Discursos João Paulo II 2002

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS VINDOS A ROMA


PARA A CANONIZAÇÃO DE


JOSÉ MARIA ESCRIVÁ DE BALAGUER


Segunda-feira, 7 de Outubro de 2002




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É com alegria que vos dirijo a minha cordial saudação, no dia seguinte ao da Canonização do Beato José Maria Escrivá de Balaguer. Agradeço a Sua Ex.cia D. Javier Echevarría Rodríguez, Prelado do Opus Dei, as palavras com que se fez intérprete de todos os presentes. Saúdo com afecto os numerosos Cardeais, Bispos e Sacerdotes que quiseram participar nesta celebração.
Este encontro festivo reúne uma grande variedade de fiéis, provenientes de muitos países e pertencentes aos mais diversificados ambientes sociais e culturais: sacerdotes e leigos, homens e mulheres, jovens e idosos, intelectuais e operários. Este é um sinal do zelo apostólico que ardia na alma de São José Maria Escrivá.

2. No Fundador do Opus Dei sobressai o amor pela vontade de Deus. Existe um critério seguro de santidade: a fidelidade na realização da vontade divina até às suas últimas consequências. O Senhor tem um projecto para cada um de nós, e a cada um confia uma missão na terra. O Santo nem sequer consegue conceber-se a si mesmo, fora do desígnio de Deus: ele vive somente para o realizar.

São José Maria Escrivá foi escolhido pelo Senhor para anunciar a vocação universal à santidade e para indicar que a vida de todos os dias, as actividades comuns, são um caminho de santificação.

Poder-se-ia dizer que ele foi o santo da normalidade. Com efeito, ele estava convencido de que, para quem vive segundo uma perspectiva de fé, tudo é ocasião de encontro com Deus, tudo se torna estímulo à oração. Considerada assim, a vida quotidiana revela uma grandeza insuspeitável. A santidade coloca-se verdadeiramente ao alcance de todos.

3. Escrivá de Balaguer foi um santo de grande humanidade. Todas as pessoas que o conheceram, independentemente da cultura ou da condição social, não deixaram de o sentir como pai, totalmente consagrado ao serviço dos outros, porque estava persuadido de que cada alma é um tesouro maravilhoso; com efeito, cada homem vale todo o sangue de Cristo. Esta atitude de serviço está patente na sua entrega ao ministério sacerdotal e na magnanimidade com que fomentou muitas obras de evangelização e de promoção humana, em favor dos mais pobres.

O Senhor fez com que ele compreendesse profundamente o dom da nossa filiação divina. Ele ensinou a contemplar o rosto terno de Pai no Deus que nos fala através das mais diversas vicissitudes da vida. Um Pai que nos ama, que continua a acompanhar-nos, passo a passo, a proteger-nos e a compreender-nos, esperando de cada um de nós a resposta do amor. A consideração desta presença paterna, que o acompanha a toda a parte, dá ao cristão uma confiança indefectível. Em todos os momentos, ele deve confiar no Pai celestial. Ele nunca se sente sozinho, nem tem medo. Na Cruz quando ela se lhe apresenta não vê um castigo, mas uma missão confiada pelo próprio Senhor. O cristão é necessariamente optimista, dado que sabe que é filho de Deus em Jesus Cristo.

4. São José Maria Escrivá estava profundamente convencido de que a vida cristã contém uma missão e um apostolado: vivemos no mundo para salvar o mundo com Cristo. Ele amava o mundo de maneira apaixonada, com um "amor redentor" (cf. Catecismo da Igreja Católica, CEC 604). Foi precisamente por este motivo que os seus ensinamentos ajudaram um elevado número de fiéis comuns a descobrirem o poder redentor da fé, a sua capacidade de transformar a terra.

Trata-se de uma mensagem que acarreta consigo abundantes e frutuosas implicações para a missão evangelizadora da Igreja. Ela promove a cristianização do mundo "a partir de dentro", demonstrando que não pode haver conflito entre a lei divina e as exigências do progresso humano autêntico. Este sacerdote santo ensinou que Cristo deve ser o ápice de todas as actividades humanas (cf. Jo Jn 12,32). A sua mensagem impele o cristão a agir em lugares onde o futuro da sociedade está a ser definido. Da presença activa dos leigos em todas as profissões e nas mais avançadas fronteiras do desenvolvimento, só pode derivar uma contribuição positiva para o revigoramento da harmonia entre a fé e a cultura, que é uma das maiores necessidades do nosso tempo.

5. São José Maria Escrivá consagrou a sua vida ao serviço da Igreja. Nos seus escritos, os sacerdotes, os leigos que seguem os caminhos mais diversificados, os religiosos e as religiosas encontram uma fonte de inspiração estimulante. Estimados Irmãos e Irmãs, imitando-o com uma abertura do espírito e do coração, na disponibilidade a servir as Igrejas particulares, vós haveis de contribuir para dar força à "espiritualidade de comunhão", que a Carta Apostólica Novo millennio ineunte indica como uma das finalidades mais importantes para a era contemporânea (cf. NMI, nn. 42-45).

É-me grato concluir, com uma referência à solenidade litúrgica do dia de hoje, a festa de Nossa Senhora do Rosário. São José Maria Escrivá escreveu um bonito opúsculo intitulado O Santo Rosário, que se inspira na infância espiritual, na disposição de espírito própria daqueles que desejam alcançar um abandono total à vontade divina. É do íntimo do coração que vos confio todos à protecção maternal de Maria, assim como as vossas famílias e o vosso apostolado, agradecendo-vos a todos a vossa presença aqui.

6. Agradeço uma vez mais a todos os presentes, de maneira especial às pessoas que vieram de lugares distantes. Caríssimos Irmãos e Irmãs, convido-vos a oferecer em toda a parte o testemunho de fé, em conformidade com o exemplo e o ensinamento do vosso Santo Fundador. Acompanho-vos com a minha oração e, de coração, abençoo-vos a todos, as vossas famílias e as vossas actividades.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE A AUDIÊNCIA CONCEDIDA


A SUA BEATITUDE TEOCTISTO


PATRIARCA DA IGREJA ORTODOXA ROMENA


Segunda-feira, 7 de Outubro de 2002



Tenho a alegria de dar as boas-vindas ao Patriarca ortodoxo da Roménia, Sua Beatitude Teoctisto, e aos ilustres componentes da sua Delegação, que o acompanham a Roma para uma visita, que tem início hoje. Sua Beatitude o Patriarca acabou de chegar e desejei que a sua visita começasse no âmbito desta Audiência geral, na presença de tantos fiéis, reunidos de todas as partes do mundo.

Beatitude e estimado Irmão, Vossa Eminência realiza esta visita, animado pelos sentimentos e expectativas que são também meus. Encontrarmo-nos de novo junto do túmulo dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo é sinal da nossa comum vontade de superar os obstáculos, que ainda impedem o restabelecimento da plena comunhão entre nós.

Também a actual visita é um acto purificador das nossas memórias e divisões, de diálogo muitas vezes animado, de acções e de palavras, que levaram a dolorosas separações. Mas o futuro não é um túnel escuro e desconhecido. Ele já está iluminado pela graça de Deus; sobre ele, a luz vivificante do Espírito já lança um reflexo confortador. Esta certeza não prevalece apenas sobre qualquer desencorajamento humano, cansaço que por vezes limita os nossos passos; ela convence-nos sobretudo de que para Deus nada é impossível, e que por conseguinte, se dele formos dignos, Ele conceder-nos-á também o dom da unidade plena.

Queridos irmãos aqui presentes, confio às vossas orações a visita a Roma de Sua Beatitude Teoctisto e desejo de coração que ele encontre em todos os que o receberem em meu nome os mesmos sentimentos com que o recebo hoje. Oxalá estes dias alimentem o nosso diálogo, nutram as nossas esperanças e façam com que nos tornemos mais conscientes daquilo que nos une, das nossas comuns raízes de fé, do nosso património litúrgico, dos Santos e das Testemunhas que temos em comum. Que o Senhor se digne fazer-nos experimentar mais uma vez como é bonito e doce invocá-lo juntos.

Agradecemos a Sua Beatitude, o Patriarca, cuja visita começa hoje, desejando-lhe uma boa semana em Roma. Queremos oferecer a Sua Beatitude uma grande hospitalidade. As pessoas que participam neste primeiro encontro, são os membros do Opus Dei. Vieram para agradecer a canonização do seu fundador, Escrivá de Balaguer. Penso que eles estão muito felizes. No final da audiência, encontrar-se-ão e ouvirão Sua Beatitude. Agradeço-lhe sentidamente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA COMISSÃO


PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA


Sábado, 9 de Outubro de 2002

Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Sinto-me feliz por vos receber, no final dos trabalhos da IV Congregação Plenária da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja. Apresento a todos uma cordial saudação, juntamente com sentimentos de profunda gratidão pelo serviço até agora desempenhado.

O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, para D. Francesco Marchisano, Presidente da Comissão, ao qual agradeço os sentimentos expressos em nome de todos e a síntese eficaz da actividade desempenhada. O meu agradecimento torna-se extensivo aos Membros, aos Oficiais e aos vários peritos, que oferecem generosamente a sua colaboração intensa e proveitosa. Desejo confirmar a todos o meu apreço pelo que esta Comissão está a realizar não só em defesa e valorização da rica herança artística, monumental e cultural acumulada pela comunidade cristã ao longo de dois milénios, mas também para fazer compreender melhor a fonte espiritual da qual ela surgiu.

A Igreja considerou sempre que, através da arte nas suas várias expressões se reflecte, de alguma forma, a beleza infinita de Deus e a mente humana é quase naturalmente orientada para Ele. Graças também a este contributo, como recorda o Concílio Vaticano II, "a glória de Deus manifesta-se melhor e a pregação do Evangelho torna-se mais transparente à inteligência dos homens" (Gaudium et spes, GS 62).

2. A Plenária que acabastes de concluir dedicou a sua atenção ao tema: "Os bens culturais para a identidade territorial e para o diálogo artístico-cultural entre os povos". Nos nossos dias, uma sensibilidade mais acentuada à conservação e ao "usufruto" dos recursos artísticos e culturais está a caracterizar as políticas das administrações públicas e as numerosas iniciativas de instituições privadas.

De facto, caracteriza o nosso tempo a consciência de que arte, arquitetura, arquivos, bibliotecas, museus, música e teatro sacro não constituem apenas um depósito de obras histórico-artísticas, mas um conjunto de bens dos quais toda a comunidade pode usufruir. Por conseguinte, é com razão que a vossa Comissão alargou progressivamente as suas intervenções a nível mundial, consciente de que os bens culturais eclesiásticos constituem um terreno favorável para um confronto inter-cultural fecundo. A esta luz, é importante como nunca que seja garantida a tutela jurídica deste património com oportunas orientações e disposições, que tenham em consideração as exigências religiosas, sociais e culturais das populações locais.

3. Gostaria de recordar aqui, com sentimentos de profunda gratidão, o contributo das circulares e das orientações oferecidas em conclusão das Congregações Plenárias periódicas da vossa Comissão. Com o tempo, apercebemo-nos de como é indispensável colaborar efectivamente com as administrações e as instituições civis a fim de criar juntos, cada qual no que é da sua competência, sinergias operativas eficazes em defesa e salvaguarda do património artístico universal. A Igreja tem grande interesse pela valorização pastoral do seu tesouro artístico. De facto, ela sabe bem que para transmitir todos os aspectos da mensagem que lhe foi confiada por Cristo, precisa de maneira particular da mediação da arte (cf. João Paulo II, Carta aos Artistas, 12).

A natureza orgânica dos bens culturais da Igreja não permite separar o seu usufruto estético da finalidade religiosa procurada pela acção pastoral. Por exemplo, o edifício sagrado atinge a sua perfeição "estética" precisamente durante a celebração dos mistérios divinos, visto que é precisamente naquele momento que ele resplandece no seu significado mais verdadeiro. Os elementos da arquitectura, da pintura, da escultura, da música, do canto e das luzes fazem parte do único conjunto que acolhe pelas próprias celebrações litúrgicas a comunidade dos fiéis, constituída por "pedras vivas" que formam um "edifício espiritual" (cf. 1P 2,5).

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs! A Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja presta, desde há 12 anos, um precioso serviço à Igreja. Encorajo-vos a prosseguir o vosso empenho, envolvendo cada vez mais todos os que se empenham em revitalizar o nosso património histórico-artístico. Através da vossa acção, seja intensificado um diálogo fecundo com os artistas contemporâneos, favorecendo com todos os meios o encontro e o abraço entre a Igreja e a arte. A este propósito, na Carta aos Artistas, eu recordava que "em contacto com as obras de arte, a humanidade de todos os tempos também a de hoje espera ser iluminada sobre o próprio caminho e sobre o seu destino" (n. 14).

A Igreja deseja oferecer uma semente de esperança que supere o pessimismo e a desorientação também através dos bens culturais, que podem representar o fermento de um novo humanismo no qual enraizar, de modo mais eficaz, a nova evangelização.

Com estes sentimentos, ao invocar a intercessão materna de Maria, a Tota pulchra, concedo de corção a vós a às pessoas queridas a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DO GABÃO


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


: Quinta-feira, 10 de Outubro de 2002
: Senhor Embaixador!

1. É com prazer que dou as boas-vindas a Vossa Excelência na ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República do Gabão junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe, Excelência, as palavras cordiais que acaba de me dirigir assim como as gentis saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor El Hadj Omar Bongo, Presidente da República do Gabão. Ficar-lhe-ia grato se se dignar transmitir-lhe a certeza dos meus votos de bem-estar e de prosperidade que formulo, em troca, para a sua pessoa e para todo o povo do Gabão, pedindo ao Altíssimo que conceda a todos viver em paz e no entendimento cordial.

2. Vossa Excelência acaba de me comunicar a vontade dos Responsáveis do seu País de prosseguir os seus esforços com vista a promover estruturas políticas, económicas e sociais que hão-de permitir a edificação de uma sociedade cada vez mais fraterna e pacífica. Alegro-me com as disposições do seu Governo, para se pôr cada vez mais ao serviço de todos os habitantes do País, e com o seu desejo de participar activamente na concórdia entre as diferentes nações que compõem a África. Visto que o Continente continua a sofrer duramente diversos conflitos que o martirizam, lanço um novo e insistente apelo para que todos os africanos se mobilizem para trabalharem juntos, como irmãos, a fim de fazerem das suas terras lugares habitáveis, onde cada qual possa beneficiar da riqueza nacional. É importante que todos os responsáveis pelo destino das nações africanas se dediquem a criar as condições para um desenvolvimento integral e solidário, que esteja activamente ao serviço da causa da paz. Nesta perspectiva, é direito de toda a comunidade nacional poder participar na vida cívica, para que seja consolidado o estado de direito e as instituições democráticas, que devem favorecer a solicitude pelo serviço e pela gestão honesta do bem comum, promover o respeito das pessoas e das comunidades étnicas, assim como a defesa dos mais pobres e da família. Tudo isto contribui em grande medida para a estabilidade política de um país e de um continente.

Numerosos países africanos continuam a sofrer de maneira endémica situações de pobreza que desfiguram as pessoas e as tornam incapazes de enfrentar as suas necessidades e as de quantos estão sob a sua responsabilidade, hipotecando a longo prazo o futuro das comunidades nacionais.

Por conseguinte, convido as Autoridades legítimas dos países a prosseguir a luta contra todas as formas de pobreza, que arruínam a esperança dos indivíduos e dos povos, alimentando também a violência e os extremismos de todas as espécies. Neste espírito, faço ardentes votos por um novo impulso na cooperação internacional, que deve ser considerado em termos de cultura e de solidariedade, a fim de lutar contra os efeitos negativos relacionados com a mundialização. "Como fermento de paz, esta cooperação não pode limitar-se à ajuda e à assistência [...]. Ao contrário, ela deve manifestar-se num empenho concreto e tangível de solidariedade, que tenha em vista fazer com que os pobres sejam os agentes do seu desenvolvimento e que permita ao maior número possível de pessoas exercer, nas circunstâncias económicas e políticas concretas nas quais vivem, a criatividade própria da pessoa humana, da qual depende também a riqueza das nações" (Discurso à Organização das Nações Unidas por ocasião do Cinquentenário da sua fundação, 5 de Outubro de 1995, n. 13). Para promover cada vez mais esta ética da solidariedade e da promoção humana, faço ardentes votos para que a Comunidade internacional prossiga os seus esforços para apoiar, sobretudo no que se refere à dívida dos Países da África, iniciativas locais que envolvam a população, acompanhando a realização de projectos, graças à presença de pessoas qualificadas, que se empenhem na formação dos protagonistas e que poderão verificar que os objectivos sejam realmente alcançados.

3. Durante os últimos anos, o diálogo entre a Santa Sé e o Estado do Gabão foi intensificado. Alegro-me profundamente por isto, observando que a cooperação já deu frutos, sobretudo com a assinatura e com a ratificação do "Acordo entre a Santa Sé e a República do Gabão acerca dos princípios e determinadas disposições jurídicas relativas às suas relações e à sua colaboração", acordo que tem por finalidade dar um quadro jurídico à Igreja e às suas actividades no seu País.

Congratulo-me pelos esforços empreendidos, que permitem à comunidade eclesial ser cada vez mais parte activa na vida de todo o povo gabonês; ela deseja participar plenamente na edificação de uma nação próspera e fraterna, fundada nos valores humanos e espirituais, no respeito do que lhe é específico e de acordo com as próprias perspectivas.

Desejo de igual modo realçar a importância do Acordo assinado recentemente entre a Santa Sé e o Gabão sobre o estatuto do Ensino católico. Ao propor às novas gerações uma educação integral, a Igreja deseja dar de modo específico um contributo eficaz para a formação humana, espiritual, moral e cívica dos jovens, dos quais dependerá no futuro a orientação e as decisões acerca da Nação, favorecendo desta forma o progresso total dos indivíduos e o desenvolvimento harmonioso da sociedade, e abrindo o coração dos jovens aos seus irmãos e irmãs que os rodeiam.

5. Permita-me, Senhor Embaixador, dirigir por seu intermédio as minhas cordiais saudações aos Bispos, aos sacerdotes, aos religiosos e religiosas, e a toda a comunidade católica do Gabão.

Convido-os, em nome da esperança que receberam de Cristo, a tornarem-se artífices de paz sempre mais empenhados na vida da cidade e a trabalhar, num espírito de diálogo e fraternidade, para edificar uma sociedade cada vez mais fraterna. Oxalá eles se recordem de que devem dar um testemunho dos valores humanos e evangélicos, que sirvam de exemplo para todos na vida pessoal e social! Desta forma, glorificarão Cristo Salvador do homem.

5. No final do nosso encontro, no momento em que Vossa Excelência inicia a sua missão, apresento-lhe os meus melhores votos para a nobre tarefa que o aguarda. Garanto-lhe que encontrará sempre um acolhimento atento e uma compreensão cordial junto dos meus colaboradores.

Invoco de todo o coração sobre Vossa Excelência, sobre os seus colaboradores, a sua família, e sobre o povo gabonês e os seus Dirigentes, a abundância das Bênçãos divinas.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO "CONGRESSO


CATEQUÉTICO INTERNACIONAL"


NO X ANIVERSÁRIO DO CATECISMO


DA IGREJA CATÓLICA


: Sexta-feira, 11 de Outubro de 2002

1. Sinto-me particularmente feliz por intervir neste Congresso Internacional, convocado para celebrar o décimo aniversário da publicação da edição original do Catecismo da Igreja Católica e o quinto aniversário da promulgação da sua edição típica latina.

Ao mesmo tempo, nesta importante assembleia, desejam-se recordar também outros acontecimentos que caracterizaram, nestes últimos decénios, a vida catequética eclesial: o XXV aniversário do desenvolvimento, em 1977, da IV Assembleia geral do Sínodo dos Bispos dedicada à catequese, e o V aniversário da publicação, realizada em 1997, da nova edição do Directório Geral para a Catequese. Mas sobretudo, é-me grato realçar que precisamente há quarenta anos, o beato João XXIII inaugurava solenemente o Concílio Ecuménico Vaticano II: o Catecismo refere-se a ele constantemente, a ponto que se poderia chamá-lo justamente o Catecismo do Vaticano II. Os textos conciliares constituem uma "bússola" certa para os crentes do terceiro milénio.

2. Agradeço do fundo do coração ao Senhor Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, as palavras com as quais introduziu este nosso encontro e apresentou o vosso trabalho, e ao Senhor Cardeal Darío Castrillón Hoyos, Prefeito da Congregação para o Clero, por ter, de comum entendimento, promovido e presidido a este Congresso.

Dirijo-vos também uma saudação cordial e agradecida a vós, venerados Irmãos no Episcopado, e a todos vós, representantes das várias Igrejas locais, empenhados, de várias formas mas com o mesmo entusiasmo e coragem, nos vários Organismos internacionais e nacionais, instituídos para a promoção da catequese.

3. Nestes dias vós rezastes, reflectistes e dialogastes juntos sobre a forma de realizar, no contexto de hoje, aquela que é a ansiedade perene e sempre nova da Igreja católica: anunciar a todos a boa nova que Cristo nos confiou: "Alimentar-nos com a Palavra, para sermos "servos da Palavra" no empenho da evangelização: euntes in mundum universum".

Durante estes intensos dias de trabalho, procurastes realizar quanto está escrito na Carta apostólica Novo millennio ineunte: "Abrir o coração à vaga da graça e permitir que a palavra de Cristo passe através de nós com todo o seu poder: Duc in altum!" (n. 38).

Acolher nós próprios e partilhar com os outros o anúncio de Cristo, que "é sempre o mesmo ontem, hoje e sempre" (He 13,8): eis a ideia fixa que deve caracterizar a vida de cada cristão e Comunidade eclesial.

4. Para este terceiro milénio, que acabou de se iniciar, o Senhor ofereceu-nos um instrumento particular para o anúncio da sua Palavra: o Catecismo da Igreja Católica, por mim aprovado há dez anos.

Ainda hoje ele conserva a sua realidade de dom privilegiado, posto à disposição de toda a Igreja Católica, e também oferecido "a cada homem que nos pergunta a razão da nossa esperança e que deseja conhecer aquilo que a Igreja Católica crê", como escrevi na Constituição apostólica Fidei depositum, por ocasião da publicação da edição original do Catecismo.

Como exposição completa e integral da verdade católica, da doctrina tam de fide quam de moribus válida sempre e para todos, ele, com os seus conteúdos essenciais e fundamentais, permite conhecer e aprofundar, de maneira positiva e serena, aquilo que a Igreja Católica crê, celebra, vive e reza.

Ao apresentar a doutrina católica de modo genuíno e sistemático, mesmo na sua sintetização (non omnia sed totum), o Catecismo reconduz todos os conteúdos da catequese ao seu centro vital, que é a pessoa de Cristo Senhor. O amplo espaço dado pela Bíblia à Tradição Ocidental e Oriental da Igreja, aos Santos Padres, ao Magistério, à hagiografia; a centralidade garantida ao rico conteúdo da fé cristã; a interconexão das quatro partes, que constituem, de maneira complementar, a estrutura do texto e que realçam o estreito vínculo entre lex credendi, lex celebrandi, lex agendi, lex operandi, são apenas alguns dos méritos deste Catecismo, que nos permite mais uma vez admirar-nos diante da beleza e da riqueza da mensagem de Cristo.

5. Também não devemos esquecer a sua natureza de texto magisterial colegial. De facto, sugerido pelo Sínodo episcopal de 1985, redigido pelos Bispos como fruto da consulta de todo o Episcopado, por mim aprovado na versão original de 1992 e promulgado na edição típica latina de 1997, destinado antes de mais aos Bispos, como mestres autorizados da fé católica e primeiros responsáveis da catequese e da evangelização, o texto está destinado a tornar-se cada vez mais um instrumento válido e legítimo ao serviço da comunhão eclesial, com o grau de autoridade, autenticidade e veracidade que é próprio do Magistério ordinário pontifício.

De resto, a boa aceitação e a ampla difusão, que ele teve neste decénio nas várias partes do mundo, também em âmbitos não católicos, são um testemunho positivo da sua validade e actualidade perene.

Tudo isto não deve fazer diminuir, mas ao contrário, deve intensificar o nosso empenho renovado por um seu acolhimento mais jubiloso e um seu uso melhor na Igreja e no mundo, como também foi amplamente desejado e concretamente indicado durante os trabalhos deste Congresso.

6. O Catecismo está chamado a desempenhar um papel particular em relação à elaboração dos catecismos locais, para os quais ele se propõe como "ponto de referência" segura e autêntica no delicado empenho de mediação a nível local do único e perene depósito da fé. Com efeito, é necessário conjugar ao mesmo tempo, com a ajuda do Espírito Santo, a maravilhosa unidade do mistério cristão com a multiplicidade das exigências e das situações dos destinatários do anúncio.

Para realizar este objectivo, desde há cinco anos está à disposição também a nova edição do Directório Geral para a Catequese. Como revisão do Directório de 1971 querido pelo Concílio Vaticano II, o novo texto constitui um documento importante para orientar e estimular a renovação catequética, sempre indispensável para toda a Igreja.

Como está muito bem indicado no seu Prefácio, ele, assumindo os conteúdos da fé propostos pelo Catecismo da Igreja Católica, oferece, sobretudo, normas e critérios para a sua apresentação, assim como os princípios de base para a elaboração dos Catecismos para as Igrejas particulares locais, formulando de igual modo as orientações essenciais e as coordenadas fundamentais de uma sadia e rica pedagogia da fé, inspirada na pedagogia divina e atenta às múltiplas e complexas situações dos destinatários do anúncio catequético, imersos num contexto cultural misto.

7. Desejo cordialmente que os vossos trabalhos contribuam para dar um posterior realce àquela prioridade pastoral que é uma catequese clara e motivada, integral e sistemática e, quando for necessário, também apologética. Uma catequese que consiga ficar impressa na mente e no coração, de maneira a alimentar a oração, imprimir um estilo à vida, orientar o comportamento dos fiéis.

Invoco sobre os participantes no Congresso e sobre os vossos trabalhos a protecção da Virgem Maria, a perfeita "serva da Palavra", que caminha sempre diante de nós para nos indicar o Caminho, para manter os nossos olhos fixos na Verdade e obter-nos todas as graças de Vida, que brota unicamente de Jesus Cristo seu Filho e nosso Senhor.

Com a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE O ENCONTRO COM O PATRIARCA TEOCTISTO


Sábado, 12 de Outubro de 2002






Beatitude, estimado Irmão

1. É com profunda alegria que o recebo neste nosso encontro, que nos permite de novo saudar-nos um ao outro com sentimentos de caridade (cf. 1P 5,14), antes de nos encontrarmos juntos amanhã diante do Senhor, durante a Liturgia eucarística em São Pedro. O encontro de hoje permite-nos um intercâmbio mais directo e pessoal, e dá forma concreta a uma promessa: continuar juntos, como fizemos nestes dias, a apascentar o rebanho que Deus nos confiou, fazendo com que fôssemos modelos da grei (cf. Ibid., 5, 2-3), para que ela nos siga com docilidade ao longo do caminho difícil, mas tão rico de alegria, de unidade e de comunhão (cf. Carta encíclica Ut unum sint UUS 2).

Nesta feliz circunstância, o meu pensamento volta com gratidão aos dias do Concílio Vaticano II, no qual eu participei como Pastor de Cracóvia. Nos debates daquela assembleia conciliar centrada no mistério da Igreja, foi inevitável constatar com sofrimento a divisão que perdurava, havia quase um milénio, entre as veneráveis Igrejas Orientais e Roma, assim como foi evidenciado claramente que os numerosos séculos de incompreensões e mal-entendidos de ambas as partes tinham provocado injustiças e um vazio de amor. O Papa João XXIII, já no cumprimento dos seus cargos de Delegado Apostólico em Sófia e em Constantinopla, tinha lançado as bases para uma compreensão mais profunda e um maior respeito recíproco.

2. O Concílio resdescobriu que a rica tradição espiritual, litúrgica, disciplinar e teológica das Igrejas do Oriente pertence ao património comum da Igreja una, santa, católica e apostólica (cf. Unitatis redintegratio, UR 16); além disso, ele realçou a necessidade de conservar em relação a essas Igrejas aquelas relações fraternas que devem existir entre as Igrejas locais, assim como entre as Igrejas irmãs (Ibid., 14).

Na conclusão dos trabalhos do Concílio, com um gesto altamente significativo, realizado ao mesmo tempo em Roma na Basílica de São Pedro e em Constantinopla, foram canceladas da memória da Igreja as condenações recíprocas de 1054. Entre o meu predecessor, o Papa Paulo VI, e o Patriarca Ecuménico Atenágoras, já tinha sido realizado naquela época um encontro inesquecível, e tinha começado entre eles um importante intercâmbio epistolar, que justamente tem o nome de Tomos Agapis.

A partir de então, a nossa comunhão, e penso poder dizer a nossa amizade, foi aprofundada graças a um recíproco intercâmbio de visitas e de mensagens. Recordo com alegria a primeira visita que Vossa Beatitude realizou a Roma em 1989, e a minha viagem a Bucareste em 1999. Com o decorrer do tempo, o intercâmbio proveitoso entre as nossas Igrejas verificou-se também a outros níveis: entre Bispos, teólogos, sacerdotes, religiosos e estudantes. Em 1980 foram iniciados os trabalhos de uma Comissão Mista Internacional para o diálogo teológico entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa no seu conjunto, e ela pôde elaborar e publicar vários documentos.

Trata-se de textos dos quais sobressai toda a amplitude da nossa comunhão de fé no mistério da Eucaristia, dos Sacramentos, do Sacerdócio e do ministério episcopal na sucessão apostólica.

À luz desta sua função de importância fundamental, seria desejável que a Comissão retomasse quanto antes a sua investigação.

3. Profundamente gratos ao Senhor por tudo o que já realizámos juntos, não podemos contudo negar o aparecimento de algumas dificuldades ao longo do nosso caminho em comum. Nos anos 1989/90, depois de quarenta anos de ditadura comunista, a Europa do Leste pôde de novo saborear a liberdade. Também as Igrejas orientais em plena comunhão com a sede de Pedro, que tinham sido duramente perseguidas e brutalmente reprimidas, reencontraram o seu lugar na vida pública.

Isto deu origem a tensões, e fazemos votos para que sejam superadas num espírito de justiça e de amor. A paz da Igreja é um bem tão grande, que cada um deve estar preparado para realizar sacrifícios para a sua consecução. Estamos plenamente confiantes de que Vossa Beatitude saberá defender a causa da paz com inteligência, sabedoria e amor. Ao percorrer este caminho, virão em nossa ajuda e acompanhar-nos-ão as numerosas testemunhas que, em lugares e tempos diferentes, deram o seu exemplo luminoso.

4. Ao dirigir, com sentimentos de profunda gratidão, o olhar para o caminho sobre o qual o Espírito de Deus nos guiou ao longo dos últimos decénios, sinto surgir em mim também uma pergunta: como havemos de prosseguir? Quais poderão ser os nossos próximos passos para alcançar finalmente a comunhão plena? Não há dúvida de que, também no futuro, deveremos continuar pelo caminho comum do diálogo da verdade e do amor.

Prosseguir o diálogo da verdade significa tentar esclarecer e superar as diferenças que ainda existem, multiplicando os intercâmbios e as reflexões a nível teológico. O objectivo é o de alcançar, à luz do sublime modelo da Santíssima Trindade, uma unidade que não implique nem absorção nem fusão (cf. Slavorum Apostoli, 27), mas que respeite a legítima diferença entre as diversas tradições, que são parte integrante da riqueza da Igreja.

Temos princípios de comportamento, que foram formulados em textos comuns e que, para a Igreja católica, ainda são válidos. Também nós estamos preocupados perante o proselitismo de novas comunidades ou movimentos religiosos, não historicamente radicados, que invadem países e regiões onde se encontram presentes as Igrejas tradicionais e onde, desde há séculos, é proclamado o anúncio do Evangelho. Também a Igreja católica faz a triste experiência de tudo isto em diversas partes do mundo.

Por seu lado, a Igreja católica reconhece a missão que as Igrejas ortodoxas são chamadas a desempenhar nos países onde estão enraízadas há séculos. Ela não deseja fazer outra coisa senão ajudar e colaborar nesta missão, e poder desempenhar a sua tarefa pastoral em relação aos seus fiéis e a quantos a ela se dirigem livremente. Como comprovação desta atitude, a Igreja católica procurou ajudar a missão das Igrejas ortodoxas nos seus países de origem, assim como a actividade pastoral das numerosas comunidades que vivem na diáspora ao lado das comunidades católicas. Contudo, se tiverem que surgir problemas ou incompreensões, é necessário enfrentá-los através de um diálogo fraterno e franco, procurando soluções que possam empenhar reciprocamente as duas partes. A Igreja católica está sempre aberta a este diálogo para dar juntos um testemunho cristão cada vez mais convincente.

Prosseguir o diálogo do amor significa continuar a promover o intercâmbio e o encontro pessoal entre Bispos, sacerdotes e leigos, entre centros monásticos e estudantes de teologia. Sim, penso que deveríamos encorajar sobretudo o encontro dos jovens, porque eles têm sempre a curiosidade de conhecer mundos diferentes dos seus, de se abrirem a uma dimensão mais ampla. Por conseguinte, a nossa tarefa é extirpar os velhos preconceitos e preparar um futuro novo no sinal da paz reciprocamente concedida.

5. Há outro aspecto que me parece interessante. Isto é, pergunto-me se as nossas relações se tornaram suficientemente profundas e maduras para nos permitir, com a graça de Deus, dar-lhes uma firme estrutura institucional, de maneira a encontrar também formas estáveis de comunicação e de intercâmbio regular e recíproco de informações com cada uma das Igrejas ortodoxas, e a nível da Igreja católica e da Igreja ortodoxa no seu conjunto. Ficaria grato se esta questão pudesse ser objecto de uma reflexão séria durante o diálogo futuro, e se pudessem ser sugeridas soluções construtivas neste sentido.

Estamos conscientes de que somos apenas débeis instrumentos nas mãos de Deus. Só o Espírito de Deus nos pode dar a plena comunhão. Por isso é importante anunciá-l'O com uma intensidade cada vez maior, para que Ele nos conceda paz e unidade. Como Maria e os Apóstolos, reunamo-nos todos e rezemos pela vinda do Espírito do amor e da unidade. E prossigamos a nossa peregrinação comum rumo à unidade visível, confiantes de que Ele orienta os nossos passos.




Discursos João Paulo II 2002