AUDIÊNCIAS 2003

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-feira 12 de fevereiro de 2003

Cântico de alegria e de vitória




Caríssimos Irmãos e Irmãs:

1. Em todas as festas mais significativas e alegres do antigo judaísmo sobretudo na celebração da Páscoa cantava-se a sequência dos Salmos que vai do 112 ao 117. Esta série de hinos de louvor e de agradecimento a Deus era chamada o "Hallel egípcio", porque num deles, o Salmo 113 A, era recordado de forma poética e quase visível o êxodo de Israel da terra da opressão, o Egipto faraónico, e o maravilhoso dom da aliança divina. Pois bem, o último Salmo que sela este "Hallel egípcio" é precisamente o Salmo 117, agora proclamado e por nós meditado num comentário precedente.

2. Este cântico revela claramente um uso litúrgico no inteiror do templo de Jerusalém. De facto, no seu enredo parece desencadear-se uma procissão, que começa nas "tendas dos justos" (v. 15), isto é, na casa dos fiéis. Eles exaltam a protecção da mão divina, capaz de proteger quem é recto e confiante também quando irrompem inimigos cruéis. A imagem usada pelo Salmista é expressiva: "Cercaram-me como um enxame de abelhas, consumiram-me como o fogo aos espinheiros, no nome do Senhor esmagá-las-ei" (v. 12).

Face a este perigo evitado, o povo de Deus irrompe com "vozes de alegria e de vitória" (v. 15) em honra da "direita do Senhor que opera maravilhas" (cf. v. 16). Por conseguinte, há a consciência de nunca estar sós, no poder da tempestade desenfreada pelos malvados. Na verdade, a última palavra é sempre a de Deus que, mesmo quando permite a prova do seu fiel, não o entrega à morte (cf. v. 18).

3. Nesta altura, parece que a procissão alcança a meta recordada pelo Salmista através da imagem das "portas da justiça" (v. 19), isto é, da porta santa do templo de Sião. A procissão acompanha o herói ao qual Deus concedeu a vitória. Ele pede que lhe sejam abertas as portas, para poder "dar graças ao Senhor" (v. 19). Com ele "entram os justos" (v. 20). Para exprimir a dura provação que superou e a glorificação que dela derivou, ele compara-se a si mesmo a uma "pedra rejeitada pelos construtores" que depois "se tornou pedra angular" (v. 22). Cristo assumirá precisamente esta imagem e este versículo, no final da parábola dos vinhateiros homicidas, para anunciar a sua Paixão e a sua glorificação (cf. Mt Mt 21,42).

4. Ao aplicar o Salmo a si prórpio, Cristo abre o caminho para a interpretação cristã deste hino de confiança e de gratidão ao Senhor pelo seu hesed, ou seja, pela sua fidelidade amorosa, que ressoa em todo o Salmo (cf. Sl Ps 117,1 Sl Ps 117,2 Sl Ps 117,3 Sl Ps 117,4 Sl Ps 117,29).

Os símbolos adoptados pelos Padres da Igreja são dois. Antes de mais, o de "porta da justiça", que São Clemente Romano na sua Carta aos Coríntios comentava da seguinte forma: "São muitas as portas abertas, mas a da justiça está em Cristo. Bem-aventurados são todos os que por ela entram e orientam o seu caminho na santidade e na justiça, fazendo tudo tranquilamente" (48, 4: Os Padres Apostólicos, Roma 1976, pág. 81).

5. O outro símbolo, juntamente com o precedente, é precisamente o da pedra. Agora, deixar-nos-emos guiar, na nossa meditação, por Santo Ambrósio na sua Exposição do Evangelho segundo Lucas. Ao comentar a profissão de fé de Pedro em Cesareia de Filipe, ele recorda que "Cristo é a pedra" e que "também ao seu discípulo, Cristo não recusou este bonito nome, de forma que também ele seja Pedro, para que tenha a pedra firme da perseverança, a firmeza da fé".

Ambrósio introduz, então, a exortação: "Esforça-te por ser, também tu, uma pedra. Mas para isso, não procures a pedra fora de ti, mas dentro de ti. A tua pedra são as tuas acções, a tua pedra é o teu pensamento. Sobre esta pedra é edificada a tua casa, para que não seja flagelada por tempestade alguma dos espíritos do mal. Se fores uma pedra, estarás dentro da Igreja, porque a Igreja está acima da pedra. Se estiveres dentro da Igreja, as portas do inferno não prevalecerão contra ti" (VI, 97-99: Obras exegéticas IX/II, Milão-Roma 1978 =Saemo 12, pág. 85).

Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa que, porventura, aqui se encontrem, com votos de paz e de concórdia para todos. Grato pela vossa presença. Invoco sobre todos copiosas graças do Altíssimo e vos abençoo de todo o coração.

Sinto-me feliz por acolher os peregrinos de língua francesa aqui presentes, nesta manhã, de modo especial os jovens peregrinos pela paz que vêm da diocese de Evry, bem como os colegiais e liceais de Stanislas e de Nossa Senhora das Missões e também o grupo de missionários. Que a vossa presença reforce a vossa fé e faça crescer em vós o desejo da santidade!

Saúdo os peregrinos de língua inglesa, especialmente os grupos da Tailândia e dos Estados Unidos da América, os estudantes vindos de Dallas. Invoco sobre vós e vossas famílias a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo.

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua espanhola, em particular os grupos que vêm de Madrid e das paróquias de Alicante. Deixemo-nos guiar pelo Senhor para sermos pedras firmes, mediante o testemunho da nossa fé.
Obrigado!

Saúdo afectuosamente os peregrinos de Bratislava.
Caros Irmãs e Irmãs, na sexta-feira celebraremos a festa dos Santos Cirilo e Metódio. Eles são para nós um exemplo da unidade da fé. Permanecei fiéis a este exemplo sublime.
Ajude-vos a sua intercessão e a minha Bênção Apostólica.

Seja louvado Jesus Cristo!

Saúdo cordialmente o Arcebispo Metropolitano de Liubliana, D. Franc Rodé e os Superiores, Colaboradores e os Seminaristas do Seminário Maior de Liubliana.

Faço votos para que o vosso Seminário, como escrevi na Carta "Novo millennio ineunte", seja uma verdadeira "escola de comunhão". A peregrinação aos túmulos dos Apóstolos e dos Mártires e à Sé Apostólica enriqueça a vossa missão cristã e sacerdotal em favor da Igreja e de toda a querida Nação eslovena.

Abençoo-vos a todos, paternalmente.

Saúdo, de todo o coração, os peregrinos de língua polaca.

Festejámos, ontem, o Dia Mundial dos Doentes. Esta circunstância cria uma particular ocasião para recordar que o sofrimento humano acarreta sempre consigo o desafio do amor. Aquele que o suporta por amor de Deus e dos homens, transforma-o num grande dom e torna-se um intercessor em muitas questões difíceis. Por isso, no domingo passado, pedi também aos doentes que rezassem ardorosamente pela paz no mundo.

Por sua vez, aquele que permanece junto de uma pessoa cheia de sofrimentos, é chamado a seguir o exemplo do bom Samaritano, para lhe abrir o seu coração e, segundo as próprias possibilidades, procurar o seu alívio e o conforto espiritual.

Meditando, hoje, as palavras do Salmo que louva a misericórdia de Deus, recordemo-nos de que também nós devemos ser testemunhas de misericórdia.

Seja louvado Jesus Cristo!

Desejo, agora, dirigir a minha afectuosa saudação aos peregrinos de língua italiana. Em particular saúdo o grupo de Religiosos da Ordem Hospitaleira de São João de Deus-Fatebenefrateli; os Missionários Verbitas e as Irmãs Servas do Espírito Santo; as Irmãs de Maria Reparadora vindas de Magadáscar, Uganda, Colômbia e México: os membros das Associações Missionárias sem fronteiras, de Nápoles, e os "Battenti di San Roco", de Paduli, com o Arcebispo de Benevento, D. Serafim Sprovieri; o Grupo Cultural das Senhoras de Bréscia e os Militares da Escola Aeronáutica de Caserta.

Saúdo também os trabalhadores do Consultório familiar Diocesano de Roma, "al Quadraro", encorajando-os a prosseguir na sua preciosa obra ao serviço do Evangelho da Vida.

Saúdo, por fim, os jovens, os doentes e os novos esposos. A Bem-Aventurada Virgem Maria de Lourdes, cuja memória litúrgica ontem celebrámos, vos ajude, caros jovens, a compreender, cada vez mais, o valor do sacrifício na vossa formação humana e cristã; ajude-vos, queridos doentes, a enfrentar a dor e a doença com serenidade e fortaleza; oriente-vos, estimados novos esposos, na edificação da vossa família sobre bases sólidas de oração e dócil fidelidade à vontade de Deus.

A minha Bênção para todos.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-feira 19 de fevereiro de 2003

Todas as criaturas louvem ao Senhor





1. "Os três jovens então não tiveram senão uma só voz para louvar, glorificar e bendizer a Deus, na fornalha" (Da 3,51). Esta frase introduz o Cântico solene que agora acabamos de ouvir num seu fragmento fundamental. Ele encontra-se no Livro de Daniel, na parte que chegou até nós só em língua grega, e é entoado por testemunhas corajosas da fé, que não quiseram ajoelhar-se para adorar a estátua do rei e preferiram enfrentar uma morte trágica, o martírio na fornalha ardente.

São três jovens hebreus, situados pelo autor sagrado no contexto histórico do reino de Nabuconodosor, o terrível soberano da Babilónia que aniquilou a cidade santa de Jerusalém em 586 a.C. e deportou os Israelitas "para as margens dos rios da Babilónia" (cf. Sl Ps 136). Mesmo no perigo extremo, quando as chamas já atingem os seus corpos, eles encontram a força para "louvar, glorificar e bendizer a Deus" com a certeza de que o Senhor da criação e da história não os abandonará à morte e ao nada.

2. O autor bíblico, que escreveu alguns séculos mais tarde, recorda este heróico acontecimento para estimular os seus contemporâneos a manterem alto o estandarte da fé durante as perseguições dos reis sírio-helénicos do segundo século a. C. É precisamente naquela época que se regista a corajosa reacção dos Macabeus, combatentes pela liberdade da fé e da tradição hebraica.

O cântico, tradicionalmente chamado "dos três jovens", assemelha-se a uma chama que ilumina a obscuridade do tempo da opressão e da perseguição, um tempo que se repetiu muitas vezes na história de Israel e na própria história do cristianismo. E nós sabemos que o perseguidor nem sempre assume o rosto violento e macabro do opressor, mas com frequência apraz-se em isolar o justo, com o engano e a ironia, perguntando-lhe sarcasticamente: "Onde está o teu Deus?" (Ps 41,4 Ps 41,11).

3. No louvor que os três jovens elevam, do crisol da sua prova, ao Senhor Omnipotente estão incluídas todas as criaturas. Eles tecem uma espécie de tapeçaria multicolor onde brilham os astros, passam as estações, se movem os animais, se aproximam os anjos e, sobretudo, onde cantam os "servos do Senhor", os "piedosos" e os "humildes de coração" (cf. Dn Da 3,85 Dn Da 3,87).

O trecho que há pouco foi proclamado precede esta magnífica recordação de todas as criatuas. Constitui a primeira parte do Cântico que, por sua vez, recorda a presença gloriosa do Senhor, transcendente mas próxima. Sim, porque Deus está no céu, onde "penetra com o olhar os abismos" (cf. 3, 35), mas também se encontra "no templo santo e glorioso" de Sião (cf. 3, 53). Ele está sentado no "trono do seu reino" eterno e infinito (cf. 3, 54), mas é também aquele que está "sentado sobre os querubins" (cf. 3, 55), na arca da aliança colocada no Santo dos Santos do templo de Jerusalém.

4. Um Deus acima de nós, capaz de nos salvar com o seu poder; mas também um Deus próximo do seu povo, no meio do qual Ele quis habitar no seu "templo santo e glorioso", manifestando assim o seu amor. Um amor que Ele revelará em plenitude fazendo "habitar entre nós", o seu Filho Jesus Cristo "cheio de graça e de verdade" (cf. Jo Jn 1,14). Ele revelará em plenitude o seu amor enviando-nos o Filho para partilhar em tudo, excepto o pecado, a nossa condição marcada pelas provações, opressões, solidão e morte.

O louvor dos três jovens ao Deus Salvador continua de várias formas na Igreja. Por exemplo, São Clemente Romano, no final da sua Carta aos Coríntios, insere uma longa oração de louvor e confiança, completamente cheia de reminiscências bíblicas e na qual ressoa a antiga liturgia romana. É uma oração de gratidão ao Senhor que, não obstante o aparente triunfo do mal, leva a história a bom termo.

5. Eis um trecho dessa oração:

"Tu abriste os olhos do nosso coração (cf. Rf 1, 18) / para que te conhecêssemos a ti, o Único (cf. Jo Jn 17,3) / Altíssimo no mais alto dos céus / o Santo que repousa entre os santos / que humilhas a violência dos soberbos (cf. Is Is 13,11) / que desfazes os desígnios dos povos (cf. Sl Ps 32,10) / que exaltas os humildes / e abates os soberbos (cf. Job Jb 5,11). / Tu que enriqueces e empobreces / que matas e dás a vida (cf. Dt Dt 32,39) / o único benfeitor dos espíritos / e Deus de todos os homens / que perscrutas os abismos (cf. Dn Da 3,55) / que observas as obras humanas / que socorres quantos se encontram em perigo / e salvas os dispersos (cf. Jdt Jdt 9,11) / criador e guarda de todos os espíritos / que multiplicas os povos sobre a terra / e que, entre todos, escolheste os que te amam / por meio de Jesus Cristo / o teu Filho muito amado / mediante o qual nos instruístes, nos santificastes e nos honrastes" (Clemente Romano, Carta aos Coríntios, 59, 3: Os Padres apostólicos, Roma 1976, PP 88-89).

Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa

Com fraterna estima, dou-vos as boas-vindas, agradecido pela participação neste encontro com o Sucessor de Pedro, que hoje vos convida a dar glória a Deus com a vivência diária, fiel e jubilosa da vossa fé católica, procurando passá-la às novas gerações. O Senhor derrame as suas graças sobre vós e as vossas famílias, que de coração abençoo.

Cordiais boas-vindas aos peregrinos provenientes de Praga e dos arredores.
Possa esta vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo confirmar a vossa fé e o vosso amor pela Igreja de Cristo, aumentando em vós o desejo de perfeição espiritual. Com estes votos, é de bom grado que vos abençoo a todos.
Louvado seja Jesus Cristo!

Estou feliz por saudar os peregrinos de língua francesa, especialmente os numerosos jovens, vindos de Lila, Orleães, Alençon, Paris, Dijon, Autun e Genebra. A vossa permanência em Roma vos ajude a crescer no amor do Senhor e no amor fraterno!

Saúdo todos os peregrinos e visitantes de expressão anglófona, presentes na Audiência do dia de hoje, especialmente os que vieram da Inglaterra, do Japão e dos Estados Unidos da América. Sobre vós e as vossas famílias, invoco cordialmente as bênçãos divinas de alegria e de paz.
Saúdo os peregrinos de expressão espanhola, em particular o grupo de jovens da Diocese de Plasença. Convido-vos a permanecer firmes na fé, também no meio das dificuldades da vida, agradecendo sempre ao Senhor que nos criou e nos chamou para estar com Ele na glória.

Muito obrigado!

Dou as boas-vindas aos peregrinos, meus compatriotas, que vieram da Polónia e de outros países.
Saúdo-vos a todos cordialmente. Hoje meditámos o Cântico dos três jovens, do Livro de Daniel, que é um hino de louvor. Fiéis ao Senhor contra a ordem do rei Nabudonosor, os três jovens não quiseram adorar uma divindade pagã, uma estátua de ouro. Condenados a serem lançados na fornalha do fogo, depositaram toda a sua confiança no único Deus omnipotente, que os ajudou. Repletos de gratidão, passaram a bendizer o Criador, "digno de louvor e de glória por todos os séculos" (Da 3,53).

Também pedimos, que nós mesmos e os nossos entes queridos saibamos dar graças a Deus pelos dons da sua Providência. Levai estes meus bons votos às vossas famílias, paróquias e comunidades. Deus vos abençoe!
* Dou as minhas cordiais boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os Sacerdotes Assistentes da Acção Católica, nestes dias presentes em Roma para um Congresso sobre o tema: "Renovar a Acção Católica na Paróquia". Caríssimos, com a palavra e o exemplo, sede faróis de luz evangélica para quantos estão confiados aos vossos cuidados pastorais.

Além disso, saúdo os fiéis da Diocese de Sessa Aurunca, acompanhados do seu Bispo, D. António Napoletano, que vieram aqui para recordar o seu Padroeiro, o Papa São Leão IX. Caríssimos, esta peregrinação seja para vós sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas, jovens estudantes, professores e famílias uma ocasião propícia para aprofundar o conhecimento e o amor a Cristo, de maneira a serdes apóstolos de uma nova evangelização do vosso povo.

Saúdo os dirigentes e os membros da Associação Regional de Assistência Sanitária (ARVAS), que se esforçam por oferecer ajuda voluntária aos doentes e às suas famílias, no âmbito dos hospitais do Lácio. Caríssimos, encorajo-vos a dar continuidade a esta nobre missão, seguindo o exemplo de Jesus, Bom Samaritano da humanidade.

Agora, saúdo os peregrinos da Paróquia dos Santos João e Paulo, de Cerchio (Áquila), os fiéis da Paróquia de São Pedro Apóstolo, de Pianillo de Agerola (Nápoles) e o grupo de oração "São Padre Pio". Saúdo os Oficiais e os Militares da Escola de Transmissões e Informática de Cecchignola (Roma); o grupo do Movimento Cristão dos Trabalhadores, de Tarento; e o Presidente e a Delegação da Província de Treviso, vindos para dar testemunho dos vínculos de fé que unem a sua terra à Sé de Pedro.

Por fim, saúdo os jovens, os doentes e os novos casais.

Pensando na Festa da Cátedra de São Pedro, que celebraremos no próximo sábado, convido-vos a vós, caros jovens, a ser em toda a parte apóstolos de fidelidade à Igreja; exorto-vos a vós, dilectos doentes, a oferecer ao Senhor os vossos sofrimentos pela unidade de quantos acreditam em Cristo; e encorajo-vos a vós, estimados novos casais, a alimentar a vossa família com uma fé fundamentada no testemunho de Pedro e dos outros Apóstolos.

Concedo-vos a todos a minha a Bênção apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-feira 26 de fevereiro de 2003

Todos os seres vivos louvem ao Senhor




Caríssimos Irmãos e Irmãs:

1. Ressoa pela segunda vez na Liturgia das Laudes o Salmo 150, que acabamos de proclamar: um hino de festa, um aleluia ritmado pela música. Ele é o selo ideal dentro do Saltério, o livro do louvor, do cântico, da liturgia de Israel.

O texto é de uma admirável simplicidade e transparência. Devemos apenas deixar-nos atrair pelo insistente apelo a louvar o Senhor: "Louvai ao Senhor... louvai-O... louvai-O!". Na abertura, Deus é apresentado sob dois aspectos fundamentais do seu mistério. Ele é, sem dúvida transcendente, misterioso, distinto do nosso horizonte: a sua habitação real é o "santuário" celeste, o "firmamento do seu poder", semelhante a uma fortaleza inacessível ao homem. Contudo, Ele está próximo de nós: está presente no "santuário" de Sião e age na história através dos seus "prodígios" que revelam e tornam experimentável "a sua imensa grandeza" (cf. vv. 1-2).

2. Por conseguinte, entre a terra e o céu estabelece-se como que um canal de comunicação em que se encontram a acção do Senhor e o cântico de louvor dos fiéis. A Liturgia une os dois santuários, o templo terrestre e o céu infinito, Deus e o homem, o tempo e a eternidade.

Durante a oração nós realizamos uma espécie de subida para a luz divina e, ao mesmo tempo, experimentamos uma descida de Deus que se adapta ao nosso limite para nos ouvir e nos falar, para se encontrar connosco e nos salvar. O Salmista estimula-nos imediatamente a um subsídio, a que devemos recorrer durante este encontro de oração: o recurso aos instrumentos musicais da orquestra do templo de Jerusalém, como a trombeta, a harpa, a cítara, o tambor, as flautas e os címbalos. Também o movimento do cortejo fazia parte do ritual hierosolimitano (cf. Sl Ps 117,27). O mesmo apelo ressoa no Salmo 46, 8: "Cantai hinos com toda a arte!".

3. Portanto, é necessário descobrir e viver constantemente a beleza da oração e da liturgia. É preciso pedir a Deus não só com fórmulas teologicamente exactas, mas também de maneira bonita e digna.

A este propósito, a comunidade cristã deve fazer um exame de consciência para que obter cada vez mais, na liturgia, a beleza da música e do cântico. É necessário purificar o culto de dispersões de estilo, de formas descuidadas de expressão, de músicas e textos desleixados e pouco conformes com a grandeza do acto que se celebra.

A este propósito, é significativo o convite da Carta aos Efésios, a evitar intemperanças e grosseirismos para deixar espaço à pureza do hino litúrgico: "Não vos embriagueis com vinho, que leva à luxúria, mas enchei-vos do Espírito. Recitai entre vós salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vossos corações, dando sempre graças, por tudo, a Deus Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (5, 18-20).

4. O Salmista conclui, convidando "todos os seres vivos" ao louvor (cf. Sl Ps 150,5), literalmente "cada sopro", "cada respiro", expressão que em hebraico designa "cada ser que respira", sobretudo "cada homem vivo" (cf. Dt Dt 20,16 GS 10,40 GS 11,11 GS 11,14). Portanto, está envolvida no louvor divino, antes de mais, a criatura humana com a sua voz e o seu coração. Com ela, são idealmente interpelados todos os seres vivos, todas as criaturas que respiram (cf. Gn Gn 7,22), para que elevem o seu hino de gratidão ao Criador pelo dom da existência.

São Francisco coloca-se na continuidade deste convite universal com o seu sugestivo "Cântico do Irmão Sol", com o qual convida a louvar e bendizer o Senhor por todas as criaturas, reflexo da sua beleza e da sua bondade (cf. Fontes Franciscanas, 263).

5. Neste cântico devem participar de modo especial todos os fiéis, como sugere a Carta aos Colossenses: "A palavra de Cristo permaneça em vós abundantemente em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando sob a acção da graça, louvores a Deus" (3, 16).

A este propósito, nas suas Exposições sobre os Salmos Santo Agostinho vê simbolizados nos instrumentos musicais os Santos que louvam a Deus: "Vós, Santos, sois a trombeta, o saltério, a cítara, o tambor, o coro, as cordas, o órgão e os címbalos do júbilo que produzem lindos sons, isto é, que tocam harmoniosamente. Vós sois todas estas coisas. Não pensemos, ao ouvir o Salmo, em coisas de pouco valor, em coisas transitórias, nem em instrumentos teatrais". Na realidade, é voz de louvor a Deus "qualquer espírito que louva o Senhor" (Exposições sobre os Salmos, IV, Roma 1977, PP 934-935).

Por conseguinte, a música mais nobre é a que se eleva dos nossos corações. É precisamente esta harmonia que Deus espera ouvir nas nossas liturgias.

Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa que aqui se encontrem, com votos de alegria e serenidade no Espírito Santo. Rezai pela paz no mundo; pedi à Virgem Maria, Rainha da Paz, que eleve a Deus Todo-Poderoso o clamor do mundo que anela à paz, e conduza os homens pelos caminhos do diálogo e do mútuo perdão. Que Deus vos abençoe!

É com cordialidade que saúdo os peregrinos da América Latina e da Espanha, em particular dos Colégios "Mater Salvatoris", de Madrid, e dos Claretianos, de Barbastro, assim como da paróquia Sagrado Coração de Jesus, de Albacete. Na oração pessoal e na liturgia, louvemos o Senhor com a voz e o coração. Muito obrigado!

Saúdo cordialmente os peregrinos da Polónia!

De modo especial, desejo saudar o grupo da região de Podhale que, como em todos os anos, vem a Roma para o seu retiro espiritual. Por vosso intermédio, saúdo todos os fiéis que no sábado, no Santuário de Ludzmierz, começarão a peregrinação do Rosário. É-me grato saber que, deste modo, as famílias, as comunidades e as paróquias realizarão a grande obra da oração, que continua na Igreja universal, no Ano do Rosário. Esta prece conceda muitas graças a todos. Sobretudo, dê ao mundo o dom da paz!

Na catequese de hoje, meditámos sobre o Salmo 150, que exorta todos os seres vivos a louvar o Senhor. Sim, já a vida humana é um maravilhoso motivo para dar graças a Deus. O espectro da guerra, que traz a morte, deixe o lugar ao alegre louvor do Senhor da vida. Deus vos abençoe!

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua italiana. Saúdo em particular os fiéis de Civitella D'Agliano e de San Michele "in Teverina", enquanto faço votos a fim de que este encontro contribua para confirmar em cada um de vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, a autêntica devoção a Maria, que vos preparais para recordar com especiais iniciativas nas vossas paróquias. Além disso, saúdo os fiéis de Bella, acompanhados do pároco e dos administradores municipais.

Agora, dirijo-me aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Amanhã será a memória litúrgica de São Gabriel da Virgem das Dores, jovem religioso passionista.

Caros jovens, hoje presentes em grande número, do seu exemplo luminoso hauri a coragem de ser discípulos fiéis de Cristo. Enquanto vos saúdo de modo particular, jovens do Decanato de Varese, da Eparquia de Piana degli Albanesi e da Diocese de Oppido Mamertina-Palmi, convido-vos todos a imitar Jesus e a segui-lo de modo incondicionado nos vários ambientes em que viveis.

Depois, exorto-vos a vós, queridos doentes, a enfrentar toda a prova com espírito de fé e de esperança evangélica. Por fim, dilectos novos casais, faço votos para que que tireis sempre do mistério da Cruz, a exemplo de São Gabriel, o amor divino que consagra a vossa união.



                                                                      Março de 2003

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira de Cinzas 5 de março de 2003

A paz é co-responsabilidade de todos

Amados Irmãos e Irmãs,


1. Hoje, Quarta-Feira de Cinzas, a liturgia dirige a todos os fiéis um forte convite à conversão com as palavras do apóstolo Paulo: "Suplicamo-vos, pois, em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus" (2Co 5,20). A Quaresma é o tempo espiritualmente mais propício para recolher esta exortação, porque é o tempo de uma oração mais intensa, de penitência e de maior atenção às necessidades dos irmãos.

Com este rito da imposição das cinzas reconhecemo-nos pecadores, invocamos o perdão de Deus, manifestando um sincero desejo de conversão. Começamos assim um austero caminho ascético, que nos levará ao Tríduo pascal, coração do Ano litúrgico.

2. Segundo a antiga tradição da Igreja, todos os fiéis devem hoje praticar a abstinência da carne e o jejum, com a única excepção daqueles que estejam razoavelmente impedidos por motivos de saúde ou de idade. O jejum assume um grande valor na vida dos cristãos, é uma exigência do espírito para se relacionar melhor com Deus. Com efeito, os aspectos exteriores do jejum, mesmo que sejam importantes, não completam esta prática. Devemos unir a eles um desejo sincero de purificação interior, de disponibilidade para obedecer à vontade divina e de solidariedade cuidadosa para com os irmãos, sobretudo com os mais pobres.

Existe depois um vínculo estreito entre o jejum e a oração. Rezar é pôr-se à escuta de Deus e o jejum favorece esta abertura do coração.

3. Ao entrarmos no tempo da Quaresma, não podemos deixar de ter em conta o actual contexto internacional, no qual fervem ameaçadoras tensões de guerra. É necessário que todos assumam uma responsabilidade consciente e façam um esforço comum para evitar à humanidade outro conflito dramático. Por isso, eu quis que esta Quarta-Feira de Cinzas fosse um Dia de oração e de jejum para implorar a paz no mundo. Devemos pedir a Deus sobretudo a conversão do coração, no qual se aninham todas as formas de mal e qualquer tentação de ceder ao pecado; devemos rezar e jejuar pela convivência pacífica entre os povos e as nações.

No começo do nosso encontro ouvimos as palavras encorajadoras do Profeta: "Uma nação não levantará a espada contra outra nação, e não se adestrarão mais para a guerra" (Is 2,4). E ainda: "das suas espadas forjarão relhas de arados, e das suas lanças foices" (Ibid.). Acima das perturbações da história está a soberana presença de Deus, que julga as opções dos homens. Dirijamos para Ele, "juiz entre os povos" e "árbitro entre muitos povos" (cf. ibid.), o nosso coração para implorar um futuro de justiça e de paz para todos. Este pensamento deve estimular cada um de nós a prosseguir numa incessante oração e num real compromisso para construir um mundo no qual o egoísmo ceda o lugar à solidariedade e ao amor.

4. Quis voltar a propor o convite premente à conversão, à penitência e à solidariedade também na Mensagem para a Quaresma, que foi publicada há alguns dias, e que tem como tema a bonita frase dos Actos dos Apóstolos: "Há mais alegria em dar do que em receber" (cf. 20, 35).
Considerando bem, só convertendo-nos a esta lógica é que se pode construir uma ordem social orientada não para um equilíbrio precário de interesses em conflito, mas para uma equitativa e solidária busca do bem comum. Os cristãos, como o fermento, são chamados a viver e a difundir um estilo de gratuidade em qualquer âmbito da vida, promovendo assim o autêntico progresso moral e civil da sociedade. A respeito disto escrevi: "Privar-se não só do supérfluo, mas também de algo mais para distribuí-lo a quem passa necessidade, contribui para aquele desprendimento de si próprio sem o qual não há autêntica prática de vida cristã. (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 15 de Fevereiro, pág. 5, n. 4).

5. Oxalá este Dia de oração e de jejum pela paz, com que começamos a Quaresma, se traduza em gestos concretos de reconciliação. Do âmbito familiar ao internacional, cada qual se sinta e se torne co-responsável pela construção da paz. E o Deus da paz, que perscruta as intenções dos corações e chama aos seus filhos realizadores de paz (cf Mt 5,9), não deixará faltar a sua recompensa (cf. Mt Mt 6,4 Mt Mt 6,6 Mt Mt 6,18).
Confiemos estes nossos votos à intercessão da Virgem Maria, Rainha do Rosário e Mãe da Paz. Que ela nos guie e nos acompanhe durante os próximos quarenta dias, até à Páscoa, para contemplarmos o Senhor ressuscitado.

Desejo para todos uma boa e frutuosa Quaresma!

Saudações

Amados Irmãos e Irmãs

Queridos peregrinos de língua portuguesa, vivei em paz e sede construtores de paz, a começar pela própria família. A Virgem Maria tome cada um pela mão e vos acompanhe durante os próximos quarenta dias, que servem para nos transformar no Senhor ressuscitado. A todos, uma boa e frutuosa Quaresma!

Saúdo todos os peregrinos dos Países Baixos e da Bélgica, em particular os membros do Coro da Basílica de Nossa Senhora de Maastricht.

Hoje, Quarta-Feira de Cinzas, queremos jejuar e rezar pela paz no mundo, e começamos um período de oração, penitência e recolhimento: a Quaresma.

Abençoo-vos de coração. Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos eslovacos, provenientes de Pata.

Irmãos e Irmãs, o Apóstolo Paulo convida-nos: "Suplicamos-vos, pois, em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus!" (2Co 5,20).

No início da Quaresma, sentimos que este convite é dirigido pessoalmente a cada um de nós; realizemo-lo com generosidade.

De boa vontade vos abençoo, assim como as vossas famílias na vossa Pátria. Seja louvado Jesus Cristo!

Caríssimos irmãos e irmãs, saúdo-vos cordialmente a todos vós e todos os que vos são queridos. Iniciamos hoje a Quaresma. A Quarta-Feira de Cinzas recorda-nos a fragilidade da existência do homem e do mundo. Exorta-nos a olhar a vida à luz da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Chama à conversão todos aqueles que crêem. Fá-lo com as palavras do Apóstolo Paulo: "Suplicamos-vos, pois, em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus!" (2Co 5,20).
Neste ano, a Quarta-Feira de Cinzas é o dia de oração e, ao mesmo tempo, de jejum para rezar pela paz no mundo. Penso que, quando se trata de paz, nunca é tarde demais para dialogar. Por isso vos peço a todos vós esta oração e este jejum. Sejam estes gestos concretos de compromisso da parte daqueles que acreditam na missão de recordar ao mundo que para a paz nunca é demasiado tarde. Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo uma cordial saudação aos fiéis vindos da Roménia. Caríssimos, a Virgem Maria, Rainha da Paz, vos acompanhe no caminho quaresmal, que hoje começa. Desejo para todos uma boa e frutuosa Quaresma.

Saúdo os jovens da Missão Católica Croata de Munique, na Alemanha, e os coros croatas de Pécs e arredores, na Hungria. Sede bem-vindos!

Caríssimos, ao desejar vivamente que o santo tempo da Quaresma, iniciado precisamente hoje, vos traga abundantres frutos de conversão e de santidade a vós e às vossas famílias, concedo-vos do coração a Bênção Apostólica. Louvados sejam Jesus e Maria!

Dirijo um cordial pensamento aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os representates do Coordinamento Nazionale Donne dell'Unione Generale del Lavoro e desejo-lhes que ponham sempre a pessoa humana no centro de todas as actividades sociais, segundo os ensinamentos da Igreja.

Saúdo também os fiéis da Diocese de Vallo della Lucania e da paróquia de Maria Santissima Annunziata, em Scanzano Jonico e, enquanto lhes agradeço a sua participação neste encontro, exorto-os a ser em toda a parte testemunhas autênticas de Cristo e do seu Evangelho.

Por fim, dirijo uma saudação afectuosa aos jovens, aos doentes e aos novos casais.


AUDIÊNCIAS 2003