Discursos João Paulo II 2002 - 1 de Junho de 2002

MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


À CONFERÊNCIA EPICOPAL DA COLÔMBIA


NO CENTENÁRIO DA CONSAGRAÇÃO


DO PAÍS AO SAGRADO CORAÇÃO



A D. Alberto G. JARAMILLO
Arcebispo de Medellín Presidente da Conferência Episcopal da Colômbia

1. Completa-se agora um século desde que a 22 de Junho de 1902, os Bispos, as Autoridades civis e o povo da Colômbia, animados por profundos sentimentos de amor e devoção, consagraram a República ao Sagrado Coração de Jesus, prometendo construir um templo votivo no qual fosse implorada a paz para a Nação. Desde então, com estusiasmo e esperança constantes, foi-se renovando anualmente esta consagração, que também se faz nas paróquias, nas casas religiosas e em muitas famílias, acolhendo assim o amor e a misericórdia do Salvador, que amou e continua a amar os homens, e os acolhe com estas doces palavras: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e aliviar-vos-ei" (Mt 11,28).

2. O Evangelho mostra-nos as riquezas insondáveis do coração de Cristo nas suas atitudes de perdão e de misericórdia para com todos; no seu fervoroso amor ao Pai e a toda a humanidade. Ao mesmo tempo, Jesus indica-nos o caminho que leva a uma vida nova: "aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração" (Mt 11,29). Desse coração, símbolo particularmente expressivo do amor divino, trespassado pela espada de um soldado (cf. Jo Jn 19,33-34), surgem abundantes dons para a vida do mundo: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância" (Jn 10,10). São estes os dons que recordava Pio XII na sua Encíclica "Haurietis Acquas": a sua vida, o Espírito Santo, a Eucaristia e o sacerdócio, a Igreja, sua Mãe, a sua oração incessante por nós (cf. n. 36-44).

3. Agora que os fiéis católicos colombianos, presididos pelos seus Pastores e pelas Autoridades, se preparam para renovar essa Consagração centenária da Pátria ao Coração de Jesus, desejo repetir-lhes aquela frase que pronunciei no início da minha missão como Sucessor de Pedro: "Abri de par em par as portas a Cristo!" (Homilia, 22 de Outubro de 1978, n. 5). Escutai, queridos irmãos, a voz de Cristo que continua a falar aos homens de hoje. Como já tive ocasião de escrever noutra circunstância: "Junto do coração de Cristo, o coração do homem aprende a conhecer o sentido verdadeiro e único da sua vida e do seu destino, a compreender o valor de uma vida autenticamente cristã, a acautelar-se de determinadas perversões do coração humano, a unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo. Assim e é esta a verdadeira reparação pedida pelo Coração do Salvador sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e pela violência, poderá ser construída a civilização do amor tão desejado, o Reino do Coração de Cristo" (Carta ao Prepósito-Geral da Companhia de Jesus, 5 de Outubro de 1986, ed. port. de 12/10/1986, pág. 9).

4. A Consagração dos homens e mulheres da Colômbia ao Sagrado Coração de Jesus, que vos preparais para renovar seguindo essa louvável tradição consolidada ao longo de cem anos, será um momento particular de graça e de grande compromisso. De facto, deve ser uma súplica fervorosa ao Senhor para que renove toda a sociedade colombiana, para que ela trabalhe com um coração e um espírito novos (cf. Ez Ez 11,9). Desta forma será possível acolher a chamada à oração que eu fiz na Carta apostólica Novo millennio ineunte (cf. n. 32-33) realçando como cada cristão se deve distinguir precisamente na arte da oração e da contemplação do Rosto do Senhor (cf. ibid., 16-28), d'Aquele que foi trespassado (cf. Jo Jn 19,37); ao mesmo tempo, isto há-de favorecer um impulso para a conversão incessante, base indispensável para viver como homens novos (cf. Col Col 3,10).

Mas esta conversão pessoal deve ser acompanhada também por uma profunda transformação social, que começa a fortalecer a instituição familiar, a qual é a escola mais rica de humanismo. De facto, as famílias sólidas são os núcleos onde se fomentam e transmitem as virtudes humanas e cristãs, se alimenta a esperança e o autêntico compromisso entre os seus membros, e onde a vida humana é acolhida e respeitada em todas as fases da sua existência, desde a concepção até ao seu fim natural.

A sociedade que escuta e segue a mensagem de Cristo caminha para a paz autêntica, rejeita qualquer forma de violência e gera novas formas de convivência no caminho seguro e firme da justiça, da reconciliação e do perdão, fomentando vínculos de unidade, fraternidade e respeito de todos.

5. Faço sentidos votos para que esta comemoração, que infelizmente se celebra num momento em que a vossa querida Nação não goza de uma paz interior estável e a violência continua a semear vítimas em todas as camadas da sociedade, não poupando nem sequer os Pastores da Igreja, seja a ocasião para que todos sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos juntamente com os seus Bispos e agindo eficazmente em todos os recantos desse amado País, propaguem um grande movimento nacional de reconciliação e de perdão. Oxalá este seja também um momento para implorar de Deus o dom da paz e para se comprometer, cada qual no lugar que ocupa na sociedade, a lançar as bases para a reconstrução moral e material da vossa comunidade nacional. Sabeis que, nesta obra, Jesus Cristo, o Príncipe da Paz, vos dará a força necessária para o restabelecimento de uma sociedade justa, solidária, responsável e pacífica.

Ao unir-me espiritualmente a vós na Consagração ao Sagrado Coração de Jesus, imploro d'Ele abundantes dons sobre cada um dos colombianos, sobre as famílias, as comunidades eclesiais e sobre as várias instituições públicas e os seus representantes, e, ao confiar estes desejos à materna intercessão de Nossa Senhora de Chiquinquirá, Rainha da Colômbia, concedo-vos com afecto a Bênção apostólica.

Vaticano, 9 de Maio, Solenidade da Ascensão do Senhor, do ano de 2002.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS DE CÁPUA (ITÁLIA),


AOS REPRESENTANTES DA A.C.I.


E ÀS MISSIONÁRIAS DA OBRA DA REALEZA


8 de Junho de 2002

Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Sinto-me contente por dirigir a cada um de vós a minha cordial saudação de boas-vindas!

Obrigado por esta visita que quisestes fazer-me, para recordar a minha viagem pastoral realizada, há dez anos, à querida Arquidiocese de Cápua. Conservo ainda viva recordação dos lugares e das pessoas encontradas naquela memorável ocasião. Como esquecer o caloroso acolhimento da antiga e nobre cidade de Cápua?

Desejo manifestar-vos, mais uma vez, o meu reconhecimento e saudar com afecto o vosso Arcebispo, D. Bruno Schettino, agradecendo-lhe as cordiais palavras que quis dirigir-me em nome de todos. Com ele, saúdo o caríssimo D. Luigi Diligenza, Pastor emérito da Igreja de Cápua e principal artífice do importante acontecimento que hoje desejais comemorar. Saúdo os presbíteros, os religiosos, as religiosas e os leigos comprometidos no serviço do Evangelho. Dirijo, ainda, um deferente e respeitoso pensamento para as Autoridades, que quiseram participar nesta Audiência.

2. Como recordava há pouco o Senhor Arcebispo, a vossa Diocese teve o privilégio de receber o anúncio do Evangelho desde os tempos apostólicos e foi fecundada pelo sangue de numerosos mártires. Guiaram-na Pastores insignes pela fé, cultura e santidade de vida: é-me grato recordar aqui a figura e a obra de São Roberto Belarmino, que há quatrocentos anos, iniciou na vossa Diocese um serviço pastoral breve, mas denso de doutrina e de ardor apostólico. Como deixar de se comprometer em ser dignos de uma herança espiritual tão singular?

A Visita pastoral, que o vosso Arcebispo iniciará no próximo dia 17 de Setembro, precisamente a festa de São Roberto Belarmino, oferecerá à vossa Diocese esta singular oportunidade. Não deixeis de ir ao encontro de Cristo com novo ardor, para escutar a sua voz, que vos chama a uma fidelidade evangélica mais intensa. Ele pede-vos que o torneis presente onde o homem está só, marginalizado ou humilhado pela dor e pela violência e onde as pessoas, cansadas de palavras humanas, experimentam uma profunda nostalgia de Deus.

3. Faço votos para que a Visita pastoral suscite um vigoroso impulso missionário especialmente nas paróquias, onde a comunhão eclesial encontra a sua mais imediata e visível expressão. Cada comunidade paroquial seja lugar privilegiado de escuta e de anúncio do Evangelho; casa de oração recolhida à volta da Eucaristia; verdadeira escola da comunhão, onde o ardor da caridade prevaleça sobre a tentação de uma religiosidade superficial e ineficaz.

A tensão para a santidade dará renovado vigor e motivações cada vez mais fortes ao louvável esforço caritativo para com os imigrados e os pobres, que representa já uma feliz realidade da vossa Diocese. Aproximais-vos assim dos que não têm casa e sem trabalho, de quantos estão aflitos por causa de antigas e novas pobrezas, não só para prover às suas necessidades mais urgentes, mas para construir em conjunto com eles uma sociedade acolhedora, respeitadora das diversidades, desejosa de justiça e de solidariedade.

4. "Ide... e ensinai todas as nações" (Mt 28,19). Comentando estas palavras do Ressuscitado aos Onze, há dez anos convidava os jovens de Cápua a responder generosamente ao convite de Jesus e recordava-lhes que se pode comunicar o Evangelho sem ter de ir para longe. Pode permanecer-se na própria casa e no próprio ambiente, na escola, ao lado do mesmo lugar de trabalho, na mesma família e testemunhar a fé de modo eficaz.

Hoje, dez anos depois, desejo alargar este convite aos jovens: não percais o orgulho de serdes cristãos, de poderdes entrar em amizade com Cristo, de procurar o que Ele procurava, de vos comportardes como Ele se comportava. Jesus deve tornar-se o centro da vossa vida. É Ele que que vos há-de ajudar a ser "sal e fermento" da vossa terra.

5. Maria, cuja perpétua virgindade foi afirmada pelo Concílio plenário realizado precisamente em Cápua há mais de dezasseis séculos, vos torne dóceis à palavra do Senhor, vos transforme em operários humildes, credíveis e eficazes do Evangelho e vos confirme nos vossos bons propósitos.
A Ela e aos Santos que tornaram precioso o caminho de fé do vosso povo, vos confio a todos e em particular as crianças, os pobres e os doentes. Ajudados por estes poderosos intercessores, dirigi-vos, caríssimos, sem medo, para as altas metas da santidade que os Senhor vos propõe, porque vos ama!

6. Dirijo também uma cordial saudação aos participantes no Encontro sobre a figura de Armida Barelli, que aqui vieram juntamente com D. Francesco Lambiasi e com a doutora Paola Bignardi, respectivamente Assistente Geral e Presidente Nacional da Acção Católica.

À distância de meio século, sobressai com crescente actualidade a estatura daquela que era chamada "Sorella Magiore" [Irmã Maior] da Juventude Feminina da Acção Católica. Esta infatigável discípula de Cristo, Armida Barelli, exerceu uma intensa actividade apostólica, assinalada por intuições singulares das novas exigências dos tempos. Respondendo com genialidade feminina aos desejos e directrizes dos meus predecessores Bento XV, Pio XI e Pio XII sobre o laicado, ela reuniu mais de um milhão de jovens senhoras e moças no Movimento católico italiano. Ela deu, pois, um contributo qualificado para o nascimento da Universidade Católica do Sagrado Coração, bem como para a fundação das Missionárias da Obra da Realeza.

A fonte deste seu multiforme e fecundo apostolado era a oração e especialmente, uma ardente piedade eucarística, que encontrava os seus recursos mais concretos e eficazes na devoção ao Coração de Jesus e na adoração do Santíssimo Sacramento. Caríssimos, segui com fidelidade o caminho traçado por esta mulher forte e intrépida, imitando o seu desejo de santidade, o seu zelo missionário e o seu compromisso civil e social para levedar com o fermento do Evangelho os vastos campos da cultura, da política, da economia e dos tempos livres. Ampare-vos o Coração Imaculado de Maria, que hoje comemoramos.

Com estes votos, do coração vos concedo a todos uma especial Bênção apostólica.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO MUNDIAL


SOBRE A ALIMENTAÇÃO PROMOVIDO PELA FAO


Senhor Presidente da República italiana
Ilustres Chefes de Estado e de Governo
Senhor Secretário-Geral da ONU
Senhor Director-Geral da FAO
Senhoras e Senhores

É-me grato transmitir-vos a minha respeitadora e cordial saudação a cada um de vós, representantes de quase todos os países do mundo, reunidos em Roma pouco mais de cinco anos depois do Encontro Mundial sobre a Alimentação, realizado em 1996.

Não podendo estar presente no meio de vós nesta solene circunstância, pedi ao Secretário de Estado, Cardeal Angelo Sodano, que vos exprimisse todo o meu apreço e toda a minha consideração pelo difícil trabalho que deveis realizar, para assegurar a todos o pão de cada dia.
Gostaria de dirigir uma saudação especial ao Presidente da República e a todos os Chefes de Estado e de Governo, reunidos em Roma para este Encontro. Durante as minhas viagens pastorais aos vários países do mundo, assim como nos encontros realizados no Vaticano, já pude conhecer pessoalmente muitos deles: dirijo a cada um, os meus respeitosos votos de bem, tanto para as suas pessoas como para as Nações que eles representam.

Depois, faço extensiva esta saudação ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, bem como ao Director-Geral da FAO e aos Responsáveis dos outros Organismos internacionais presentes nesta reunião. A Santa Sé espera muito da sua acção em benefício do progresso material e espiritual da humanidade em geral.

Formulos bons votos a fim de que este Encontro Mundial sobre a Alimentação possa alcançar o bom êxito desejado: é o que esperam também milhões de homens e de mulheres no mundo inteiro.

Durante o Encontro precedente, realizado em 1996, já se tinha comprovado que a fome e a subnutrição não constituem fenómenos exclusivamente naturais ou estruturais de determinadas áreas geográficas, mas são sobretudo como que o resultado de uma condição de subdesenvolvimento mais complexa, causada pela inércia ou pelo egoísmo dos homens.

Se os objectivos do Encontro de 1996 não foram alcançados, isto pode ser atribuído também à falta de uma cultura da solidariedade e a relacionamentos internacionais às vezes caracterizados por um pragmatismo desprovido de um fundamento ético-moral. Além disso, são preocupantes algumas estatísticas segundo as quais, nestes últimos anos, os subsídios destinados aos países pobres parecem ter diminuído, em vez de aumentar.

Hoje é mais urgente do que nunca que, nas relações internacionais, a solidariedade se torne o critério inspirador de todas as formas de cooperação, tendo em conta o destino universal dos bens que Deus criador nos confiou.

Sem dúvida, espera-se muito dos especialistas, que deverão dizer quando e como aumentar os recursos na agricultura, como distribuir melhor os produtos, como predispor os vários programas de segurança alimentar, como pensar nas novas tecnologias, em ordem a aumentar as colheitas e alargar as criações de animais.

No preâmbulo da Constituição da FAO, já se proclamava o compromisso de cada país em ordem a melhorar o seu nível de alimentação, a aperfeiçoar as condições da actividade agrícola e das povoações rurais, de maneira a aumentar a produção e a realizar uma distribuição eficaz dos alimentos em todas as regiões do planeta.

Porém, estas finalidades comportam uma contínua reconsideração do relacionamento entre o direito de ser libertado da pobreza e o dever de toda a família humana ajudar concretamente todos os necessitados.

Quanto a mim, é-me grato saber que este Encontro Mundial sobre a Alimentação volta a exortar os vários membros da Comunidade internacional, os Governos e as Institutições intergovernamentais, a comprometerem-se para garantir de qualquer forma o direito à alimentação, quando o Estado não é capaz de resolver o problema, em virtude do seu próprio subdesenvolvimento e das suas condições de pobreza. Este compromisso é mais necessário e legítimo do que nunca, dado que a pobreza e a fome correm o risco de comprometer na raiz a ordenada convivência de Povos e de Nações, e constituem uma ameaça concreta contra a paz e a segurança internacional.

É nesta perspectiva que se insere o actual Encontro Mundial sobre a Alimentação, confirmando o conceito de segurança alimentar e prevendo um esforço de solidariedade capaz de diminuir para metade, até ao ano de 2015, o número das pessoas subalimentadas e desprovidas do que lhes é necessário para viver. É um desafio grandioso, em que Igreja também está comprometida na linha de vanguarda.

Por isso a Igreja católica, desde sempre solícita na promoção dos direitos humanos e no desenvolvimento integral dos povos, continuará a sustentar quantos trabalham para que o pão de cada dia seja assegurado a todos. Em virtude da sua íntima vocação, ela está perto dos pobres da terra e formula votos para o compromisso efectivo de todos para que se resolva depressa este problema, que é um dos mais graves da humanidade.

Deus Omnipotente, rico de misericórdia, faça descer a sua Bênção sobre as vossas pessoas, sobre os vossos trabalhos realizados sob o patrocínio da FAO, e sobre todos aqueles que se comprometem em favor do progresso autêntico da família humana.

Vaticano, 10 de Junho de 2002.



ASSINATURA DA DECLARAÇÃO DE VENEZA


SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


Segunda-feira, 10 de Junho de 2002

: Santidade

Sinto-me feliz por lhe enviar a minha saudação cordial, que de bom grado faço extensiva às personalidades religiosas e civis, aos congressistas, e a todos os que estão reunidos na Sala dos Escrutínios do Palácio Ducal de Veneza para o encontro conclusivo da IV Reunião ecológica promovida pelo Patriarcado Ecuménico e dedicada ao tema: O Mar Adriático: um Mar em perigo Unidade de Intenções.

Esta ligação, graças à qual podemos assinar conjuntamente a "Declaração" final da Reunião, dá voz àquela unidade de intenções que o próprio tema do acontecimento recordou.

O nosso encontro, mesmo se à distância, permite-nos exprimir juntos a comum vontade de salvaguardar a criação, de seguir e apoiar qualquer iniciativa que sirva para embelezar, sanear e preservar esta terra, que Deus nos deu para que a conservemos com sabedoria e amor.

O nosso encontro de hoje realiza-se poucos meses depois do de Assis, onde em Janeiro promovi um Dia de Oração pela Paz no Mundo. Vossa Santidade respondeu ao apelo e teve a amabilidade de participar nele. Hoje, sou eu que tenho a alegria de me unir a Vossa Santidade para este acto significativo. Considero que estes nossos intercâmbios sejam verdadeiros e próprios dons do Senhor, o Qual nos indica, desta forma, que o espírito de colaboração é capaz de encontrar expressões novas para tornar sólido e concreto aquele testemunho de comunhão que o mundo espera de nós.



DECLARAÇÃO CONJUNTA DE JOÃO PAULO II


E DO PATRIARCA ECUMÉNICO BARTOLOMEU I



Hoje encontramo-nos aqui reunidos, em espírito de paz para o bem de todos os seres humanos, e para a salvaguarda da criação. Neste momento da história, no início do terceiro milénio, ficamos amargurados ao tomarmos conhecimento do sofrimento quotidiano de um elevado número de pessoas, sofrimento este causado pela violência, a fome, a pobreza e a doença. Estamos preocupados também com as consequências negativas, para a humanidade e para toda a criação, da degradação de alguns recursos naturais como a água, o ar e o solo, provocada por um progresso económico e tecnológico que não reconhece e não tem em consideração os seus próprios limites.

Deus Omnipotente vislumbrou um mundo de beleza e de harmonia, e criou-o fazendo de cada uma das suas partes uma expressão da sua própria liberdade, da sua sabedoria e do seu amor (cf. Gn Gn 1,1-25).

No centro de toda a criação, Deus inseriu-nos a nós, seres humanos, com a nossa dignidade humana inalienável. Embora compartilhemos muitas características com o restante dos seres vivos, Deus Omnipotente fez mais por nós, dando-nos uma alma imortal, fonte de autoconsciência e de liberdade, dádivas que nos fazem ser à sua imagem e semelhança (cf. Gn Gn 1,26-31 Gn 2,7).

Caracterizados por esta semelhança, Deus pôs-nos no mundo a fim de que cooperássemos com Ele para a realização cada vez mais plena da finalidade divina da criação.

No início da história, o homem e a mulher pecaram, desobedecendo a Deus e rejeitando o seu desígnio para a criação. Uma das consequências deste primeiro pecado foi a destruição da harmonia original da criação. Se examinarmos atentamente a crise social e ambiental que a comunidade mundial está a enfrentar, devemos concluir que ainda estamos a atraiçoar o mandato que Deus nos deu: ser administradores, chamados a colaborar com Deus, velando sobre a criação com santidade e sabedoria.

Deus não abandonou o mundo. Ele quer que o seu desígnio e a nossa esperança em relação ao mundo se realizem através da uma cooperação destinada a restabelecer a sua harmonia originária. No nosso tempo, estamos a assistir ao desenvolvimento de uma consciência ecológica, que deve ser encorajada a fim de poder redundar em iniciativas e programas concretos. A consciência da relação entre Deus e a humanidade dá um sentido mais completo à importância do relacionamento entre os seres humanos e o meio ambiente natural, que é a criação de Deus, e que Ele nos confiou a fim de que cuidássemos dela com sabedoria e amor (cf. Gn Gn 1,28).

O respeito pela criação deriva do respeito pela vida e pela dignidade do homem. É com base no nosso reconhecimento de que o mundo foi criado por Deus, que podemos discernir uma ordem moral objectiva no âmbito da qual é necessário definir um código e uma ética ambiental. Nesta perspectiva, os cristãos e todos os outros crentes têm um papel específico a desempenhar, proclamando os valores morais e educando as pessoas a cultivarem uma consciência ecológica, que não é outra coisa senão a responsabilidade em relação a si mesmas, aos outros e à criação.

São necessários um acto de arrependimento da nossa parte e uma renovada tentativa de nos vermos a nós mesmos, os outros e o mundo que nos circunda, a partir de uma perspectiva do desígnio divino para a criação.

O problema não é meramente económico e tecnológico, mas moral e espiritual. Uma solução a níveis económico e tecnológico só é possível se experimentarmos, da maneira mais radical, uma íntima mudança do coração, que leve a uma transformação do estilo de vida e dos modelos insustentáveis de consumo e de produção. Só uma conversão autêntica a Cristo nos permitirá transformar o nosso modo de pensar e de agir.

Em primeiro lugar, devemos voltar a ter uma atitude de humildade e a reconhecer os limites dos nossos poderes e, sobretudo, os limites do nosso conhecimento e juízo. Temos tomado decisões, realizado obras e definido valores que estão a afastar-nos do mundo, que deveria ser segundo o desígnio de Deus para a criação, levando-nos para longe daquilo que é essencial para um planeta sadio e para um sã colectividade de pessoas. São necessárias uma nova abordagem e uma renovada cultura, fundamentadas na centralidade da pessoa humana no seio da criação, e inspiradas por um comportamento assente sobre uma ética que derive do nosso tríplice relacionamento com Deus, connosco mesmos e com a criação. Esta ética promove a interdependência e sublinha os princípios de solidariedade universal, de justiça social e de responsabilidade, em ordem a promover uma autêntica cultura da vida.

Em segundo lugar, devemos admitir francamente que a humanidade tem direito a algo de melhor, a um mundo livre da degradação, da violência e do derramamento de sangue, a um mundo de generosidade e de amor.

Em terceiro lugar, conscientes do valor da oração, devemos implorar a Deus que ilumine as pessoas de toda a parte, para que cumpram o dever de respeitar e de velar atentamente sobre a criação.

Por isso, convidamos todos os homens e todas as mulheres de boa vontade a avaliar a importância dos seguintes objectivos éticos:

1. Pensar nas crianças do mundo, quando elaborarmos e considerarmos as nossas opções concretas.

2. Estar dispostos a estudar os valores autênticos, fundamentados sobre o direito natural, que estão na base de toda a cultura humana.

3. Recorrer à ciência e à tecnologia de maneira íntegra e construtiva, reconhecendo que os resultados da ciência devem ser sempre avaliados à luz da centralidade da pessoa humana, do bem comum e da finalidade inerente à criação. A ciência pode ajudar-nos a corrigir os erros do passado, em ordem a melhorar o bem-estar espiritual e material das gerações do presente e do futuro. Será o amor pelos nossos filhos que nos mostrará o caminho a seguir no futuro.

4. Ser humildes no que diz respeito à ideia de propriedade, demonstrando disponibilidade em relação às exigências da solidariedade.

A nossa condição de homens mortais e, além disso, a nossa debilidade de juízo, chamam a atenção para o realização de acções irreversíveis no que se refere àquilo que decidimos considerar como nossa propriedade, durante a breve existência terrestre. Não nos foi concedido um poder ilimitado sobre a criação. Somos somente administradores do património comum.

5. Reconhecer a diversidade das situações e das responsabilidades na obra destinada a melhorar o meio ambiente mundial. Não podemos esperar que todas as pessoas e instituições suportar o mesmo fardo. Cada pessoa tem um papel a desempenhar; contudo, a fim de que se respeitem as exigências da justiça e da caridade, as sociedades mais abastadas devem suportar a carga mais pesada, e delas é exigido um sacrifício maior do que aquele que os pobres podem oferecer. As religiões, os governos e as instituições devem enfrentar muitas situações diversas mas, tendo como base o princípio de subsidiariedade, todos podem desempenhar algumas tarefas, determinadas funções, em ordem ao bem comum.

6. Promover uma abordagem pacífica das divergências de opinião sobre o modo de viver na terra, de a compartilhar e de usufruir da mesma, e sobre o que devemos mudar e o que podemos deixar como está. Não desejamos fugir a controvérsia sobre o meio ambiente, porque confiamos nas capacidades da razão humana e no caminho do diálogo para alcançar um entendimento. Comprometemo-nos no respeito pelas opiniões das pessoas que não estão de acordo connosco, procurando soluções mediante um intercâmbio aberto, sem recorrer à opressão, nem à prevaricação.

Não é demasiado tarde. O mundo criado por Deus possui incríveis poderes de purificação. No decurso de uma única geração podemos preparar o caminho da terra para o futuro dos nossos filhos. Que esta geração tenha início agora, com a ajuda e a bênção de Deus!



Roma-Veneza, 10 de Junho de 2002.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


ÀS RELIGIOSAS PARTICIPANTES


NO CAPÍTULO GERAL DO INSTITUTO


DAS FILHAS DE SÃO CAMILO


Sábado, 15 de junho de 2002

Caríssimas Irmãs

1. É-me grato dirigir as minhas cordiais boas-vindas a cada uma de vós, Religiosas do Instituto das Filhas de São Camilo, reunidas em Roma para o vosso Capítulo Geral. Graças a este encontro, com que quisestes dar testemunho de devoção e de afecto ao Vigário de Cristo, confirmando a vossa fidelidade ao seu Magistério de Pastor universal da Igreja. Saúdo a vossa nova Superiora-Geral, Ir. Laura Biondo, e agradeço-lhe as amáveis expressões que me dirigiu em nome das Irmãs presentes e de toda a vossa Congregação. Para a sua pessoa e para o Conselho Geral, invoco do Senhor as copiosas dádivas de luz e de graça, a fim de que desempenheis a nova tarefa segundo a vontade de Deus.

2. Ainda conservo viva a recordação das Beatificações dos vossos Fundadores Josefina Vannini e Luís Tezza, que tive a alegria de elevar às honras dos altares, respectivamente, em 1994 e em 2001. Foram singulares ocasiões de graça, que continuam a ser um convite constante a crescer no ardor espiritual e no zelo apostólico.

Enriquecidas e animadas por estes dons, quisestes orientar os trabalhos do Capítulo Geral para um aprofundamento da herança espiritual recebida dos novos Beatos, para continuar com consciência e entusiasmo ao longo do caminho da santidade. Trata-se de uma opção que vos permite confirmar o caminho empreendido e adaptar o vosso carisma às diferentes condições dos tempos, para vos tornardes testemunhas cada vez mais credíveis do amor misericordioso do Bom Samaritano.

Conheço o esforço generoso que realizais no serviço aos pobres e aos enfermos, assim como o impulso que a vossa Família religiosa, já presente em quatro continentes, imprimiu à actividade missionária na América do Sul, no Oriente e na Europa do Leste. Encorajo-vos a continuar ao longo deste caminho, animadas e sustentadas pelo exemplo do Beato Luís Tezza, autêntico peregrino rumo à missão.

3. Esforçai-vos por tornar Cristo misericordioso presente em todos os vossos contactos com o próximo, a começar pelos que se verificam no interior da vossa Congregação. Reine entre vós o espírito de caridade fraternal, de tal forma que cada uma das Religiosas se sinta compreendida e valorizada nas suas capacidades, e que nenhuma deva queixar-se de injustiças ou de prepotências.

Vós sois chamadas a ser um sinal concreto da ternura de Cristo, sobretudo quando o sofrimento oprime o ser humano no corpo e no espírito. Nesta tarefa, sois favorecidas pela vossa condição de mulheres consagradas que, olhando para a Virgem Imaculada, asseguram uma especial sensibilidade a respeito daquilo que é essencialmente humano, até mesmo em contextos de sofrimento e de marginalização (cf. Mulieris dignitatem, MD 30). Esta é uma contribuição específica que podeis oferecer à vossa obra da nova evangelização, que se refere a todo o Povo de Deus.

Seguindo o exemplo de São Camilo e dos Beatos Fundadores, não hesiteis em proclamar com as palavras, mas sobretudo com as obras, a alegria de sacrificar a vossa existência pelos irmãos necessitados. E no contexto desta missão singular, não tenhais medo de tender com ardor para os píncaros da caridade heróica.

"Como verdadeiras Filhas de São Camilo, deveis ocupar a linha de vanguarda no campo da caridade e, pela caridade, estar disponíveis para enfrentar sempre qualquer sacrifício". Assim escrevia o Beato Luís Tezza às suas primeiras discípulas, oferecendo desta forma a todas as suas Filhas um precioso critério para viver fielmente a vocação que lhes era própria.

4. Além disso, além de uma assistência rica de humanidade em relação ao doente, imagem viva de Cristo, no trabalho quotidiano pede-se-vos que transmitais a todos a mensagem salvífica do Evangelho.

Através das instituições sócio-sanitárias e das escolas por vós geridas, fazei-vos promotoras de autênticos centros de humanidade e de caridade, capazes de suscitar em quantos estão em contacto com os doentes, o desejo de transformar a cura em cuidado e a profissão em vocação.

Para alcançar este objectivo, é necessária uma síntese de inteligência e de coração, de técnica e de capacidade de acolhimento dos enfermos. Ao mesmo tempo, é preciso sustentar a "cultura da vida", pondo como base de todo o ensinamento a convicção de que a pessoa reveste um valor único, e que a vida humana é sagrada. Por isso, ela deve ser defendida e protegida sempre, desde a sua concepção até ao seu termo natural.

5. Caríssimas Religiosas, permanecei fiéis à vossa vocação maravilhosa e esforçai-vos em ordem a vivê-la com dedicação e alegria. Como vo-lo recorda o testemunho dos vossos Fundadores, ela constitui para vós o caminho rumo à perfeição da caridade e à plena conformidade a Cristo, que quisestes servir nos doentes e nas pessoas que sofrem.

Com estes sentimentos, enquanto vos recomendo à celeste intercessão da Mãe do Senhor, Consoladora dos aflitos, de São Camilo de Lélis e dos Beatos Luís Tezza e Josefina Vannini, é de coração que vos concedo, a todas e a cada uma de vós, a Bênção apostólica que, de bom grado, faço extensiva a todas as vossas Irmãs espalhadas pelo mundo inteiro.






Discursos João Paulo II 2002 - 1 de Junho de 2002