Discursos João Paulo II 2002 - 13 de Dezembro de 2002

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE A APRESENTAÇÃO DAS CREDENCIAIS


DE SETE NOVOS EMBAIXADORES JUNTO DA SANTA SÉ


13 de Dezembro de 2002


Excelências

1. É com prazer que vos recebo no Vaticano por ocasião da apresentação das Cartas que vos acreditam como Embaixadores extraordinários e plenipotenciários dos vossos respectivos países: Serra Leoa, Jamaica, Índia, Gana, Noruega, Ruanda e Madagáscar.Ao agradecer-vos por vos terdes feito porta-vozes das amáveis mensagens dos vossos Chefes de Estado, ficar-vos-ia grato se vos dignardes exprimir-lhes, em retribuição, as minhas saudações deferentes e os meus fervorosos votos pelas suas pessoas e pela nobre missão que desempenham ao serviço de todos os seus compatriotas. Por vosso intermédio, saúdo cordialmente também as Autoridades civis e religiosas dos vossos países, assim como todos os concidadãos, garantindo-lhes a minha estima e simpatia.

2. A paz é um dos bens mais preciosos para os homens, para os povos e para os Estados. Como sabeis, vós que seguis atentamente o caminho internacional, todos os homens a desejam ardentemente. Sem a paz, não pode haver um verdadeiro progresso dos indivíduos, das famílias, da sociedade e da própria economia. A paz é um dever para todos. Desejar a paz não é um sinal de fraqueza, mas de força. Ela realiza-se prestando atenção ao respeito da ordem internacional e do direito internacional, que devem ser as prioridades de todos os que têm a responsabilidade do destino das Nações. De igual modo, é importante considerar o valor primordial das acções comuns e multilaterais para a resolução dos conflitos nos diferentes continentes.

3. As misérias e as injustiças são fontes de violência e contribuem para manter e incrementar certos conflitos locais ou regionais. Penso em particular nos países em que a fome se desenvolve de maneira endémica. A comunidade internacional está chamada a fazer o possível para que estes flagelos possam ser, pouco a pouco, eliminados, sobretudo com os meios materiais e humanos que ajudarão os povos mais necessitados. Um apoio mais importante à organização das economias locais permitiria, sem dúvida, que as populações autóctones assumissem a direcção do seu futuro.

Hoje a pobreza pesa de maneira alarmante sobre o mundo, pondo em perigo os equilíbrios políticos, económicos e sociais. No espírito da Conferência internacional de Viena de 1993 sobre os direitos humanos, ela é um atentado à dignidade das pessoas e dos povos. É preciso reconhecer o direito que todos têm de possuir o necessário e de poderem beneficiar de uma parte da riqueza nacional. Por vosso intermédio, Senhores Embaixadores, desejo mais uma vez lançar um apelo premente à Comunidade internacional para que, o mais depressa possível, seja considerada de novo a repartição das riquezas do planeta e a assistência técnica e científica equitativa aos países pobres, que são obrigações para os países ricos. De facto, o apoio ao desenvolvimento requer a formação, em todos os âmbitos, de quadros locais que, no futuro, assumirão a responsabilidade dos seus povos, para que os mais desprovidos da sociedade possam beneficiar mais directamente das matérias-primas e das riquezas obtidas do subsolo e do solo.

Nesta perspectiva, a Igreja católica deseja prosseguir a sua acção, tanto no campo diplomático como mediante a sua presença de proximidade nos diversos países do mundo, empenhando-se pelo respeito das pessoas e dos povos, e pela promoção de todos, sobretudo pela educação integral e pelas obras de socialização.

4. No momento em que começais a vossa missão junto da Santa Sé, apresento-vos os meus votos cordiais. Ao invocar para vós a abundância das Bênçãos divinas, assim como para as vossas famílias, os vossos colaboradores e para as nações que representais, peço ao Altíssimo que vos cumule dos seus dons.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS NUMEROSOS ARTISTAS QUE PARTICIPARAM


NO CONCERTO DE "NATAL NO VATICANO"


13 de Dezembro de 2002



Ilustres Senhores, gentis Senhoras

1. Sinto-me feliz por vos receber neste encontro, que se tornou uma agradável tradição ao aproximarem-se as festas de Natal. Tenho assim a ocasião de vos exprimir o meu sentido prazer pela vossa participação no Concerto "Natal no Vaticano", que já chegou à sua décima edição.

Dirijo a todos os que participaram na realização deste acontecimento musical o meu apreço e a minha gratidão. Penso de modo particular nos artistas, nos grupos musicais, na orquestra, no coro e nos seus directores, assim como nos apresentadores, nos ilustres hóspedes, nos promotores e organizadores deste concerto. Oxalá esta exibição seja motivo de satisfação e ocasião de alegria e de serenidade para todos os que nela participam pessoalmente e para os que assistem através da televisão.

2. Todos conhecem bem a finalidade deste encontro artístico, a de contribuir para o esforço da Diocese de Roma na construção de novas igrejas, com as estruturas pastorais anexas, nas zonas periféricas da Cidade.

Já fizestes muito, com espírito de solidariedade cristã, participando de maneira concreta no programa da nova evangelização, que envolve todos os crentes.

Desejo renovar-vos o meu "obrigado" sincero também em nome das comunidades paroquais que beneficiam da vossa generosidade.

Ao formular fervorosos votos pelo bom êxito do Concerto, é-me grato apresentar a cada um de vós e às vossas famílias cordiais bons votos para o próximo Santo Natal e para o Ano Novo.

Faço votos por que, ao contemplar no presépio o Filho de Deus que se fez menino para a nossa salvação, possais experimentar a alegria do seu amor por todos os homens, seja qual for a sua condição.

Com estes sentimentos, invoco a protecção celeste da Mãe de Deus e abençoo-vos de coração a vós juntamente com os vossos familiares e todos os que vos são queridos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA FEDERAÇÃO DOS ORGANISMOS


CRISTÃOS DO SERVIÇO INTERNACIONAL


DE VOLUNTARIADO (FOCSIV )

Sábado, 14 de Dezembro de 2002






Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Estou feliz por vos receber e por vos saudar a todos vós, que representais as Associações Católicas de Voluntariado Internacional, reunidas na Federação dos Organismos Cristãos do Serviço Internacional de Voluntariado, a FOCSIV.

Dirijo uma saudação especial ao Assistente Eclesiástico, assim como ao vosso Presidente, a quem agradeço as cordiais palavras com que se fez intérprete dos sentimentos de todos vós.

2. Nestes dias, estais a celebrar a Assembleia anual da vossa Federação, que desta vez reveste um significado especial, porque tem lugar no 30º aniversário de fundação da própria FOCSIV. Com efeito, ela nasceu depois do Concílio Vaticano II, graças à iniciativa de um grupo de fiéis leigos, animados pelo meu venerável Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI.

Desde as suas origens, ela caracterizou-se no âmbito da cooperação entre os povos, pelo compromisso com que promoveu constantemente o desenvolvimento dos "últimos", através da acção generosa de milhares de voluntários, enviados a partir de 1972 até hoje, aos países do chamado Terceiro Mundo, pelos vários Organismos que compõem a Federação. Actualmente, estas vossas Associações estão presentes nos cinco continentes, onde realizam importantes projectos de solidariedade, em colaboração com as Igrejas locais e também com os missionários.

3. Aquilo que caracteriza a vossa benemérita Federação, chamada a trabalhar juntamente com muitos outros Organismos de assistência e de promoção humana, é a inspiração cristã que orienta e ajuda a sua acção em muitas regiões do mundo.

Na Sagrada Escritura, a exortação ao dever de amar o próximo está ligada ao mandamento de amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (cf. Mc Mc 12,29-31). O amor ao próximo realiza plenamente o mandato de Cristo, se se fundamenta no amor a Deus.

O cristão é chamado a tornar de certa forma "experimentável", através da sua dedicação aos irmãos, a ternura providencial do Pai celestial. Para que não conheça reservas nem cansaços, o amor ao próximo tem necessidade de se alimentar no manancial da caridade divina. E isto exige prolongados momentos de oração, uma escuta atenta e constante da Palavra de Deus e sobretudo uma existência centrada no mistério da Eucaristia.

4. Por conseguinte, o segredo da eficácia de cada um dos vossos projectos é a referência constante a Cristo. Foi precisamente isto que testemunharam não poucos dos vossos amigos, que se distinguiram como autênticos e generosos operários do Evangelho, às vezes até ao sacrifício da sua própria vida.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, seguindo o seu exemplo, caminhai em frente com coragem! Aliás, intensificai o vosso impulso apostólico para responder às urgências de quantos, hoje em dia, são obrigados a viver em condições de necessidade ou de abandono.

A Virgem Imaculada vos proteja e vos torne artífices de justiça e de paz.

É com estes sentimentos que vos formulo, a vós aqui presentes e às vossas Associações, os bons votos de um apostolado rico e profícuo. Já na iminência do Santo Natal, transmito-vos os meus votos de boas-festas, a vós e às vossas famílias e, enquanto vos asseguro a minha lembrança na oração, abençoo-vos a todos com afecto.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À EMBAIXADORA DA REPÚBLICA ESLOVACA JUNTO


DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 19 de Dezembro de 2002

Senhora Embaixadora!

1. É-me particularmente grato o encontro de hoje, no qual Vossa Excelência apresenta as Cartas que a acreditam como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária junto da Santa Sé. Ao agradecer-lhe as gentis expressões que me foram dirigidas também em nome das mais altas Autoridades do Estado, desejo recordar o recente encontro com a Delegação do seu País, guiada por Sua Excelência o Senhor Presidente Rudolf Schuster, por ocasião do décimo aniversário da independência da República. Nessa circunstância teve lugar o intercâmbio dos instrumentos de ratificação do Acordo assinado em Bratislava no dia 21 de Agosto passado, sobre a assistência religiosa aos fiéis católicos nas Forças Armadas e nos Corpos Armados da República.

Tratou-se de uma ulterior manifestação das relações cordiais que existem entre o querido povo da Nação que Vossa Excelência aqui representa e o Sucessor de Pedro. Na verdade, os vínculos entre o Bispo de Roma e as populações eslovacas remontam à época em que os Santos Cirilo e Metódio levaram o anúncio do Evangelho à vossa Terra. Desde então estes vínculos desenvolveram-se e consolidaram-se constantemente, apesar das vicissitudes históricas nem sempre favoráveis.

2. Como Vossa Excelência recordou, a maior parte do povo eslovaco declara-se cristão. De facto, o Evangelho contribuiu de muitos modos para formar a sua cultura e as suas tradições. A Igreja católica, na qual muitos dos seus concidadãos se reconhecem, desempenha a sua missão no pleno reconhecimento da soberania do Estado democrático, com o qual deseja manter um diálogo cordial e construtivo, no respeito das recíprocas competências, estimulada pelo desejo de contribuir para o bem-estar e para o progresso da Nação.

Este diálogo perspectiva-se de particular valor nesta fase em que a Eslováquia, depois de um duro período de perseguição, está a florescer na liberdade e deseja realizar um autêntico progresso a todos os níveis. É importante que nesta fase de tumultuosas transformações não se ceda a perspectivas falazes, que encontram a sua raiz no materialismo prático e no consumismo desenfreado. Tenho esperança em que o povo eslovaco, haurindo da rica tradição de valores morais que sempre o distinguiu, saiba também no futuro enfrentar os perigos de uma modernidade surda aos valores do espírito.

3. Abre-se hoje a prometedora perspectiva da entrada da Eslováquia na União Europeia. Tenho a certeza de que este acontecimento não deixará de dar à nova Europa um contributo de cultura e de valores, significativo como nunca, participando na consolidação da "casa comum" do Continente. O longo caminho de crescimento realizado pelo País nestes dez anos, mesmo entre problemáticas complexas, é garantia de uma inserção positiva no conjunto das outras Nações europeias com vantagens recíprocas. Nesta perspectiva poderá ser facilitada a solução de dificuldades seculares.

Como não ver neste encontro também uma possibilidade para as novas gerações, que estão a sobressair também no seu País, uma possibilidade concreta de usar melhor as próprias energias, em favor do bem comum? Este é também o meu desejo ardente, se penso novamente no entusiasmo com que, em muitas ocasiões, numerosas multidões de jovens eslovacos me exprimiram, além da sua alegria, também as ansiosas expectativas para o futuro que trazem no coração. Ricos de uma sólida formação cristã, eles poderão levar aos seus coetâneos do Continente um testemunho convicto dos valores que surgem de uma sociedade justa, solidária e pacífica.

4. A sociedade de amanhã fundar-se-á sobre os jovens. Por conseguinte, é preciso que o Estado vá ao seu encontro, oferecendo o apoio indispensável para a sua formação e para a posterior inserção no mundo do trabalho. Neste contexto, manifesta-se não menos importante a solicitude de todos para favorecer a formação de famílias novas e sólidas, fundadas no matrimónio e abertas à vida. A Igreja não deixará sem dúvida de dar o seu contributo no seu campo específico.

Era esta uma das intenções do Acordo-base, assinado entre a Santa Sé e a República Eslovaca em 2000. Faço votos para que o clima criado por esse entendimento favoreça uma colaboração cada vez maior entre as Autoridades do Estado e os Pastores da Igreja, a fim de servir sempre melhor o bem comum da Nação.

5. Senhora Embaixadora, ao comunicar a Vossa Excelência as minhas reflexões, apresento-lhe os meus melhores votos para a importante missão que lhe foi confiada. Garanto da parte dos meus colaboradores a disponibilidade mais aberta e construtiva: aqui, Vossa Excelência encontrará sempre um ambiente amigo.

Ao perdir-lhe que se faça intérprete junto do Senhor Presidente da República e junto das Autoridades governativas dos meus sentimentos de deferente estima, invoco de bom grado sobre Vossa Excelência e sobre o seu trabalho a efusão dos favores divinos, enquanto concedo uma especial Bênção a todo o povo eslovaco, que sinto tão próximo do meu coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS PARTICIPANTES NO CAPÍTULO GERAL


DAS FILHAS DE SANTA ANA


Quinta-feira, 19 de Dezembro de 2002






Caríssimas Irmãs
Filhas de Santa Ana!

1. Por ocasião do vosso Capítulo Geral, quisestes encontrar-vos com o Sucessor de Pedro, para confirmar a firme adesão que vos une à Sé Apostólica. Feliz por vos receber, dirijo a cada uma as cordiais boas-vindas.

Apresento, de modo particular, as minhas felicitações à nova Madre Geral, Irmã Ana Maria Luísa Prandina, garantindo-lhe uma recordação na oração para um válido cumprimento das importantes tarefas que lhe são confiadas. Exprimo a todas o meu apreço por tudo o que a Congregação está a realizar, com generosa fidelidade aos ensinamentos da Beata Rosa Gattorno. Ao encontrar-me convosco, desejo fazer chegar o meu afectuoso pensamento a todos os outros "ramos" da vossa Família espiritual, que encorajo a prosseguir o caminho empreendido sob a protecção de Santa Ana, mãe da Imaculada.

2. A Assembleia Capitular, durante a qual estais a reflectir sobre o tema: Fidelidade ao Espírito, com Cristo e com a Madre Rosa, para entrar nos "processos históricos" fazendo-se ao largo com optimismo pascal, representa uma ocasião propícia para recordar com gratidão o passado, para viver com paixão o presente, e para vos abrirdes com confiança ao futuro, dando graças ao Pai celeste por tudo o que vos concedeu realizar até agora.

O vosso Instituto alargou ulteriormente, no sexénio passado, a sua presença missionária, prodigalizando-se ao serviço de numerosas pessoas necessitadas, sobretudo nos sectores da educação, da promoção humana, da saúde e da assistência aos idosos. A vossa acção foi encorajada e estimulada nas Exortações apostólicas que recolheram as indicações dos sínodos continentais, celebrados como preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000. Como vós mesmas quisestes realçar, estes textos constituem o humus e a "gramática" para um conhecimento apropriado da realidade na qual vive e deve agir também a vossa Congregação.

"Ó doce Jesus, quem te ama sabe falar bem! Portanto, minha filha, ama e faz o que desejas, porque farás tudo bem". A vossa Fundadora enviou-vos ao mundo com este espírito e desejais continuar a fazer referência a ele ao viver a vossa consagração religiosa.

3. Caríssimas, no novo milénio que há pouco começou são necessários olhos penetrantes para reconhecer a obra que Cristo realiza e um coração grande para se tornar seus instrumentos (cf. Novo millennio ineunte, 58). Por conseguinte, eis a importância fundamental da oração, para conseguir colher os sinais e os instrumentos do Redentor. É a Madre Rosa Gattorno que ainda hoje vo-lo recomenda: "A oração é a chave das graças: ela abre os tesouros do Senhor".
A Eucaristia seja o centro da vossa comunidade, seja presença viva de Cristo entre os homens. Detende-vos com frequência na companhia de Jesus eucarístico. A vossa Fundadora costumava repetir a este propósito: "Diante de Jesus o tempo não tem tempo".

Se estais habituadas a contemplar o rosto de Cristo no silêncio da oração, podereis reconhecê-lo em cada pessoa que encontrais. Neste ano, que eu quis como Ano do Rosário, esforçai-vos por contemplar o rosto do Redentor com o olhar de Maria, sobretudo graças à recitação quotidiana do Santo Rosário. Como escrevi na Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, "na sobriedade dos seus elementos, (ele) concentra em si a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é como que um compêndio" (n. 1). É na escola de Maria que aprendemos mais facilmente a discernir as prioridades do nosso trabalho apostólico.

4. Caríssimas Irmãs, mesmo se vos preocupais com a diminuição numérica do pessoal religioso e com o enfraquecimento das forças na Itália, não deveis desanimar. Deus não deixa faltar o seu apoio àquele que, com confiança, o serve. É-vos pedido, em primerio lugar, que vos dediqueis a amar e a servir o Senhor, empregando as vossas energias em benefício do seu Corpo místico (cf. Vita consecrata VC 104). Imitando a vossa Fundadora, sabei confiar em Deus e, "dado que a Obra é sua, ele pensará em tudo": de Jesus e do seu Espírito, brotará a força estimulante que vos fará consolidar as vossas actuais actividades e vos estimulará para metas apostólicas e missionárias, para levar a alegria do amor divino às numerosas pessoas que esperam gestos concretos de caridade evangélica.

São estes os votos fervorosos que formulo para todo o vosso Instituto. Nas proximidades das santas Festas do Natal, é-me grato apresentar a cada uma de vós sinceras e cordiais saudações, enquanto, ao invocar sobre vós e sobre a vossa Congregação a protecção da Imaculada e da Beata Rosa Gattorno, vos concedo de coração a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS JOVENS DA ACÇÃO CATÓLICA ITALIANA


POR OCASIÃO DO NATAL


20 de Dezembro de 2002






Caros rapazes e moças da Acção Católica Italiana

1. Estou-vos grato por esta vossa tradicional visita natalícia e pelos dons que me trouxestes. Saúdo-vos a todos cordialmente e agradeço a quem interpretou os vossos sentimentos, fazendo-me conhecer os vossos sonhos e projectos para o futuro. Saúdo os educadores, os responsáveis da Acção Católica e os Assistentes que vos acompanham. Dirijo uma particular saudação ao Assistente Geral, D. Francisco Lambiasi. Desejo ainda fazer chegar o meu cordial pensamento ao Presidente da Acção Católica Italiana, que não pôde estar presente neste encontro, desejando-lhe todo o bem na festividade do Natal que está a chegar.

Vós, queridos Rapazes e Moças, representais muitos dos vossos coetâneos que, através da experiência da Acção Católica dos Jovens, aprendem a seguir Jesus: escutam a sua voz e tornam-se seus amigos. Só Jesus conhece o segredo de uma vida plena de significado, para viver "em grande", como penso que vós desejais no fundo do coração.

No Natal, que celebraremos dentro de alguns dias, o Menino Jesus revelar-nos-á o amor infinito do Pai celeste, que não se cansa de procurar todos os seus filhos. Da gruta de Belém irradiará para o mundo de hoje a beleza do seu Reino de justiça e de paz. Preparai o coração para o acolher! Ele tornar-vos-á felizes.

2. Queridos Rapazes e Moças! O slogan que vos acompanha durante este ano associativo é: "Mani per tutti, tutti per mano [Mãos para todos, todos de mãos dadas]. As mãos não devem ser utilizadas para apertar egoisticamente os bens materiais e como que para "se agarrar" a eles. É necessário, ao contrário, aprender a tê-las abertas para acolher o amor de Deus: mãos sempre prontas para receber e a dar o seu amor.

Vivei assim, e proponde também este caminho aos vossos coetâneos! Assim oferecereis um precioso contributo à renovação que a Acção Católica Italiana empreendeu.

Obrigado, de novo, caríssimos, pela vossa visita. Desejo-vos um Bom Natal e torno extensivo este voto às vossas famílias e a todos os vossos amigos. Invoco sobre cada um a protecção maternal de Maria Imaculada, e concedo-vos a vós aqui presentes assim como a toda a Acção Católica Italiana uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO ENCONTRO COM OS COMPONENTES


DA CÚRIA ROMANA PARA A TRADICIONAL


TROCA DE BONS VOTOS


21 de Dezembro de 2002



Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Religiosos, Religiosas e Leigos
da Cúria Romana

1. Cum Maria contemplemur Christi vultum! Em conformidade com uma bonita tradição, o encontro que hoje nos vê reunidos tem um sabor decididamente familiar. Queremos trocar os bons votos na iminência da Santa Noite, em que nos deteremos para contemplar, juntamente com Maria, o Rosto de Cristo. Agradeço ao Cardeal Joseph Ratzinger, novo Decano do Colégio Cardinalício, os pensamentos e sentimentos que, com palavras nobres, me quis dirigir em nome de todos. Desejo também transmitir uma carinhosa saudação e os meus bons votos ao Decano Emérito, Cardeal Bernardin Gantin, manifestando-lhe inclusivamente nesta circunstância o meu profundo reconhecimento por todo o trabalho desempenhado ao serviço desta Sede Apostólica.

Para mim este é um Natal particularmente significativo, porque se celebra durante o meu 25º aniversário de Pontificado. E é precisamente esta circunstância que me leva a dizer-vos o meu "obrigado" ao Senhor, pelas dádivas que me concedeu neste não breve arco de tempo, dedicado ao serviço da Igreja universal.

Desejo exprimir-vos um "obrigado" muito cordial também a vós que, no dia-a-dia, com a vossa colaboração qualificada e afectuosa, estais especialmente próximos de mim. Sem vós, o meu ministério não poderia expressar-se de maneira adequada e eficaz. Peço ao Senhor que vos recompense por este serviço ao Sucessor de Pedro, permitindo-vos tirar daqui uma alegria íntima e todo o conforto espiritual.

2. Este encontro tem uma característica singular, porque se realiza durante o Ano do Rosário. Ele quer relançar na comunidade cristã uma oração mais válida do que nunca, inclusivamente à luz das orientações teológicas e espirituais, delineadas pelo Concílio Vaticano II. Com efeito, trata-se de uma prece mariana dotada de um coração acentuadamente cristológico.

Ao reflectir, como em geral faço nesta circunstância, sobre os principais acontecimentos que cadenciaram o meu ministério durante os meses passados, desejo fazê-lo na perspectiva sugerida pelo Rosário, ou seja, com um olhar contemplativo, que manifeste nos próprios acontecimentos o sinal da presença de Cristo. Neste sentido, na Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae realcei o valor antropológico desta oração (cf. n. 25): formando-nos na contemplação de Cristo, ela orienta-nos a fim de considerarmos o homem e a história à luz do seu Evangelho.

3. Em primeiro lugar, como podemos esquecer que o Rosto de Cristo continua a ter um traço de sofrimento, de verdadeira paixão, pelos conflitos que ensanguentam muitas regiões do mundo, e por aqueles que ameaçam explodir com renovada violência? Permanece emblemática a situação da Terra Santa, mas outras guerras "esquecidas" não são menos devastadoras. Além disso, o terrorismo continua a ceifar vidas e escavar mais fossos.

Diante deste horizonte banhado de sangue, a Igreja não cessa de fazer ouvir a sua voz e, sobretudo, continua a elevar a sua oração. Foi o que aconteceu, de maneira particular, no dia 24 do passado mês de Janeiro, no Dia de Oração pela Paz em Assis quando, juntamente com os representantes das outras religiões, demos testemunho da missão de paz, que é um dever especial de quantos acreditam em Deus. Devemos continuar a gritar com vigor: "As religiões estão ao serviço da paz" .

Voltei a confirmar esta verdade na Mensagem para a Paz, do dia 1 de Janeiro próximo, recordando a grande Encíclica Pacem in terris, do Beato João XXIII que, no dia 11 de Abril de 1963 há quase 40 anos! elevou a sua voz num difícil período histórico para indicar na verdade, na justiça, no amor e na liberdade os principais "pilares" da paz autêntica.

4. O Rosto de Cristo! Se observarmos à nossa volta com olhos contemplativos, não será difícil vislumbrar um raio do seu esplendor nas belezas da criação. Mas, ao mesmo tempo, seremos obrigados a lamentar a devastação que a negligência humana é capaz de provocar no meio ambiente, infligindo todos os dias na natureza, feridas que se voltam contra o próprio homem. Portanto, estou feliz por ter podido, também neste ano, dar testemunho em várias ocasiões do compromisso da Igreja no campo ecológico.

A este propósito, é duplamente significativa porque constitui um fruto da colaboração entre as Igrejas a Declaração que assinei com Sua Santidade o Patriarca Ecuménico Bartolomeu I, presente em Veneza, entrando em contacto com ele através de uma conferência por vídeo, no dia 10 de Junho. Juntos, dissemos ao mundo que é necessário para todos, para o futuro da humanidade e especialmente no que diz respeito às crianças, uma nova "consciência ecológica", como expressão de responsabilidade em relação a si mesmos, aos outros e à criação.

5. Em seguida, quero considerar tudo quanto me foi concedido realizar no campo das relações com os Estados. Recordei a todos a urgência de pôr no centro da política nacional e internacional a dignidade da pessoa humana e o serviço ao bem comum. É em virtude deste anúncio que a Igreja participa, na missão que lhe é própria, nos Organismos internacionais. Este é o sentido dos acordos que ela estipula, considerando não apenas as expectativas dos crentes, mas inclusivamente o bem de todos os cidadãos.

No discurso que pronunciei diante do Parlamento da República Italiana, no dia 14 do passado mês de Novembro, realcei que o grande desafio de um Estado democrático é a capacidade de centrar a sua atenção no reconhecimento dos direitos inalienáveis do homem e na cooperação solidária e generosa de todos para a construção do bem comum.

É necessário recordar que foi a estes valores que se referiu, há exactamente 60 anos, o meu venerado Predecessor Pio XII, na Radiomensagem de 24 de Dezembro de 1942. Referindo-se com sincera participação "ao mar de lágrimas e de amarguras" e "às grandes dores e aflições" derivantes "da ruína mortal do enorme conflito" (AAS 35 [1943], pág. 24), o grande Pontífice delineava com clareza os princípios universais e irrenunciáveis segundo os quais, depois de ter superado a "assustadora catástrofe" da guerra (AAS, l.c., pág. 18), deveria ser construída a "nova ordem nacional e internacional, invocada com ardente anseio por todos os povos" (AAS, l.c., pág. 10). Os anos que passaram desde aquela época só confirmaram a clarividente sabedoria daqueles ensinamentos. Como deixar de formular votos a fim de que os corações se abram sobretudo os corações dos jovens, para acolher estes valores com vista a construir um futuro de paz verdadeira e duradoura?

6. Ao falar dos jovens, o meu pensamento volta-se para as experiências inesquecíveis da Jornada Mundial da Juventude, celebrada no mês de Julho em Toronto. O encontro com os jovens é sempre entusiasmante e, diria, "regenerador". O tema deste ano recordava aos jovens o compromisso missionário, fundamentado no mandato de Cristo, de serem "luz do mundo" e "sal da terra". Foi bom constatar que os jovens, uma vez mais, não nos desiludiram. Apesar das dificuldades, muitos participaram.

Sem dúvida, a presença de jovens em tão grande número, no encontro com o Evangelho e com o Papa, não pode fazer esquecer os numerosos outros jovens que são marginalizados ou que permanecem afastados, seduzidos por outras mensagens ou desorientados por mil propostas ambíguas.

Compete aos jovens tornar-se evangelizadores dos seus coetâneos. Se a pastoral souber interessar-se por eles, os jovens não decepcionarão a Igreja, porque o Evangelho é "jovem" e sabe falar ao coração dos jovens.

7. Em seguida, recordo com a alma particularmente agradecida ao Senhor, os progressos que, também neste ano, foram alcançados ao longo do caminho ecuménico. Na verdade, é preciso reconhecê-lo, não faltaram motivos de amargura. Mas devemos olhar mais para as luzes do que para as sombras. No meio das luzes, além da já mencionada Declaração Conjunta com o Patriarca Bartolomeu I, desejo recordar sobretudo o encontro com a Delegação da Igreja Ortodoxa da Grécia que, no dia 11 de Março, veio visitar-me, trazendo uma mensagem de Sua Beatitude Christodoulos, Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia. Desta forma pude reviver, numa certa medida, o clima experimentado no ano passado, na visita realizada à Grécia, nos passos do Apóstolo Paulo. Se ainda há motivos de distância, esta atitude de abertura recíproca é muito promissora.

E pode dizer-se o mesmo a propósito da visita que me fez o Patriarca Ortodoxo da Roménia, Teoctisto, com quem no passado mês de Outubro assinei uma Declaração Conjunta. Quando é que o Senhor finalmente nos dará a alegria da comunhão plena com os Irmãos ortodoxos? A resposta permanece no mistério da Providência divina. Todavia, a confiança em Deus certamente não dispensa do compromisso pessoal. Por este motivo, é necessário intensificar sobretudo o ecumenismo da oração e da santidade.

8. É precisamente para a santidade, como "píncaro" mais elevado da "paisagem" eclesial, que desejo voltar o olhar desta panorâmica, dado que ao longo deste ano tive a alegria de elevar às honras dos altares muitos filhos da Igreja, que se distinguiram pela sua fidelidade ao Evangelho. Cum Maria contemplemur Christi vultum! É nos Santos que "Deus manifesta profundamente aos homens a sua presença e o seu rosto" (Lumen gentium, LG 50).

Dou graças ao Senhor pelas Beatificações e Canonizações celebradas durante a Viagem Apostólica à Cidade da Guatemala e à Cidade do México. E como posso deixar de mencionar, também pelo especial eco que suscitaram na opinião pública, as Canonizações de São Pio de Pietrelcina e de São José Maria Escrivá de Balaguer?

Foi também no sinal da santidade que se realizou a minha Viagem Apostólica à Polónia, para a dedicação do Santuário da Misericórdia Divina em CracóviaLagiewniki. Naquela ocasião, pude recordar uma vez mais ao nosso mundo, tentado pelo desânimo diante de numerosos problemas insolúveis e das incógnitas ameaçadoras do futuro, que Deus é "rico em misericórdia". Para quem confia nele, nada e nunca se perde definitivamente, mas tudo pode voltar a ser construído.

9. Cum Maria contemplemur Christi vultum!


Discursos João Paulo II 2002 - 13 de Dezembro de 2002