadas as verdades religiosas, capazes de dar respostas adequadas às perguntas mais profundas, que acompanham o crescimento e o desenvolvimento da pessoa.

4. No início do meu Pontificado, no contexto do Ano Internacional da Criança, tive ocasião de dizer que as possibilidades e os meios, dos quais os adultos dispõem a este propósito, são enormes. Os adultos tanto são capazes de estimular o espírito das crianças para a escuta como de os adormecer e que Deus não o queira de os intoxicar irremediavelmente (cf. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 1979, em Insegnamenti, II [1979], 1193). Esta é uma responsabilidade gravíssima, à qual se podem aplicar as palavras mais severas pronunciadas por Cristo, precisamente para advertir que não se escandalizem os pequeninos e os débeis (cf. Mt Mt 18,6).

Prestar atenção aos jovens no âmbito dos mass media é, por conseguinte, um dos principais paradigmas de civilização e de progresso; é uma tarefa entusiasmante para a qual todos devem contribuir de acordo com o próprio papel e competências. É uma tarefa que pertence àquela pedagogia social através da qual se podem formar as novas gerações, ajudando-as a exprimir plenamente o bem que levam no seu coração, sem nunca o deteriorar nem tornar árido.

Sob este ponto de vista, são extraordinárias as capacidades dos novos mass media, como a Internet e as tecnologias multimediáticas, cada vez mais difundidas e interactivas, que exigem ulteriores competências e tomadas de responsabilidade por parte dos organismos que se ocupam das garantias sociais. Com o seu advento, deparamo-nos com um "limite decisivo", como quis realçar na Mensagem para o 36º Dia Mundial para as Comunicações Sociais, que celebraremos no próximo dia 12 de Maio, dedicado precisamente ao tema: "Internet: um novo Foro para proclamar o Evangelho". Trata-se de um limite que se deve "passar corajosamente", com discernimento e, ao mesmo tempo, com empreendimento, a fim de garantir às gerações futuras um ambiente protegido de qualquer instrumentalização e abuso.

5. Por fim, gostaria de aproveitar esta ocasião para dirigir um apelo a todos os que, de várias formas, ocupam responsabilidades neste âmbito. Aos Governantes e às Instituições que se ocupam da defesa dos menores peço que se empenhem, para que o respeito dos direitos dos menores seja considerado como critério primário e imprescindível na avaliação da obra dos mass media. Convido os pais a exercer uma atenta vigilância educativa, tanto em casa como, de maneira associada, na sociedade. A quantos trabalham nas comunicações e, sobretudo, aos editores e aos produtores peço que invistam em projectos adequados aos menores, tendo em consideração as exigências dos jovens.

Ao agradecer aos queridos representantes da UCSI o que já fazem, encorajo-os a continuar, envolvendo sempre mais pessoas, a promover uma nova e mais rica época social e cultural, capaz de dar vida construtiva e respeitosa a uma relação entre os meios de comunicação e a juventude. A predilecção de Jesus pelas crianças (cf. Mc Mc 10,13-16), que indicava como modelo para ganhar o seu Reino (cf. Mt Mt 18,3-4) sirva de estímulo para todos e de exemplo para favorecer uma comunicação à medida do homem e atenta ao bem comum, sobretudo ao bem dos pequeninos.
Que a Virgem Maria, com a sua solicitude materna, ampare todos os que se empenham num sector tão importante para a formação da juventude. Ao garantir a minha oração por cada um de deles, a todos concedo com afecto a minha Bênção.

Vaticano, 18 de Abril de 2002.




Discursos João Paulo II 2002 - Sábado, 13 de Abril de 2002