AUDIÊNCIAS 2004


    Janeiro de 2004



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 7 de janeiro de 2004

A maternidade divina de Maria



1. "Alma Redemptoris Mater... Santa Mãe do Redentor...". Assim invocamos Maria no tempo de Natal, com uma antiga e sugestiva antífona mariana, que continua, entre outras, com estas palavras: "Tu quae genuisti natura mirante, tuum sanctum Genitorem Tu, na maravilha de toda a criação, geraste o teu Criador".

Maria, Mãe de Deus! Esta verdade de fé, profundamente ligada às festas de Natal, é evidenciada de forma particular na liturgia do primeiro dia do ano, solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus. Maria é a Mãe do Redentor; é a mulher eleita por Deus para realizar o projecto salvífico centrado no mistério da encarnação do Verbo divino.

2. Uma humilde criatura gerou o Criador do mundo! O tempo de Natal renova-nos a consciência deste mistério, apresentando-nos a Mãe do Filho de Deus como co-partícipe nos acontecimentos culminantes da história da salvação. A tradição secular da Igreja considerou sempre o nascimento de Jesus e a maternidade divina de Maria como dois aspectos da encarnação do Verbo. "Com efeito recorda o Catecismo da Igreja Católica, citando o Concílio de Éfeso Aquele que ela concebeu como homem por obra do Espírito Santo e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é, verdadeiramente, Mãe de Deus ("Theotokos")" (n. 495).

3. Do facto de Nossa Senhora ser "a Mãe de Deus" derivam todos os outros aspectos da sua missão; aspectos bem evidenciados pelos títulos com os quais a comunidade dos discípulos de Cristo em todas as partes do mundo a honra. Antes de tudo, os de "Imaculada" e de "Assunção" porque, sem dúvida, aquela que devia gerar o Salvador não podia ser submetida à corrupção derivante do pecado original.

Além disso, a Virgem é invocada como a Mãe do Corpo místico, ou seja, da Igreja. O Catecismo da Igreja Católica, inspirando-se na tradição patrística expressa por Santo Agostinho, afirma que ela "é verdadeiramente "Mãe dos membros de Cristo [...] porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela Cabeça"" (n. 963).

4. Toda a existência de Maria está, mais do que nunca, estreitamente relacionada à de Jesus.

No Natal é ela quem oferece Jesus à humanidade. Na cruz, no momento supremo do cumprimento da missão redentora, será Jesus quem oferece a cada ser humano a sua própria Mãe, como herança preciosa da redenção.

As palavras do Senhor crucificado ao fiel discípulo João constituem o seu testamento. Ele confia a sua Mãe a João e, ao mesmo tempo, confia o Apóstolo e cada crente ao amor de Maria.

5. Nestes últimos dias do tempo de Natal, detenhamo-nos para contemplar no presépio a presença silenciosa da Virgem ao lado do Menino Jesus. O mesmo amor, a mesma solicitude que teve pelo seu Filho divino, Ela reserva-a também a nós. Por conseguinte, deixemos que Ela oriente os nossos passos no novo ano, que a Providência nos concede viver.

São estes os votos que formulo para todos vós nesta primeira Audiência geral de 2004. Sustentados e confortados pela sua protecção materna, poderemos contemplar, com um olhar renovado, o rosto de Cristo e caminhar com passos mais apressados pelos caminhos do bem.

Mais uma vez, Feliz Ano Novo a vós aqui presentes e aos vossos familiares!

Saudações

Saúdo com afecto os peregrinos e as famílias de língua espanhola. Que a materna protecção de Maria oriente os nossos passos neste novo ano que a Providência nos concede, contemplando o rosto de Cristo e caminhando pelas sendas do bem. Feliz Ano a todos e muito obrigado pela vossa atenção!

Cristo nasceu! Saúdo cordialmente o querido Cardeal Marjan Jaworski e o grupo de peregrinos ucranianos. Caríssimos! Agradeço-vos, de coração, a vossa visita e, ao desejar-vos a todos um Ano de paz, concedo-vos com afecto a minha Bênção. Cristo nasceu!

Saúdo cordialmente o grupo de escuteiros eslovacos, provenientes de Stropkov. Caros jovens, agradeço-vos as orações e, de bom grado, concedo-vos a Bênção apostólica a vós e às vossas famílias na Pátria.

Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo uma saudação cordial ao grupo de peregrinos croatas, vindos de Osijek, de modo especial aos Professores das Escolas Primárias de Fran Krsto Frankopan e de Franjo Krezma, dessa mesma cidade. Sede bem-vindos!

Caríssimos, enquanto me recordo da calorosa recepção que me foi reservada pela vossa cidade no passado mês de Junho, invoco a bênção de Deus sobre vós, sobre os vossos alunos e sobre as vossas famílias e todos os vossos concidadãos.
Louvados sejam Jesus e Maria!

Uma cordial saudação aos peregrinos da República Checa, oriundos de Vysehrad-Praga. Neste tempo de Natal ressoa nas nossas almas o canto angélico: "Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por Ele amados" (Lc 2,14). Possais também vós difundir a paz de Cristo! Com estes votos, abençoo-vos a todos.
Louvado seja Jesus Cristo!

Meus queridos compatriotas! Saúdo-vos cordialmente, por ocasião desta primeira Audiência geral do ano de 2004. Saúdo também as vossas famílias. A vós e a todos os meus compatriotas desejo mais uma vez um feliz Ano novo. Sustente-vos a Mãe de Deus, Maria.
Deus vos recompense!

Transmito um cordial pensamento aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo-vos a vós, neo-sacerdotes do Instituto dos Legionários de Cristo, aqui presentes com toda a Comunidade de Roma e com as consagradas do "Regnum Christi". Exorto-vos a haurir em cada dia a graça e a força da Eucaristia, para serdes instrumentos dóceis e operários incansáveis na construção do Reino de Deus.

Depois, saúdo-vos a vós, queridos fiéis circenses, que nestas festas de Natal realizastes os vossos espectáculos em Roma, e encorajo-vos a viver a vossa fé em Cristo, sempre com alegria.

Enfim, dirijo o meu pensamento aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Caríssimos, nestes dias após a festa da Epifania, continuemos a meditar sobre a manifestação de Jesus a todos os povos. A Igreja convida-vos a difundir a luz de Cristo com o testemunho da vossa vida.





PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 14 de janeiro de 2004

A paixão voluntária de Cristo servo de Deus



1. Depois da pausa para as festas de Natal, recomeçamos hoje o nosso itinerário de meditação sobre a liturgia das Vésperas. O Cântico agora proclamado, tirado da primeira Carta de Pedro, detem-se sobre a Paixão redentora de Cristo, já preanunciada no momento do Baptismo no Jordão.

Como ouvimos no domingo passado, Festa do Baptismo do Senhor, Jesus revela-se desde o início da actividade pública como "Filho predilecto", no qual o Pai pôs todo o Seu agrado (cf. Lc Lc 3,22), e o verdadeiro "Servo de Javé" (cf. Is Is 42,1), que liberta o homem do pecado através da sua Paixão e morte na Cruz.

Na citada Carta de Pedro, na qual o Pescador da Galileia se define "testemunha dos sofrimentos de Cristo" (5, 1), a recordação da Paixão é muito frequente. Jesus é o cordeiro sacrifical sem mancha, cujo sangue precioso foi derramado para o nosso resgate (cf. 1, 18-19). Ele é a pedra viva rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus como "pedra angular" que dá a sua unidade à "casa espiritual", isto é, à Igreja (cf. 2, 6-8). Ele é o justo que se sacrifica pelos injustos para os reconduzir a Deus (cf. 3, 18-22).

2. A nossa atenção fixa-se agora no perfil de Cristo designado no trecho que acabamos de escutar (cf. 2, 21-24). Ele apresenta-se como o modelo para ser contemplado e imitado, o "programa", como se diz no original grego (cf. 2, 21), a ser realizado, o exemplo a ser seguido sem hesitação, conformando-nos com as suas opções.

Com efeito, usa-se o verbo grego do seguimento, do discipulado, do encaminhar-se seguindo os próprios passos de Jesus. E os passos do Mestre divino encaminham-se por uma via difícil e cansativa, precisamente como se lê no Evangelho: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mc 8,34).

A este ponto o hino petrino delineia uma síntese admirável da paixão de Cristo, moldada nas palavras e nas imagens de Isaías aplicadas à figura do Servo sofredor (cf. Is Is 53), relida em chave messiânica pela tradição cristã antiga.

3. Esta história hínica da Paixão é formulada através de quatro declarações negativas (cf. 1P 2,22-23) e três positivas (cf. 2, 23b-24), onde descreve a atitude de Jesus naquela vicissitude terrível e grandiosa.

Começa-se com a dupla afirmação da sua absoluta inocência expressa com as palavras de Isaías 53, 9: "Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se encontrou engano" (1P 2,22). Seguem-se outras duas considerações sobre o seu comportamento exemplar inspirado na mansidão e humildade: "ao ser insultado, não respondia com insultos; ao ser maltratado, não ameaçava" (2, 23). O silêncio paciente do Senhor não é só um acto de coragem e de generosidade. É também um gesto de confiança em relação ao Pai, como sugere a primeira das três afirmações positivas: "entregava-se àquele que julga com justiça" (ibidem). A sua é uma confiança total e perfeita na justiça divina que guia a história rumo ao triunfo do inocente.

4. Assim, chega-se ao vértice da narração da Paixão que realça o valor salvífico do acto supremo da doação de Cristo: "Ele levou os nossos pecados no seu corpo, para que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça" (2, 24).

Esta segunda afirmação positiva, formulada com as expressões da profecia de Isaías (cf. 53, 12), esclarece que Cristo levou "no seu corpo" "no madeiro", isto é, "na cruz", "os nossos pecados", para os poder aniquilar.

Por este caminho também nós, libertados do homem velho, com o seu mal e com a sua miséria, podemos "viver para a justiça", ou seja, em santidade. O pensamento corresponde, mesmo se com palavras em grande medida diversas, à doutrina sobre o baptismo que nos regenera como criaturas novas, imergindo-nos no mistério da paixão, morte e glória de Cristo (cf. Rm Rm 6,3-11).

A última frase "pelas suas chagas fomos curados" (1P 2,25) tem em vista o valor salvífico do sofrimento de Cristo, expresso com as mesmas palavras usadas por Isaías para expressar a fecundidade salvífica do sofrimento suportado pelo Servo do Senhor (cf. Is Is 53,5).

5. Contemplando as chagas de Cristo das quais fomos salvos, Santo Ambrósio assim se expressava: "Nada existe nas minhas obras de que me possa gloriar, nada tenho de que me gloriar, e por isso gloriar-me-ei em Cristo. Não me alegrarei por ser justo, mas porque fui redimido. Não me alegrarei porque não tenho pecados, mas porque os pecados me foram perdoados. Não me alegrarei porque ajudei nem porque alguém me ajudou, mas porque Cristo é meu advogado junto do Pai, porque o sangue de Cristo foi derramado por mim. A minha culpa tornou-se para mim o preço da redenção, através da qual Cristo veio a mim. Por mim, Cristo provou a morte. É mais proveitosa a culpa que a inocência. A inocência tinha-me tornado arrogante, a culpa tornou-me humilde" ( vida bem-aventurada, I, 6, 21: SAEMO, III, Milão-Roma 1982, PP 251 pp. 251 e 253).

Saudações



Amados Irmãos e Irmãs de língua portuguesa

O Cântico narrado por São Pedro na leitura de hoje ajuda-nos a aprofundar na "Paixão voluntária de Cristo, servo de Deus" (cf. 2P 2,21-24). Demos graças a Deus porque, pela sua misericórdia, nos introduziu na vida nova e nos prometeu a salvação.
Que Deus vos abençoe.

Saúdo com afecto os peregrinos e famílias de língua espanhola. Em especial o grupo de Religiosas da Espanha e América Latina, assim como os alunos da Escola Italiana de Montevidéu. Exorto-vos todos a imitar Cristo que, com a sua Paixão, liberta o homem do pecado.
Muito obrigado pela vossa atenção!

Saúdo cordialmente os meus compatriotas. Viestes em visita aos túmulos dos Santos Pedro e Paulo para vos consolidar na fé, na esperança e no amor. Rogo a Deus que vos cumule abundantemente destas graças. Peço-vos que transmitais a minha saudação às vossas famílias e a todos os polacos.
Deus vos abençoe!

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo a Associação Italiana "Amigos de Raoul Follereau" e os fiéis de Corridonia. Abraço espiritualmente as crianças bielo-russas e o Grupo de Hospitalidade, de Modugno, que as recebeu com generosidade.

Dirijo o meu pensamento também aos jovens, aos doentes e aos novos casais. A Festa do Baptismo do Senhor, que celebrámos no domingo passado, vos ajude, caros jovens, a redescobrir e a viver com alegria o dom da fé em Cristo; vos torne fortes na provação, queridos doentes; vos estimule, queridos novos casais, a fazer da vossa família uma verdadeira igreja doméstica.





PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 21 de janeiro de 2004

O mundo tem necessidade de cristãos

autênticos operadores da paz de Cristo



1. "Deixo-vos a minha paz" (cf. Jo Jn 14,27). A semana de oração e de reflexão pela unidade dos cristãos deste ano está centrada nas palavras pronunciadas por Jesus na Última Ceia. Trata-se, num certo sentido, do seu testamento espiritual. A promessa feita aos discípulos terá a sua realização plena na Ressurreição de Cristo. Ao aparecer no Cenáculo aos Onze, pronuncia três vezes a saudação: "A paz esteja convosco" (Jn 20,19).

Por conseguinte, o dom oferecido aos Apóstolos não é uma "paz" qualquer, mas é a própria paz de Cristo: a "minha paz", como Ele diz. E para se fazer compreender explica de maneira mais simples: "dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo" (Jn 14,27).

O mundo anseia pela paz, precisa de paz hoje como ontem mas muitas vezes procura-a com meios desapropriados, e por vezes até recorrendo à força ou ao equilíbrio de potências contrapostas. Em situações assim, o homem vive com o coração perturbado no receio e na incerteza. A paz de Cristo, ao contrário, reconcilia as almas, purifica os corações, converte as mentes.

2. O tema da "Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos" foi proposto este ano por um grupo ecuménico da cidade de Alepo na Síria. Isto estimula-me a voltar com o pensamento à peregrinação que tive a alegria de realizar a Damasco. Em particular, recordo com gratidão o caloroso acolhimento que me foi reservado pelos dois Patriarcas ortodoxos e pelo greco-católico. Aquele encontro representa ainda hoje um sinal de esperança para o caminho ecuménico. Mas o ecumenismo, como recorda o Concílio Vaticano II, não é autêntico se não houver "conversão interior. É que os anseios de unidade nascem e amadurecem a partir da renovação da mente, da abnegação de si mesmo e da libérrima efusão da caridade" (Decr. sobre o ecumenismo, Unitatis redintegratio, UR 7).

Sente-se cada vez mais a exigência de uma espiritualidade profunda de paz e de pacificação, não só em quantos estão directamente comprometidos no trabalho ecuménico, mas em todos os cristãos. A causa da unidade, com efeito, diz respeito a todos os crentes, chamados a participar do único povo dos redimidos pelo sangue de Cristo na Cruz.

3. É encorajador verificar como a busca da unidade entre os cristãos esteja a expandir-se cada vez mais, graças a oportunas iniciativas, que dizem respeito aos vários âmbitos do compromisso ecuménico. Entre estes sinais de esperança apraz-me mencionar o incremento da caridade fraterna e o progresso registado nos diálogos teológicos com as várias Igrejas e Comunidades eclesiais. Com eles, foi possível alcançar, com graus e especificidades diferentes, convergências importantes sobre temáticas muito debatidas no passado.

Tendo em consideração estes sinais positivos, é necessário não desanimar face às dificuldades antigas e novas que se encontram, mas enfrentá-las com paciência e compreensão, contando sempre com a ajuda divina.

4. "Onde há caridade e amor, ali está Deus": assim reza e canta a liturgia nesta semana, revivendo o clima da última Ceia. Da caridade e do amor mútuo surgem a paz e a unidade de todos os cristãos, que podem oferecer um contributo decisivo para que a humanidade supere as razões das divisões e dos conflitos.

Além da oração, queridos Irmãos e Irmãs, sintamo-nos também em grande medida estimulados a fazer nosso o esforço por sermos autênticos "pacificadores" (cf. Mt Mt 5,9) nos ambientes em que vivemos.

Neste itinerário de reconciliação e de paz, ajude-nos e acompanhe-nos a Virgem Maria, que no Calvário foi testemunha do sacrifício redentor de Cristo.



Saudações

Saúdo cordialmente os visitantes de língua espanhola, em especial os peregrinos de três paróquias de Alhama (Múrcia) e os que vieram do México. Convido-vos todos a "trabalhar pela paz" no vosso próprio ambiente. Muito obrigado!

Saúdo com cordialidade os meus compatriotas. Hoje, rezamos de modo particular pela unidade dos cristãos e pela paz no mundo. A obra da unidade nasce no coração do homem reconciliado com Deus e com os seus irmãos. Que Deus nos ajude a vivermos unidos: "Ut unum sint".
Louvado seja Jesus Cristo!

Quero saudar cordialmente os peregrinos francófonos, aqui presentes hoje de manhã, em particular a delegação da Região Languedoc-Roussillon e os jovens do Instituto de Nossa Senhora das Dunas, de Dunquerque, acompanhados dos seus Professores e do seu Decano. Possa a vossa permanência em Roma constituir uma ocasião para crescer na fé, na unidade e na confiança de Cristo.

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em especial, saúdo os fiéis de Veletri, acompanhados pelo Bispo D. Andrea Erba.

Além disso, dirijo o meu pensamento aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Nesta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, convido-vos, queridos jovens, a serdes testemunhas da fiel adesão ao Evangelho, especialmente com os vossos coetâneos.

Peço-vos, queridos doentes, que ofereçais os vossos sofrimentos pela causa da unidade dos cristãos. Exorto-vos, queridos novos casais, a tornardes-vos cada vez mais um só coração e uma só alma no seio das vossas famílias.


PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA

Quarta-Feira 28 de janeiro de 2004

O justo tem confiança no Senhor



1. Continua a nossa reflexão sobre os textos dos Salmos, que constituem o elemento substancial da Liturgia das Vésperas. O que agora fizemos ressoar nos nossos corações foi o Salmo 10, uma breve oração de confiança que, no original hebraico, está marcada pelo sagrado nome divino, 'Adonaj, o Senhor. Este nome ressoa na abertura (cf. v. 1), encontra-se três vezes no centro do Salmo (cf. vv. 4-5) e volta no fim (cf. v. 17).

A tonalidade espiritual de todo o cântico é muito bem expressa pelo versículo conclusivo: "O Senhor é justo e ama a justiça". É esta a raiz de qualquer confiança e a fonte de toda a esperança no dia da obscuridade e da prova. Deus não permanece indiferente em relação ao bem e ao mal, é um Deus bom e não um acontecimento obscuro, indecifrável e misterioso.

2. O Salmo desenvolve-se substancialmente em dois cenários. No primeiro (cf. vv. 1-3) está descrito o ímpio no seu triunfo aparente. Ele é caracterizado por imagens de tipos bélico e venial: é o pervertido, que retesa o arco da guerra ou da caça para disparar com violência contra as suas vítimas, isto é, os de coração recto (cf. v. 2). Por isso, eles são tentados pela ideia de evadir e de se libertar de uma presa tão implacável. Gostaria de fugir "para o monte como as aves" (v. 1), longe do vórtice do mal, do assédio dos malvados, das setas das calúnias lançadas à traição pelos pecadores.

Há uma espécie de desconforto no fiel que se sente só e impossibilitado face à irrupção do mal. Parece que os fundamentos da justa ordem social são abalados e as próprias bases da convivência humana estão ameaçadas. (cf. v. 3).

3. Eis então a mudança, traçada no segundo cenário (cf. vv. 4-7). O Senhor, sentado no seu trono celeste, abrange com o seu olhar penetrante todo o horizonte humano. Daquele lugar transcendente, sinal da omnisciência e da omnipotência divina, Deus pode perscrutar e examinar cada pessoa, distinguindo o bem do mal e condenando com vigor a injustiça (cf. vv. 4-5).
É muito sugestiva e confortadora a imagem dos olhos divinos, cujas pupilas contemplam e observam as nossas acções. O Senhor não é um remoto soberano, fechado no seu mundo dourado, mas uma Presença vigilante que se declara da parte do bem e da justiça. Ele vê e providencia, intervindo com a sua palavra e com a sua acção.

O justo prevê que, como acontecera em Sodoma (cf. Gn Gn 19,24), o Senhor "fará chover sobre os ímpios carvões acesos e enxofre" (Ps 10,6), símbolos do juízo de Deus que purifica a história, condenando o mal. O ímpio, atingido por esta chuva ardente, que prefigura o seu destino último, experimenta fielmente que "há um Deus que faz justiça sobre a terra" (Ps 57,12).

4. Contudo, o Salmo não se conclui com este quadro trágico de punição e de condenação. O último versículo abre o horizonte para a luz e para a paz que se destinam ao justo que contempla o seu Senhor, juiz justo, mas sobretudo libertador misericordioso: "os homens honestos contemplarão a sua face" (Ps 10,7). Trata-se de uma experiência alegre de comunhão e de confiança serena no Deus que liberta do mal.

Fizeram uma experiência como esta os numerosos justos ao longo da história. Muitas narrações descrevem a confiança dos mártires cristãos face às atrocidades e a sua determinação que não evitava a prova.

Nos Actos de Euplo, diácono de Catânia, falecido por volta de 304 sob Diocleciano, o mártir exclama espontaneamente esta sequência de orações: "Obrigado, ó Cristo: protege-me porque sofro por ti... Adoro o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Adoro a Santíssima Trindade... Obrigado, ó Cristo. Vem em meu auxílio, ó Cristo! Sofro por ti, ó Cristo... É grande a tua glória, ó Senhor, nos servos que te dignaste chamar a ti!... A ti dou graças, Senhor Jesus Cristo, porque a tua força me confortou; não consentiste que a minha alma perecesse com os ímpios e concedeste-me a graça do teu nome. Agora confirma o que fizeste em mim, para que seja confundida a impudência do Adversário" (A. HAMMAN, Orações dos primeiros cristãos, Milão 1995, págs. 72-73).



Saudações

Boas-vindas a todos os peregrinos e visitantes de expressão inglesa, hoje aqui presentes, inclusivamente aos grupos da Inglaterra, Irlanda e Estados Unidos da América. Sobre vós e as vossas famílias, invoco cordialmente a alegria e a paz em nosso Senhor Jesus Cristo.

Saúdo os fiéis de língua espanhola, em particular o Coro arquidiocesano de Chihuahua. Desejo a todos que esta visita a Roma reforce o compromisso cristão na vida pessoal, familiar e social.

Transmito a minha saudação aos peregrinos das Paróquias de Kranjska Gora e Ratece, na Eslovénia. A bondade de Deus e a protecção de Maria Auxiliadora vos acompanhe sempre, a vós e aos vossos familiares. Concedo-vos a todos a minha Bênção Apostólica.

Saúdo cordialmente todos os meus compatriotas. De modo especial, os pastores da Missão Católica Polaca na Alemanha. Caríssimos, o Senhor vos de a graça da fé e do amor pastoral, a fim de que possais ajudar de maneira eficaz os polacos na Alemanha a permanecerem com Cristo e com a Igreja.

Abençôo de coração todos os presentes, as vossas famílias e os vossos entes queridos. Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua italiana, em particular às Irmãs Beneditinas da Providência Divina, provenientes de vários países, que se estão a preparar para a Profissão perpétua. Caríssimas, exorto-vos a fazer da vossa vida uma oferta contínua a Cristo, Esposo e Mestre.

Saúdo também os jovens, os doentes e os novos casais. Hoje celebramos a memória litúrgica de S. Tomás de Aquino, Padroeiro das Escolas católicas. O seu exemplo vos inspire, caros jovens, a a seguir sempre Jesus como autentico mestre de vida e santidade. A intercessão deste Santo Doutor da Igreja obtenha para vós, caros doentes, a serenidade e a paz que se haurem no mistério da cruz; e para vós, queridos novos casais, a sabedoria do coração, indispensável para cumprir generosamente a vossa missão.



                                                                                  Fevereiro de 2004

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 4 de fevereiro de 2004

Quem é digno de estar diante do Senhor?



1. O Salmo 14, que é oferecido à nossa reflexão, muitas vezes é classificado pelos estudiosos da Bíblia como parte de uma "liturgia de entrada". Como acontece com algumas composições do Saltério (cf. por exemplo, os Salmos 23, 25 e 94), pode-se pensar numa espécie de procissão de fiéis que se agrupa às portas do templo de Sião para aceder ao culto. Num diálogo ideal entre fiéis e levitas delineiam-se as condições indispensáveis para ser admitido à celebração litúrgica e, por conseguinte, à intimidade divina.

De facto, por um lado, surge a pergunta: "Quem poderá, Senhor, habitar no teu santuário? Quem poderá residir na tua montanha santa?" (Ps 14,1). Por outro, eis o elenco das qualidades exigidas para passar o limiar que leva ao "santuário", ou seja, ao templo na "montanha santa" de Sião. As qualidades enumeradas são onze e constituem uma síntese ideal dos compromissos morais de base, presentes na lei bíblica (cf. vv. 2-5).

2. Nas fachadas dos templos egípcios e babiloneses por vezes eram gravadas as condições exigidas para poder entrar no ambiente sagrado. Devemos notar uma diferença significativa com as que são sugeridas pelo nosso Salmo. Em muitas culturas religiosas é requerida, para ser admitido à presença da Divindade, sobretudo a pureza ritual exterior que comporta purificações, gestos e vestes particulares.

Ao contrário, o Salmo 14 exige a purificação da consciência, para que as suas opções sejam inspiradas no amor pela justiça e pelo próximo. Portanto, sente-se nestes versículos o espírito dos profetas que convidam repetidamente a conjugar a fé e a vida, oração e compromisso existencial, adoração e justiça social (cf. Is Is 1,10-20 Is 33,14-16 Os 6,6 Mi 6,6-8 Jr 6,20).

Ouçamos, por exemplo, a veemente repreensão do profeta Amós, que denuncia em nome de Deus um culto separado da história quotidiana: "Eu detesto e rejeito as vossas festas, e não sinto nenhum gosto nas vossas assembleias. Se me ofereceis holocaustos e oblações, não as aceito, nem ponho os meus olhos no sacrifício das vossas vítimas gordas... Antes, jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca" (5, 21-22.24).

3. Tratemos agora os onze compromissos enumerados pelo Salmista, que poderão constituir a base de um exame de consciência pessoal todas as vezes que nos prepararmos para confessar as nossas culpas a fim de sermos admitidos à comunhão com o Senhor na celebração litúrgica.

Os três primeiros compromissos são genéricos e exprimem uma opção ética: seguir o caminho da integridade moral, da prática da justiça e, por fim, da sinceridade perfeita ao falar (cf. Sl Ps 14,2).

Seguem-se três deveres que poderíamos definir de relação com o próximo: eliminar a calúnia da linguagem, evitar qualquer acção que possa prejudicar o irmão, impedir os insultos contra quem vive ao nosso lado todos os dias (cf. v. 3). Vem depois o pedido de uma opção clara de posição no âmbito social: desprezar o malvado, honrar quem teme Deus. Por fim, enumeram-se os três últimos preceitos sobre o modo como examinar a consciência: ser fiéis à palavra dada, ao juramento, mesmo que isso nos cause consequências danosas; não praticar a usura, chaga que ainda nos nossos dias é uma realidade vil, capaz de aniquilar a vida de muitas pessoas e, por fim, evitar qualquer forma de corrupção na vida pública, outro compromisso que se deve saber praticar com rigor também no nosso tempo (cf. v. 5).

4. Seguir este caminho de decisões morais autênticas significa estar preparado para o encontro com o Senhor. Também Jesus, no Sermão da Montanha, proporá uma "liturgia de entrada" essencial: "Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão" (Mt 5,23-24).

Quem age da maneira indicada pelo Salmista conclui-se na nossa oração "não há-de sucumbir para sempre" (Ps 14,5). Santo Hilário de Poitiers, Padre e Doutor da Igreja do quarto século, no seu Tractatus super Psalmos comenta assim este final do Salmo, relacionando-o à imagem inicial do templo de Sião: "Agindo de acordo com estes preceitos, mora-se no santuário, repousa-se no monte. Por conseguinte, permanecem salvaguardadas a observação dos preceitos e a obra dos mandamentos. Este Salmo deve estar fundado no íntimo, escrito no coração, anotado na memória; o tesouro da sua rica brevidade deve ser confrontado connosco em todos os momentos. E assim, adquire esta riqueza no caminho rumo à eternidade e habitando na Igreja, poderemos finalmente repousar na glória do corpo de Cristo" (PL 9, 308).



Saudações

Queridos Irmãos e Irmãs

Dou calorosas boas-vindas a todos os peregrinos e visitantes de expressão inglesa, presentes na Audiência hodierna. Saúdo de modo especial os grupos vindos da Inglaterra, Irlanda, Hong-Kong e Estados Unidos da América. Sobre todos vós, invoco cordialmente a alegria e a paz em nosso Senhor Jesus Cristo.

É-me grato saudar os peregrinos francófonos, presentes nesta Audiência, em particular os fiéis da Diocese de Lião.

A vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo vos renove no desejo de seguir Cristo e de ser suas testemunhas!

Agora, dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua italiana. Saúdo, em particular, os representantes da Secção Internacional de Polícia de Barleta, assim como os alunos do Instituto para a arte e a restauração de Roma, que estão a prestar o seu serviço competente no Vaticano.
Além disso, desejo transmitir-vos o meu pensamento a vós, caros jovens, doentes e novos casais.

Nestes dias, celebra-se a memória litúrgica de alguns mártires São Brás, Santa Águeda e São Paulo Miki e Companheiros japoneses. A coragem destas testemunhas heróicas de Cristo vos ajude, caros jovens, a abrir o coração ao heroísmo da santidade; vos leve, estimados doentes, a oferecer o dom precioso da oração e do sofrimento pela Igreja; e vos dê, queridos novos casais, a força para orientar as vossas famílias segundo os valores cristãos.





PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 11 de fevereiro de 2004

XII Dia Mundial do Doente


"A ti confiamos os doentes os idosos e as pessoas sozinhas"



1. Hoje, o nosso pensamento dirige-se para o célebre Santuário mariano de Lourdes, situado nos montes Pireneus, que continua a atrair de todo o mundo multidões de peregrinos, entre os quais muitas pessoas doentes. Nele têm lugar este ano as principais manifestações do Dia Mundial do Doente, data que, tornou-se já um costume consolidado, coincide precisamente com a memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem de Lourdes.

Foi escolhido este Santuário não apenas devido à intensa relação que o liga ao mundo da doença e dos agentes da pastoral da saúde. Foi escolhido o Santuário de Lourdes sobretudo porque se celebra em 2004 o 150º aniversário da proclamação do dogma da Imaculada, feita em 8 de Dezembro de 1854. Em Lourdes no ano de 1858, quatro anos mais tarde, a Virgem Maria, ao aparecer na Gruta de Massabielle a Bernardete Soubirous, apresentou-se como "a Imaculada Conceição".

2. Vamos agora em peregrinação espiritual aos pés da Imaculada de Lourdes, para participar na oração do clero e dos fiéis, e sobretudo dos doentes presentes, ali reunidos. O Dia Mundial do Doente constitui uma forte chamada a redescobrir a importante presença de quantos sofrem na Comunidade cristã, e a valorizar cada vez mais o seu precioso contributo. Sob um olhar simplesmente humano o sofrimento e a doença podem parecer realidades absurdas: contudo, quando nos deixamos iluminar pela luz do Evangelho, consegue-se colher o profundo significado salvífico.

"Do paradoxo da Cruz realcei na Mensagem para este Dia Mundial do Doente surge a resposta às nossas interrogações mais inquietantes. Cristo sofre por nós: Ele assume sobre si o sofrimento de todos e redime-os. Cristo sofre connosco, dando-nos a possibilidade de partilhar com Ele os nossos sofrimentos. Juntamente com o de Cristo, o sofrimento humano torna-se meio de salvação" (n. 4).


AUDIÊNCIAS 2004