Discursos João Paulo II 2002 - Domingo, 12 de Maio de 2002

Exorto as várias Escolas católicas de Roma a perseverar com coragem e dedicação na sua importante missão ao serviço das jovens gerações. Ao mesmo tempo, faço votos para que tenham bom êxito os passos já empreendidos no caminho da paridade entre a escola estatal e a não estatal.

Caríssimos, desejo para todos vós uma boa corrida ao longo das ruas de Roma. Que seja uma festa de amizade e de esperança! Com o vosso entusiasmo e a vossa alegria, comunicai a quantos encontrardes a alegria de Cristo ressuscitado.

Abençoo-vos a todos afectuosamente.



JOÃO PAULO II


DISCURSO A UM GRUPO DE PRESIDENTES


DAS CÂMARAS MUNICIPAIS DE ALGUMAS


DAS CIDADES MAIS IMPORTANTES DO MUNDO


Segunda-feira, 13 de Maio de 2002

Queridos Amigos

É com imenso prazer que me encontro convosco, Presidentes das Câmaras Municipais de algumas das Cidades mais importantes do mundo. Vós reunistes-vos em Roma para reflectir sobre a medida da influência da globalização na vida das nossas cidades e sobre as oportunidades que ela oferece para estreitar os vínculos recíprocos. Estou profundamente agradecido ao Ilustre Senhor Walter Veltroni, Presidente da Câmara Municipal de Roma, pelas suas amáveis palavras de apresentação e de resumo.

A cidade é muito mais do que um território, uma área económica produtiva e uma realidade política. Ela é, acima de tudo, uma comunidade de pessoas, e especialmente de famílias acompanhadas dos seus filhos. Trata-se de uma experiência humana viva, historicamente enraizada e diversa sob o ponto de vista cultural. As pessoas que exercem o governo administrativo e político sobre a mesma têm graves responsabilidades para com o bem comum da população em geral que são seres humanos dotados de dignidade e de direitos inalienáveis da mesma forma que os cidadãos têm importantes deveres em relação à comunidade.

A componente ética de uma cidade deveria distinguir-se sobretudo por uma característica: a solidariedade. Cada um de vós enfrenta sérios problemas sociais e económicos, que não serão resolvidos, a não ser que se crie um novo estilo de solidariedade humana. As instituições e as organizações sociais aos diferentes níveis, assim como o Estado, devem participar na promoção de um movimento geral de solidariedade entre todas as camadas da população, prestando atenção especial aos mais frágeis e marginalizados. Não é apenas uma questão de conveniência. Trata-se de uma necessidade de ordem moral, para a qual todos têm necessidade de ser educados e na qual todas as pessoas, que de de alguma forma são influentes, hão-de comprometer-se, por uma questão de consciência.

A finalidade da solidariedade deve ser o progresso de um mundo mais humano para todos um mundo em que cada indivíduo seja capaz de participar de maneira positiva e frutuosa, e em que a riqueza de alguns já não seja um obstáculo para o desenvolvimento dos outros, mas sim uma ajuda.

Enquanto reflectis sobre as numerosas e complexas questões levantadas pela vossa Conferência, encorajo-vos a considerar a vossa tarefa como uma singular oportunidade de fazer o bem e de melhorar concretamente o mundo em que vivemos. Que o Omnipotente ilumine e oriente os vossos esforços. Sobre vós e os vossos concidadãos, invoco as abundantes bênçãos divinas da harmonia e da paz.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DO PONTIFÍCIO CONSELHO


PARA A CULTURA,


CARDEAL PAUL POUPARD




Senhor Cardeal

É de de bom grado que me uno a Vossa Eminência e aos seus colaboradores, aos Embaixadores acreditados junto da Santa Sé e a todas as personalidades reunidas para celebrar o vigésimo aniversário da criação do Pontifício Conselho para a Cultura.

Desde o início do meu Pontificado, aproveitei todas as ocasiões para recordar como é importante o diálogo entre a Igreja e as culturas. Este é um âmbito vital não só para a nova evangelização e para a inculturação da fé, mas também para o destino do mundo e para o futuro da humanidade.

Durante os passados vinte anos, mudaram notavelmente os modelos de pensamento e os costumes das nossas sociedades, enquanto os progressos técnicos, com o surgir das tecnologias modernas da comunicação, influenciaram profundamente as relações do homem com a natureza, consigo mesmo e com o próximo. A própria globalização, no início referente ao âmbito económico, tornou-se agora um fenómeno que inclui também outros sectores da vida humana. Perante estas mudanças culturais, é pertinente como nunca a reflexão dos Padres do Concílio Ecuménico Vaticano II que, na Constituição pastoral Gaudium et spes, quiseram realçar a importância que a cultura tem para o desenvolvimento total do homem. Na carta autógrafa para a criação do Pontifício Conselho para a Cultura escrevi: "A síntese entre a cultura e a fé não é só uma exigência da cultura, mas também da fé... Uma fé que não se torna cultura é uma fé que não é plenamente acolhida, nem inteiramente pensada nem fielmente vivida" (Ed. port. de L'Oss. Rom. Maio de 1982, pág. 3).

2. Depois do Concílio, nas Assembleias do Sínodo dos Bispos, voltaram com frequência estes temas, que retomei em apropriadas Exortações apostólicas. Gostaria de agradecer a este Pontifício Conselho, por mim criado a 20 de Maio de 1982, a ajuda que me ofereceu neste campo, tão importante para a acção missionária da Igreja.

Depois, em 1993, quis unir com este Conselho, o Pontifício Conselho para o Diálogo com os não-Crentes, instituído pelo meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, convicto de que a cultura é um caminho privilegiado para compreender a maneira de pensar e de sentir daqueles homens do nosso tempo que não têm como ponto de referência qualquer crença religiosa. Nesta perspectiva, escrevi nessa ocasião: "O Conselho promove o encontro entre a mensagem salvífica do Evangelho e as culturas do nosso tempo, com frequência marcadas pela não-crença e pela indiferença religiosa, a fim de que elas se abram cada vez mais à Fé cristã, criadora de cultura e fonte inspiradora de ciências, letras e artes" (Motu proprio Inde a Pontificatus, 25 de Março de 1993, art. 1).

3. Senhor Cardeal, desejaria aproveitar esta feliz ocasião para encorajar o Pontifício Conselho para a Cultura e todos os seus membros a prosseguir o caminho empreendido, fazendo com que a voz da Santa Sé possa alcançar os vários "areópagos" da cultura moderna, estabelecendo relações proveitosas com os cultores da arte e da ciência, das letras e da filosofia.

Nos encontros eclesiais e interculturais de ciência, cultura e educação, assim como nas Organizações internacionais, o vosso empenho constante seja o de testemunhar o interesse da Igreja pelo diálogo fecundo do Evangelho de Cristo com as culturas e uma efectiva participação dos católicos na construção de uma sociedade cada vez mais respeitadora da pessoa humana, criada à imagem de Deus.

Ao invocar, na perspectiva da próxima festa de Pentecostes, a luz do Espírito Divino sobre as actividades do Pontifício Conselho, concedo de coração a Vossa Eminência, Senhor Cardeal, aos seus colaboradores e a todos os que se reuniram para celebrar esta feliz data, uma especial e efectuosa Bênção apostólica.


Vaticano, 13 de Maio de 2002.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS DIRECTORES NACIONAIS,


AOS COLABORADORES E ÀS COLABORADORAS


DAS PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS


Quinta-feira, 16 de Maio de 2002

1. O encontro anual convosco, queridos Directores nacionais, colaboradores e colaboradoras das Pontifícias Obras Missionárias é para mim motivo de grande alegria.

A realidade missionária da Igreja constitui um grande estímulo para responder, com responsabilidade e clarividência, aos desafios do mundo actual. Face às dificuldades e às expectativas do nosso tempo, que interpelam a nossa fé, a Igreja, com humilde coragem, indica como resposta Jesus Cristo, esperança viva. A Igreja está consciente de que "a evangelização missionária... constitui o primeiro serviço que a Igreja pode prestar ao homem e à humanidade inteira, no mundo de hoje" (Redemptoris missio RMi 2), revelando o amor de Deus, que se manifestou no Redentor. A comunidade dos crentes caminha assim nos séculos, obediente ao mandato do Senhor: "Ide, pois, ensinai todas as nações [...] ensinando-as a cumprir tudo quanto vos tenho mandado" (Mt 28,19-20).

Porventura não prometeu Jesus que estará sempre connosco "até ao fim do mundo" (Mt 28,20)? Com a certeza da sua Palavra, os cristãos vivem todos os tempos como o "momento favorável" e o "dia da salvação" (cf. 2Co 6,2), porque "Jesus Cristo é sempre o mesmo ontem, hoje e sempre!" (He 13,8).

E o vosso empenho, caríssimos Irmãos e Irmãs, é precisamente o de ajudar as comunidades eclesiais a responder aos dons do Espírito e a colaborar activamente na obra universal de salvação.

2. Nos dias que precedem a Assembleia geral das Pontifícias Obras Missionárias, vós detivestes-vos, embora brevemente, para reflectir sobre a necessidade de uma adequada formação do pessoal missionário e sobre o diálogo, hoje cada vez mais necessário, com as outras religiões. Para vós é bastante evidente que esta formação não é "marginal, mas central na vida cristã" (Redemptoris missio RMi 83).

De facto, é necessário que nos diversos níveis de responsabilidade, todos na Igreja, sejam educados para cooperar juntos na missão de Cristo. É necessário que não faltem vocações ad gentes, e operários com várias funções no grande campo da evangelização. Além disso a actividade missionária jamais se pode limitar a ser uma simples promoção humana, mera ajuda aos pobres e libertação dos oprimidos. Mesmo se deve intervir corajosamente nestas frentes, em colaboração com todas as pessoas de boa vontade, a Igreja tem outra tarefa primária e específica, isto é, a de fazer encontrar todos os homens e mulheres com Cristo, único Redentor.

Por conseguinte, a actividade missionária deve, antes de mais, preocupar-se por transmitir a salvação que Jesus realizou. E, por outro lado, quem pode testemunhar melhor do que vós que os pobres têm, em primeiro lugar, fome de Deus, e não só de pão e de liberdade? Quando os crentes em Cristo permanecem fiéis à sua missão, tornam-se instrumentos privilegiados de libertação global.

3. Mas a formação missionária precisa, em primeiro lugar, de testemunho evangélico. O verdadeiro missionário é santo e o mundo espera missionários santos. Portanto, não é suficiente dedicar-se unicamente à renovação dos métodos pastorais e das estruturas, coordenando melhor as forças eclesiais; não é suficiente limitar-se a explorar com mais atenção as fontes bíblicas e teológicas da fé. Aquilo que é indispensável é suscitar um novo "fervor de santidade" entre os missionários e em toda a comunidade cristã, e sobretudo entre os mais estreitos colaboradores dos missionários.

Desejaria recordar mais uma vez a urgência que há de missionários ad gentes e ad vitam. Esta vocação "mantém toda a sua validade: representa o paradigma do compromisso missionário da Igreja, que tem sempre necessidade de doações radicais e totais, de impulsos novos e corajosos" (Ibid., 66). Agradeço ao Senhor por todos aqueles que, ao ouvir a sua voz, lhe respondem com generosidade, apesar de estarem conscientes da própria insuficiência, e confiam nas suas promessas e na sua ajuda. Amparados pela graça divina, os missionários sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos dedicam a Cristo todas as suas energias em terras distantes, por vezes com grandes dificuldades, imcompreensões, perigos e até perseguições.

4. Como deixar de recordar com gratidão todos aqueles que, também nos últimos meses, morreram para permanecer fiéis à sua missão? São Bispos e sacerdotes, mas não faltam religiosos, religiosas e numerosos leigos. São "os mártires e as testemunhas da fé" do nosso tempo, que encorajam todos os crentes a servir o Evangelho com uma dedicação total.

Elevo orações a Deus por cada um deles, ao confiar-vos a vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, à protecção de Maria, Estrela da evangelização, e de coração vos concedo uma especial Bênção apostólica, que faço extensiva aos vossos colaboradores e colaboradoras no incansável trabalho de animação, formação e cooperação missionária.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA BIELO-RÚSSIA


JUNTO DA SANTA SÉ


Sexta-feira, 17 de Maio de 2002


Senhor Embaixador

1. Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência na ocasião da solene apresentação das Cartas que o acreditam como primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Bielo-Rússia junto da Santa Sé.

Ao agradecer-lhe as suas amáveis palavras, que interpretam o espírito com que Vossa Excelência deseja começar a sua missão, ficar-lhe-ia grato se se dignar transmitir a Sua Excelência o Senhor Alexandre Loukachenko, Presidente da República da Bielo-Rússia, as minhas cordiais saudações, e de garantir ao povo bielo-russo os meus votos mais calorosos pelo seu harmonioso desenvolvimento humano e espiritual.

2. Na sua intervenção, Vossa Excelência realçou que a etapa hoje ultrapassada constitui um passo incisivo no desenvolvimento das relações entre a Santa Sé e o seu país, e o sinal de que as Autoridades e toda a população bielo-russa desejam afirmar por sua vez a união social do país e o seu papel no conjunto do continente europeu e no concerto das nações. É também uma expressão evidente da vontade dos povos que, na vida internacional, desejam abrir-se aos outros mediante o diálogo e o acolhimento, no respeito das culturas e das tradições específicas.

3. Vossa Excelência menciona a coexistência de confissões religiosas diferentes no seio da Nação como uma característica e uma riqueza da Bielo-Rússia. Esta realidade é o resultado da história do seu país e ainda hoje faz parte da sua cultura. Ela enraiza-se no direito à liberdade religiosa, direito inalienável de cada ser humano que faz parte dos direitos mais fundamentais, pois está relacionado directamente com a liberdade de consciência. É importante que ele seja reconhecido pela sociedade civil e garantido pelo Estado. Uma tal orientação honra os países que lhe prestam atenção. Por seu lado, a Igreja católica dá grande relevo à salvaguarda desta liberdade que deve poder encontrar sempre o seu lugar no âmbito dos direitos e das práticas de um país. Alegro-me por saber que a Bielo-Rússia se preocupa particularmente por este aspecto da vida das pessoas e dos grupos humanos, e que os católicos nela gozam livremente deste direito, que lhes permite ocupar o lugar a que têm direito na vida do país e de contribuir também para a construção da sociedade, em colaboração com todos os seus compatriotas.

4. A Igreja católica tem uma missão fundamentalmente espiritual: fazer com que o Evangelho seja anunciado a todos os homens, a fim de que, impregnando profundamente a sua vida e cultura, levem uma vida pessoal e colectiva conforme aos valores evangélicos, com vista ao bem comum.

A Igreja não pretende substituir-se às Autoridades legítimas e não quer que os seus fiéis sejam excluídos da sociedade, como se fossem estrangeiros, mas ao contrário, ela deseja que, alimentados e renovados pela Palavra de vida, permaneçam sempre membros activos da vida da Nação. A reorganização das dioceses do seu País, querida pela Santa Sé e concretizada há alguns anos na solicitude pastoral dos seus fiéis, também está ao serviço desta inserção da Igreja na vida da Nação. Neste espírito, alegro-me com a abertura recente do segundo seminário, em Pinsk, para formar os sacerdotes pertencentes a esse povo e impregnados da sua cultura. É um sinal evidente da fecundidade espiritual da terra da Bielo-Rússia. Tenho também conhecimento de que a acção dos católicos, sobretudo no campo social e na assistência aos mais desfavorecidos, é apreciada pelas Autoridades como uma participação efectiva no desenvolvimento do país. A respeito disto, faço votos por que todas as instituições envolvidas continuem a garantir o trabalho da comunidade eclesial e das instituições católicas, que estão ao serviço de todos, a fim de permitir que a Igreja católica exerça, cada vez mais, a sua missão espiritual no seu País.

5. Senhor Embaixador, sinto-me feliz por poder, por seu intermédio, saudar os fiéis católicos da Bielo-Rússia. Dou graças a Deus pela sua corajosa fidelidade nos momentos difíceis e dolorosos do passado, convidando-os a usar a sua liberdade reencontrada para uma intensificação renovada das relações entre as comunidades eclesiais e para o serviço de todos. Estou ao corrente dos esforços dos pastores para enraizar cada vez mais profundamente a fé nas comunidades vivas, graças à liturgia celebrada na língua nacional e também a uma vontade de formação doutrinal e espiritual dos fiéis. Agradeço aos sacerdotes, aos religiosos e às religiosas, que consagram generosamente a sua vida aos irmãos, e garanto a todos os fiéis leigos a minha proximidade espiritual na oração. Convido-os a ser para todos verdadeiras testemunhas do amor de Cristo, para que todos os homens conheçam a riqueza da misericórdia de Deus.

6. Senhor Embaixador, no momento em que inicia a sua missão de representante junto da Santa Sé, apresento-lhe os meus melhores votos pela sua feliz realização. Garanto-lhe que encontrará sempre junto dos meus colaboradores um acolhimento atento e uma compreensão cordial para o ajudar na sua nobre função.

Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, sobre os seus colaboradores e sobre o todo povo bielo-russo, invoco a abundância das Bênçãos do Senhor.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DO NÍGER


JUNTO DA SANTA SÉ


Sexta-feira, 17 de Maio de 2002


Senhor Embaixador

1. É para mim um prazer receber Vossa Excelência na ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Níger junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu assim como as saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor M. Tandja Mamadou, Presidente da República do Níger. Ficar-lhe-ia grato se se dignar transmitir-lhe, assim como ao povo nigerino, os votos cordiais de bem-estar e de prosperidade que formulo por todos.

2. Sinto particular sensibilidade pela atenção dedicada por Vossa Excelência aos empreendimentos humanitários da Igreja no seu País. É desejável que os esforços realizados pelos diferentes componentes do povo nigerino contribuam para o desenvolvimento global, que não se pode limitar a um bem-estar material, mas que deve levar a um verdadeiro desenvolvimento das pessoas na sua dimensão humana e espiritual, bem como a um progresso na vida social. Compete em primeiro lugar aos responsáveis locais da vida política, social e económica empenharem-se com uma generosidade e honestidade cada vez maiores pois qualquer empenho público é um serviço ao seu povo na promoção de iniciativas que permitirão a todos os habitantes serem os protagonistas da edificação nacional e beneficiar equitativamente das vantagens do desenvolvimento. Muitos dos habitantes do País vivem em condições de pobreza extrema, causadas sobretudo pela penúria alimentar e pela escassez de cereais. Faço ardentes votos por que a comunidade internacional prossiga e intensifique o seu apoio a fim de ajudar as populações e diminuir a dívida do país, para dar uma nova esperança às gerações vindouras. Ninguém pode eximir-se de se solidarizar com aqueles que estão privados do necessário para sobreviver e que são, de facto, feridos na sua dignidade. Sabemos também que uma tal situação de miséria só pode, a longo prazo, dar origem a conflitos locais ou regionais.

3. A luta contra a pobreza sob todas as formas deve ser feita, como Vossa Excelência sabe, mediante a erradicação do flagelo do analfabetismo. A educação, que é um direito fundamental do homem e da mulher, só pode favorecer o crescimento humano e moral de uma nação e a sua edificação social, oferecendo às jovens gerações a possibilidade de se empenharem na transformação da sociedade e na prática daqueles valores universais tais como a solidariedade, o sentido do bem comum, o respeito da vida humana e o acolhimento do estrangeiro. Neste espírito, a implantação de estruturas de ensino cada vez mais adequadas é necessária para a formação intelectual, humana, espiritual, moral e cívica das pessoas. Mediante as suas obras educativas, a Igreja católica está sempre disposta a pôr as suas instituições e a sua experiência ao serviço deste projecto de promoção integral das pessoas e da construção social, de acordo com o espírito que a caracteriza e com os valores dos quais ela é portadora. Para realizar esta importante tarefa, ela precisa da confiança total das Autoridades civis.

4. Senhor Embaixador, Vossa Excelência, realça o crescente papel desempenhado pela Santa Sé na resolução e na gestão dos conflitos no mundo. A Igreja deseja contribuir para a consolidação da unidade e da fraternidade entre as pessoas e os povos, no respeito das riquezas humanas, espirituais e culturais próprias de cada um. Em colaboração com os outros componentes da nação, ela deseja empenhar-se a fazer tudo o que for possível para que os Nigerinos possam viver em paz, que é fruto da justiça, da igualdade e do respeito dos direitos do homem, entre os quais o direito à liberdade de religião que constitui um dos seus aspectos fundamentais inscritos na Constituição do seu país.

No contexto actual, no qual numerosos conflitos continuam a ensanguentar o Continente africano, as religiões têm o dever de participar no restabelecimento de uma paz justa e duradoura. Como foi realçado por ocasião do encontro de Assis no dia 24 do passado mês de Janeiro, elas estão chamadas a colaborar entre si, tendo a preocupação de eliminar as causas sociais e culturais que levam à violência, ao desprezo do próximo e à desagregação das solidariedades humanas. Ao unirem-se para afirmar a dignidade da pessoa e ao despertar as consciências para o sentido da fraternidade humana, as religiões criam pontes entre os homens e prestam também um precioso serviço ao desenvolvimento dos povos. Faço votos por que as relações de conhecimento e de amizade sincera que existem no Níger entre cristãos e muçulmanos mantenham um espírito de compreensão recíproca, a fim de dissipar o receio e favorecer o encontro sincero entre as pessoas.

5. É neste espírito de diálogo com todas as forças vivas do país, sem distinção, que a Igreja católica no Níger deseja colaborar fraterna e lealmente para a edificação de uma nação na qual todos possam beneficiar dos frutos do crescimento, dedicando uma atenção especial aos mais pobres. Alegro-me porque a comunidade católica, apesar de ser numericamente minoritária, é reconhecida e apreciada pelos responsáveis da vida civil e pelo povo nigerino. Permita-me, Senhor Embaixador, saudar muito calorosamente por seu intermédio os Bispos e os católicos presentes no seu País. Desejosa, a exemplo de Cristo, de se pôr ao serviço de todos nos diversos âmbitos, como a saúde, a educação, a acção social e caritativa, a Igreja católica deseja fervorosamente prestar, com meios que fortaleçam e promovam a solidariedade, um contributo específico e determinante para uma verdadeira cultura da paz (cf. Ecclesia in Africa ).

6. Senhor Embaixador, no momento em que começa oficialmente a sua missão junto da Sé Apostólica, apresento-lhe os meus votos cordiais para a nobre tarefa que o espera. Tenha a certeza de que encontrará aqui, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo do qual poderá ter necessidade.

Sobre Vossa Excelência, sobre os responsáveis da Nação e sobre todo o povo nigerino, invoco de coração a abundância das Bênçãos do Todo-Poderoso.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA SUÉCIA


JUNTO DA SANTA SÉ


Sexta-feira, 17 de Maio de 2002



Senhor Embaixador

É com grande prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e que recebo as Cartas Credenciais que o designam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Suécia junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as amáveis saudações que Vossa Excelência me transmitiu da parte de Sua Majestade o Rei Carlos XVI Gustavo, e pedir-lhe-ia que comunicasse a Sua Majestade os meus sinceros agradecimentos e os meus bons votos, que faço extensivos também ao governo e ao povo da Suécia, com a certeza das minhas orações pelo bem-estar da Nação.

As minhas recordações da hospitalidade sueca não diminuíram desde a minha visita, ocorrida em 1989, e é-me grato lembrar a visita que Suas Majestades o Rei, a Rainha Sílvia e a Princesa Vitória realizaram ao Vaticano em 1999, por ocasião da proclamação de Santa Brígida como co-Padroeira da Europa. Sem dúvida, estas visitas ajudaram a consolidar as relações cordiais entre a Suécia e a Santa Sé, as quais têm profundas raízes e que, no futuro, certamente hão-de dar novos frutos.

Aprecio as suas considerações sobre a edificação de "um mundo em que a cooperação, a solidariedade, o respeito pelo indivíduo e a compreensão recíproca constituam um fundamento para formar uma comunidade internacional justa, pacífica, segura e humana"; neste campo, existe uma finalidade que a Santa Sé compartilha com a Suécia. No termo do novo milénio pudemos testemunhar, por assim dizer, uma extraordinária aceleração, a nível mundial, daquela busca de liberdade que constitui uma das grandes dinâmicas da história humana, observando que havia grandes esperanças de que era possível um renovado período de paz e de estabilidade. Contudo, os acontecimentos a partir de então demonstraram que esta perspectiva não se realizará sem uma grande sabedoria e um esforço perseverante. Por conseguinte, é ainda mais urgente que a comunidade internacional se esforce por construir a paz e a estabilidade, tendo como fundamento a justiça e a solidariedade autênticas, e não os interesses particulares ou as animosidades prolongadas. Por outro lado, os modelos de violência, derivados dos profundos desequilíbrios mundiais, continuarão de maneira indefinida; e a dinâmica da esperança humana revolta-se contra esta perspectiva.

Vossa Excelência quis justamente falar dos valores elementares, como a igualdade, a liberdade e a tolerância. Estes valores são considerados como fundamentais e são valorizados por todos, e de maneira especial no seu País; e isto é um motivo de grande satisfação. Contudo, é normal que nos interroguemos acerca do fundamento destes valores, e assim entendemos que eles derivam de uma compreensão da universalidade da dignidade humana. Contudo, compreendemos também que no nosso mundo esta universalidade é com frequência ignorada e até mesmo rejeitada. Nisto consiste a contradição que a Igreja católica procura indicar e ajudar as pessoas e superar. Porque o perigo se apresenta quando estes valores são afirmados e, todavia, os seus fundamentos são negados, porque os próprios valores são desvirtuados e correm o risco de se transformarem no seu oposto.

Por exemplo, quando a liberdade é afastada da verdade universal da pessoa humana, mais cedo ou mais tarde torna-se um novo tipo de escravidão, em que a lei do mais forte certamente há-de prevalecer.

Acreditamos que todos os seres humanos são iguais em termos de dignidade. Isto significa que os mais frágeis - independentemente da forma que a sua debilidade possa assumir - não são menos dotados de direitos inalienáveis do que os mais fortes. Com efeito, eles podem encontrar maiores dificuldades no momento de defender os seus direitos ou de apresentar as suas reivindicações, mas isto não altera a verdade básica segundo a qual eles possuem a mesma dignidade. Com efeito, em conformidade com a perspectiva da Igreja católica, em última análise, qualquer sociedade deve ser julgada segundo o nível de protecção que oferece aos seus membros mais fracos. Trata-se de uma compreensão tirada da própria Bíblia, que insiste sobre o facto de que todos os seres humanos são criados à imagem de Deus (cf. Gn Gn 1,26), uma compreensão profundamente impregnada na cultura sueca.

O 700° aniversário de Santa Brígida oferece uma maravilhosa ocasião para centrar a atenção de maneira ainda mais clara na herança cristã da Suécia, e para confirmar o facto de que os valores fulcrais desta herança são também essenciais para a renovada unidade que a Europa está procurando edificar. A busca de uma nova unidade europeia é complexa, mas oferece a esperança de ultrapassar os antagonismos do passado e de interromper definitivamente o círculo do recurso à violência; por conseguinte, ela deve ser encorajada. Contudo, se não se fundamenta sobre os valores fundamentais que Vossa Excelência quis mencionar, e se estes, por sua vez, não estiverem assentes num sentido de universalidade da dignidade humana, então provavelmente a busca da unidade europeia será desiludida. A comunidade católica na sua Nação é pequena, mas também continuará a oferecer a sua contribuição positiva para o futuro que Vossa Excelência não hesitou em descrever como "justo, pacífico, seguro e humano".

Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência entra na comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, asseguro-lhe que os Departamentos da Cúria Romana estarão prontos a oferecer qualquer assistência de que possa ter necessidade, no cumprimento dos seus importantes deveres. Oxalá a sua missão sirva para revigorar ulteriormente os vínculos de compreensão e de cooperação entre a sua Nação e a Santa Sé. Sobre Vossa Excelência e sobre o querido povo da Suécia, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA TAILÂNDIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARETAS CREDENCIAIS


17 de Maio de 2002


Senhor Embaixador

É com imenso prazer que aceito as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Tailândia junto da Santa Sé. Estou particularmente grato ao Senhor Embaixador pelos bons votos que me transmitiu da parte de Sua Majestade o Rei Bhumibol Adulyadej, bem como da parte do governo e do povo do seu País.

É de bom grado que retribuo os votos recebidos e que lhe confirmo as minhas mais sinceras orações pelo bem-estar e a prosperidade da sua Nação. A sua presença aqui recorda a longa tradição de amizade, de boa vontade e de cooperação entre a Tailândia e a Santa Sé, que se tornaram possíveis mediante o espírito amigo da liberdade, típica do seu povo e dos seus governantes, desde que a presença cristã se estabeleceu ali, no decurso do século XVII. Senhor Embaixador, é com o reconhecimento desta grande tradição que hoje lhe dou as boas-vindas ao Vaticano.

A Tailândia e a Santa Sé compartilham muitos pontos de vista e têm numerosas finalidades em conjunto, no contexto internacional, entre as quais estão o amor pela paz, o desejo de trabalhar pela compreensão e a colaboração entre as nações do mundo inteiro, de tal maneira que todos os povos possam procurar com liberdade e segurança o seu completo desenvolvimento humano e espiritual. A diplomacia tem um papel fundamental a desempenhar na consecução destas finalidades. Ajudando a derrubar as barreiras da desconfiança e da suspeita, aumentando o conhecimento recíproco e promovendo o princípio do respeito pela dignidade de cada pessoa em particular, independentemente da sua origem étnica, social ou religiosa, a diplomacia serve a causa da fraternidade e da paz. Contudo, esta causa não é fácil de servir, dado que está sempre exposta ao perigo, como o têm testemunhado, até mesmo recentemente, as tensões e os conflitos em diversas partes do mundo. Jamais devemos renunciar aos esforços em ordem a lançar as sementes da justiça e da solidariedade, que constituem a base fundamental para os relacionamentos construtivos entre os países e nos confins de cada nação em particular.

Senhor Embaixador, como represetante diplomático do seu País junto da Santa Sé, o Senhor Embaixador está consciente de que a sua missão não é definida pelos interesses comerciais, militares ou políticos. Pelo contrário, a solicitude da Santa Sé está centrada sobre os valores que dão significado aos esforços que os povos levam a cabo em ordem a edificar um mundo em que o nosso destino humano e espiritual se possa realizar. No serviço a esta causa, cada povo e cada nação têm o dever e, ao mesmo tempo, a oportunidade de contribuir com o seu especial talento e a sua particular herança cultural. A Tailândia tem uma grande riqueza de tradições culturais e espirituais a oferecer.

A este propósito, a antiga tradição siamesa, feita de amor à liberdade religiosa, que insere o respeito pela dignidade da pessoa humana na sua dimensão mais sagrada, é um valor a ser estimado e defendido. Este respeito deve sobreviver e aumentar, a fim de que a Tailândia possa continuar a representar uma voz convincente, que se levanta em favor da harmonia e da paz no seio da comunidade internacional. Uma vez que a liberdade de consciência, de crença e de prática religiosas diz respeito à parte mais íntima da personalidade do ser humano, ela representa a pedra angular de todos os outros direitos e liberdades.

Vossa Excelência fez alusão à prolongada presença da comunidade católica na Tailândia, e observou as inúmeras contribuições oferecidas pelos seus membros nos vários campos do serviço ao povo em geral. Neste sentido, a Igreja é fiel à sua visão bíblica do homem, criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn Gn 1,28) e, por conseguinte, dotado de uma dignidade inalienável, cuja promoção deve ser o objectivo dos esforços realizados pela sociedade. A Igreja deseja trabalhar em conjunto com todas as pessoas de boa vontade, de maneira especial com as autoridades públicas, quando se trata de promover os valores que constituem e realçam esta dignidade particular.

Senhor Embaixador, desejo a Vossa Excelência toda a felicidade e bom êxito, no momento em que assume as responsabilidades como Representante do seu País junto da Santa Sé, e asseguro-lhe a cooperação dos diversos Departamentos da Cúria Romana. Depois, invoco cordialmente as abundantes Bênçãos divinas sobre Vossa Excelência e sobre todos os seus compatriotas.




Discursos João Paulo II 2002 - Domingo, 12 de Maio de 2002