AUDIÊNCIAS 2003

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 19 de novembro de 2003

Cristo, Servo de Deus




Caríssimos Irmãos e Irmãs,

1. A Liturgia das Vésperas inclui, além dos Salmos, também alguns Cânticos bíblicos. O que acabamos de proclamar é certamente um dos mais significativos e de grande densidade teológica.

Trata-se de um hino inserido no segundo capítulo da Carta de São Paulo aos cristãos de Filipos, a cidade grega que foi a primeira etapa do anúncio missionário do Apóstolo na Europa. O Cântico é considerado expressão da liturgia cristã das origens e é uma alegria para a nossa geração poder associar-se, à distância de dois milénios, à oração da Igreja apostólica.

O Cântico revela uma dúplice trajectória vertical, um movimento descensional e depois ascensional. Por um lado é, de facto, a descida humilhante do Filho de Deus quando, na Encarnação, se faz homem por amor dos homens. Ele entra na Kenosis, ou seja, no "esvaziamento" da sua glória divina, levado até à morte na cruz, o suplício dos escravos que fez dele o último dos homens, tornando-o verdadeiro irmão da humanidade que sofre, pecadora e rejeitada.

2. Por outro lado, eis a subida triunfal que se realiza na Páscoa, quando Cristo é restabelecido pelo Pai no esplendor da divindade e é celebrado Senhor por toda a criação e por todos os homens agora redimidos. Encontramo-nos diante de uma grandiosa releitura do mistério de Cristo, sobretudo a pascal. São Paulo, além de proclamar a ressurreição (cf. 1Co 15,3-5), recorre também à definição da Páscoa de Cristo como "exaltação", "elevação", e "glorificação".

Por conseguinte, do horizonte luminoso da transcendência divina o Filho de Deus ultrapassou a distância infinita existente entre o Criador e a criatura. Ele não se apegou ciosamente ao seu "ser igual a Deus", que lhe compete por natureza e não por usurpação: não quis conservar ciosamente esta prerrogativa como um tesouro nem usá-la em seu benefício. Aliás, Cristo "esvaziou-se", "humilhou-se" a si mesmo e mostrou-se pobre, débil, destinado à morte infamante da crucifixão.

Precisamente desta humilhação extrema parte o grande movimento ascensional descrito na segunda parte do hino paulino (cf. Fl Ph 2,9-11).

3. Agora, Deus "exalta" o seu Filho conferindo-lhe um "nome" glorioso, que, na linguagem bíblica, indica a própria pessoa e a sua dignidade. Pois bem, este "nome" é Kyrios, "Senhor", o nome sagrado do Deus bíblico, agora aplicado a Cristo ressuscitado. Ele coloca o universo, descrito segundo a tripartição de céu, terra e inferno, em atitude de adoração.

Desta forma, Cristo glorioso aparece no fim do hino, como o Pantokrator, ou seja, o Senhor omnipotente que domina triunfal nas absides das basílicas paleocristãs e bizantinas. Ele tem ainda os sinais da paixão, ou seja, da sua verdadeira humanidade, mas revela-se agora no esplendor da divindade. Próximo de nós no sofrimento e na morte, Cristo atrai-nos agora para si na glória, abençoando-nos e tornando-nos partícipes da sua eternidade.

4. Concluímos a nossa reflexão sobre o hino paulino confiando-nos às palavras de Santo Ambrósio, que retoma com frequência a imagem de Cristo que "se despojou de si mesmo", humilhando-se e quase que anulando-se (exinanivit semetipsum) na encarnação e na oferenda de si próprio na cruz.

Em particular, no Comentário ao Salmo CXVIII, o Bispo de Milão expressa-se da seguinte forma: "Cristo, pendente no madeiro da Cruz... foi trespassado pela lança e (do seu lado) saíram sangue e água mais doces do que qualquer unguento, vítima agradável a Deus, espalhando em todo o mundo o perfume da santificação... Então Jesus, trespassado, espalhou o perfume do perdão dos pecados e da redenção. Com efeito, sendo ele o Verbo, ao tornar-Se homem limitou-se bastante e, sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a Sua miséria (cf. 2Co 8,9); era poderoso, e mostrou-se como um miserável, a ponto que Herodes o desprezava e escarnecia; sabia abalar a terra, mas permanecia pregado naquele madeiro; encerrava o céu num aperto de trevas, punha o mundo na cruz, e contudo fora crucificado; reclinava a cabeça, e saía o Verbo; tinha sido aniquilado, mas enchia todas as coisas. Desceu Deus, subiu o homem; o Verbo fez-Se homem para que o homem pudesse reivindicar para si o trono do Verbo à direita de Deus; estava cheio de chagas, mas emanava perfume, mostrava-se ignóbil, mas era reconhecido como Deus" (III, 8, SAEMO IX, Milão-Roma 1987, PP 131 PP 133).



Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs
Saúdo com afecto os peregrinos de língua portuguesa aqui presentes, desejando a todos felicidades na paz do Senhor. Que Deus vos abençoe.

A dia 21 de Novembro, memória litúrgica da Apresentação de Maria Santíssima no Templo, celebra-se o Dia das Claustrais. Garanto a minha especial proximidade e de toda a Comunidade eclesial a estas nossas irmãs, que o Senhor chama para a vida contemplativa. Ao mesmo tempo, renovo o convite a todos os fiéis para não deixar faltar aos mosteiros claustrais o necessário apoio espiritual e material. De facto, somos grandes devedores para com as pessoas que se consagram inteiramente à prece incessante pela Igreja e pelo mundo!

Dou as saudações de boas-vindas aos peregrinos da Polónia e dos outros países. De modo especial, saúdo os representantes das autoridades territoriais de Poznan, Kielce, Koszalin, Siedlce e Drohiczyn. Agradeço-vos a benevolência e a estima que vos levou a conferir-me a Cidadania honorária das vossas cidades.

Abraço os jovens com o pensamento e a oração. Ontem comemorámos a Beata Karolina Kozka, mártir de coração puro. Confio a vossa juventude à sua protecção, para que seja boa e santa. Transmiti a minha saudação e bênção às vossas famílias e entes queridos.

Saúdo os jovens, os doentes e os novos casais. Caros jovens, ponde Jesus no centro da vossa vida e dele recebereis a luz para todas as vossas opções. Caros doentes, confiai-vos a Cristo e compreendereis o valor redentor do sofrimento vivido em união com Ele. E vós, dilectos novos esposos, inseri o Senhor no coração da vossa família, e assim participareis na construção do seu Reino de justiça, de amor e de paz.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 26 de novembro de 2003

O Messias, rei e sacerdote





1. Escutamos um dos Salmos mais célebres da história da cristandade. O Salmo 109, que a Liturgia das Vésperas nos propõe todos os domingos é citado, de facto, várias vezes pelo Novo Testamento. Sobretudo os versículos 1 e 4 são aplicados a Cristo, no seguimento da antiga tradição judaica, que tinha transformado este hino de cântico real davídico em Salmo messiânico.

Deve-se a popularidade desta oração também ao uso constante que dela fazem as Vésperas do domingo. Por este motivo o Salmo 109, na versão latina da Vulgata, foi objecto de numerosas e maravilhosas composições musicais que assinalaram a história da cultura ocidental. A Liturgia, segundo a praxe escolhida pelo Concílio Vaticano II, retirou do texto original hebraico do Salmo, que entre outras coisas é formado apenas por 63 palavras, o violento versículo 6. Ele evoca a tonalidade dos chamados "Salmos imprecatórios" e descreve o rei hebraico no momento em que avança para uma espécie de campanha militar, esmagando os seus adversários e julgando as nações.

2. Visto que teremos ocasião de voltar a falar acerca deste Salmo, considerando o uso que dele faz a Liturgia, limitemo-nos agora a oferecer apenas uma visão de conjunto do mesmo.
Nele podemos distinguir claramente duas partes. A primeira (cf. vv. 1-3) contém um oráculo dirigido por Deus àquele que o Salmista chama "o meu senhor", ou seja, ao soberano de Jerusalém. O oráculo proclama a entronização do descendente de David "à direita" de Deus. Com efeito, o Senhor dirige-se a ele dizendo: "Senta-te à minha direita" (v. 1). Provavelmente, temos aqui a menção de um ritual, segundo o qual o eleito se sentava à direita da arca da aliança, de modo que pudesse receber o poder de governo do rei supremo de Israel, isto é, do Senhor.

3. No fundo intuem-se forças hostis, que contudo são neutralizadas por uma conquista vitoriosa: os inimigos são representados aos pés do soberano, que avança solene no meio deles segurando o ceptro da sua autoridade (cf. vv. 1-2). É sem dúvida o reflexo de uma situação política concreta, que se verificava nos momentos de passagem do poder de um rei para outro, com a rebelião de alguns subalternos ou com tentativas de conquista. Mas agora o texto remete para um contraste de índole geral entre o projecto de Deus, que age através do seu eleito, e os desígnios daqueles que gostariam de afirmar o seu poder hostil e prevaricador. Tem-se, por conseguinte, o eterno confronto entre o bem e o mal, que se verifica no âmbito de vicissitudes históricas, mediante as quais Deus se manifesta e nos fala.

4. A segunda parte do Salmo contém, ao contrário, um oráculo sacerdotal, que tem ainda como protagonista o rei davídico (cf. vv. 4-7). Garantida por um solene juramento divino, a dignidade real une em si também a sacerdotal. A referência a Melquisedec, rei-sacerdote de Salém, ou seja, da antiga Jerusalém (cf. Gn Gn 14), talvez seja o meio para justificar o sacerdócio particular do rei ao lado do sacerdócio oficial levítico do templo de Sião. Depois, sabemos também que a Carta aos Hebreus partirá precisamente deste oráculo: "Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec" (Ps 109,4), para ilustrar o sacerdócio único e perfeito de Jesus Cristo. Examinaremos sucessivamente de maneira mais profunda o Salmo 109, fazendo uma análise atenta de cada um dos versículos.

5. Mas para concluir, gostaríamos de ler o versículo inicial do Salmo com o oráculo divino: "Senta-te à minha direita, enquanto ponho os teus inimigos por escabelo dos teus pés". E fá-lo-emos com São Máximo de Turim (quarto-quinto século), que, no seu Sermão sobre o Pentecostes, o comenta do seguinte modo: "Segundo os nossos costumes a compartilha do trono é oferecida àquele que, tendo realizado qualquer empreendimento, ao chegar vencedor merece sentar-se em sinal de honra. Por conseguinte, também o homem Jesus Cristo, ao vencer com a sua paixão o diabo, abrindo com a sua ressurreição os reinos do abismo e chegando vitorioso ao céu, como que depois de ter cumprido uma tarefa, ouve de Deus Pai este convite: "Senta-te à minha direita". Não nos devemos admirar se o Pai oferece ao Filho, que é consubstancial ao Pai, a partilha do trono... O Filho senta à direita porque, segundo o Evangelho, à direita estarão as ovelhas e à esquerda os cordeiros. Por conseguinte, é necessário que o primeiro Cordeiro ocupe a parte das ovelhas e o Chefe imaculado ocupe antecipadamente o lugar destinado ao rebanho imaculado que o seguirá" (40, 2: Scriptores circa Ambrosium, IV, Milão-Roma 1991, pág. 195).



Saudações

Amados Peregrinos de língua portuguesa

No domingo passado celebrámos a Festa de Cristo-Rei, implorando a extensão do seu Reino de verdade e vida, de justiça, amor e paz a toda a terra. Sobre todos vós, desçam estes dons do Reino de Deus e, do coração e vida de cada um, sempre ressoe este brado: Viva Cristo-Rei!

Queridos Peregrinos provenientes da Polónia e dos diversos países do mundo: com a solenidade de Cristo-Rei termina o ano litúrgico. O próximo domingo será o primeiro do Advento. O Advento é um tempo particular para nos educar à vigilância em preparação para o encontro com Cristo no Natal, que se manifestará plenamente Rei e Senhor na glória do céu. Desejo a todos uma boa preparação para as Festas natalícias. Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os numerosos fiéis de Alanno, aqui presentes com o seu pastor, D. Francesco Cuccarese, na comemoração do quinquagésimo aniversário de fundação da paróquia "Jesus Cristo Rei do Universo". Saúdo também os alunos do Instituto compreensivo "Via Cássia", de Roma, acompanhados do Bispo D. Gino Reali, os peregrinos da paróquia "São Miguel", em Montopoli di Sabina, e os representantes da Federação Mestres do Trabalho.

Caríssimos, faço votos para que a passagem pelos túmulos dos Apóstolos fortaleça a vossa adesão a Cristo e faça crescer a caridade nas vossas famílias e nas vossas comunidades.
Saúdo, enfim, os jovens, os doentes e os novos casais. A imagem do apóstolo Santo André, cuja festa celebrar-se-á nos próximos dias, seja para todos vós um modelo de seguimento e de testemunho cristão.



                                                                            Dezembro de 2003

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 3 de dezembro de 2003

Maravilhas do êxodo do Egipto



1. O jubiloso e triunfal cântico que acabamos de proclamar, recorda o êxodo de Israel da opressão dos egípcios. O Salmo 113 faz parte daquela colectânia que a tradição judaica chamou "Hallel egípcio". São os Salmos 112-117, uma espécie de fascículo de cânticos, usados sobretudo na liturgia judaica da Páscoa.

O cristianismo adoptou o Salmo 113 com a mesma conotação pascal, mas abriu-o à nova leitura derivante da ressurreição de Cristo. Por isso, o êxodo celebrado pelo Salmo torna-se figura de outra libertação mais radical e universal. Dante, na Divina Comédia, coloca este hino, segundo a versão latina da Vulgata, nos lábios das almas do Purgatório: "In exitu Israël de Aegypto / cantavam todos juntos em uníssono..." (Purgatorio II, 46-47). O que significa que ele vê no Salmo o cântico da expectativa e da esperança de quantos estão orientados, depois da purificação de todos os pecados, para a meta derradeira da comunhão com Deus no Paraíso.

2. Sigamos agora o enredo temático e espiritual desta breve composição orante. Na abertura (cf. vv. 1-2) evoca-se o êxodo de Israel da opressão egípcia até à entrada naquela terra prometida que é o "santuário" de Deus, ou seja, o lugar da sua presença entre o povo. Aliás, terra e povo são unidos: Judá e Israel, palavras com as quais se designava quer a terra santa quer o povo eleito, são considerados como sede da presença do Senhor, sua propriedade e herança especiais (cf. Êx Ex 19,5-6).

Depois desta descrição teológica de um dos elementos de fé fundamentais do Antigo Testamento, ou seja, a proclamação das obras maravilhosas de Deus para o seu povo, o Salmista aprofunda espiritual e simbolicamente os seus acontecimentos constitutivos.

3. O Mar Vermelho do êxodo do Egipto e o Jordão da entrada na Terra santa são personificados e transformados em testemunhas e instrumentos partícipes da libertação realizada pelo Senhor (cf. Sl Ps 113,3 Sl Ps 113,5).

No início, no êxodo, eis que o mar se retira para deixar passar Israel e, no final da marcha no deserto, eis que as águas do Jordão ficaram completamente separadas, deixando o seu leito seco para que a procissão dos filhos de Israel o pudesse atravessar (cf. Js Jos 3 Js ). No centro, recorda-se a experiência do Sinai: agora são os montes que participam da grande revelação divina, que se realiza sobre as suas colinas. Semelhantes a criaturas vivas, como os carneiros e os cordeiros, eles estremecem e saltam. Com uma personificação muito vivaz, o Salmista interroga então os montes e as colinas acerca do motivo da sua perturbação: "Montes, porque saltais como carneiros, e vós, colinas, como cordeiros?" (Ps 113,6). Não é referida a sua resposta: é dada directamente por meio de uma ordem, dirigida depois à terra, para que tremesse com a chegada do Senhor, Deus de Israel, um acto de exaltação gloriosa do Deus transcendente e salvador.

4. É este o tema da parte final do Salmo 113 (cf. v. 7-8), que introduz outro acontecimento significativo da marcha de Israel no deserto, o da água que saía da rocha de Meribá (cf. Êx Ex 17,1-7 NM 20,1-13). Deus transforma a rocha numa nascente de água, que se torna um lago: na base deste prodígio está a sua solicitude paterna em relação ao povo.

O gesto adquire, então, um significado simbólico: é o sinal do amor salvífico do Senhor que ampara e regenera a humanidade enquanto progride no deserto da história.

Como se sabe, São Paulo retomará esta imagem e, com base numa tradição judaica segundo a qual a rocha acompanhava Israel no seu percurso no deserto, lê de novo o acontecimento em chave cristológica: "Todos beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam de um rochedo espiritual que os seguia, e esse rochedo era Cristo" (1Co 10,4).

Neste contexto, um grande mestre cristão como Orígenes, ao comentar a saída do povo de Israel do Egipto, pensa no novo êxodo realizado pelos cristãos. De facto, ele exprime-se do seguinte modo: "Não penses que só então Moisés tenha guiado o povo para fora do Egipto: também agora o Moisés que temos connosco..., isto é, a lei de Deus quer guiar-te fora do Egipto; se a ouvires, quer afastar-te do Faraó... Não quer que tu permaneças nas acções tenebrosas da carne, mas que vás ao deserto, que alcances o lugar privado das perturbações e das flutuações do século, que chegues à tranquilidade e ao silêncio... Por conseguinte, quando chegares a este lugar, lá poderás imolar ao Senhor, reconhecer a lei de Deus e o poder da voz divina" (Homilias sobre o Êxodo, Roma 1981, PP 71-72).

Retomando a imagem paulina que recorda a travessia do mar, Orígenes continua: "O Apóstolo chama a isto um baptismo, realizado em Moisés na nuvem e no mar, para que tu, que foste baptizado em Cristo, na água e no Espírito Santo, saibas que os egípcios estão no teu seguimento e querem chamar-te ao seu serviço, ou seja, aos regedores deste mundo e aos espíritos malvados dos quais antes foste escravo. Sem dúvida, eles procurarão seguir-te, mas tu desces à água e salvas-te incólume e, tendo lavado as manchas dos pecados, sobes como um homem novo preparado para cantar o cântico novo" (Ibid., pág. 107).

Saudações

Saúdo cordialmente os peregrinos da Espanha e da América Latina. Baptizados em Jesus Cristo, na água e no Espírito Santo, e redimidos de todo o pecado, renascei como homens novos e entoai o cântico novo.

Transmito a minha cordial saudação aos Professores e Estudantes do Centro para a Educação e Formação de Surdos-Mudos "Slava Raskaj", de Zagrábia.

Caríssimos, ao invocar a bençao de Deus sobre vós e as vossas famílias, faço votos para que o tempo do Advento, há pouco iniciado, seja uma ocasião particular para conhecer ainda mais o amor de Deus por todos os seres humanos. Louvados sejam Jesus e Maria!

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os representantes da "Confederação dos ex-alunos da Escola Católica", a "Irmandade Nossa Senhora das Graças", de Netuno, e os alunos da "Escola Militar de Saúde e Veterinária".

Saúdo, enfim, os jovens, os doentes e os novos casais.

Convido-vos a todos, caríssimos, a olhar para Jesus, Filho de Deus, a quem esperamos como Salvador neste período do Advento. Seja Ele a vossa força e o vosso apoio!



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 10 de dezembro de 2003

As núpcias do Cordeiro



1. Segundo a série dos Salmos e dos Cânticos que constituem a oração eclesial das Vésperas, encontramo-nos diante de um trecho de hino, tirado do capítulo 19 do Apocalipse e composto por uma sequência de aleluias e de aclamações.

Por detrás destas aclamações jubilosas está a lamentação dramática entoada no capítulo precedente pelos reis, pelos mercadores e navegadores face à queda da Babilónia imperial, a cidade da maldade e da opressão, símbolo da perseguição que se desencadeou em relação à Igreja.

2. Em antítese a este brado que se eleva da terra, ressoa nos céus um coro jubiloso de tipo litúrgico que, além do aleluia, repete também o amém. As várias aclamações semelhantes a antífonas, que agora a Liturgia das Vésperas une num único cântico, na realidade, no texto do Apocalipse, são colocadas nos lábios de várias personagens. Encontramos antes de mais uma "multidão imensa", constituída pela assembleia dos anjos e dos santos (cf. vv. 1-3). Distingue-se depois a voz dos "vinte e quatro idosos" e dos "quatro seres vivos", figuras simbólicas que se parecem com os sacerdotes desta liturgia celeste de louvor e de agradecimento (cf. v. 4). Por fim, eleva-se uma voz solista (cf. v. 5) que, por sua vez, envolve no cântico uma "grande multidão" com a qual se tinha começado (cf. vv. 6-7).

3. Teremos a ocasião, nas etapas futuras deste nosso itinerário orante, de ilustrar cada uma das antífonas deste grandioso e alegre hino de louvor a várias vozes. Contentamo-nos agora com duas anotações. A primeira refere-se à aclamação de abertura que diz assim: "A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus, porque os seus julgamentos são verdadeiros e justos" (vv. 1-2).

No centro desta invocação jubilosa encontra-se a representação da intervenção decisiva de Deus na história: o Senhor não é indiferente, como um imperador impassível e isolado, em relação às vicissitudes humanas. Como diz o Salmista, "o Senhor do Seu trono celestial, observa com os seus olhos, e com a sua vista examina os filhos dos homens" (Ps 10,4).

4. Aliás, o seu olhar é fonte de acção, porque ele intervém e destrói os impérios prepotentes e opressivos, derrota os orgulhosos que o desafiam, julga todos os que perpetram o mal. É ainda o Salmista quem descreve as imagens pictóricas (cf. Sl Ps 10,7), esta irrupção de Deus na história, assim como o autor do Apocalipse tinha evocado no capítulo anterior (cf. Ap Ap 18,1-24) a terrível intervenção divina em relação à Babilónia, desenraizada da sua sede e lançada ao mar. O nosso hino menciona esta intervenção com um trecho que não é retomado na celebração das Vésperas (cf. Ap Ap 19,2-3).

Então, a nossa oração deve sobretudo invocar e louvar a acção divina, a justiça eficaz do Senhor, a sua glória obtida com a vitória sobre o mal. Deus faz-se presente na história, pondo-se do lado dos justos e das vítimas, precisamente como declara a aclamação, breve mas essencial, do Apocalipse e como se repete com frequência no cântico dos Salmos (cf. Sl Ps 145,6-9).

5. Desejamos realçar outro tema do nosso Cântico. É desenvolvido da aclamação final e é um dos motivos dominantes do próprio Apocalipse: "Chegaram as núpcias do Cordeiro, a Sua esposa já está preparada" (Ap 19,7). Cristo e a Igreja, o Cordeiro e a esposa, estão em profunda comunhão de amor.

Procuraremos fazer brilhar este carácter esponsal místico através do testemunho poético de um grande Padre da Igreja síria, Santo Efrém, que viveu no quarto século. Usando simbolicamente o sinal das núpcias de Caná (cf. Jo Jn 2,1-11), ele introduz a própria cidadania, personificada, que louva Cristo pelo grande dom recebido:

"Darei graças juntamente com os meus hóspedes porque ele me considerou digna de o convidar: / Ele, que é o Esposo celeste, que desceu e a todos convidou; / e também eu fui convidada para participar na sua festa pura de núpcias. / Reconhecê-lo-ei diante dos povos como o Esposo, como Ele não há outro. / O seu quarto nupcial está preparado desde há séculos, / e o seu quarto nupcial está adornado com riquezas e nada lhe falta: / não como as Bodas de Caná, cujas faltas Ele satisfez" (Inni sulla verginità, 33, 3: L'arpa dello Spirito, Roma 1999, págs. 73-74).

6. Noutro hino que canta também as núpcias de Caná, Santo Efrém realça como Cristo, convidado para as núpcias de outrem (precisamente os esposos de Caná), tenha desejado celebrar a festa das suas núpcias: as núpcias com a sua esposa, que é qualquer alma fiel. "Jesus, tu foste enviado a uma festa de núpcias de outrem, dos esposos de Caná, / aqui, ao contrário, é a tua festa, pura e bela: alegra os nossos dias, / porque também os teus hóspedes, Senhor, precisam / dos teus cânticos: deixa que a tua harpa preencha tudo! / A alma é a tua esposa, o corpo é o teu quarto nupcial, / os teus convidados são os sentidos e os pensamentos. / E se um só corpo é para ti uma festa de núpcias / toda a Igreja constitui o teu banquete nupcial!" (Inni sulla fede, 14, 4-5: op. cit., pág. 27).

Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa, com muito gosto vos saúdo a todos, nomeadamente ao grupo de alunos portugueses que estudam em Pisa, e aos docentes da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa: com votos de um ano rico de frutos para vós e para aqueles que vos estão próximos com a sua amizade e o seu apoio, confio-vos à protecção da Virgem Mãe, Sede da Sabedoria, e de todo o coração vos abençoo.

Dirijo um cordial pensamento aos peregrinos italianos, em especial aos numerosos fiéis de Pontedera, presentes com os seus párocos e os representantes da Administração Municipal. Saúdo a Banda Musical "Forzano" de Savona, presente por ocasião do V centenário da eleição do Papa Júlio II ao Pontificado, e o grupo "Tabor", de Nichelino.

A minha saudação vai, enfim, aos jovens, aos doentes e aos novos casais.

Caríssimos, durante o Advento, tempo de espera que nos prepara para o Natal, Maria, a Virgem da esperança, está particularmente presente. Confio-vos todos a Ela, para que possais preparar-vos e acolher Cristo que vem realizar o seu Reino de justiça e de paz.





PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA

Quarta-Feira 17 de dezembro de 2003

Um Advento de esperança




1. "O reino de Deus está próximo: tende a certeza disto, ele não tardará". Estas palavras, tiradas da Liturgia de hoje, exprimem o clima da nossa preparação ansiosa e orante para as Festas de Natal, que já estão próximas.

O Advento mantém viva a expectativa de Cristo, que nos virá visitar com a sua salvação, realizando plenamente o seu Reino de justiça e de paz. A recordação anual do nascimento do Messias em Belém renova no coração dos crentes a certeza de que Deus é fiel às suas promessas. Por conseguinte, o Advento é anúncio poderoso de esperança, que toca em profundidade a nossa experiência pessoal e comunitária.

2. Cada homem deseja um mundo mais justo e solidário, onde condições de vida dignas e uma convivência pacífica tornem harmoniosas as relações entre os indivíduos e entre os povos. Obstáculos, contrastes e dificuldades de vários géneros tornam a nossa existência pesada e por vezes quase a oprimem. As forças e a coragem de se comprometer pelo bem correm o risco de ceder ao mal que parece, por vezes, vencer. É sobretudo nestes momentos que a esperança vem em nosso auxílio. O mistério do Natal, que daqui a poucos dias reviveremos, garante-nos que Deus é o Emanuel Deus connosco. Por isso nunca nos devemos sentir sozinhos. Ele está próximo, fez-se um de nós nascendo no seio virginal de Maria. Partilhou a nossa peregrinação na terra, garantindo-nos a consecução daquela alegria e daquela paz, que desejamos do fundo do nosso ser.

3. O tempo de Advento realça um segundo elemento da esperança, que se refere mais em geral ao significado e ao valor da existência. Com frequência, perguntamo-nos: quem somos, para onde vamos, que sentido tem o que fazemos na terra, o que nos espera depois da morte?
Existem indubitavelmente objectivos bons e honestos: a busca de um maior bem-estar material, o alcance de metas sociais, científicas e económicas cada vez mais progredidas, uma melhor realização das expectativas pessoais e comunitárias. Mas são suficientes estas metas para satisfazer as aspirações mais íntimas do nosso coração?

A Liturgia de hoje convida-nos a alargar o nosso horizonte e a contemplar a Sabedoria de Deus que vem do Altíssimo e é capaz de se estender até aos confins do mundo, dispondo tudo "com delicadeza e força" (cf. Antífona resp.). Então, o povo cristão eleva espontaneamente a invocação: "Vinde Senhor, não tardeis".

4. Por fim, merece ser realçado um terceiro elemento característico da esperança cristã, que o tempo do Advento evidencia bem. Ao homem, que elevando-se das vicissitudes quotidianas procura a comunhão com Deus, o Advento e sobretudo o Natal recordam que foi Deus quem tomou a iniciativa de vir ao seu encontro. Fazendo-se menino, Jesus assumiu a nossa natureza e estabeleceu para sempre a sua aliança com toda a humanidade.

Por conseguinte, poderíamos concluir que o sentido da esperança cristã, reproposta pelo Advento, é o da expectativa confiante, da disponibilidade laboriosa e da abertura jubilosa ao encontro com o Senhor. Em Belém Ele veio para permanecer connosco para sempre.

Portanto, caríssimos Irmãos e Irmãs, alimentemos estes dias de imediata preparação para o Natal de Cristo com a luz e com o calor da esperança. São estes os votos que faço a vós aqui presentes e aos vossos familiares.

Confio-os à materna intercessão de Maria, modelo e amparo da nossa esperança.

Saudações

Saúdo os peregrinos de língua espanhola, em particular o grupo de empresários argentinos e os que vieram de Cartagena e Múrcia. Recomendo-vos à Santíssima Virgem Maria, modelo e apoio da nossa esperança cristã. Bom Advento! Feliz Natal para todos!

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas a todos os peregrinos de língua polaca. Daqui a pouco comemoraremos as festas de Natal. Apresentando-nos diante da Gruta de Belém juntamente com os pastores, cantaremos: "Levantai a mão, Menino divino, e abençoai a pátria amada; nas decisões oportunas e na boa existência, sustentai a sua força com a Vossa: a nossa casa, o nosso património e todas as cidades e os campos...". Rezo a fim de que esta bênção se difunda abundantemente sobre todos os polacos e os acompanhe sempre. Peço ao Senhor que a esperança e o amor recíproco permitam vencer todas as dificuldades e sejam fonte de felicidade verdadeira. Estes são os meus bons votos a vós aqui presentes e a todos os nossos compatriotas no País e no mundo.

Deus vos abençoe!

Transmito a minha saudação aos peregrinos de língua italiana. Em especial saúdo-vos a vós, caros fiéis do Vale de Aosta, juntamente com o vosso Bispo D. Giuseppe Anfossi e as Autoridades Civis que vos acompanham. Viestes para me dar a grande árvore de Natal, erguida na Praça de São Pedro, e as demais árvores colocadas nesta Sala, no Palácio Apostólico e noutros ambientes do Vaticano. Elas são um presente da vossa Região Autónoma do Vale de Aosta. Estou-vos grato por isso! Agradeço especialmente a quantos tornaram possível esta agradável homenagem de Natal, que recordará aos visitantes e aos peregrinos o nascimento de Jesus, luz do mundo. Saúdo agora o Bispo de Sena, D. António Buoncristiani, a Comunidade do Seminário Regional "Pio XII", que comemora o 50º aniversário de fundação. Saúdo ainda os representantes do Escutismo Católico Italiano.

Enfim, agradeço aos jovens, aos doentes e aos novos casais a sua participação neste encontro. A poucos dias do Natal, faço votos para que esta solene Festividade infunda consolação e esperança em cada um de vós.









AUDIÊNCIAS 2003