DIscursos João Paulo II 2003

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA GUINÉ EQUATORIAL EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 15 de Fevereiro de 2003



Queridos Irmãos no Episcopado

1. É com prazer que vos recebo hoje, Pastores da Igreja de Deus que peregrina em terras da República da Guiné Equatorial, vindos a Roma para realizar e visita ad Limina. Tivestes, nestes dias, a oportunidade de renovar a vossa fé diante dos túmulos dos Santos apóstolos Pedro e Paulo e de manifestar a comunhão com o Bispo de Roma através da unidade, do amor e da paz (cf. Lumen gentium, LG 22), sentindo-vos também co-responsáveis na solicitude pastoral por todas as Igrejas (cf. Christus Dominus, CD 6). De igual modo, os contactos mantidos com vários Dicastérios da Cúria Romana serviram-vos para receber apoio e orientação para a missão que vos foi confiada.

Juntamente convosco, D. Ildefonso Obama Obono, Arcebispo de Malabo, e D. Juan Matogo Oyana, Bispo de Bata, desejo saudar os sacerdotes, os religiosos e as religiosas que são os vossos colaboradores na tarefa de tornar presente o Reino de Deus no vosso País, em condições nem sempre fáceis. Oxalá nas vossas Igrejas locais e na Diocese de Ebevbiyin, actualmente ainda sem Bispo, todos saibam que podem contar com o afecto e a oração do Papa, na certeza de que a acção generosa que realizam dará os seus frutos com vista a uma evangelização cada vez mais intensa, capaz de penetrar o coração e a mente dos homens e das mulheres da Guiné Equatorial.

As três dioceses, unidas com a mente e o coração, formam a família de Deus no vosso País e devem dar testemunho constante de comunhão e fraternidade.

2. Já passaram mais de vinte anos desde que tive a oportunidade de visitar a vossa bonita Nação, naquela peregrinação apostólica de grata memória que, em Fevereiro de 1982, me levou até aos lugares onde hoje, como ministros do Evangelho, desempenhais o vosso trabalho. Hoje, desejo repetir o apelo que fiz naquela ocasião, na Praça da Liberdade de Bata, para que cada comunidade eclesial, tanto na terra firme como nas ilhas, se mantenha fiel a uma renovada fidelidade no compromisso evangelizador (cf. Homilia, 18 de Fevereiro de 1982).

Todos os fiéis, e vós em primeiro lugar, considerando que fostes postos como Chefes do Povo de Deus, devem dedicar as melhores energias à própria proclamação do Evangelho. De facto, o homem da Guiné Equatorial, que procura satisfazer a sua fome de Deus e as legítimas aspirações de ver sempre respeitados a sua dignidade e os seus direitos inalienáveis, unicamente em Jesus Cristo pode encontrar a resposta derradeira às suas perguntas mais profundas sobre o sentido da vida. A celebração do Grande Jubileu do Ano 2000 fez sentir a necessidade de que a Igreja "mantenha o seu olhar fixo no rosto do Senhor" (Novo millennio ineunte NM 16). Esta consciência também deve presidir à vida e à missão eclesial na Guiné Equatorial. Todos aqueles que receberam a missão de guiar e apascentar o povo, encontram em Cristo o exemplo sublime e as melhores indicações para uma actuação pastoral abnegada e generosa. Os fiéis, por seu lado, enraizados em Jesus Cristo, único Salvador dos homens, encontrarão a força necessária para serem sal da terra e luz do mundo (cf. Mt Mt 5,13) e para explicarem, em qualquer circunstância, a razão da sua esperança (cf. 1P 3,15).

3. Uma das maiores dificuldades que as vossas Igrejas particulares encontram é a falta de sacerdotes. Por isso, continua a ser urgente a promoção de uma pastoral vocacional que incorpore nos vossos respectivos presbitérios os sacerdotes de origem nativa, para que se juntem aos missionários que assistem as várias comunidades. As vocações ao sacerdócio e à vida consagrada são um dom de Deus que lhe devemos pedir com insistência; daqui deriva a importância da oração pelas vocações, seguindo nisto o mandamento do Senhor (cf. Mt Mt 9,38). Por conseguinte, é importante contar com famílias fortes e sadias, em que se aprendam os valores genuínos e também as comunidades eclesiais, onde a figura do pastor seja considerada e valorizada na sua justa medida. É nesses ambientes que os jovens poderão ouvir com clareza a voz do Mestre que chama a segui-lo (cf. Mt Mt 19,21) e que os conduz a uma entrega generosa ao serviço dos irmãos.

Depois da vossa última visita ad Limina dedicastes um grande empenho no incremento do Seminário Nacional para a formação dos novos sacerdotes. Animo-vos a prosseguir esta obra. A criação de espaços apropriados, onde os candidatos possam receber uma preparação adequada nas diversas ciências humanas e teológicas é, de igual modo, de importância fundamental. Também é urgente ensinar-lhes um estilo de vida em que a oração e a recepção frequente dos Sacramentos conduzam os futuros ministros da Igreja a uma intimidade cada vez maior com Jesus Cristo, favorecida pela disciplina, a convivência fraterna e a aquisição dos costumes que reflectem o estilo do sacerdote ou do consagrado do nosso tempo. Faz parte da responsabilidade iniludível do Bispo e dos formadores aceitar para a ordenação sacerdotal unicamente os candidatos verdadeiramente idóneos, que se apresentam guiados apenas pelo desejo de seguir Jesus Cristo e jamais estimulados por ambições ambíguas ou por interesses materiais.

4. Grande parte das obras de assistência e de evangelização que a Igreja realiza na Guiné Equatorial estão sob a responsabilidade dos religiosos e das religiosas, muitos deles vindos tradicionalmente da Espanha. Por isso, juntamente convosco, desejo manifestar-lhes a minha gratidão por quanto fazem para que a semente do Evangelho, plantada desde há muito tempo na vossa terra, continue a dar frutos abundantes.

Os religiosos e as religiosas, presentes em muitos âmbitos, de acordo com o carisma do seu Instituto, no apostolado directo nas paróquias e nas missões, nas obras educativas, no campo da saúde, ou da assistência social e caritativa, não só enriquecem as vossas Igrejas locais com a eficiência dos seus serviços, mas sobretudo, com o seu testemunho pessoal e comunitário do Evangelho. Por isso, ao trabalharem em estreita comunhão com os Pastores, merecem não só o seu reconhecimento, mas também de toda a comunidade, assim como o respeito permanente, inclusive da sociedade civil, para que possam manter e incrementar a sua generosidade e entrega.

5. Os fiéis leigos, em virtude do seu compromisso baptismal, desempenham um papel da máxima prioridade, face aos desafios que o presente e o futuro da Guiné Equatorial apresentam. Por isso, nunca vos esqueçais, queridos irmãos no Episcopado, da importância de lhes proporcionardes uma catequese continuada e bem organizada, que os ajude a amadurecer e fortalecer constantemente a sua fé, a revigorar a sua esperança e a tornar cada vez mais concreta a sua caridade.

Os fiéis leigos têm um papel específico, como o testemunho de uma vida exemplar no mundo, a busca da santidade na família, no trabalho e na vida social, assim como o compromisso de impregnar "com espírito cristão o pensamento e os costumes, as leis e as estruturas da comunidade em que cada um vive" (Apostolicam actuositatem, AA 13). Por isso, os Pastores devem pedir a todos os baptizados não só que manifestem claramente a sua identidade cristã, mas que sejam protagonistas efectivos de uma ordem social inspirada na justiça e nunca condicionada por antagonismos, pressões tribais ou falta de solidariedade.

Para que possam realizar este estilo de vida, deve ser-lhes proporcionada uma formação religiosa adequada, além da formação humana, que os ajude a enfrentar as formas equívocas de religiosidade ou movimentos pseudo-religiosos, hoje em dia tão difundidos. Eles, como fermento na massa, devem promover os valores humanos e cristãos, de acordo com a realidade política, económica e cultural do País, com a finalidade de instaurar uma ordem social cada vez mais justa e equitativa. Nas suas comunidades devem dar o exemplo de honestidade e de transparência e, individual ou legitimamente associados, devem fazê-lo, sempre que for possível, também na vida pública, iluminando-a com os valores do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja.

6. A história do século passado no vosso País, nalguns aspectos lastimoso, deixou também consequências dolorosas cujos efeitos negativos devem ser corrigidos, quer a nível eclesial quer social. Perante isto, a Igreja, que deseja servir a causa da dignidade do homem em todos os seus aspectos, tendo para esta finalidade os justos espaços de liberdade, compreensão e respeito, mantém a sua vontade de continuar a trabalhar para difundir o bem.

Neste sentido, é importante que vós, queridos irmãos, e convosco os vossos colaboradores, sejais sempre ministros da reconciliação (cf. 2Co 5,18), para que o povo que vos foi confiado, superando as dificuldades do passado, progrida pelos caminhos da reconciliação entre todos, sem excepção. O perdão não é incompatível com a justiça e o melhor futuro do País é o que se constrói com a paz, que é fruto da justiça e do perdão oferecido e recebido, para que se consolide uma convivência justa e digna, em que todos encontrem um clima de tolerância e de respeito recíproco.

7. A Igreja possui um património de Doutrina Social que apresenta uma proposta ética tendente a enaltecer a dignidade do homem, que é criado por Deus e por isso é depositário de direitos inalienáveis que não podem ser negados ou desconhecidos. Estes direitos devem ser considerados integralmente, a começar pelo direito à vida do ser humano, inclusive do nascituro, até ao seu fim natural, o direito à liberdade religiosa e outros direitos, tais como a alimentação, a educação e os direitos a exercer as liberdades de novimento, de expressão e de associação.

É verdade que no mundo os direitos humanos são um projecto que ainda não foram perfeitamente realizados, mas por isso não se deve renunciar ao propósito sério e decidido de os recordar e respeitar. Quando a Igreja se ocupa da dignidade da pessoa e dos seus direitos inalienáveis, fá-lo para salvaguardar que ninguém os veja violados por outros homens, pelas suas autoridades ou por autoridades alheias. Por isso, sem espírito de desafio, mas unicamente no cumprimento da vossa missão, prossegui no trabalho paciente em favor da justiça, da verdadeira liberdade e da reconciliação.

8. Queridos irmãos! Neste encontro, reflecti convosco sobre alguns aspectos da vossa actividade pastoral. No momento de me despedir de vós em Bata, eu disse: "Levo comigo a recordação viva do vosso entusiasmo cristão e da vossa gentileza... Continuarei a pedir por todos vós ao Pai comum do céu, para que vos conceda a paz, a serenidade e para que sejais sempre bons cristãos e bons cidadãos" (Discurso, 19 de Fevereiro de 1982). Repito-vos hoje as mesmas palavras, ao conceder-vos de coração a vós, aos sacerdotes, aos religiosos e às religiosas, bem como a todos os fiéis das três dioceses da Guiné Equatorial a Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA GUINÉ POR OCASIÃO


DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 15 de Fevereiro de 2003








Queridos Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio

1. A visita ad Limina que realizais nestes dias aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo é para mim motivo de alegria. É uma ocasião para confirmar sem cessar os vínculos de comunhão que vos unem ao Sucessor de Pedro e, através dele, à Igreja universal. Dou graças pelo empenho missionário das vossas comunidades diocesanas e pelos frutos que o Espírito Santo infunde na vossa tarefa pastoral. Acolho-vos muito cordialmente, saudando de modo especial D. Philippe Kourouma, Bispo de N'Zérékoré e Presidente da vossa Conferência Episcopal. Quando regressardes às vossas Dioceses, transmiti aos vossos sacerdotes, religiosos, religiosas e catequistas, bem como a todos os fiéis, a saudação afectuosa do Papa, que permanece próximo de cada um mediante o pensamento e a oração. Transmiti a todos os vossos compatriotas os meus cordiais votos por um futuro de paz e de reconciliação, para que todos possam viver na segurança e na fraternidade.

2. A Igreja católica na Guiné é uma realidade muito viva. Ao longo das páginas felizes e dolorosas da história do País, apesar do pequeno número dos seus membros e dos seus meios, ela manteve uma profunda consciência de ser o fermento do Evangelho, dando as razões da sua fé, da sua esperança e da sua caridade através da proclamação da Palavra que salva e do testemunho muitas vezes heróico da sua vida. Como vós próprios realçais nos vossos relatórios quinquenais, hoje em dia são numerosos os obstáculos à aceitação da fé, entre os quais se contam a situação de grande pobreza da população, a dificuldade de anunciar a mensagem evangélica num contexto marcado pelo predomínio de outras tradições religiosas e os problemas encontrados para alcançar comunidades geograficamente isoladas. Os novos desafios da evangelização que hoje se apresentam à Igreja não devem fazê-la desanimar mas, ao contrário, reanimar a sua consciência missionária, enraizando-a numa união cada vez mais forte com Cristo e consolidando os vínculos de comunhão, que tornam verdadeiramente fecundo o testemunho dos cristãos. Baseando-se nos valores humanos e espirituais que formam a riqueza da cultura do povo guineense, a Igreja é chamada a difundir a Boa Nova, mediante a inculturação da mensagem evangélica, que proporciona a todos os homens a possibilidade de receber Jesus Cristo e de se deixar alcançar na integridade do seu ser pessoal, cultural, económico e político, com vista à sua plena e total união com Deus Pai, a fim de levar uma vida santa sob a acção do Espírito Santo (cf. Ecclesia in Africa ). Através de mudanças de mentalidade e de uma conversão do coração cada vez mais necessária, possam as vossas comunidades, chamadas a ser cada vez mais fraternas, acolhedoras e abertas ao próximo, tornar visíveis os sinais de amor que Deus dá a todos os homens!

3. Como recordais nos vossos relatórios quinquenais, esta tarefa de evangelização não pode ser separada de uma promoção humana verdadeira, que ofereça a todas as pessoas a possibilidade de viver plenamente segundo a sua dignidade de filhos de Deus. Desde o começo da evangelização na Guiné, o trabalho paciente dos missionários, a quem hoje desejo prestar homenagem, juntamente com todos vós, relacionou de modo inseparável a missão profética da Igreja, manifestando o mistério de Deus que é o fim último do homem, com a missão de caridade, revelando ao homem, mediante as obras, a verdade integral acerca do prórpio homem (cf. Gaudium et spes, GS 41).

Mediante as suas obras educativas, de ajuda, de saúde e de promoção social, a Igreja na Guiné torna presente o Verbo de Deus, acompanhando o crescimento material e espiritual das pessoas e das comunidades. Convido-vos a prosseguir este caminho, chamando sobretudo os cristãos a empenharem-se cada vez mais na vida política do País, e ajudando-os, mediante uma formação doutrinal adequada, a unir de maneira coerente a sua fé cristã e as suas responsabilidades cívicas (cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre algumas questões relativas ao compromisso e aos comportamentos dos católicos na vida política, n. 3). Eles poderão também "exercer uma influência no tecido social, a fim de transformar as mentalidades e as estruturas da sociedade, de forma que elas exprimam melhor os desígnios de Deus" (Ecclesia in Africa ), trabalhando pelo bem comum, pela fraternidade e pelo restabelecimento da paz na justiça.

4. Como pude verificar, através dos vossos programas pastorais, vós prestais grande atenção à formação dos diferentes agentes de evangelização, para que eles possam garantir o seu papel insubstituível na Igreja e na sociedade. Isto torna-se sobretudo necessário em virtude da ofensiva das seitas, que se aproveitam da situação de miséria e de credulidade dos fiéis para os afastar da Igreja e da palavra libertadora do Evangelho. Nesta perspectiva, faço votos por que dediqueis uma atenção renovada à formação dos catequistas, que saúdo com afecto, apreciando a sua dedicação incansável. Encorajo-vos profundamente a conceder a estes preciosos colaboradores da sua missão um apoio material, moral e espiritual, e a fazer com que beneficiem de uma formação doutrinal inicial e permanente. Que eles sejam modelos de caridade e defensores da vida, pois o seu exemplo quotidiano de vida cristã é um testemunho precioso de santidade para quantos têm a tarefa de orientar para Cristo!

5. São numerosas e de todos os tipos as ameaças que favorecem hoje, na Guiné, a desagregação da família e dos seus fundamentos, ameaçando assim a unidade social. "Sob o ponto de vista pastoral, isto constitui um desafio real, considerando as dificuldades de ordem política, económica, social e cultural que os núcleos familiares na África devem enfrentar no contexto das grande mudanças da sociedade contemporânea" (Ecclesia in Africa ). Por conseguinte, é fundamental encorajar os católicos para que preservem e promovam os valores fundamentais da família. Os fiéis devem ter em grande consideração a dignidade do matrimónio cristão, sinal do amor de Cristo pela sua Igreja. Plenamente conscientes dos danos que a prática da poligamia pode causar à instituição do matrimónio cristão, a Igreja deve ensinar clara e incansavelmente a verdade sobre o matrimónio e a família, da maneira como Deus os estabeleceu, recordando sobretudo que o amor que os cônjuges nutrem um pelo outro é único e indissolúvel e que, graças à sua estabilidade, o matrimónio contribui para a plena realização da sua vocação humana e cristã e concretiza a felicidade verdadeira. A família permanece também o âmbito indispensável para o crescimento humano e espiritual dos filhos.

Faço votos também por que os jovens das vossas Dioceses, que me são tão queridos, encontrem na sua proximidade a Cristo o gosto de acolher a sua Palavra de vida e de se tornar disponíveis para o seu serviço. Nas dificuldades que encontram, nunca percam a confiança no futuro que, mediante uma vida de oração e uma vida sacramental forte, permaneçam próximos de Cristo, a fim de transmitirem os valores do Evangelho nos seus âmbitos de vida e para assumirem generosamente o seu papel na transformação da sociedade!

6. Saúdo cordialmente os sacerdotes das vossas Dioceses, colaboradores insubstituíveis, que deveis considerar como irmãos e amigos, preocupando-vos cada vez mais pela sua situação material e espiritual, e convidando-os a uma colaboração cada vez mais fraterna convosco e entre eles. Exorto também o presbyterium das vossas Dioceses a manifestar a sua unidade e a sua profunda comunhão com o Bispo, na convicção de que todos estão ao serviço de uma só missão, que lhes foi confiada pela Igreja em nome de Cristo. Com efeito, este testemunho de unidade é fundamental para que a Igreja local continue com fecundidade a sua edificação e o seu crescimento. O exemplo de vida irrepreensível dos sacerdotes é também para os jovens um vigoroso estímulo, que os pode ajudar a responder com generosidade à chamada do Senhor, mostrando-lhes a alegria que provém do seguimento de Cristo. Na promoção das vocações, assim como no seu discernimento e acompanhamento, compete ao Bispo a primeira responsabilidade, que deve ser assumida pessoalmente, garantindo ao mesmo tempo a colaboração indispensável do seu presbyterium, sobretudo de sacerdotes bem formados para este ministério, recordando às famílias cristãs, aos catequistas e a todos os fiéis, a sua particular responsabilidade neste âmbito.

7. O encontro com os crentes de outras religiões, sobretudo com os muçulmanos, é a experiência quotidiana dos cristãos na Guiné, País em que o Islão é amplamente majoritário. Quando as suspeitas, a tentação de se fechar em si mesmos ou a recusa do confronto podem constituir obstáculos sérios para a estabilidade social e a liberdade religiosa das pessoas, é importante que se prossiga o diálogo da vida entre cristãos e muçulmanos, para que sejam testemunhas cada vez mais audaciosas do Deus bondoso e misericordioso, no respeito recíproco. O futuro de um País funda-se em grande medida no respeito das pessoas e da sua liberdade de consciência, à qual pertence a livre opção religiosa. Contudo, como já escrevi na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, "o diálogo não pode ser fundado sobre o indiferentismo religioso, e nós, cristãos, temos a obrigação de realizá-lo, dando testemunho completo da esperança que há em nós" (n. 56).

8. Conheço a presença activa da Igreja, sobretudo através dos seus órgãos caritativos nacionais e internacionais, no meio das pessoas atingidas por graves doenças, como a Sida, dos numerosos refugiados provenientes de Países vizinhos e, em geral, entre todos os que sofrem as consequências da pobreza. Encorajo-vos a prosseguir os vossos esforços para lhes oferecer a assistência material e pastoral requerida. Agradeço profundamente a todos os que, com generosidade, se põem ao serviço dos seus irmãos e das suas irmãs. Desta forma, eles são, em nome de toda a Igreja, as testemunhas da caridade de Cristo para com os mais necessitados e os mais frágeis da sociedade.

9. No final do nosso encontro, queridos Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, dou graças juntamente convosco a Deus pela obra realizada. Confio cada uma das vossas Dioceses à intercessão materna da Virgem Maria, Nossa Senhora do Rosário. Imploro ao seu Filho Jesus, a fim de que derrame sobre a Igreja na Guiné a abundância das bênçãos divinas, para que seja um sinal vivo do amor que Deus nutre por todos, sobretudo pelos necessitados, pelos doentes e pelas pessoas que sofrem. Concedo-vos de coração a Bênção apostólica, que de bom grado faço extensiva aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos catequistas e a todos os fiéis leigos das vossas Dioceses.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS RELIGIOSAS FILHAS DE MARIA SANTÍSSIMA


DO HORTO POR OCASIÃO DO CAPÍTULO GERAL


17 de Fevereiro de 2003



1. Sinto-me contente por lhe dirigir a minha cordial saudação, Reverenda Madre, ao Conselho geral e às Religiosas vindas a Roma para o XVII Capítulo Geral deste Instituto. Manifesto a cada uma de vós a minha proximidade espiritual e garanto-vos a minha lembrança na oração. Desejo, ainda, fazer chegar a todas as Filhas de Maria Santíssima do Horto, espalhadas pelo mundo uma palavra especial de encorajamento, convidando-as a continuar o seu testemunho de vida consagrada e a trabalhar generosamente nas suas várias actividades pastorais, escolásticas e assistenciais.

O tema que orienta as reflexões e a permuta de experiências destes dias é muito encorajador: "Consagradas e enviadas ao serviço do Reino". Isso impele-vos, queridas Irmãs, a voltar às raízes do vosso carisma para o pôr em confronto com as exigências actuais, num mundo em contínua evolução. A inspiração original que levou o vosso Fundador, na primeira metade do século XIX, a dar início, em Chiavari, a uma instituição religiosa essencialmente orientada para o serviço da pessoa, continua hoje a oferecer-vos motivos válidos para um impulso renovado na missão educativa e caritativa.

2. Santo António Maria Gianelli viveu com coragem e paixão a sua missão ao serviço do Reino de Deus. Gostava de repetir: "Deus, Deus, só Deus". Toda a sua actividade era animada por um ardente desejo de pertencer a Cristo. Desejava servir o Senhor no pobre, no doente, na pessoa sem instrução, como também naqueles que ainda não conheciam ou não tinham encontrado Deus na sua vida. Abria o coração ao acolhimento dos irmãos e preocupava-se com todos. Os seus ensinamentos estão bem expressos nas vossas Constituições, que traçam o estilo típico da vossa Família religiosa: fidelidade ao carisma, vivendo em vigilante caridade evangélica, esquecendo o próprio interesse e as próprias comodidades; estar atentas às necessidades dos tempos, sentindo alegria por vos fazerdes todas para todos com um compromisso que não conheça outros limites senão a impossibilidade ou a inoportunidade (cf. n. 2).

3. Continuai, estimadas Religiosas, neste caminho, pondo Cristo no centro da vossa vida e da vossa missão. Apraz-me evidenciar aqui tudo o que foi dito numa recente Instrução da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de vida apostólica: "É preciso voltar a partir de Cristo, porque dele partiram os primeiros discípulos na Galileia; dele, ao longo da história da Igreja, partiram homens e mulheres de todas as condições e culturas que, consagradas pelo Espírito por força da chamada, por Ele deixaram a família e a pátria e seguiram-no incondicionalmente, tornando-se disponíveis para o anúncio do Reino e para fazer bem a todos (cf. Act Ac 10,38)" (Recomeçar a partir de Cristo, 19 de Maio de 2002, n. 21). Fazei-vos ao largo, queridas Irmãs, no novo milénio, com a consciência de que o vosso apostolado representa uma providencial possibilidade para fazer brilhar no mundo a glória de Deus.

Na base do vosso trabalho esteja o amor que para o vosso santo Fundador constitui com razão um princípio pedagógico fundamental. Ele recomendava às suas filhas espirituais: "Procurem em primeiro lugar amar verdadeiramente e mostrar um grande amor às crianças, que lhes estão confiadas, porque ninguém ama quem não ama; e se não são amadas por elas também não irão à escola, ou não estarão de boa vontade com elas e não aprenderão metade daquilo que aprenderiam amando as suas Mestras e vendo-se amadas por elas".

4. A pobreza, assumida voluntariamente e com alegria, é uma condição que facilita e torna mais fecundo o vosso testemunho. A pobreza, como gostava de repetir Santo António Maria Gianelli, seja "o verdadeiro distintivo do vosso Instituto". Ao lado do amor fiel à pobreza, não falte nunca o espírito de sacrifício, na consciência quotidiana de que uma Filha de Maria "não pode estar sem a Cruz".

Sede, pois, incansáveis testemunhas de esperança. Entre as virtudes que a Filhas de Maria Santíssima do Horto devem praticar, Santo António Maria Gianelli põe em relevo a grande confiança em Deus. Viver abandonadas a Ele: eis o que vos permitirá não vos deixardes perturbar pelos aparentes insucessos, antes vos tornará capazes de ajudar as pessoas angustiadas e desorientadas. O vosso Fundador falava assim às vossas Irmãs de então: "Quando alguma coisa andar a correr menos bem ou até mal, não se perturbarão ou julgarão verdadeiro mal; mas humilhar-se-ão diante de Deus e confiarão que Ele saberá tirar daí algum bem".

5. Enquanto formulo para a Reverenda Madre e para as suas Irmãs capitulares os votos de um intenso e profícuo trabalho em favor de toda a Congregação, exorto-vos a todas a fazer um tesouro da rica experiência espiritual que distingue a vossa Família religiosa. O vosso olhar, queridas Filhas de Maria, permaneça fixo sobre o Fundador e sobre as vossas Irmãs que vos precederam no fiel serviço à Igreja. Convencei-vos de que, também nos momentos difíceis, a Providência Divina não deixa de vos proteger eficazmente.

A Bem-Aventurada Virgem do Horto, vossa especial protectora, vos acompanhe no caminho de santidade que empreendestes e vos ajude a colher abundantes frutos da Assembleia capitular. Asseguro-vos a minha oração e concedo de coração a cada uma de vós a Bênção Apostólica, tornando-a extensiva de bom grado a toda a vossa Família religiosa e a quantos encontrardes nas vossas actividades.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO 25° ANIVERSÁRIO


DO FUNDO INTERNACIONAL


PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA (IFAD)







A Sua Excelência o Senhor Lennart BÂGE
Presidente do IFAD

1. Foi com enorme prazer que recebi o seu convite para participar na solene cerimónia que celebra o 25º aniversário da instituição do IFAD.

Por meu lado, pedi ao Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado, para se fazer portador do meu apreço e da minha palavra nesta solene circunstância, que vê reunidos em Roma numerosos Representantes de Governos e de Organizações internacionais.

Nesta ocasião, desejo dirigir uma saudação particular ao Presidente da República Italiana, Dr. Carlo Azeglio Ciampi, ao Secretário-Geral da ONU, Sr. Kofi Annan, e aos Responsáveis das outras Agências do "polo romano" das Nações Unidas. Esta presença, qualificada e atenta, dá testemunho do compromisso comum para descobrir as estratégias que permitam alcançar o objectivo de libertar a humanidade da fome e da subalimentação.

Neste esforço, o IFAD constitui uma realidade original em virtude dos critérios estatutários que delineiam a sua estrutura e orientam a sua acção, conferindo-lhe a tarefa específica de fornecer recursos financeiros aos "mais pobres entre os pobres", para o desenvolvimento agrícola dos Países que apresentam carências de alimentos (cf. Estatuto do IFAD, art. 1). Com efeito, a instituição do IFAD entre as Agências do Sistema das Nações Unidas, recorda que para enfrentar a fome e a subalimentação é necessária uma programação eficaz, capaz de favorecer a circulação das técnicas no sector agrícola, assim como uma distribuição dos recursos financeiros disponíveis.

Não há dúvida de que o compromisso de solidariedade até agora prodigalizado pelo IFAD para combater a pobreza rural descobriu uma forma concreta para alcançar a segurança alimentar, desvinculando-a unicamente das considerações ligadas à disponibilidade de géneros alimentares destinados ao consumo, mas estimulando numerosos recursos, começando pelos recursos dos trabalhadores e das comunidades rurais. Considerada desta forma, a segurança alimentar pode constituir a garantia necessária para o respeito do direito de cada pessoa de ser libertada da fome.

Trata-se de uma abordagem positiva num momento em que persistem graves preocupações em diversas áreas do planeta, consideradas em risco no que se refere aos níveis nutricionais. A oposição entre as possibilidades de intervenção e a vontade de trabalhar concretamente põe em sério perigo a sobrevivência de milhões de pessoas numa realidade mundial que no seu conjunto vive um desenvolvimento e um progresso sem precedentes na história e está consciente da disponibilidade de recursos a nível global.

2. Nesta celebração, ao lado da aprovação dos objectivos alcançados, não se pode deixar de pensar de novo nas motivações que em 1974 levaram a Comunidade internacional a dar vida ao Fundo, como medida concreta para "transformar os trabalhadores agrícolas em artífices responsáveis da sua produção e do seu progresso", como disse o meu Predecessor o Papa Paulo VI (Discurso à Conferência Mundial sobre a Alimentação, 9 de Novembro de 1974, 8), que encorajou concretamente a constituição desta Organização.

O pensamento vai imediatamente para as vítimas dos conflitos e das graves violações de direitos fundamentais, para a realidade dos refugiados e dos desalojados, para todos os que estão afectados por doenças e epidemias. Todas estas são situações que ameaçam a convivência ordenada de pessoas e comunidades, põem em grave risco a vida humana, e têm também evidentes repercussões sobre a segurança alimentar e, mais em geral, sobre o nível de vida nas áreas rurais.

Estas são situações e circunstâncias particulares que, acompanhadas pelos dados submetidos à reflexão desta reunião, levam a reconhecer na centralidade da pessoa humana e das suas exigências primárias a base sobre a qual fundar sem hesitações a acção internacional.

Com efeito, se dirigirmos o olhar para os fenómenos que caracterizam o panorama actual da vida internacional, sobressaem em primeiro lugar a contraposição de interesses e o desejo de prevalecer, que têm como consequência o abandono das negociações e o estímulo ao isolamento, impedindo assim a própria actividade de cooperação de responder às necessidades com a devida eficiência. Nem se pode esquecer a triste resignação que parece ter arrefecido o desejo de viver de populações inteiras, que a fome e a subalimentação põem à margem da Comunidade das nações, afastadas de condições de vida realmente respeitadoras da dignidade humana.

As expectativas postas na acção do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, apesar de estarem concentradas no sector da agricultura e da alimentação, inserem-se na mais ampla estratégia de luta contra a pobreza e são acompanhadas pela convicção de que este objectivo é uma resposta a milhões de pessoas que se interrogam acerca da sua esperança de vida.

3. Esta minha mensagem quer manifestar, mais uma vez, a atenção da Santa Sé à acção internacional multilateral que se configura cada vez mais como factor decisivo para a paz, que é a aspiração mais profunda dos povos no momento actual.

Exprimo ao IFAD, em particular, o encorajamento para prosseguir todos os esforços na luta contra a pobreza e a fome, convidando todos a superar aqueles obstáculos que são fruto de interesses particulares, de barreiras e egoísmos de todos os géneros.

A celebração aniversária da instituição do Fundo seja a ocasião para confirmar um compromisso directo em gestos concretos, que façam sentir cada um responsável não de qualquer coisa, mas de alguém, isto é, do homem que pede o pão quotidiano.

Sobre o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, as suas pessoas e os seus esforços ao serviço da causa do homem, Deus Omnipotente faça descer a abundância das suas bênçãos.

Vaticano, 19 de Fevereiro de 2003.




DIscursos João Paulo II 2003