DIscursos João Paulo II 2003

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR ALEXANDER D. CHIKVAIDZE


NOVO EMBAIXADOR DA GEÓRGIA


JUNTO DA SANTA SÉ


15 de Maio de 2003

Excelência


É com imenso prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano, no início da sua missão como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Geórgia junto da Santa Sé. A minha visita ao seu País, realizada em 1999, constitui uma alegria especial para mim. É com satisfação que me recordo do entusiasmo com que fui recebido e do ardente espírito ecuménico que tive a oportunidade de compartilhar. Peço-lhe que tenha a amabilidade de transmitir ao Presidente da República, Sua Excelência o Senhor Shevardnadze, assim como ao governo e ao povo da sua nobre terra, o meu agradecimento pelos seus bons votos, que retribuo, assegurando-lhes a minha oração pela paz e o bem-estar de toda a Nação.

Os ideais da paz, da liberdade e da justiça, a que Vossa Excelência fez expressamente referência, constituem componentes essenciais e interdependentes do progresso autêntico de qualquer nação. Contudo, o verdadeiro desenvolvimento não deve ser desvinculado da sua ligação intrínseca com os direitos humanos (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 33). Como o povo da Geórgia sabe muito bem, quando são negados estes direitos inatos na própria natureza da pessoa humana não só se impede o crescimento económico da nação, mas debilita-se também a sua própria cultura, bloqueando o desenvolvimeto do espírito nacional. Contudo, apesar das várias formas de opressão por que a Geórgia teve de passar, a identidade e a unidade da Nação sobreviveram e, hoje, estão a florescer de novo.

Enquanto a Geórgia continua a comprometer-se na delicada tarefa de formar o seu espírito nacional, dever-se-ia ter sempre em mente o facto de que o desenvolvimento humano não se pode reduzir unicamente aos seus elementos económicos. A "mera acumulação de bens e de serviços, mesmo que seja para o benefício da maioria, não é suficiente para a realização da felicidade do homem" (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 28). Com efeito, a experiência da história mostra que, independentemente da ideologia política predominante, se as leis e as instituições da vida civil não forem orientadas para o verdadeiro bem da pessoa humana, os símbolos da chamada libertação económica podem, de facto, ocultar injustiças de uma pobreza e de uma fragmentação social cada vez mais vastas. Diante de tais desigualdades, geralmente causadas pela exclusão dos membros mais vulneráveis da sociedade do acesso aos recursos e aos serviços destinados para todos, devemos estar conscientes de que os dons que recebemos de Deus nos foram concedidos a fim de podermos fecundá-los ainda mais (cf. Mt Mt 25,26-28). Desta maneira, é em conformidade com a vontade de Deus Criador, que devemos comprometer-nos em benefício do pleno desenvolvimento do nosso próximo: o progresso de todo o ser humano e de todas as pessoas (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 30).

No passado, a cristandade ofereceu profundas contribuições para a formação da Geórgia. E deve agir da mesma forma também no presente e no futuro. A partir da pregação de São Nino, na primeira parte do século IV, a cristandade encontrou a sua expressão na cultura georgiana e salvaguardou a identidade da Nação, que foi ameaçada com muita frequência. Foi por este motivo que, durante a minha visita ao seu País, afirmei que a fé em Jesus Cristo constitui a "verdadeira âncora" da Geórgia (Discurso na cerimónia de chegada, Tbilisi, 8 de Novembro de 1999). Esta fé, que manteve em harmonia as vigorosas aspirações nacionais à unidade, esteve presente e foi celebrada de numerosas maneiras na grandiosa herança espiritual da Geórgia. E o que é ainda mais importante, esta herança conservou com firmeza o grande tesouro de uma noção unificada e compreensiva da pessoa humana e do seu destino. Com estes recursos, a Geórgia pode oferecer uma contribuição importante para a estabilidade de toda essa região. Situada na encruzilhada entre a Europa e a Ásia, a Geórgia encontra-se numa posição singular para inspirar uma nova cultura do espírito, dando testemunho de uma civilização do amor, fundamentada na mensagem do Evangelho.

A cooperação e o exemplo das Igrejas cristãs é crucial para alcançar a unidade nacional, necessária se a Geórgia quiser assumir o lugar que lhe compete na nova Europa. Fiéis à vontade do Senhor, que desejava que os seus discípulos fossem um só na unidade (cf. Jo Jn 17,21), os cristãos georgianos devem lutar incansavelmente, em ordem a permanecer unidos no testemunho comum do Senhor e do seu Evangelho. Isto exige que o diálogo ecuménico entre as Igrejas, cujo progresso teológico não pode ser subestimado, seja promovido ainda mais através de gestos concretos de generosidade e de justiça, especialmente no que diz respeito ao direito à liberdade de consciência, expresso de maneira extremamente sublime na liberdade de culto. É a fidelidade à verdade que torna anómalos e, na realidade, mesmo contraditórios, quaisquer obstáculos colocados ao longo do caminho do culto religioso autêntico e da preservação do relativo património cultural. A este propósito, estou persuadido de que a recente declaração do Senhor Presidente Shevardnadze, sobre a intolerância religiosa, reflecte o pensamento de todos os homens e mulheres de boa vontade.

Senhor Embaixador, agradeço-lhe as suas amáveis palavras de reconhecimento por tudo aquilo que a Igreja católica está a realizar em benefício do povo da Geórgia, por intermédio das suas organizações humanitárias destinadas à assistência aos grupos de pessoas mais vulneráveis. A missão caritativa da Igreja, que é a do serviço a todos os povos e particularmente aos mais pobres e às pessoas que sofrem, sobressai no centro do seu testemunho do amor de Cristo, que a todos abraça. O seu desejo mais ardente consiste em alargar, na medida do possível, o "compromisso de um amor activo e concreto por todos os seres humanos" (Novo millennio ineunte NM 49).

Contudo, a caridade cristã é sempre mais do que a simples assistência humanitária. Para a Igreja católica, as suas obras de caridade estão inseparavelmente ligadas à celebração da Eucaristia, da qual ela tira o seu poder espiritual, necessário para alimentar a vida do seu povo e cumprir a missão que lhe é própria (cf. Ecclesia de Eucharistia EE 22). Deste modo, enquanto a pequena comunidade católica que está na Geórgia continua a congregar-se para adorar o Senhor, assim também o seu serviço incondicional por todos os georgianos há-de prosperar, manifestando os seus gestos de paz e de esperança em favor dos cidadãos mais necessitados da sua Nação.
Excelência, estou convicto de que a missão diplomática que o Senhor Embaixador começa no dia de hoje fortalecerá os vínculos de compreensão e de cooperação já existentes entre a República da Geórgia e a Santa Sé. Asseguro-lhe que os vários Departamentos da Cúria Romana estão disponíveis para o ajudar no cumprimento dos seus deveres. Com os meus sinceros bons votos, invoco sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo da Geórgia, as Bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR MICHEL RITTIÉ


PRIMEIRO EMBAIXADOR DE VANUATU


JUNTO DA SANTA SÉ


15 de Maio de 2003



Senhor Embaixador

1. É com prazer que lhe dou as boas-vindas, por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Vanuatu junto da Santa Sé.

As palavras que vossa Excelência acaba de me dirigir testemunham o interesse dedicado pelas autoridades do seu país ao desenvolvimento de relações de estima e de respeito entre a República de Vanuatu e a Sé apostólica. Por seu intemédio, é com prazer que desejo formular a Sua Excelência o Senhor John Bennett Bani, Presidente da República, os bons votos pela sua pessoa e pelo cumprimento do seu alto cargo ao serviço da nação. Agradeço igualmente a Sua Excelência o Senhor Edward N. Natapei, Primeiro Ministro, as respeitosas saudações com que me honrou. Por fim, saúdo com afecto todo o povo de Vanuatu.

2. Vossa Excelência recordou a rica herança histórica do arquipélago de Vanuatu e a sua posição particular na Oceânia, elementos que modelaram a nação para fazer dela hoje uma sociedade multicultural onde homens, na grande diversidade das suas origens nacionais, das suas línguas, da suas expressões religiosas e dos valores que os animam, têm a preocupação de edificar uma sociedade fraterna. Oxalá os responsáveis da sua jovem República se preocupem por que esta bonita diversidade esteja cada vez mais ao serviço da unidade nacional e se exprima na vida política e social, para que todos os cidadãos possam exercer os seus legítimos direitos e participar nas decisões políticas que orientam a vida comum! O caminho de um "viver juntos" verdadeiramente fecundo baseia-se na preocupação pacientemente partilhada de construir uma nação em que as características de cada um estejam ao serviço do bem comum, onde a vontade sincera de construir um mundo unido se exprime de maneira visível nas escolhas e nas orientações da sociedade, e onde a vontade de trabalhar incansavelmente pela justiça e pela igualdade tenha em consideração as aspirações de todos os habitantes do país, sobretudo dos mais desfavorecidos. Isto não pode ser realizado sem um esforço real que tenha como finalidade o justo respeito das pessoas e dos bens, a repartição equitativa das riquezas e das responsabilidades, assim como a preocupação permanente de preservar o meio-ambiente e os recursos naturais. Não duvido de que os esforços já empreendidos pelo povo de Vanuatu e pelos seus dirigentes darão frutos, com vista a permitir um desenvolvimento integral de todos os cidadãos e o fortalecimento da solidariedade entre todos. Assim, a República de Vanuatu poderá igualmente participar na construção e na consolidação da concórdia nessa região.

3. Senhor Embaixador, apreciei a abertura do seu país às questões relativas à vida do mundo, e o seu desejo de participar activamente nas actividades da Comunidade internacional. Esta vontade dá testemunho de uma maturidade política e humana, que considera perspicazmente a vocação de uma nação para se tornar parceira de uma nova estabilidade internacional. No momento em que conflitos mortais continuam a gerar violência e a enfraquecer os equilíbrios mundiais, é tarefa de todas as nações, sem excepção, enfrentar o desafio da paz, e não negligenciar qualquer esforço para que a paz seja efectiva e duradoura no mundo. Neste esforço, não se deve excluir possibilidade alguma. De facto, é fundamental que todas as nações, seja qual for o peso que têm na configuração mundial, sejam reconhecidas como protagonistas do crescimento e do bem-estar de todos, no combate permanente empreendido contra os flagelos que ameaçam a sobrevivência da humanidade, a tranquilidade das pessoas e a segurança das sociedades (cf. Discurso ao Corpo Diplomático, em 2003). Por conseguinte, convido a Comunidade internacional a encorajar e a valorizar os esforços realizados pelas pequenas nações para participarem na edificação da paz, tão fundamental para o crescimento humano e espiritual do mundo. Faço votos também para que o desenvolvimento das relações culturais e comerciais, que a República de Vanuatu estabeleceu inclusive com outras nações ou Organismos internacionais, favoreça no seu País o progresso económico e a justiça social, condições fundamentais para servir o bem-estar material e espiritual do seu povo.

4. No espírito de diálogo e de colaboração fraterna, no âmbito que lhe compete e segundo a sua própria vocação, a Igreja católica no seu país, também através do empenho dos seus membros, deseja participar activamente neste desenvolvimento integral das pessoas. E ao pôr-se ao serviço de todos nos vários âmbitos, como a saúde, a acção social e caritativa, e sobretudo na educação, ela deseja favorecer o progresso da justiça e da convivência. Preocupando-se pelo respeito da liberdade e das convicções de cada um, ela deseja prosseguir um diálogo sereno e respeitoso com todas as comunidades humanas e religiosas que estão presentes no arquipélago, e cumprir desta forma a missão que recebeu de Cristo. Recusando qualquer forma de divisão e as oposições que põem em perigo a consecução do bem comum, ela está chamada a trabalhar com fervor para o estabelecimento de uma verdadeira "civilização do amor".

5. O Senhor Embaixador permitir-me-á saudar, por seu intermédio, a comunidade católica pesente no seu País, e sobretudo o seu Pastor, D. Michel Visi, Bispo de Porto Vila. Oxalá os Pastores e os fiéis sigam o caminho de Cristo, proclamem a sua verdade e vivam da sua vida, para que os povos do Pacífico, que lutam pela sua unidade e identidade, sintam uma preocupação cada vez maior pela paz, a justiça e o respeito pela criação (cf. Exortação Apostólica Ecclesia in Oceania, n. 8)!

6. No momento em que começa a sua missão junto da Sé Apostólica, apresento-lhe os meus melhores votos pela sua feliz realização. Tenha a certeza de que encontrará sempre nos meus colaboradores o acolhimento atento e comprensivo de que poderá precisar.

Sobre Vossa Excelência, a sua família, todo o povo de Vanuatu e os seus dirigentes, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR MIHAIL LAUR


PRIMEIRO EMBAIXADOR DA MOLDOVA


JUNTO DA SANTA SÉ


15 de Maio de 2003




Senhor Embaixador

1. É-me grato receber Vossa Excelência nesta solene ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Moldova junto da Santa Sé.

Sensibilizaram-me as palavras que Vossa Excelência me dirigiu e ficar-lhe-ia grato se se dignasse transmitir as minhas saudações ao Presidente da República, Sua Excelência o Senhor Vladimir Voronine. Saúdo muito cordialmente todo o povo moldovo e formulo fervorosos votos por que, graças aos seus esforços de solidariedade e de concórdia entre todos os componentes da nação, ele encontre os caminhos de um verdadeiro desenvolvimento humano e espiritual.

2. Agradeço-lhe a apresentação que fez da situação do seu País, independente desde 1991, que se esforça por encontrar o seu lugar na Europa e no conjunto das nações.

Depois da trágica experiência das duas guerras mundiais no século que há pouco findou, o milénio que começa não pôde evitar nem o desencadeamento do terrorismo nem o recurso à guerra.

Como recordei na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2003, por ocasião do quadragésimo ano da Pacem in terris, a Encíclica do meu Beato Predecessor, o Papa João XXIII, a construção da paz é uma obra de grande duração, nunca completada, que se baseia "nas quatro exigências precisas do espírito humano: a verdade, a justiça, o amor e a liberdade" (n. 3). Eis por que ela deve mobilizar as energias dos responsáveis políticos das nações, para lutar contra o terrorismo e contra a sua violência cega, para denunciar o comércio das armas e a competição militar entre os Estados, e também para encorajar a reconciliação entre os povos onde quer que haja focos de tensão. "A negociação honesta, paciente e respeitosa dos direitos e das aspirações das partes em causa pode abrir o caminho para uma resolução pacífica das situações mais complexas" (Mensagem por ocasião do cinquentenário do fim da segunda guerra mundial na Europa, n. 9); ela deve ser sempre preferida no lugar da guerra com todos os males que origina, como vemos com muita frequência.

Juntamente com todos os parceiros de boa vontade, a Santa Sé deseja dar o seu contributo em favor da unidade do Continente europeu, para que os povos que dele fazem parte se desenvolvam harmoniosamente, na cooperação e no respeito recíproco, e para que estejam abertos aos intercâmbios com as outras nações do mundo, a fim de que cada um beneficie dos frutos da paz e do progresso.

3. Vossa Excelência realçou como são importantes para a sua nação os valores europeus assim como as suas raízes cristãs, e exprimiu a sua gratidão à Igreja católica pelo apoio que ela oferece à consolidação da paz, sobretudo pelo contributo que dá, com vista à resolução pacífica dos conflitos, e pela sua acção em favor dos direitos humanos. Fiquei sensibilizado com esta atenção.
A Igreja funda o seu compromisso em favor do homem e da sua dignidade na Revelação da qual é depositária: a tradição bíblica ensina que o homem é criado à imagem de Deus, animado pelo espírito divino e capaz, apesar da mancha do pecado, de agir livremente com vista ao bem (cf. Gaudium et spes, GS 17). É à luz desta convicção de fé, e também com a sabedoria da experiência que vem das lições da história, que a Igreja aprendeu a considerar a vida humana "como a realidade mais sagrada e mais intangível existente no mundo" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 2001, n. 19). É nosso dever defendê-la e respeitá-la. Também, no começo deste novo milénio, a Igreja católica deseja encorajar os homens a edificar uma civilização do amor, que privilegie os valores do encontro entre as pessoas e entre as culturas, assim como o diálogo entre os protagonistas da sociedade civil.

Para edificar uma sociedade verdadeiramente humana, que honre a dignidade de cada um e permita um diálogo autêntico entre todos os seus componentes, é necessário proporcionar uma formação aos cidadãos, em particular aos jovens. É a educação que lhes permitirá adquirir um verdadeiro humanismo, aberto à dimensão ética e religiosa, a uma justa concepção da democracia e dos direitos humanos, ao conhecimento e estima das culturas e dos valores espirituais das diversas civilizações. Faço votos por que os responsáveis das nações e das pessoas que participam nesta nobre missão educativa estejam imbuídos de um espírito de serviço ao homem.
4. Senhor Embaixador, nesta solene ocasião, sinto-me feliz por saudar, por intermédio da sua pessoa, os membros da comunidade católica da Moldova. Unidos à volta do seu Bispo e dos sacerdotes que estão ao seu serviço, ela mostra um verdadeiro dinamismo e sei que mantém relações fraternas com os membros das outras Igrejas e comunidades eclesiais. Oxalá ela mantenha vivo o desejo de unidade entre os cristãos e para isso contribua com o seu dinamismo! A comunidade católica mantém também boas relações com as Autoridades civis e com isso me alegro; faço votos por que, mediante a sua participação activa na vida do país e mediante a solidariedade com os mais pobres, os católicos sintam cada vez mais a alegria de servir e de partilhar, cooperando também para o desenvolvimento humano e espiritual do seu País.

5. No momento em que Vossa Excelência começa a sua missão junto da Santa Sé, apresento-lhe os meus ardentes votos para o cumprimento da sua missão. Desejo garantir-lhe o apoio cordial e atento que encontrará sempre nos meus colaboradores.

Invoco de todo o coração sobre Vossa Excelência e a sua família, bem como sobre o povo da Moldova e os seus dirigentes, abundantes Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À SENHORA FAUZIA MUFTI ABBAS


EMBAIXADORA DO PAQUISTÃO


JUNTO DA SANTA SÉ


15 de Maio de 2003




Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano, no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais que a designam nova Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República Islâmica do Paquistão junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as cordiais saudações que me expressou em nome do Presidente da República, do governo e do povo do Paquistão. A minha grande esperança é de que a amizade já existente entre o seu País e a Santa Sé se aprofunde ainda mais e se caracterize por outros sinais de confiança e de respeito recíprocos. Peço-lhe que transmita ao Presidente, Sua Excelência o Senhor Musharaf, bem como aos cidadãos da sua Nação, a certeza das minhas preces pela paz e pelo bem-estar de todo o País.

Agradeço-lhe as suas referências em reconhecimento dos esforços incansáveis, realizados pela Igreja, em ordem a promover a paz e a impedir os conflitos no nosso agitado mundo de hoje. Sem dúvida, a Santa Sé compartilha a aspiração que o Paquistão alimenta, com vista a lançar os sólidos fundamentos da paz sobre os princípios morais que encontram a sua fonte na dignidade fundamental da pessoa humana, que é um dom de Deus. Com efeito, a actividade levada a cabo pela Santa Sé no seio da comunidade internacional deriva tanto desta visão específica da pessoa humana, como da convicção de que, quando ela se debilita ou é abandonada, faz vacilar o próprio fundamento da sociedade humana. Trata-se de uma perspectiva que exige o desenvolvimento da liberdade alcançada mediante a garantia dos direitos humanos fundamentais. E os que agora menciono não são os últimos destes direitos: o acesso incondicional ao mercado do trabalho, a plena participação na vida civil democrática e a liberdade da prática religiosa. Cada um deles confirma a igualdade de todos os cidadãos.

As recentes guerras no Afeganistão e no Iraque chamaram, como jamais aconteceu, a atenção dos meios de comunicação internacionais para o Paquistão. Tendo como pano de fundo estas tragédias humanas, surgiu uma oportunidade na realidade, um dever para a sua Nação, que consiste em contribuir em grande medida para a paz, a que todo o género humano aspira. Os recentes esforços realizados pelo governo no seu País, em ordem a desenraizar o mal perpetuado por certos grupos de fundamentalistas, orientados para o terrorismo, foram justamente reconhecidos pelo mundo inteiro. De maneira semelhante, os actuais gestos e propostas corajosos feitos por parte do Paquistão, que estão a dar nova vida ao diálogo em favor da paz com a Índia, trouxeram uma renovada esperança ao processo de aproximação mútua e à redução das enormes quantias de dinheiro gastas para a manutenção de uma presença militar de alto nível na região da Cachemira. Estas iniciativas trazem um sentido de alívio não apenas ao seu próprio povo, mas também à comunidade internacional no seu conjunto. Estas medidas são consideradas como passos positivos rumo à construção de uma civilização de amor, em que todos os povos possam sentir-se seguros e viver em paz.

Além da participação responsável e desejosa de uma nação nos acordos e nas negociações destinados a promover melhores relações internacionais, o desenvolvimento autêntico exige também a aderência ao plano de um verdadeiro progresso nacional. Este programa respeitará sempre os direitos e as legítimas aspirações do povo, inclusivamente no que se refere aos grupos minoritários. E exige também um governo transparente e um sistema judicial imparcial. Sem estes fundamentos da sociedade civilizada, a esperança do progresso, a que cada ser humano aspira, permancerá ilusória. Foi por este motivo que, em numerosas circunstâncias, afirmei que a corrupção, tanto por parte dos políticos, como dos oficiais judiciários ou dos administradores e dos burocratas (cf. Ecclesia in Asia, ), constitui um flagelo e uma afronta contra a dignidade inviolável de cada pessoa humana e impede o desenvolvimento social, económico e cultural de um país.

Excelência, é com prazer que reconheço a considerável reforma política que, recentemente, foi realizada no Paquistão, com vista a aperfeiçoar a vida civil da Nação. A abolição do sistema de eleitorados separados e da preservação da atribuição de cadeiras reservadas contribuiu em grande medida para restabelecer a confiança de todos os paquistaneses e não apenas dos cidadãos das minorias étnicas e religiosas nos processos eleitorais provinciais e nacionais. Esta tomada de posição foi elogiada publicamente, entre outros, pelos membros da Conferência Episcopal do seu País. Contudo, deve observar-se ainda que as injustiças que continuam a ser sentidas, de maneira particular pela minoria cristã que vive na sua Nação, constitui uma diminuição do bem-estar geral da Nação. As graves dificuldades que as chamadas Leis da Blasfémia causam, e os episódios de violência e de vandalismo perpetrados contra os cristãos e as suas propriedades estão a ser oportunamente documentados. Além disso, há também as questões insolúveis da desigualdade, no que se refere ao acesso ao mundo do trabalho e no que diz respeito ao tratamento dos grupos minoritários nas instituições públicas, quer eles sejam alunos nas escolas ou cidadãos que se devem apresentar diante de um tribunal judicial. A garantia constitucional dos direitos civis e religiosos deve reflectir-se nas políticas governamentais relativas ao mundo do trabalho e dos serviços públicos em geral, tornando-se um exemplo a ser imitado pelos outros sectores da vida pública. Sem a prática concreta do reconhecimento dos direitos humanos, o crescimento de qualquer sociedade está destinado a ficar paralisado.

No seu serviço em prol da família humana, a Igreja católica está preparada para atingir todos os membros da sociedade paquistanesa, sem qualquer distinção, procurando edificar juntamente com eles uma civilização de amor fundamentada nos valores da paz, da justiça, da solidariedade e da liberdade, comuns a todas as pessoas. Com uma maior participação dos missionários na vida da Igreja, as suas escolas e os seus centros de assistência médica poderiam contribuir de forma ainda mais vasta para os programas de desenvolvimento humano do País. Estou convencido de que a Senhora Embaixadora pode contar com a Igreja para continuar a trabalhar pelo progresso autêntico da sociedade paquistanesa, de maneira especial através da sua assistência aos pobres e do alívio às pessoas que sofrem.

Vossa Excelência começa a sua missão num momento da história em que a comunidade internacional está a olhar para o Paquistão com grandes expectativas e altas esperanças de progresso, em ordem a um desenvolvimento pacífico, tanto no campo nacional como a nível internacional. Asseguro-lhe o apoio da Santa Sé em tudo aquilo que serve para promover o bem comum da humanidade. Os diversos Departamentos da Cúria Romana estão prontos para a ajudar no cumprimento dos seus deveres, e estou certo de que o seu serviço revigorará os laços de entendimento e de cooperação entre o Paquistão e a Santa Sé. Sobre a Senhora Embaixadora, a sua família e os seus compatriotas, invoco cordialmente as abundantes Bênçãos de Deus Omnipotente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA SOLENE AUDIÊNCIA A DOZE NOVOS


EMBAIXADORES JUNTO DA SANTA SÉ


Quinta-feira, 15 de Maio de 2003





Excelências

1. Dou-vos as boas-vindas no momento em que apresentais as Cartas que vos acreditam como Embaixadores extraordinários e plenipotenciários dos vossos respectivos países: Austrália, Zimbábue, Síria, Trindade e Tobago, Etiópia, Letónia, Ilhas Fiji, Burundi, Geórgia, Vanuatu, Moldova e Paquistão. Agradeço-vos as palavras cordiais que me transmitis-tes da parte dos vossos Chefes de Estado; retribuo, pedindo-vos a amabilidade de lhes exprimir os meus deferentes votos pelas suas pessoas e pela nobre missão que desempenham ao serviço dos seus países. A vossa presença oferece-me também a ocasião de saudar cordialmente as Autoridades civis e religiosas dos vossos países, assim como todos os vossos compatriotas, transmitindo-lhes os meus votos mais sinceros.

2. O nosso mundo vive um período difícil, marcado por numerosos conflitos, dos quais vós sois testemunhas atentas; isto preocupa muitos homens e convida os Responsáveis das Nações a comprometerem-se cada vez mais em favor da paz. Nesta perspectiva, é importante que a diplomacia encontre a nobreza da sua origem. De facto, a atenção dedicada às pessoas e aos povos, bem como a preocupação pelo diálogo, a fraternidade e a solidariedade, estão na base da actividade diplomática e das instituições internacionais encarregadas de promover em primeiro lugar a paz, que é um dos bens mais preciosos para os indivíduos, para as populações e para os próprios Estados, cujo desenvolvimento duradouro pode ser garantido unicamente pela segurança e pela concórdia.

No ano em que festejamos o quadragésimo aniversário da encíclica Pacem in terris do Beato João XXIII, que foi também um diplomata ao serviço da Santa Sé nos anos atormentados da segunda guerra mundial, é particularmente oportuno ouvir de novo o convite que ele fez para que o caminho social se baseie em "quatro pilares": a preocupação pela verdade, pela justiça, pelo amor e pela liberdade. Não se pode instaurar a paz sem considerar as pessoas e os povos; ela edifica-se quando todos se tornam parceiros e protagonistas da edificação da sociedade nacional.

Depois do período dos grandes conflitos mundiais, a comunidade internacional dotou-se de organismos e de legislações específicas, para impedir que rebentassem novas guerras, que matam pessoas civis inocentes, devastando regiões e deixando feridas muito difíceis de curar. As Nações Unidas estão chamadas a ser, como nunca, um lugar central das decisões que se referem à reconstrução dos países, e as organizações humanitárias são convidadas a empenhar-se de maneira renovada. Isto fará com que os povos interessados assumam a responsabilidade do seu futuro, permitindo-lhes passar do medo à esperança, da desordem ao compromisso na construção do seu futuro. É também uma condição indispensável para instaurar a confiança no seio de um país.

Por fim, faço apelo a todas as pessoas que professam uma religião, para que o sentido espiritual e religioso seja fonte de unidade e paz, e jamais constitua motivo de oposição entre os homens. Não posso deixar de recordar as crianças e os jovens, que normalmente são os que mais sofrem as consequências dos conflitos. Tendo grandess dificuldades em esquecer o que viveram, podem ser tentados pela espiral da violência. É nosso dever preparar-lhes um futuro de paz numa terra de solidariedade fraterna.

Estas são algumas das preocupações da Igreja católica que eu queria partilhar convosco esta manhã; Vossas Excelências sabem quanto a Igreja está empenhada na vida internacional, nas relações entre os povos e no apoio humanitário, que são expressões da sua missão primordial: manifestar a proximidade de Deus a todos os homens.

4. Durante a vossa nobre missão junto da Santa Sé, tereis a possibilidade de descobrir mais concretamente a sua acção. Apresento-vos hoje os meus melhores votos para a vossa missão. Invoco a abundância das Bênçãos divinas para vós, as vossas famílias, os vossos colaboradores e para as nações que representais.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA COMUNIDADE


DA PONTIFÍCIA ACADEMIA ECLESIÁSTICA


Quinta-feira, 15 de Maio de 2003




Senhor Presidente
Estimados Sacerdotes alunos
da Pontifícia Academia Eclesiástica

1. Estou-vos grato por esta visita e saúdo-vos a todos com afecto. Saúdo em primeiro lugar o Presidente, o Arcebispo Justo Mullor Garcia, e agradeço-lhe, além das palavras que me dirigiu em nome dos presentes, a diligência e a generosidade com que se dedica todos os dias à sua empenhativa tarefa. Faço extensivos estes meus sentimentos de reconhecimento a todos os que, de várias formas e com diversas funções, o coadjuvam na obra de formação.

Saúdo-vos de maneira especial a vós, queridos alunos. Alguns de vós completam daqui a pouco o curriculum académico e preparam-se para empreender um serviço directo na Sé Apostólica. Formulo-vos fervorosos bons-votos de um ministério fecundo e peço ao Senhor que vos acompanhe em cada momento da vossa existência.

2. Caríssimos alunos, já tive a oportunidade, noutras ocasiões, de realçar a importância desta vossa missão "peculiar", que vos levará para longe das vossas famílias, oferecendo-vos, ao mesmo tempo, a oportunidade de entrar em contacto com numerosas e diversas realidades eclesiais e sociais.


DIscursos João Paulo II 2003