Discursos João Paulo II 2002

MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO PRIMEIRO CENTENÁRIO


DA MORTE DE SANTA MARIA GORETTI


6 de Julho de 2002



Ao venerado Irmão D. AGOSTINO VALLINI
Bispo de Albano

1. Há cem anos, no dia 6 de Julho de 1902, no hospital de Netuno, morria Maria Goretti, barbaramente apunhalada um dia antes na pequena aldeia de Le Ferriere, no Campo pontino. Pela sua vivência espiritual, pela força da sua fé, pela capacidade de perdoar ao seu algoz, ela põe-se entre as Santas mais amadas do século XX. Portanto, oportunamente, a Congregação da Paixão de Jesus Cristo, a quem está confiado o cuidado do Santuário onde respousam os restos mortais da Santa, quis celebrar esta data com particular solenidade.

Santa Maria Goretti foi uma jovem em quem o Espírito de Deus infundiu a coragem de permanecer fiel à vocação cristã, até ao supremo sacrifício da vida. A idade jovem, a falta de educação escolar e a pobreza do ambiente em que vivia não impediram a graça de manifestar nela os seus prodígios. Pelo contrário, precisamente em tais condições apareceu de maneira eloquente a predilecção de Deus pelas pessoas humildes. Voltam à mente as palavras com que Jesus bendisse o Pai celestial por se ter revelado aos pequeninos e aos simples, e não aos sábios, nem aos doutos deste mundo (cf. Mt Mt 11,25).

Observou-se, justamente, que o martírio de Santa Maria Goretti inaugurou aquele a que se haveria de chamar o século dos mártires. E foi precisamente nesta perspectiva que, no final do Grande Jubileu do Ano 2000, sublinhei que "a consciência mais viva não nos impediu, porém, de dar glória ao Senhor por tudo o que Ele fez ao longo dos séculos, de modo particular neste último, que deixámos para trás, assegurando à sua Igreja uma longa série de santos e de mártires" (Novo millennio ineunte, 7).

2. Maria Goretti nasceu em Corinaldo, nas Marcas, no dia 16 de Outubro de 1890 e, depressa, teve de empreender com a sua família o caminho da migração; depois de várias etapas, chegou a Le Ferriere di Conca, no Campo pontino. Apesar das dificuldades da pobreza, que não lhe permitiam sequer ir à escola, a pequena Maria vivia num ambiente familiar sereno e unido, animado pela fé cristã, onde os filhos se sentiam acolhidos como um dom e eram educados pelos pais no respeito de si mesmos e do próximo, e no sentido do dever cumprido por amor a Deus. Isto permitiu que a criança crescesse serenamente, alimentando em si uma fé simples, mas profunda. A Igreja sempre reconheceu à família o papel de primeiro e fundamental lugar de santificação para quantos dela fazem parte, a começar pelos seus filhos.

Neste contexto familiar, Maria assimilou uma sólida confiança no amor providencial de Deus, confiança esta que se manifestou particularmente no momento da morte do seu pai, vítima da malária. "Ânimo, mãezinha, Deus vai ajudar-nos!", dizia a criança nessa hora difícil, reagindo com força ao grave vazio criado pela morte do pai.

3. Na homilia de canonização o Papa Pio XII, de veneranda memória, indicou Maria Goretti como "a pequena e doce mártir da pureza" (cf. Discursos e radiomensagens, XII [1950-1951], pág. 121) porque, apesar da ameaça de morte, não desobedeceu ao mandamento de Deus.

Que fúlgido exemplo para a juventude! A mentalidade liberal, que penetra uma boa parte da sociedade e da cultura do nosso tempo, às vezes tem dificuldade de compreender a beleza e o valor da castidade. O comportamento desta jovem Santa infunde uma percepção exímia e nobre da dignidade pessoal e do próximo, que se reflecte nas opções quotidianas, conferindo-lhes a plenitude do sentido humano. Não há nisto, porventura, uma lição de grande actualidade? Diante de uma cultura que sobrestima o aspecto físico nos relacionamentos entre o homem e a mulher, a Igreja continua a defender e a promover o valor da sexualidade como factor que investe todos os aspectos da pessoa e que, por conseguinte, deve ser vivido numa atitude interior de liberdade e de respeito recíproco, à luz do desígnio originário de Deus. Nesta perspectiva, a pessoa descobre-se como destinatária de uma dádiva e é chamada a tornar-se, por sua vez, um dom ao próximo.
Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, observei que "na visão cristã do matrimónio, a relação entre um homem e uma mulher relação recíproca e total, única e indissolúvel corresponde ao desígnio originário de Deus que, ofuscado na história pela "dureza do coração", foi contudo restabelecido no seu esplendor primordial por Cristo, mostrando o que Deus queria "no princípio" (Mt 19,8). No matrimónio, elevado à dignidade de Sacramento, está expresso o "grande mistério" do amor esponsal de Cristo pela sua Igreja (cf. Ef Ep 5,32)" (n. 47).

É inegável que há numerosas ameaças contemporâneas contra a unidade e a estabilidade da família. Felizmente, porém, ao lado delas encontra-se uma renovada consciência dos direitos que os filhos têm de ser criados no amor, protegidos de todos os tipos de perigos e formados de maneira a poderem, por sua vez, enfrentrar a vida com confiança e fortaleza.

4. Além disso, são merecedores de particular atenção, no testemunho heróico da Santa de Le Ferriere, o perdão oferecido ao seu assassino e o desejo de o poder encontrar novamente, um dia, no Paraíso. Trata-se de uma mensagem espiritual e social de extraordinário relevo para este nosso tempo.

Entre outros aspectos, o recente Grande Jubileu do Ano 2000 caracterizou-se por uma profunda exortação ao perdão, no contexto da celebração da misericórdia de Deus. A indulgência divina pelas misérias humanas insere-se como exigente modelo de comportamento para todos os crentes. No pensamento da Igreja, o perdão não significa relativismo moral ou permissivismo. Pelo contrário, ele exige o pleno reconhecimento da nossa culpa e a assunção das nossas responsabilidades, como condição para voltar a encontrar a verdadeira paz e a retomar com confiança o nosso caminho ao longo da estrada da perfeição evangélica.

Possa a humanidade introduzir-se com decisão na vida da misericórdia e do perdão! O assassino de Maria Goretti reconheceu a culpa cometida, pediu perdão a Deus e à família da Mártir, expiou com convicção o seu crime e, durante a vida inteira, permaneceu nesta disposição de espírito. Por sua vez, na sala do tribunal onde teve lugar o processo, a mãe da Santa ofereceu-lhe sem hesitações o perdão da família. Não sabemos se foi a mãe que ensinou o perdão à filha, ou se foi o perdão oferecido pela Mártir no leito de morte que determinou o comportamento da mãe. Contudo, é óbvio que o espírito do perdão animava os relacionamentos de toda a família Goretti e, por isso, pôde exprimir-se com tanta espontaneidade quer na Mártir quer na mãe.

5. Quem conhecia a pequena Maria, no dia do seu funeral pôde dizer: "Morreu uma Santa!". O seu culto difundiu-se em todos os continentes, suscitando em toda a parte a admiração e a sede de Deus. Em Maria Goretti resplandece a radicalidade das opções evangélicas, não impedida, mas valorizada pelos inevitáveis sacrifícios exigidos pela pertença fiel a Cristo.

Indico o exemplo desta Santa especialmente aos jovens, que constituem a esperança da Igreja e da humanidade. Já na iminência da XVII Jornada Mundial da Juventude, desejo lembrar-lhes aquilo que escrevi na Mensagem que lhe destinei, em preparação para este evento eclesial tão esperado: "No coração da noite, pode sentir-se medo e insegurança, aguardando-se então com impaciência a chegada da luz da aurora. Amados jovens, é a vossa vez de ser as sentinelas da manhã (cf. Is Is 21,11-12) que anunciam a chegada do sol, que é Cristo ressuscitado!" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 4 de Agosto de 2001, pág. 4, n. 3).

Caminhar nos passos do Mestre divino exige sempre uma decidida tomada de posição firme por dele. É necessário comprometer-se em segui-lo onde quer que Ele vá (cf. Ap Ap 14,4). Todavia, ao longo deste caminho os jovens sabem que não estão sozinhos. Santa Maria Goretti e os numerosos adolescentes, que ao longo dos séculos pagaram com o martírio a adesão ao Evangelho, estão ao seu lado a fim de lhes infundir na alma a força para permanecer firmes na fidelidade. É assim que poderão ser as sentinelas de uma manhã luminosa, iluminada pela esperança! A Virgem Santíssima, Rainha dos Mártires, interceda por eles!

Enquanto elevo esta oração, uno-me espiritualmente a todos aqueles que hão-de participar nas celebrações jubilares durante este ano centenário e transmito-lhe, venerado Pastor diocesano, assim como aos beneméritos Padres Passionistas comprometidos no Santuário de Netuno, aos devotos de Santa Maria Goretti e de maneira particular aos jovens, uma especial Bênção apostólica, em penhor de copiosos favores celestiais.



Vaticano, 6 de Julho de 2002.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO X ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO


DA FUNDAÇÃO "POPULORUM PROGRESSIO"






A D. PAUL JOSEF CORDES

Arcebispo Titular de Naisso
Presidente do Pontifício Conselho "Cor Unum"
e da Fundação "Populorum Progressio"


Através da sua pessoa, desejo transmitir uma cordial saudação aos Bispos membros do Conselho de Administração da Fundação Populorum Progressio e aos seus colaboradores, que neste ano se reúnem na cidade de Sucre (Bolívia), para celebrar o X aniversário de criação desta Instituição.
A assistência aos pobres constitui um imperativo do Evangelho, destinado a todos os cristãos que, diante do seu próximo que é atingido pela infelicidade (cf. Lc Lc 10,33-35), nunca podem passar adiante. A este propósito, observo com tristeza que, se nalguns países em vias de desenvolvimento uma grande parte da população é atingida pelo flagelo da pobreza, os grupos mais marginalizados destas sociedades não dispõem sequer do que lhes é indispensável. Por isso, eu quis contribuir para atenuar os efeitos desta terrível situação com a criação, há dez anos, da Fundação Populorum Progressio (13 de Fevereiro de 1992), destinada de maneira especial para as populações indígenas, mestiças e afro-americanas da América Latina. Ela quer ser um sinal para exprimir a minha proximidade às pessoas que se encontram em condições de grave privação e que, não raro, são marginalizadas pela sociedade ou pelas próprias autoridades, muitas vezes incapazes de as ajudar. Este organismo realiza iniciativas concretas, mediante as quais pretende manifestar o amor de Deus pela humanidade, sobretudo para com os pobres (cf. Lc Lc 7,22).

Em cada ano, esta Fundação financia o maior número possível de projectos, através dos quais favorece o desenvolvimento integral das comunidades camponesas mais pobres. Desta forma, de 1993 a 2001 foram promovidos 1.596 projectos, com a quantia total de US$ 13.142.529, graças sobretudo à generosidade dos católicos italianos, orientada pela Conferência Episcopal, e graças às ofertas de outros benfeitores e organismos eclesiais.

É digno de nota o facto de que as Igrejas particulares da América Latina também participam no financiamento de tais projectos. Além disso, uma característica do trabalho da Fundação é que as pessoas que têm a responsabilidade de aprovar os projectos e de decidir a distribuição dos fundos provêm das mesmas regiões em que as iniciativas são realizadas. Com efeito, o Conselho de Administração é composto por seis Ordinários da América Latina e do Caribe, chamados a examinar e a decidir a propósito dos pedidos que são apresentados.

Infelizmente, a situação social é muito difícil em várias regiões da América Latina. Os Estados e as Igrejas particulares dos vários países, cada um no âmbito que lhe é próprio, devem trabalhar para melhorar as condições de vida de todos, sem excluir ninguém. Também a presença, no âmbito político-social, de injustiças e de corrupção, agrava as causas desta situação. Além disso, nalguns países, a dívida externa alcança quantias astronómicas e impede o progresso económico. Por conseguinte, a Sé Apostólica sente a obrigação de realçar este flagelo, que paralisa as energias e e a esperança num futuro melhor. Como recordei na Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in America, os católicos, em toda a parte, devem sentir-se interpelados a colaborar, uma vez que "a caridade implica desvelo por todas as necesidades do próximo. "Quem possuir bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o coração, como pode estar nele o amor de Deus" (1Jn 3,17)" (n. 27).

Quanto a nós, cristãos, a Palavra de Deus não nos exime da obrigação evidente de oferecer a nossa ajuda e de nos comprometermos na busca da verdadeira justiça. Ao mesmo tempo, ela exorta-nos a ocupar-nos dos nossos irmãos e irmãs que se encontram em necessidades concretas. Além disso, somos impelidos nesta direcção também pela nossa condição de evangelizadores, dado que existe um nexo íntimo entre evangelização e promoção humana, porque fazer o bem favorece o acolhimento da mensagem da Boa Nova. E, por outro lado, as obras de caridade para com o próximo tornam mais credível a pregação [do Evangelho].

Por conseguinte, desejo exprimir a minha gratidão a todos aqueles que, durante estes dez anos, trabalharam para realizar a estrutura e as actividades da Fundação Populorum Progressio: bispos, sacerdotes e leigos. Eles fizeram com que os projectos se realizassem correctamente, controlando e garantindo o seu financiamento; ao mesmo tempo, a sua dedicação generosa contribuiu para fazer conhecer a realidade da Fundação, promovendo entre os seus beneficiários e junto das comunidades cristãs em geral, a confiança na ajuda de Deus e a esperança num futuro melhor.

Enquanto asseguro a minha prece pelo bom êxito deste encontro e imploro do Espírito Santo a luz para discernir o caminho mais oportuno em ordem a continuar a assumir este compromisso, confio os trabalhos do Conselho à protecção maternal da Virgem Maria que, com o nome de Nossa Senhora de Guadalupe, é venerada em todo o Continente americano. Ao mesmo tempo, em sinal de gratidão eclesial, concedo aos membros da Fundação e também aos seus benfeitores, uma especial Bênção apostólica.

Cidade do Vaticano, 14 de Junho de 2002.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS RELIGIOSAS DA CONGREGAÇÃO DAS


IRMÃS URSULINAS DA SAGRADA FAMÍLIA







À Reverenda Madre

CARMELA DISTEFANO

Superiora-Geral da Congregação
das Irmãs Ursulinas
da Sagrada Família

1. Sinto-me feliz por me encontrar convosco, na ocasião do vosso Capítulo Geral, que tem como tema: "Missão que se confronta com o carisma na perspectiva do futuro". Trata-se de um acontecimento de graça, que constitui uma forte chamada a aprofundar o carisma originário, para o poder encarnar, com as formas mais adequadas, no actual contexto sócio-cultural.

Saúdo-a a si, Reveranda Superiora-Geral, as delegadas da Assembleia Capitular e todas as Ursulinas, que desempenham o seu generoso apostolado na Itália e no Brasil. Prosseguindo o caminho até agora percorrido, desejais "ampliar o Reino de Deus mediante o apostolado educativo, assistencial e missionário" (Const. 56), escutando a voz do Espírito Santo que ilumina a mente e o coração. Além disso, desejais analizar atentamente os desafios da sociedade de hoje, em rápida transformação, para continuar a dar e a ser respostas válidas, mediante uma incisiva acção apostólica. Deus abençoe estes vossos propósitos!

2. Queridas Irmãs! Conservai fielmente tudo o que herdastes da Fundadora, Rosa Rocuzzo. A sua existência foi totalmente marcada por um intenso diálogo interior com Deus e por um amor terno à Família de Nazaré. Ela inspirou no espírito da Sagrada Família o seu incansável serviço em favor do próximo, procurando enfrentar com todas as energias possíveis as formas de pobreza típicas do seu tempo: da económica e moral à situação que se foi criando da carência de uma adequada assistência no campo da saúde.

Ela quis inserir a sua obra na grande árvore da Família espiritual de Santa Ângela Merici, propondo-a assim às suas filhas como mãe autêntica no espírito e sugestivo modelo a ser imitado: Santa Ângela pedia que cada Ursulina fosse "verdadeira e intacta esposa do Filho de Deus" (Carta preliminar da Regra de Santa Ângela Merici): ideal exigente, que requer uma incessante tensão para a santidade.

Com base nestas sólidas referências espirituais desenvolveu-se, ao longo dos anos, o estilo missionário com o qual o vosso Instituto deseja servir cada homem, sem distinções de raça nem de religião.

3. Queridas Irmãs! Com liberdade profética e discernimento sábio, sede testemunhas quotidianas do Evangelho, presentes onde as necessidades chamam, capazes de vos distinguir por uma comunhão intensa e por uma cooperação activa com os Pastores da Igreja.

O grande desafio da inculturação pede hoje aos crentes que anunciem a Boa Nova com linguagens e modos compreensíveis aos homens deste tempo. Queridas Ursulinas da Sagrada Família, tendes também à vossa frente uma missão urgente e vastas perspectivas apostólicas. Como a vossa Fundadora, estai prontas a oferecer a vossa existência ao serviço dos pobres; cultivai uma verdadeira paixão educativa pelos doentes e por aqueles que sofrem. Ainda há muitas pessoas que esperam conhecer Jesus e o seu Evangelho! Muitos precisam de descobrir o amor de Deus.

Mas cada uma de vós sabe muito bem que, para poder responder a estas expectativas, é preciso, em primeiro lugar, tender com todas as forças para a santidade, mantendo um contacto ininterrupto com Cristo na oração e na contemplação. Só assim nos tornamos seus mensageiros credíveis, indo ao encontro dos irmãos com aquele espírito de simplicidade e de pureza, que o grande benfeitor da vossa Congregação, o Bispo D. Luigi Bignami, chamava o espírito dos "lírios do campo".

Jesus, José e Maria vos protejam e vos ajudem a realizar os vossos projectos de bem. Sirva-vos de conforto e de apoio também a minha oração, e a Bênção que de coração vos concedo a vós e a todos os que encontrardes no vosso apostolado.


Castelgandolfo, 12 de Julho de 2002.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


À SUPERIORA GERAL DA CONGREGAÇÃO


DAS IRMÃS DE SÃO JOÃO BAPTISTA E


DE SANTA CATARINA DE SENA


À Reverenda Madre

MARIA FLORIANA PASQUALETTO

Superiora-Geral da Congregação
das Irmãs de São João Baptista
e de Santa Catarina de Sena


1. Foi com profundo prazer que tomei conhecimento de que a Congregação das Irmãs de São João Baptista e de Santa Catarina celebra, neste mês de Julho, o seu Capítulo Geral, com o tema: "Da estrutura, uma nova vitalidade do Instituto para o bem da Igreja e da sociedade no presente e no futuro". O importante acontecimento oferece-me a agradável oportunidade de manifestar a minha espiritual proximidade a este Instituto, e de dirigir cordiais palavras de bons votos a si e às Irmãs de hábito eleitas pela Assembleia Capitular, durante a qual se reflectirá sobre o modo de abrir a Congregação a novas perspectivas de desenvolvimento espiritual e apostólico.

Para fazer isto, continuando o caminho até agora percorrido, é vossa intenção voltar às origens do Instituto e revisitar aquela que gostais de chamar a sua "estrutura", isto é, a Regra e as Constituições. Estais justamente persuadidas de que a inspiração originária de Medea Ghiglino Patellani, a qual no final do século XVI se consagrou em Génova à formação integral da juventude, conserva ainda hoje plena actualidade. Assim, da consideração do impulso inicial, desejais tirar estímulo interior e projectar-vos para corajosas metas missionárias. A este propósito, penso nos projectos referentes às duas Províncias da Itália e do Brasil, assim como na recente abertura da vossa Família religiosa à Albânia e à Bolívia.

2. A jovem Medea, profundamente ligada à sua cidade, pôs a sua incipiente obra sob a protecção de São João Baptista, padroeiro de Génova, e de Santa Catarina de Sena: João, que indica Jesus, o Cordeiro de Deus, e Catarina, mulher apostólica, cheia de amor profético a Cristo e à Igreja. Estes dois grandes santos, nos quais via plenamente realizado o seu desejo de pertencer sem reservas a Cristo, foram as suas referências constantes e acompanharam o posterior desenvolvimento do Instituto.

Sob a orientação perita do jesuíta Bernardino Zanoni, a Fundadora propôs-se realizar na vida quotidiana as grandes "lições" dos Exercícios de Santo Inácio de Loyola, procurando incessantemente um sábio equilíbrio entre experiência espiritual pessoal e as exigências da vida comum. A comunhão vivida integralmente e a educação das jovens, tendo em conta a globalidade da pessoa humana, constituíram desde então o centro do vosso carisma. Estou certo de que o Capítulo Geral, graças também à leitura atenta da vossa história, será um tempo favorável para fazer compreender a toda a Família das Irmãs de São João Baptista e de Santa Catarina de Sena mais um passo em frente, adaptando a originária Regra de Vida às novas exigências do nosso tempo, sem atraiçoar minimanente a sua substância.

3. Seja vossa solicitude salvaguardar, antes de mais, a "comunhão", elemento central e, ao mesmo tempo, síntese do vosso carisma. Precisamente no início da Regra, a Fundadora quis colocar o empenho da comunhão: "Devem viver em comum, em tudo" (art. 1 RP). Aquele "em tudo" realça a pertença generosa da pessoa à comunidade religiosa. Significa, ao mesmo tempo, que as actividades nunca devem ser fruto de opções individuais, mas testemunho de uma atmosfera de constante entendimento comunitário.

Esta característica peculiar do vosso carisma corresponde bem a uma das prioridades da nova evangelização, que desejei indicar na Carta apostólica Novo millennio ineunte, isto é, "fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão" (n. 43). A este propósito escrevi: "Antes de programar iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade da comunhão, elevando-a ao nível de princípio educativo" (ibid.). É verdade: o serviço apostólico, no qual resplandece a glória de Deus, brota da comunhão realmente vivida.

Esta perspectiva empenha os membros do Instituto na actualização das Constituições, com um discernimento atento e uma constante referência à vontade da Fundadora, animadas pelo seu mesmo desejo de colaborar com "a Santa Obra da Maior Glória de Deus, que consiste no bem particular e universal das almas redimidas pelo preciosíssimo sangue de Jesus".

Amar Deus e a Igreja: neste mesmo ideal, que era o de Medea Ghiglino Patellani, as suas filhas espirituais não deixarão de inspirar o próprio serviço educativo, inspirando-se constantemente no princípio pedagógico fundamental da unidade da pessoa humana. Assim, fiéis ao carisma das origens e dóceis à acção do Espírito Santo, saberão responder aos desafios do actual momento histórico com opções missionárias abertas aos "sinais dos tempos".

4. Reverenda Madre, ao agradecer ao Senhor a obra generosa que esta Congregação desempenha na Igreja e na sociedade, faço votos para que o Capítulo Geral constitua uma ocasião providencial para um seu amplo incremento, perseverando, mesmo face às dificuldades do tempo presente, no caminho empreendido com total confiança na Providência divina.

Maria, Estrela da nova evangelização, a acompanhe, Reverenda Madre, assim como a todas as Irmãs e obtenha para cada uma de vós, do seu Filho divino, as graças necessárias. Com estes sentimentos, ao implorar a abundância dos dons celestes para os trabalhos do Capítulo, concedo de coração a si, às Capitulares e a toda a Congregação a propiciadora Bênção apostólica.


Castelgandolfo, 11 de Julho de 2002.



VIAGEM APOSTÓLICA À TORONTO,

À CIDADE DA GUATEMALA E À CIDADE DO MÉXICO

XVII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


Aeroporto Internacional Lester B. Pearson, Toronto

Terça-feira 23 de Julho de 2002



Senhor Primeiro-Ministro
Jean Chrétien
Queridos Amigos do Canadá

1. Estou-lhe profundamente reconhecido, Senhor Primeiro-Ministro, pelas suas palavras de boas-vindas, e sinto-me muito honrado pela presença, à minha chegada, do Senhor Primeiro-Ministro do Ontário, do Presidente da Câmara Municipal da grande Cidade de Toronto e de diversos altos representantes do Governo e da sociedade civil. A todos exprimo do íntimo do coração um caloroso "obrigado": obrigado por terdes respondido favoravelmente à ideia de acolher a Jornada Mundial da Juventude no Canadá, e obrigado por tudo aquilo que foi realizado a fim de que isto se tornasse uma realidade.

Queridos habitantes do Canadá, conservo uma recordação muito viva da minha primeira Viagem Apostólica, em 1984, e da breve visita que, em 1987, realizei às populações indígenas na terra de Denendeh. Desta vez, deverei contentar-me com a minha permanência somente em Toronto. Deste lugar, saúdo todos os cidadãos do Canadá. Vós estais presentes na minha prece de reconhecimento a Deus, que cumulou de bênçãos o vosso imenso e maravilhoso País.

2. Os jovens de todas as partes do mundo estão a reunir-se para a Jornada Mundial da Juventude. Com os seus dons de inteligência e de coração, eles representam o futuro do mundo. Mas também trazem consigo os sinais de uma humanidade que, com demasiada frequência, não conhece a paz ou a justiça.

Muitas vidas começam e terminam sem alegria, nem esperança. Este é um dos principais motivos da Jornada Mundial da Juventude. Os jovens estão a congregar-se a fim de se comprometerem, na força da sua fé em Jesus Cristo, em favor da grande causa da paz e da solidariedade humanas.
Obrigado, Toronto! Obrigado, Canadá, por os teres recebido de braços abertos!

3. Na versão francófona do vosso hino nacional "Ó, Canadá!", vós cantais: "Para que o teu braço saiba empunhar a espada, para que saiba carregar a cruz". Os habitantes do Canadá são os herdeiros de um humanismo extraordinariamente rico, graças à associação de numerosos elementos culturais diferentes. Todavia, o núcleo da vossa herança é a concepção espiritual e transcendente da vida, fundamentada na Revelação cristã, que deu um impulso vital ao vosso desenvolvimento como sociedade livre, democrática e solidária, reconhecida no mundo inteiro como paladina dos direitos da pessoa humana e da sua dignidade.

4. Num mundo de grandes tensões sociais e éticas, e de confusão acerca da verdadeira finalidade da vida, os habitantes do Canadá têm um incomparável tesouro a oferecer contanto que preservem aquilo que existe de profundo, de bom e de válido na sua herança. Rezo para que a Jornada Mundial da Juventude ofereça a todos os cidadãos do Canadá uma oportunidade para recordarem os valores que são essenciais para uma vida sadia e para a felicidade humana.

Senhor Primeiro-Ministro e queridos Amigos, que o lema da Jornada Mundial da Juventude ressoe em toda a terra, exortando todos os cristãos a serem "sal da terra e luz do mundo".

Deus vos abençoe a todos!
Deus abençoe o Canadá!

Em inglês, o Papa disse ainda:

Estou-vos muito grato por esta recepção.

E em francês:

Muito obrigado pelo vosso acolhimento. Esperamos por toda a Jornada Mundial da Juventude. Obrigado!



VIAGEM APOSTÓLICA À TORONTO,

À CIDADE DA GUATEMALA E À CIDADE DO MÉXICO

XVII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

FESTA DE ACOLHIMENTO

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


Exhibition Place, Toronto

Quinta-feira 25 de Julho de 2002



Queridos Jovens Amigos

1. Viestes a Toronto de todos os continentes para celebrar a Jornada Mundial da Juventude. Saúdo-vos com alegria e sinceridade! Esperei ansiosamente este encontro, de maneira especial quando, quotidianamente e de todas as partes do mundo, comecei a receber no Vaticano boas notícias acerca de todas as iniciativas que caracterizaram a vossa viagem até aqui. E com frequência, mesmo sem vos encontrar, recomendava-vos, um por um, nas minhas orações ao Senhor. Ele conhece-vos desde sempre e ama-vos a cada um pessoalmente.

É com afecto fraternal que saúdo os Cardeais e Bispos que estão aqui convosco; de modo particular o Bispo D. Jacques Berthelet, Presidente da Conferência dos Bispos Católicos do Canadá, o Cardeal Aloysius Ambrozic, Arcebispo desta Cidade, e o Cardeal James Francis Stafford, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos. A todos, digo-vos: oxalá os contactos com os vossos Pastores vos ajudem a descobrir e estimar cada vez mais a beleza da Igreja, experimentada como comunhão missionária.

2. Ouvindo a longa lista dos países de onde sois oriundos, demos em conjunto, por assim dizer, a volta ao mundo. Atrás de cada um de vós, pude ver o rosto dos jovens da vossa idade, que encontrei durante as minhas viagens apostólicas e que hoje, de alguma forma, são por vós aqui representados. Imaginei-vos a caminho, à sombra da cruz do Jubileu, nesta grandiosa peregrinação da juventude que, passando de continente para continente, deseja apertar o mundo inteiro num abraço de fé e de esperança.

Hoje, esta peregrinação faz uma paragem aqui, nas margens do Lago Ontário, que nos recorda outro lago, o Lago de Tiberíades, em cujas margens o Senhor Jesus dirigiu aos seus primeiros discípulos entre os quais havia provavelmente alguns que eram jovens como vós uma proposta fascinante (cf. Jo Jn 1,35-42).

3. O Papa, que vos quer bem, veio de longe para escutar de novo, juntamente convosco, a palavra de Jesus que ainda nos dias de hoje, como aconteceu com os discípulos naquele dia distante no tempo, pode fazer arder o coração de um jovem e motivar toda a sua existência. Por isso, convido-vos a fazer das várias actividades da Jornada Mundial da Juventude, que há pouco teve início, um período privilegiado em que cada um de vós, queridos jovens e dilectas jovens, se porá à escuta do Senhor, com um coração disponível e generoso, para se tornarem "sal da terra e luz do mundo" (cf. Mt Mt 5,13-16).



VIAGEM APOSTÓLICA À TORONTO,

À CIDADE DA GUATEMALA E À CIDADE DO MÉXICO

XVII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

FESTA DE ACOLHIMENTO

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


Exhibition Place, Toronto

Quinta-feira 25 de Julho de 2002

Queridos Jovens!

1. A página das Bem-aventuranças que acabamos de escutar é a Carta Magna do cristianismo. É com os olhos do coração que revivemos a cena desse dia: uma multidão de pessoas circunda Jesus no monte; são homens e mulheres, jovens e idosos, sãos e doentes, provenientes da Galileia, mas também de Jerusalém, da Judeia, das cidades da Decápole, de Tiro e de Sídon. Todos esperam uma palavra ou um gesto que lhes possa dar conforto e esperança.

Esta tarde, também nós estamos reunidos para nos pormos à escuta do Senhor. É com grande carinho que olho para vós: provindes de várias regiões do Canadá, dos Estados Unidos, da América Central, da América do Sul, da Europa, da África, da Ásia e da Oceânia. Ouvi as vossas vozes alegres, os vossos gritos, os vossos cânticos, e compreendi a expectativa profunda dos vossos corações: vós quereis ser felizes!

Queridos jovens, as propostas que recebeis de todas as partes são numerosas e aliciantes: muitos falam de uma alegria que se pode obter com o dinheiro, com o sucesso e com o poder. Sobretudo, falam-vos de uma alegria que coincidiria com o prazer superficial e transitório dos sentidos.

2. Queridos amigos, ao vosso desejo de jovens de ser felizes, o velho Papa, responde com palavras que não são suas. Elas ressoaram há dois mil anos. Esta tarde nós ouvimo-las de novo: "Bem-aventurados...". A palavra-chave do ensinamento de Jesus é um anúncio de alegria: "Bem-aventurados...".

O homem é feito para a felicidade. Por conseguinte, a vossa sede de felicidade é legítima. Cristo tem a resposta para as vossas expectativas. Ele pede-vos que tenhais confiança nele. A verdadeira alegria é uma conquista, que não se pode obter sem uma luta longa e difícil. Cristo possui o segredo da vitória.

Vós conheceis os antecedentes. O livro do Génesis narra-os: Deus criou o homem e a mulher num paraíso, o Eden, porque queria que eles fossem felizes. Infelizmente o pecado alterou os seus projectos iniciais. Deus não se resignou a este jogo. Enviou o seu Filho à terra a fim de dar ao homem a perspectiva de um céu ainda mais bonito. Deus fez-se homem os Padres da Igreja realçaram-no bem para que o homem pudesse tornar-se Deus.Foi esta a mudança decisiva que a Encarnação deu à história humana.

3. Onde está a luta? A resposta é-nos dada pelo próprio Cristo. "Ele que era de condição divina", escreveu São Paulo, "não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus. Mas... tomando a condição de servo... humilhou-Se a Si mesmo, feito obediente até à morte" (Ph 2,6-8).Trata-se de uma luta até à morte. Cristo viveu esta luta não para si mas para nós. Desta morte desabrocha a vida. O túmulo do Calvário tornou-se o berço da humanidade nova a caminho para a felicidade verdadeira.


Discursos João Paulo II 2002