DIscursos João Paulo II 2003

VIAGEM APOSTÓLICA À ESPANHA


SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO COMEÇO DA VIGÍLIA DE ORAÇÃO COM OS JOVENS


3 de Maio de 2003


Queridos jovens, queridos amigos: estou de novo convosco. Conhecemo-nos de outros encontros, como o do Canadá, em Toronto. Abraço cada um de vós.

1. Saúdo-vos com afecto, jovens de Madrid e da Espanha! Muitos de vós viestes de longe, de todas as dioceses e regiões do País e da América e de outros Países do mundo. Estou profundamente emocionado pela vosso caloroso e cordial acolhimento. Confesso-vos que desejava muito este encontro convosco.

Saúdo-vos e repito-vos as mesmas palavras que dirigi aos jovens no Estádio de Santiago Bernabéu, durante a minha primeira visita à Espanha, há mais de vinte anos: "Vós sois a esperança da Igreja e da sociedade. [...] Continuo a ter esperança nos jovens, em vós" (3 de Novembro de 1982, n. 1).

Abraço-vos com grande afecto, e juntamente convosco saúdo também os Bispos, os sacerdotes e demais colaboradores pastorais que vos acompanham no vosso caminho de fé.
Agradeço a presença de Suas Altezas Reais, o Príncipe das Astúrias e dos Duques de Palma, assim como das Autoridades do Governo espanhol.

Desejo agradecer também as amáveis palavras de boas-vindas que, em nome de todos os presentes, me dirigiram Mons. Braulio Rodríguez, Presidente da Comissão Episcopal do Apostolado Secular e os jovens Margarida e José. Saúdo também D. Manuel Estepa, Arcebispo Castrense, e as Autoridades Militares que nos acolhem nesta Base Aérea.

2. Queridos jovens, na vossa existência deve brilhar a graça de Deus, a mesma que resplandeceu em Maria, a cheia de graça.

Em grande sintonia quisestes, nesta vigília, meditar os mistérios do Rosário realizando a antiga máxima espiritual: "Até Jesus por Maria!". Sem dúvida, no Rosário aprendemos de Maria a contemplar a beleza do rosto de Cristo e a experimentar a profundidade do seu amor. Portanto, ao começar esta oração, dirijamos o olhar para a Mãe do Senhor, e peçamos-lhe que nos guie para o seu Filho Jesus:

"Rainha do céu, alegra-te!

Porque Aquele, que mereceste levar no teu seio, ressuscitou! Aleluia!



VIAGEM APOSTÓLICA À ESPANHA


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA VIGÍLIA DE ORAÇÃO COM OS JOVENS ESPANHÓIS


Madrid, 3 de maio de 2003




1. Guiados pela mão da Virgem Maria e acompanhados pelo exemplo e pela intercessão dos novos Santos, percorremos na oração vários momentos da vida de Jesus.

Com efeito, o Rosário na sua simplicidade e profundidade, é um verdadeiro compêndio do Evangelho e guia para o próprio coração da mensagem cristã: "Amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jn 3,16).

Maria, além de ser a Mãe próxima, discreta e compreensiva, é a melhor Mestra para chegar ao conhecimento da verdade através da contemplação. O drama da cultura actual é a falta de interioridade, a ausência de contemplação. Sem interioridade a cultura é carente de interioridade, é como um corpo que não encontrou a sua alma. O que faz a humanidade sem alma?

Lamentavelmente, conhecemos muito bem a resposta. Quando falta o espírito contemplativo não se defende a vida e adultera-se tudo o que é humano. Sem interioridade o homem moderno põe em perigo a sua própria integridade.

2. Queridos jovens, convido-vos a fazer parte da "Escola da Virgem Maria". Ela é modelo insuperável de contemplação e exemplo admirável de interioridade fecunda, alegre e enriquecedora. Ela ensinar-vos-á a nunca separar a acção da contemplação, contribuindo assim melhor para tornar realidade um grande sonho: o nascimento da nova Europa do espírito. Uma Europa fiel às suas raízes cristãs, que não esteja fechada em si mesma mas aberta ao diálogo e à colaboração com os outros povos da terra; uma Europa consciente de estar chamada a ser farol de civilização e estímulo de progresso para o mundo, decidida a juntar os seus esforços e a sua criatividade ao serviço da paz e da solidariedade entre os povos.

3. Amados jovens, sabeis bem como me preocupa a paz no mundo. A espiral da violência, o terrorismo e a guerra provoca, também nos nossos dias, ódio e morte. A paz sabemo-lo é antes de tudo um dom do Alto que devemos pedir com insistência e que, além disso, devemos construir entre todos mediante uma profunda conversão interior. Por isso, hoje desejo pedir-vos que sejais realizadores e artífices de paz. Respondei à violência cega e ao ódio desumano com o poder fascinante do amor. Vencei a inimizade com a força do perdão. Mantende-vos longe de qualquer forma de nacionalismo exacerbado, de racismo e de intolerância. Testemunhai com a vossa vida que as ideias não se impõem, mas se propõem. Nunca vos deixeis desanimar pelo mal! Para isso tendes necessidade da ajuda da oração e do conforto que brota de uma amizade íntima com Cristo. Só assim, vivendo a experiência do amor de Deus e irradiando a fraternidade evangélica, podereis ser os construtores de um mundo melhor, autênticos homens e mulheres pacíficos e pacificadores.

4. Amanhã terei a alegria de proclamar cinco novos santos, filhos e filhas desta nobre Nação e desta Igreja. Eles "foram jovens como vós, cheios de energia, de entusiasmo e vontade de viver. O encontro com Cristo transformou as suas vidas [...]. Por isso, foram capazes de atrair outros jovens, seus amigos, e de criar obras de oração, de evangelização e de caridade que ainda existem" (Mensagem dos Bispos espanhóis por ocasião da viagem do Santo Padre, 4).

Queridos jovens, ide com confiança ao encontro de Jesus, e, como os novos santos, não tenhais medo de falar d'Ele! Porque Cristo é a resposta verdadeira para todas as perguntas sobre o homem e sobre o seu destino. É preciso que vós, jovens, vos convertais em apóstolos dos vossos coetâneos. Sei muito bem que isto não é fácil. Muitas vezes tereis a tentação de dizer como o profeta Jeremias: "Oh! Senhor, eu não sei exprimir-me, sou um jovem" (Jr 1,6). Não desanimeis, porque não estais sozinhos: o Senhor nunca deixará de vos acompanhar, com a sua graça e com o dom do seu Espírito.

5. Esta presença fiel do Senhor torna-vos capazes de assumir o compromisso da nova evangelização, para a qual estão chamados todos os filhos da Igreja. è uma tarefa de todos. Nela os leigos têm um papel de protagonistas, especialmente os esposos e as famílias cristãs; sem dúvida, a evangelização exige hoje com urgência sacerdotes e pessoas consagradas. Eis a razão pela qual desejo dizer a cada um de vós, jovens: se sentis a chamada de Deus que vos diz: "Segue-me!" (Mc 2,14 Lc 5,27), não a sufoqueis. Sede generosos, respondei como Maria oferecendo a Deus o sim alegre das vossas pessoas e da vossa vida.

Dou-vos o meu testemunho: eu fui ordenado quando tinha 26 anos. Desde então passaram 56.

Então, quantos anos tem o Papa? Quase 83! Um jovem de 83 anos. Quando olho para trás e recordo estes anos da minha vida, posso garantir-vos que vale a pena dedicar-se à causa de Cristo e, por amor d'Ele, consagrar-se ao serviço do homem. Vale a pena dar a vida pelo Evangelho e pelos irmãos! Quantas horas faltam para a meia-noite? Três horas. Só três horas para a meia-noite e depois chega a manhã.

6. Ao concluir as minhas palavras desejo invocar Maria, a estrela luminosa que anuncia o alvorecer do Sol que nasce do Alto, Jesus Cristo:

Salvé, Maria, cheia de graça!

Esta tarde peço-te pelos jovens da Espanha, jovens cheios de sonhos e de esperanças.
Eles são as sentinelas da manhã, o povo das bem-aventuranças; são a esperança viva da Igreja e do Papa.

Santa Maria, Mãe dos jovens, intercede para que sejam testemunhas de Cristo Ressuscitado, apóstolos humildes e valorosos do terceiro milénio, arautos generosos do Evangelho.
Santa Maria, Virgem Imaculada, reza connosco, reza por nós. Amen.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA GUARDA SUÍÇA


Terça-feira, 6 de Maio de 2003

Senhor Comandante da Guarda Suíça

Senhor Capelão
Estimados amigos da Guarda Suíça
Queridos jovens guardas

1. É com alegria que vos recebo, na ocasião do juramento dos novos recrutas da Pontifícia Guarda Suíça. Saúdo o novo Comandante, o Coronel Elmar Theodor Mäder, e o novo Vice-Comandante, o Lugartenente-Coronel Jean Daniel Pitteloud, que aceitaram generosamente este serviço.

Agradeço igualmente às Autoridades suíças, sempre representadas nesta festa, e saúdo de coração os familiares e amigos dos jovens recrutas, que vieram para os rodear com o seu afecto e amizade.

Exprimo a mais sentida gratidão a todos os membros da Pontifícia Guarda Suíça, pela sua lealdade para com o Sucessor de Pedro e pela qualidade do trabalho que realizam, mantendo a ordem e a segurança no território do Vaticano, assim como atendendo com gentileza os numerosos peregrinos que todos os dias solicitam a sua ajuda.

2. Queridos jovens Guardas, hoje à tarde prestareis o juramento de servir o Papa, para vigiar sobretudo sobre a segurança da sua pessoa e da sua residência. Por meu lado, todos os anos sou testemunha reconhecida deste compromisso, assim como da fidelidade e da generosidade dos jovens Suíços no desempenho desse serviço, com o qual manifestam a dedicação dos católicos do vosso País à Igreja e à Santa Sé. Agradeço-vos profundamente e convido-vos a meditar sobre o exemplo dos vossos predecessores, entre os quais alguns chegaram até a oferecer a própria vida para cumprir a missão que lhes foi confiada de defender o Sucessor de Pedro.

3. Dirigindo-me a todos os fiéis da Igreja, no começo do terceiro milénio exortei (cf. Novo millennio ineunte ), a "fazer-se ao largo (cf. Lc Lc 5,4). Do mesmo modo vos encorajo a vós, queridos Guardas, a haurir mais profundamente a riqueza da vida cristã. Deus oferece-vos a possibilidade de descobrir um País novo. Contudo o Senhor também dá a possibilidade de acolher, nos peregrinos, quase todo o mundo: eles vêm de âmbitos de vida muito diferentes para rezar junto dos túmulos dos Apóstolos. Por conseguinte, predisponde o vosso coração para o encontro com os outros! Este encontrar-se ajuda a crescer em humanidade e a compreender-se cada vez mais como irmãos. Procurai viver entre vós uma amizade boa e sincera, ajudando-vos reciprocamente nas dificuldades e partilhando com o próximo as vossas alegrias. Estai sempre abertos à chamada do Senhor para discernir o que Ele espera de vós, hoje e no futuro! Fazei com que os anos de serviço na Pontifícia Guarda Suíça seja um verdadeiro tempo de formação cristã. Estes anos podem ajudar-vos a ser servos ainda melhores do Senhor! São estes os bons votos que formulo para cada um de vós, e que confio à intercessão de Maria, nossa Mãe celeste.

Concedo a todos de coração a minha Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO PROMOVIDO


PELO CONSELHO DAS CONFERÊNCIAS


EPISCOPAIS DA EUROPA


8 de Maio de 2003







Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio!

1. Sede bem-vindos! Estou-vos grato pela vossa visita e dirijo a cada um a minha cordial saudação. De modo especial, saúdo D. Amedée Grab, Presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu em vosso nome. Saúdo D. Cesare Nosiglia, Delegado do Conselho das Conferências Episcopais Europeias para a catequese, os outros Prelados, o Secretário-Geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa e todos os presentes.

Este encontro de Bispos e Responsáveis da catequese nos vários Países da Europa oferece a possibilidade de reflectir sobre as urgências e os desafios da nova evangelização no continente europeu. Agradeço a todos vós, encarregados de coordenar a catequese, o empenho com que vos dedicais a uma tarefa tão vital para o crescimento das Comunidades cristãs. Nelas, como nas da época apostólica, é necessário que os crentes sejam "assíduos ao ensino dos Apóstolos" (Ac 2,42).
2. O tema do encontro "Os presbíteros e a catequese na Europa" está relacionado com o dom e com o dever primário dos Bispos e dos presbíteros: isto é, o da edificação da Igreja mediante o anúncio da Palavra de Deus e os ensinamentos catequéticos.

"O sacerdote recordei na Pastores dabo vobis é antes de mais o ministro da Palavra de Deus... enviado a anunciar a todos o Evangelho do reino" (n. 26). Hoje o ministério do presbítero alarga cada vez mais os seus confins para âmbitos pastorais que enriquecem a comunidade cristã, mas que por vezes correm o risco de dispersar a sua acção em mil compromissos e actividades. A sua presença na catequese sente o efeito disso e pode limitar-se a momentos irregulares que pouco incidem na própria formação dos catequistas. A exemplo do Apóstolo Paulo (cf. Rm Rm 1,14), ao contrário, ele deve sentir, como uma dívida para com todo o povo de Deus, o dever de transmitir o Evangelho e de o fazer com a melhor preparação teológica e cultural.

Observa o Directório Geral para a Catequese: "A experiência confirma que a qualidade da catequese de uma comunidade depende, em grande parte, da presença e da acção do sacerdote" (n. 225).

3. Sendo o primeiro catequista na comunidade, o presbítero, especialmente se é pároco, está chamado a ser o primeiro crente e discípulo da Palavra de Deus, e a dedicar uma solicitude assídua ao discernimento e ao acompanhamento das vocações para o serviço catequético. Como "catequista dos catequistas", não pode deixar de se preocupar pela sua formação espiritual, doutrinal e cultural.

Numa perspectiva de comunhão, o sacerdote estará sempre consciente de que o ministério de catequista ao serviço do Povo de Deus lhe é conferido pelo seu Bispo, ao qual está unido inseparavelmente pelo sacramento da Ordem e do qual recebeu o mandato de pregar e ensinar.

A referência ao magistério do Bispo no único presbitério diocesano e a Obediência às orientações que, em matéria de catequese, são emanadas, para o bem dos fiéis, por cada Pastor e pelas Conferências Episcopais, constituem para o sacerdote elementos a serem valorizados na acção catequética. Nesta perspectiva, assumem um relevo particular o estudo e o uso do Catecismo da Igreja Católica, indispensável vademecum oferecido aos sacerdotes, aos catequistas e a todos os fiéis, para orientar a catequese pelos caminhos de uma autêntica fidelidade a Deus e aos homens do nosso tempo.

4. "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura" (Mc 16,15). Este mandamento do Senhor dirige-se a cada baptizado, mas representa para os Bispos e sacerdotes "o dever principal" (Lumen gentium, LG 25). Como Cristo, o bom Pastor, o presbítero é convidado a ajudar a comunidade para que viva numa tensão missionária permanente. A catequese em família, no mundo do trabalho, na escola e na Universidade, através dos mass media e das novas linguagens, envolve presbíteros e leigos, paróquias e movimentos. Todos estão chamados a cooperar na nova evangelização, para manter e revitalizar as raízes cristãs comuns. A fé cristã representa o património mais rico do qual os povos europeus se podem servir para realizar o seu verdadeiro progresso espiritual, económico e social.

Maria, Estrela da nova evangelização, faça com que também as reflexões e as orientações amadurecidas nestes dias sirvam para favorecer nas vossas Igrejas um renovado compromisso catequético. Por meu lado, garanto-vos uma recordação na oração, enquanto vos abençoo a todos de coração juntamente com as Comunidades das quais provindes.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO


INTERNACIONAL PROMOVIDO


PELA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE LATERANENSE


Sexta-feira, 9 de Maio de 2003



Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Sinto-me feliz por me encontrar convosco nesta feliz ocasião, que vê aqui reunidos professores e estudantes da "Universidade do Papa". Desejo saudar os Senhores Cardeais e os Bispos aqui presentes, assim como os participantes no Congresso convocado para esta ocasião, os professores e os alunos das várias Faculdades.

Agradeço, ainda, ao Reitor Magnífico, D. Rino Fisichella, os sentimentos expressos e o significativo dom das duas obras com que a Universidade deseja recordar este momento.

2. Volto com a memória às três visitas que Deus me concedeu realizar ao vosso Ateneu durante estes anos. Cada encontro deste género desperta no meu coração a recordação das experiências vividas no ensino académico em Cracóvia e em Lublim. Foram anos ricos de estudos, de contactos, de pesquisas, animados pelo desejo de descobrir e percorrer caminhos novos para uma evangelização atenta aos desafios da época moderna. Os conhecimentos então adquiridos foram úteis para o meu ministério pastoral que desempenhei primeiro em Cracóvia e, depois, como Sucessor de Pedro, no serviço que continuo a desempenhar a todo o Povo de Deus.

Em cada fase e etapa da vida universitária e do ministério pastoral, para mim um dos pontos de referência fundamentais foi a atenção dada à pessoa, colocada no centro de todas as investigações filosóficas e teológicas.

3. Apreciei, portanto, que para recordar os vinte e cinco anos de Pontificado tenhais querido promover este Congresso sobre um tema actual como nunca: "A Igreja ao serviço do homem!", solicitando a participação qualificada e representativa de Personalidades da Cúria Romana e do mundo da cultura.

Escrevi na primeira Encíclica Redemptor hominis: A Igreja não pode abandonar o homem, cuja "sorte", ou seja, a escolha, o chamamento, o nascimento e a morte, a salvação ou a perdição, estão de maneira tão íntima e indissolúvel unidos a Cristo... Este homem é o primeiro caminho que a Igreja deve percorrer no cumprimento da sua missão: ele é a primeira e fundamental via da Igreja, via traçada pelo próprio Cristo e via que imutavelmente conduz através do mistério da Encarnação e da Redenção" (n. 14).

4. A mensagem do Evangelho destina-se ao homem de todas as raças e culturas, para que ele seja farol de luz e de salvação nas diversas situações em que vive. Este serviço perene à "verdade" do homem apaixona todos aqueles que têm a peito que ele se conheça cada vez mais a si mesmo e compreenda, com uma consciência cada vez maior, o anseio de encontrar Cristo, realização plena do homem. Eis um vasto campo de acção também para vós, que desejais contribuir com dinamismo missionário para encontrar novos caminhos para a evangelização das culturas.

Cristo é a verdade que torna livres todos aqueles que O procuram com sinceridade e perseverança. Ele é a verdade que a Igreja proclama incansavelmente de maneiras diferentes, difundindo o único Evangelho de salvação até aos extremos confins da terra e inculturando-o nas várias regiões do mundo.

Santo Ireneu recordava sabiamente: "Como o sol, criatura de Deus, é único em todo o universo, assim a pregação da verdade brilha em toda a parte e ilumina todos os homens que desejam conhecer a verdade... Que se trate de um grande orador ou de um insignificante falador, todos ensinam a mesma verdade. Ninguém diminui o valor da tradição. A fé é única e idêntida. Por isso, nem o eloquente a pode enriquecer, nem o balbuciante a pode empobrecer" (Contra as heresias, 1, 10, 3).

5. A vossa Universidade, como outros centros de estudos eclesiásticos e religiosos, constitui uma particular escola na qual as diversas gerações de "apóstolos" podem fazer a experiência pessoal de Cristo, aprofundando o seu conhecimento e preparando-se para ser testemunhas do seu amor no ministério pastoral. Oxalá as vossas investigações teológicas, filosóficas e científicas ajudem o homem contemporâneo a compreender melhor o desejo de Deus escondido no íntimo de cada coração!

Peço a Deus que fecunde com a sua graça cada uma das vossas actividades. Maria, Sedes Sapientiae, vos assista com a sua protecção materna. Da minha parte, garanto-vos uma constante recordação na oração, ao conceder a todos uma especial Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À DELEGAÇÃO DA DIOCESE DE SAINT-FLOUR


(FRANÇA) NA COMEMORAÇÃO DO MILÉNIO


DA MORTE DE SILVESTRE II


Sábado, 10 de Maio de 2003

Caros Amigos


1. Dirijo os meus votos de cordiais boas-vindas a D. René Séjourné, Bispo de Saint-Flour, que foi um apreciado colaborador na Secretaria de Estado, assim como à delegação da sua Diocese que veio celebrar o Papa do Ano 1000, Silvestre II, na ocasião do milénio da sua morte.

2. Sinto-me feliz por poder evocar alguns traços marcantes daquele que foi chamado "o homem mais culto do seu tempo. De facto, Gerbert d'Aurillac dominou singularmente o seu século pelos seus conhecimentos e erudição, pela sua rectidão moral e o seu sentido espiritual. Foi ao mesmo tempo um intelectual e um homem de acção, um diplomata e um homem da Igreja. Se as questões actuais são diferentes das que ele teve de enfrentar, a sua atitude espiritual e intelectual permanece um apelo na procura da verdade humana, que nunca se opõe às verdades da fé. "Unamos sempre, dizia ele, a ciência e a fé".

3. É preciso sublinhar a dimensão europeia do seu ministério, porque ele estava atento à vida da Igreja nas nações então em gestação. Beneditino do Mosteiro de Saint-Géraud d'Aurillac, pertencia a esta ordem, cujas diferentes casas contribuiram para dar forma à Europa. Arcebispo de Reims, depois de Ravena, tornado em 999 o primeiro Papa de origem francesa, participou intensamente neste movimento; por exemplo, no ano 1000, criou em Gnienzo a primeira Igreja metropolitana na Polónia, tendo entre as sufragâneas a nova diocese de Cracóvia, de que fui Pastor. Gerbert contribuiu assim para o renascimento intectual e para a vitalidade do continente. O seu exemplo ajuda-nos a compreender que a Europa não se pode construir se não assume, com lucidez, as suas raízes cristãs. Estas últimas constituem uma dimensão essencial da sua identidade, tendo deixado as suas marcas na produção cultural, artística, jurídica e filosófica do Continente.

4. Agora que louváveis esforços são empreendidos para dar uma forma jurídica à Europa, é bom lembrar este impulso inicial, dado por um Francês no início do segundo milénio. Pela difusão do Evangelho e pela sua participação na vida das nações, os cristãos têm ainda hoje o cuidado de participar na edificação da sociedade. Através de vós, encorajo de boa vontade o povo da França a extrair das suas raízes espirituais os elementos de que tem necessidade para a sua própria existência e para uma vida solidária e fraterna com os seus irmãos do continente.

5. Ao terminar esta audiência, confio-vos à intercessão de Nossa Senhora e, de todo o coração, vos concedo uma particular Bênção apostólica, assim como às vossas famílias e a todos os diocesanos de Saint-Flour.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS COLÉGIOS PONTIFÍCIOS


E ÀS COMUNIDADES DE ESTUDANTES


DAS IGREJAS CATÓLICAS ORIENTAIS DE ROMA


Segunda-feira, 12 de Maio de 2003







Beatitude
Veneráveis Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Estimados Alunos

1. É-me grato dar-vos as cordiais boas-vindas, a cada um de vós. É com grande alegria que, no encontro de hoje, recebo os Superiores e os Estudantes dos Colégios Pontifícios e das Comunidades de formação das Igrejas Católicas Orientais em Roma.

Em primeiro lugar, saúdo o Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, Cardeal Ignace Moussa I Daoud, a quem agradeço as amáveis palavras com que se fez intérprete dos sentimentos de todos. Além disso, estendo a minha saudação ao Secretário, ao Subsecretário, aos Oficiais e ao Pessoal desta Congregação, assim como aos Superiores dos Seminários e dos Colégios, bem como a todos os presentes.

2. Esta feliz circunstância traz-me à mente as visitas apostólicas que, ao longo destes anos, pude realizar às Comunidades eclesiais a que pertenceis. Trago no coração a recordação fraterna dos vossos Patriarcas, dos Bispos, dos Sacerdotes e de todo o Povo de Deus, que pude encontrar. Mas tenho também presentes as complexas problemáticas e os desafios que as Igrejas católicas do Oriente são chamadas a enfrentar neste nosso tempo.

Em seguida, dirigindo o meu olhar para muitos dos vossos países, é com espontaneidade e vigor que confirmo os bons votos a fim de que a paz se consolide cada vez mais nessa regiões e para que soluções equitativas e pacíficas restituam a concórdia e as boas condições de vida às populações, já tão duramente provadas por tensões e opressões injustas. Queira o Senhor iluminar os responsáveis das Nações, para que promovam corajosamente, no respeito pelo direito, o bem de todos e a liberdade de cada uma das Comunidades religiosas.

3. Estou reconhecido à Congregação para as Igrejas Orientais, que se preocupa com a formação dos seminaristas e dos sacerdotes, colabora e ajuda os Institutos religiosos a formar os seus membros, contribuindo para preparar leigas e leigos competentes para o apostolado. Esta actividade louvável manifesta-se através de várias iniciativas, que incluem o campo dos estudos orientais, o sector da liturgia que é própria de cada tradição ritual, a formação permanente a todos os níveis e uma constante actualização das experiências pastorais.

Faz parte do compromisso desta Congregação a instituição, já a partir do corrente ano académico, do Colégio Santo Efrém, na "via Boccea", onde é oferecido aos sacerdotes de ritos diferentes mas de língua árabe, um lugar adequado para a oração, para os estudos eclesiásticos e para uma actividade apostólica profícua.

A vós, dilectos Superiores dos Seminários, peço que continueis com dedicação a obra preciosa, que já estais a realizar em favor dos alunos confiados aos vossos cuidados. Vós assegurais-lhes o acompanhamento espiritual, a educação humana e o discernimento vocacional, o aperfeiçoamento nos estudos teológicos e eclesiásticos, o aprofundamento cultural e de defesa da identidade ritual, bem como de amadurecimento eclesial e pastoral.

E vós, queridos alunos, seminaristas, sacerdotes, religiosos e religiosas, caros leigos e leigas, sabei aproveitar as várias oportunidades que vos são oferecidas em Roma, para poderdes servir melhor as vossas Comunidades no futuro.

4. Na Orientale lumen observei que, para fazer crescer a compreensão mútua e a unidade é indispensável favorecer o conhecimento recíproco. Em seguida, ofereci algumas indicações, que aqui retomo, para que constituam também para vós um ponto de referência programático e pedagógico constante. Quero referir-me, de maneira particular, ao conhecimento da liturgia das Igrejas do Oriente e das tradições espirituais dos Padres e dos Doutores do Oriente cristão.

É necessário seguir o exemplo das Igrejas do Oriente, no que se diz respeito à inculturação da mensagem do Evangelho: evitar as tensões entre Latinos e Orientais, estimulando o diálogo entre Católicos e Ortodoxos. Além disso, é útil formar, em instituições especializadas no Oriente cristão, teólogos, liturgistas, historiadores e canonistas capazes de difundir, por sua vez, o conhecimento das Igrejas do Oriente e oferecer nos seminários e nas faculdades teológicas um ensino adequado de tais matérias, sobretudo para os futuros sacerdotes (cf. n. 24).

5. Confio estas sugestões à vossa consideração, enquanto invoco sobre cada um de vós e sobre as vossas Comunidades a protecção maternal de Maria, "Rainha do Santo Rosário".

Estou próximo de vós com afecto e, enquanto vos asseguro a minha oração, concedo-vos a todos a cordial Bênção apostólica que, de bom grado, faço extensiva aos vossos entes queridos, aos Colaboradores dos Colégios, às Comunidades a que pertenceis e a quantos, com a sua caridade, contribuem para a vossa obra educativa, tão importante para a missão da Igreja no Oriente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA IGREJA SÍRIO-MALABAR


DE RITO ORIENTAL DA ÍNDIA


Terça-feira 13 de Maio de 2003






Eminência, Venerável Arcebispo-Mor
Queridos Irmãos Bispos

1. "A paz esteja convosco!" (Jn 20,26). Neste período pascal, é oportuno que eu vos saúde, a vós Bispos da Igreja Sírio-Malabar, com as palavras que o nosso Senhor ressuscitado utilizou para o vosso pai na fé, São Tomé. Com efeito, as origens da vossa Igreja estão directamente vinculadas à aurora da Cristandade e aos esforços missionários dos Apóstolos. De certa forma, a vossa peregrinação aqui, para me visitar, reúne os Apóstolos Pedro e Tomé na alegria da Ressurreição, enquanto nos unimos, proclamando ao querido povo da Índia "uma herança que é imperecível, imorredoura e infalível" (1P 1,4). Saúdo de forma especial Vossa Eminência, o Cardeal Varkey Vithayathil, Arcebispo-Mor da Igreja Sírio-Malabar, e desejo agradecer-lhe as saudações e os sentimentos que me transmitiu em nome do Episcopado, do clero e dos fiéis leigos de toda a Igreja Sírio-Malabar.

2. A liturgia da Igreja Sírio-Malabar, que desde há séculos faz parte da rica e diversificada cultura da Índia, constitui a mais viva expressão da identidade dos vossos povos. A celebração do Mistério Eucarístico no Rito da Igreja Sírio-Malabar desempenhou um papel vital na formação da experiência da fé na Índia (cf. Ecclesia in Asia ). Uma vez que "a Eucaristia, como presença salvífica de Cristo na comunidade dos fiéis e como seu alimento espiritual, é a mais preciosa posse que a Igreja pode ter na sua peregrinação ao longo da história" (Ecclesia de Eucharistia EE 9), exorto-vos a conservar e a renovar este tesouro com grande cuidado, sem jamais permitir que ele seja utilizado como fonte de divisão. A vossa congregação à volta do altar na "plenitude daquele que completa todas as coisas" (Ep 1,23) não apenas vos define como um povo eucarístico, mas constitui também uma fonte de reconciliação que ajuda a superar os obstáculos que podem impedir o caminho rumo à unidade de mente e objectivo. Como guardiães primeiros da liturgia, sois chamados a ser sempre vigilantes, para proteger contra experiências incertas de sacerdotes individualmente, que violem a integridade da própria liturgia e que possam também causar um grande prejuízo aos fiéis em geral (cf. Ecclesia de Eucharistia EE 10).

Encorajo-vos nos vossos esforços com vista a renovar o vosso "património ritual" à luz dos documentos do Concílio, prestando atenção particular à Orientalium Ecclesiarum, e no contexto do Código de Direito Canónico das Igrejas Orientais e da minha própria Carta Apostólica Orientale lumen. Estou persuadido de que, com prudência, paciência e uma catequese apropriada, este processo de renovação dará frutos abundantes. Os numerosos resultados positivos já alcançados pelos vossos esforços fazem com que esta tarefa seja menos desencorajadora e, na realidade, constitua uma fonte de força para o futuro. Animo-vos a continuar este trabalho essencial, a fim de que a liturgia não seja meramente estudada, mas também celebrada em toda a sua integridade e beleza.

3. De maneira análoga, para o bom êxito da realização de um Sínodo de Bispos é necessário o compromisso constante na caridade e na cooperação fraternais. Neste contexto, quero recordar a vossa inabalável dedicação a esta peregrinação conjunta: um sinal de fortaleza, de confiança e de unidade entre os Bispos da Igreja Sírio-Malabar e "uma forma particularmente eloquente de viver e de manifestar o mistério da Igreja como Comunhão" (cf. Discurso ao Sínodo dos Bispos da Igreja Sírio-Malabar, 8 de Janeiro de 1996, n. 4). Com efeito, o Sínodo é uma das expressões mais nobres da colegialidade afectiva entre os Bispos e constitui um fórum muito apropriado para debater as sérias questões de fé e de sociedade, em ordem a encontrar soluções para os desafios que devem ser enfrentados pela comunidade sírio-malabar (cf. Orientalium Ecclesiarum, OE 4). A manutenção desta unidade necessária exige sacrifício e humildade. Somente através do esforço recíproco vós podereis "empreender trabalhos conjuntos, destinados a promover mais rapidamente o bem da religião, a proteger de modo mais eficaz a disciplina eclesiástica e também a fomentar mais harmoniosamente a unidade de todos os cristãos" (cf. Código de Direito Canónico das Igrejas Orientais, cân. 84).


DIscursos João Paulo II 2003