DIscursos João Paulo II 2003

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UMA DELEGAÇÃO INTER-RELIGIOSA


DA INDONÉSIA


Quinta-feira, 20 de Fevereiro de 2003






Eminência
Estimados amigos

É com grande alegria que vos saúdo, Membros da Delegação Inter-Religiosa da Indonésia. A vossa presença aqui suscita em mim recordações profundas da visita pastoral à Indonésia em 1989, uma ocasião repleta de afecto e apreço recíprocos porque pude experimentar pessoalmente a variedade do vosso rico património cultural e religioso.

Neste momento de grande tensão para o mundo, viestes a Roma e eu sinto-me feliz por ter a oportunidade de falar convosco. Com a real possibilidade da guerra que ameaça no horizonte, não devemos permitir que a política se torne uma fonte de ulterior divisão entre as religiões do mundo.

De facto, nem a ameaça da guerra nem a própria guerra deveriam poder alienar cristãos, muçulmanos, budistas, induístas e membros de outras religiões. Como responsáveis religiosos empenhados a favor da paz, deveríamos cooperar com o nosso povo, com aqueles que professam outros credos religiosos e com todos os homens e mulheres de boa vontade para garantir a compreensão, a cooperação e a solidariedade. No começo deste ano, eu disse: "a guerra é sempre uma derrota para a humanidade" (Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, 13 de Janeiro de 2003, n. 4). É também uma tragédia para a religião.

Rezo com fervor para que os nossos esforços destinados a promover a compreensão e a confiança recíprocas dêem abundantes frutos e ajudem o mundo a evitar o conflito. É com o compromisso e a cooperação constante que as culturas e as religiões conseguirão "superar as barreiras que dividem, aumentar os vínculos da caridade recíproca, compreender os outros, perdoar aqueles que causaram injúrias" (Pacem in terris, V). Este é o caminho que leva à paz autêntica sobre a terra. Trabalhemos e rezemos em conjunto por esta paz!

Sobre vós e sobre o querido povo da Indonésia invoco abundantes bênçãos divinas.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS ASSISTENTES DA ACÇÃO CATÓLICA ITALIANA


REUNIDOS EM CONGRESSO


19 de Fevereiro de 2003






Caríssimos Assistentes da Acção Católica Italiana

1. Estou feliz por vos saudar nesta circunstância, que vos vê reunidos em Roma para a realização de uma Assembleia sobre o tema: "Renovar a Acção Católica na Paróquia". Dirijo uma saudação especial ao Assistente-Geral, Mons. Francesco Lambiasi, e à Presidente Nacional, Dra. Paola Bignardi.

Durante estes dias estais a reflectir sobre o modo como a Acção Católica pode contribuir, no início do novo milénio, para dar um novo rosto à paróquia, estrutura de base do corpo eclesial. A experiência bimilenária do Povo de Deus, como de resto foi confirmado de maneira autorizada pelo Concílio Vaticano II e pelo Código de Direito Canónico, ensina que a Igreja não pode renunciar a organizar-se em paróquias, comunidades de fiéis enraizadas num território e ligadas entre si ao redor do Bispo na rede da comunhão diocesana. A paróquia é a "casa da comunidade cristã" à qual os fiéis pertencem pela graça do santo Baptismo; é a "escola da santidade" para todos os cristãos, até para aqueles que não aderem a determinados movimentos eclesiais ou que não cultivam uma espiritualidade particular; é o "laboratório da fé", em que são transmitidos os elementos básicos da tradição católica; é a "palestra da formação", onde os fiéis são educados para a fé e iniciados na missão apostólica.

Tendo em conta as rápidas transformações que caracterizam este começo de milénio, é necessário que a paróquia sinta com maior vigor a necessidade de viver e de dar testemunho do Evangelho, estabelecendo um diálogo profícuo com o território e com as pessoas que nele residem ou ali passam uma parte significativa do seu tempo, reservando uma atenção particular a quantos vivem em dificuldades materiais e espirituais, e a todos os que estão à espera de uma palavra que os acompanhe na sua busca de Deus.

2. O vínculo entre a paróquia e a Acção Católica Italiana tem sido, desde sempre, muito estreito. Nas comunidades paroquiais, a Acção Católica antecipou de modo específico e com intuição profética a actualização pastoral do Concílio, acompanhando ao longo dos anos o seu caminho de realização. Além disso, ela transmitiu à paróquia a sensibilidade e as exigências de quantos sentem, no afã da vida quotidiana, os reflexos daquela mudança que, de várias formas, diz respeito a cada pessoa, antes ainda do que às comunidades, e também aos ambientes de vida antes do que à organização da pastoral. Ainda há muito a realizar. Quarenta anos depois do seu início, o Concílio Vaticano II continua a ser "uma bússola segura" para orientar a navegação da barca de Pedro (cf. Novo millennio ineunte NM 57) e os documentos conciliares representam "a porta santa" que cada comunidade paroquial deve atravessar para entrar não apenas cronológica, mas sobretudo espiritualmente, no terceiro milénio da era cristã.

Estou convicto de que a Acção Católica não deixará faltar à inadiável obra de renovação das paróquias a contribuição de um testemunho quotidiano de comunhão; e estará pronta para prestar o seu serviço na formação de leigos amadurecidos na fé, levando o ardor apostólico da missão a todos os ambientes. Uma espiritualidade, vivida com o Bispo e com a Igreja local: eis a contribuição que a Acção Católica pode oferecer à comunidade cristã. A este propósito, apraz-me chamar a atenção para aquilo que escrevi na Carta Apostólica Novo millennio ineunte: "Antes de programar iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade da comunhão, elevando-a ao nível de princípio educativo em todos os lugares onde se plasma o homem e o cristão, onde se educam os ministros do altar, os consagrados e os agentes pastorais, e onde se constroem as famílias e as comunidades. Espiritualidade da comunhão significa, em primeiro lugar, ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há-de ser vislumbrada também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor" (n. 43).

3. Somente uma Acção Católica renovada poderá contribuir para renovar também a paróquia. É por isso que deveis acompanhar, caríssimos Assistentes, a Associação ao longo do caminho de renovação, lucidamente delineado e empreendido com coragem pela vossa última Assembleia nacional. Ajudai-a mediante o vosso ministério presbiteral, a fim de que a "coragem do futuro" e a "fantasia da santidade", que o Espírito do Senhor certamente não deixará faltar aos responsáveis e aos sócios, a tornem cada vez mais fiel ao mandato missionário que lhe é próprio.

Exorto-vos a contribuir, com a fecundidade do vosso ministério sacerdotal, para a promoção de uma obra educativa vasta e específica, que favoreça o encontro entre o vigor do Evangelho e a vida, muitas vezes insatisfeita e inquieta, de numerosas pessoas. Por isso, é necessário garantir à Associação responsáveis, educadores e animadores bem formados, suscitando figuras de leigos capazes de um vigoroso impulso apostólico, que levem o anúncio do Evangelho a todos os ambientes. Desta maneira, a Acção Católica poderá voltar a dar expressão ao seu carisma de Associação escolhida e promovida pelos Bispos, mediante uma colaboração directa e orgânica com o seu ministério, para a evangelização do mundo através da formação e da santificação dos seus próprios sócios (cf. Estatuto, Art. 2).

Por ocasião da XI Assembleia nacional da vossa Associação, tive a oportunidade de realçar o facto de que a autêntica renovação da Acção Católica é possível mediante a "audácia humilde" de fixar os olhos em Jesus, que renova todas as coisas. Somente mantendo os nossos olhos voltados para Ele, é que seremos capazes de distinguir o que é necessário daquilo que o não é. Quanto a vós, peço-vos que sejais os primeiros a assumir este olhar contemplativo, para dardes testemunho da novidade de vida que dele brota a níveis tanto pessoal como comunitário. A indispensável renovação estrutural e organizativa constituirá o resultado de uma singular "aventura do Espírito", que comporta a conversão interior e radical das pessoas e das associações aos vários níveis: paroquial, diocesano e nacional.

4. Caríssimos, ponde ao serviço deste compromisso formativo e missionário as vossas melhores energias: a sabedoria do discernimento espiritual, a santidade de vida, as diversas componentes teológicas e pastorais, assim como a familiaridade dos relacionamentos simples e autênticos.
Nas Associações diocesanas e paroquiais, sede pais e irmãos capazes de encorajar, de suscitar o desejo de uma existência evangélica, de ajudar nas dificuldades da vida os adolescentes, os jovens, os adultos, as famílias e as pessoas idosas. Valorizai a educação de personalidades cristãs fortes e livres, sábias e humildes, capazes de promover uma cultura da vida, da justiça e do bem comum.

O Papa está próximo de vós e encoraja-vos a não desanimar, sobretudo quando, tendo de conciliar o serviço de Assistentes com outros cargos na Diocese, sentis o cansaço e a complexidade deste ministério. Estai certos disto: ser Assistentes da Acção Católica, precisamente pela peculiar relação de co-responsabilidade inerente à própria experiência da Associação, constitui uma fonte de fecundidade para o vosso trabalho apostólico e para a santidade da vossa vida.

Por fim, desejo aproveitar este ensejo para convidar todos os presbíteros a "não terem medo" de viver na paróquia a experiência associativa da Acção Católica. Com efeito, nela poderão encontrar não apenas um apoio válido e motivado, mas também uma aproximação e uma amizade espiritual, juntamente com a riqueza que provém da partilha dos dons espirituais de cada um dos componentes da Comunidade.

Confio estes bons votos, como também os que cada um de vós traz no seu coração, à intercessão de Maria, Mãe da Igreja, e concedo-vos do íntimo do coração a minha Bênção apostólica, a vós e a todos os presbíteros que, juntamente convosco, exercem o ministério de Assistentes da Acção Católica na Igreja italiana.

Vaticano, 19 de Fevereiro de 2003.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


REGIONAL DO NORTE DA ÁFRICA (C.E.R.N.A.)


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


22 de Fevereiro de 2003




Caríssimos Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio

1. É com alegria que vos recebo, Pastores da Igreja de Cristo na Região do Norte da África, que vindes em peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo. Agradeço a D. Teissier, Arcebispo de Argel e Presidente da vossa Conferência Episcopal, que acabou de expressar em vosso nome as esperanças que levais convosco, as dificuldades que encontrais, assim como a solidariedade profunda que vos une aos vossos povos. Faço votos para que esta visita, que manifesta a vossa comunhão fraterna com o Bispo de Roma, seja para todos vós um apoio e a ocasião de um dinamismo renovado, para que suporteis sempre com coragem o peso do ministério apostólico das vossas Dioceses. De igual modo, sois entre os vossos fiéis as testemunhas da solicitude do Papa pela Igreja do Magrebe!

2. O mundo em que vivemos caracteriza-se pela multiplicação dos intercâmbios, para uma interdependência mais forte e para a abertura cada vez maior das fronteiras: é o fenómeno da mundialização, com os seus aspectos ao mesmo tempo positivos e negativos, que as nações devem aprender a gerir de maneira construtiva! No que lhe diz respeito, a Igreja católica conhece bem a dimensão universal, que é constitutiva da sua identidade. A partir do dia de Pentecostes (cf. Act Ac 2,8-11), ela sabe que todas as nações estão chamadas a difundir a Boa Nova da salvação e que o povo de Deus está presente em todos os povos da terra (cf. Lumen gentium, LG 13). As vossas Dioceses sempre foram sensíveis a esta dimensão da catolicidade e ao vínculo vital que as une à Igreja universal, porque os Pastores e os fiéis provêm de diversos Países. Contudo, esta realidade assumiu uma dimensão nova na vossa região, ao longo destes últimos anos, com o desenvolvimento das relações e dos intercâmbios entre o Norte e o Sul do Sara. Por várias razões, muitos homens e mulheres originários dos Países da África subsahariana, muitas vezes cristãos, estabeleceram-se nos Países do Magrebe ou viveram neles temporariamente. A vossa Conferência Episcopal, a C.E.R.N.A., organizou recentemente, com os Bispos das regiões do Sul do Sara, uma reflexão pastoral sobre este tema. Presto homenagem à qualidade e à importância deste trabalho, que vos convido a prosseguir e a intensificar, convicto de que este "intercâmbio de dons" é uma graça de enriquecimento e de renovação para todas as partes envolvidas.

3. Estai profundamente radicados no mistério da Igreja! É a ela que Cristo envia para levar aos homens a Boa Nova do amor de Deus! Como recordou justamente o Concílio Vaticano II, "o povo messiânico, ainda que não abranja de facto todos os homens e apareça até frequentemente como um pequeno rebanho, constitui para toda a Humanidade um germe fecundíssimo de unidade, de esperança e de salvação. Estabelecido por Cristo em ordem à comunhão de vida, amor e verdade, nas mãos d'Ele serve também de instrumento da redenção universal, e é enviado a todo o mundo, qual luz desse mundo e sal da terra" (Lumen gentium, LG 9).

Neste espírito, convido-vos a valorizar as riquezas das diversas tradições espirituais que alimentaram a história cristã dos vossos Países, desde a antiguidade até ao grande impulso missionário dos últimos dois séculos. Elas realçaram e fizeram sobressair aspectos diferentes do tesouro do Evangelho: o sentido da comunidade e o prazer da comunhão fraterna, o sinal da pobreza e a disponibilidade para com o próximo, a escuta atenta do outro e o sentido da presença discreta e amorosa, a alegria de anunciar e partilhar a Boa Nova. Estas riquezas espirituais, vividas com fidelidade pelas famílias religiosas que participam na vida das vossas Dioceses, podem dar sempre fruto em benefício das vossas comunidades. Não receeis aceitar também a novidade que poderá ser introduzida por irmãos e irmãs provenientes de outros continentes ou de outras culturas, com espiritualidade e sensibilidade diversas! A Igreja nunca se alegrará suficientemente por ser, à imagem da primeira comunidade de Jerusalém, uma comunidade fraterna na qual todos podem encontrar o seu lugar, ao serviço do bem comum (cf. Act Ac 2,32).

4. A este propósito, as vossas relações realçam a presença importante e activa nas vossas Dioceses de jovens, provenientes de Países subsarianos para um período de estudos nas universidades dos vossos respectivos Países. O seu acolhimento e a sua participação na vida das comunidades cristãs mostram claramente que o Evangelho não está ligado a uma cultura. Realizastes importantes esforços na atenção pastoral dedicada a estes jovens, a fim de os ajudar a superar o seu isolamento, e propusestes-lhes uma formação cristã firme, para lhes permitir crescer na fé.

5. Queridos Irmãos, vós realçais a boa qualidade das relações entre os cristãos das vossas comunidades e a população muçulmana, e eu desejo prestar homenagem à boa vontade das Autoridades civis em relação à Igreja. Tudo isto é possível graças ao conhecimento recíproco, aos encontros quotidianos da vida e aos intercâmbios, sobretudo com as famílias. Continuai a encorajar estes encontros de dia para dia como uma prioridade, porque eles contribuem para fazer envolver, de um lado e do outro, as mentalidades, e ajudar a superar as imagens deformadas que os meios de comunicação infelizmente ainda apresentam com muita frequência. Acompanhados por diálogos oficiais, importantes e necessários, estabelecem vínculos novos entre as religiões, entre as culturas e, sobretudo, entre as pessoas, e fazem crescer em todos a estima da liberdade religiosa e o respeito recíproco, que são elementos fundamentais da vida pessoal e social. Revelando os valores comuns a todas as culturas, estando radicados na natureza da pessoa, mostrando que "da abertura recíproca dos seguidores das diversas religiões podem derivar grandes benefícios para a causa da paz e do bem comum da humanidade" (Mensagem para o Dia Mundial da paz de 2001, n. 16).

Realçais também o facto de que os acontecimentos dramáticos vividos por alguns membros da comunidade cristã e compartilhados pela população muçulmana aumentaram não só a solidariedade humana, mas a atenção ao próximo e aos seus valores religiosos. A experiência espiritual da Igreja, que reconhece na Cruz do Senhor a maior expressão do amor, sempre considerou o dom dos mártires como um testemunho eloquente e uma fonte fecunda para a vida dos cristãos. Por conseguinte, é legítimo esperar também destes acontecimentos trágicos, frutos de paz e de santidade para todos.

No caminho do diálogo, a atenção pela cultura ocupa um lugar importante entre as vossas preocupações: graças à abertura ou ao incremento de centros de estudos e de bibliotecas qualitativamente válidas, preocupais-vos por propor o acesso ao conhecimento das religiões e das culturas, oferecendo assim aos habitantes dos Países do Magrebe os meios para redescobrir o seu passado. Felicito-me de modo particular pela feliz iniciativa do Colóquio dedicado a Santo Agostinho, organizado pelas autoridades da Argélia, em colaboração com a Igreja.

6. Em toda a comunidade cristã, apesar de ser pouco numerosa e frágil, o serviço da caridade em relação aos mais pobres permanece uma prioridade, porque é a expressão da vontade de Deus para todos os homens e da partilha que todos estão chamados a viver, sem distinção de raça, de cultura ou de religião. Vós viveis esta diaconia sobretudo com as pessoas doentes ou deficientes, recebidas e curadas nos hospitais, ou nas casas de saúde que as religiosas põem à disposição da população. Continuai assim a acolher os migrantes, que atravessam os vossos Países do Magrebe com a esperança de chegar à Europa, para lhes oferecer um momento de repouso e de convivência fraterna na sua indigência e condição precária! Continuai, através de órgãos de ajuda, como a Caritas, e em colaboração com associações locais, a dar testemunho da caridade de Cristo, que veio para confortar todos os que sofrem (cf. Mt Mt 11,28)!

7. Sei que os vossos sacerdotes desempenham o seu ministério com grande caridade pastoral e coragem, preocupando-se por estar muito próximos da população. Manifesto-lhes, através de vós, a minha profunda estima, exortando-os a colocar cada vez mais a Eucaristia no centro da sua vida. Eis a fonte quotidiana na qual se alimenta a sua relação pessoal com Cristo, e da qual nasce a caridade que aumenta incessantemente a sua oração e a sua solicitude missionária, como proclama a Oração Eucarística n. IV: "Pedimos-te... pelos membros da nossa assembleia, pelo povo que te pertence, e por todos os homens que te procuram com rectidão". De facto, é através da participação na intercessão e na oferta de Cristo que se constitui o Povo de Deus. Convido ainda os sacerdotes a estarem disponíveis aos apelos da Igreja, em função das novas necessidades. Que preservem a preocupação de cultivar entre eles relações fraternas, dentro do presbitério diocesano, partilhando as suas experiências apostólicas, as suas abordagens pastorais e as suas descobertas espirituais!

Saúdo cordialmente os religiosos e as religiosas, que muitas vezes constituem o centro permanente da presença cristã nas vossas comunidades. A sua fidelidade, radicada na oração e por vezes vivida de modo dramático, é um apoio fundamental para o ministério dos sacerdotes, assim como para os leigos que desejam viver os compromissos do seu Baptismo. Por conseguinte, convido os Institutos de Vida Consagrada, apesar das dificuldades actuais, a manter e a renovar a sua presença tão importante nas vossas Dioceses.

Encorajo mais uma vez os fiéis leigos: alguns permaneceram no País depois da sua independência, outros vieram durante um período específico de serviço ou de estudo, outros ainda vieram para participar, por um certo período de tempo, no seu desenvolvimento económico e, por fim, outros pertencem ao País; saúdo-os de modo particular, exortando-os a todos a alimentar a sua fé com o fundamento na oração e com uma formação adequada; desta forma, poderão discernir melhor os sinais da presença de Cristo e responder generosamente à sua chamada. Asseguro-lhes a minha oração e o meu afecto paterno.

8. Queridos Irmãos no Episcopado e no sacerdócio, como realça o documento que redigistes por ocasião do Grande Jubileu, As Igrejas no Magrebe no ano 2000, que D. Teissier me entregou em vosso nome, acabamos de entrar no novo milénio e já sabemos como o caminho para a paz está cheio de impedimentos, que será necessário superar com coragem e perseverância. O diálogo inter-religioso deve ser, por sua vez, prosseguido com paciência e determinação, para vencer as desconfianças recíprocas e para aprender a servir em conjunto o bem comum da humanidade. O caminho para a plena unidade dos cristãos exige, também ele, tempo e o compromisso de uma vontade firme. Longe de nos desencorajarmos perante estes desafios e estas dificuldades, façamos nossa a confiança do Apóstolo: para que "o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo... iluminando os olhos do vosso coração, a fim de saberdes que esperança constitui o Seu chamamento, que tesouros de glória encerra a Sua herança entre os santos e que enorme grandeza representa o seu poder para nós, os crentes, como mostra a eficácia da Sua força vitoriosa, que exerceu em Cristo, ressuscitando-O dos mortos e sentando-O, nos Céus, à sua direita" (Ep 1,17-20). Enraizados assim no amor de Cristo morto e ressuscitado, sede determinados e fortes para viver o Evangelho da paz (cf. Ef Ep 6,15), testemunhando todos os dias, com a vossa presença e o acolhimento do próximo, o amor incondicionado de Deus por todos os homens!

Peço à Virgem Maria, Nossa Senhora do Atlas, que vigie sobre cada um de vós e vos oriente cada vez mais para o encontro com o seu filho divino. Concedo-vos de coração, assim como aos vossos sacerdotes, religiosos e religiosas, e a todos os fiéis leigos das vossas Dioceses, uma afectuosa Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA FEDERAÇÃO NACIONAL


DOS CAVALEIROS DO TRABALHO


Sábado, 22 de Fevereiro de 2003






Ilustres Senhores
e gentis Senhoras

1. Sinto-me feliz por vos receber nesta Audiência especial, que proporciona a agradável oportunidade de me encontrar com alguns qualificados representantes do mundo do trabalho e do empresariado na Itália. Saúdo-vos a todos cordialmente, com um pensamento especial para o Presidente da Federação Nacional dos Cavaleiros do Trabalho, Engenheiro Mário Federici, ao qual agredeço as gentis palavras que me dirigiu em nome dos presentes. Saúdo também o Dr. Biagio Agnes, Presidente da Comissão para a Comunicação e a Imagem.

A Ordem ao mérito do Trabalho é comummente reconhecida como uma das mais prestigiosas. Ela confere o título de Cavaleiro do Trabalho a pessoas que, como vós, se distinguiram pela capacidade empresarial e, sobretudo, pelo rigor moral nos vários campos das actividades produtivas.

2. Vós representais assim, não só um grupo escolhido do empresariado Italienisch, mas também os promotores de um crescimento solidário e equilibrado da economia nacional.

A respeito disto, permiti que eu vos faça o convite a dedicar, cada vez mais, no vosso trabalho, uma atenção prioritária aos princípios éticos e morais.

Na Encíclica Sollicitudo rei socialis eu recordava que "a colaboração para o desenvolvimento do homem todo e de todos os homens é, efectivamente, um dever de todos para com todos" (n. 32). Precisamente na vossa qualidade de "Cavaleiros do Trabalho", sede os defensores e as primeiras testemunhas deste "dever" universal. Trata-se de uma tarefa ainda mais urgente à luz da actual evolução da sociedade, marcada pelo processo de globalização, no interior do qual devem ser salvaguardados o valor da solidariedade, a garantia de acesso aos recursos e a distribuição equitativa da riqueza produzida.

3. Na sociedade contemporânea a família, com frequência, parece ser penalizada pelas regras impostas pela produção e pelo mercado. Por conseguinte, entre os vossos esforços esteja o de a apoiar de modo eficaz, para que seja cada vez mais respeitada como sujeito activo também no sector da produção e da economia.

Além disso, faz anos que a vossa federação presta atenção à formação dos jovens. A este respeito, penso na Residência universitária Lamaro-Pozzani, reservada a quantos frequentam os cursos universitários em Roma. Continuai a investir nos jovens, ajudando-os a superar a diferença existente entre a formação escolar e as reais exigências das empresas de produção. Permiti assim que as novas gerações, graças também a uma firme ancoragem no património dos valores humanos e cristãos, contribuam para tornar o mundo do trabalho cada vez mais à medida do homem.

Ao renovar ao meu cordial agradecimento por esta visita, desejo a cada um de vós um proveitoso sucesso nos vários campos profissionais. Invoco sobre vós, sobre as vossas famílias e sobre as pessoas que vos são queridas a intercessão de São Bento de Núrsia, Padroeiro dos Cavaleiros do Trabalho, e abençoo-vos a todos de coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA ACADEMIA


PARA A VIDA REUNIDOS EM ASSEMBLEIA


Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2003







Caríssimos membros
da Pontifícia Academia para a Vida

1. A celebração da vossa Assembleia oferece-me a ocasião de vos dirigir com alegria a minha saudação, exprimindo-vos o meu apreço pelo intenso compromisso com que a Academia para a Vida está a dedicar-se ao estudo dos novos problemas, sobretudo no campo da bioética.

Quero dirigir um agradecimento especial ao Presidente, Prof. Juan de Dios Vial Correa, pelas amáveis palavras de saudação que me transmitiu, assim como ao Vice-Presidente, D. Elio Sgreccia, diligente e válido na dedicação à tarefa que lhe foi confiada. Saúdo também com afecto os membros do Conselho de Direcção e os Relatores desta importante reunião.

2. Nos trabalhos da vossa Assembleia quisestes debater, num programa complexo e denso de reflexões intercomplementares, o tema da investigação biomédica, analisando-a do ponto de vista da razão iluminada pela fé. Trata-se de uma perspectiva que não limita o campo de observação mas, pelo contrário, o alarga, porque a luz da Revelação ajuda a razão com vista à plena compreensão daquilo que é próprio da dignidade do homem. Não é, porventura, o homem que, como cientista, promove a investigação? Com frequência o homem é também o sujeito sobre o qual se realizam as experiências. De qualquer forma, é sempre ele o destinatário dos resultados da investigação biomédica.

Todos reconhecem que os progressos da medicina, na cura das enfermidades, dependem prioritariamente dos desenvolvimentos da investigação. Em particular, foi sobretudo deste modo que a medicina pôde contribuir de maneira decisiva para debelar epidemias mortais e para enfrentar com resultados positivos doenças graves, melhorando notavelmente, em grandes áreas do mundo desenvolvido, a duração e a qualidade da vida.

Todos nós, crentes e não-crentes, devemos reconhecer e oferecer o nosso apoio sincero a este esforço da ciência biomédica, destinado não somente a fazer-nos conhecer melhor as maravilhas do corpo humano, mas também a favorecer um digno nível de saúde e de vida para as populações do planeta.

3. A Igreja católica deseja exprimir também um ulterior motivo de gratidão a muitos cientistas, dedicados à investigação no âmbito da biomedicina: com efeito, muitas vezes o Magistério pediu a sua ajuda para encontrar a solução de delicados problemas morais e sociais, recebendo deles uma colaboração convicta e eficaz.

Aqui, gostaria de recordar de modo particular o convite que o Papa Paulo VI dirigiu, na sua Encíclica Humanae vitae, aos investigadores e cientistas, a fim de que oferecessem a sua contribuição "para o bem da família e do matrimónio", procurando "esclarecer mais profundamente as diversas condições que favorecem uma regulação honesta da procriação humana" (n. 24). É um convite que faço meu, realçando a sua actualidade permanente, que se torna mais acentuada em virtude da crescente urgência de encontrar soluções "naturais" aos problemas da infertilidade conjugal.

Eu mesmo, na Encíclica Evangelium vitae, dirigi um apelo aos intelectuais católicos, para que se tornassem presentes nos ambientes privilegiados da elaboração cultural e da investigação científica, para concretizar na sociedade uma nova cultura da vida (cf. n. 98). Precisamente nesta perspectiva, desejei instituir a vossa Academia para a Vida, com a tarefa de "estudar, formar e informar acerca dos principais problemas de biomedicina e de direito, relativos à promoção e à salvaguarda da vida, sobretudo na relação directa que eles têm com a moral cristã e as directrizes do Magistério da Igreja" (Motu proprio Vitae mysterium, 4).

Por conseguinte, no campo da investigação biomédica, a Academia para a Vida pode constituir um ponto de referência e de iluminação, não apenas para os investigadores católicos, mas também para quantos desejam trabalhar neste sector da biomedicina, com vista ao verdadeiro bem de cada homem.

4. Portanto, renovo o meu sincero apelo, a fim de que a investigação científica e biomédica, evitando qualquer tentação de manipulação do homem, se dedique com empenho à exploração de caminhos e recursos para o sustento da vida humana, a cura das enfermidades e a solução de problemas sempre novos no âmbito biomédico. A Igreja respeita e apoia a investigação científica, quando segue uma orientação autenticamente humanista, evitando toda a forma de instrumentalização ou destruição do ser humano, e conservando-se livre da escravidão dos interesses políticos e económicos. Propondo as orientações morais indicadas pela razão natural, a Igreja está convencida de que oferece um serviço precioso à investigação científica, orientada para a procura do verdadeiro bem do homem. Nesta perspectiva, ela recorda que não só as finalidades, mas também os métodos e os instrumentos da investigação, devem ser sempre respeitadores da dignidade de cada ser humano, em qualquer fase do seu desenvolvimento e em todas as etapas da experiência.

Hoje, talvez mais do que noutros tempos, considerando o enorme progresso das biotecnologias também a nível das experiências sobre o homem, é necessário que os cientistas estejam conscientes dos limites insuperáveis que a salvaguarda da vida, da integridade e da dignidade de cada ser humano impõe à sua actividade de investigação. Abordei muitas vezes este tema, porque estou persuadido de que a ninguém é permitido silenciar diante de certos resultados ou pretensões da experiência sobre o homem, e muito menos à Igreja, cujo eventual silêncio seria futuramente imputado pela história e talvez pelos próprios promotores da ciência.

5. Desejo dirigir uma especial palavra de encorajamento aos cientistas católicos para que, com competência e profissionalidade, ofereçam a sua contribuição aos sectores onde é mais urgente uma ajuda para a solução dos problemas que dizem respeito à vida e à saúde dos homens.

O meu apelo dirige-se, de maneira particular, às Instituições e às Universidades, que se orgulham da sua qualificação de "católicas", para que se comprometam a estar sempre à altura dos valores ideais que propiciaram a sua origem. São precisos um verdadeiro e próprio movimento de pensamento e uma nova cultura de alto perfil ético e de inegável valor científico, para promover um progresso autenticamente humano e, na realidade, livre na própria investigação.

6. É necessária uma última observação: aumenta a urgência de preencher a gravíssima e inaceitável lacuna que separa o mundo em vias de desenvolvimento do mundo avançado, no que se refere à capacidade de fazer progredir a investigação biomédica, em benefício da assistência à saúde e em favor das populações aflitas pela miséria e por epidemias dramáticas. E aqui penso de maneira especial no drama da Sida, particularmente grave em muitos países da África.

É preciso dar-se conta de que, deixar estas populações sem os recursos da ciência e da cultura quer dizer não apenas condená-las à pobreza, à exploração económica e à carência de uma organização dos serviços de assistência à saúde, mas significa inclusivamente cometer uma injustiça e alimentar uma ameaça, a longo prazo, para o mundo globalizado. Valorizar os recursos humanos endógenos significa garantir o equilíbrio sanitário e, em última análise, contribuir para a paz no mundo inteiro. Desta maneira, a instância moral relativa à investigação científica biomédica abrir-se-á, necessariamente, a um discurso de justiça e de solidariedade internacionais.

7. Formulo votos a fim de que a Pontifícia Academia para a Vida, que se prepara para encetar o seu décimo ano de existência, tenha a peito esta mensagem e a faça chegar a todos os investigadores, crentes e não-crentes, contribuindo desta forma para a missão da Igreja no novo milénio.

Como sustentáculo deste serviço especial, querido ao meu coração e necessário para a humanidade de hoje e de amanhã, invoco sobre vós e o vosso trabalho a assistência constante de Deus e a protecção de Maria, Sede da Sabedoria. Como penhor das luzes celestiais, concedo-vos de bom grado a minha Bênção apostólica, a vós, aos vossos familiares e também aos vossos colegas de trabalho.




DIscursos João Paulo II 2003