Discursos João Paulo II 2002 - Terça-feira, 2 de Julho de 2002

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


ÀS IRMÃS OBLATAS DO MENINO JESUS


POR OCASIÃO DO 330° ANIVERSÁRIO


DE FUNDAÇÃO DESTE INSTITUTO RELIGIOSO


Terça-feira, 2 de Julho de 2002

Caríssimas Irmãs

1. Hoje o vosso Instituto celebra o 330º aniversário de fundação. Com efeito, foi no dia 2 de Julho de 1672 que, em Roma, Ana Moroni e doze moças se consagraram a Cristo, com o propósito de O seguir e de O servir nos "pequeninos", de maneira especial mediante a catequese e a educação da juventude. Nesta feliz circunstância, é-me grato dirigir-me a vós com esta singular mensagem. Saúdo cada uma de vós e transmito um pensamento especial para a Superiora-Geral, a quem agradeço os sentimentos que expressou em nome de todas vós.

Queridas Irmãs, desejastes muito encontrar-vos com o Sucessor de Pedro, a quem vos une, há mais de três séculos, o apreciado serviço que ofereceis na Sacristia pontifícia, serviço este que vos foi confiado pelo meu venerado predecessor, o Beato Inocêncio XI. Estou-vos grato pelo assíduo e diligente cuidado com que, desde então, o levais a cabo. A vossa espiritualidade, caracterizada pela contemplação do Menino Jesus em Belém, leva-vos a tratar as coisas santas, necessárias para a Liturgia, com o mesmo amor com que a Virgem Maria envolveu o seu Filho recém-nascido e o colocou na manjedoura (cf. Lc Lc 2,7). A adoração do Menino Jesus estimula-vos a tornar-vos cada vez mais mansas e humildes de coração, imitando a sua submissão e laboriosidade no seio da Sagrada Família.

2. "Viver a espiritualidade de Belém, alcançando a semelhança com o Verbo encarnado": este é o carisma da vossa Congregação, intimamente ligado ao mistério da Encarnação. Imagino que o Grande Jubileu do Ano 2000 foi, para vós, uma ocasião privilegiada para aprofundar ainda mais este "espírito de Belém". É o espírito da infância espiritual que, como põem em evidência as Constituições da vossa Congregação, vos ajuda "a conquistar, pela graça de Deus, as mesmas virtudes que as crianças têm por natureza, em relação a Deus e ao próximo: a inocência, a espontaneidade, a abertura, a sinceridade, a confiança, a rectidão e a simplicidade da sabedoria divina".

Felicito-vos pelo impulso espiritual que vos anima: ele constitui a melhor garantia para uma autêntica renovação da vida consagrada. O lema "Duc in altum!", que dirigi a todo o povo cristão na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, encontra a sua significativa interpretação no lema que vos foi deixado pela vossa Fundadora: "De Belém ao Calvário". Seguindo Cristo no seu itinerário salvífico integral, é possível "fazer-se ao largo" rumo aos vastíssimos horizontes da santidade, deixando que Deus realize prodígios de bondade e de amor em nós e através das nossas pessoas.

3. Na Roma de Seiscentos, Ana Moroni juntamente com as primeiras consagradas, não dispunha de muitos meios, mas era rica de Deus e é por este motivo que pôde, com o conselho do seu Director espiritual, Pe. Cosmos Berlinsani, realizar grandes coisas no meio dos pequenos e dos simples, unindo a fé e a vida, e atraindo muitas almas para Cristo. A vossa Fundadora era apaixonada pelo Menino Jesus e sentia uma profunda atracção pelo Crucifixo, a quem definia como o seu "único livro".

Fiéis ao vosso carisma, podeis enfrentar os novos desafios da educação e da evangelização, privilegiando, segundo a especificidade do vosso Instituto, a catequese e a pastoral juvenil. Sem vos deixar desencorajar pelas dificuldades e as provações, continuai a alargar os horizontes da vossa acção apostólica no mundo inteiro, como por exemplo fizestes recentemente e nisto reconheço o vosso mérito com uma nova obra na periferia de Lima, no Peru. Consagrar-se à educação da infância e da juventude constitui uma prioridade apostólica a que a Igreja jamais renunciou e nunca renunciará. É neste complicado âmbito pastoral que se manifesta um aspecto essencial do mandato de Cristo aos Apóstolos: "Ide, pois, e ensinai todas as nações..." (Mt 28,20).

Vós, queridas Irmãs Oblatas do Menino Jesus, colaborais nesta missão através de múltiplas iniciativas: da catequese, que constitui o vosso compromisso prioritário, às obras paroquiais, dos exercícios espirituais para os jovens a outras propostas de pastoral no campo juvenil e aos pensionatos universitários, da educação escolar à recuperação e ao apoio às situações familiares difíceis, da visita às famílias pobres à hospitalidade aos peregrinos.

4. Em cada uma das vossas actividades, vós sentis-vos como "nutrizes do Menino Jesus", contemplando o seu Rosto em cada pessoa que encontrais e irradiando as suas virtudes mediante a obediência filial, o abandono ao Pai, a simplicidade e a alegria de viver, a pobreza e o trabalho quotidiano, a oração e o espírito de comunhão fraternal. Com o estilo atraente da infância espiritual, não vos será difícil comprometer no vosso apostolado os leigos que vivem perto de vós.

A sua colaboração é preciosa, porque corresponde ao ensinamento clarividente do Concílio Vaticano II e permite propagar melhor o fermento evangélico nas famílias e na sociedade em geral.
Penso na realidade, já bem estruturada, dos "Animadores Leigos de Ana Moroni" (A.L.A.M.) e nos programas que, juntamente com eles, estais a realizar. Enquanto dirijo a minha saudação à sua numerosa representação hoje aqui presente, exorto-vos a continuar com generosidade ao longo deste caminho: Deus abençoará os vossos esforços com numerosas vocações e novos e válidos colaboradores.

Caríssimas Religiosas, o amor ardente ao Menino Jesus inspire cada um dos instantes da vossa vida, assim como o exercício do vosso apostolado no meio dos jovens. Oxalá sintais a contemplação e a acção como uma única vocação, porque somente da união de ambas é que brota aquela maternidade espiritual autêntica que deve orientar a acção caritativa e pedagógica para a qual vos consagrastes.

Sustente-vos uma intensa e confiante devoção a Maria Santíssima, assim como ao seu esposo São José, aos quais o Pai celestial confiou o cuidado do seu Filho unigénito que se fez homem. É com afecto que vos renovo a expressão da minha estima e do meu reconhecimento, enquanto rezo por cada uma de vós e por todo o vosso Instituto que, nas suas múltiplas actividades e nas suas suas perspectivas futuras, pretende viver, juntamente com os colaboradores leigos, o testamento da Madre fundadora: "a união e a concórdia".

Deus vos ajude a conservar e incrementar esta herança preciosa, para o bem de todos. Com estes bons votos, abençoo-vos a todos do íntimo do meu coração.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO CARDEAL LUBOMYR HUSAR,


POR OCASIÃO DE UMA ASSEMBLEIA


DA IGREJA GRECO-CATÓLICA UCRANIANA




Ao Venerado Irmão LUBOMYR Card. HUSAR
Arcebispo-Mor de Lviv dos Ucranianos

1. Por ocasião da importante Assembleia desta Igreja greco-católica ucraniana, que se realizará em Lviv de 30 de Junho a 6 de Julho, a um ano de distância da minha inesquecível Visita pastoral a este País, dirijo a minha cordial saudação a Vossa Eminência, aos Irmãos no Episcopado e a todos os participantes na Assembleia.

O tema que escolhestes para esta ocasião: "Cristo é fonte do renascimento do povo ucraniano" adquire um significado especial e uma grande importância. É com afecto fraternal que me uno a esta amada Comunidade eclesial, invocando o Espírito Santo para que lhe permita aprofundar o conhecimento de Cristo, e os trabalhos realizados pela Assembleia consigam infundir nos fiéis uma renovada coragem no testemunho da mensagem de salvação.

Já na minha primeira Encíclica Redemptor hominis, realcei como Cristo deve ocupar um lugar central na vida da Igreja e de cada um dos cristãos. Com efeito, Ele é o Redentor do homem, o Redentor do mundo. Em Cristo e por Cristo, "Deus revelou-se plenamente à humanidade e aproximou-se definitivamente dela; e, ao mesmo tempo, em Cristo e por Cristo, o homem adquiriu plena consciência da sua dignidade, da sua elevação, do valor transcendente da própria humanidade e do sentido da sua existência" (n. 11). Por conseguinte, a missão da Igreja consiste em anunciar a todos, sob a acção permanente do Espírito Santo, o mistério de Jesus Cristo, para fazer com que ele se torne efectivo e eficaz para cada homem em particular.

2. "Em atenção à tua palavra, vou lançar as redes" (Lc 5,5). A Comunidade cristã cresce e renova-se, em primeiro lugar, na escuta da palavra de Cristo. Os prolongados anos de ateísmo, durante os quais se procurou ofuscar os valores cristãos que assinalaram a história do povo ucraniano, deixaram um sinal nas almas e nos comportamentos das pessoas. Hoje em dia, a isto acrescenta-se a acção corrosiva que o processo de secularização desempenha com a sua visão predominantemente material da vida, ligada à busca desenfreada de um bem-estar muitas vezes efémero e passageiro. São precisamente estas ameaças - que não raro caracterizam as sociedades ocidentais - que tornam mais difícil o esforço quotidiano em ordem a dar um testemunho coerente da "boa nova" da fé.

Neste contexto, a vossa Igreja greco-católica ucraniana pretende intensificar, de maneira oportuna, a obra da nova evangelização empreendida ao longo destes anos. Na minha Carta Apostólica Novo millennio ineunte, dirigi aos crentes o convite a alimentarem-se da Palavra para serem "servidores da Palavra", no compromisso da evangelização, e recordei que esta é sem dúvida uma prioridade da Igreja no início do novo milénio (cf. n. 40). O convite de Cristo, "Duc in altum!", é dirigido inclusivamente a cada um dos componentes desta Igreja a fim de que, fortalecidos pela presença do Senhor, estejam prontos a transmitir com clarividência a quem lhes estiver ao lado, a mensagem perene do Evangelho, a Boa Nova que, em Jesus, "Caminho, Verdade e Vida" (Jn 14,6), é possível encontrar o amor acolhedor e misericordioso do Pai. Para completar esta obra será necessário promover uma sólida formação do clero, uma catequese orgânica para jovens e adultos, uma participação cada vez mais consciente dos fiéis na Liturgia, fonte e ápice da vida da Igreja (cf. Sacrosanctum concilium, SC 10).

Brilha diante de vós o exemplo inesquecível dos mártires e dos confessores da fé, que não hesitaram em pagar com o preço da sua própria vida a fidelidade a Jesus Cristo e à sua Igreja. Eles constituem para todos um ensinamento constante. Sim, a Terra da Ucrânia, irrigada com o sangue dos mártires, deu ao mundo o exemplo de uma invicta fidelidade ao Evangelho!

3. Vós podeis beber deste património espiritual, para dar continuidade ao impulso apostólico e missionário, conservando vivo diante dos vossos olhos a imagem de Jesus, que se inclina para lavar os pés aos Apóstolos. É com esta atitude de serviço humilde que a vossa Igreja se deve preocupar em transmitir a cada pessoa o Evangelho da caridade e da alegria.

Na sociedade contemporânea, na qual parece prevalecer com frequência a busca do poder, do sucesso custe o que custar, da posse egoísta que torna as pessoas insensíveis às necessidades do próximo, cada comunidade eclesial é chamada a proclamar e a testemunhar o respeito pela dignidade de cada um dos seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus, e o exercício do poder não como um domínio, mas como um serviço, na lógica evangélica do Mestre divino, que não veio para ser servido, mas para servir (cf. Mt Mt 10,45). Consciente disto, a vossa Assembleia não deixará de prestar atenção à família, tendo em consideração as dificuldades que, infelizmente, ela está a encontrar também na Ucrânia, onde aumenta o número dos divórcios e se difunde o flagelo do aborto.

Juntamente com a família, é necessário privilegiar a pastoral dos jovens, que são a esperança e o futuro da Igreja, e ajudá-los a redescobrir as raízes religiosas da cultura a que pertencem. Mostrai-lhes que somente em Cristo eles podem encontrar a resposta decisiva para as interrogações dos seus corações; ajudai-os a sentirem-se protagonistas na nova construção espiritual e material do País, mantendo-se fiéis ao Evangelho e aos valores espirituais que dele promanam.

A vossa Igreja dedique generosidade, energia e meios à formação das novas gerações. Seja corajosa ao propor-lhes Cristo e o Evangelho "sine glossa". Somente assim o mundo juvenil poderá vencer a tentação de dar credibilidade às miragens ilusórias e aos modelos falazes, orientados pelo materialismo e o hedonismo.

4. É vasto o campo apostólico em que o Senhor chama a vossa Igreja a estar concretamente presente. Venerado Irmão, enquanto asseguro a minha proximidade espiritual aos fiéis greco-católicos da Ucrânia, convido Vossa Eminência e toda a Assembleia a escutar novamente as palavras de Cristo: "Para que todos sejam um só, como Tu, ó Pai, estás em mim e Eu em ti. E para que também eles estejam em Nós" (Jn 17,21). Esta oração, que Jesus dirige ao Pai nos últimos momentos da sua vida terrestre, constitui um "imperativo que nos obriga, força que nos sustenta, salutar censura à nossa preguiça e mesquinhez de coração" (Novo millennio ineunte, 48).

Muitas incompreensões e divisões assinalaram a história da Igreja que está na Ucrânia. Agora é necessário intensificar os esforços de compreensão e de comunhão, em primeiro lugar entre os católicos dos dois Ritos. Além disso, será importante aumentar o compromisso de aproximação e de reconciliação com os outros cristãos, em particular com os irmãos ortodoxos. A identidade oriental da vossa Igreja e a comunhão plena com o Sucessor de Pedro vos ajudem a encontrar formas sempre novas de diálogo, de solidariedade e de colaboração com as Igrejas ortodoxas. Estou convencido de que o caminho pessoal e comunitário de conversão a Cristo e ao seu Evangelho, para o qual o Concílio Vaticano II nos convida a todos (cf. Unitatis redintegratio, UR 7), apressará os tempos daquela plena unidade, que Cristo deseja para os seus discípulos.

5. Igreja greco-católica ucraniana, diante de ti há um futuro rico de esperança! Não faltarão dificuldades nem amarguras, mas não tenhas medo! O Senhor está próximo de ti. És acompanhada pela Santíssima Mãe de Deus que, com o seu sofrimento, participou na morte do seu Filho na cruz, mas também foi testemunha alegre da sua gloriosa Ressurreição. A sua assistência maternal torne fecundos os trabalhos da Assembleia, em benefício de todo o Povo de Deus.

Com estes sentimentos e com intenso afecto, é de muito bom grado que concedo uma especial Bênção a Vossa Eminência, venerado Irmão, aos participantes na Assembleia da Igreja greco-romana ucraniana e a todos os outros fiéis desta vossa Nação, que me é muito querida.



Vaticano, 25 de Junho de 2002.



CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II


À SUPERIORA-GERAL DAS MISSIONÁRIAS


DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


POR OCASIÃO DO SEU CAPÍTULO GERAL


: À Reverenda Madre
Irmã Lina COLOMBARI
Superiora-Geral das Missionárias
do Sagrado Coração de Jesus

1. Por ocasião do próximo Capítulo Geral deste Instituto, sinto-me feliz por lhe enviar, assim como às irmãs de hábito reunidas em capítulo a minha saudação de bons votos, juntamente com a certeza da minha proximidade espiritual, testemunhada por uma especial oração ao Senhor para um proveitoso andamento dos trabalhos.

Este primeiro Capítulo ordinário do novo milénio representa um momento privilegiado de graça para a Família cabriniana, chamada a aceitar o convite que Jesus fez a Pedro e aos primeiros companheiros de "se fazer ao largo e lançar as redes" (cf. Lc Lc 5,4), convite que eu quis propor de novo a toda a Igreja na Carta apostólica Novo millennio ineunte.

"Duc in altum! Estas palavras ressoam hoje aos nossos ouvidos, convidando-nos a lembrar com gratidão o passado, a viver com paixão o presente, e abrir-se com confiança ao futuro: "Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre" (He 13,8)" (Ibid., 1). A Congregação das Missionárias do Sagrado Coração de Jesus entra no terceiro milénio enriquecida, não só pela extraordinária experiência do Grande Jubileu do Ano 2000, mas também pelos frutos recolhidos nas celebrações do 150º aniversário do nascimento da fundadora, Santa Francisca Saverio Cabrini, e também pelas celebrações do 50º aniversário da sua proclamação como Padroeira dos emigrantes.

2. O tema escolhido para o actual Capítulo ""Fazei-vos ao largo e lançai as redes" (Lc 5,4). Desafios e profecia da família cabriniana" insere-se neste contesto e convida a um generoso entusiasmo apostólico, no início de um século rico de desafios muitas vezes inéditos, mas sempre penetrados pela presença de Deus vigilante e operante. A este propósito, as Constituições recordam que "a vocação de Missionárias do Sagrado Coração compromete a espalhar aquele fogo que Jesus trouxe ao mundo" (Const. 15). Foi quanto fez Francisca Cabrini com coragem durante uma vida completamente dedicada a levar o amor de Cristo a todos os que, longe da pátria e da família, corriam o perigo de se afastarem também de Deus. Ela repetia com frequência às suas filhas: "Imitemos a caridade do Coração adorável de Jesus na salvação das almas, fazendo-nos tudo para todos, a fim de ganhar muitos para Cristo como Ele faz continuamente", e ainda: "Se eu pudesse, ó Jesus, abraçar o mundo inteiro e oferecê-lo a ti, como ficaria contente!".

Se desejam seguir os passos da Fundadora, as suas Filhas espirituais não podem deixar de ir com renovado fervor até às fronteiras da caridade, a fim de tornar visível o amor misericordioso e compassivo do Senhor, e fazer ressoar o anúncio de Cristo onde a Providência as colocou a trabalhar.

3. Face às mudadas condições da mobilidade humana, as Religiosas da Madre Cabrini estão chamadas a oferecer um acolhimento atento e solidário aos migrantes do nosso tempo, que muitas vezes levam consigo, juntamente com grandes sofrimentos, solidão e pobreza, também uma rica bagagem de humanidade, valores e esperanças. Que elas se sintam também empenhadas a dedicar uma particular solicitude à promoção da mulher, sobretudo em contextos onde ela é mais ameaçada e indefesa. A educação das crianças e dos adolescentes, a catequese e a pastoral juvenil continuem a ser para elas caminhos privilegiados de evangelização e de formação cristã, canais de transmissão de uma fé que tenha incidência sobre a cultura e sobre a vida.

Amparadas pela palavra do Senhor que convida a "fazer-se ao largo" e olhando para o exemplo da Fundadora, as Missionárias do Sagrado Coração de Jesus dedicar-se-ão com zelo e entusiasmo à messe que o Senhor lhes confia. Apesar do contexto social muitas vezes hostil, elas não desistirão de testemunhar a primazia de Deus e, com a palavra e com a vida, difundirão à sua volta a alegria da própria consagração a Cristo casto, pobre e obediente.

Isto exige que elas tenham uma consciência lúcida de que o seu empenho primário e prioritário deve ser a preocupação quotidiana da ascese cristã pessoal e comunitária para se configurarem a Cristo, "tendo como escrevia a Madre Cabrini Jesus como modelo em todos os acontecimentos e em todas as nossas acções, unindo todos os nossos passos aos Seus, a fim de andar unicamente pelos caminhos do seu amor".

4. Faço votos por que o desejo de fidelidade à missão e ao carisma originário leve este Instituto a guardar sempre o grande valor da vida comunitária. É importante como nunca construir comunidades fraternas, que evangelizem em primeiro lugar com o seu testemunho de vida. As casas onde as Missionárias do Sagrado Coração habitam sejam verdadeiras escolas de formação e de crescimento humano e espiritual, lugares onde se exprime o amor de Deus no serviço e na caridade, no perdão oferecido e aceite. Um estilo de vida assim constituirá para todos um eco eloquente da Boa Nova e uma proposta vocacional eficaz, que não deixará de motivar as jovens a fazerem uma séria reflexão sobre a vida consagrada.

Outro compromisso importante do Instituto será prosseguir o caminho, já empreendido, de comunhão e de partilha do próprio carisma com os leigos, enfrentando juntos os desafios de hoje. O desejo de ser fiéis ao carisma das origens, mantendo vivas as exigências superiores do reino de Deus, não poderá deixar de estimular todos os membros de qualquer comunidade a percorrer um exigente itinerário de formação permanente, na constante atenção aos desafios modernos e aos sinais dos tempos.

5. Reverenda Madre, o Senhor guie com a força do Seu Espírito os trabalhos do capítulo, para que dêem a toda a vossa Família religiosa os desejados frutos espirituais e apostólicos.
Ao invocar sobre vós a materna protecção de Nossa Senhora das Graças, que Santa Francisca Saverio Cabrini indicava às suas filhas como Mãe e Mestra, encorajo-vos na vossa missão e concedo-lhe com afecto, Reverenda Madre, assim como a todas as Missionárias do Sagrado Coração de Cristo uma especial Bênção apostólica, em penhor de abundantes graças e de alegria espiritual.

Vaticano, 24 de Junho de 2002.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA XX ASSEMBLEIA


GERAL DA FRATERNIDADE DOS SACERDOTES


OPERÁRIOS DIOCESANOS


Sábado, 6 de Julho de 2002

Ao Rev.mo Pe. Ángel J. Pérez Pueyo
Director-Geral da Fraternidade dos Sacerdotes Operários
Diocesanos do Sagrado Coração de Jesus


É-me grato dirigir-me a vós por ocasião da celebração em Roma, na sede do Pontifício Colégio Espanhol de São José, da vossa XX Assembleia Geral. Por meio de vós, desejo saudar também todos os membros da Fraternidade e manifestar a minha gratidão pelo importante serviço eclesial que realizais, especialmente no âmbito da pastoral vocacional. Faço-o, ao mesmo tempo, com a finalidade primordial de vos estimular a olhar para o futuro com audácia e realismo para vislumbrar os novos sinais do Reino, revitalizar e tornar mais significativo, hoje, o vosso carisma um dos carismas principais da Igreja e responder às verdadeiras aspirações e necessidades que os homens põem na orientação das suas vidas.

Por conseguinte, considerando a especificidade que vos é própria e em total sintonia com o apelo que ultimamente faço com frequência a aumentar o esforço pastoral pelas vocações ao sacerdócio e à vida de especial consagração, formulastes o eixo central dos vossos trabalhos destes dias com a frase: "a pastoral vocacional, desafio da nossa identidade actual".

Vós, Sacerdotes Operários Diocesanos, dedicastes sempre as vossas energias melhores à pastoral das vocações sacerdotais, religiosas e apostólicas, conscientes de que elas são o meio universal e mais eficaz para a promoção de todos os outros âmbitos pastorais.

A actual Assembleia deve ser, portanto, um acontecimento de graça no qual, reconfirmando o vosso autêntico fundamento institucional, ultrapasseis a vitalidade, a fecundidade e a radicalidade contida no próprio carisma herdado, a fim de oferecer novas e inéditas expressões do delicado empenho da pastoral vocacional.

Esta tarefa, especialmente hoje, é verdadeiramente urgente e necessária. Ela requer que se promovam, se formem e se acompanhem os processos de surgimento, maturação e discernimento de qualquer vocação eclesial, sobretudo para o ministério presbiteral, ajudando a descobri-la como um dom e a vivê-la em contínua acção de graças, dado que ela é uma prenda de amor, um dom de Deus, "uma graça oferecida grátis (charisma)" (Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis PDV 35).

Desejo exortar-vos a reproduzir com valor e audácia, a criatividade e a santidade do vosso fundador, adaptando-as, se for necessário, às novas situações e necessidades, em plena docilidade à inspiração divina e ao discernimento eclesial. Uma crescente atenção à identidade original será o critério seguro para procurar as formas adequadas de testemunho, capazes de corresponder às exigências do momento presente (cf.Exortação apostólica pós-sinodal Vita consecrata VC 37).
Trabalhai, por conseguinte, com fidelidade ao carisma que o Senhor infundiu ao Beato Manuel Domingo y Sol, ao qual o meu Predecessor, o Papa Paulo VI chamou o "santo apóstolo das vocações sacerdotais" e do qual, eu próprio, por ocasião do I Centenário da fundação da Irmandade, escrevi: "Sendo fiel ao chamamento de Cristo e dócil às insinuações do Espírito, ... soube não só indicar-vos modelos adequados... mas também dar-vos com a sua vida exemplar e com os seus escritos a chave para configurar realmente a existência sacerdotal à medida do dom de Cristo, ... e ser no seio da Igreja a semente de uma nova família de sacerdotes penetrados do espírito evangélico e devotos com uma entrega incondicionada ao serviço dos homens..." (Carta de Sua Santidade João Paulo II aos Sacerdotes Operários Diocesanos no I Centenário da Fundação da Irmandade, Vaticano, 25 de Janeiro de 1983).

Queridos filhos, continuai com ânimo renovado a obra que a Igreja vos confiou, procurando realizá-la com o estilo de vida e de acção que vos caracteriza: a fraternidade sacerdotal. Tende a certeza de que "não podendo ser mais do que sacerdotes, e nada mais do que sacerdotes, e santos" (cf. Escritos), a vossa vida e o vosso exemplo transformar-se-ão, sem dúvida, num estímulo para quantos procuram seguir radicalmente Cristo, favorecendo neles "a resposta livre, decidida e generosa que torna operante a graça da vocação (Exortação apostólica pós-sinodal Vita consecrata VC 64). Como, em definitivo, "a vocação sacerdotal é fundamentalmente uma chamada à santidade, que... é intimidade com Deus, é imitação de Cristo, pobre, casto, e humilde; é amor sem limites às almas e oferta ao seu verdadeiro bem; é amor à Igreja que é santa e nos quer santos, porque foi esta a missão que Cristo nos confiou" (Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis PDV 33).

Ponde em prática o difícil compromisso que vos compete tendo em conta o aspecto relativo à inculturação, já que o Instituto, que vai desde a nativa Tortosa até outros Países, particularmente à América Latina, hoje vive uma enriquecedora realidade pluricultural. Fazei isto sempre em total harmonia com as Igrejas particulares onde a Fraternidade está presente e em estreita colaboração com os Bispos, com os organismos das dioceses e congregações, sobretudo com quantos promovem e coordenam especificamente a pastoral vocacional, procurando novas fontes e métodos que estimulem este âmbito pastoral.

Confiando nas palavras de Cristo "Duc in altum" (Lc 5,4), abri o vosso coração ao convite que fiz na Carta Apostólica Novo millennio ineunte (cf. NMI, 1; 15; 56) e enfrentai com coragem o desafio da evangelização neste milénio nova primavera do Espírito que há pouco começou. Nunca digais: tentamos o possível; não há mais nada a fazer. Ao contrário, estai sempre dispostos a continuar a transformar o vosso compromisso e identidade de "operários" em orientações pastorais concretas que respondam às exigências do vosso carisma e às necessidades da Igreja no mundo de hoje.

E ao regressardes aos vossos lugares de origem, recordai a todos os membros da Fraternidade as palavras do Mestre: "Faz-te ao largo; e vós lançai as redes para a pesca" (Lc 5,4). Nunca cedais ao desânimo. Trabalhai com um espírito alegre e decidido, conscientes de que a obra não é vossa, mas do Senhor. Por conseguinte, comprometei-vos decididamente com o irrenunciável dever de fomentar as vocações para o vosso próprio Instituto, de estimular qualquer tipo de vocação consagrada e de sensibilizar as comunidades eclesiais onde desempenhais o vosso trabalho evangelizador, para que tomem consciência de que as vocações ao sacerdócio são um problema vital que está no próprio coração da Igreja. Recordando-vos de que a vossa Instituição tem um carácter especificamente eucarístico, fazei com que Jesus Sacramentado seja sempre a fonte de todas as graças nas vossas obras (cf. Escritos, I, 5°-31) e que a Virgem Santíssima, modelo de consagração e seguimento, vos acompanhe sempre na tarefa evangelizadora que realizais!
Com estes votos e em penhor de abundantes graças divinas concedo-vos de coração a Bênção apostólica.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS CLÉRIGOS REGULARES DE SÃO PAULO


NO V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO SEU


SANTO FUNDADOR SANTO ANTÓNIO MARIA ZACARIAS







Ao Rev.do Pe. GIOVANNI MARIA VILLA
Superior-Geral dos Clérigos Regulares de São Paulo


1. Por ocasião do quinto centenário do nascimento de Santo António Maria Zacarias, desejo unir-me espiritualmente à alegria desta Congregação, bem como à das Religiosas Angélicas de São Paulo e do Movimento dos Leigos de São Paulo, e elevar ao Senhor ardentes acções de graças por ter dado à Igreja, na pessoa deste Santo, um incansável imitador do Apóstolo das Nações e um luminoso modelo de caridade pastoral. Formulo os mais sinceros bons votos a fim de que estas solenes celebrações jubilares constituam uma ocasião preciosa para pôr em evidência o dom da santidade resplandecente na Igreja de todos os tempos e que, no século XVI, encontrou em Santo António Maria Zacarias uma singular testemunha. Além disso, faço votos para que o Rev.do Padre, os seus colaboradores e toda a Família espiritual de Santo António Maria Zacarias sigam fidelmente os passos deste Santo. Ele conquistou numerosas almas para a "ciência do amor de Jesus Cristo", suscitando uma variedade de carismas de vida consagrada. Indicava constantemente a meta da santidade, não apenas aos seus religiosos orientados para o caminho da "reforma" ou da "renovação" espiritual, mas a todos os fiéis, a quem recordava que eram chamados a tornar-se "não pequenos... mas grandes santos" (Carta XI).

As celebrações do quinto centenário do nascimento do vosso Fundador representam uma preciosa oportunidade para aprofundar a actualidade da sua mensagem. Estou persuadido de que a reflexão sobre o seu amor ardente por Jesus, "exaltado na Cruz e escondido sob as Espécies eucarísticas", e sobre o seu zelo incansável pelas almas constituirá para os seus filhos espirituais um convite a dedicar-se com renovado ardor à educação humana e cristã das jovens gerações, que representam o futuro da Igreja e da sociedade em geral.

2. Procurando este objectivo, Santo António Maria Zacarias inspirou-se no Apóstolo das Nações e, por este motivo, gostava de se definir como um "Sacerdote do Apóstolo Paulo", indicando este mesmo modelo às Famílias religiosas e ao Movimento laical por ele fundados. E costumava recomendar aos seus seguidores: "Então, estai persuadidos e certos de que, sobre o fundamento de Paulo, edificareis não o feno nem a lenha, mas o ouro e as margaridas; sobre vós e os vossos entes queridos, abrir-se-ão os céus e os seus tesouros" (Carta VI).

Na escola de São Paulo, ele aprendeu a lei fundamental da vida espiritual como um "crescimento de momento a momento" (Carta X), até alcançar a estatura do homem perfeito em Jesus Cristo, despojando-se incessantemente do homem velho, para se revestir do homem novo, na justiça e santidade (cf. Ef Ep 4,22-24).

Durante a sua vida, ele teve que enfrentar obstáculos e perseguições, mas mostrou sempre coragem e confiança indómitas no Senhor. Hoje, estes mesmos sentimentos devem alimentar quantos fazem parte da sua Família espiritual. Com efeito, é necessário enfrentar com a audácia que nasce do amor a difícil situação em que se encontram não poucas das vossas beneméritas e seculares instituições educativas, para continuar a pôr a riqueza da vossa tradição pedagógica ao serviço dos jovens, das suas famílias e de toda a sociedade.

Da mesma forma, é necessário cuidar com singular zelo da formação cristã das novas gerações, através do anúncio da Palavra de Deus, da pontual e devota celebração dos Sacramentos, de maneira especial do sacramento da Reconciliação, da direcção espiritual, dos retiros e dos exercícios espirituais. Tudo aquilo que constituiu, desde o princípio, um aspecto específico do carisma barnabita exige dos Clérigos Regulares de São Paulo um impulso apostólico audacioso e constante. O Povo de Deus tem mais necessidade do que nunca de guias autorizados e de um alimento abundante, para acolher e viver a ""medida alta" da vida cristã ordinária", através de uma oportuna "pedagogia da santidade" (cf. Novo millennio ineunte, 31).

3. As palavras e o exemplo do Fundador continuam a impelir os seus filhos para uma renovada fidelidade ao impulso missionário, que se alimenta de orações ardentes e se fundamenta sobre uma sólida preparação teológica e cultural. Com efeito, somente assim é possível levar a toda a parte um anúncio incisivo e um testemunho credível do Evangelho (cf. Novo millennio ineunte, 42-57) e contribuir para uma vasta acção da nova evangelização, que diz respeito a toda a Comunidade eclesial. Possa esta benemérita Congregação, haurindo do fecundo património espiritual do seu Fundador, percorrer com decisão o caminho de Deus (cf. Sermão VI), em ordem a dar "vida espiritual" (Carta V) ao povo cristão.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, não tenhais medo de vos empenhardes num combate aberto contra a mediocridade, o compromisso e qualquer forma de tibieza, que o Santo Fundador definia como "nociva e a maior inimiga de Cristo crucificado, que reina com tanta força nos tempos modernos" (Carta V). Cada um tenha a preocupação de fazer frutificar os dons recebidos e perseverar na oração e nas obras de amor, mantendo viva em cada circunstância a confiança da Providência divina.

4. Santo António Maria Zacarias preocupava-se não apenas em recordar constantemente aos leigos a vocação universal à santidade, mas procurava empenhá-los também na evangelização. Imitando o seu exemplo, também vós, queridos Barnabitas, juntamente com as Religiosas Angélicas de São Paulo, não hesiteis em encorajar quantos se sentem chamados a testemunhar o carisma do Fundador nos vários âmbitos da vida social. Além disso, promovei uma atenta e actualizada pastoral vocacional para acompanhar e sustentar aqueles que o Senhor chama para abraçar a vida consagrada.

Desta maneira a tríplice Família espiritual fundada por Santo António Maria Zacarias, que segundo o seu exemplo volta a percorrer os passos de São Paulo, crescerá na comunhão de intenções e de corações, e será capaz de propor de novo, com um espírito sempre renovado, o caminho da santidade aos homens e às mulheres do nosso tempo. O Senhor, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, de quem Santo António Maria Zacarias foi terno e fiel devoto, suscite em cada um dos membros deste Instituto o entusiasmo e a coragem do bem ao serviço de Deus e dos irmãos mais necessitados.

Com estes bons votos concedo de coração à sua pessoa, Rev.do Padre, aos seus Irmãos Barnabitas, às Religiosas Angélicas e aos membros do Movimento laical de São Paulo, uma especial Bênção apostólica, propiciadora de graças e de um renovado ardor espiritual e apostólico.

Vaticano, 5 de Julho de 2002.




Discursos João Paulo II 2002 - Terça-feira, 2 de Julho de 2002