Discursos João Paulo II 2002 - Terça-feira, 30 de Abril de 2002

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PASTORAL


NO CAMPO DA SAÚDE


Quinta-feira, 2 de Maio de 2002

Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Estou particularmente feliz por este nosso encontro, por ocasião da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, durante a qual desejais estudar e delinear um novo plano de trabalho para os próximos cinco anos.

Saúdo o Presidente do Pontifício Conselho, D. Javier Lozano Barragán, e agradeço-lhe as cordiais palavras que me dirigiu para interpretar os sentimentos de todos os presentes. A minha saudação faz-se extensiva aos Senhores Cardeais e aos venerados Irmãos no Episcopado, Membros do Pontifício Conselho, aos Consultores, aos Especialistas, ao Secretário, ao Subsecretário e também aos Oficiais sacerdotes, religiosos e leigos. Caríssimos, agradeço-vos a todos a preciosa ajuda que me dais, num âmbito tão qualificado do testemunho evangélico.

2. A vastidão do trabalho realizado pelo vosso Pontifício Conselho, durante estes 17 anos após a sua instituição, confirma como é necessário que, entre os Organismos da Santa Sé, exista um que se encarregue especificamente de manifestar "a solicitude da Igreja para com os enfermos, ajudando aqueles que desempenham o serviço aos doentes e aos que sofrem, a fim de que o apostolado da misericórdia, que eles levam a cabo, corresponda cada vez melhor às novas exigências" (Constituição Apostólica Pastor bonus, art. 152).

Damos graças ao Senhor pela ampla e complexa actividade pastoral que se está a realizar a nível mundial no campo da saúde, com o estímulo e o apoio do vosso Pontifício Conselho. Encorajo-vos a todos a continuar com ardor e confiança a percorrer este caminho, prontos a oferecer o Evangelho da misericórdia e da esperança aos homens do nosso tempo.

3. Baseando-se na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, a vossa Assembleia propõe-se como objectivo reflectir sobre o modo de melhor mostrar o Rosto de Cristo doloroso e glorioso, iluminando com o Evangelho o mundo da saúde, do sofrimento e da enfermidade, santificando o doente e os agentes que trabalham no campo da saúde, e promovendo a coordenação da pastoral da saúde na Igreja.

Neste tempo pascal, contemplamos o Rosto glorioso de Jesus, depois de ter meditado, especialmente durante a Semana Santa, sobre o Rosto doloroso. Trata-se de duas dimensões em que se encontra o núcleo do Evangelho e do ministério pastoral da Igreja.

Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte escrevi que, "enquanto se identifica com o nosso pecado, "abandonado" pelo Pai, Ele [Jesus] "abandona-se" nas mãos do Pai". Desta forma, Ele vive "simultaneamente a união profunda com o Pai, por sua natureza fonte de alegria e beatitude, e a agonia até ao grito do abandono" (n. 26).

No Rosto doloroso da Sexta-Feira Santa está escondida a vida de Deus, oferecida pela salvação do mundo. Mediante o Crucifixo, a nossa contemplação deve abrir-se ao Ressuscitado. Confortada por esta experiência, a Igreja está sempre pronta a retomar o seu caminho, em ordem a anunciar Cristo ao mundo inteiro.

4. A vossa actual Assembleia Plenária define programas que visam iluminar com a luz do Rosto doloroso e glorioso de Cristo, todo o universo da saúde. É decisivo aprofundar a reflexão sobre os temas relativos à saúde, à doença e ao sofrimento nesta perspectiva, deixando-se orientar por uma concepção da pessoa humana e do seu destino fiel ao desígnio savífico de Deus.

As novas fronteiras abertas pelo progresso da ciência da vida, assim como as aplicações que dela derivam, puseram um poder e uma responsabilidade enormes nas mãos do homem. Se prevalecer a cultura da morte, se no campo da medicina e da investigação biomédica os homens se deixarem condicionar por opções egoístas ou por ambições prometeicas, será inevitável que a dignidade humana e a própria vida sejam perigosamente ameaçadas. Se, pelo contrário, o trabalho neste importante sector da saúde, for orientado para a cultura da vida, sob a guia da consciência recta, o homem encontrará respostas válidas para as suas aspirações mais profundas.

O vosso Pontifício Conselho não deixará de oferecer a sua contribuição em favor de uma nova evangelização do sofrimento, que Cristo assume e transfigura no triunfo da Ressurreição. A este propósito, são essenciais a vida de oração e o recurso aos Sacramentos, sem os quais se torna difícil o caminho espiritual não apenas dos enfermos, mas inclusivamente daquelas pessoas que os assistem.

5. Hoje, o âmbito da saúde e do sofrimento encontra-se diante de novos e complexos problemas, que exigem um compromisso decidido por parte de todos. O número decrescente de religiosas comprometidas neste sector, o não fácil ministério dos capelães hospitalares, a dificuldade da organização, a nível das Igrejas particulares, de uma adequada e determinante pastoral no campo da saúde e a abordagem das pessoas que trabalham neste âmbito, que nem sempre estão em sintonia com as orientações cristãs, constituem um conjunto de temas, com aspectos problemáticos, que certamente não passam despercebidos à vossa reflexão atenta.

Fiel à sua missão, o vosso Pontifício Conselho continuará a manifestar a solicitude pastoral da Igreja para com os doentes; ajudará todos aqueles que cuidam das pessoas que sofrem, de maneira particular quem trabalha nos hospitais, a ter sempre uma atitude de respeito pela vida e pela dignidade do ser humano. Para alcançar este objectivo, será útil a colaboração generosa com as organizações internacionais empenhadas no campo da saúde.

O Senhor, Bom Samaritano da humanidade que sofre, vos assista sempre! A Virgem Santíssima, Saúde dos Enfermos, vos sustente no vosso serviço e seja o vosso modelo na hospitalidade e no amor.

Enquanto vos asseguro a minha oração, concedo-vos a todos, do íntimo do coração, a minha Bênção apostólica.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DO MARROCOS


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


3 de Maio de 2002

Senhor Embaixador

1. Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência no Vaticano para a apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário do Reino de Marrocos junto da Santa Sé.

Estou-lhe profundamente grato por me ter transmitido as gentis saudações de Sua Majestade o Rei Mohammed VI. Também lhe agradecia que se dignasse transmitir-lhe os meus melhores votos para a sua pessoa, para sua Alteza Real a Princesa Lalla Salma, assim como para a prosperidade do povo marroquino.

Como Vossa Excelência recordou no seu discurso, as relações já consolidadas entre o Reino de Marrocos e a Santa Sé nunca deixaram de se desenvolver harmoniosamente ao longo dos anos. Alegro-me por isto e peço ao Todo-Poderoso que apoie os esforços de todos os marroquinos para edificar uma nação cada vez mais fraterna e unida.

2. Neste começo do terceiro milénio, as circunstâncias difíceis e preocupantes da situação internacional estimulam em grande medida os homens de boa vontade a fortalecer os vínculos de confiança entre si e a convicção de terem que trabalhar juntos em favor do diálogo e da paz.

Como tive a oportunidade de recordar várias vezes, sobretudo por ocasião do Dia mundial de oração em Assis, a 24 de Janeiro passado, os responsáveis das Nações e as autoridades espirituais têm o dever de intensificar incansavelmente os seus esforços, para dominar a violência que domina com muita frequência no nosso mundo as relações entre os homens e os grupos. Eles devem também, para alcançar isto, denunciar claramente qualquer legitimação falsa da violência, sobretudo em nome da religião, e afirmar sem hesitações a sua opção pelo diálogo e pela paz.

3. Como não recordar neste momento, como fez Vossa Excelência, a trágica situação que o Próximo Oriente está a viver e as preocupações que temos a respeito dos lugares santos da região, sobretudo a Cidade Santa de Jerusalém, símbolo, para todos os crentes das religiões monoteístas, da Paz que provém de Deus? A Santa Sé deu a conhecer a sua profunda preocupação face aos recentes acontecimentos e não se cansa de defender o retomar das negociações entre as partes em causa, fazendo o possível para pôr fim ao conflito armado, que não é construtivo e não dá perspectivas nem esperança aos povos envolvidos. Só um diálogo corajoso, animado pela vontade de construir um futuro possível para todos os habitantes desta terra bem como para todas as comunidades que vivem nessas regiões, pode proporcionar uma paz justa e duradoura. Como já disse, nem a violência cega do terrorismo nem a violência da guerra podem proporcionar uma solução. Oxalá os esforços incessantes e o empenho decidido da comunidade internacional consigam convencer uns e outros a reunir-se na mesa das negociações!

4. Na promoção do diálogo que deve ser guiado entre as diferentes religiões e também entre as culturas dos homens do nosso tempo, o seu país, Senhor Embaixador, pode desempenhar um importante papel. A sua posição geográfica, assim como a sua história enquadram-na como uma terra de encontro e como uma ponte, que, por um lado, liga com a Europa ocidental e com todos os países da bacia mediterrânea, já unidos por uma longa história comum, e, por outro, com a África subsahariana, que os fluxos migratórios aproximam do Magreb. As Autoridades do seu país são constantemente chamadas a prestar atenção a estas novas realidades e à situação específica de certas populações, sobretudo na sua dimensão humana. Isto não põe em causa a rica identidade cultural da Nação, que se caracteriza especialmente pela hospitalidade. Como escrevi na minha Mensagem para a Paz, "se é importante ter apreço pelos valores da própria cultura, é preciso também estar consciente de que toda a cultura, enquanto produto tipicamente humano e historicamente condicionado, supõe necessariamente limites. Um antídoto eficaz para que o sentido de pertença cultural não provoque isolamento é o conhecimento, sereno e livre de preconceitos negativos, das outras culturas" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 2001, n. 7). Neste espírito, o seu país pode honrar-se de uma longa tradição de tolerância e de abertura religiosa, e os fiéis de várias religiões vivem nele no respeito recíproco, sem limitar as suas liberdades fundamentais, demonstrando desta forma que é possível que crentes de tradições religiosas diferentes vivam em paz no mesmo território.

5. Senhor Embaixador, permita que eu dirija, por seu intermédio, as minhas saudações calorosas à comunidade católica de Marrocos e aos seus pastores. Sei que os católicos ocupam o seu lugar na vida do país e que gozam da estima da população. Eles desejam trabalhar, com todos os cidadãos, para a edificação de um mundo justo e pacífico, ao serviço do homem e do seu desenvolvimento. Eles estão conscientes de que ao testemunhar o respeito que é devido a todos os homens, criados à imagem de Deus, glorificam o Altíssimo! Encorajo-os a ser cada vez mais testemunhas do amor fraterno que Cristo nos ensinou, para demonstrar a todos o amor indefectível que Deus tem por todos os homens.

6. No momento em que começa a sua missão junto da Santa Sé, apresento-lhe os meus melhores votos pela sua feliz realização. Tenha a certeza de que encontrará sempre junto dos meus colaboradores acolhimento e compreensão.

Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, assim como sobre todo o povo marroquino e sobre os seus dirigentes, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos do Todo-Poderoso.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO MILÉNIO DA CONSTRUÇÃO


DA PRIMEIRA IGREJA EM RAVENA


DEDICADA A SANTO ADALBERTO


Ao Venerável Irmão D. GIUSEPPE VERUCCHI
Arcebispo de Ravena-Cérvia

1. Durante este ano celebra-se o milénio da construção da primeira igreja em Ravena, dedicada a Santo Adalberto, Bispo de Praga, e do envio dos monges João de Classe e Bento de Benevento à Polónia.

Nesta feliz circunstância, desejo unir-me à alegria de toda a Arquidiocese de Ravena-Cérvia, elevando ao Senhor uma ardorosa acção de graças por ter desejado torná-la participante, de maneira singular, do anúncio cristão aos Povos eslavos e, especialmente, ao Povo polaco.

Formulo votos a fim de que as solenes celebrações jubilares, que começaram no passado Outono e que agora já se aproximam da sua conclusão, suscitem no Povo de Deus que está em Ravena-Cérvia, um agradecido reconhecimento pelos sinais luminosos acesos no seu seio pelo amor de Deus, e também um renovado ardor missionário para seguir os passos de tão grandes testemunhas da fé, cuja memória continua a viver nessa Comunidade eclesial.

No início do segundo milénio, da antiga e nobre cidade de Ravena, que se tornou uma importante encruzilhada da fé cristã, partiram diversas missões apostólicas que, ao longo de algumas décadas, contribuíram de maneira determinante para a implantatio Ecclesiae na Europa Oriental, onde se tinham estabelecido os povos eslavos e húngaro.

2. Neste contexto, distingue-se a figura do Abade São Romualdo que, na Ilha de Pereu, entre as actuais ilhas de Santo Alberto e Mandriole, tinha fundado um eremitério e reunido à sua volta uma comunidade monástica. O imperador Otão III, voltando da peregrinação ao túmulo do seu antigo mestre e amigo Santo Adalberto, na cidade polaca de Gniezno, transmitiu ao Santo Abade o pedido de Boleslau I, então soberano da Polónia, de poder receber alguns missionários, a fim de que dessem continuidade à obra de evangelização interrompida pela morte violenta do Bispo de Praga. Dois monges romualdinos, João de Classe e Bento de Benevento, partiram no Verão do ano de 1001 e chegaram à Polónia no Outono desse mesmo ano.

O jovem imperador procurou comprometer São Romualdo no projecto generoso, amadurecido sob a orientação e a inspiração do Papa Silvestre II, de promover a difusão da fé católica entre os Eslavos. Em ordem a esta finalidade, preocupou-se em fundar um mosteiro, distinto do eremitério, onde formar os monges destinados para a missão nos países orientais e, no Outono de 1001, foi edificada a nova igreja, dedicada ao mártir Santo Adalberto. Nela se colocou uma preciosa relíquia do Santo, trazida da Polónia pelo próprio imperador e oferecida a São Romualdo.

O que impeliu estes fiéis discípulos de Cristo a comprometer-se numa empresa tão complexa? Por que motivo deixaram tudo e escolheram viver no meio de povos diferentes e, nessa época, praticamente desconhecidos? Sem dúvida, eles eram animados por uma fé viva no poder libertador do Evangelho e por um desejo vital de anunciar Cristo Salvador, mesmo à custa do martírio.

3. No amor a Cristo, que distinguiu a existência de Santo Adalberto, Bispo de Praga, de São Romualdo e dos Santos monges João e Bento, devem continuar a inspirar-se quantos desejam prosseguir a sua obra missionária. Com efeito, o projecto de evangelização, delineado pelo Papa Silvestre II e pelo imperador Otão III, ultrapassa o contexto histórico dessa época e torna-se um estímulo para os crentes de hoje, a estar cada vez mais conscientes do facto de que o grande mosaico da identidade social e religiosa do continente europeu encontra na fé cristã um dos principais factores da sua unidade mais profunda.

Por conseguinte, as celebrações milenárias representam uma singular ocasião para reflectir sobre o património espiritual e cultural, deles recebido em herança. No seu estilo de vida e na sua paixão pelo homem, animada pela força do Evangelho, manifesta-se um modelo precioso, válido para construir uma sociedade fundamentada sobre os valores da espiritualidade, do respeito pela pessoa, da busca do diálogo e da concórdia entre os indivíduos e os povos.

Cabe aos cristãos do nosso tempo, herdeiros de um património de fé e de civilização tão rico, desempenhar plenamente o papel que lhes é próprio. A eles, pede-se-lhes que infundam na sociedade contemporânea, com o anúncio e o testemunho do Evangelho, o suplemento de alma e a carga ideal que constituem a garantia de um futuro prometedor e profícuo.

4. A recordação de Adalberto, de Romualdo, de João e de Bento, nesta celebração jubilar, chame de novo esta Comunidade diocesana, e cada um dos cristãos em particular, a salvaguardar as dimensões espiritual e moral da Europa, oferecendo ao projecto da unidade dos povos europeus uma "âncora transcendente", mediante um reconhecimento explícito dos "direitos de Deus". Esta é a única garantia verdadeiramente indiscutível da dignidade do homem e da liberdade dos povos.
Indo mais além das orientações técnicas, administrativas, económicas e financeiras, que entretanto são necessárias, deve recuperar-se a identidade autêntica e o património de civilização, que encontram no cristianismo um elemento fundamental, inspirador daquele sonho de universalismo europeu que se conservou ao longo de numerosas gerações.

Adalberto, Romualdo, João e Bento encontraram na fé cristã as motivações para vencer as tentações de visões existenciais e políticas limitadas. Assim, assumiram o destino de povos em grande parte desconhecidos. Também agora será a plena adesão aos valores de índole cristã, como a espiritualidade, a solidariedade, a subsidiariedade e a centralidade da pessoa, que permitirá à Europa desenvolver-se de maneira harmónica e desempenhar um papel significativo no consenso das Nações.

5. Os povos da Europa Oriental, primeiros beneficiários dos acontecimentos que, durante este ano, são celebrados em Ravena, não deixarão faltar, por sua vez, uma contribuição eficaz para o projecto de relançamento da identidade europeia. Eles libertaram-se, desde há alguns anos, de ditaduras ateias e comunistas, que procuravam desenraizar da sua cultura e da sua vida os valores religiosos e morais que, contudo, estavam profundamente inscritos na sua história nacional. Com a liberdade reconquistada, verificou-se felizmente que esse património, longe de ter sido aniquilado, nalguns casos chegou a adquirir, precisamente graças às perseguições, um renovado vigor e hoje pode ser oferecido, como um importante contributo aos povos da Europa ocidental, com frequência vítimas do mal subtil da indiferença e do secularismo.

Oxalá este intercâmbio de dons contribua para o enriquecimento de todos! Para que isto aconteça é importante que, ao entrarmos no terceiro milénio, o nosso olhar permaneça fixo em Cristo, Redentor do homem, ontem, hoje e para toda a eternidade. Ele é o rochedo firme sobre o qual se pode construir um mundo mais justo e solidário.

Enquanto invoco sobre a sua pessoa, Venerável Irmão, sobre os Sacerdotes, os Religiosos, as Religiosas e a querida Arquidiocese de Ravena-Cérvia, a protecção maternal da Virgem Maria, dos Santos Adalberto e Romualdo, dos cinco Irmãos Protomártires da Polónia e de todos os Santos que enriqueceram as vicissitudes espirituais dessa Comunidade eclesial, concedo-vos a todos, do íntimo do coração, uma especial Bênção apostólica, como penhor de graça e de ardor espiritual.



Vaticano, 23 de Abril de 2002.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NUM ENCONTRO


PROMOVIDO PELOS "CURSILHOS DE CRISTANDADE"


Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É um motivo de alegria para mim encontrar-me hoje convosco: obrigado por esta visita! A vossa presença, tão numerosa e alegre, testemunha quanto disse aos "Cursilhistas" de todo o mundo, vindos a Roma por ocasião do grande Jubileu do Ano 2000: na verdade, "a pequena semente lançada na Espanha, há mais de cinquenta anos, tornou-se uma árvore frondosa, rica de frutos do Espírito" ( Discurso, 29 de Julho de 2000). Para todos vai a minha cordial saudação de boas-vindas. Saúdo em particular os vossos dois representantes que se fizeram intérpretes dos sentimentos de todos, assim como os animadores espirituais e os vários responsáveis do Movimento.

Os Cursilhos de Cristandade estão actualmente presentes em mais de 60 países de todos os continentes e em cerca de 800 dioceses. A semente também germinou e cresceu durante estes anos em terra italiana, dando abundantes frutos de conversão e de santidade de vida, em profunda sintonia com as orientações pastorais da Conferência Episcopal Italiana.

2. Gostaria, neste momento, de voltar com o pensamento, juntamente convosco, a dois apontamentos que foram de grande significado e alcance. Refiro-me, antes de mais, ao encontro com os que pertencem aos Movimentos Eclesiais e às Novas Comunidades, na Praça de São Pedro, na inesquecível vigília do Pentecostes de 30 de Maio de 1998.

Naquela ocasião reconhecia nestas novas realidades eclesiais uma resposta providencial, suscitada pelo Espírito Santo para a formação cristã e para a evangelização. Ao mesmo tempo, porém, exortava a crescer na consciência e na identidade eclesial: "hoje abre-se diante de vós uma nova etapa: a do amadurecimento eclesial... A Igreja espera de vós frutos "maduros" de comunhão e de compromisso" (Insegnamenti XXI/1 [1998], pág. 1123).

O convite conserva toda a sua actualidade e urgência, representando um autêntico desafio enfrentado com coragem e determinação. Na linha deste compromisso pelo atingir de uma maturidade eclesial cada vez mais sólida coloca-se o pedido que o Organismo mundial dos Cursilhos submeteu ao competente Dicastério da Cúria Romana, para obter o reconhecimento canónico e a aprovação dos Estatutos.

3. O segundo acontecimento importante que quero aqui recordar é a terceira "Ultreia" Mundial, coroada com o encontro jubilar dos membros do vosso movimento na Praça de São Pedro, a que há pouco fazia referência. A esse propósito, desejo renovar a exortação que vos dirigi nessa ocasião, de ser testemunhas corajosas da "diaconia da verdade", trabalhando incansavelmente com a "força da comunhão".

Efectivamente, aquela exortação torna-se em cada dia mais necessária e empenhativa. Da vossa parte, certamente não deixareis faltar o precioso contributo que advém do vosso carisma particular. O que significa, de facto, o anúncio querigmático que constitui o coração do vosso Movimento, senão aquele "fixar o olhar sobre o rosto de Cristo", para que convidei na Novo millennio ineunte (cf. nn. 16 ss.)? O que comporta tal olhar, senão um confiar-se ao "primado da graça", para empreender um caminho de catequese e de oração, de conversão e de santidade de vida? Que frutos isso produz, senão um mais sólido sentido de pertença à Igreja e um renovado impulso de evangelização nos ambientes de vida e de actividade quotidiana?

4. Caríssimos "Cursilhistas"! Continuai confiadamente o caminho de formação e de vida cristã que começastes com tanta generosidade. "Duc in altum"! Confio-vos à protecção maternal de Maria Santíssima, exemplo admirável de obediência à vontade do Pai e discípula fiel do seu Filho.
Assegurando-vos uma lembrança especial na oração, concedo-vos afectuosamente a Bênção Apostólica a vós que aqui estais presentes e a quantos vos são queridos.



VISITA PASTORAL À DIOCESE DE ÍSQUIA (ITÁLIA)


ENCONTRO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


COM OS CARDEAIS, ARCEBISPOS E BISPOS


DA REGIÃO DA CAMPÂNIA


5 de Maio de 2002

Há um provérbio latino que diz: "Repetitio est mater studiorum". Desta vez, o provérbio não se refere aos estudiosos mas, por um lado, ao Papa e, por outro, à Igreja de Deus que está na Campânia.

Tive várias possibilidades de conhecer estas Igrejas através das visitas "ad Limina" e das visitas pastorais a algumas das vossas Dioceses. Todavia, era útil e oportuno voltar à Campânia. Poucas coisas permaneceram iguais, em relação ao passado, e algumas pessoas já não se encontram no meio de nós. Pensamos em todos, com gratidão.

De resto, há outro provérbio, que reza: "Visa repetita placent". Porém, devemos encontrar sempre um novo ponto de observação, uma perspectiva mais interessante para admirar. A visita a esta Diocese oferece-me a possibilidade de contemplar a beleza da vossa Região e desta Ilha; de experimentar a harmonia que existe entre o céu e a terra; de ver pessoalmente as maravilhas da natureza, do povo e da religiosidade popular.

Estou-vos grato por tudo isto e desejo-vos uma boa continuação.

Estes votos fazem-se extensivos também a todos vós: "Repetitio est mater studiorum". "Visa repetita placent".



VISITA PASTORAL À DIOCESE DE ÍSQUIA (ITÁLIA)



AOS JOVENS NA PRAÇA DE SANTA MARIA DO SOCORRO

5 de Maio de 2002


Caríssimos jovens

1. "Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo" (Mt 5,13-14). Estas palavras de Jesus, como sabeis, constituem o tema do próximo Dia Mundial da Juventude.Com elas, o Mestre divino dirigiu-se aos seus discípulos nas margens do Lago da Galileia, há dois mil anos. Assim falará de novo a milhares de jovens cristãos de todas as partes do mundo, no próximo Verão, em Toronto. Estas mesmas palavras ecoam hoje aqui, nas margens do Mar Tirreno, quando se conclui a minha rápida mas intensa visita à vossa bonita ilha. Elas ecoam para vós, queridos jovens de Ísquia. E é para mim motivo de grande alegria fazer-me eco da voz de Cristo, que vos convida a ouvir, a reflectir, a agir. Só as palavras de Cristo podem iluminar verdadeiramente os vossos passos.

Saúdo-vos com grande afecto, caríssimos jovens amigos. A todos e a cada um. Agradeço ao vosso Bispo que vos apresentou como "sentinelas da manhã". Agradeço aos vossos representantes, que falaram em nome de toda a juventude de Ísquia. Obrigado pelo vosso caloroso acolhimento, o qual exprime bem o entusiasmo da juventude e o "génio" da vossa terra.

2. "Vós sois o sal da terra" (Mt 5,13). Caríssimos jovens e moças, não é difícil compreender esta primeira imagem usada por Jesus: o sal. É uma imagem muito significativa. Quando não existiam meios para garantir uma conservação prolongada dos alimentos, o sal não tinha só a função de dar sabor, mas era com frequência indispensável para garantir a própria possibilidade de acesso aos alimentos. Ao dizer "vós sois o sal da terra", o Redentor confiava aos discípulos uma dupla missão: dar sabor à vida, mostrando o seu sentido revelado n'Ele, e permitir que todos tivessem acesso ao alimento que vem do Alto. É neste duplo sentido que hoje as digo também a vós.

Jovens de Ísquia, sede o sal da terra, que dá sabor e beleza à vida. Mostrai com gestos concretos e com a convicção das palavras que vale a pena viver, e viver juntos, o amor que Jesus veio revelar-nos e doar-nos. Não é, porventura, o amor de Cristo, que venceu o mal e a morte, que nos transformou? Fazei com que o maior número de jovens faça também esta mesma experiência.

Sede o sal que faz com que o alimento do Céu seja distribuído a todos, de forma que até os mais distraídos e afastados, graças ao vosso entusiasmo, à vossa paixão, ao vosso empenho humilde e perseverante, se sintam chamados a crer em Deus e a amá-lo no próximo.

3. "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5,14). Eis a outra mensagem de Jesus aos seus discípulos-. A luz tem a característica de dissipar as trevas, de aquecer tudo o que alcança, de exaltar as suas formas. Faz tudo isto com uma velocidade altíssima. Então ser luz do mundo, para os cristãos, e sobretudo para os jovens cristãos, significa difundir em toda a parte a luz que vem do Alto. Significa combater a obscuridade, tanto a que é devida à resistência do mal e do pecado, como a que é provocada pela ignorância e pelos preconceitos.

Jovens de Ísquia, sede raios da luz de Cristo. É Ele a "luz do mundo" (Jn 8,12)! Difundi esta luz em todos os ambientes, sobretudo naqueles onde Jesus ainda não é conhecido e amado ou até é rejeitado. Fazei compreender, com a vossa vida, que a luz que provém do Alto não destrói o humano; ao contrário, exalta-o, como o sol, que com o seu brilho põe em relevo as formas e as cores. Deus não é um concorrente do homem, mas o amigo verdadeiro, o seu aliado mais fiel.
Esta mensagem deve ser transmitida com a velocidade da luz! Não percais tempo: a vossa juventude é muito preciosa para ser desperdiçada, mesmo que seja só uma pequena parte. Deus precisa de vós e chama cada um pelo nome.

4. Desta Ilha, rica de sol e de belezas naturais, coberta de verde e imersa nas águas maravilhosas do "mare nostrum", chegue a todos os jovens a começar por todos aqueles, e são tantos, que a vêm visitar uma mensagem de luz e de esperança. Queridos jovens e moças, juntamente com os vossos pais, os pastores, os educadores, os catequistas, os amigos, sede "sal e luz" para todos os que o Senhor vos fizer encontrar no vosso caminho.

Guie-vos Maria Santíssima, "Estrela do mar", que orienta os navegantes no grande mar da vida até ao porto seguro, resplandecendo como estrela luminosa também nas horas mais escuras. Sirvam-vos de exemplo os Santos padroeiros, sobretudo Santa Restituta e São João José da Cruz. Que nenhuma perturbação, receio ou pecado vos separem do amor de Deus. Jesus é a luz que vence as trevas; o sal que dá sabor aos vossos anos verdes e a toda a vossa existência. É Ele quem vos conserva a beleza e a fidelidade a Deus, seu e nosso Pai.

Até à vista, em Toronto, onde vos espero em grande número: juntamente com os vossos coetâneos de todos os Continentes ofereceremos ao mundo uma mensagem de esperança. O vosso Bispo, no início, apresentou-vos como "sentinelas da manhã". Sim, caríssimos jovens amigos, sede sentinelas destemidas do Evangelho, que esperam e preparam o advento do novo Dia que é Cristo.

Abençoo-vos a todos com afecto.

Poder-se-ia pensar que os jovens de Ísquia e a juventude da Itália são muito ricos. Porém, bem sei que aqui se trata de outro tipo de economia. É a economia evangélica dos pobres em espírito. Faço votos para que o próximo Dia Mundial da Juventude seja a expressão da maturidade evangélica de todos os jovens do mundo e, de modo especial, da juventude da Itália e desta vossa linda Ilha.

Então, ânimo! Coragem e esperança! Louvado seja Jesus Cristo!



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA GUARDA SUÍÇA


Segunda-feira, 6 de Maio de 2002

Excelentíssimo Senhor Comandante
Reverendo Capelão
Meus queridos Guardas
Estimados familiares e amigos
da Guarda Suíça

1. Saúdo-vos de coração aqui no Palácio Apostólico! Dou especiais boas-vindas aos recrutas que estão hoje reunidos em festa juntamente com os seus pais, familiares e amigos. Vós queridos Guardas, tendes o privilégio de trabalhar durante alguns anos na Cidade Santa e de poder viver na "Cidade Eterna".

As vossas famílias e os numerosos amigos, aqui presentes, uniram a sua participação na cerimónia do juramento com uma peregrinação aos lugares santos da nossa fé, aos Túmulos dos Apóstolos. Desejo que todos vós façais aqui em Roma a experiência excepcional do significado da "Igreja universal" e sobretudo que o jubiloso Ofício Divino e os encontros deste dia possam renovar e aprofundar a vossa fé.

2. Este dia, 6 de Maio, é um dia significativo e memorável para a vida da Pontifícia Guarda Suíça e para todas as pessoas com ela relacionadas, tanto em Roma como na vossa querida Suíça.

Queridos Guardas Suíços, há 475 anos os vossos predecessores, durante o "saque de Roma" de 1527 demonstraram a sua fidelidade heróica à Sede de Pedro e ao Sumo Pontífice com o sacrifício da própria vida. Ao longo da história, os soldados da Guarda Suíça quiseram demonstrar sempre ao Papa e a toda a Igreja que o Sucessor de Pedro podia contar com eles. O serviço honrado e corajoso da protecção da pessoa do Santo Padre não podia naquela época, nem pode hoje, realizar-se sem aquelas características que distinguem cada um dos Guardas Suíços: firmeza na fé católica, fidelidade e amor à Igreja e a Jesus Cristo, consciência e perseverança nas pequenas e nas grandes tarefas do serviço quotidiano, coragem e humildade, altruísmo e humanidade. O vosso coração deve estar repleto destas virtudes, quando prestais o serviço de honra e de segurança no Vaticano.

3. Queridos jovens, agradeço-vos por terdes aceitado oferecer alguns anos da vossa vida à protecção do Papa e à segurança de todos os que trabalham para a Santa Sé, tornando-vos assim os herdeiros de uma longa tradição de fidelidade e de dedicação, no âmbito da Guarda Suíça.

Faço votos para que, apesar das dificuldades e das canseiras do vosso serviço, vivais plenamente este tempo de missão como um aprofundamento da vossa fé e da vossa dedicação à Igreja, e como uma experiência de fraternidade entre vós. Prestai atenção uns aos outros, apoiando-vos no trabalho quotidiano e enriquecendo-vos reciprocamente, recordando-vos sempre de que "a felicidade está mais em dar do que em receber" (Ac 20,35). Apresento uma cordial saudação às vossas famílias, aos vossos amigos, assim como aos Representantes das Autoridades suíças, que vieram para vos acompanhar neste dia de festa.

4. Caros recrutas, nunca vos esqueçais de viver responsavelmente o serviço que prestais à Santa Sé na qualidade de "soldados do Papa", como missão que o próprio Senhor vos confia. Aproveitai o tempo que passais aqui em Roma, no centro da Igreja, para crescer na amizade de Cristo e caminhar para a meta de toda a verdadeira vida cristã: a santidade.

Ajude-vos Maria, que honramos de modo especial neste mês de Maio, a experimentar em cada dia e cada vez mais, a comunhão profunda com Deus, que para nós, crentes, começa sobre a terra e se completará no céu. De facto, somos chamados, como recorda São Paulo, a ser " concidadãos dos santos e membros da família de Deus" (Ep 2,19).

5. Confio-vos a vós, as vossas famílias, os vossos amigos e todos os que, por ocasião do juramento, vieram a Roma, à intercessão da Virgem Santa e Mãe de Deus, dos vossos Padroeiros, São Martinho e São Sebastião e do protector da vossa pátria, Nicolau de Flüe, e concedo-vos de coração a Bênção apostólica.




Discursos João Paulo II 2002 - Terça-feira, 30 de Abril de 2002