Discursos João Paulo II 2002 - Quinta-feira, 27 de Junho de 2002

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA FRANÇA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 27 de Junho de 2002


Senhor Embaixador

1. É com prazer que recebo Vossa Excelência, no momento em que começa a sua missão junto da Santa Sé, e agradeço-lhe sentidamente as gentis palavras que acaba de me dirigir. Por seu intermédio, saúdo cordialmente Sua Excelência o Senhor Jacques Chirac, Presidente da República, manifestando-lhe os meus fervorosos votos pelo seu novo mandato ao serviço do povo francês. Dirijo também a todos os seus compatriotas os meus bons votos.

2. Nesta solene circunstância, são numerosos os temas dos quais gostaria de falar, tendo em consideração a história plurissecular das relações entre a França e a Santa Sé e as novas perspectivas que se nos apresentam para o futuro. Hoje, contentar-me-ia em realçar que a França, que Vossa Excelência aqui representa, desempenhou um papel fundamental na criação e na realização da Comunidade europeia e na unificação progressiva do continente, simbolizada recentemente com a adopção de uma moeda única para doze países. A Santa Sé, e Vossa excelência o sabe, rejubila com a criação deste espaço europeu, ao qual numerosos países ainda desejam unir-se e que favoreceu o aparecimento de novas condições de vida. Esses países deveriam permitir um melhor desenvolvimento social e a valorização das riquezas particulares, contribuindo desta forma de modo significativo para promover a paz e o entendimento entre os povos em todo o continente.

Em virtude da sua história e da sua situação específica, a França está chamada a desempenhar um papel fundamental na edificação da identidade europeia e no seu alargamento, para que possam reinar no mundo os ideais de fraternidade, igualdade e liberdade aos quais os seus cidadãos dão grande importância. Faço votos para que as Autoridades francesas continuem a empenhar-se em favor da realização de estruturas que também permitam que a Europa seja uma protagonista da paz em todos os continentes. Não é, porventura, uma das características da herança humanista da Europa, que tem as suas raízes na sua longa história cristã, trabalhar para que cada povo e nação, possa viver na dignidade e no respeito dos direitos fundamentais individuais e colectivos? No momento em que foi começado o trabalho da Comissão encarregada de reflectir sobre a oportunidade de uma Constituição da União, aparece como fundamental que as finalidades da construção europeia e os valores sobre os quais ela se deve basear sejam cada vez mais explícitos. Como não mencionar o contributo decisivo dos valores dos quais o cristianismo é portador, que contribuiu e ainda contribui para moldar a cultura e o humanismo de que a Europa se orgulha legitimamente, e sem os quais não se pode compreender a sua identidade mais profunda?

Neste espírito, alegro-me profundamente pelas pesquisas empreendidas e pelas perspectivas propostas no âmbito escolar para que, através do conhecimento da religião, os jovens descubram as diferentes religiões e as comunidades humanas que as praticam, e desta forma se possam empenhar numa busca do sentido da sua existência, sob a orientação de educadores que têm o conhecimento do valor deste modo de proceder. Isto há-de favorecer o respeito recíproco e contribuir para uma maior paz social e para uma fraternidade mais profunda entre todos os componentes da Nação.

Senhor Embaixador, as missões por Vossa Excelência até agora desempenhadas, permitiram-lhe verificar como a religião é uma das dimensões fundamentais da cultura. Longe de constituir uma ameaça para a vida social, as forças religiosas são, de facto, um aspecto positivo para a vida em comum, pois participam, no lugar que lhes compete, para a edificação de uma sociedade na qual o homem é considerado em todas as suas dimensões. A comunidade nacional também pode beneficiar do contributo dos valores culturais, espirituais e morais que as tradições religiosas transmitem, os quais não deixarão de favorecer o estabelecimento de um clima de concórdia e de paz.

3. Nesta perspectiva, apraz-me realçar a importância do encontro de 12 de Fevereiro passado na sede do seu Governo. Fruto de um diálogo paciente entre o Estado, a Santa Sé e a Igreja católica na França, o encontro do Primeiro Ministro com o Núncio Apostólico, o Cardeal Arcebispo de Paris e os responsáveis da Conferência Episcopal testemunham que o caminho do diálogo e da negociação para a resolução de problemáticas concretas relativas à prática da liberdade de religião e de culto constituem um benefício tanto para o Estado como para a Igreja. A Santa Sé congratula-se pela realização de um equilíbrio permanente no âmbito das relações da Igreja com o Estado. Sem dúvida, ele favorecerá um melhor conhecimento recíproco e a busca de um ponto de equilíbrio entre a intervenção natural dos Bispos e a assistência e a garantia que a presença da Santa Sé oferece sempre, especialmente quando estão em jogo os princípios fundamentais. A constituição de grupos de trabalho que se dedicam ao estudo de aspectos da vida da Igreja católica no seu país é, a este propósito, promissora. Oxalá este espírito de diálogo e de equilíbrio prevaleça sempre, ao serviço de todos!

4. Aqui, em Roma, a tradição francesa matém de bom grado a sua presença. Mediante as suas numerosas propostas, o centro cultural de São Luís dos Franceses contribui de modo precioso para o aprofundamento das problemáticas que a sociedade vive. Aprecio o facto de que, através deste instrumento, a vossa Embaixada pode propor de modo significativo a reflexão indispensável que as evoluções rápidas das ciências e das técnicas suscitam. A admiração e as perguntas a que dão origem, exigem um aumento de sabedoria, convidando a reflectir sobre as consequências da realização de determinadas descobertas que podem levar a praticar acções que não respeitam a dignidade da pessoa humana. No prolongamento da tradição humanista magnificamente ilustrada pelo seu predecessor, Jacques Maritain, o centro cultural da Embaixada tem mais do que nunca a vocação para ser o lugar onde se encontram todos os que desejam que o progresso da humanidade esteja relacionado com uma compreensão cada vez mais profunda da grandeza e da dignidade da pessoa humana.

5. No final do nosso encontro, sinto-me feliz por poder, por seu intermédio, saudar os pastores e os fiéis da Igreja católica na França, provados pelo recente desaparecimento de dois eminentes Pastores, os cardeais Pierre Eyt e Louis-Marie Billé. Dou graças a Deus pela vitalidade e pela fidelidade de tantos baptizados que, no seu país, respondem à sua vocação cristã mediante os seus numerosos empenhos ao serviço da comunidade eclesial e da comunidade humana, com grande generosidade. Que todos, sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis tenham a certeza da proximidade espiritual e do meu profundo afecto!

No momento em que Vossa Excelência inicia a sua missão na Cidade eterna, apresento-lhe, Senhor Embaixador, os meus melhores votos, garantindo-lhe a plena disponibilidade dos meus colaboradores para lhe oferecer qualquer tipo de ajuda de que possa ter necessidade no cumprimento da sua função. Peço a Deus que ajude o povo francês a fim de que, na fidelidade à sua história e ao seu património espiritual e cultural, possa continuar a trabalhar pela paz e pela compreensão entre as pessoas e entre os povos e, de bom grado, lhe concedo a Bênção apostólica, assim como aos seus colaboradores e familiares.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA


EX-REPÚBLICA JUGOSLAVA DA MACEDÓNIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sexta-feira, 28 de Junho de 2002

Senhor Embaixador

No momento em que recebo as Cartas que o acreditam como primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da ex-República Jugoslava da Macedónia junto da Santa Sé, apresento-lhe as minhas mais cordiais boas-vindas. Enquanto lhe manifesto o meu agradecimento pelas amáveis expressões de bons votos que, por intermédio da sua distinta pessoa, o Presidente da República Sua Excelência o Senhor Boris Trajkovski me dirigiu, peço que tenha a amabilidade de lhe transmitir os meus cordiais bons votos, que acompanho com uma especial oração a Deus, a fim de que o querido povo do seu País possa continuar a trabalhar com sabedoria em benefício do desenvolvimento humano autêntico da sua Nação, assim como pela paz e a justiça nessa região.

Desta maneira, os seus compatriotas demonstrarão que são herdeiros fiéis da rica tradição cristã que lhes foi deixada pelo Apóstolo Paulo e pelos Santos Irmãos Cirilo e Metódio.

O solene acto de apresentação das suas Cartas Credenciais, que tem lugar no dia de hoje, realiza-se num contexto mundial pouco pacífico. Em diversas regiões do mundo estão a verificar-se alarmantes manifestações de violência que, com frequência, são motivadas por antigas inimizades e pela tentação de alimentar as animosidades do passado.

Infelizmente também o seu País, no passado, passou por provações dolorosas. As Autoridades da sua Nação, em estreita colaboração com os responsáveis da comunidade internacional, enfrentaram estas dificuldades com o devido cuidado. Depois, promoveram as necessárias reformas constitucionais. E foram promulgadas leis que estimulam o respeito dos direitos das minorias, mediante o encorajamento da participação das várias componentes da população nos vários níveis do processo político. Isto ajudará a progredir ao longo do caminho do diálogo, da reconciliação e da convivência pacífica.

Neste caminho, a Igreja não deixa de recordar que a atenção principal deve concentrar-se no coração do homem. Com efeito, é precisamente ali que podem instalar-se o ódio e o espírito de prepotência, sentimentos estes que se encontram na origem da perpetração de todos os actos de opressão.

Portanto, será do coração que se deverá partir, para desenraizar semelhantes sentimentos e para os substituir com uma atitude de fraternidade e de abertura em relação aos outros, vendo neles sobretudo aquilo que une, e não tanto aquilo que divide. Na realidade, uma sociedade que aspira a ser verdadeiramente civil e deseja contribuir para o progresso dos povos, deve cultivar em todos os seus membros uma compreensão objectiva e imparcial dos outros. Um entendimento análogo tem um valor inestimável, quando se trata de ajudar as pessoas a aceitarem tradições culturais e religiosas diferentes das que lhe são próprias. Trata-se, de facto, de um primeiro passo rumo à reconciliação, dado que o respeito das diversidades constitui uma condição indispensável para um relacionamento genuíno entre os indivíduos e entre os grupos. Uma cultura etnocêntrica, mesmo quando pretende resolver os problemas que se lhe apresentam, só consegue exacerbar as dificuldades e a difundir ulteriores divisões.

A Igreja está profundamente interessada pela dimensão social da vida do ser humano, e esta preocupação pelo bem-estar da sociedade constitui uma parte essencial da mensagem cristã (cf. Carta Encíclica Centesimus annus CA 5). É por este motivo que ela convida os seus membros a participarem activamente na vida política, económica e social nos seus respectivos países, para fazer com que neles se difundam a luz da fé e a mensagem evangélica da reconciliação e do perdão.

Pois bem, os requisitos da justiça exigem que, cada vez que se comete um erro ou que se realiza um acto de maldade, é necessário reconhecê-lo e, na medida do possível, repará-lo. Mas, a justiça humana encontra o seu fundamento último na lei de Deus e no seu plano de salvação para a humanidade (cf. Dives in misericordia DM 14). Por conseguinte, na sua acepção mais completa, a justiça não se limita a definir o que é justo entre as partes em conflito, mas pressupõe inclusivamente que se restabeleça a justa harmonia de cada indivíduo com Deus, com o próximo e consigo mesmo. Por este motivo, não existe qualquer contradição entre o perdão e a justiça; com efeito, o perdão não diminui as exigências da justiça, mas procura reintegrar as pessoas e os grupos no seio da sociedade, e os Estados na comunidade das Nações, através de um renovado sentido de responsabilidade e, onde for possível, mediante a solidariedade para com as vítimas das injustiças do passado.

Este é o motivo pelo qual todos os sectores da sociedade devem trabalhar em conjunto para construir uma convivência civil em que a dignidade da pessoa e o respeito dos direitos do homem constituam a norma de comportamento para todos: para os indivíduos, os governos e os organismos internacionais. Sim, a verdadeira paz é fruto da justiça, "virtude moral e garantia legal de benefícios e deveres" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002, n. 3). Este deve ser o contexto mais amplo para as várias prioridades que - na longa tradição de tolerância e de respeito pelos diversos grupos étnicos, a que Vossa Excelência fez referência - o Governo tem em vista, enquanto se esforça por introduzir uma nova era de paz e de estabilidade para a Nação.
Estou feliz por lhe poder assegurar que os católicos, apesar da sua situação de pequena minoria no interior do seu País, não deixarão de participar na edificação da sociedade civil, de maneira particular na promoção e na salvaguarda dos direitos humanos, no alívio das situações de pobreza e na educação da juventude.

Senhor Embaixador, a decisão tomada pelo seu Governo, de nomear um Embaixador junto da Santa Sé com residência em Roma, só pode revigorar os vínculos de amizade e de compreensão que já existem. Estou persuadido de que o período do seu serviço nesta função servirá para aprofundar este relacionamento; depois, desejo assegurar-lhe que os vários Departamentos da Santa Sé colaborarão de todas as formas para facilitar o cumprimento da sua missão. Com estes sentimentos, invoco sobre Vossa Excelência e sobre o querido Povo da ex-República Jugoslava da Macedónia, as abundantes bênçãos do Todo-Poderoso.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


À DELEGAÇÃO DO PATRIARCADO ECUMÉNICO


DE CONSTANTINOPLA, NA SOLENIDADE


DOS SANTOS PEDRO E PAULO


29 de Junho de 2002


Queridos Irmãos em Cristo

1. "Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus" (1Jn 4,7).

É com alegria que vos dou as boas-vindas a Roma neste dia de festa. Agradeço de todo o coração ao Patriarca Ecuménico, Sua Santidade Bartolomeu I, e ao Santo Sínodo, que vos enviou para esta celebração num espírito de fraternidade eclesial e de caridade recíproca.

2. O intercâmbio anual das visitas, a Roma para a solenidade dos Santos Pedro e Paulo, e ao Fanar para a festividade de Santo André, reaviva a caridade dos nossos corações e encoraja-nos a continuar o caminho rumo à plena comunhão. Já podemos viver uma forma de harmonia, na perspectiva da plena unidade à volta do único altar do Senhor. Durante este ano, o Senhor ofereceu-nos ocasiões para manifestar ao mundo a nossa vontade conjunta de procurar e de percorrer todos os caminhos que nos podem levar para a unidade, e de dirigir à humanidade um apelo à paz e à fraternidade, no respeito recíproco, na justiça e na caridade.

3. Hoje desejo renovar ao Patriarca Ecuménico, Sua Santidade Bartolomeu I, a expressão da minha profunda gratidão pela participação fraternal na Jornada de Oração pela Paz, em Assis. Juntamente com outros Irmãos, proclamámos ao mundo inteiro, de várias formas, a exortação de João: "Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus...". Se a humanidade se comprometer com determinação ao longo deste caminho, atenuar-se-ão gradualmente as violências e as ameaças que pesam sobre os homens.

4. No encerramento do IV Simpósio sobre o meio ambiente, dedicado ao mar Adriático, tive a alegria de assinar, juntamente com Sua Santidade Bartolomeu I, a Declaração de Veneza. Este texto exprime o nosso compromisso conjunto em prol da salvaguarda e do respeito pela natureza; ele manifesta, de igual modo, a nossa vontade de trabalhar a fim de que, no nosso mundo, a ciência se ponha ao serviço dos homens e que estes se sintam sempre responsáveis pela criação.

5. Ainda há muito a realizar, para fazer reinar uma fraternidade mais perfeita neste planeta. Com muita frequência, o desejo de vingança prevalece sobre a paz, de maneira especial na Terra Santa e noutras regiões do mundo, dilaceradas por uma violência cega; isto faz-nos sentir a precariedade da paz, a qual exige que unamos as nossas forças, permaneçamos unidos e trabalhemos em conjunto, a fim de que o mundo tire do nosso testemunho comum a força necessária para realizar as mudanças que se impõem. Este caminho da colaboração levar-nos-á também para a plena comunhão, segundo a vontade de Cristo para os seus discípulos.

6. Mas, se estamos firmemente convencidos da sua necessidade, o diálogo da caridade e a nossa fraternidade podem não ser suficientes. Ainda devemos perseverar para que o diálogo da caridade sustente e alimente de novo o nosso diálogo da verdade; refiro-me, aqui, ao diálogo teológico, cuja abertura anunciámos ao mundo, por ocasião da festa de Santo André, em 1979, com o saudoso Patriarca Demétrio, pondo grandes esperanças nesta iniciativa. Apesar dos nossos esforços, este diálogo teológico não avança. Observamos a nossa incapacidade de ultrapassar as nossas divisões e de encontrar em nós mesmos a força para olhar com esperança para o futuro.

Por conseguinte, esta fase delicada não deve desanimar-nos. E não podemos aceitar com indiferença este dado de facto. Além disso, não devemos renunciar a continuar o diálogo teológico, caminho indispensável em ordem à unidade.

Eminência, dilectos membros da Delegação, agradeço-vos a todos a vossa visita. Estar-vos-ia grato se transmitísseis as minhas saudações fraternais a Sua Santidade Bartolomeu I, aos membros do Santo Sínodo e a todos os fiéis do Patriarcado Ecuménico. A minha visita ao Fanar permanece para mim uma lembrança inesquecível, que recordo com imensa alegria. O Senhor esteja sempre com todos nós!



                                                                           Julho de 2002

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS ARCEBISPOS METROPOLITANOS


QUE RECEBERAM O PÁLIO


1 de Julho de 2002


Venerados Arcebispos
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Sinto-me muito feliz por vos receber e renovar a minha cordial saudação. Depois da celebração de sábado passado, solenidade dos santos Pedro e Paulo, durante a qual, segundo a tradição, vos entreguei a vós, Metropolitas nomeados no último ano, o sagrado Pálio, este encontro permite que nos encontremos de novo numa dimensão mais familiar.

É a Família da Igreja que posso admirar hoje dirijindo o olhar para vós, provenientes de Comunidades diocesanas dos cinco continentes.

2. Saúdo com afecto o Patriarca de Veneza e o Arcebispo de Catânia, juntamente com os numerosos Irmãos, amigos e fiéis que os quiseram acompanhar nesta particular peregrinação. Oxalá as vossas Dioceses se distingam sempre por um intenso e efectivo espírito de comunhão.
Dirijo uma saudação cordial aos peregrinos de língua francesa que acompanharam os Arcebispos que vieram receber o Pálio, sobretudo os fiéis das Dioceses de Gagnoa, na Costa do Marfim, de São Bonifácio, no Canadá e de Bordéus, na França. Que este sinal, oferecido aos vossos Bispos, vos ajude a viver cada vez mais em comunhão com toda a Igreja!

Dou calorosas boas-vindas aos Metropolitas de língua inglesa e aos peregrinos que os acompanham, vindos de Newark, Madang, Visakhapatnam, Cardiff, Adelaide, Kumasi, Nova Orleães, Glasgow, Calcutá e Kingston. A vossa presença é um sinal eloquente da universalidade da Igreja e um poderoso testemunho da comunhão com a qual a Igreja vive e cumpre a sua missão salvífica.

Queridos amigos, que a vossa peregrinação aos túmulos dos Santos Pedro e Paulo vos confirme na fé Católica, que nos foi transmitida pelos Apóstolos. A vós e às Igrejas locais que representais, garanto a certeza das minhas orações e do meu afecto no Senhor.

Saúdo com afecto os novos Arcebispos das Arquidioceses de Burgos e de Oviedo, na Espanha, de Asunción, no Paraguai, e de Calabozo e Cumaná, na Venezuela, bem como os seus familiares e amigos. Ao mesmo tempo que vos manifesto as minhas cordiais felicitações por este dia da recepção do Pálio, faço votos para que, revestidos deste ornamento, sinal de um particular vínculo de comunhão com a Sé de Pedro, possais ser testemunhas vivas da fé e portadores da esperança em Cristo ressuscitado nas Igrejas particulares que vos foram confiadas.

Saúdo, também, com afecto os novos Arcebispos brasileiros, com seus familiares e amigos, das Arquidioceses do Rio de Janeiro, Juiz de Fora, Florianópolis, Goiânia, Vitória da Conquista e de Feira de Santana. Com as minhas felicitações por esta data, faço votos de que, revestidos deste ornamento, sinal de um particular vínculo de comunhão com a Sé de Pedro, possais servir de estímulo à fé e à esperança em Cristo ressuscitado nas Igrejas Particulares que vos foram confiadas.

Sinto-me feliz por saudar D. Tadeusz Kondrusiewicz, Arcebispo da Arquidiocese da Mãe de Deus em Moscovo, e o grupo de familiares, amigos e fiéis que o acompanham. A Virgem Theotokos obtenha a cada um e, em particular, à comunidade católica russa, as graças desejadas.

Saúdo cordialmente os peregrinos provenientes de Poznan, que acompanham o seu Arcebispo Stanislaw Gadecki por ocasiao da entrega do Pálio, sinal da uniao com o Sucessor de Pedro.

Peço-vos que lhe permaneçais sempre fiéis e que o ampareis com a vossa oraçao. Deus vos abençoe!

3. "Plebs adunata de unitate Patris et Filii et Spiritus Sancti": isto é a Igreja, segundo a antiga definiçao de Sao Cipriano (De Orat. Dom. 23; PL 4, 553), tirada do Concilio Vaticano II (cf. Lumen gentium, LG 5).

Venerados Irmãos no Episcopado, sede sempre apaixonados servidores da unidade da Igreja! E vós, queridos Irmãos e Irmãs, sabei colaborar sempre com eles, para que cada comunidade eclesial viva e trabalhe com um só coração e uma só alma.

Ao invocar sobre os Pastores e sobre o seu ministério a constante protecção de Maria Santíssima, Mãe da Igreja, renovo a todos com afecto a minha Bênção.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DO PERU POR OCASIÃO DA VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


Terça-feira, 2 de Julho de 2002

: Queridos Irmãos no Episcopado

1. É-me grato dar-vos as boas-vindas neste encontro convosco, Pastores da Igreja de Cristo que está no Peru, a vós que realizais a vossa visita "ad Limina" à Sé de Pedro, o Apóstolo que recebeu o mandato de "confirmar os seus irmãos na fé" (cf. Lc Lc 22,32) e que em Roma coroou o seu testemunho de amor e de fidelidade ao Senhor, derramando o seu próprio sangue por Ele.

Agradeço as amáveis palavras que me foram dirigidas por D. Luís Armando Bambarén Gasteluzmendi, Bispo de Chimbote e Presidente da Conferência Episcopal do Peru, com as quais quis realçar os "laços de unidade, de amor e de paz" que vos unem ao Bispo de Roma (Lumen gentium, LG 22), assim como os principais anseios que animam a vossa missão apostólica nas diversas Igrejas particulares que vos foram confiadas. Impelido pela solicitude de Pastor da Igreja univeral, sinto-me próximo das vossas preocupações e animo-vos a continuar com generosidade e grandeza de espírito a vossa entrega, prosseguindo a apaixonante tarefa de renovação pastoral no início do novo milénio.

2. Um dos desafios cruciais do nosso tempo, como realcei na minha Carta Apostólica Novo millennio ineunte, é precisamente o espírito de união que deve reinar na Igreja e prevalecer sobre todos os aspectos e sectores da acção pastoral (cf. nn. 43-45). Com efeito, a comunhão como espiritualidade enraizada na Trindade, como princípio educativo e atitude cristã de que é preciso dar um testemunho aberto, além de ser uma exigência urgente da mensagem de Cristo (cf. Ecclesia in America ), constitui também uma resposta "às profundas esperanças do mundo" (Novo millennio ineunte, 43).

Mediante a vossa vasta experiência pastoral, vós conheceis bem o paradoxo de um momento histórico em que a capacidade quase incomensurável de inter-relacionamentos convive com um frequente sentimento de isolamento, que causa fragmentação e até mesmo conflitos em vários âmbitos da família humana. Diante disto, a Igreja deve recordar e reviver continuamente a incomparável experiência do Pentecostes, quando "todos reunidos, os discípulos louvavam a Deus em todas as línguas, tendo o Espírito conduzido para a unidade os povos distantes e oferecido ao Pai as primícias de todas as nações" (Santo Ireneu, Adv. Haer., 3, 17, 2). Assim vós, Irmãos no Episcopado, sois chamados a servir de exemplo de comunhão no afecto colegial, sem prejudicar a responsabilidade que cada um tem na Igreja local que lhe é própria e na qual, por sua vez, "é princípio e fundamento visível da unidade" (Lumen gentium, LG 23).

3. Se a escassez de meios, as incompreensões, a diversidade de pareceres ou de origens no meio do vosso povo e ainda outras dificuldades podem induzir ao desânimo, Jesus conforta-nos sempre, fazendo-nos ver que "até mesmo os ventos e o mar lhe obedecem" (Mt 8,27). Por isso, é preciso confiar nele, fazendo crescer em todos os crentes um verdadeiro desejo de santidade, a que todos nós somos chamados e para a qual convergem as mais profundas aspirações do ser humano.

O Peru, que foi abençoado por Deus com numerosos frutos de santidade, tem abundantes exemplos que podem iluminar e abrir grandes perspectivas às gerações contemporâneas. Não se devem esquecer figuras da índole de S. Toríbio de Mongrovejo, Santa Rosa de Lima, São Martinho de Porres, São Francisco Solano ou São João Macías, entre outros mais. Eles são modelos para os Pastores, que devem identificar-se com o estilo pessoal de Jesus Cristo, feito de simplicidade, pobreza, proximidade, renúncia das vantagens pessoais e confiança completa no poder do Espírito, para além dos instrumentos humanos (cf. Ecclesia in America, ). E eles são-no inclusivamente para os outros crentes, que nos Santos encontram a prova viva das maravilhas de Deus no coração bem disposto, qualquer que seja a condição social ou a situação de vida em que acolham a sua graça.

A vossa própria Nação deve sentir-se privilegiada por todos estes frutos de santidade, dado que eles realçam de modo particular as profundas raízes cristãs do seu povo, que contribuíram decididamente para formar a sua própria identidade e que, longe de serem ignoradas, hão-de ser salvaguardadas porque constituem um valor a que não se pode renunciar.

4. Neste contexto, é de particular importância despertar, sobretudo entre os jovens, a paixão pelos grandes ideais do Evangelho, de tal maneira que um crescente número deles se sinta atraído a consagrar a sua vida inteira à proclamação e ao testemunho de que, "onde se encontra o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (2Co 3,17). Desta forma, a evangelização das novas gerações deve ser acompanhada, de maneira quase espontânea, de uma pastoral vocacional, cada dia mais urgente, que abra novos horizontes de esperança nas Igrejas particulares.

É importante também uma esmerada atenção à formação oferecida nos seminários. Além de cultivar a maturidade humana dos candidatos, a fim de que se ponham totalmente à disposição de Deus e da Igreja, com plena consciência e responsabilidade, eles devem ser orientados sabiamente para uma profunda vida espiritual que os há-de tornar idóneos para assumir efectiva e afectivamente o futuro ministério, com todas as suas exigências. É preciso apresentar e enfrentar de forma clarividente e íntegra os requisitos do seguimento incondicional de Jesus no ministério ou na vida consagrada, pois quem O ama verdadeiramente, repetirá no seu coração, perante qualquer dificuldade, as mesmas palavras de Pedro: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna!" (Jn 6,68).

O vosso País tem necessidade de sacerdotes e evangelizadores, santos, doutos e fiéis à sua vocação, ao que não se pode renunciar porque o seu número é escasso ou em virtude de outras circunstâncias sociais e culturais. Esta é uma tarefa em que o Bispo deve mostrar uma particular proximidade de pai e de mestre em relação aos seus seminaristas, contando com a cooperação incondicional e transparente dos formadores. Há que realçar também o espírito de colaboração entre as várias Dioceses, em ordem a proporcionar melhores meios pessoais e materiais aos seus próprios candidatos ao sacerdócio, o que pode dar resultados muito bons e o que manifesta uma solidariedade concreta para com as Igrejas particulares mais carecidas de recursos.

5. Também manifestastes a vossa preocupação pelos problemas que atingem o matrimónio e a família, quer por causa de certos factores culturais, quer em virtude de um determinado ambiente, às vezes "militante" contra o significado autêntico de tais instituições (cf. Novo millennio ineunte, 47). Neste sentido, é importante que o projecto cristão de santidade penetre também o amor humano e a convivência familiar, dado que se deve respeitar integralmente o desígnio de Deus para todo o género humano e a sua excelsa dignidade de ser sinal do amor que une Cristo à sua Igreja (cf. Ef Ep 5,32).

A complexidade dos aspectos implicados neste campo exige inclusivamente uma acção pastoral multidisciplinar, em que a iniciativa catequética dos pastores se integre com a acção educativa dos outros fiéis leigos, a ajuda mútua entre as próprias famílias e a promoção daquelas condições que favorecem o crescimento do amor dos esposos e a estabilidade no núcleo familiar. Com efeito, é imprescindível que os jovens conheçam a verdadeira beleza do amor, "dado que o amor é de Deus" (1Jn 4,7), que amadureçam nele com uma atitude de abnegação e não de egoísmo, que iniciem a convivência com um espírito límpido e puro, incluindo nela também a riqueza da experiência de fé compartilhada, e que enfrentem o seu futuro como uma verdadeira vocação para a qual Deus chama, em ordem a colaborarem na inefável tarefa de ser dador da vida.

A pastoral familiar deve contemplar inclusive aqueles aspectos que podem condicionar o digno desenvolvimento dos deveres próprios desta instituição fundamental, promovendo uma melhor assistência económica aos novos lares que se vão formando, maiores possibilidades de obter habitações dignas que impeçam a deterioração familiar, e a facilidade efectiva de exercer o direito de educar os filhos segundo a própria fé e o sentido ético da vida. Por isso, os Pastores devem fazer ouvir a sua voz para realçar a importância da família como célula primeira e fundamental da sociedade, e a sua insubstituível contribuição para o bem comum de todos os cidadãos. Isto é particularmente urgente quando, por motivos mais ou menos oportunistas, se promovem projectos políticos antinconcepcionais, se sufocam as aspirações de fidelidade matrimonial ou se dificulta de outras formas o normal desenvolvimento da vida familiar.

6. Observo com satisfação o vigor e a criatividade com que a acção da Igreja que está no Peru se desenvolve em benefício dos mais desfavorecidos, ainda mais necessária nos momentos em que a difícil situação económica nessa região faz sentir com maior intensidade as múltiplas formas de pobreza, tanto antigas como novas. Quando são tão numerosos os filhos de Deus que vivem em condições sub-humanas, há que promover uma pastoral social concreta, tangível e organizada, que socorra com prontidão as necessidades mais peremptórias e lance os fundamentos de um desenvolvimento harmónico e duradouro, assente no espírito da solidariedade fraternal.

Neste sentido, exprimo o meu mais sincero agradecimento às numerosas instituições eclesiais que, com grandes dinamismo e abnegação, fazem chegar a luz do Evangelho e a assistência fraterna aos lugares mais recônditos das terras peruanas, tanto na selva amazónica como nas alturas andinas ou nas planícies costeiras. É bonito observar o modo como ne unem os esforços neste campo, dissipando as diferenças e ultrapassando as fronteiras. E é aqui que se distinguem os Institutos de vida consagrada, que podem ser considerados "como uma exegese viva da palavra de Jesus: "Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes" (Mt 25,40)" (Vita consecrata VC 82). Compete aos Pastores fazer de todas estas iniciativas um sinal evidente da solicitude da Igreja, pois nenhum dos seus membros, Pastores ou fiéis, deve permanecer indiferente perante a necessidade espiritual e material, quer se trate do sustento quotidiano ou da dignidade pessoal, quer da oportunidade efectiva de participar no bem comum do seu povo.

7. No final deste encontro fraternal, reitero-vos o meu encorajamento a continuar o trabalho de orientar e iluminar a vida das vossas Igrejas particulares, recomendando-a à doce protecção de Maria Santíssima, Estrela da Nova Evangelização. Peço-vos que transmitais a saudação e o afecto do Papa aos vossos sacerdotes, seminaristas, missionários, comunidades religiosas, catequistas, educadores e leigos comprometidos, assim como aos idosos e enfermos, que vos acompanham e vos ajudam na apaixonante tarefa de semear o Evangelho no coração dos peruanos, que é fonte de esperança e de paz.

Enquanto vos acompanho sempre com as minhas preces e o meu afecto, concedo-vos a todos do íntimo do coração a Bênção apostólica.




Discursos João Paulo II 2002 - Quinta-feira, 27 de Junho de 2002