AUDIÊNCIAS 2003

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 10 de setembro de 2003

Deus renovará o seu povo

Queridos irmãos e irmãs,


1. O Cântico que agora ressoou aos nossos ouvidos, foi composto por um dos grandes profetas de Israel. Trata-se de Ezequiel, testemunha de uma das épocas mais trágicas que o povo hebraico viveu: a época da queda do reino de Judá e da sua capital, Jerusalém, a que se seguiu a amarga vicissitude do exílio na Babilónia (VI século a.C.). É tirado do capítulo 36 de Ezequiel o trecho que passou a fazer parte da oração cristã das Laudes.

O contexto desta página, transformada pela liturgia em hino, quer captar o sentido profundo da tragédia vivida pelo povo naqueles anos. O pecado de idolatria tinha contaminado a terra dada em herança pelo Senhor a Israel. Ele, mais do que outras causas, é responsável definitivamente pela perda da pátria e da dispersão entre as nações. De facto, Deus não permanece indiferente face ao bem e ao mal; ele entra misteriosamente em acção na história da humanidade com o seu julgamento que, mais cedo ou mais tarde, há-de desmascarar o mal, defender as vítimas e indicar o caminho da justiça.

2. Mas a meta da acção de Deus nunca é a ruína, a condenação pura e simples, a aniquilação do pecador. É o mesmo profeta Ezequiel que refere estas palavras divinas: "Porventura comprazer-Me-ei com a morte do pecador... e não com o facto de ele se converter e viver?... Pois eu não me comprazo com a morte de quem quer que seja... Convertei-vos e vivei" (18, 23.32). Nesta perspectiva consegue-se compreender o significado do nosso Cântico, repleto de esperança e de salvação. Depois da purificação mediante a prova e o sofrimento, está prestes a surgir o alvorecer de uma nova era, que já o profeta Jeremias tinha anunciado quando falou de uma "nova aliança" entre o Senhor e Israel (cf. 31, 31-34). O próprio Ezequiel, no capítulo 11 do seu livro profético, tinha proclamado estas palavras divinas: "Dar-lhes-ei um coração novo e infundirei no seu íntimo um espírito novo. Arrancarei da sua carne o coração de pedra e dar-lhes-ei um coração de carne, para que caminhem segundo os meus preceitos e observem as minhas leis e as cumpram. Eles serão o meu povo e eu serei o seu Deus" (11, 19-20).

No nosso Cântico (cf. Ez Ez 36,24-28) o profeta retoma este oráculo e completa-o com um esclarecimento maravilhoso: o "espírito novo" dado por Deus aos filhos do seu povo será o seu Espírito, o Espírito do próprio Deus (cf. v. 27).

3. Por conseguinte, é anunciada não só uma purificação, expressa através do sinal da água que lava as impurezas da consciência. Não se tem apenas o aspecto, mesmo se é necessário, da libertação do mal e do pecado (cf. v. 25). A mensagem de Ezequiel realça sobretudo outro aspecto muito mais surpreendente. De facto, a humanidade está destinada a nascer para uma nova existência. O primeiro símbolo é o do "coração" que, na linguagem bíblica remete para a interioridade, para a consciência pessoal. Ao nosso peito será arrancado o "coração de pedra", gelado e insensível, sinal da obtinação no mal. Nele Deus inserirá um "coração de carne", ou seja, uma fonte de vida e de amor (cf. v. 26). O espírito vital, que na criação nos tinha tornado criaturas vivas (cf. Gn Gn 2,7) será substituído pela nova economia de graça do Espírito Santo que nos ampara, nos move, nos guia para a luz da verdade e derrama "o amor de Deus nos nossos corações" (Rm 5,5).

4. Assim, surgirá aquela "nova criação" que será descrita por São Paulo (cf. 2Co 5,17 Ga 6,15), quando afirmará a morte em nós do "homem velho", do "corpo do pecado", porque "já não somos escravos do pecado" mas criaturas novas, transformadas pelo Espírito de Cristo ressuscitado: "Despistes-vos do homem velho com as suas obras e revestistes-vos do novo, que não cessa de se renovar à imagem d'Aquele que o criou" (Col 3,9-10 cf. Rm Rm 6,6). O profeta Ezequiel anuncia um novo povo, que o Novo Testamento verá convocado pelo próprio Deus através da obra do seu Filho. Esta comunidade com o "coração de carne" e com o "espírito" infundido conhecerá uma presença viva e operante do próprio Deus, que animará os crentes agindo neles com a sua graça eficaz. "Aquele que observa os Seus mandamentos dirá São João permanece em Deus e Deus nele. E nisto conhecemos que Ele permanece em nós pelo Espírito que nos deu" (1Jn 3,24).

5. Concluímos a nossa meditação sobre o Cântico de Ezequiel ouvindo São Cirilo de Jerusalém que, na sua Terceira catequese baptismal, entrevê na página profética o povo do baptismo cristão.

Com o baptismo recorda são perdoados todos os pecados, até as transgressões mais graves. Por isso, o Bispo se dirige aos seus ouvintes: "Tem confiança, Jerusalem, o Senhor eliminará as tuas iniquidades (cf. Sof So 3,14-15). O Senhor lavará as vossas iniquidades...: "derramará sobre vós água pura e sereis purificados de todas as manchas e pecados" (Ez 36,25). Os anjos fazem-vos coroa, exultantes, e depressa cantarão: "Quem é esta, que sobe o deserto, apoiada no seu amado?" (Ct 8,5). Ela, de facto, é a alma, outrora escrava e agora livre de chamar ao seu Senhor irmão adoptivo, que acolhendo o seu propósito sincero lhe diz: "Oh, como és formosa, minha amada, como és formosa!" (Ct 4,1)... Assim exclama ele aludindo aos frutos de uma confissão feita com uma consciência recta... Queira Deus que todos... mantenhais viva a recordação destas palavras e delas tireis benefícios transpondo-as em obras santas para vos apresentardes irrepreensíveis ao Esposo místico e para obterdes do Pai o perdão dos pecados" (n. 16: As catequeses, Roma 1993, pág. 79-80).

Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa, a todos saúdo e acolho de coração. Para chegar aqui, cobristes muitas léguas a partir da cidade brasileira de Natal, e de Bragança e de outros pontos de Portugal. Deus vos dê a recompensa que buscais!

Dirijo as minhas calorosas saudações de boas-vindas a todos os peregrinos e visitantes de língua inglesa, presentes na Audiência de hoje, especialmente os que vieram da Letónia, Dinamarca, Irlanda, Escócia, Inglaterra e Estados Unidos. Sobre todos vós, invoco do íntimo do coração a alegria e a paz em nosso Senhor Jesus Cristo.

Saúdo cordialmente os peregrinos da Espanha e da América Latina, especialmente os Sacerdotes de Orihuela, acompanhados do Mons. Victório Oliver; os fiéis de As Pontes e de Santa Gema de Pedralbes; a Confraria de Tarragona, assim como as Missionárias de São Domingos e os alunos do Colégio Francisco de Assis, de Santiago do Chile. Mantende vivas as palavras do profeta e traduzi-as em obras santas!

Saúdo cordialmente os peregrinos francófonos, em particular os jovens do Seminário de Bordéus. O Espírito de Deus, que habita em vós, vos conceda a alegria de seguir as pegadas de Cristo e de ser suas testemunhas!

Saúdo os participantes na assembleia dedicada ao Bispo de Liubliana, D. Janez Karel Herberstein. Que os frutos do vosso trabalho beneficiem toda a comunidade eclesial e nacional eslovena. Juntamente convosco, saúdo também os estudantes do Liceu episcopal "Anton Martin Slomsek", de Maribor.
Concedo-vos a todos a minha Bênção apostólica!

Agora, dirijo a minha saudação aos peregrinos de língua italiana. Com particular afecto, saúdo os representantes da Acçao Católica, vindos de diversas dioceses. Caríssimos, a Igreja tem necessidade de vós, que fizestes da paróquia o lugar onde expressar, diariamente, uma dedicação evangélica fiel e generosa.

Em seguida, saúdo-vos a vós, sócios das Sociedades Operárias do Mútuo Socorro, reunidos aqui em tão grande número, no centenário de fundação da vossa associação, e a vós, participantes no encontro da Confederaçao "Coldiretti". Faço votos a fim de que vos deixeis iluminar sempre por Cristo, para poder testemunhar a sua presença salvífica nos ambientes em que trabalhais.

Enfim, saúdo-vos, jovens, doentes e novos casais. Anteontem, celebrámos a festa da Natividade da Virgem e depois de amanha comemoraremos o seu santo Nome. A celestial Mãe de Deus vos oriente e vos sustente no caminho de uma adesão cada vez mais perfeita a Cristo e ao seu Evangelho.

Estou prestes a realizar, a partir de amanha, com grande esperança, a minha terceira Viagem apostólica à República Eslovaca, terra enriquecida pelo testemunho de discípulos heróicos de Cristo, que deixaram eloquentes sinais de santidade na história da Nação.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, convido-vos a acompanhar-me com a oração. Confio esta Viagem apostólica à Mãe do Redentor, tão venerada na República Eslovaca. Oxalá Ela oriente os meus passos e obtenha para o povo eslovaco uma nova primavera de fé e de progresso civil.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 17 de setembro de 2003

Cara Eslováquia, obrigado pelo teu amor à Igreja e ao Sucessor de Pedro!



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Gostaria hoje de me deter convosco sobre a viagem apostólica, que na semana passada tive a alegria de realizar à Eslováquia. Dou graças ao Senhor, que pela terceira vez me concedeu visitar aquele nobre País. Renovo as expressões dos meus gratos sentimentos a quantos me acolheram com tanta cordialidade. Agradeço em primeiro lugar aos venerados Irmãos no Episcopado, ao Senhor Presidente da República e às restantes Autoridades, assim como a todos aqueles que se ocuparam dos vários aspectos da minha estadia naquela Terra.

2. Fiel a Cristo e à Igreja: assim se apresenta a Eslováquia na sua história. Indo pessoalmente, quis confirmá-la nesta fidelidade, quando ela se encaminha confiante para o futuro. Pude admirar com prazer o progresso económico e social que foi realizado nestes anos. Estou certo de que, com a entrada na União Europeia, o povo eslovaco saberá oferecer à construção da Europa o seu válido contributo também no âmbito dos valores. De facto, graças a Deus, ele possui um rico património espiritual que, apesar da dura perseguição de que foi vítima no passado, soube conservar firmemente. Disto dá um testemunho eloquente o florescimento prometedor de vida cristã e de vocações sacerdotais e religiosas, que hoje se verifica. Rezo a fim de que esta amada Nação prossiga com confiança por este caminho.

3. A primeira etapa da minha peregrinação foi a visita à Catedral de Trnava, igreja-mãe da Arquidiocese de Bratislava-Trnava. Daquele templo, dedicado a São João Baptista, pedi aos cristãos que sejam testemunhas cada vez mais destemidas do Evangelho.

Os dias seguintes tiveram no seu centro as Celebrações eucarísticas, bonitas e sugestivas, bem preparadas na liturgia e nos cânticos, com uma participação intensa e devota por parte do povo cristão. A primeira foi realizada na praça de Banská Bystrica, no centro do País. Ao comentar o Evangelho da Anunciação, realcei a exigência de cultivar, partindo da família, uma liberdade madura. Só assim se estará em condições de responder à chamada de Deus, a exemplo da Virgem Maria.

Ainda em Banská Bystrica encontrei-me com os Membros da Conferência Episcopal da Eslováquia. Encorajei-os a continuar na vasta obra de promoção da vida cristã, depois dos anos obscuros do isolamento e da ditadura comunista.

4. Fui, depois, a Roznava, cidade principal de uma região agrícola. Naquele contexto, ressoou muito eloquente a parábola evangélica do semeador. Sim! A Parábola de Deus é semente de vida nova. Ao dirigir-me de maneira particular aos camponeses, realcei como é importante o seu contributo para a construção da Nação. Mas é necessário que permaneçam solidamente radicados na sua secular tradição cristã. Ainda em Roznava, tive a ocasião de saudar a numerosa comunidade de língua húngara.

A última e principal paragem desta minha viagem apostólica, foi realizada na capital, Bratislava. Durante uma solene Santa Missa, tive a alegria de beatificar dois filhos daquela terra: O Bispo Basílio Hopko e a Irma Sidónia Cecília Schelingová, vítimas de atrozes perseguições da parte do regime comunista; ambos foram testemunhas da fé no século XX, elevados às honras dos altares precisamente no dia da Exaltação da Santa Cruz. Eles recordam que o povo eslovaco, nos momentos dramáticos do sofrimento, encontrou força e esperança na Cruz de Cristo: O Crux, ave spes unica!

5. Amparo da Igreja na Eslováquia foi Nossa Senhora das Dores, sua Padroeira principal. Unidos a Ela, que permaneceu ao lado do Filho no Calvário, os nossos irmãos eslovacos, também neste nosso tempo, desejam permanecer fiéis a Cristo e à Igreja. Nossa Senhora das Dores proteja a Eslováquia, para que ela guarde ciosamente o Evangelho, o bem mais precioso que deve ser anunciado e testemunhado com a santidade da vida.

Deus te abençoe, querida Eslováquia! Obrigado pelo teu amor à Igreja e ao Sucessor de Pedro!

Saudações

Queridos Irmãos e Irmãs

Quis partilhar convosco, queridos peregrinos de língua portuguesa, a experiência da minha recente visita à Eslováquia, na esperança de contar com a vossa oração e solidariedade por aqueles nossos irmãos; assim me ajudareis a levar o peso da missão que o Senhor me confiou. De todo o coração vos agradeço e formulo votos das maiores bênçãos de Deus para vossas famílias e comunidades cristãs.

Saúdo os fiéis de língua espanhola, especialmente os do Chile, Espanha e os alunos do Pontifício Colégio Mexicano, em Roma. Sob a protecção maternal de Nossa Senhora, anunciai com coragem o Evangelho, testemunhando-o com a vossa vida santa.

Apresento as minhas saudações aos visitantes de língua inglesa, hoje aqui presentes, de modo especial os que vieram da Inglaterrra, Escócia, Irlanda, Índia, Austrália e Estados Unidos da América. Sobre todos vós, invoco a graça e a paz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Saúdo cordialmente os peregrinos francófonos, em particular o grupo de Irmãos Maristas e os Haitianos, acompanhados do seu Bispo Auxiliar, D. Dumas. Com a minha Bênção apostólica.

É com afecto que saúdo os meus compatriotas. Hoje, dediquei a catequese à recordação da minha última viagem à Eslováquia, País para mim tão próximo e fraterno. Hoje saúdo de coração, particularmente, o Seminário Maior de Lódz, em visita aqui em Roma, com o seu Pastor, Arcebispo D. Ladislao.

Queridos alunos! A vocaçao sacerdotal é a vocaçao para a santidade. Sinal de santidade é a oraçao, o espírito de contemplaçao, o sacrifício e a prontidao para o serviço de Deus e do homem. Formulo-vos votos a fim de que a vocaçao, compreendida e vivida desta maneira, seja o caminho espiritual a percorrer por cada um de vós. Os vossos educadores e superiores vos ajudem a descobri-la e vive-la deste modo. Deus vos abençoe a todos vós aqui presentes.

Dirijo uma cordial saudaçao aos peregrinos e visitantes de língua alema. Hoje, em particular, aos professores, assistentes e estudantes da Faculdade de Teologia de Tréveros. Manifestai a vossa alegria pela fé, com um claro testemunho de Cristo e da Igreja. Deus vos conceda a sua Bênção e o seu Espírito vos oriente.

Com alegria, saúdo os peregrinos lituanos! Caríssimos, colocai-vos em constante escuta da palavra de Deus, a fim de que a vossa vida crista possa produzir abundantes frutos espirituais. De coração, abençôo-vos a todos vós e aos vossos entes queridos!
Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo, cordialmente, os fiéis húngaros provenientes de Tusnádfürdô. Nossa Senhora das Dores, comemorada ontem, vos proteja na fé e no amor. Com a Bênção Apostólica.
Louvado seja Jesus Cristo!

Dou as cordiais saudações de boas-vindas aos jovens e peregrinos checos, vindos de Jihlava. Ontem, celebrámos a festa da Santa Duquesa Ludmila, que selou com o martírio a difusão do cristianismo na vossa Pátria. Por sua intercessão, abençoo-vos a vós e a vossa terra! Louvado seja Jesus Cristo.

Saúdo cordialmente os alunos e professores eslovenos do Ginásio clássico episcopal de Sentvid, em Liubliana. O encontro com os monumentos de Roma enriqueça e alargue os vossos horizontes de vida. Concedo-vos a vós e a todos os vossos entes queridos, a minha especial Bênção Apostólica.

Dirijo agora as minhas cordiais saudações de boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os alunos do Seminário Arquiepiscopal de Catânia e da Escola de Saúde e Veterinária militar, garantindo a cada um a lembrança na oração.

Saúdo, também, os participantes na maratona-peregrinação "Sao Pio de Pietrelcina e os jovens do mundo" e os dirigentes da Federação de Futebol com os árbitros da 1S e 2S divisões.

Caríssimos, a vossa presença dá-me a oportunidade de formular votos, mais uma vez, para que o desporto seja sempre uma escola de autentica formação humana, inspirada nos valores éticos e espirituais.

Agora, dirijo o meu pensamento aos jovens, aos doentes e aos novos casais. A amizade com Jesus seja para vós, queridos jovens, um motivo inspirador de cada escolha empenhativa; para vós, queridos doentes, apoio nos momentos de sofrimento; e para vós, queridos novos casais, estímulo a corresponder à vossa vocação familiar.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 24 de setembro de 2003




No começo da Audiência Geral de 24 de Setembro, que teve lugar na Sala Paulo VI, o Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado, introduziu esta catequese com as seguintes palavras:

Venerados Irmãos no Episcopado
Irmãos e Irmãs no Senhor

Devido a um mal-estar, o Santo Padre não pode estar presente nesta Audiência geral. Juntos rezaremos por ele, esperando que se restabeleça o mais depressa possível.

Por seu lado, o Papa deseja fazer saber que nos segue através da televisão e, no fim deste encontro, entrará em ligação connosco para nos dirigir a sua palavra. Desde já lhe agradecemos.
Leio agora, por seu encargo, o texto predisposto para este encontro, que comenta o Salmo 8, e exalta a grandeza do Senhor e a dignidade do homem.

Eis o texto da Mensagem do Papa:

Grandeza do Senhor e dignidade do homem



1. Meditando o Salmo 8, um admirável hino de louvor, encaminhamo-nos para a conclusão do nosso longo itinerário no âmbito dos Salmos e dos Cânticos que constituem a alma orante da Liturgia das Laudes. Durante estas catequeses, a nossa reflexão deteve-se sobre 84 orações bíblicas, das quais procurámos realçar sobretudo a intensidade espiritual, mesmo sem descurar a beleza poética.

De facto, a Bíblia convida-nos a abrir o caminho do nosso dia com um cântico que não proclame apenas as maravilhas realizadas por Deus e a nossa resposta de fé, mas que também as celebre "com arte" (cf. Sl Ps 46,8), isto é, de maneira bonita, luminosa, suave e, ao mesmo tempo, forte.
Maravilhoso entre todos é o Salmo 8, no qual o homem, inserido num quadro nocturno, quando na imensidão do céu começam a brilhar a lua e as estrelas (cf. v. 4), sente-se como um grão de areia no infinito e no espaço ilimitado que estão acima dele.

2. Com efeito, no centro do Salmo 8 emerge uma dupla experiência. Por um lado, a pessoa humana sente-se quase esmagada pela grandeza da criação, "obra dos dedos" divinos. Esta curiosa expressão substitui a "obra das mãos" de Deus (cf. v. 7), quase para indicar que o Criador traçou um desenho ou um bordado com os astros maravilhosos, lançados na grandeza do cosmos.
Mas por outro lado, Deus inclina-se sobre o homem e coroa-o como o seu vice-rei: "De glória e de honra o coroastes" (v. 6). Melhor, a esta criatura tão frágil confia todo o universo, para que o conheça e dele tire o sustento de vida (cf. vv. 7-9).

O horizonte da soberania do homem sobre as outras criaturas é especificado como que a recordar a página de abertura do Génesis: rebanhos, gado, animais do campo, aves do céu e peixes do mar são confiados ao homem para que, impondo-lhes um nome (cf. Gn Gn 2,19-20), descubra a sua profunda realidade, a respeite e a transforme com o trabalho e a destine para fonte de beleza e de vida. O Salmo torna-nos conscientes da nossa grandeza, mas também da nossa responsabilidade em relação à criação (cf. Sb Sg 9,3).

3. Lendo de novo o Salmo 8, o autor da Carta aos Hebreus descobriu nele uma compreensão mais profunda do desígnio de Deus em relação ao homem. A vocação do homem não pode ser limitada ao actual mundo terreno; se o Salmista afirma que Deus pôs tudo sob o domínio do homem, significa que deseja que ele submeta também "o mundo futuro" (He 2,5), "um reino inabalável" (12, 28). Numa palavra, a vocação do homem é uma "vocação celeste" (3, 1). Deus quer "conduzir à glória" celeste "uma multidão de filhos" (2, 10). Para que este projecto divino se realizasse, era necessário que a vida fosse traçada por um "pioneiro" (cf. ibid.), no qual a vocação do homem encontrasse o seu primeiro cumprimento perfeito. Este pioneiro é Cristo.

O autor da Carta aos Hebreus observou a respeito disto que as expressões do Salmo se aplicam a Cristo de maneira privilegiada, ou seja, mais pormenorizada do que para os outros homens. De facto, o Salmista usa o verbo "inferiorizar", dizendo a Deus: "fizeste-o por um pouco de tempo inferior aos anjos, coroaste-o de glória e de honra" (cf. Sl Ps 8,6 He 2,6). Para os homens comuns, este verbo não é apropriado; não foram "inferiorizados" em relação aos anjos, dado que nunca foram superiores a eles. Mas para Cristo, o verbo é exacto, porque, sendo Filho de Deus, ele era superior aos anjos e foi diminuído quando se fez homem, sendo depois coroado de glória com a sua ressurreição. Assim Cristo cumpriu plenamente a vocação do homem e cumpriu-a, explica o autor, "em benefício de todos" (He 2,9).

4. A esta luz, Santo Agostinho comenta o Salmo e aplica-o a nós. Ele parte da frase na qual se delineia a "coroação" do homem: "De glória e de honra o coroastes" (v. 6). Contudo, naquela glória ele vê o prémio que o Senhor nos dá quando superarmos a prova da tentação.

Eis as palavras do grande Padre da Igreja na sua Exposição do Evangelho segundo Lucas: "O Senhor coroou o seu dilecto também de glória e de magnificência. Aquele Deus que deseja distribuir as coroas, procura as tentações: por isso, quando és tentado, sê consciente de que te é preparada a coroa. Se extingues os combates dos mártires, extinguirás também as suas coroas; se extingues os seus suplícios, também extinguirás as suas bem-aventuranças" (IV, 41: SAEMO 12, págs. 330-333).

Deus prepara para nós aquela "coroa de justiça" (2Tm 4,8) que recompensará a nossa fidelidade para com Ele, mantida também no tempo da tempestade, que abala o nosso coração e a nossa mente. Mas ele está, em todos os tempos, atento à sua criatura predilecta e desejaria que nela brilhasse sempre a "imagem" divina (cf. Gn Gn 1,26), para que saiba ser, no mundo, sinal de harmonia, de luz e de paz.

Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs
de língua portuguesa

Peço a Nossa Senhora das Mercês, cuja festa hoje celebramos, que proteja a todos vós, nomeadamente os peregrinos da Diocese de Angra, nos Açores, e o grupo de brasileiros aqui presentes, para que a Mãe de Misericórdia vos assista e vos proteja. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

Transmito as minhas calorosas saudações aos peregrinos e visitantes de expressão inglesa, presentes na Audiência de hoje, especialmente aos da Inglaterra, Escócia, Irlanda, Dinamarca, Índia, Indonésia, Austrália, Canadá, Filipinas e Estados Unidos da América.
Sobre todos vós, invoco cordialmente a alegria e a paz em nosso Senhor Jesus Cristo.

De muito bom grado saúdo os peregrinos e os visitantes de língua alemã. Nas provações da vossa vida, apoiai-vos em Jesus Cristo. Deste modo, sereis fiéis à vossa vocação de filhos de Deus. O Senhor vos acompanhe e vos oriente a todos.

Saúdo com afecto os peregrinos de língua espanhola. Em especial, a Delegação do Instituto Superior do Estado-Maior do Exército do Chile, assim como a Selecção Nacional Argentina de Hóquei sobre rodas, e também o Coro de Bergantinos. A todos desejo uma feliz permanência em Roma.
Muito obrigado pela vossa visita.

Apresento as cordiais saudações aos meus compatriotas. De modo especial, saúdo o grupo de juristas polacos. Peço a Deus o espírito de conhecimento e sabedoria a fim de que, à luz das leis eternas de Deus, possais reconhecer o bem e o mal nas expressões concretas da vida do homem contemporâneo, e que verdadeiramente possais ser "homens de justiça". Hoje meditámos sobre o Salmo 8. É o louvor ao Criador que formou o mundo e o confiou ao homem, para que fosse a sua "glória e honra". A alegria que nasce da admiração da beleza da criação e o zelo para a manter intacta nos acompanhem sempre.
Deus vos abençoe!

Em nome do Santo Padre, leio por fim, a saudação que ele tinha preparado para os peregrinos italianos. Diz o Papa:

Dirijo uma saudação afectuosa aos peregrinos de língua italiana, em particular aos fiéis da Diocese de Lucera-Tróia, acompanhados do Bispo, D. Francesco Zerrillo, uma saudação particular aos fiéis da Paróquia de São Pedro em Rogliano e aos exilados da Ístria, da Família Montonese.
Caríssimos, desejo que a vossa visita aos lugares sagrados desta Cidade reforce a vossa adesão a Cristo e faça crescer a caridade nas vossas famílias e nas vossas comunidades eclesiais.
Como de costume, agora o meu pensamento dirige-se aos jovens, aos doentes e aos novos casais.

Queridos jovens, sede sempre fiéis ao ideal evangélico e fazei dele uma realidade nas vossas actividades do dia-a-dia. Vós, queridos doentes, confiai-vos todos os dias à graça do Senhor, a fim de encontrardes alívio para os vossos sofrimentos. E vós, queridos novos casais, abri a vossa alma ao amor divino, a fim de que ele vivifique a vossa existência familiar.



No final da Audiência, João Paulo II, em ligação radiotelevisiva a partir da Capela do Palácio Pontifício de Castel Gandolfo, dirigiu uma cordial saudação aos peregrinos presentes na Sala Paulo VI e na Praça de São Pedro e concedeu a Bênção apostólica. Foram estas as palavras do Santo Padre:

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

Dirijo-vos a todos vós a minha cordial saudação. Lamento não poder estar entre vós para este habitual encontro semanal.

Tenho-vos a todos no meu coração e abençoo-vos.



                                                                               outubro de 2003

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 1 de outubro de 2003

Benedictus



1. Tendo chegado ao fim do longo itinerário no âmbito dos Salmos e dos Cânticos da Liturgia das Laudes, queremos meditar sobre aquela oração que, todas as manhãs, marca o momento orante das Laudes. Trata-se do Benedictus, o Cântico entoado pelo pai de João Baptista, Zacarias, quando o nascimento daquele filho tinha mudado a sua vida, afastando a dúvida que o tinha tornado mudo, uma significativa punição pela sua falta de fé e de louvor.

Mas agora, Zacarias pode celebrar Deus que salva e fá-lo com este hino, narrado pelo evangelista Lucas de uma forma que, sem dúvida, reflecte o uso litúrgico no âmbito das primeirras comunidades cristãs (cf. Lc Lc 1,68-79).

O mesmo evangelista define-o como um cântico profético, que se abre através do sopro do Espírito Santo (cf. 1, 67). De facto, encontramo-nos diante de uma bênção que proclama as acções salvíficas e a libertação oferecida pelo Senhor ao seu povo. Por conseguinte, a leitura "profética" da história, isto é, a descoberta do sentido íntimo e profundo de toda a vicissitude humana, orientada pela mão escondida mas laboriosa do Senhor, que se entrelaça com a mais frágil e incerta do homem.

2. O texto é solene e, no original grego, compõe-se unicamente por duas frases (cf. vv. 68-75; 76-79). Depois da introdução, marcada pela bênção de louvor, podemos identificar no corpo do Cântico quase três estrofes, que exaltam igual número de temas, destinados a marcar toda a história da salvação: a aliança davídica (cf. vv. 68-71), a aliança abraâmica (cf. vv. 72-75), e o Baptista que nos introduz na nova aliança em Cristo (cf. vv. 76-79). De facto, toda a oração tende para aquela meta que David e Abraão indicam com a sua presença.
O vértice encontra-se precisamente numa frase quase conclusiva: "Visitar-nos-á a luz do alto" (cf. v. 78). A expressão, à primeira vista paradoxal com o facto de unir "o alto" e o "surgir", na realidade é significativa.

3. Com efeito, no original grego o "sol que surge" é anatolè, uma palavra que em si significa tanto a luz solar que brilha no nosso planeta, como o rebento que nasce. As duas imagens na tradição bíblica têm um valor messiânico.

Por um lado, Isaías recorda-nos, falando do Emanuel, que "o povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou" (9, 1). Por outro lado, referindo-se ainda ao rei Emanuel, representa-o como "um rebento que brotou do tronco de Jessé", isto é, da dinastia davídica, um rebento envolvido pelo Espírito de Deus (cf. Is Is 11,1-2).
Por conseguinte, com Cristo surge a luz que ilumina todas as criaturas (cf. Jo Jn 1,9) e floresce a vida, como dirá o evangelista João unindo precisamente estas duas realidades: "N'Ele estava a Vida e a Vida era a luz dos homens" (1, 4).

4. A humanidade que está envolvida "nas trevas e na sombra da morte" é iluminada por este esplendor de revelação (cf. Lc Lc 1,79). Como anunciara o profeta Malaquias, "para vós que temeis o Meu nome brilhará o sol de justiça" (3, 20). Este sol "guiará os nossos passos no caminho da paz" (Lc 1,79).

Movamo-nos então, tendo como ponto de referência aquela luz; e os nossos passos incertos, que durante o dia muitas vezes se desviam por caminhos obscuros e perigosos, são amparados pela luz da verdade que Cristo difunde no mundo e na história.

A este ponto, queremos citar as palavras de um mestre da Igreja, um dos seus Doutores, o britânico Beda, o Venerável ( séc. VII-VIII ) que na sua Homilia para o nascimento de São João Baptista, comentava assim o Cântico de Zacarias: "O Senhor... visitou-nos como um médico visita os doentes, porque para curar a enfermidade arreigada da nossa soberba, ofereceu-nos o novo exemplo da sua humildade; redimiu o seu povo, porque nos libertou com o preço do nosso sangue a nós que nos tínhamos tornado servos do pecado e escravos do antigo inimigo... Cristo encontrou-nos quando jazíamos "nas trevas e na sombra da morte", ou seja, oprimidos pela longa cegueira do pecado e da ignorância... Trouxe-nos a luz verdadeira do seu conhecimento e, afastou as trevas do erro, mostrou-nos o caminho seguro para a pátria celeste. Dirigiu os passos das nossas obras para fazer com que andássemos pelo caminho da verdade, que nos mostrou, e para nos fazer entrar na casa da paz eterna, que nos prometeu".

5. Por fim, inspirando-se noutros textos bíblicos, o Venerável Beda concluía da seguinte forma, dando graças pelos dons recebidos: "Dado que possuímos estes dons da bondade eterna, irmãos caríssimos..., bendizemos também nós o Senhor em todos os tempos (cf. Sl Ps 33,2), porque "visitou e redimiu o seu povo". Esteja sempre nos nossos lábios o seu louvor, conservemos a sua recordação e, por nosso lado, proclamamos a virtude daquele que "nos chamou das trevas para a Sua luz admirável" (1P 2,9). Pedimos continuamente a sua ajuda, para que conserve em nós a luz do conhecimento que nos trouxe, e nos conduza até ao dia da perfeição" (Homilias sobre o Evangelho, Roma 1990, págs. 464-465).



Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa

A todos saúdo e abençoo em nome de Jesus Cristo, que das alturas vos visita como sol nascente para iluminar e dirigir os vossos passos no caminho da paz. Na posse de tais bens e certezas, dai graças e louvai o Senhor em vossos corações e famílias, nomeadamente com a recitação diária do rosário. Atraí a paz sobre a terra!

Dirijo as minhas saudações aos visitantes de língua inglesa, hoje aqui presentes, especialmente os da Inglaterra, Escócia, Irlanda, Austrália, Canadá e Estados Unidos da América. É-me grato dar as boas-vindas e exprimir a minha estima aos membros da Associação "Patrons of the Arts", nos Museus do Vaticano, acompanhados de Sua Eminência o Cardeal Szoka. Sobre todos vós, invoco a graça e a paz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Transmito uma cordial saudação aos peregrinos e visitantes de língua alemã. Hoje, de modo especial, dou as boas-vindas a um grupo de Religiosas de Santa Isabel. Orientai a vossa vida segundo a luz de Cristo! O Senhor guie os vossos passos "no caminho da paz" (Lc 1,79).

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua polaca. De modo especial, saúdo a redacção do semanário "Niedziela" (Domingo). Agradeço-vos o serviço da palavra e confio os vossos esforços criativos à Rainha de Jasna Góra. Ela obtenha para vós muitas graças e boas inspirações.

Se Deus quiser, a 7 de Outubro, no dia dedicado à Bem-Aventurada Maria Virgem do Rosário, irei em peregrinação ao Santuário de Pompeia, a fim de agradecer a Deus a grande obra de santificação dos corações que realiza, ininterruptamente, graças a esta maravilhosa oração. Retornemos a ela com maior frequência. A vivência com Maria dos mistérios de Cristo nos aproxime cada vez mais d'Ele seja um caminho espiritual para o encontro com Ele na glória do céu. Deus vos abençoe a todos!

Saúdo os peregrinos lituanos!

No plano misterioso de Deus cada um tem um lugar e uma vocação. O Senhor vos abençoe e vos dê a graça para entender e realizar fielmente os seus projectos! Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo de todo o coração os peregrinos eslovacos.
Caros irmãos e irmãs, neste mês mariano convido-vos a colocar-vos na escola da Virgem de Nazaré para aprender com Ela a estar cada vez mais disponíveis para realizar a vontade de Deus. Com afecto vos abençoo. Louvado seja Jesus Cristo!

Caros peregrinos croatas, saúdo-vos a todos cordialmente. Bem-vindos!
Hoje inicia-se o mês de Outubro, mês do Rosário. Convido-vos então a descobrir a beleza e a riqueza desta oração mariana, tanto em particular como na comunidade paroquial e, sobretudo, na família. A Santíssima Mãe de Deus vos acompanhe sempre ao longo dos caminhos da vossa vida.
De bom grado, concedo a vós e aos vossos entes queridos a Bênção Apostólica. Louvados sejam Jesus e Maria!

Estou feliz por receber os sacerdotes, vindos de várias nações, que estão inscritos nos Pontifícios Colégios dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo em Roma, para complementar os seus estudos.
Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os fiéis da Diocese de Livorno, acompanhados do Bispo, D. Diego Coletti e os representantes da Comissão para os festejamentos em honra de São Cataldo, de Tarento.

Em seguida, transmito um pensamento afectuoso aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Precisamente hoje tem início o mês de Outubro, que adquire um significado especial neste ano dedicado ao Santo Rosário. Convido-vos, queridos jovens, doentes e novos casais a recitar com devoção esta oração tão querida à tradição do povo cristão. Abandonai-vos com confiança nas mãos de Maria, invocando-a incessantemente com o Rosário, meditação orante dos mistérios de Cristo.




AUDIÊNCIAS 2003