Discursos João Paulo II 2002 - Segunda-feira, 6 de Maio de 2002

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DAS ANTILHAS EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


Terça-feira, 7 de Maio de 2002

Caríssimos Irmãos no Episcopado

1. "Paz aos irmãos e caridade e amor da parte de Deus Pai e do Senhor, Jesus Cristo" (Ep 6,23). É com estas palavras do Apóstolo Paulo e na alegria da Páscoa que vos dou as boas-vindas, Bispos das Antilhas, por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum. Através de vós, saúdo todos os fiéis em Cristo, confiados aos vossos cuidados. Oxalá a paz do Senhor ressuscitado reine em todos os corações e em cada lar de toda a Região caraíbica!

Agradeço ao Arcebispo D. Clarke as amáveis palavras com que quis expressar aquela espiritualidade da comunhão, que é o verdadeiro coração da Igreja (cf. Novo millennio ineunte, 43-45). É esta comunhão que vos traz a Roma, em peregrinação junto do túmulo dos Apóstolos, onde renovais a vossa fidelidade à Tradição apostólica, cujas raízes remontam ao mandato do Senhor (cf. Mt Mt 28,19-20) e, em última análise, dizem respeito à vida interior da Trindade, fundamento de toda a realidade.

Vindes como Pastores chamados para participar da plenitude do sacerdócio eterno de Cristo. Em primeiro lugar e acima de tudo, sois sacerdotes: não empresários, homens de negócios, funcionários financeiros ou burocratas, mas sacerdotes. Isto significa, sobretudo, que fostes escolhidos para oferecer um sacrifício, dado que esta é a essência do presbiterado e o âmago do sacerdócio é a oferta do sacrifício de Cristo. Este é o motivo pelo qual a Eucaristia constitui a verdadeira essência daquilo que somos como presbíteros; é o motivo pelo qual, do que fazemos, não existe nada de mais importante do que a oferta do sacrifício eucarístico; é o motivo pelo qual a nossa concelebração da Eucaristia está inserida no cerne da vossa visita ad Limina. Nunca nos podemos esquecer de que os túmulos dos Apóstolos, que veneramos em Roma, são os túmulos dos mártires, cuja vida e cuja morte mergulharam cada vez mais profundamente no sacrifício de Cristo, a ponto de os levar a afirmar: "Fui crucificado com Cristo; já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Ga 2,20). Este foi o centro do seu extraordinário trabalho missionário que nós, como seus Sucessores, devemos imitar na nossa própria época, se quisermos ser fiéis à nova evangelização, para a qual o Concílio Vaticano II preparou a Igreja de maneira providencial.

2. O Concílio Vaticano II constituiu "a grande graça de que a Igreja beneficiou durante o século XX" (Novo millennio ineunte, 57). Embora as décadas que nos separam dele não tenham sido isentas de dificuldades - conheceram-se períodos, no decurso dos quais alguns elementos importantes da vida cristã chegaram a parecer em perigo - hoje em dia numerosos sinais indicam esta nova primavera do espírito, cujo carácter profético o Grande Jubileu do Ano 2000 manifestou de maneira evidente. Nos anos que se seguiram ao Concílio Vaticano II, a manifestação de novas aspirações espirituais e de renovadas energias apostólicas entre os fiéis da Igreja foi, sem dúvida, um dos frutos do Espírito. Os leigos vivem a graça do seu Baptismo sob formas que mostram de maneira mais resplandecente o rico leque de carismas existente na Igreja; e por isto não cessamos de dar graças a Deus.

De igual modo, é verdade que o despertar dos fiéis leigos na Igreja viu surgir ao mesmo tempo, inclusivamente nos vossos países, problemas relativos à vocação ao sacerdócio, acompanhados de um número limitado de jovens que entram no seminário, nas Igrejas a que vós presidis. Como Pastores, estais profundamente preocupados porque, como bem sabeis, a Igreja católica não pode existir sem o ministério presbiteral que o próprio Cristo deseja para ela.

Como se sabe, determinadas pessoas afirmam que a diminuição do número de sacerdotes é obra do Espírito Santo e que o próprio Deus está a orientar a Igreja, fazendo com que o governo dos sacerdotes seja substituído pelo governo dos fiéis leigos. Sem dúvida, tal afirmação não tem em consideração aquilo que os Padres conciliares expressaram, quando procuraram promover uma participação mais vigorosa dos fiéis leigos na Igreja. Nos seus ensinamentos, os Padres conciliares simplesmente puseram em evidência a profunda complementaridade existente entre os presbíteros e os leigos, implícita na natureza harmoniosa da Igreja. Por vezes, uma compreensão errónea desta complementaridade chegou a levar a uma crise de identidade e de confiança entre os sacerdotes.

E, de igual modo, a formas de compromisso exageradamente clericais ou demasiado politizadas.

O empenhamento dos leigos torna-se uma forma de clericalismo quando as funções sacramentais ou litúrgicas que pertencem aos sacerdotes são assumidas pelos fiéis leigos, ou ainda quando estes realizam tarefas que pertencem ao governo pastoral próprio dos sacerdotes. Em tais situações, aquilo que o Concílio Vaticano II ensinou sobre o carácter essencialmente secular da vocação laical é, na maioria dos casos, ignorado (cf. Lumen gentium, LG 31). É o sacerdote, como ministro ordenado que, em nome de Cristo, preside à comunidade cristã, tanto a nível litúrgico como pastoral. Os leigos assistem-no de muitas maneiras nesta tarefa. Contudo, o lugar primordial do exercício da vocação laical é o mundo das realidades económicas, sociais, políticas e culturais.

É neste mundo que os leigos são convidados a viver a sua vocação baptismal, não como consumidores passivos, mas como membros activos da grande obra que exprime o carácter cristão. Cabe ao presbítero presidir à comunidade cristã, a fim de permitir aos leigos o cumprimento da tarefa eclesial e missionária que lhes é própria. Numa época de secularização ameaçadora, pode parecer estranho que a Igreja insista tanto sobre a vocação secular dos leigos. Contudo, é precisamente o testemunho evangélico dos fiéis no mundo, que constitui o centro da resposta da Igreja ao mal-estar da secularização (cf. Ecclesia in America ).

O compromisso dos leigos é politizado, quando o leigo se deixa absorver pelo exercício do "poder" no interior da Igreja. E isto acontece quando a Igreja não é vista em termos de "mistério" da graça, que a caracteriza, mas em termos sociológicos ou até mesmo políticos, com frequência tendo como seu fundamento uma compreensão errónea da noção de "povo de Deus", noção esta que possui profundas e ricas bases bíblicas e que é apresentada de maneira muito feliz pelo Concílio Vaticano II. Quando não é o serviço, mas o poder que modela todas as formas de governo na Igreja, quer se trate do clero ou do laicado, os interesses opostos começam a fazer-se sentir. Para os sacerdotes, o clericalismo é aquela forma de governo que depende mais do poder que do serviço, e que gera sempre antagonismos entre os presbíteros e o povo em geral; este clericalismo encontra-se nas formas de liderança laical, que não tem na devida consideração a natureza transcendente e sacramental da Igreja, nem o seu papel no mundo. Estas duas atitudes são nocivas. Pelo contrário, aquilo de que a Igreja tem necessidade é de um sentido da complementaridade entre a vocação do sacerdote e a vocação do leigo, que seja mais profundo e mais criativo. Sem isto, não podemos esperar permanecer fiéis aos ensinamentos do Concílio Vaticano II, nem ultrapassar as dificuldades relativas à identidade do sacerdote, à confiança que lhe é devida e à vocação ao sacerdócio.

3. Entretanto, devemos olhar muito para além dos confins da Igreja, uma vez que o Concílio Vaticano II estava essencialmente preocupado em promover novas energias para a sua missão no mundo. Estais bem conscientes de que uma parte da sua missão evangelizadora é a inculturação do Evangelho, e sei que na vossa Região se presta muita atenção à necessidade de desenvolver formas caraíbicas de culto e de vida católica. Na Carta Encíclica Fides et ratio, realcei que "o Evangelho não é contrário a esta ou àquela cultura, como se quisesse, ao encontrar-se com ela, privá-la daquilo que lhe pertence, e a obrigasse a assumir formas extrínsecas que lhe são estranhas" (n. 71). Em seguida, quis sublinhar que as culturas não só não são diminuídas pelo encontro com o Evangelho, mas que "são estimuladas a abrir-se à novidade da verdade evangélica, de que recebem impulso para novos progressos" (Ibidem; cf. Exortação Apostólica Ecclesia in America ).

Tendo em vista esta finalidade, é importante ter em mente os três critérios para discernir se as nossas tentativas de inculturar o Evangelho estão solidamente assentes ou não. A primeira tese é a universalidade do espírito humano, cujas necessidades elementares não são diferentes nem sequer nas culturas muito diversas. Por conseguinte, nenhuma cultura jamais pode tornar-se absoluta, de maneira a negar que o espírito humano é, no seu nível mais profundo, o mesmo em todos os tempos, lugares e culturas. O segundo critério consiste nisto: penetrando em novas culturas, a Igreja não pode abandonar a preciosa herança que lhe foi deixada pelo seu compromisso inicial com a cultura greco-latina, porque se o fizesse seria como "contrariar o desígnio providencial de Deus, que conduz a sua Igreja pelos caminhos do tempo e da história" (Fides et ratio FR 72). Assim, não se trata de rejeitar a herança greco-latina, em ordem a permitir que o Evangelho volte a encarnar na cultura caraíbica. Pelo contrário, o desafio consiste sobretudo em impregnar a herança cultural da Igreja num profundo e recíproco diálogo com a cultura do Caribe. O terceiro critério é o facto de que a cultura não pode fechar-se na sua própria diversidade, nem esconder-se no isolamento e na oposição às outras culturas e tradições. Isto significaria negar não somente a universalidade do espírito humano, mas também a universalidade do Evangelho, que não é alheio a qualquer cultura e procura enraizar-se em todas elas.

4. Na Exortação Apostólica Ecclesia in America, observei que "cresce sempre mais a necessidade que os fiéis passem de uma fé rotineira... a uma fé consciente, vivida pessoalmente. Renovar-se na fé será sempre o melhor caminho para conduzir todos à Verdade que é Cristo" (n. 73). Eis por que motivo é essencial que nas vossas Igrejas particulares se desenvolva uma renovada apologética para o vosso povo, a fim de que ele possa entender aquilo que a Igreja ensina e, deste modo, ser capaz de explicar a razão da sua esperança [a quem lhe perguntar] (cf. 1P 3,15). Por isso, num mundo em que as pessoas são continuamente sujeitas à pressão cultural e ideológica dos mass media e à atitude anticatólica agressiva da parte de muitas seitas, é essencial que os católicos conheçam o conteúdo do ensinamento da Igreja, compreendam o seu magistério e experimentem o seu poder libertador. A falta de compreensão leva à escassez da energia espiritual necessária para uma vida cristã e para o trabalho de evangelização.

A Igreja é chamada a proclamar uma verdade absoluta e universal ao mundo, numa época em que em numerosas culturas subsiste uma profunda incerteza acerca da possibilidade da existência desta verdade. Por conseguinte, a Igreja deve pronunciar-se de maneira a transmitir a força do testemunho autêntico. Considerando o que isto acarreta, o Papa Paulo VI identificou quatro qualidades, a que chamou: perspicuitas, lenitas, fiducia e prudentia - clarividência, mansidão, confiança e prudência (cf. Carta Encíclica Ecclesiam suam, 81).

Falar com clarividência significa que temos necessidade de explicar de maneira compreensível a verdade da Revelação e o magistério da Igreja que dela deriva. Aquilo que ensinamos nem sempre é imediata ou facilmente compreensível para as pessoas de hoje. Por este motivo, não devemos simplesmente repetir, mas sim explicar. Foi isto que quis dizer, quando afirmei que precisamos de uma nova apologética, em sintonia com as necessidades contemporâneas, que nos recorde que a nossa tarefa não consiste em fazer prevalecer as argumentações, mas em conquistar almas, não em participar em debates ideológicos, mas em estimular uma espécie de combate espiritual, preocupados não em reivindicar e promover-nos a nós mesmos, mas em reivindicar e promover o Evangelho.

Esta apologética ainda tem necessidade de respirar um espírito de mansidão, aquela humildade e compaixão que compreendem as ansiedades e os problemas das pessoas e, ao mesmo tempo, não cedem a um sentimentalismo do amor e da misericórdia de Cristo, separados da verdade. Sabemos que o amor a Cristo pode apresentar grandes exigências, precisamente porque estas estão vinculadas não ao sentimentalismo, mas à única verdade que nos liberta (cf. Jo Jn 8,32).
Falar com confiança significa que nunca devemos perder de vista a verdade absoluta e universal, revelada em Jesus Cristo, e jamais deixar de considerar o facto de que esta é a verdade a que os homens aspiram, independentemente de quão desinteressados, refractários ou hostis possam parecer.

Falar com aquela sabedoria concreta e aquele bom senso, que o Papa Paulo VI denominava como prudência, e que Gregório Magno considerava a virtude dos corajosos (cf. Moralia, 22, 1), significa que devemos dar uma resposta clara às pessoas que nos perguntam: "O que é que devemos fazer?" (Lc 3,10 Lc 3,12 Lc 3,14). A este propósito, a grave responsabilidade do nosso ministério episcopal manifesta-se em toda a exigência do seu desafio. Devemos rezar todos os dias para que o Espírito Santo nos ilumine, a fim de podermos falar em conformidade com a sabedoria de Deus, e não segundo a sabedoria do mundo, "para que a cruz de Cristo não seja desvirtuada" (1Co 1,17).

O Papa Paulo VI concluiu a sua exortação, afirmando que se falarmos com perspicuitas, lenitas, fiducia e prudentia, "seremos sábios e mestres" (cf. Ecclesiam suam, 83); e é isto que somos chamados a ser, em primeiro lugar - mestres da verdade, que jamais cessem de implorar "a graça de ver a vida na sua integridade, e o poder para falar dela de modo eficaz" (Gregório Magno, Sobre Ezequiel, I, 11, 6).

5. Queridos Irmãos, estou persuadido de que muitos dos problemas que se apresentam no vosso ministério - inclusivamente a necessidade de um número mais elevado de vocações sacerdotais e religiosas - serão resolvidos, se ousardes dedicar-vos com uma generosidade ainda maior à tarefa missionária. Este era um importante objectivo do Concílio Vaticano II, e se a partir dessa época houve problemas no interior da Igreja, talvez em parte tenha sido porque a comunidade católica foi menos missionária do que o Senhor Jesus e o próprio Concílio desejavam que fosse.

Estimados Irmãos Bispos, também as vossas Igrejas particulares devem ser missionárias - no sentido de partir com audácia rumo a todos os quadrantes da sociedade caraíbica, até ao mais obscuro de entre eles, armados com a luz do Evangelho e com o amor que não conhece limites. Chegou a hora de lançardes as vossas redes onde parece haver mais peixes (cf. Lc Lc 5,4-5): Duc in altum! Nos vossos planos para esta missão, é vital que tenhais em mente o facto de que devemos "apostar tudo na caridade" (cf. Novo millennio ineunte, 49), porque "o século e o milénio que estão a começar hão-de ver [e espera-se que seja com clarividência ainda maior] a dedicação a que pode levar a caridade para com os mais pobres" (Novo millennio ineunte, 49). Contudo, é ainda mais vital que conserveis o vosso olhar fixo em Jesus Cristo (cf. Hb He 12,2), sem jamais O perder de vista, pois Ele é o princípio e o fim de toda a missão cristã.

Enquanto invoco sobre vós, neste período pascal, uma vigorosa abundância dos dons do Espírito Santo, e confio as vossas queridas comunidades as "santas sementes do céu" (Santo Agostinho, Sermão 34, 5) à protecção infalível de Maria, Mãe do Redentor, concedo-vos a minha Bênção apostólica a vós, aos sacerdotes, aos religosos, às religiosas e a todos os fiéis leigos do Caribe, como penhor de graça e de paz em Jesus Cristo, o primogénito de entre os mortos.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA ALBÂNIA


JUNTO Á SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sexta-feira, 10 de Maio de 2002

Senhor Embaixador

1. É com prazer que recebo as Cartas com as quais o Dr. Rexhep Meidani, Presidente da República da Albânia, o acredita como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto da Santa Sé.

Ao apresentar-lhe as cordiais boas-vindas, desejo agradecer, por seu intermédio, ao Senhor Presidente da República, as gentis palavras que me dirigiu, bem como confirmar a constante benevolência que sinto pelo querido País que Vossa Excelência é chamado a representar.

O encontro de hoje faz-me recordar a visita que Deus me concedeu realizar a 25 de Abril de 1993 à Albânia e os vibrantes sentimentos de afecto que muitos dos seus compatriotas me manifestaram naquela ocasião. Rezo a Deus constantemente para que a Albânia prossiga confiante o caminho de prosperidade e de paz que empreendeu, salvaguardando sempre entre todos os seus habitantes o respeito recíproco, o diálogo e a colaboração. De facto, se se deseja construir uma sólida unidade nacional, é necessário que cada cidadão acredite nos valores da democracia reencontrada e nos benefícios da concórdia social, e coopere para a consolidação das estruturas das instituições, que devem mostrar-se sempre eficientes ao prestar ao povo aqueles serviços que ela espera legitimamente.

A sua Pátria, que pode contar com um rico tesouro de tradições étnicas, culturais e espirituais, deve saber tirar delas a linfa vital que lhe permitirá prosseguir com confiança o caminho de profunda renovação social em que se comprometeu.

2. Como Vossa Excelência oportunamente realçou, os vínculos entre a Sé Apostólica e a Nação albanesa são plurisseculares e intensos. Eles permitiram que ambas crescessem no conhecimento e na confiança recíprocos. Instaurou-se assim uma colaboração proveitosa que, depois do triste parêntesis da ditadura comunista, pôde ser retomada num clima de entendimento e de estima. Por esta razão, estou certo de que os problemas que Vossa Excelência mencionou serão enfrentados e resolvidos de maneira positiva e poderá chegar-se à desejada realização dos não poucos projectos actualmente feitos.

O povo albanês poderá fazer um apelo aos bem conhecidos dotes de coragem e de determinação que o distinguem. Destas virtudes, como Vossa Excelência recordou, foi campeão Jorge Castriota Skanderberg, herói nacional, que não raro entrou em contacto com os Romanos Pontífices.

Apraz-me recordar, a propósito disto, a solicitude do meu Predecessor Calisto III pelos empreendimentos deste "destemido soldado de Cristo" (Liber Brevium, 298), que ele convidava a perseverar na defesa corajosa da fé face à ameaça otomana (cf. ibid.,302). Pode esquecer-se, porventura, Ganxha (Inês) Bojaxhiu, Madre Teresa de Calcutá, filha do povo albanês, que conferiu honra e brilho à sua nação e à Igreja Católica? A sua actividade e testemunho contribuíram para manter desperta no mundo a amizade pela sua Pátria, mesmo durante o período obscuro da perseguição comunista e anti-religiosa.

O povo albanês tem estas personagens como constante ponto de referência, e orgulha-se justamente pelos seus dotes humanos e espirituais. Precisamente estas virtudes o podem ajudar a concretizar os objectivos de reconstrução e desenvolvimento que o esperam, como Vossa Excelência há pouco realçou.

3. Inserida num quadro cultural, histórico e geográfico europeu, a Albânia deseja legitimamente estabelecer com os outros povos do Velho Continente um diálogo construtivo, desejando contribuir activamente para a edificação da comum "casa europeia".

Esta vontade de proveitoso confronto não se realiza apenas com os Países que a rodeiam mas, mais em geral, com a União Europeia. O povo albanês deseja encontrar o seu papel num âmbito internacional mais amplo, abrindo-se ao mundo inteiro. A primeira condição, e ao mesmo tempo consequência, desta justa aspiração é a exigência de uma maior união e estabilidade dentro das suas fronteiras, que dê mais autoridade à Albânia na assembleia das Nações. A este propósito, não posso deixar de louvar e encorajar, também nesta ocasião, os esforços concretos que estão a permitir ao País, que Vossa Excelência representa, prosseguir pelo caminho do restabelecimento das graves feridas causadas pelas trágicas décadas da tirania!

4. Senhor Embaixador, na medida do que está nas suas possibilidades, também a Santa Sé continuará a apoiar, como fez até agora, o povo albanês na sua busca do progresso autêntico e da paz estável. As boas relações recíprocas, caracterizadas pela confiança e pela estima, realçam o valor de uma reencontrada linguagem comum em benefício de todos os albaneses. Dá provas disto o recente acordo de colaboração, que a Albânia e a Santa Sé assinaram, a fim de regular as suas relações, acordo que agora está à espera de ser ratificado pelo Parlamento, como recordou Vossa Excelência.

A Igreja, apesar de ter essencialmente uma missão espiritual, está bem consciente de dever manter um diálogo constante com a sociedade, recordando, como referências de qualquer actividade humana, os insuperáveis valores éticos e morais. Para construir um País livre e hospitaleiro, os cristãos desejam continuar a colaborar com as outras Confissões religiosas tradicionalmente presentes e com as quais já existe um respeitoso e frutuoso entendimento.

5. Senhor Embaixador, peço-lhe que se faça intérprete junto do Presidente da República dos meus deferentes sentimentos. Desejo ao mesmo tempo confirmar-lhe que, no cumprimento da nobre missão que lhe foi confiada pelo seu Governo, encontrará da parte da Sé Apostólica pleno acolhimento, escuta e colaboração.

Ao renovar fervorosos votos pelo feliz desenvolvimento da sua actividade, acompanho os meus votos com a certeza da oração, para que Deus Omnipotente assista com os seus dons Vossa Excelência, os seus Colaboradores, as Autoridades do seu País e o povo albanês, sempre presente no meu coração.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA GERAL


DO CENTRO CATÓLICO INTERNACIONAL PARA A UNESCO


10 de Maio de 2002

Senhor Cardeal
Senhor Presidente
Queridos amigos do Centro católico internacional para a UNESCO

1. Sinto-me feliz em receber-vos esta manhã, exprimir-vos o meu reconhecimento e garantir-vos a minha confiança por ocasião da vossa trigésima Assembeia geral, que tem por tema "O diálogo intercultural e inter-religioso: uma oportunidade para a humanidade". Agradeço ao Presidente, Senhor Bernard Lacan, as suas palavras gentis. Saúdo os membros do Centro católico, de modo particular o Senhor Gilles Deliance, o seu Director, exprimindo a todos a minha gratidão pela actividade que desempenhais ao serviço da cultura. Sinto-me feliz por se encontrar aqui convosco o Observador Permanente da Santa Sé junto da UNESCO, D. Renzo Frana, e agradeço-lhe o trabalho que realizou durante os longos anos passados junto desta Organização das Nações Unidas.

Recorda-se neste ano o cinquentenário da nomeação do primeiro Observador permanente da Santa Sé junto da UNESCO, na pessoa de D. Roncalli, o bem-aventurado Papa João XXIII.

Desde então, a Santa Sé segue com atenção as actividades da UNESCO nos âmbitos fundamentais da educação, das ciências humanas, da comunicação e da informação, sendo todos eles aspectos da cultura, "realidade fundamental que nos une e que está na base do estabelecimento e das finalidades da UNESCO" (Discurso à UNESCO, Paris, 2 de Junho de 1980, n. 8).

2. O vosso centro facilita o trabalho e a cooperação das Organizações internacionais católicas que participam nas grandes actividades da UNESCO relacionadas com a educação e a formação.

Encorajo-vos, na vossa missão específica, a difundir, através das vossas iniciativas e publicações, o saber e a capacidade específicos, oferecendo aos nossos contemporâneos a possibilidade de enfrentar os grandes desafios culturais do nosso tempo contribuindo com respostas dignas da pessoa humana.

Os grandes âmbitos da educação e da cultura, da comunicação e da ciência, requerem uma dimensão ética fundamental. Para lhe dar respostas apropriadas, é oportuno adquirir um justo conhecimento científico, fazer uma reflexão aprofundada e propor o esclarecimento do humanismo cristão e dos valores morais universais. A família deve ser objecto de uma atenção particular, pois a ela compete, em primeiro lugar, a missão educativa dos jovens.

3. Encorajo-vos a prosseguir ininterruptamente o vosso trabalho, para que se realize um diálogo fecundo entre a mensagem de Cristo e as culturas. Estou-vos grato pelo serviço que prestais na formação de peritos católicos, ocupando-vos em prepará-los com seriedade e enraizá-los na fé, tornando-os aptos para darem ao mundo um testemunho credível, alimentado pela Palavra de Deus e pelos ensinamentos da Igreja. Seria desejável que as vossas investigações de temas científicos, culturais e educativos, realizados à luz do Evangelho, pudessem ser postos à disposição dos católicos empenhados nestes campos, de maneira sistemática e acessível, de acordo com as possibilidades oferecidas pelos meios modernos.

Escolhestes Roma para realizar as vossas reuniões, manifestando a vossa afeição ao Sucessor de Pedro e à Santa Sé. Sensibilizado por este gesto, agradeço-vos a missão da Igreja que vós garantis de maneira generosa e atenta na UNESCO, ao serviço de todos os homens.

Concedo de bom grado a cada um de vós, assim como a todas as pessoas que vos são queridas, a Bênção apostólica.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS DIRIGENTES E SÓCIOS DO


CÍRCULO DE SÃO PEDRO


10 de Maio de 2002

Caríssimos Dirigentes e Sócios
do Círculo de São Pedro

1. Bem-vindos a este encontro, que em todos os anos me ajuda a conhecer-vos melhor e a estimar a obra atenta e cuidadosa que levais a cabo. Saúdo com grande cordialidade cada um de vós e, através das vossas pessoas, os Sócios que não se encontram aqui presentes. Depois, a minha saudação faz-se extensiva às vossas famílias, que compartilham o generoso compromisso do benemérito Círculo de São Pedro.

Dirijo um pensamento particular ao Presidente-Geral, Dr. Marcello Sacchetti, e agradeço-lhe as amáveis expressões que me quis transmitir, explicando-me os ideais que vos orientam e as diversas actividades levadas a cabo pelo vosso Sodalício. As suas palavras ofereceram a todos a medida da consistência e da qualidade do vosso compromisso litúrgico e caritativo, assim como da vossa capacidade de corresponder às necessidades dos irmãos com uma caridade criativa.

Dirijo também um pensamento fraterno ao vosso Assistente espiritual, D. Ettore Cunial, e aos sacerdotes que se dedicam à vossa formação cristã permanente.

2. "Quando deres esmola, que a tua esquerda não saiba o que fez a tua direita, para que a tua esmola fique escondida" (Mt 6,3-4).

É nestas palavras de Jesus, citadas pelo Evangelista São Mateus, que se inspiram o estilo e o programa do vosso Sodalício que, há mais de um século, desempenha um válido serviço social e apostólico. Um serviço talvez pouco conhecido pelos grandes meios de comunicação social, mas que constitui um ponto de referência seguro e acolhedor para quantos, sozinhos e abandonados, se encontram a enfrentar situações difíceis e graves problemas de saúde.

Há pouco o vosso Presidente recordou que, por amor a Cristo, escolhestes considerar como "primeiros", ou seja, como objecto de atenção prioritária e de serviço amoroso, aqueles que o mundo e as lógicas do lucro julgam como os "últimos", abandonando-os às margens da sociedade opulenta.

Foi deste espírito de caridade que nasceram as vossas obras centenárias e também as de recente instituição, como a Casa de Cura para a terapia da dor.

Todas estas iniciativas benéficas podem contar com a disponibilidade e os sacrifícios dos membros do vosso Sodalício que, voltando a propor a imagem do Bom Samaritano, se debruçam sobre os irmãos feridos na carne e no espírito para lhes levar, com a ajuda material, também o conforto de uma palavra de esperança e de um gesto de caridade fraternal.

3. Nas vossas múltiplas actividades, nunca falte o tempo a dedicar à escuta da Palavra de Deus, e o Evangelho venha a ser o vade-mécum do vosso amor pelos pobres. Diante das formas de neopaganismo, que fascinam muitas pessoas, faço votos a fim de que a vossa caridade discreta e operosa, alimentada por uma oração intensa, constitua um sinal eloquente da ternura de Deus por todo o ser humano.

Na realização da vossa importante acção caritativa, tendes a intenção de testemunhar a solicitude do Papa para com quem se encontra em necessidade. Num certo sentido, o Círculo de São Pedro constitui um prolongamento da sua "mão caritativa", estendida para os mais pobres e abandonados. Desta vossa missão faz parte também a colecta do Óbolo de São Pedro em Roma, por ocasião da Jornada da Caridade do Papa, confiada ao vosso Sodalício em virtude de um antigo privilégio. Como de costume, durante este encontro vós apresentais-me o resultado desta colecta. Estou-vos grato por este gesto delicado e significativo.

A Virgem Maria vos acompanhe e vos proteja a todos e a cada um, bem como as vossas famílias, particularmente neste mês de Maio, a Ela consagrado.

Também eu estou próximo de vós mediante a oração e, do íntimo do coração, vos concedo a cada um, às vossas famílias e aos pobres que vós assistis amorosamente, uma especial Bênção apostólica.



A UMA DELEGAÇÃO DE PEREGRINOS

DA BULGÁRIA PELA FESTA DOS SANTOS


IRMÃOS CIRILO E METÓDIO


11 de Maio de 2002


Queridos Amigos búlgaros

Tenho novamente a alegria de dar as boas-vindas à Delegação búlgara, por ocasião da festividade dos Santos Cirilo e Metódio. A vossa visita já se tornou tradicional. Neste ano, ela tem um significado especial, dado que, daqui a duas semanas, eu mesmo visitarei a Bulgária. Agradeço a Vossa Excelência, o Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, as suas amáveis palavras de homenagem e a Vossa Excelência o Metropolita Kalinik as suas expressões de fraternidade e as saudações que me transmitiu da parte do Patriarca Maxim. Asseguro à vossa Delegação as minhas orações sinceras pelo bem-estar do Povo búlgaro, tão rico de história e de humanidade.

Enquanto a minha visita ao vosso País terá uma finalidade pastoral, em ordem a confirmar os meus irmãos e irmãos católicos na sua fé, a minha ardente esperança é de fortalecer os vínculos de comunhão cristã entre a Igreja católica e a Igreja búlgaro-ortodoxa. Sem dúvida, o nosso encontro vai ajudar a Bulgária a consolidar os seus fundamentos cristãos num período depois da derrocada da antiga ordem e enquanto uma nova vida está a formar-se para o vosso País. E seria um serviço prestado pelas Igrejas ao continente da Europa, que procura edificar uma renovada unidade, haurindo mais abundantemente das riquezas tanto do Leste como do Oeste.

Esta contribuição estaria em profunda sintonia com a visão dos Santos Cirilo e Metódio, visão esta que nada perdeu da sua relevância, ao longo dos séculos. Nascida do Evangelho de Jesus Cristo, a sua é uma visão de unidade na diversidade, de liberdade vinculada à verdade, de esperança perante qualquer tipo de aflição. Na Bulgária, visitarei um povo que nasceu do testemunho destes Santos e encontrarei a cultura que encarna a alma do seu ensinamento.

Envio ao Santo Sínodo as minhas saudações de paz, dos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo. Ao governo e ao povo da Bulgária, exprimo a minha alegria por poder em breve visitar a vossa terra. Enquanto vos confio à salvaguarda da Mãe do Salvador e à intercessão dos Santos Cirilo e Metódio, invoco sobre a Nação as abundantes Bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA MARATONA DA PRIMAVERA


Domingo, 12 de Maio de 2002


Sinto-me feliz por vos dirigir a minha calorosa saudação de boas-vindas a todos vós, vindos aqui em grupo tão numeroso para participar na tradicional "Maratona da Primavera", organizada na celebração das Jornadas de festa das Escolas católicas romanas.

Este encontro vê reunidos alunos, professores, colaboradores, ex-alunos e benfeitores da Escola católica para um momento de alegria e de fraternidade, no desejo de dar visibilidade a uma realidade social e educativa, empenhada em realizar um projecto de formação inspirado no Evangelho.


Discursos João Paulo II 2002 - Segunda-feira, 6 de Maio de 2002