Discursos João Paulo II 2002 - Plovdiv, 26 de Maio de 2002

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS SUPERIORES E ÀS SUPERIORAS


DOS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA


E DAS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA


31 de Maio de 2002

Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Sinto-me feliz por me encontrar convosco, por ocasião da reunião organizada pela Congregação para a Evangelização dos Povos com os Superiores e as Superioras dos Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, empenhados no serviço da missão ad gentes.

Saúdo o Senhor Cardeal Crescenzio Sepe e agradeço-lhe as cordiais palavras que me dirigiu, fazendo-se intérprete dos sentimentos dos presentes. Saúdo cada um de vós, queridos Irmãos e Irmãs, que representais os numerosos Institutos e Sociedades que se dedicam ao trabalho missionário. Agradeço-vos a todos o serviço eclesial, que desempenhais segundo o vosso próprio carisma, e a cooperação que ofereceis todos os dias para a difusão do Evangelho em todas as partes do mundo.

Na Encíclica Redemptoris missio eu escrevi que, depois de dois mil anos, "a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, ainda está bem longe do seu pleno cumprimento" (n. 1). O Concílio Vaticano II recordou que toda a Igreja é missionária, e portanto cada baptizado deve sentir-se chamado a dar o seu contributo para o anúncio do Evangelho.

2. Além disso, considerando bem, missão e vida consagrada são realidades estreitamente interdependentes. De facto, se a dimensão missionária faz parte da própria natureza da Igreja, ela não pode ser facultativa para os religiosos e as religiosas que, "desde o momento em que se dedicam ao serviço da Igreja, por força da sua consagração, ficam obrigados a prestar o seu serviço especialmente na acção missionária, dentro do estilo próprio do Instituto" (ibid., 69; CDC, cân. 783). Por conseguinte, podemos dizer que a missionariedade é congénita ao coração de qualquer forma de vida consagrada (cf. Vita consecrata, VC 25).

Ao longo dos séculos as pessoas consagradas estiveram sempre na vanguarda na acção missionária ad gentes. Muitos deles deixaram as casas, as famílias e os países de origem para irem com coragem "até aos extremos confins da terra" (cf. Act Ac 1,8) para levarem a todos os homens e mulheres a mensagem do Evangelho. Tiveram que enfrentar com frequência dificuldades e obstáculos e fazer renúncias e sacrifícios. Alguns, sem dúvida não foram poucos, selaram com o martírio o seu testemunho a Cristo.

Seguindo este caminho, também os vossos Institutos continuam a caminhar com uma única finalidade, a de fazer com que a luz do Evangelho ilumine todos os que ainda "caminham nas trevas e na sombra da morte" (Lc 1,79).

3. Aproveito de bom grado este encontro para vos agradecer o vosso generoso empenho a favor da missão. Ao mesmo tempo, gostaria de vos convidar a dedicar-vos ainda com mais determinação nesta causa, revivendo em vós o fervoroso sentimento de Paulo, que exclamou: "Ai de mim, se não evangelizar!" (1Co 9,16).

A missão é, sem dúvida, exigente e, face aos problemas, aos transtornos, às incompreensões, à diminuição das vocações missionárias ad vitam, por vezes poderia surgir a tentação do desencorajamento e do cansaço. Poderíeis deixar-vos contagiar pelo perigo da rotina quotidiana e por uma certa aridez espiritual. Resisti a estes riscos indo buscar à união profunda com Deus o vigor para superar qualquer obstáculo.

Ampare-vos a certeza de que Cristo está presente. Ele garante-nos: "Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28,20). O Senhor está sempre connosco, tanto nos momentos de intensidade espiritual e da "colheita dos frutos", como nos tempos da canseira e do sofrimento "da sementeira". Como recorda o Salmista, também o missionário "na partida vai chorando o que leva a semente; no regresso vem cantando o que transporta os feixes das espigas" (Ps 125,6).

4. Na prometedora época da nova evangelização, que estamos a viver, é necessário continuar a cultivar uma fecunda comunhão entre os Institutos missionários, os Bispos e as Igrejas particulares, cultivando um diálogo constante animado pela caridade, tanto a nível diocesano como nacional, com as Uniões de Superiores masculinas e femininas, no respeito dos vários carismas, tarefas e ministérios.

A este propósito, são muito úteis os acordos feitos entre os Bispos e os Moderadores dos Institutos que se dedicam à obra missionária (cf. CDC cân., 790 1, 2º), para que as relações estabelecidas, os esforços realizados e as estruturas criadas contribuam do melhor modo para a acção missionária da Igreja.

O espírito de comunhão, que nasce do sentir cum Ecclesia (cf. Vita consecrata, VC 46), realiza-se de maneira significativa na colaboração com a Sé Apostólica e com os organismos criados para a actividade missionária, sendo o primeiro a Congregação para a Evangelização dos Povos, ao qual compete "dirigir e coordenar em todo o mundo a própria obra da evangelização (Pastor Bonus, art. 85). Por conseguinte, alegro-me pelo encontro organizado nestes dias, dedicado à reflexão, ao intercâmbio e à busca de uma colaboração mais intensa e frutuosa. Convido-vos a repetir esta experiência e a manter sempre vivo o clima de comunhão, que se instaura nestas reuniões.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, acompanho-vos e estou convosco na oração, ao invocar sobre o vosso empenho a celeste protecção dos numerosos Mártires e Santos missionários, dos Fundadores e das Fundadoras dos vossos Institutos. Confio-vos nesta festa da visitação da Bem-aventurada Virgem Maria, à Estrela da evangelização, para que vos ampare no serviço missionário quotidiano e seja vosso modelo de dedicação total ao Evangelho. Com estes sentimentos, concedo-vos de coração uma especial Bênção apostólica que, de bom grado, faço extensiva a todos os membros das vossas respectivas Comunidades e a quantos encontrardes no vosso apostolado.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA VIII ASSEMBLEIA


DO MOVIMENTO ECLESIAL


DE COMPROMISSO CULTURAL


1. Sinto-me feliz por vos enviar a minha saudação, caríssimos Irmãos e Irmãs, vindos a Roma para a VIII Assembleia nacional do Movimento Eclesial de Compromisso Cultural. Dirijo um pensamente cordialmente grato aos Responsáveis da Associação, ao Assistente Eclesiástico e a cada um dos Delegados, desejando a todos um trabalho fecundo.

A vossa Assembleia realiza-se pouco depois da da Acção Católica Italiana, em cuja grande família se coloca o vosso Movimento, como "vanguarda missionária" para o mundo da cultura e das profissões. Desejais reflectir nestes dias sobre o projecto pastoral da Igreja na Itália para o próximo decénio "Comunicar o Evangelho num mundo em mudança" em sintonia com o caminho de toda a Comunidade eclesial, a cujo serviço gastais generosamente os dotes do vosso espírito e do vosso coração.

2. A vossa finalidade consiste em definir com coragem e franqueza qual deva ser, hoje, a missão do MEIC no âmbito da comunidade eclesial e na sociedade civil, conservando-vos fiéis à vossa tradição associativa, que conta ilustres mestres de espiritualidade e de humanidade, servidores fiéis do Evangelho e das instituições civis. Propondes-vos, além disso, aprofundar e renovar a consciência missionária, que sempre vos deve distinguir, tendo bem em conta a complexa situação de interculturalidade em que vos encontrais a trabalhar.

Não deixareis de traduzir a "fantasia da caridade" em formas originais que saibam tornar-se "serviço à cultura, à política, à economia, à família, para que em toda a parte sejam respeitados os princípios fundamentais de que depende o destino do ser humano e o futuro da civilização" (Carta apostólica Novo millennio ineunte, 51).

Esta renovada consciência missionária chama-vos, hoje mais do que nunca, a ser testemunhas credíveis do humanismo cristão. Na medida em que souberdes afirmar sem hesitação a presença transcendente de Deus na história, estareis em grau de aceitar e salvaguardar o mistério que envolve a pessoa e que vai mais além do que qualquer explicação científica e interpretação racional e podereis conjugar proveitosamente a sacralidade e a qualidade da vida do homem.

3. Sem nunca reduzir a fé a uma cultura, a Igreja esforça-se por dar consistência cultural à vida de fé e por fazer com que esta inspire toda a vida privada e pública, assim como a realidade nacional e internacional. A este respeito, sabeis com que interesse a Santa Sé acompanha os trabalhos da Convenção Europeia. Eu próprio pude exprimir o meu pesar pela omissão da referência aos valores cristãos e religiosos na redacção da Carta dos direitos fundamentais. Desejo vivamente que o MEIC se esforce para que não seja ignorada a componente religiosa que ao longo dos séculos impregnou a formação das instituições europeias. O patrimóno cristão das civilizações, que tanto contribuiu para a defesa dos valores da democracia, da liberdade e da solidariedade entre os povos da Europa, não deve ser desperdiçado nem esquecido.

O vosso Movimento nutre, além disso, uma acentuada sensibilidade para o empenho ecuménico da Igreja e dedica, também, semanas de aprofundamento teológico ao exame dos desafios que a actual sociedade multiétnica põe ao diálogo interreligioso. Continuai, caríssimos, neste precioso caminho de formação no sector ecuménico e no conhecimento das religiões. A fim de contribuir para a criação de um mundo mais justo e solidário, seja uma das vossas preocupações espalhar e realçar aquilo que poderemos chamar o "decálogo de Assis", por mim traçado por ocasião da Jornada de Oração pela Paz, em 24 de Janeiro passado. Trata-se de um caminho a percorrer em conjunto. Se é difícil conviver sem paz política e conómica, não há vida digna do homem sem paz religiosa e interior.

E aqui aparece como de fundamental interesse o contributo que podeis prestar sem temer obstáculos e dificuldades, mas olhando para a realidade presente e para as perspectivas futuras com a coragem da profecia e do optimismo da esperança evangélica.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Quero pedir-vos que sejais em todas as circunstâncias testemunhas generosas de Cristo, especialmente quando as exigências do seu Evangelho se distinguem ou se opôem às expectativas mais imediatas de uma época ou de uma cultura (cf. C.E.I., Comunicar o Evangelho num mundo em mudança, 35). Mais do que qualquer doutrina humana, é sempre, de facto, a palavra de Deus sobre o homem, palavra fielmente transmitida pela Igreja, que forma as consciências e torna mais incisiva a mensagem da salvação. É este o caminho que Deus vos chama a percorrer, caminho que vos conduz à santidade, vocação universal de todos os baptizados. Para que possais responder ao chamamento de Deus, alimentai-vos com a escuta constante da sua Palavra na oração. A Igreja tem necessidade do vosso serviço e, para o poder desempenhar de modo eficaz, é preciso ser santos. Acompanho-vos com o afecto e com a oração, a fim de que o Senhor confirme os vossos propósitos e os torne fecundos com os frutos do bem.

Enquanto renovo os meus votos para a presente Assembleia e para todas as vossas iniciativas, que confio à protecção maternal de Maria, Sede da Sabedoria, concedo do coração a Bênção Apostólica a cada um de vós, tornando-a extensiva a todos os membros do MEIC e às respectivas famílias.

Vaticano, 21 de Maio de 2002



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO 50° ANIVERSÁRIO


DO INSTITUTO MONÁSTICO DO PONTIFÍCIO ATENEU


DE SANTO ANSELMO





Ao Rev.mo Abade Primaz Notker WOLF, O.S.B.
Grão-Chanceler do Pontifício Ateneu de Santo Anselmo

1. Foi com imenso prazer que tomei conhecimento de que o Instituto monástico do Pontifício Ateneu de Santo Anselmo em Roma se prepara para comemorar o seu 50º aniversário de fundação. Por ocasião desta feliz circunstância, é-me grato transmitir-lhe, tanto à sua pessoa como ao Corpo docente, aos alunos e a todos aqueles que estão a participar nestas comemorações jubilares, a minha cordial saudação de bons votos.

Idealizado como estrutura estável ao serviço de um estudo metódico da vida e da cultura dos monges, o mencionado Instituto monástico foi erigido no conjunto da Faculdade de Teologia do Pontifício Ateneu, com o Decreto de 21 de Março de 1952, pela Sagrada Congregação para os Seminários, em resposta ao ardente desejo do então Abade Primaz Pe. Bernhard Kaelin, de dedicar a sua atenção às fontes literárias e às grandiosas figuras do monaquismo, mas também à reflexão teológica e às implicações institucionais da vida monástica em geral. Com efeito, sentia-se a urgente necessidade de estudar o monaquismo de forma sistemática. Na carta que anunciava a abertura deste Instituto, desejou-se indicar uma das suas tarefas específicas: "É necessário que alguns monges idóneos, capazes de ensinar aos outros, cultivem uma disciplina científica metódica.

Não seria exagerado oferecer a alguns jovens sacerdotes dotados, a possibilidade de se especializar durante dois anos em tais estudos" (Carta, 26 de Maio de 1952).

2. A nova Instituição foi confiada a estudiosos de fama internacional, a fim de que os jovens monges fossem adequadamente formados na espiritualidade, na história e na doutrina monástica. Entre eles, gostaria de recordar a figura de Cipriano Vagaggini, mestre de teologia sapiencial, Basílio Steindle e Adalberto de Vogüé, que puseram em evidência o fundamento patrístico da Regra de São Bento, Bento Calati e Gregório Penco, singulares intérpretes da história monástica.

Ao longo destas décadas, o Instituto monástico soube traduzir a sua finalidade geral em percursos didácticos concretos e em directrizes de acção eficazes. Como deixar de pensar, por exemplo, nos monges e nas monjas intoduzidos, com a ajuda de instrumentos de trabalho adequados, no conhecimento crítico e no estudo metódico das fontes e dos textos clássicos do monaquismo? A oportunidade de aproximar a história do monaquismo cristão oriental e ocidental tornou possível a descoberta de interacções existentes entre as respectivas escolas de teologia, de espiritualidade e de vida monástica.

À distância de cinquenta anos, damos graças a Deus por esta instituição tão providencial para os vários Mosteiros beneditinos; ela desempenhou um papel significativo no estabelecimento de uma fecunda relação entre a vida espiritual e o estudo, tornando-se um ponto de referência válido e um lugar de formação privilegiado para o mundo monástico contemporâneo.

3. O serviço que a Ordem beneditina prestou à Igreja, mediante o Instituto já cinquentenário, que contribuiu para a formação de um elevado número de monges, juntamente com as numerosas pessoas que se interessam pelo conhecimento crítico e pelo aprofundamento das fontes e dos textos clássicos do monaquismo, insere-se no sulco da mais vasta e fascinante investigação de Deus em que, fundando a "Schola Christi", São Bento desejava introduzir os seus discípulos. Encorajo as Autoridades religiosas e académicas a prosseguirem o trabalhar neste sentido, dando continuidade à prolongada e apreciada tradição cultural da Ordem.

Que esta feliz comemoração, graças inclusivamente às previstas celebrações jubilares, faça com que o Instituto monástico e o Ateneu de Santo Anselmo consigam identificar as perspectivas para as quais deverá tender, em ordem a promover um vasto relançamento espiritual de toda a Família beneditina. "Fazer-se ao largo!". Seja este o compromisso de todos, em sintonia com as expectativas da Igreja, projectada para o terceiro milénio.

4. Para que isto aconteça é indispensável, em primeiro lugar, que em cada um aumente a adesão pessoal a Cristo, única fonte verdadeira de renovada vitalidade evangélica. Com efeito, somente sob estas condições é possível enfrentar com coragem os desafios do tempo actual. Exige-se sobretudo que o monge, tanto no presente como no passado, cultive uma ininterrupta intimidade com o Mestre divino. Assim, o ora da contemplação poderá unir-se harmoniosamente ao labora da acção, num incessante aprofundamento do património monástico que, ao longo dos séculos, se tornou cada vez mais rico, graças também à contribuição de numerosos mosteiros.

Que a Virgem Maria e o padre São Bento protejam quantos se encontram comprometidos no Instituto e os ajudem a levar a bom termo cada um dos seus projectos. Enquanto vos asseguro a minha lembrança constante na oração, é de coração que lhe concedo, Rev.mo Abade Primaz, assim como a todos aqueles que compõem a Família espiritual do Instituto monástico e do Ateneu de Santo Anselmo, uma especial Bênção apostólica que, de bom grado, faço extensiva a quantos compartilham a alegria do seu 50º aniversário de fundação.

Vaticano, 27 de Maio de 2002.



: Junho de 2002

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA ROMÉNIA


JUNTO DA SANTA SÉ


Sábado, 1 de Junho de 2002


Senhor Embaixador

1. Desejo apresentar-lhe as minhas cordiais boas-vindas, enquanto de bom grado recebo as Cartas mediante as quais Sua Excelência o Senhor Ion Iliescu, Presidente da República da Roménia, o acredita como novo Representante Extraordinário e Plenipotenciário junto da Santa Sé. Exprimo gratidão ao Primeiro Magistrado da Nação, que Vossa Excelência representa, pelas palavras de apreço e de consideração que quis dirigir-me através da sua pessoa, palavras e sentimentos que retribuo com cordialidade.

O encontro deste dia faz-me recordar a ocasião extraordinária, longamente esperada, da visita à Terra romena, nos dias 7-9 de Maio de 1999, da qual conservo no meu coração um eco muito profundo. Nessa circunstância, pude abraçar também o caríssimo e venerado Cardeal Alexandru Todea, que o Senhor chamou recentemente para o prémio eterno. A amizade com que fui recebido nessa ocasião deixou entrever a fé profunda de um povo que, desde o início da sua história, se formou sobre o anúncio cristão, fazendo delo o motivo da sua identidade nacional.

Depois dos anos tristes e dolorosos do regime comunista, a Roménia empreendeu o caminho da democracia. Um testemunho concreto da maturidade desta viragem constitui a alternância pacífica dos partidos no governo. Formulo votos ardentes a fim de que este caminho possa continuar sem cessar, de tal forma que a Roménia seja capaz de fazer ouvir, de modo cada vez mais autorizado, a sua voz na Europa e no mundo inteiro.

2. É largamente difundida a opinião de que as reformas nos campos democrático, económico e social, cujo caminho o seu País já empreendeu há algum tempo, estão a um bom nível e, apesar de algumas dificuldades, começam a dar frutos para o bem de todos. Trata-se de esforços que, além de favorecer o desejado progresso no interior do País, são de bom auspício para a desejada integração da Roménia na União Europeia, assim como para a sua inserção noutras Organizações regionais e internacionais, que certamente a ajudarão a crescer na paz e na segurança.

Neste caminho de renovação, a Igreja católica está a oferecer, através das suas estruturas e no campo da sua competência, a sua própria contribuição convicta. São conhecidos, entre outras coisas, os esforços que a Comunidade católica leva a cabo nos sectores social, escolar e sanitário, além do delicado ministério espiritual da evangelização e do cuidado das almas. O Evangelho constitui a profunda inspiração do Povo romeno em muitas das suas manifestações históricas, que encontraram na fé cristã a sua nascente vigorosa.

À luz destas ascendências espirituais tão significativas, como deixar de encorajar os esforços e as exortações a comportamentos de honestidade clarividente por parte de todos os protagonistas da vida do País? O cumprimento dos deveres que lhe são próprios, segundo a regra e o espírito da legalidade, contribui para evitar que as reformas diminuam o seu ritmo, que o respeito pelos direitos de todos se debilite e, em última análise, que seja atraiçoada a confiança na estabilidade das instituições estatais. Além disso, quanto mais unida e solidária for a Nação romena, tanto mais saberá valorizar as suas diferentes componentes, trabalhando de maneira a não privilegiar qualquer grupo étnico em particular, mas fazendo com que todos os cidadãos se sintam como uma parte integrante da mesma.

3. Durante a minha visita à Roménia, pude constatar pessoalmente a boa vontade que anima os relacionamentos entre a Igreja ortodoxa, majoritária no País, e a Igreja católica. É com admiração que me recordo das palavras de Sua Beatitude, o Patriarca Teoctisto, um irmão que me é muito querido: nelas pude vislumbrar a profunda consciência do dever de trabalhar em conjunto para anunciar o único Evangelho de Cristo, Caminho, Verdade e Vida, no respeito recíproco e na colaboração efectiva.

Bem sei que as iniciativas de carácter ecuménico são numerosas e que em várias dioceses se instaurou um clima de verdadeira fraternidade, de amor recíproco e de apoio mútuo. Rezo a fim de que estas ocasiões se multipliquem, de tal forma que se possa obedecer cada vez mais a Cristo, pois foi Ele que pediu aos seus discípulos que todos sejam um só (cf. Jo Jn 17,11).

4. Sem dúvida, não faltam dificuldades, mas com a contribuição de todos elas podem ser ultrapassadas. Formulo votos ardentes a fim de que, por exemplo, se ponham em prática concretamente, no campo das estruturas eclesiais, os acordos até aqui estipulados entre os responsáveis da Igreja ortodoxa, da Igreja católica e da Santa Sé. "O fim da perseguição pude dizer, a este propósito, durante a minha visita a Bucareste restabeleceu a liberdade, mas o problema das estruturas eclesiais ainda espera uma solução definitiva. Que o diálogo seja o caminho para curar as feridas ainda abertas e resolver as dificuldades que ainda subsistem!" (Discurso no Palácio patriarcal, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 15 de Maio de 1999, pág. 6, n. 5). Além da prudência necessária, será preciso que a Comissão especial mista tenha em consideração também a urgência concreta, para a Igreja católica, de poder dispor dos seus edifícios sagrados.

Certamente, o respeito e a colaboração revigorar-se-iam, se as instâncias civis assumissem a tarefa não apenas de ajudar a encontrar as soluções oportunas, mas também de restituir, segundo um critério de justiça, o património eclesiástico então confiscado, de maneira a consentir à Igreja católica dispor destes bens para o cumprimento da sua missão. Jamais deve ser esquecido o facto de que quanto mais se procura curar as feridas do passado, que constituem potenciais ocasiões de contraste, tanto mais se ajudam os cristãos a dedicar todas as suas energias para o bem da sociedade inteira.

5. Senhor Embaixador, ao desempenhar a missão que lhe é própria, a Igreja esforça-se por levar o homem a cumprir plenamente a sua vocação. Ela deseja encontrar o homem nos vários momentos da sua vida: na família, na escola, no mundo do trabalho e da cultura, nos hospitais e em todos os outros âmbitos em que vive. Com efeito, ela está consciente de ter um anúncio de esperança a propor e dons santos a oferecer a cada pessoa.

Também por este motivo, faço votos para que o Estado permita à Igreja empreender um diálogo constante com as autoridades públicas, em ordem a fazer acordos de cooperação nos vários sectores da vida social. A Igreja não pede privilégios ou imunidade para si mesma. Pelo contrário, fiel à finalidade que lhe é própria, deseja servir cada pessoa em nome de Cristo, e a sua missão faz-se tanto mais urgente quando o homem sofre ou se encontra em situações de dificuldade. Nesta altura, penso nos numerosos problemas ligados à falta de trabalho, à marginalização, à ruptura do núcleo familiar, assim como aos obstáculos que continuam a impedir que os jovens olhem com serenidade para o seu futuro.

6. Senhor Embaixador, no momento em que se prepara para assumir o importante cargo que lhe foi confiado pelo Presidente da República, é-me grato confirmar-lhe que, junto dos meus colaboradores, Vossa Excelência poderá encontrar sempre pessoas prontas a oferecer-lhe toda a assistência de que poderá ter necessidade para o cumprimento dos seus deveres. Formulo-lhe votos cordiais a fim de que contribua, com a sua missão, para revigorar os sólidos laços já existentes entre o seu País e a Santa Sé e invoco sobre a sua pessoa, assim como sobre o dilecto Povo romeno, as abundantes bênçãos divinas.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II AO ARCEBISPO DE URBINO-URBANIA-SANT'ANGELO IN VADO,


POR OCASIÃO DA REABERTURA


AO CULTO DA BASÍLICA-CATEDRAL


1 de Junho de 2002

Ao Venerado Irmão FRANCESCO MARINELLI
Arcebispo de Urbino-Urbania-Sant'Angelo in Vado



1. Foi com alegria que tomei conhecimento de que na próxima solenidade do santo Padroeiro, o mártir Crescentino, será aberta de novo ao culto a Basílica-Catedral desta Arquidiocese, depois de ter estado fechada dolorosa e forçadamente devido ao terramoto que, há cinco anos, atingiu a cidade de Urbino e uma grande área das Marcas.

Em primeiro lugar, desejo congratular-me com Vossa Excelência, venerado Irmão, e com todos os que contribuíram para restituir ao sagrado edifício a sua beleza arquitectónica e o seu esplendor originário: desta forma ele, através das admiráveis obras de arte que contém e das numerosas expressões de espiritualidade e cultura cristã que o enriquecem, poderá continuar a ser testemunha singular de uma história gloriosa. Além disso, o templo, sendo Catedral diocesana, reveste para a Comunidade um significado particularmente profundo, como realçava o meu Predecessor de venerada memória, o servo de Deus Paulo VI: "A catedral, na majestade das suas estruturas arquitectónicas, representa o templo espiritual que interiormente se edifica em cada alma, no esplendor da graça, segundo a expressão do Apóstolo: "Vós sois o templo do Deus vivo" (2Co 6,16)" (Const ap. Mirificus eventus: Enchiridion Vaticanum, Supplementum, 1, n. 72).

Encontra-se na Catedral a cátedra do Bispo, sinal de magistério e de poder eclesial, e símbolo da unidade de quantos partilham aquela fé que o Bispo, como Pastor da grei dos crentes, guarda, proclama e partilha com a Igreja universal. Por isso, a Catedral deve ser considerada como o centro da vida da Arquidiocese. Nela o Bispo celebra a liturgia, benze o sagrado crisma e faz as ordenações. Amar e venerar a Catedral é amar a Igreja como comunidade de pessoas unidas pela mesma fé, pela mesma liturgia e caridade. Por isso, ninguém deve poupar esforço algum, a fim de agir sempre em espírito de unidade com o Bispo, "princípio visível e fundamento da unidade da Igreja particular" (Const. dogm. Lumen gentium, LG 23).

A Igreja-Catedral de Urbino não possui apenas uma história gloriosa para narrar, mas é também expressão de uma grande história a ser edificada. O que propus a toda a Catolicidade como herança do Jubileu, é válido também para esta amada Comunidade. Portanto, digo-lhe: Igreja de Deus que vives em Urbino, Urbania e Sant'Angelo in Vado, "faz-te ao largo" (Lc 5,6). Olha com confiança o futuro, para o qual o Espírito te projecta para formar os teus fiéis como pedras vivas, templos do Espírito Santo (cf. 1P 2,5).

2. Nesta perspectiva de renovada vitalidade e de impulso apostólico, desejo exprimir o meu apreço e encorajamento por algumas iniciativas pastorais empreendidas recentemente. Refiro-me, antes de mais, à reabertura, em sintonia com este feliz acontecimento, do Seminário diocesano. A atenção e o cuidado por uma eficaz pastoral vocacional são o sinal inequívoco do vigor da Comunidade cristã e devem ser sempre acompanhados pela oração insistente ao Senhor, para que chame novos e dignos operários para a messe evangélica. Faço sentidos votos por que este novo início suscite numerosas e santas vocações para o sacerdócio ministerial e, mais em geral, contribua para renovar e tornar cada vez mais eficaz e proveitosa a pastoral vocacional.

Em segundo lugar, é digna duma menção particular a presença, nesta Cidade, da Universidade. Tendo surgido por obra da solicitude da Igreja pelo aprofundamento dos estudos de carácter teológico e jurídico, a Universidade de Urbino vive e trabalha desde a sua origem em estreita simbiose com a comunidade local, criando profissionalidade e tornando-se instrumento de transmissão de formas actualizadas do saber.

A este propósito, exprimo profundo prazer pela válida e constante atenção pastoral dedicada às pessoas que trabalham no âmbito das Instituições académicas, sobretudo em benefício dos estudantes que provêm de várias partes da Itália e que se tornam portadores de valores, exigências e expectativas de grande importância. Se é verdade que, na sua longa história, a Universidade nunca ignorou a Comunidade cristã, o aumento contínuo do número dos estudantes e dos professores e o papel que ela assumiu como factor de inovação e de criação de modelos culturais exigem hoje um pouco mais de atenção e de sensibilidade pastoral.

3. Entre as numerosas iniciativas empreendidas no passado, o Instituto Superior de Ciências Religiosas, que surgiu do empenho comum das Instituições eclesiásticas locais e das Autoridades académicas, ocupa um lugar de relevo. Há 24 anos ele desempenha a tarefa de preparar professores de religião nas escolas e de introduzir os jovens no estudo e na investigação nas ciências religiosas. Precisamente em virtude desta atenção à dimensão cultural, o Instituto tornou-se cada vez mais ponto de referência seguro para estudantes e pesquisadores que desejam aprofundar os temas religiosos e confrontar-se com o pensamento contemporâneo de inspiração cristã, para que a mensagem evangélica possa exprimir cada vez mais a própria natureza de fermento também no âmbito cultural.

Sei que esta Comunidade se está a empenhar de modo particular para formar um laicado católico qualificado, capaz de testemunhar e viver os valores da fé cristã não só na esfera privada, mas também em todos os âmbitos da vida e da actividade quotidiana. A este propósito, desejo encorajar o empenho do "Forum permanente dos leigos", constituído recentemente, e o percurso da Acção Católica Diocesana: trata-se de recursos preciosos como nunca em vista da nova evangelização.

4. Em sintonia com quanto acabou de ser mostrado, não posso deixar de realçar a importância do âmbito pastoral constituído pelo mundo juvenil. A este propósito, foi com prazer que tomei conhecimento do empenho assumido pela Arquidiocese de formar, a nível tanto paroquial como diocesano, educadores para grupos de adolescentes e jovens. Depois, é digna de um apreço particular a iniciativa de levar às paróquias da Diocese a "Cruz dos jovens", à volta da qual se encontram, reflectem e rezam juntos.

Ao pensar com afecto nos jovens desta Arquidiocese, dirijo um pensamento particular ao grupo de jovens que participará no próximo Dia Mundial da Juventude em Toronto: a todos exorto a serem, em qualquer ambiente, "sal da terra e luz do mundo" (cf. Mt 5,13-14).

Com estes sentimentos e votos, desejo unir-me espiritualmente a Vossa Excelência, venerado Irmão, e a toda a Comunidade diocesana confiada aos seus cuidados pastorais, para a significativa celebração do próximo dia 1 de Junho, dia de alegria e festa, de oração e de testemunho, de esperança e de empenho. Nesta perspectiva, ao invocar a celeste intercessão da Virgem Maria e do santo mártir Crescentino, concedo de coração a Vossa Excelência, ao clero, aos religiosos e às religiosas, às famílias, aos jovens, aos idosos e a todos os fiéis de Urbino-Urbania-Sant'Angelo in Vado uma especial Bênção apostólica.

Vaticano, 27 de Maio de 2002.




Discursos João Paulo II 2002 - Plovdiv, 26 de Maio de 2002