Discursos João Paulo II 2002 - 13 de Dezembro de 2002

A própria Organização das Nações Unidas tem assumido um papel de responsabilidade cada vez maior, para manter ou para restabelecer a paz nas regiões perturbadas por guerras e conflitos. No seu próprio País, a Organização das Nações Unidas acabou de prolongar o mandato da sua missão de manutenção da paz: assim, a própria comunidade internacional colabora com o seu governo, Senhor Embaixador, nos esforços realizados pelo seu País em ordem a reintegrar os ex-combatentes, a facilitar a volta dos refugiados e das pessoas deslocadas, a garantir o pleno respeito pelos direitos humanos e pela prática da lei, assegurando uma protecção especial às mulheres e às crianças. Neste contexto, não posso deixar de expressar a minha imensa satisfação ao ver que, depois de anos de conflito armado, de sofrimento e de mortes, a estabilidade civil está a instaurar-se novamente em Serra Leoa, proporcionando perspectivas positivas para a normalização da vida nacional: que o seu País continue a percorrer este caminho com coragem e perseverança.

Também a Igreja católica não deixa de oferecer o seu pleno apoio às actividades que visam o restabelecimento da paz e a instauração da reconciliação. Com efeito, o seu divino Fundador confiou-lhe uma missão religiosa e humanitária, diversa da que compete à comunidade política, mas contudo aberta às numerosas formas de cooperação e de ajuda mútuas. É esta missão que se encontra por detrás da presença da Santa Sé no seio da comunidade internacional, uma presença orientada exclusivamente para o bem-estar da família humana: promoção da paz, defesa da dignidade humana e dos direitos do homem, e compromisso em benefício do progresso integral dos povos. Trata-se de um dever que deriva, necessariamente, do Evangelho de Jesus Cristo, e é uma responsabilidade compartilhada por todos os cristãos. Por este motivo, a Igreja continuará a ser uma parceira comprometida no bem do seu País, enquanto Serra Leoa continua a percorrer o caminho do desenvolvimento político, social e económico.

Senhor Embaixador, estou convicto de que a sua missão junto da Santa Sé fortalecerá os vínculos de compreensão e de amizade entre nós. Vossa Excelência pode ter a certeza de que os diversos departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos para o assistir no desempenho dos seus altos deveres. Sobre Vossa Excelência e sobre o querido povo de Serra Leoa, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À EMBAIXADORA DA JAMAICA JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS








Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas mediante as quais Vossa Excelência é acreditada como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da Jamaica junto da Santa Sé. É com prazer que recordo a calorosa hospitalidade que me foi reservada por parte do governo e do povo do seu País, durante a minha Visita Apostólica em 1993; peço-lhe a amabilidade de transmitir as minhas saudações e os meus melhores votos ao Governador-Geral, ao Primeiro-Minitro e a todos os seus compatriotas. Excelência, tenha a gentileza de lhes assegurar as minhas orações pela paz e pelo bem-estar de toda a Nação.

A Senhora Embaixadora está bem consciente de que a missão da Igreja no mundo é principalmente espiritual e, por conseguinte, diferente da ordem política. Contudo, a Igreja oferece à sociedade civil a contribuição do seu ensinamento, a sua experiência bimilenar da peregrinação da humanidade ao longo da história, e as suas múltiplas formas de serviço em benefício de toda a família humana. Ela sabe que a sociedade só se desenvolverá pacificamente, na medida em que reflectir a ordem moral estabelecida por Deus, o Criador que, da plenitude do seu amor, procura atrair todos os homens e todas as mulheres para a plenitude da sua Vida. É por este motivo que a Santa Sé continua a falar de maneira tão insistente à comunidade internacional, sobre o dever de respeitar a dignidade humana e sobre a importância fundamental de defender a família como célula primária da sociedade.

O flagelo dos males sociais destruidores, presentes em numerosas sociedades, que debilitam os valores morais e representam uma ameaça para a vida familiar, é a grande tragédia dos nossos tempos. O tráfigo de drogas, a violência dos grupos armados, os ataques contra a lei e a ordem, a opressão feita às mulheres e às crianças, tudo isto faz parte da "cultura da morte", que as instituições sociais, conjunta e constantemente, têm o dever de procurar eliminar. É com satisfação que realço a referência de Vossa Excelência ao facto de que a principal prioridade do seu governo consiste em alcançar a reconciliação e a unidade nacionais, através da promoção de valores e atitudes que sejam sãos. Estes objectivos dependem da capacidade que todos os membros da sociedade tiverem, de compreender que têm um papel a desempenhar na sua comunidade nacional e que podem contribuir para o progresso da mesma. A Igreja católica, por sua vez, na proclamação do Evangelho de vida do seu Senhor, deseja ardentemente promover entre todos os povos, e de maneira especial entre os jovens, a cultura da verdade e do amor, que leva à liberdade e à felicidade autênticas.

Durante a minha visita a Kingston, pude encorajar o povo jamaicano a deixar que o Evangelho transforme a sua existência e a sua sociedade. Nessa circunstância, observei que o futuro da sociedade está, essencialmente, vinculado ao vigor das suas famílias, e é indispensável que cada pessoa de boa vontade se comprometa em favor da salvação e da promoção da família, como o meio mais eficaz para a humanização e a personalização de toda a sociedade. A dignidade divina de cada pessoa realiza-se e experimenta-se, em primeiro lugar, no seio da família. A renovação da sociedade é garantida quando esta dignidade se exprime nos princípios da igualdade, da justiça e do respeito pelo bem comum. Uma vez que a família é a instituição mais influente na educação dos jovens, o Estado deve apoiar e encorajar de maneira apropriada o papel da família como principal promotora dos valores morais e cívicos.

Como Vossa Excelência teve a amabilidade de realçar, a Igreja católica que peregrina na Jamaica está comprometida no desenvolvimento espiritual e intelectual dos jovens, de maneira especial através dos seus centros educativos a vários níveis. Trata-se de um campo em que existe um grande espaço para a cooperação entre o Estado e os outros Organismos religiosos e sociais, que procuram ajudar os pais no seu papel de principais educadores dos seus filhos. Em nome da justiça distributiva, o Estado tem um papel de promoção e deveria reconhecer a educação dos jovens como uma das suas principais finalidades e uma questão de importância vital para o futuro da Nação. A Igreja que está na Jamaica continuará a fazer tudo o que puder para assegurar o melhor nível do seu trabalho educativo, que não se limita a oferecer conhecimentos, mas inclui tudo aquilo que pode ajudar a pessoa a tornar-se um ser humano amadurecido e responsável, um cidadão hábil e justo.

Excelência, durante o seu mandato como representante do seu País junto da Santa Sé, os vários departamentos da Cúria Romana farão todo o possível para a ajudar no cumprimento dos seus deveres. Formulo os melhores votos para o bom êxito dos seus esforços, com vista a fortalecer ainda mais as relações de cordialidade que já existem entre a Jamaica e a Santa Sé. Sobre Vossa Excelência e os seus compatriotas, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO EMBAIXADOR DA ÍNDIA JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS






Senhor Embaixador

É com prazer que aceito as Cartas através das quais Vossa Excelência é acreditado como Embaixador Extroardinário e Plenipotenciário da Índia junto da Santa Sé. Estou-lhe profundamente agradecido pelas saudações que o Senhor Embaixador me transmitiu da parte de Sua Excelência o Dr. Abdul Kalam, neo-eleito Presidente da Índia, e pediria que lhe comunicasse, assim como ao governo e ao povo do seu querido País, os meus melhores votos de bem.

Como Vossa Excelência observou, existe uma forte presença cristã na Índia, praticamente desde o começo do próprio cristianismo, uma presença que tem oferecido a sua contribuição para a rica e diversificada herança cultural do subcontinente. Na história dos últimos tempos, o contacto entre a Índia independente e a Santa Sé levou ao estabelecimento das relações diplomáticas que a sua presença aqui, no dia de hoje, confirma e fortalece. Estes relacionamentos constituem uma expressão das vastas áreas, de visão conjunta, das importantes questões da vida internacional, que nos unem no serviço do bem comum universal. Hoje em dia, quando sérias ameaças contra a unidade e a paz estão a debilitar as relações internacionais, existe um amplo espaço para o nosso trabalho conjunto no campo internacional, em ordem à promoção de uma abordagem séria - fundamentada em princípios sãos - das problemáticas que continuam a causar tensões entre os povos e as nações.

Continuo a alimentar as memórias vivas das minhas Visitas Pastorais à Índia, em 1985 e em 1999, quando me foi concedido dar testemunho pessoal da harmonia e da cooperação existentes entre os povos de diferentes tradições culturais e religiosas. Esta harmonia constitui um dos pilares sobre os quais a unidade de toda a Nação tem sido edificada e, sem dúvida, deve continuar a ser confirmada no nosso tempo, se se quiserem evitar um grande prejuízo e a injustiça. Em muitas ocasiões falei sobre o papel da Índia na formação e na promoção de culturas e de tradições que deixaram uma marca profunda no espírito humano, e que ainda hoje constituem uma fonte essencial de sabedoria e de impulsos criativos que podem ajudar enormemente a impedir algumas consequências negativas dos processos da globalização, que hoje em dia estão a verificar-se.

Refiro-me ao perigo da comercialização de quase todos os aspectos da vida humana, a ponto de permitir que as políticas e os estilos de comportamento sejam definidos pela procura do lucro, e não pelo valor da pessoa humana.

Um dos temas principais do meu Pontificado é a afirmação da convicção de que o progresso humano só pode ser assegurado onde se tornar efectivo e for garantido o respeito pela dignidade e pelos direitos inalienáveis de cada ser humano. O mundo ainda está longe de alcançar esta finalidade, como se pode ver claramente pelas numerosas formas de injustiça e de discriminação que ainda continuam a ser infligidas sobre as pessoas mais frágeis, em demasiadas regiões do mundo inteiro. O dever solene de cada sistema democrático consiste em promover e em proteger os direitos humanos elementares e cada uma das categorias destes mesmos direitos. Não me refiro exclusivamente aos direitos que dizem respeito à sobrevivência material das pessoas, mas também àqueles que se referem ao espírito do homem e à sua infinita busca da verdade e da liberdade.

Actualmente a comunidade internacional tem muita necessidade de um compromisso renovado e mais eficaz, em ordem a corresponder às necessidades de numerosas pessoas que procuram alívio para os seus sofrimentos e aspiram a uma educação apropriada que as torne capazes de assumir um papel activo na vida da comunidade e da nação a que elas pertencem.

Uma parte integrante do desenvolvimento que verdadeiramente serve o bem dos indivíduos e dos povos é o respeito pela liberdade religiosa, uma vez que se trata do direito que se refere à liberdade mais pessoal e fortemente interior da vida de cada um dos indivíduos. Nada pode ser mais prejudicial para a harmonia e para a paz sociais do que a negação desta pedra angular dos direitos humanos. A Índia possui fortes tradições de respeito pelas diversidades religiosas. Senhor Embaixador, formulo votos a fim de que, para o bem da Nação, não seja permitido o desenvolvimento de tendências opostas entre si, e que a prática da lei assegure que as violações deste princípio não deixem de ser punidas.

Nos últimos anos a situação tem sido difícil para a Índia e para os seus vizinhos, dado que as tensões e a violência nessa região têm levado muitas pessoas a morrer e a ser privadas da sua própria casa. A paz é um dom que nasce da confiança e que deve ser edificada constantemente.

No meu discurso diante da quinquagésima Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em 1995, tive a ocasião de afirmar: "Devemos aprender a não ter medo, a descobrir novamente o espírito da esperança e da confiança. A esperança não é um optimismo vazio, que nasce da confiança ingénua de que o futuro será, necessariamente, melhor do que o passado. A esperança e a confiança constituem as premissas da actividade responsável e são alimentadas naquele santuário interior em que o homem se encontra a sós com Deus".

Excelência, asseguro-lhe que a Igreja católica que está na Índia continuará a rezar e a trabalhar em favor destas finalidades. Juntamente com os seus compatriotas das outras tradições, os católicas compartilham uma profunda aspiração a uma paz e harmonia duradouras, numa sociedade que valoriza e promove a dignidade e os direitos de todos os seus membros.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que, no momento em que Vossa Excelência começa a sua missão, os antigos vínculos de amizade e de cooperação entre a Índia e a Santa Sé continuarão a ser revigorados e enriquecidos. Formulo-lhe os meus melhores votos e asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos para o ajudar no cumprimento dos seus deveres. Invoco as abundandes bênçãos de Deus Todo-Poderoso sobre Vossa Excelência e também sobre os seus compatriotas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO EMBAIXADOR DE GANA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


13 de Dezembro de 2002





Excelência

É com prazer que lhe transmito as minhas cordiais boas-vindas, no momento em que Vossa Excelência chega ao Vaticano para apresentar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extroardinário e Plenipotenciário da República de Gana junto da Santa Sé. Fico feliz com os bons votos que o Senhor Embaixador me transmite da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente John Agyekum Kufuor e também da parte do seu governo, enquanto retribuo de bom grado a certeza das minhas orações pela prosperidade e pelo bem-estar espiritual do povo da sua Nação.

Ao falar do compromisso franco do seu País em benefício da paz, o Senhor Embaixador quis recordar os esforços da Santa Sé neste campo. Com efeito, é precisamente a tarefa de promoção do entendimento, do desenvolvimento e da paz entre os povos e as nações que motiva a actividade diplomática da Santa Sé. Um importante aspecto desta missão de promoção da paz é a tarefa de despertar uma consciência cada vez mais acentuada do valor fundamental da solidariedade. Como o moderno fenómeno da globalização realça com crescente clareza, a sociedade humana a níveis tanto nacional, como regional ou internacional é cada vez mais dependente dos relacionamentos básicos que as pessoas cultivam umas com as outras e em círculos cada vez mais largos. Estes relacionamentos partem da família, passam pelos grupos intermediários e chegam à sociedade civil no seu conjunto, abarcando toda a comunidade nacional de um determinado país. Os Estados, por sua vez, entram em relação uns com os outros; além disso, criam-se redes de interdependência global, tanto a nível regional como mundial.

Ao mesmo tempo, esta crescente realidade da interacção e interdependência humanas realça as numerosas desigualdades existentes entre os povos e as nações: há um profundo fosso entre os países ricos e as nações pobres; no interior dos países existem desequilíbrios sociais entre as pessoas que vivem na riqueza e aquelas que são feridas na sua dignidade, em virtude da falta das necessidades básicas da vida. Além disso, há que relevar também o prejuízo causado no ambiente humano e natural, pelo uso irresponsável dos recursos.

Devemos ainda considerar o triste facto de que em determinadas regiões estes factores negativos se tornaram tão fortes que alguns dos países mais pobres parecem ter atingido um ponto de declínio irreversível. Por este motivo, e obrigatoriamente, a promoção da justiça deve estar no próprio centro dos esforços que a comunidade internacional faz com vista a resolver estes problemas.

Trata-se de ajudar de maneira activa os indivíduos e os grupos que actualmente sofrem devido à exclusão e à marginalização, a fim de que possam tornar-se parte do processo de desenvolvimento económico e humano. Para as regiões ricas do mundo, isto significa que são necessárias algumas mudanças nos estilos de vida, certas transformações nos modelos de produção e de consumo; e nas áreas em vias de desenvolvimento, muitas vezes é preciso uma mudança nas estruturas existentes de distribuição do poder, tanto político como económico. Para toda a família humana, significa enfrentar os sérios desafios apresentados pela agressão armada e pelos conflitos violentos, realidades estas que dizem respeito não apenas aos povos e aos Estados, mas também às organização não institucionais, como os grupos paramilitares e terroristas. Diante de tais ameaças, não pode deixar de se sentir o urgente dever moral de trabalhar activamente pela promoção da paz e da compreensão entre os povos, uma tarefa que depende em grande parte do estabelecimento na justiça de uma solidariedade autêntica e efectiva.

Neste mesmo contexto, observamos as trágicas consequências que o conflito étnico continua a provocar em numerosas regiões do mundo inteiro, inclusivamente em várias áreas da África e até mesmo no seu próprio País, Senhor Embaixador, no qual infelizmente não têm sido evitados episódios de violência estimulada por rivalidades tribais. Também aqui o princípio da solidariedade pode ajudar as diversas partes interessadas a reconhecerem os valores que têm em conjunto, valores estes que estão enraizados na nossa própria natureza de pessoas humanas. A consciência destes valores conjuntos oferece uma base intrinsecamente universal para o diálogo fecundo e construtivo, e para o mútuo entendimento. Isto, por sua vez, prepara o campo para a ulterior democratização da sociedade, contribuindo para aumentar a participação de todos os grupos interessados numa ordem da vida pública que seja representativa e juridicamente salvaguardada.

É óbvio que a Igreja católica será sempre um parceiro de boa vontade na busca do bem comum, e que continuará a oferecer a sua contribuição específica para a edificação da sociedade ganense. A este propósito, estou reconhecido a Vossa Excelência pelas suas palavras sobre a presença positiva da Igreja no seu País. Gostaria de observar ainda que é a garantia do direito à liberdade religiosa a pedra angular da harmonia e da estabilidade em qualquer sistema democrática de governo que torna os católicos de Gana grandemente capazes de trabalhar pelo progresso espiritual e material dos seus compatriotas, promovendo a unidade e fomentando a irmandade e a solidariedade humanas eficazes.

Senhor Embaixador, estou convicto de que a sua missão aqui contribuirá para fortalecer os vínculos de amizade e de cooperação já existentes entre a República de Gana e a Santa Sé. No momento em que Vossa Excelência assume as suas novas responsabilidades, formulo-lhe os meus bons votos e asseguro-lhe que os diversos departamentos da Cúria Romana estarão prontos para o ajudar no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e o querido povo de Gana, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À EMBAIXADORA DA NORUEGA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


13 de Dezembro de 2002

: Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano, no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas com que Sua Majestade o Rei Harald V a designa Embaixadora Extroardinária e Plenipotenciária da Noruega junto da Santa Sé. Recordo com alegria a recente visita de Suas Majestades o Rei Harald e a Rainha Sonja, e peço-lhe que transmita o meu agradecimento a Sua Majestade pelas suas amáveis saudações, assegurando-lhe as minhas orações tanto pela Família Real como por todo o povo da Noruega.

Como Vossa Excelência observou, duramte mais de mil anos o cristianismo desempenhou um papel vital na formação dos valores da sociedade norueguesa. Com efeito, em todo o continente europeu, as verdades e os valores do cristianismo representam desde há muito tempo os fundamentos do seu próprio tecido social, dando forma às suas instituições e ajudando os seus povos no caminho ao longo do tempo, na infinita busca da verdade, da justiça e da liberdade.

Contudo, na era contemporânea, não se pode deixar de observar um determinado eclipse do sentido da transcendência do homem e da dignidade intrínseca da vida humana. Considerando os confins limitados de uma visão materialista da realidade, que facilmente leva ao egoísmo e a uma abordagem utilitarista da existência, às vezes as pessoas são incapazes de reconhecer a natureza da vida como dom, um dom que encontra o seu significado autêntico na abertura à verdade da sua origem em Deus e no exercício da solidariedade sincera para com os outros seres humanos.

Limitadas por uma compreensão egocêntrica de si mesmas, as pessoas têm dificuldade de aceitar a realidade de uma lei superior e objectiva, inscrita nos seus corações e acessível à consciência, o santuário da sua alma, onde cada um é chamado e alcançar a medida completa da maturidade humana.

O cristianismo deve continuar a desempenhar o papel que sempre lhe pertenceu no seio da Europa, como "alma" dos seus diversos povos, iluminando e encorajando não apenas o seu desenvolvimento religioso, mas também o seu progresso cultural e social. Desde o início do meu Pontificado, sempre insisti sobre a importância que a Igreja atribui à vida cultural dos povos e das nações, dado que a cultura da comunidade constitui a resposta que ela mesma dá às questões fundamentais da vida, uma resposta que representa uma parte crucial das atitudes e dos comportamentos sociais. Repito nesta ocasião aquilo que pude dizer no momento da minha chegada a Oslo, no dia 1 de Junho de 1989: "Recordar os acontecimentos e as influências que formaram uma nação significa compreender as fontes da sua actual orientação histórica". Este foi o motivo pelo qual desejei encorajar os cristãos a pôr em prática a sua própria fé, num espírito de cooperação ecuménica e inter-religiosa, em ordem à formação das suas comunidades e da mais vasta comunidade internacional.

Os desafios são notáveis. Uma sociedade que é fiel às suas raízes cristãs não pode deixar de estar intensamente preocupada em ir ao encontro das necessidades dos outros, que vivem em circunstâncias menos afortunadas. É uma sociedade que sente uma profunda responsabilidade diante da perspectiva de uma crise ecológica ou dos problemas da paz, ou ainda da falta das devidas garantias para os direitos humanos fundamentais dos indivíduos. É por isso que quero exprimir, uma vez mais, a minha estima pessoal pela solidariedade activa da Noruega para com as nações em vias de desenvolvimento, nas regiões mais atribuladas do mundo. Estou persuadido de que a assistência generosa que a Norugea lhes está a oferecer ajudará sempre a servir os interesses autênticos de todas as pessoas nisto envolvidas. De modo particular, tenho acompanhado atentamente os esforços realizados pela Noruega, em ordem a instaurar a paz na tormentada Ilha de Sri Lanka, e agrada-me observar o progresso alcançado nestas difíceis negociações.

O exercício da solidariedade no seio de cada uma das sociedades constitui a expressão de uma determinação perseverante, com vista a promover o bem comum. Senhora Embaixadora, no seu País esta solidariedade ocupa um lugar especial, no contexto do tratamento reservado às crescentes comunidades de imigrantes. A abertura, o respeito e a disponibilidade sincera para o diálogo fazem com que os imigrantes, procurando enfrentar as suas próprias dificuldades e a dos respectivos familiares, ofereçam uma contribuição específica e positiva para o País que os recebe.

Estimulada pela convicção de que na Igreja ninguém é estrangeiro, a Igreja católica na Noruega tem testemunhado que a sua experiência de hospitalidade aos imigrantes é enriquecedora e fecunda. Em muitos casos, as comunidades paroquiais estão a tornar-se campos de formação para a hospitalidade e lugares onde as pessoas podem crescer no conhecimento e no respeito recíprocos, como irmãos e irmãs na família de Deus.

Excelência, estou convicto de que a sua presença como representante diplomática da Noruega contribuirá para revigorar os laços de amizade e de cooperação entre o seu País e a Santa Sé. No momento em que a Senhora Embaixadora dá início à sua missão, asseguro-lhe que os vários Departamentos da Cúria Romana estarão prontos para a ajudar de todas as formas possíveis no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e os seus compatriotas, invoco do íntimo do coração as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO EMBAIXADOR DE RUANDA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


: 13 de Dezembro de 2002
: Senhor Embaixador

1. É com prazer que dou as boas-vindas a Vossa Excelência na ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República de Ruanda junto da Santa Sé.

Sensibilizaram-me muito as palavras gentis que acabou de me dirigir e ficar-lhe-ia grato se se dignar transmitir os meus agradecimentos a sua Excelência o Senhor Paul Kagame, Presidente da República, pelos votos que me enviou por seu intermédio. Saúdo também com afecto todo o povo ruandês, pedindo a Deus que o ajude a sair das provas por que está a passar. Dado que o país esteve abandonado durante longos anos ao arbítrio do ódio e da violência, é tarefa de todos os componentes da Nação mobilizar-se cada vez mais para enfrentar e pôr em prática de modo responsável as soluções políticas, económicas e sociais oportunas; favorecendo a unidade nacional no respeito das sensibilidades e das opiniões, elas permitirão às gerações actuais e futuras aprender a viver como irmãos, num país reconciliado e próspero.

2. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, recorda que a exigência de uma justiça equitativa é sem dúvida alguma, para todo o Estado, o sulco sobre o qual construir a paz verdadeira e uma vida democrática forte, ao serviço do desenvolvimento integral de todos os cidadãos sem excepção. Não podemos deixar de apreciar os esforços empreendidos no seu país para promover a justiça: esperemos que eles dêem fruto. Isto contribuirá para fortalecer a unidade nacional e para erradicar a cultura da injustiça, que não pode deixar de incrementar o ódio, exacerbando as desigualdades entre as pessoas e entre as comunidades étnicas. Trata-se de permitir que os Ruandeses se empenhem com confiança e determinação no caminho da reconciliação efectiva e da partilha, empenhando-se na busca e na manifestação corajosa da verdade sobre as circunstâncias que causaram o genocídio. Isto exige sobretudo que se renuncie ao etnocentrismo, que gera o domínio de uns sobre os outros, e que se tenha esperança no caminho que ainda falta percorrer para juntos alcançarem a paz.

3. O caminho da reconstrução nacional e da concórdia entre todos os habitantes, no qual Ruanda está empenhado, é também um caminho de democratização. Ele requer uma atenção cada vez maior, dedicada a certos aspectos da democracia: defesa das liberdades públicas, preocupação pelo pluralismo político, respeito da dignidade e dos direitos fundamentais das pessoas e das comunidades humanas. Está a ser redigida uma nova Constituição do seu País. Oxalá este texto, fruto da colaboração de todos os cidadãos, fortaleça a unidade nacional, promovendo e garantindo os valores humanos, morais e espirituais que permitirão que todos os Ruandeses participem cada vez mais activamente na vida e no crescimento da Nação! Estes valores universais, assim como o respeito da vida humana, o sentido do bem comum, o acolhimento dos repatriados, o apoio à família, são um património precioso que constitui uma fonte de esperança não só para Ruanda, mas também para toda a região dos Grandes Lagos, chamada a encontrar uma grande força de espírito e a coragem política necessárias para o estabelecimento de um progresso duradouro e solidário.

4. A Igreja católica mobilizou-se ao longo dos anos para formular as proposições pastorais que possam ajudar o povo a reconciliar-se e favorecer o cuidado interior das pessoas. Alegro-me por saber que as Autoridades do seu País desejam garantir-lhe uma possibilidade mais firme de exercer livremente a sua missão. Tenha a certeza de que ela deseja pôr-se infatigavelmente ao serviço da paz e da fraternidade entre os homens, educando as suas consciências e os seus corações para que eles possam enfrentar melhor a actual situação; ela realiza também a sua missão de evangelização, fazendo partilhar a sua esperança no futuro e participando na edificação social e espiritual da sociedade ruandesa, no respeito das tradições locais.

5. Senhor Embaixador, permita que, por seu intermédio, eu saúde afectuosamente os Bispos e a comunidade católica do seu País. Estou ao corrente das duras provas que eles enfrentaram juntamente com todos os seus compatriotas e agradeço ao Senhor a sua tenacidade e fidelidade no anúncio do Evangelho da vida e do perdão. Nestes dias cheios de esperança para a vida da Nação, convido-os a não abrandar os seus esforços para manifestar aos seus irmãos e irmãs que Deus não os abandonou nem esqueceu. O nome de cada um dos ruandeses está gravado nas palmas das mãos de Cristo, perfuradas pelos cravos da crucifixão (cf. Exortação apostólica Ecclesia in Africa ). Por conseguinte, encorajo os católicos de Ruanda, sobretudo as jovens gerações, a serem artífices audaciosos e generosos de paz, empenhando-se por fazer desaparecer as causas da divisão e incrementando uma sociedade cada vez mais próspera e unida!

6. No momento em que começa a sua missão junto da Santa Sé, sinto-me feliz por lhe apresentar os meus melhores votos. Tenha a certeza de que encontrará sempre aqui, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo do qual poderá ter necessidade.
Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, assim como sobre todo o povo ruandês e os seus dirigentes, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO EMBAIXADOR DE MADAGÁSCAR


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


13 de Dezembro de 2002

: Senhor Embaixador

1. É com grande prazer que recebo hoje Vossa Excelência, no momento em que apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário de Madagáscar junto da Santa Sé, recordando a figura de seu pai que desempenhou esta mesma missão.

Sensibilizaram-me as palavras gentis que acabou de me dirigir. Elas dão testemunho da estima que o seu país tem pela missão da Igreja católica. Agradeço-lhe de igual modo a saudação cordial que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Marc Ravalomanana, Presidente da República de Madagáscar. Tenha a amabilidade de se fazer intermediário dos meus respeitosos votos pela sua nobre missão ao serviço dos seus concidadãos. Saúdo também com afecto o povo malgaxe que, entre as vicissitudes da história da Nação, soube permanecer corajoso nas provas e paciente nas adversidades.

2. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, recordou a linha de comportamentos que as mais altas Autoridades do Estado desejam seguir para guiar o destino da Nação, dedicando-se a fortalecer cada vez mais os vínculos da sua unidade. O Fahamasinana, que visa associar todos os Malgaxes na construção de uma sociedade baseada na justiça e na paz, só dará frutos se se basear nos valores morais e espirituais que formam a riqueza da cultura malgaxe. Fundar resolutamente a democracia requer que sejam feitas escolhas corajosas, sobretudo no que se refere à moralidade da vida política, a defesa das liberdades públicas e a participação de todos os cidadãos na prática da res publica. Por outro lado, a transparência e a verdade na gestão dos assuntos nacionais são condições indispensáveis para o desenvolvimento duradouro de uma sociedade. Isto precisa também de orientações económicas e sociais que coloquem o homem no centro do desenvolvimento da sociedade e que protejam os interesses dos mais pobres, favorecendo a igualdade entre as pessoas e entre os diferentes componentes nacionais. No momento em que o seu País vive uma nova página da sua história e na véspera da data das eleições, peço a Deus que apoie os esforços de quantos, tendo unicamente a preocupação do bem de todos, trabalham para abrir caminhos de diálogo e de reconciliação nacional, para que os países se empenhem cada vez mais no caminho do bom governo e do respeito dos direitos do homem.

3. A fim de conseguir realizar estes nobres objectivos, toda a Nação está chamada a desenvolver uma cultura de paz. Isto exige em particular que seja combatido o egoísmo em todas as suas formas, cujos efeitos devastadores se fazem sentir nos desequilíbrios sócio-económicos e no aumento da pobreza. A busca da paz requer também uma atenção especial ao princípio da igualdade na vida social, eliminando com extrema firmeza todas as formas de corrupção, que, arruinando as relações de confiança, prejudicam os vínculos de cooperação leal entre as pessoas, as instituições e as comunidades humanas. Em todas as escalas da vida pública, como os bispos do país recordaram recentemente, seria bom purificar os corações e as consciências, comprometendo-se a fazer desaparecer os comportamentos que constituem uma violência dissimulada que mais não faz do que aumentar as desigualdades entre os ricos e os pobres, e que desestabilizam toda a sociedade. Só assim se poderá desenvolver uma cultura autêntica da justiça e da paz, apoiada por uma cooperação internacional que "não se pode limitar à ajuda e à assistência [...] mas que, ao contrário, exprime um compromisso concreto de solidariedade com vista a fazer dos mais pobres os protagonistas do seu desenvolvimento" (Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz de 2000, n. 17).

4. Actualmente o seu País deve enfrentar numerosos desafios. A Igreja católica, em relação com os outros organismos religiosos presentes no território, deseja dar um contributo específico à promoção do bem da comunidade nacional, discernindo e encorajando aquilo que permite ao homem viver e crescer de acordo com a sua vocação. Ela deseja participar na vida da sociedade, nunca sendo indiferente ao destino das pessoas e das comunidades humanas, nem aos perigos que as ameaçam.

O amor de Cristo, Salvador de todos os homens e do homem todo, estimula-a a propor às jovens gerações, sobretudo através das suas obras de educação e na fidelidade aos nobres valores tradicionais malgaxes, os meios humanos e espirituais que lhe permitirão assumir totalmente o seu lugar na construção de uma sociedade forte, pacífica e solidária. De facto, é importante sensibilizar a juventude para o sentido do esforço e da honestidade, para o espírito de conciliação e partilha, para o justo respeito dos bens e das pessoas, para a repartição equitativa das riquezas e das responsabilidades, assim como para a preocupação permanente de preservar o meio-ambiente e os recursos naturais. Faço votos para que lhes sejam dados os meios que lhes façam manter a esperança e prosseguir com fervor esta nobre missão; de igual modo, é importante defender a causa da família, na qual os jovens fazem a primeira aprendizagem das virtudes morais e sociais, e "que é para a sociedade a alma da sua vida e do seu progresso" (Exortação apostólica Familiaris consortio FC 42).

5. Senhor Embaixador, gostaria de saudar, por seu intermédio, os Bispos, que se empenharam recentemente com vigor para lutar contra a corrupção e pela justiça, assim como todos os membros da Igreja católica em Madagáscar. Neste tempo de preparação para a festa do Natal, na qual toda a humanidade é convidada a receber Cristo, Príncipe da Paz, encorajo-os a serem para todos os seus compatriotas, com a sua presença activa a todos os níveis da sociedade, testemunhas vivas da verdade e da partilha, contribuindo para difundir o espírito do fihavanana, valor tão querido à cultura tradicional malgaxe.

6. Senhor Embaixador, no momento em que começa oficialmente a sua missão junto da Sé Apostólica, apresento-lhe os meus votos mais cordiais para a nobre tarefa que o espera. Tenha a certeza de que encontrará sempre aqui, junto dos meus colaboradores, a disponibilidade e o acolhimento atento de que poderá ter necessidade.

Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, sobre os responsáveis da Nação e sobre todo povo malgaxe, invoco de todo o coração as bênçãos de Deus.




Discursos João Paulo II 2002 - 13 de Dezembro de 2002