AUDIÊNCIAS 2004

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 7 de abril de 2004

Convertamos o coração Àquele que, por amor, morreu por nós




1. "Jesus Cristo... rebaixou-se a si mesmo, tornou-se obediente até... à morte de cruz... Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo" (Ph 2,8-9). Ouvimos há pouco estas palavras do hino contido na Carta aos Filipenses. Elas apresentam-nos, de modo essencial e eficaz, o mistério da paixão e morte de Jesus; ao mesmo tempo, faz-nos entrever a glória da Páscoa de ressurreição. Por conseguinte, constituem uma meditação que introduz nas celebrações do Tríduo Pascal, que começa amanhã.

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs, preparamo-nos para reviver nos próximos dias o grande mistério da nossa salvação. Amanhã de manhã, Quinta-Feira Santa, em todas as comunidades diocesanas, o Bispo celebra juntamente com o seu presbitério a Missa Crismal, na qual são abençoados os óleos o dos catecúmenos, o dos doentes e o santo Crisma. À noite faz-se memória da Última Ceia com a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. O rito do "lava-pés" recorda que, com este gesto realizado por Jesus no Cenáculo, Ele antecipou o Sacrifício do Calvário, e deixou-nos como nova lei, "mandatum novum", o seu amor. Segundo uma tradição piedosa, depois dos ritos da Missa em Cena Domini , os fiéis detêm-se em adoração diante da Eucaristia durante a noite. É uma vigília de oração singular, que se relaciona com a agonia de Cristo no Getsémani.

3. Na Sexta-Feira Santa a Igreja celebra a paixão e morte do Senhor. A assembleia cristã é convidada a meditar sobre o mal e sobre o pecado que oprimem a humanidade e sobre a salvação realizada com o sacrifício redentor de Cristo. A Palavra de Deus e alguns ritos litúrgicos sugestivos, como a adoração da Cruz, ajudam a percorrer as várias etapas da Paixão. Além disso, a tradição cristã deu vida, neste dia, a várias manifestações de piedade popular. Entre elas sobressaem as procissões penitenciais da Sexta-feira Santa e a prática piedosa da "Via Crucis", que fazem interiorizar melhor o mistério da Cruz.

Um grande silêncio caracteriza o Sábado Santo. De facto, não são previstas liturgias particulares neste dia de expectativa e de oração. Nas Igrejas há um grande silêncio, enquanto que os fiéis, à imitação de Maria, se preparam para o grande acontecimento da Ressurreição.

4. Ao cair da noite de Sábado Santo tem início a solene Vigília Pascal, a "mãe de todas as vigílias". Depois de ter abençoado o novo fogo, acende-se o círio pascal, símbolo de Cristo que ilumina cada homem, e ressoa jubiloso o grande anúncio do Exsultet. A Comunidade eclesial, pondo-se à escuta da Palavra de Deus, medita a grande promessa da libertação definitiva da escravidão do pecado e da morte. Seguem-se os ritos do Baptismo e da Confirmação para os catecúmenos, que percorreram um longo itinerário de preparação.

O anúncio da ressurreição irrompe na escuridão da noite e toda a criação desperta do sono da morte, para reconhecer a realeza de Cristo, como realça o hino paulino no qual se inspiram estas nossas reflexões "Para que, ao nome de Jesus, se dobre todo o joelho, os dos seres que estão no céu, e na terra e debaixo da terra e toda a língua proclame Jesus Cristo é o Senhor" (Ph 2,10-11).

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs, estes dias são oportunos como nunca para tornar mais viva a conversão do nosso coração Àquele que por amor morreu por nós.

Deixemos que seja Maria, a Virgem fiel, quem nos acompanha; com ela detenhamo-nos no Cenáculo e permaneçamos ao lado de Jesus no Calvário, para o encontrar por fim, ressuscitado, no dia de Páscoa.

Com estes sentimentos e desejos, formulo os mais cordiais bons votos de feliz Páscoa para vós aqui presentes, para as vossas Comunidades e para os vossos familiares.



Saudações

Dou as boas-vindas a todos os peregrinos de língua portuguesa, com uma saudação especial à Escola Secundária Nun'Álvares de Castelo Branco, desejando a cada um e seus entes queridos uma feliz e santa Páscoa na amizade de Deus.

Saúdo cordialmente os peregrinos francófonos, sobretudo a comunidade de "Arche du Sénevé", o Colégio "Charles de Foucauld", de Lião bem como os peregrinos de Abijão. Permanecei com Maria no Cenáculo; estai com ela junto de Jesus no Calvário, para o reconhecer, ressuscitado, no dia de Páscoa. Feliz Páscoa a todos!

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos e visitantes de língua alemã. Olhai para o Redentor na Cruz e segui-o com obras de amor. Que Maria, mãe fiel sua e nossa, vos conduza ao encontro libertador com o Ressuscitado. A paz de Cristo esteja sempre convosco.

Saúdo os peregrinos de língua espanhola, sobretudo o grupo do Colégio Pureza de Maria, de Barcelona. Convido todos a viver intensamente estes dias santos, juntamente com a Santíssima Virgem, para encontrar Jesus ressuscitado no dia de Páscoa. Feliz e santa Páscoa para vós, para as vossas famílias e comunidades.

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos húngaros, ao grupo dos polícias e dos estudantes do Liceu Baár-Madas em Budapeste.

A celebração do Sagrado Tríduo pascal é para todos nós fonte de novas energias. Concedo de coração a Bênção Apostólica.

Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo cordiais boas-vindas aos estudantes liceais de Espálato e aos demais peregrinos croatas.

Caríssimos, nos próximos dias reviveremos o Mistério Pascal do Senhor. A Bem-Aventurada Virgem Maria vos acompanhe na oração, na meditação e na participação na Liturgia da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo e vos obtenha a abundância da sua graça e misericórdia.

Concedo a vós e às vossas famílias a Bênção Apostólica.

Sejam louvados Jesus e Maria!

Dirijo uma cordial saudação a todos os peregrinos de língua italiana presentes nesta Audiência na vigília do Tríduo Pascal.

Dirijo uma saudação especial aos jovens, aos doentes e aos jovens casais.

A vós, queridos jovens, desejo que não tenhais medo de seguir Cristo, mesmo quando vos pede para abraçar a Cruz. A vós, queridos doentes, sirva-vos de conforto a meditação da Paixão de Jesus, mistério de sofrimento transfigurado pelo amor. E em vós, amados jovens casais, a morte e a ressurreição do Senhor renove a alegria e o compromisso do pacto nupcial.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 14 de abril de 2004

Encontrar Cristo Crucificado e Ressuscitado

para sermos artífices da sua misericórdia



1. A Sequência pascal retoma e relança o anúncio de esperança que ecoou na solene Vigília Pascal: "O Senhor da vida estava morto; mas agora, vivo, triunfa". Estas palavras guiam a reflexão deste nosso encontro, que se coloca no clima luminoso da Oitava de Páscoa.

Cristo triunfa sobre o mal e sobre a morte. Eis o brado de júbilo que irrompe nestes dias no coração da Igreja. Vitorioso sobre a morte, Jesus oferece a vida que jamais perece a quantos o acolhem e crêem n'Ele. Por conseguinte, a sua morte e a sua ressurreição constituem o fundamento da fé da Igreja.

2. As narrações evangélicas referem, por vezes com riqueza de pormenores, os encontros do Senhor ressuscitado com as mulheres que foram ao sepulcro e, em seguida, com os Apóstolos. Sendo testemunhas oculares, serão precisamente elas que proclamam primeiro o Evangelho da sua morte e ressurreição. Depois de Pentecostes, sem receio, afirmarão que em Jesus de Nazaré cumpriram-se as Escrituras relativas ao Messias prometido.

A Igreja, depositária deste mistério universal de salvação, transmite-o de geração em geração aos homens e mulheres de todos os tempos e lugares. Também na nossa época é necessário que, graças ao compromisso dos crentes, ressoe com vigor o anúncio de Cristo morto, que pela força do seu Espírito, agora está vivo e triunfa.

3. Para que os cristãos possam cumprir plenamente este mandamento que lhes foi confiado, é indispensável que se encontrem pessoalmente com o Crucificado e ressuscitado, e se deixem transformar pelo poder do seu amor. Quando isto se verifica, a tristeza transforma-se em alegria, o receio cede o lugar ao fervor missionário.

O evangelista João narra-nos, por exemplo, o encontro comovedor do Ressuscitado com Maria Madalena que, tendo ido de manhã cedo, encontra o sepulcro aberto e vazio. Receia que o corpo do Senhor tenha sido roubado, e por isso chora desconsolada. Mas imprevistamente alguém, que inicialmente ela pensa ser "o guardião do jardim", chama-a pelo nome: "Maria!". Então, ela reconhece-o como o Mestre "Rabbuni" e, vencendo imediatamente o desconforto e a desorientação, apressa-se a levar com entusiasmo este anúncio aos Onze: "Vi o Senhor" (cf. Jo Jn 20,11-18).

4. "Cristo, minha esperança, ressuscitou". Com estas palavras a Sequência realça um aspecto do mistério pascal, que a humanidade de hoje tem necessidade de compreender mais profundamente. Marcados por ameaças dominantes de violência e de morte, os homens estão em busca de alguém que lhes dê serenidade e segurança. Mas onde se pode encontrar paz a não ser em Cristo, o inocente, que reconciliou os pecadores com o Pai?

No Calvário, a misericórdia divina manifestou o seu rosto de amor e de perdão por todos. No Cenáculo, depois da sua ressurreição, Jesus confiou aos Apóstolos a tarefa de ser ministros desta misericórdia, fonte de reconciliação entre os homens.

Santa Faustina Kowalska, na sua humildade, foi escolhida para anunciar esta mensagem de luz particularmente adequada para o mundo de hoje. É uma mensagem de esperança que convida a abandonar-se nas mãos do Senhor. "Jesus, confio em ti!", gostava de repetir a Santa.
Maria, Mulher da Esperança e Mãe de misericórdia, nos obtenha a graça de encontrarmos pessoalmente o seu Filho morto e ressuscitado. Faça com que sejamos artífices incansáveis da sua misericórdia e da sua paz.

Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs de língua portuguesa!

Desejo a quantos me ouvis as alegrias da Páscoa do Senhor, com confiança, serenidade e paz em especial aos peregrinos portugueses anunciados da Equipa de Casais de Nossa Senhora, de Lisboa; grupos de Pinhal Novo, Vale de Cambra, e os brasileiros da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, do Recife, para que todos, pela "novidade" de vida, sejais sempre testemunhas de Cristo, nossa Páscoa. Dou-vos a minha Bênção.

Saúdo com afecto os peregrinos e as famílias de língua espanhola. Em particular os Sacerdotes de Valência que celebram o Jubileu de Ouro, os Seminaristas de Barcelona, Getafe e Valência, os membros do "Grupo de amizade judaico-cristão", assim como os fiéis de Sueca, Tijuana, Cuautitlán, e todos os alunos dos diversos colégios aqui presentes. Convido-vos a todos a ser construtores incansáveis da paz que nos traz o Ressuscitado.

Queridos peregrinos Polacos!

Boa Páscoa! Aleluia! O domingo de Páscoa e a Oitava pascal é um período especial da alegria cristã. Esta alegria, que brota da fé na ressurreição, vos acompanhe sempre.

No próximo domingo celebraremos a solenidade da Misericórdia divina. Juntamente com os peregrinos no Santuário em Lagiewniki e com todos os devotos da Misericórdia repito como Santa Faustina: "Jesus, confio em Ti!". Ininterruptamente confio a Jesus misericordioso a Polónia e o mundo inteiro. Deus vos abençoe!

Saúdo de coração todos os peregrinos croatas aqui presentes. Sede bem-vindos!

Caríssimos, a alegria pascal, que nestes dias ressoa particularmente na Liturgia, possa permear toda a vossa vida, para que, com as vossas obras, testemunheis a esperança que nos deu Jesus com a sua Ressurreição. A vós e aos vossos entes queridos concedo a Bênção Apostólica. Louvados sejam Jesus e Maria!

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em especial saúdo os sacerdotes de Florença, acompanhados pelo seu Pastor o Cardeal Ennio Antonelli. Depois, saúdo os diáconos da Companhia de Jesus, aqui reunidos com os seus familiares, e os rapazes do Oratório "São João Bosco", de Gessate. Faço votos para que todos vós possais aderir cada vez mais a Cristo e ao seu Evangelho e ser seus anunciadores corajosos.

O meu pensamento dirige-se enfim aos jovens, aos doentes e aos novos casais.

Convido-vos, queridos jovens e em especial a vós, tão numerosos provenientes das diversas paróquias da Arquidiocese de Milão e que fazeis este ano a vossa "Profissão de fé" a renovar a fé no Salvador ressuscitado. Sede suas testemunhas entusiastas na Igreja e na sociedade. Queridos doentes, a luz da Ressurreição, que é conforto e apoio para quem crê, ilumine e torne fecunda a vossa existência quotidiana. E vós, caros jovens casais, tirai todos os dias do Mistério pascal a força espiritual para alimentar e fazer crescer espiritualmente a vossa família.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 21 de abril de 2004

Confiança em Deus face aos perigos

1. Retomamos hoje o nosso itinerário no âmbito das Vésperas com o Salmo 26, que a liturgia distribui em dois trechos diferentes. Seguiremos agora a primeira parte deste díptico poético e espiritual (cf. vv. 1-6) que tem como pano de fundo o templo de Sião, sede do culto de Israel. Com efeito, o Salmista fala explicitamente de "casa do Senhor", de "santuário" (v. 4), de "refúgio, habitação, casa" (cf. vv. 5-6). Aliás, no original hebraico estas palavras indicam mais precisamente o "tabernáculo" e a "tenda", ou seja, o próprio coração do templo, onde o Senhor se revela com a sua presença e com a sua palavra. Recorda-se também o "rochedo" de Sião (cf. v. 5), lugar de segurança e de refúgio, e é feita alusão à celebração dos sacrifícios de agradecimento (cf. v. 6).

Por conseguinte, se a liturgia é a atmosfera em que o Salmo está mergulhado, o fio condutor da oração é a confiança em Deus, tanto no dia da alegria como no tempo do receio.

2. A primeira parte do Salmo, que agora meditamos, está marcada por uma grande serenidade, fundada na confiança em Deus no dia tenebroso do assalto dos malvados. As imagens usadas para descrever estes adversários, que são o sinal do mal que corrompe a história, são de dois tipos. Por um lado, parece que há uma imagem de caça feroz: os malvados são como feras que avançam para se apoderar da sua vítima e para devorar a sua carne, mas resvalam e caem (cf. v. 2). Por outro lado, há o símbolo militar de um assalto realizado por um exército inteiro: trata-se de uma batalha que se alastra impetuosa, semeando terror e morte (cf. v. 3).

A vida do crente muitas vezes é submetida a tensões e contestações, por vezes também a uma recusa e até à perseguição. O comportamento do homem justo incomoda, porque ressoa como uma admoestação em relação aos prepotentes e pervertidos. Reconhecem isto sem meios termos os ímpios descritos no Livro da Sabedoria: o justo "tornou-se para nós uma condenação dos nossos sentimentos"; o justo "tornou-se uma viva censura para os nossos pensamentos; só o acto de o vermos nos incomoda, pois a sua vida não é semelhante à dos outros e os seus caminhos são muito diferentes" (2, 14-15).

3. O fiel tem consciência de que a coerência cria isolamento e até provoca desprezo e hostilidade numa sociedade que muitas vezes escolhe como estandarte a vantagem pessoal, o sucesso exterior, a riqueza, o prazer desenfreado. Contudo, ele não está só e o seu coração conserva uma paz interior surpreendente, porque como diz a maravilhosa "antífona" de abertura do Salmo "o Senhor é minha luz e salvação" (Ps 26,1). Repete continuamente: "de quem terei medo?... quem me assustará?... o meu coração não temerá... ainda assim terei confiança" (vv. 1-3).

Parece que quase ouvimos a voz de São Paulo que proclama: "Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós?" (Rm 8,31). Mas a tranquilidade interior, a fortaleza de ânimo e a paz são um dom que se obtém refugiando-se no templo, isto é, recorrendo à oração pessoal e comunitária.

4. Com efeito, o orante entrega-se nos braços de Deus e o seu sonho é expresso também por outro Salmo (cf. 22, 6): "habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida". Nela ele pedirá "para saborear o seu encanto" (Ps 26,4), contemplar e animar o mistério divino, participar na liturgia sacrifical e elevar os seus louvores ao Deus libertador (cf. v. 6). O Senhor cria à volta do seu fiel um horizonte de paz, que deixa fora o tumulto do mal. A comunhão com Deus é fonte de serenidade, de alegria, de tranquilidade; é como entrar num oásis de luz e de amor.

5. Ouçamos agora, como conclusão da nossa reflexão as palavras do monge Isaías, de origem síria, que viveu no deserto egípcio e faleceu por volta de 491. No seu Asceticon ele aplica o nosso Salmo à oração na tentação: "Se vemos os inimigos que nos circundam com a sua astúcia, isto é, com a acídia, quer porque enfraquecem a nossa alma no prazer, quer porque não contemos a nossa cólera contra o próximo quando ele age contra o seu dever, ou se oprimem os nossos olhos para os conduzir à concupiscência, ou se nos querem induzir a saborear os prazeres da gula, se fazem com que, para nós, a palavra do próximo seja como que um veneno, se nos fazem subestimar a palavra de outrem, se nos levam a fazer diferenças entre os fiéis dizendo: "Este é bondoso, aquele é maldoso": portanto, se todas estas coisas nos circundam, não desanimemos, mas ao contrário, como David, brademos com o coração firme, dizendo: "O Senhor é o baluarte da minha vida!" (Ps 26,1)" (Recueil ascétique, Bellefontaine, 1976, pág. 211).



Saudações

Saúdo cordialmente os peregrinos da Espanha e da América Latina, de maneira especial os Sacerdotes espanhóis que estão a realizar um curso de actualização; as jovens colaboradoras do Regnum Christi; os fiéis de San Frutos e os membros da associação cultural de Segóvia; e também o Colégio "Albert Camus", de Guadalajara, no México. Convido-vos a confiar em Deus, refúgio de paz.

É com carinho que dou as boas-vindas aos peregrinos oriundos de Kosice-Nad Jazerom e Valaliky, na República Eslovaca.
Estimados peregrinos, a vossa visita a Roma no tempo de Páscoa seja para cada um de vós uma ocasião de renovação religiosa autêntica. O Senhor ressuscitado vos acompanhe com a sua paz.
É de bom grado que vos abençoo, bem como as vossas famílias. Louvado seja Jesus Cristo!

Por fim, saúdo os jovens, os doentes e os novos casais. O Espírito de Cristo ressuscitado vos leve, caros jovens, a ser apóstolos corajosos do seu Evangelho; vos anime, dilectos doentes, a uma adesão serena aos desígnios divinos da salvação; vos torne, prezados novos casais, cada vez mais fiéis à missão que vos foi confiada tanto na Igreja como na sociedade.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 28 de abril de 2004

Oração do inocente perseguido



1. A Liturgia das Vésperas subdividiu em duas partes o Salmo 26, seguindo a própria estrutura do texto que é semelhante a um díptico. Proclamámos agora a segunda parte deste cântico de confiança que se eleva ao Senhor no dia tenebroso do ataque do mal. São os versículos 7-14 do Salmo: eles começam com um brado dirigido ao Senhor: "tem compaixão de mim e responde-me" (v. 7), porque expressam uma busca intensa do Senhor, com o doloroso receio de ser abandonado por ele (cf. vv. 8-9) e, por fim, apresentam aos nossos olhos um horizonte dramático onde os próprios afectos familiares vêm a faltar (cf. v. 10) enquanto neles se movem "inimigos" (v. 11), "adversários" e "falsas testemunhas" (v. 12).

Mas também agora, como na primeira parte do Salmo, o elemento decisivo é a confiança que o orante tem no Senhor, que salva na prova e dá apoio durante a tempestade. A este propósito, é bonito o apelo que no final o Salmista dirige a si próprio: "Confia no Senhor! Sê forte e corajoso e confia no Senhor!" (v. 14; cf. Sl 42, 5).

Também noutros Salmos se fazia sentir a certeza de que do Senhor se obtém fortaleza e esperança: "O Senhor protege os seus fiéis, mas castiga com rigor os orgulhosos. Tende coragem e fortalecei o vosso coração todos vós, que esperais no Senhor" (Ps 30,24-25). Já o profeta Oseias exorta Israel da seguinte forma: "guarda a misericórdia e a justiça, e espera sempre no teu Deus" (12, 7).

2. Contentamo-nos agora com realçar três elementos simbólicos de grande intensidade espiritual. O primeiro deles é o negativo do pesadelo dos inimigos (cf. Sl Ps 26,12). Eles são caracterizados como uma fera que "cobiça" a sua presa e depois, de maneira mais directa, como "falsas testemunhas" que parecem soprar pelo nariz a violência, precisamente como as feras diante das suas vítimas.

Por conseguinte, no mundo existe um mal agressivo, que encontra em Satanás o guia e o inspirador, como recorda São Pedro: "O vosso adversário, o demónio, como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar" (1P 5,8).

3. A segunda imagem ilustra de modo claro a confiança serena e fiel, apesar do abandono até por parte dos pais: "Ainda que meu pai e minha mãe me abandonem, o Senhor há-de acolher-me" (Ps 26,10).

Também na solidão e na perda dos afectos mais queridos, o orante nunca está totalmente sozinho porque Deus misericordioso se inclina sobre ele. O pensamento corre para um célebre trecho do profeta Isaías, que confere a Deus sentimentos de compaixão e de ternura mais do que maternas: "Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, eu nunca te esqueceria" (49, 15).

Recordemos a todas as pessoas idosas, doentes, esquecidas por todos, às quais ninguém jamais fará uma carícia, estas palavras do Salmista e do profeta, para que sintam a mão paterna e materna do Senhor acariciar silenciosamente e com amor os seus rostos sofredores e talvez assinalados pelas lágrimas.

4. Assim, chegamos ao terceiro e último símbolo, reiterado várias vezes pelo Salmo: "os meus olhos te procuram, é a Tua face que eu procuro, Senhor, não desvies de mim o teu rosto" (cf. vv. 8-9). Por conseguinte, é o rosto de Deus a meta da busca espiritual do orante. Por fim emerge uma certeza indiscutível, a de poder "contemplar a bondade do Senhor" (v. 13).

Na linguagem dos Salmos "procurar o rosto do Senhor" muitas vezes é sinónimo da entrada no templo para celebrar e experimentar a comunhão com o Deus de Sião. Mas a expressão inclui também a experiência mística da intimidade divina mediante a oração. Por conseguinte, na liturgia e na oração pessoal é-nos concedida a graça de intuir aquele rosto que nunca poderemos ver directamente durante a nossa existência terrena (cf. Êx Ex 33,20). Mas Cristo revelou-nos, de uma maneira acessível, o rosto divino e prometeu que no encontro definitivo da eternidade como nos recorda São João "o veremos tal como Ele é" (1Jn 3,2). E São Paulo acrescenta: "veremos face a face" (1Co 13,12).

5. Ao comentar este Salmo, o grande escritor cristão do terceiro século, Orígenes, assim anota: "Se um homem procurar o rosto do Senhor, verá a glória do Senhor de maneira revelada e, tendo-se tornado igual aos anjos, verá sempre o rosto do Pai que está no céu" (). E Santo Agostinho, no seu comentário aos Salmos, continua da seguinte forma a oração do Salmista: "Não procurei em Ti prémio algum que não esteja em Ti, mas o teu rosto. "É o Teu rosto, Senhor, que procuro". Insistirei com perseverança nesta busca; de facto, não procurarei algo de pouco valor, mas o Teu rosto, ó Senhor, para te amar gratuitamente, visto que nada encontro de mais precioso... "Não te afastes encolerizado do Teu servo", para que ao procurar-te, não me depare com outras coisas. Que pena pode ser mais grave do que esta para quem ama e procura a verdade do Teu rosto?" (Exposições sobre os Salmos, 26, 1, 8-9), Roma 1967, pp. 355 e 357).



Saudações

Saúdo com afecto os peregrinos e as famílias de língua espanhola. Em especial o grupo de fiéis de Granada (Espanha) e o da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, de Salta (Argentina). Encorajo-vos todos a encontrar a fortaleza e a serenidade na contemplação do rosto misericordioso de Cristo. Obrigado pela vossa atenção.

Dou calorosas boas-vindas aos visitantes e peregrinos de língua inglesa, presentes na Audiência de hoje. Saúdo de modo especial os participantes no Simpósio budista-cristão, bem como os visitantes da Igreja ortodoxa da Finlândia. É-me grato saudar também os vários grupos da Inglaterra, Coreia do Sul, Japão, Canadá e Estados Unidos da América. Sobre todos vós, invoco cordialmente a alegria e a paz no Senhor ressuscitado.

Saúdo com cordialidade os peregrinos francófonos, nomeadamente o grupo de confirmandos de Reims, o colégio de Nossa Senhora das Mínimas, de Lião, e todos os jovens. A vossa peregrinação a Roma vos leve a procurar com perseverança o rosto do Senhor, para dar um testemunho vivo no serviço aos vossos irmãos!

Caríssimos peregrinos holandeses e belgas! Faço votos para que a vossa visita aos lugares santos vos permita aproximar-vos das raízes da nossa civilização cristã. Concedo-vos de coração a Bênção Apostólica!

Saúdo cordialmente os peregrinos húngaros, de modo especial os que vieram de Szeged. Concedo-vos de todo o coração a Bênção Apostólica. Louvado seja Jesus Cristo!

Cordiais boas-vindas aos fiéis checos da Paróquia de Pribyslav! Rezo a Deus a fim de que infunda em vós o júbilo da Ressurreição e vos acompanhe com os seus numerosos dons. Com estes votos, é de bom grado que vos abençoo!

Saúdo de todo o coração os peregrinos eslovacos de Komárno. Irmãos e Irmãs, no próximo domingo será o Dia de oração pelas vocações sacerdotais. Peçamos ao Senhor que mande novos trabalhadores para a sua seara. Abençoo-vos de bom grado, assim como as vossas famílias. Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo os peregrinos de Crmuce, Domzale e Zagorje ob Savi, na Eslovénia. Santa Catarina de Sena, co-Padroeira da Europa, cuja festa celebraremos amanhã, vos alcance a perseverança na fé para que, também na comunidade dos povos europeus, possais dar testemunho de Cristo.

É com afecto que saúdo os peregrinos de língua italiana. Em particular, os fiéis de Manduria, acompanhados pelo seu Pastor, D. Marcello Semeraro; a peregrinação da Diocese de Isernia-Venafro, chefiada pelo Bispo D. Andrea Gemma; os alunos da Escola Secundária Estatal de Mortara; e os fiéis de Santo Antonino "in Premezzo". Desejo-vos a todos um tempo pascal repleto de serenidade e de paz.

Enfim, penso em vós, jovens, em vós, doentes, e em vós, novos casais.

Amanhã celebraremos a festa de Santa Catarina de Sena, Padroeira da Itália e da Europa. O exemplo desta grande Santa ajude cada um de vós a ser perseverante na fé e, em todas as situações, a dar testemunho generoso de Cristo e do seu Evangelho.



                                                                                  Maio de 2004

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 5 de maio de 2004

Cristo foi gerado antes de todas as criaturas

É o primogénito dos que ressuscitam dos mortos



1. Ouvimos o admirável hino cristológico da Carta aos Colossenses. A Liturgia das Vésperas propõe-no ao longo das quatro semanas nas quais ela se desenvolve e oferece-o aos fiéis como Cântico, representando-o na veste que talvez o texto tinha desde as suas origens. De facto, muitos estudiosos consideram que o hino poderia ser a citação de um cântico das Igrejas da Ásia menor, colocado por Paulo na Carta dirigida à comunidade cristã de Colossos, uma cidade que na época era florescente e muito povoada.

Mas o Apóstolo nunca foi a este centro da Frígia, uma região da actual Turquia. A Igreja local tinha sido fundada por um discípulo, Epafras, originário daquelas terras. Este é mencionado no final da Carta juntamente com o evangelista Lucas, "o querido médico", como lhe chamava São Paulo (4, 14), e com outra personagem, Marcos, "primo de Barnabé" (4, 10), talvez o homónimo companheiro de Barnabé e de Paulo (cf. Act Ac 12,25 Ac 13,5 Ac 13,13), que depois se tornou evangelista.

2. Visto que teremos a oportunidade de voltar várias vezes a falar sobre este Cântico, contentemo-nos agora com oferecer dele um olhar de conjunto e de recordar um comentário espiritual, elaborado por um famoso Padre da Igreja, São João Crisóstomo (IV séc. d.C.), célebre orador e Bispo de Constantinopla. No hino sobressai a grandiosa figura de Cristo, Senhor da criação. Como a divina Sabedoria criadora exaltada pelo Antigo Testamento (cf. por exemplo Pr 8,22-31), "Ele é anterior a todas as coisas e todas elas subsistem nele"; aliás, "todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele" (CL 1,16-17).

Por conseguinte, desenrola-se no universo um desígnio transcendente que Deus realiza através da obra do Filho. Proclama isto também o Prólogo do Evangelho de João quando afirma que "por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência" (1, 3). Também a matéria com a sua energia, a vida e a luz têm a marca do Verbo de Deus, "seu Filho predilecto"? (CL 1,13).A revelação do Novo Testamento lança uma nova luz sobre as palavras do sábio do Antigo Testamento, o qual declarava que "na grandeza e na beleza das criaturas se contempla, por analogia, o seu Criador" (Sg 13,5).

3. O Cântico da Carta aos Colossenses apresenta outra função de Cristo: Ele é também o Senhor da história da salvação, que se manifesta na Igreja (cf. Cl CL 1,18) e se cumpre no "sangue da sua cruz" (v. 20), fonte de paz e de harmonia para toda a vicissitude humana.

Por conseguinte, não é apenas o horizonte externo que está marcado pela presença eficaz de Cristo, mas também a realidade mais específica da criatura humana, ou seja, a história. Ela não está à mercê de forças cegas e irracionais mas, mesmo no pecado e no mal, está amparada e orientada por obra de Cristo para a plenitude. É assim que por meio da Cruz de Cristo toda a realidade se "reconcilia" com o Pai (cf. v. 20).

Desta forma, o hino apresenta um maravilhoso afresco do universo e da história, convidando-nos à confiança. Não somos um grão de pó inútil, disperso num espaço e num tempo sem sentido, mas fazemos parte de um sábio projecto que surgiu do amor do Pai.

4. Como anunciámos, passamos agora às palavras de São João Crisóstomo, para que seja ele a coroar esta reflexão. No seu Comentário à Carta aos Colossenses ele detém-se amplamente sobre este Cântico. No início, realça a gratuidade do dom de Deus "que nos tornou capazes de tomar parte na herança dos santos na luz" (v. 12). "Por que lhe chama "herança"?", interroga-se o Crisóstomo, e responde: "Para mostrar que ninguém pode obter o Reino com as próprias obras. Também aqui, como na maioria das vezes, a "herança" tem o sentido de "fortuna". Ninguém mostra um tal comportamento a ponto de merecer o Reino, mas tudo é dom do Senhor. Por isso ele diz: "Quando tiverdes cumprido todas as coisas, dizei: Somos servos inúteis. Fizemos tudo quanto devíamos"" ().

Esta gratuidade benevolente e poderosa emerge de novo mais adiante, quando lemos que por meio de Cristo todas as coisas foram criadas (cf. Cl CL 1,16). "Depende dele a substância de todas as coisas explica o Bispo. Não só as fez passar do não-ser para o ser, mas é Ele quem as ampara, de forma que, se fossem subtraídas à sua providência, pereceriam e dissolver-se-iam... Dependem dele: com efeito, o próprio facto de se inclinarem para Ele é suficiente para as sustentar e fortalecer" ().

E com maior razão é sinal de amor gratuito tudo o que Cristo realiza para a Igreja, da qual é a Cabeça. Neste ponto (cf. v. 18), explica o Crisóstomo, "depois de ter falado da dignidade de Cristo, o Apóstolo fala também do seu amor pelos homens: "Ele é a cabeça do seu corpo, que é a Igreja", querendo mostrar a sua comunhão íntima connosco. De facto, Aquele que está tão alto e é superior a todos, uniu-se àqueles que estão em baixo" ().



Saudações

Caros peregrinos lituanos. Desejo-vos de coração os copiosos dons de Deus, para que possais encontrar constantemente em Cristo ressuscitado o sentido e a alegria da vossa vida. Acompanho-vos todos com a minha oração e bênção.
Louvado seja Jesus Cristo!

Dou as boas-vindas aos peregrinos checos da Academia das Ciências, de Praga. Amanhã celebraremos a festa de São João Sarkander. Este Sacerdote soube viver do Mistério pascal: o Salvador foi o seu vigor até no martírio. Que também vós possais haurir força da Cruz de Cristo e da Ressurreição.
Abençoo-vos a todos do íntimo do coração.
Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo os meus compatriotas. No próximo sábado vai ser celebrada na Polónia a solenidade de Santo Estanislau, Bispo e Mártir. Dirijo-me desde já, em peregrinação espiritual, a Vavel e a Skalka; e à protecção deste Padroeiro confio a nossa Pátria e a sorte de todos os polacos, na pátria e no estrangeiro. O martírio de Santo Estanislau fortaleça a fé de todos e seja o baluarte da ordem moral na vida pessoal e social. Santo Estanislau, nosso Padroeiro, interceda por nós!
Louvado seja Jesus Cristo!

Agora, saúdo cordialmente os peregrinos de língua italiana; dirijo um pensamento especial aos Oficiais e aos alunos da Escola Militar de "Nunziatella" em Nápoles, aos fiéis do Projecto "Mundos Solidários" de Cremona, e aos alunos dos Institutos compreensivos "Pirandello", de Linguaglossa e "D'Avino", de Striano.

Além disso, saúdo os jovens, os doentes e os novos casais, enquanto os convido a renovar a devoção a Nossa Senhora neste mês de Maio, que há pouco se iniciou.

A vós, dilectos jovens, faço votos a fim de que conheçais mais profundamente Maria, para a acolher como Mãe espiritual e modelo de fidelidade a Cristo. Confio-vos, estimados doentes, à Salus infirmorum: a sua proximidade vos ajude a viver com amor paciente também as horas difíceis da provação. E vós, prezados novos casais, aprendei da Virgem de Nazaré o estilo evangélico da família, caracterizado pelo amor fiel e sincero.




AUDIÊNCIAS 2004