AUDIÊNCIAS 2003 - APELO EM FAVOR DA ÁFRICA

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira Santa 16 de abril de 2003

O mistério da Cruz e da Ressurreição garante-nos que o ódio,

a violência e a morte não têm a última palavra




Queridos Irmãos e Irmãs,

1. Começa amanhã à tarde, com a Santa Missa in Cena Domini, o Tríduo pascal, centro de todo o ano litúrgico. Nestes dias a Igreja reúne-se em silêncio, reza e medita o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor.

Ao participar nos ritos da Quinta-Feira Santa, da Sexta-Feira Santa e da Vigília pascal, percorreremos de novo as últimas horas da vida terrena de Jesus, no final da qual resplandece a luz da Ressurreição.

No cântico há pouco proclamado, ouvimos que Cristo se fez "obediente até à morte e morte de cruz. Por isso é que Deus o exaltou" (Ph 2,8-9). Estas palavras sintetizam o misterioso desígnio de Deus, que reviveremos nos próximos dias, mistério que dá sentido e cumprimento à história humana.

2. Enquanto a Santa Missa Crismal, que normalmente se celebra na manhã de Quinta-Feira Santa, realça de modo particular o Sacerdócio ministerial, os ritos da Santa Missa in Cena Domini são um convite premente a contemplar a Eucaristia, mistério central da fé e da vida cristã. Precisamente para realçar a importância deste Sacramento, eu quis escrever a Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia, que durante a Missa in Cena Domini terei a alegria de assinar. Com este texto, desejo entregar a cada crente uma reflexão orgânica sobre o Sacrifício eucarístico, que encerra todo o bem espiritual da Igreja.

Juntamente com a Eucaristia, no Cenáculo o Senhor instituiu o Sacerdócio ministerial, para que actualize ao longo dos séculos o seu único Sacrifício: "Fazei isto em memória de Mim" (Lc 22,19). Depois, deixou-nos o mandamento novo do amor fraterno. Através do lava-pés, ensinou aos discípulos que o amor se deve manifestar no serviço humilde e abnegado ao próximo.

3. Na Sexta-Feira Santa, dia de penitência e de jejum, recordaremos a paixão e a morte de Jesus, permanecendo em adoração extasiada diante da Cruz. "Ecce lignum Crucis, in quo salus mundi pependit eis o madeiro da Cruz, no qual foi pregado Aquele que é o salvador do mundo". O Filho de Deus no Calvário assumiu os nossos pecados, oferecendo-se ao Pai como vítima de expiação. Da Cruz, fonte da nossa salvação, jorra a vida nova dos filhos de Deus.

Ao drama da Sexta-Feira segue-se o silêncio do Sábado Santo, dia cheio de expectativas e de esperança. Com Maria, a Comunidade cristã vigia em oração ao lado do sepulcro, aguardando que se realize o acontecimento glorioso da Ressurreição.

Na Noite Santa da Páscoa tudo se renova em Cristo ressuscitado. De todas as partes da terra elevar-se-á ao céu o cântico do Gloria e do Alleluia, enquanto a luz irromperá nas trevas da noite. No Domingo de Páscoa exultaremos com o Ressuscitado recebendo d'Ele os votos da paz.
4. Preparemo-nos, caríssimos Irmãos e Irmãs, para celebrar dignamente estes dias santos, e para contemplar a obra maravilhosa realizada por Deus na humilhação e na exaltação de Cristo (cf. Fil Ph 2,6-11).

Celebrar este mistério central da fé exige também o compromisso de o actualizar na realidade concreta da nossa existência. Significa reconhecer que a paixão de Cristo continua nos dramáticos acontecimentos que, infelizmente, também no nosso tempo afligem tantos homens e mulheres em todas as partes da terra.

Mas o mistério da Cruz e da Ressurreição garante-nos que o ódio, a violência, o sangue e a morte não têm a última palavra nas vicissitudes humanas. A vitória definitiva é de Cristo e nós devemos voltar a partir d'Ele, se queremos construir para todos um futuro de paz autêntica, de justiça e de solidariedade.

A Virgem, participando profundamente do desígnio salvífico, nos acompanhe no caminho da paixão e da cruz até ao sepulcro vazio, para encontrar o seu Filho divino ressuscitado. Entremos no clima espiritual do Tríduo Santo, deixando-nos guiar por ela.

Com estes sentimentos, desejo de coração a todos uma serena e santa Páscoa.

Saudações

Queridos Irmãos e Irmãs!

Amados Peregrinos de língua portuguesa, a Virgem Santa seja vossa guia e amparo ao longo destes dias de paixão e morte para encontrardes o seu divino Filho ressuscitado. De todo o coração desejo a todos vós e aos vossos entes queridos uma serena e santa Páscoa.

Dou as boas-vindas, de modo cordial, aos peregrinos de língua inglesa que hoje estão aqui presentes, incluindo grupos da Austrália, Irlanda, Noruega, Escócia e Estados Unidos da América. Invoco sobre todos vós a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo e desejo-vos uma feliz e santa Páscoa.

Saúdo os peregrinos de língua francesa, aqui presentes, em particular os jovens. A todos, desejo alegres e santas festas da Páscoa!

Do coração dou as minhas boas-vindas aos peregrinos e visitantes dos Países de língua alemã. Deixai-vos guiar, nestes dias, por Maria, a Mãe de Jesus. Ela estava junto da Cruz e tornou-se testemunha da Ressurreição. Cristo venceu a morte. A sua graça vos acompanhe a todos.

Saúdo cordialmente os visitantes da América Latina, da Espanha, e do México, em particular as Irmãs Dominicanas da Apresentação, os peregrinos de Madrid, o Colégio Pureza de Maria, de Barcelona e o grupo folclórico de Vendrell. Ao convidar-vos a celebrar devotamente estes santos dias, desejo- vos a todos, com afecto, uma Feliz Páscoa da Ressurreição!

Saúdo cordialmente os fiéis húngaros vindos de Diósgyor e Veszprém. A devota celebração da Semana Santa nos faça participar nos mistérios de Cristo. Concedo a todos a Bênção Apostólica.
Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo uma cordial saudação ao grupo de peregrinos eslovacos provenientes de Presov.
Caros Irmãos e Irmãs, amanha entraremos no Tríduo Santo que comemora os mistérios centrais da salvação.
Vivei intensamente estes dias, confirmai a vossa fé e sede testemunhas do Evangelho de Cristo.
De boa vontade vos abençôo e também as vossa famílias, na vossa Pátria.
Seja louvado Jesus Cristo!

Queridos peregrinos croatas, saúdo-vos cordialmente. Sede bem-vindos!

A sacralidade desta semana, chamada precisamente Semana Santa ou Grande, exorta-nos a um particular recolhimento e a uma intensa oração. Desejo vivamente que este tempo se torne para vós também uma ocasião propícia de aprofundamento posterior da fé, de modo a celebrar com maior alegria o Mistério da Paixão, da Morte e da Ressurreição do Senhor.

Concedo-vos do coração a Bênção Apostólica a vós e às vossas famílias.
Sejam louvados Jesus e Maria!

Saúdo cordialmente todos os peregrinos da Polónia e de outros Países do mundo. A catequese de hoje introduz-nos nos mistérios do tríduo pascal. Aprofundaremos novamente o mistério da paixão, da morte e da ressurreição. Participando na liturgia destes dias, contemplaremos o rosto do Filho de Deus, que, como escreve São Paulo, "se humilhou a si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz" (Ph 2,8). E no domingo de Páscoa alegrar-nos-emos com a verdade de que Cristo ressuscitou e nos abriu as portas do céu.
Este tempo particular aumente nos nossos corações a fé, a esperança e o amor. A todos os meus compatriotas desejo uma bendita e serena solenidade de Páscoa. Seja louvado Jesus Cristo!

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua italiana. Desejo a cada um que viva com intensa participação as solenes celebrações dos próximos dias, que tem o nome de Tríduo Pascal: eles são o coração de todo o Ano litúrgico. Dirijo uma particular saudação à comunidade de Santo Egídio.

O meu pensamento vai agora para os jovens, os doentes e os novos casais, para os quais formulo um especial voto pascal.

A vós, caros jovens, desejo que não tenhais medo de seguir a Cristo, mesmo quando vos pede que percorrais com Ele o difícil caminho da cruz. A vós, queridos doentes, a meditação da paixão de Jesus, mistério de sofrimento transfigurado pelo amor, vos dê conforto e consolação. E, amados novos casais, a morte e ressurreição do Senhor renovem em vós a alegria e o compromisso do vosso pacto nupcial.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 23 de abril de 2003

A paz, "novidade" imersa na história da Páscoa de Cristo




Caríssimos Irmãos e Irmãs:

1. Nestes dias da Oitava da Páscoa é grande a alegria da Igreja pela ressurreição de Cristo. Depois de ter sofrido a paixão e a morte na cruz, Ele está agora vivo para sempre e a morte já não tem poder algum sobre Ele.

Da comunidade dos fiéis, em todas as partes do mundo, eleva-se ao céu um cântico de louvor e de agradecimento Àquele que libertou o homem da escravidão do mal e do pecado mediante a redenção realizada pelo Verbo encarnado. É o que exprime o Salmo 135 há pouco proclamado. O amor misericordioso de Deus revela-se plena e definitivamente no Mistério pascal.

2. Depois da ressurreição, o Senhor aparece várias vezes aos discípulos e encontra-se com eles em momentos diferentes. Os Evangelistas narram vários episódios dos quais transparece a admiração e a alegria das testemunhas de acontecimentos tão prodigiosos. Em particular, João realça as primeiras palavras dirigidas pelo Mestre ressuscitado aos discípulos.

"A paz esteja convosco", diz Ele entrando no Cenáculo, e repete esta saudação três vezes (cf. Jo Jn 20,19 Jo Jn 20,21 Jo Jn 20,26). Podemos dizer que esta expressão "a paz esteja convosco", em hebraico shalom, contém e sintetiza, de certa forma, toda a mensagem pascal. A paz é o dom oferecido aos homens pelo Senhor ressuscitado e é o fruto da vida nova inaugurada pela sua ressurreição.

Por conseguinte, a paz identifica-se como "novidade" imersa na história da Páscoa de Cristo. Ela nasce de uma profunda renovação do coração do homem. Por conseguinte, ela não é o resultado de esforços humanos nem pode ser obtida apenas graças a acordos entre pessoas e instituições.

É, ao contrário, um dom que se deve aceitar com generosidade, guardar com cuidado, e fazer frutificar com maturidade e com responsabilidade. Por mais atormentadas que sejam as situações e grandes as tensões e os conflitos, nada pode resistir à renovação eficaz que Cristo Ressuscitado nos trouxe. Ele é a nossa paz. Como lemos na Carta de São Paulo aos Efésios, Ele com a sua Cruz derrotou a inimizade "para criar em si mesmo, com os dois, um único homem novo, fazendo a paz" (2, 15).

3. A Oitava da Páscoa, repleta de luz e de alegria, concluir-se-á no próximo domingo com o domingo in Albis, chamado também domingo da "Misericórdia Divina". A Páscoa é manifestação perfeita desta misericórdia de Deus, "que tem piedade dos Seus servos" (Ps 135,14).

Com a morte na Cruz, Cristo reconciliou-nos com Deus e lançou no mundo as bases para uma convivência fraterna entre todos. Em Cristo o ser humano, frágil e que aspira pela felicidade, foi resgatado da escravidão do Maligno e da morte, que gera tristeza e sofrimento. O sangue do Redentor lavou os nossos pecados. Desta forma, experimentámos o poder renovador do seu perdão. A misericórdia divina abre o coração ao perdão dos irmãos, e é com o perdão oferecido e recebido que se constrói a paz nas famílias e em qualquer outro ambiente de vida.

Renovo de bom grado os meus votos pascais mais cordiais para todos vós, enquanto vos confio juntamente com as vossas famílias e as vossas comunidades à celeste protecção de Maria, Mãe da Misericórdia e Rainha da Paz.

Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

Saúdo com afecto os peregrinos de língua portuguesa, com votos de paz e de alegria em Cristo, Redentor dos homens. Saúdo de modo especial a equipa do Football Clube do Porto, de Portugal, com os auspícios de que todos, dirigentes e jogadores, saibam levar ao desporto um sinal de concórdia e de alegria às vossas comunidades. Que Deus vos abençoe!

Saúdo os peregrinos de língua francesa, sobretudo os jovens de Reims, de Villeneuve-Avignon, de Agde e de Tinée. A alegria da Páscoa permaneça em vós! Maria, Rainha da paz, vos acompanhe no vosso caminho!

Saúdo com afecto os peregrinos de língua espanhola, sobretudo os fiéis do Arciprestado de Aliste, assim como os Corais de Medina do Rioseco e de Tortosa, e os alunos dos diversos colégios. Renovo a todos as minhas felicitações pascais e confio-vos à protecção da Virgem Maria, Mãe da Misericórdia e Rainha da Paz.

Sinto-me feliz por saudar os recém-ordenados diáconos do Pontifício Colégio Irlandês e do Pontifício Colégio Escocês. Sobre todos os peregrinos de língua inglesa aqui presentes, sobretudo os que provêm da Austrália, da Inglaterra, da Irlanda, da Escócia, do País de Gales e dos Estados Unidos da América, invoco cordialmente a alegria e a paz do Salvador Ressuscitado. Feliz Páscoa!

Saúdo de coração os peregrinos e visitantes provenientes dos países de língua alemã. Saúdo de modo particular os Seminaristas provenientes das Dioceses de Bolzano-Brixen, Graz-Seckau e de Gurk, acompanhados pelos seus Bispos, assim como os Diáconos permanentes das Arquidioceses de Munique-Frisinga, acompanhados pelos Bispos Auxiliares. Verdadeiramente Cristo ressuscitou! Ide pelo mundo, como suas testemunhas, e anunciai o Evangelho! A paz do Ressuscitado esteja convosco!

Queridos peregrinos croatas, saúdo-vos a todos cordialmente.
Ao desejar sentidamente que a alegria pascal encha os vossos corações e inspire os vossos passos, invoco sobre cada um de vós e sobre a vossa Pátria a bênção do Senhor ressuscitado.
Louvados sejam Jesus e Maria!

Saúdo cordialmente os peregrinos da Polónia e do mundo!

"Louvai ao Senhor porque Ele é bom: é eterna a sua misericórdia (Ps 135,1). Estas palavras do Salmo que meditámos na catequese de hoje assumem um significado particular na oitava da Páscoa. Tornam-nos conscientes de que precisamente na ressurreição de Cristo a misericórdia de Deus se revelou perfeitamente. O Ressuscitado venceu o pecado e a morte, e abriu aos homens as portas da felicidade eterna.

O próximo domingo chama-se in albis domingo "branco". Chama-se assim porque, segundo a tradição litúrgica, neste dia aqueles que tinham sido baptizados durante a Vigília pascal despojavam-se das vestes brancas do baptismo e vestiam a roupa quotidiana. Ao mesmo tempo, o mesmo domingo é vivido na Igreja como a festa da Misericórdia Divina. É um costume recente, mas que exprime bem a verdade de que através da graça do Baptismo participamos do amor misericordioso de Deus.

Este domingo, no qual vamos espiritualmente ao Santuário de Lagiewniki e aos outros santuários para pedir a Deus a "misericórdia para nós e para todo o mundo", seja também o dia de agradecimento pelo sacramento do Baptismo; seja o dia de louvor ao Senhor que "fez maravilhas" (Ps 135,4).

Mais uma vez vos desejo a todos que a luz da ressurreição vos acompanhe constantemente e seja fonte de esperança firme. Deus vos abençoe!

Por fim, o meu pensamento dirige-se aos jovens, aos doentes e aos novos casais.
Queridos jovens e sobretudo vós, em tão grande número, que pertenceis a diversas paróquias da Arquidiocese de Milão e que fazeis este ano a "Profissão de Fé" renovando a fé no Salvador resuscitado, sede suas testemunhas entusiastas na Igreja e na sociedade, para que com a vossa fidelidade ao Evangelho possais contribuir para a construção da civilização do amor.

Queridos doentes, a luz da Ressurreição, que é conforto e apoio para todos os que crêem, ilumine a vossa existência quotidiana e a torne fecunda em benefício de toda a humanidade.

E vós, estimados novos casais, tirai todos os dias do Mistério pascal a força espiritual para alimentar a vossa família com um amor sincero e inexaurível.








PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA

Quarta-Feira 30 de abril de 2003

Programa de um rei fiel a Deus

Queridos irmãos e irmãs,


1. Depois das duas catequeses dedicadas ao significado das Celebrações pascais, retomamos a nossa reflexão sobre a Liturgia das Laudes. Ela propõe-nos o Salmo 100, que acabámos de ouvir, para a quarta-feira da 4ª semana.

Trata-se de uma meditação que traça o retrato do homem político ideal, cujo modelo de vida deveria ser o agir divino no governo do mundo: um agir regido por uma integridade moral perfeita e por um compromisso enérgico contra as injustiças. Este texto é proposto agora de novo como um programa de vida para o fiel que começa o seu dia de trabalho e de relações com o próximo. É um programa de "amor e de justiça" (cf. v. 1), que se desenvolve em duas grandes orientações morais.

2. A primeira é chamada "caminho da inocência" e está orientada para a exaltação das opções pessoais de vida, feitas "com um coração integral", isto é, com uma consciência perfeitamente recta (cf. v. 2).

Por um lado, fala-se de maneira positiva das grandes virtudes morais que tornam luminosa a "casa", ou seja, a família do justo (cf. v. 2): a sabedoria que ajuda a compreender bem e a julgar; a inocência que é pureza de coração e de vida; e, por fim, a integridade da consciência que não tolera compromissos com o mal.

Por outro lado, o Salmista introduz um compromisso negativo. Trata-se da luta contra qualquer forma de malvadez e de injustiça, de maneira que se possa afastar da própria casa e das opções pessoais qualquer forma de perversão da ordem moral (cf. vv. 3-4).

Como escreve São Basílio, grande Padre da Igreja do Oriente, na sua obra O baptismo, "nem sequer o prazer momentâneo que possa contaminar o pensamento deve perturbar aquele que se configurou com Cristo numa morte semelhante à sua" (Obras ascéticas, Turim 1980, pág. 548).

3. A segunda orientação é desenvolvida na parte final do Salmo (cf. vv. 5-8) e esclarece a importância dos dotes mais tipicamente públicos e sociais. Também neste caso se enumeram os pontos fundamentais de uma vida que deseja recusar o mal com rigor e decisão.

Antes de mais a luta contra a calúnia e a denúncia secreta, um compromisso básico numa sociedade com tradições orais, que atribuía particular relevo à função da palavra nas relações interpessoais. O rei, que exerce também a função de juiz, anuncia que nesta luta usará a mais rigorosa severidade: exterminará o caluniador (cf. v. 5). Depois, é recusada qualquer forma de arrogância e soberba; é recusada a companhia e os conselhos de quem age sempre com o engano e com a mentira. Por fim, o rei declara de que forma escolherá os seus "servos" (cf. v. 6), ou seja, os seus ministros. Terá a preocupação de os escolher entre "os fiéis do país". Deseja rodear-se de povo íntegro e recusar o contacto com "aquele que fala mentiras" (cf. v. 7).

4. O último versículo do Salmo é particularmente enérgico. Pode causar perplexidade no leitor cristão: "Em cada manhã julgarei severamente todos os ímpios da nação, para exterminar da cidade do Senhor todos quantos praticam o mal" (v. 8). Mas é importante recordar-se de uma coisa: aquele que assim fala não é um indivíduo qualquer, mas o rei, responsável supremo da justiça no país. Com esta frase ele exprime de maneira hiperbólica o seu implacável compromisso de luta contra a criminalidade, um compromisso obrigatório, partilhado por todos os que têm responsabilidades na gestão pública.

Evidentemente não compete a cada cidadão esta tarefa de justiceiro! Por isso, se cada um dos fiéis quer aplicar a si próprio a frase do Salmo, deve fazê-lo em sentido analógico, isto é, decidindo extirpar todas as manhãs do próprio coração e do seu comportamento a erva daninha da corrupção e da violência, da perversão e da malvadez, assim como qualquer forma de egoísmo e de injustiça.

5. Concluimos a nossa meditação retomando o primeiro versículo do Salmo: "Celebrarei o amor e a justiça..." (v. 1). Um antigo escritor cristão, Eusébio de Cesareia, nos seus Comentários aos Salmos, realça a primazia do amor sobre a justiça extremamente necessária: "Celebrarei a tua misericórida e o teu juízo, mostrando a maneira que te é habitual: não, primeiro julgar e depois ter misericórdia, mas primeiro ter misericórdia e depois julgar, e com clemência e misericórdia pronunciar sentenças.Para isto, eu mesmo, ao exercer a misericórdia e o juízo em relação ao próximo, ouso aproximar-me de ti para, contigo, cantar e honrar. Por conseguinte, consciente de que é preciso agir assim, conservo os meus caminhos imaculados e inocentes, persuadido de que desta forma os meus cânticos te serão agradáveis, por meio das boas obras" ().

Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa e dilectos Padres e Irmãos Capuchinhos: a todos saúdo e abençoo com votos de "paz e bem" para vós, vossas famílias e comunidades, objecto diário dos vossos cuidados pastorais em Angola, Brasil, Moçambique e Portugal.

Sinto-me feliz por receber os peregrinos de língua francesa, sobretudo os seminaristas de Rennes e de Caen, a Escola de formação dos Meninos de Coro de Saint-Brieuc, assim como os grupos paroquiais e os jovens. Oxalá a vossa estadia confirme a vossa fé e faça crescer em vós o desejo da santidade!

Sinto-me feliz em dar as boas-vindas a todos os peregrinos e visitantes de língua inglesa, presentes nesta Audiência, sobretudo os da Iglaterra, Bélgica, Noruega, Coreia, Japão, Canadá e Estados Unidos da América. Dirijo uma saudação especial ao grupo de Budistas provenientes do Japão, "Rissho Kosei-kai". Agradeço ao coro coreano as suas canções. Invoco de Deus para todos vós a abundância das bênçãos da alegria e da paz.

Saúdo calorosamente os peregrinos e visitantes provenientes dos países de língua alemã. Saúdo de modo particular os membros da União das Associações históricas de tiro ao alvo. Uni-vos todos no louvor a Jesus Cristo, Senhor Ressuscitado! Exprimi também com as boas acções aquilo que os lábios pronunciam. A alegria pascal cumule os vossos corações e a graça de Deus vos acompanhe!

Saúdo com afecto os peregrinos de língua espanhola. Em especial, os Sacerdotes que participam num curso de actualização no Colégio Espanhol, assim como as Clarissas Missionárias que terminam hoje o seu Capítulo Geral, e os demais grupos da Espanha, México e Chile. Desejo a todos um tempo pascal cheio dos dons de Cristo Ressuscitado.

Saúdo com afecto os peregrinos húngaros, os membros do grupo de Budapeste e os que receberam a Ordenação diaconal.

No tempo litúrgico da Páscoa proclamamos com alegria a Ressurreição do Senhor.
Concedo-vos de bom grado a Bênção apostólica.
Louvado seja Jesus Cristo

É com afecto que dou as boas-vindas aos peregrinos eslovacos de Holic e do "Coro laudamus" de Piest'any.

Queridos peregrinos, a vossa visita a Roma no tempo de Páscoa seja para cada um de vós a ocasiao de autentica renovaçao religiosa.

Abençoo-vos de bom grado a vós e às vossas familias.
Louvado seja Jesus Cristo!

Saùdo hoje com grande alegria os numerosos peregrinos eslovenos.
A peregrinaçao à cidade eterna aos tùmulos dos mártires e à sede apostólica de Sao Pedro fortaleça e aprofunde a vossa fé, esperança e caridade.

A vós, às vossas familias e às vossas paróquias a minha especial Bençao apostólica.

Saúdo cordialmente os Dirigentes e os Membros da Associação Cultural Croata "Napredak" de Zagrábia, Sarajevo e de outras localidades da Croácia e da Bósnia e Herzegovina. Caríssimos, ao encorajar-vos a continuar generosamente as múltiplas obras culturais da vossa benemérita Associação, que há pouco tempo celebrou o primeiro centenário de fundação e hoje celebra o seu Dia, invoco sobre vós a Bênção de Deus.

Saúdo também os Meninos e os Educadores da Escola Materna de Sao Vicente de Zagrábia.
Louvados sejam Jesus e Maria!

Por fim, o meu pensamento dirige-se aos jovens, aos doentes e aos novos casais. O Senhor ressuscitado cumule com o seu amor o coraçao de cada um de vós, queridos jovens, para que estejais prontos a segui-l'O com entusiasmo; vos ampare a vós, queridos doentes, para que estejais prontos a aceitar com serenidade o peso quotidiano do sofrimento, e vos guie a vós, estimados novos casais, para que a vossa familia cresça na santidade, seguindo o modelo da Santa Família.







                                                                                Maio de 2003

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 7 de maio de 2003




Caríssimos Irmãos e Irmãs de língua portuguesa:

Estas palavras, de sabor evangélico, pairam ainda no ar após a minha recente viagem à Espanha. É o tema que propus aos jovens e à multidão de fiéis que acorreram em Madri para estar com o sucessor de Pedro. Esta quinta Viagem Apostólica, que a Providência permitiu-me realizar, confirmou a convicção de que perdura no povo espanhol aquela alma cristã, que foi relevante na evangelização da Europa e do mundo. A canonização de cinco novos filhos da Espanha, testemunha a perene vitalidade da sua gente, para quem invoco a bênção do Altíssimo a fim de que continue semeando frutos abundantes de perfeição evangélica.
***


Saúdo com afecto os peregrinos aqui presentes, com votos de paz e de alegria em Cristo. De modo especial, saúdo os brasileiros de Bebedouro, no Estado de São Paulo, pedindo a Deus copiosas bênçãos para o trabalho do campo que desenvolvem, com uma propiciadora bênção, que estendo a todos os demais ouvintes.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 14 de maio de 2003

Oração de Azarias na fornalha


1. O Cântico que agora foi entoado pertence ao texto grego do Livro de Daniel e apresenta-se como súplica elevada ao Senhor com fervor e sinceridade. É a voz de Israel que está a viver a difícil vicissitude do exílio e da diáspora entre os povos. De facto, quem entoa o cântico é um hebreu, Azarias, inserido no horizonte babilónico no tempo do exílio de Israel, depois da destruição de Jerusalém por obra do rei Nabucodonosor.

Azarias, com outros dois fiéis hebreus, está "no meio do fogo" (Da 3,25), como um mártir pronto a enfrentar a morte para não atraiçoar a sua consciência e a sua fé. Foi condenado à morte por se ter recusado a adorar a estátua imperial.

2. A perseguição é considerada por este Cântico uma pena justa com que Deus purifica o povo pecador: "Foi por efeito dum juízo equitativo que nos infligistes tudo isto confessa Azarias por causa dos nossos pecados" (v. 28). Estamos assim na presença de uma oração penitencial, que não termina no desencorajamento ou no medo, mas na esperança.

Sem dúvida, o ponto de partida é amargo, a desolação é grave, a prova é pesada, o juízo divino sobre o pecado do povo é severo: "Agora não há nem príncipe, nem profeta, nem chefe, nem holocausto, nem sacrifício, nem oblação, nem incenso, nem mesmo um local para Vos oferecer as nossas primícias e encontrar misericórdia" (v. 38). O templo de Sião está destruído e parece que o Senhor já não habita no meio do seu povo.

3. Na situação trágica do presente, a esperança procura a sua raiz no passado, ou seja, nas promessas feitas aos pais. Por conseguinte, remonta-se a Abraão, Isaac e Jacob (cf. v. 35), aos quais Deus tinha garantido bênçãos e fecundidade, terra e grandeza, vida e paz. Deus é fiel e nunca faltará às suas promessas. Mesmo se a justiça exige que Israel seja punido devido às suas culpas, permanece a certeza de que a última palavra será a da misericórdia e do perdão. Já o profeta Ezequiel referia estas palavras do Senhor: "Porventura comprazer-Me-ei com a morte do pecador, oráculo do Senhor Deus, e não com o facto de ele se converter e viver?... Pois Eu não me comprazo com a morte de quem quer que seja" (Ez 18,23 Ez 18,32). Sem dúvida, agora é o tempo da humilhação: "estamos reduzidos a nada diante das nações, estamos hoje humilhados em face de toda a terra, por causa dos nossos pecados" (Da 3,37). Contudo a expectativa não é a morte, mas uma vida nova, depois da purificação.

4. O orante aproxima-se do Senhor oferecendo-lhe o sacrifício mais precioso e agradável: o "coração constrangido" e o "espírito humilhado" (v. 39; cf. Sl Ps 50,19). É precisamente o centro da existência, o eu renovado da prova é oferecido a Deus, para que o receba em sinal de conversão e de consagração ao bem.

Com esta disposição interior acaba o receio, terminam a confusão e a vergonha (cf. Dn Da 3,40), e o espírito abre-se à confiança num futuro melhor, quando se realizarem as promessas feitas aos pais.
A frase final da súplica de Azarias, do modo como é proposta pela liturgia, é de grande impacto emotivo e de profunda intensidade espiritual: "É de todo o coração que agora vos seguimos, que Vos veneramos, que procuramos a Vossa face" (v. 41). Tem-se o eco de outro Salmo: "O meu coração pressente os teus dizeres: "Procurai a minha face!" É a tua face, Senhor, que eu procuro" (Ps 26,8).

Já chegou o momento em que o nosso caminhar está a abandonar as vias perversas, as veredas sinuosas e as estradas tortuosas (cf. Pr Pr 2,15). Encaminhamo-nos para seguir o Senhor, estimulados pelo desejo de encontrar o seu rosto. E ele não está irado, mas cheio de amor, como se revelou no pai misericordioso em relação ao filho pródigo (cf. Lc Lc 15,11-32).

5. Concluímos a nossa reflexão sobre o Cântico de Azarias com a oração escrita por São Máximo, o Confessor, no seu Discurso ascético (37-39), para o qual se inspira precisamente no texto do profeta Daniel. "Pelo teu nome, Senhor, não nos abandones para sempre, não disperses a tua aliança e não afastes a tua misericórdia de nós (cf. Dn Da 3,34-35) pela tua piedade, Pai nosso que estás no céu, pela compaixão do teu Filho unigénito e pela misericórida do teu Santo Espírito... Ouve a nossa súplica, ó Senhor, e não nos abandones para sempre. Nós não confiamos nas nossas obras de justiça, mas na tua piedade, mediante a qual conservas a nossa estirpe... Não desprezes a nossa indignidade, mas tem compaixão de nós segundo a tua grande piedade, e segundo a plenitude da tua misericórdia purifica-nos dos nossos pecados, para que, sem condenações, nos aproximemos da tua santa glória e sejamos considerados dignos da protecção do teu Filho unigénito".

São Máximo conclui: "Sim, ó Senhor pai omnipotente, atende a nossa súplica, porque nós não reconhecemos mais nenhum além de ti" (Humanidade e divindade de Cristo, Roma 1979, págs. 51-52).

Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa

"Quereis oferecer-vos a Deus perguntava a Virgem Maria aos pastorinhos de Fátima pela conversão dos pecadores?". A este mundo carecido de Deus, comunicai a graça e a paz que o Céu lhe manda através das vossas mãos erguidas em prece.
Rezai o terço todos os dias!

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua francesa, sobretudo o Liceu particular das Filhas, de Chateauneuf-de-Galaure, assim como o grupo do Movimento cristãos de Reformados da Arquidiocese de Rennes.

Que a vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo fortaleça a vossa fé em Jesus Cristo, e que renove em vós o desejo de procurar sempre o rosto de Deus.

É-me grato dar as boas-vindas aos participantes do Colégio de Defesa da NATO, e aos visitantes de língua inglesa presentes na Audiência de hoje, particularmente aos da Inglaterra, País de Gales, Austrália, Canadá e dos Estados Unidos da América. Sobre todos vós invoco a graça e a paz do Salvador Ressuscitado.

É de coração que dou as boas-vindas aos peregrinos e visitantes de língua alemã. Neste dia, dirijo uma saudação especial ao grupo de peregrinos de "Roma-Seelsorge", da Alemanha. Caminhai ao encontro de Cristo! Ele habita convosco e aperfeiçoa as vossas boas obras com a sua graça. A paz do Senhor esteja convosco!

Saúdo com afecto os fiéis húngaros que vieram de Budapeste. O mês de Maio é dedicado à Virgem Maria. Confiai-vos, nas orações, à nossa Mãe Celeste. Concedo de coração a todos vós a Bênção apostólica.
Louvado seja Jesus Cristo.

Por fim, dirijo-me aos jovens, aos novos casais e aos doentes, exortando-os todos a aprofundar a prática piedosa do Santo Rosário, sobretudo durante este mês de Maio, que é dedicado à Mãe de Deus.

Convido-vos a vós, queridos jovens, a valorizar esta tradicional oração evangélica, que ajuda a compreender melhor os momentos centrais da salvação alcançada por Cristo.

Exorto-vos a vós, queridos doentes, a dirigir-vos com confiança a Nossa Senhora com esta prática piedosa, confiando-lhe todas as vossas necessidades.

Desejo-vos a vós, amados novos casais, que façais do Rosário recitado em conjunto um momento de vida familiar intensa, sob o olhar maternal da Virgem Maria.




AUDIÊNCIAS 2003 - APELO EM FAVOR DA ÁFRICA