DIscursos João Paulo II 2003

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA


DA CONGREGAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS


24 de Maio de 2003




Senhores Cardeais
Veneráveis Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É com afecto que recebo e saúdo cada um de vós, que participais na Assembleia Plenária da Congregação para a Evangelização dos Povos. Saúdo, em primeiro lugar, o Cardeal Crescenzio Sepe, Prefeito da vossa Congregação, e estou-lhe grato pelas palavras que me dirigiu em vosso nome. Juntamente com ele, saúdo os Secretários, o Subsecretário e os colaboradores deste Dicastério; além disso, saúdo os Cardeais, os Bispos, os religiosos, as religiosas e todos os presentes.

Durante os trabalhos da Assembleia Plenária, abordastes um aspecto importante da missão da Igreja: "A formação nos territórios de missão", com referência aos sacerdotes, seminaristas, religiosos, religiosas, catequistas e leigos comprometidos nas actividades pastorais. Trata-se de um tema que merece toda a vossa atenção.

2. A urgência de preparar apóstolos para a nova evangelização foi confirmada pelo Concílio Vaticano II, assim como pelos Sínodos dos Bispos, realizados ao longo destes anos. Dos trabalhos das Assembleias sinodais surgiram significativas Exortações Apostólicas, entre as quais me limito a recordar a Pastores dabo vobis, Vita consecrata, Catechesi tradendae e Christifideles laici.

As comunidades eclesiais de recente fundação encontram-se em rápida expansão. Precisamente porque às vezes foram realçadas as deficiências e as dificuldades no seu processo de crescimento, parece urgente insistir sobre a formação de operadores pastorais qualificados, graças a programas sistemáticos, adequados às necessidades da época presente, atentos a "inculturar" o Evangelho nos vários ambientes.

É urgente uma formação integral, capaz de preparar evangelizadores competentes e santos, que estejam à altura da sua missão. Isto exige um processo longo e paciente, em que cada aprofundamento bíblico, teológico, filosófico e pastoral encontre o seu ponto de força no relacionamento pessoal com Cristo, "Caminho, Verdade e Vida" (Jn 14,6).

3. Jesus é o primeiro "formador", e o esforço fundamental por parte de cada educador consistirá em ajudar os formandos a cultivar uma relação pessoal com Ele. Somente aqueles que aprenderam a "permanecer com Jesus" estão prontos para serem por Ele "convidados a evangelizar" (cf. Mc Mc 3,14). Um amor apaixonado por Cristo é o segredo de um anúncio convicto de Cristo. Era a isto que me referia quando, na recente Encíclica Ecclesia de Eucharistia, escrevi: "É bom permanecer com Ele e, inclinado sobre o seu peito como o discípulo predilecto (cf. Jo Jn 13,25), deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração" (EE 25).

A Igreja, de maneira especial nos países de missão, tem necessidade de pessoas preparadas para servir o Evangelho de forma gratuita e generosa, prontas para promover os valores da justiça e da paz, derrubando todas as barreiras culturais, raciais, tribais e étnicas, capazes de perscrutar os "sinais dos tempos" e de descobrir as "sementes do Verbo", sem ceder a reducionismos, nem a relativismos.

Porém, em primeiro lugar, exige-se que estas pessoas sejam "peritas" e "apaixonadas" por Deus. O mundo observava o meu venerável Predecessor, Paulo VI [...] reclama evangelizadores que lhe falem de um Deus que eles conheçam e que lhes seja familiar, como se vissem o Invisível" (Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi EN 76).

4. Além da intimidade pessoal com Cristo, é necessário ter em vista um crescimento constante no amor e no serviço à Igreja. A este propósito será útil, no que diz respeito aos sacerdotes, ter particularmente presentes as indicações contidas na Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, nos Decretos conciliares Presbyterorum ordinis e Optatam totius, bem como noutros textos emanados pelas diversas Congregações da Cúria Romana.

"Enquanto representa Cristo Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja observava eu na Pastores dabo vobis o sacerdote coloca-se não apenas na Igreja, mas também perante a Igreja. Por conseguinte, na sua existência espiritual ele é chamado a reviver o amor de Cristo Esposo, na sua relação com a Igreja Esposa" (n. 22). Além disso, compete ao Bispo, em comunhão com o Presbitério, delinear um projecto e estabelecer uma programação, "capazes de configurar a formação permanente não como algo esporádico, mas como uma proposta sistemática de conteúdos, que se desenvolva por etapas e se revista de modalidades específicas" (Ibid., n. 79).

5. Gostaria de aproveitar esta ocasião para agradecer a quantos se dedicam generosamente à tarefa educativa nos territórios de missão. E como deixar de recordar que não poucos seminaristas, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, pertencentes aos territórios de missão completam o seu itinerário formativo precisamente aqui, em Roma, em Colégios e Centros, muitos dos quais dependem da vossa Congregação? Penso nos Pontifícios Colégios Urbano, São Pedro e São Paulo, para os sacerdotes; no "Foyer" Paulo VI, para as religiosas; no Centro "Mater Ecclesiae", para os catequistas; e no Centro Internacional de Animação Missionária, para a renovação espiritual dos missionários. Formulo votos cordiais a fim de que a experiência romana seja para todos um verdadeiro enriquecimento cultural, pastoral e sobretudo espiritual.

Além disso, faço votos para que cada uma das comunidades cristãs progrida docilmente na escola de Maria, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja. Na Mensagem para a próxima Jornada Missionária Mundial, escrevi que uma "Igreja mais contemplativa" se torna uma "Igreja mais santa" e uma "Igreja mais missionária".

Enquanto peço ao Senhor que assim seja para cada uma das Comunidades eclesiais, de maneira especial nos territórios de missão, asseguro-vos a minha oração e concedo-vos com afecto, a todos vós aqui presentes, uma especial Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DE UMA DELEGAÇÃO


DA IGREJA ORTODOXA DA BULGÁRIA


Segunda-feira, 26 de Maio de 2003


Senhor Cardeal
Venerados Metropolitas e Bispos
E todos vós, caríssimos no Senhor

1. "A vós graça e paz sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (Ep 1,2).

Dirijo-vos com sentimentos de alegria a saudação repetida tantas vezes pelo Apóstolo Paulo, evocando diante de vós o nome de Deus, Pai da glória, que ilumina os olhos da nossa mente para nos fazer compreender a que "esperança" ele nos chamou em Cristo e a grandeza extraordinária do seu poder para connosco, crentes, segundo a eficácia da sua "força" (cf. Ef Ep 1,17-19).
Agradeço ao Metropolita Kalinik as cordiais palavras que me dirigiu em nome de toda a Delegação. Saúdo o Cardeal Walter Kasper e os Bispos católicos que o acompanham.

Hoje, o nosso encontro chama-nos realmente à esperança. Sentimos, com o coração reconhecido a força eficaz d'Aquele que tudo pode, apesar dos impedimentos humanos à efusão livre da sua graça. Sentimos crescer o desejo de uma comunhão mais profunda entre nós, e entrevemos, com maior clareza, o caminho que se deve percorrer.

A esperança tem mais fundamentos, porque não é a primeira vez que nos reunimos, mas ao contrário, encontramo-nos de novo, um ano depois da minha visita a Sófia. Em 24 de Maio do ano passado, no Palácio Patriarcal, tive a alegria de me encontrar pela primeira vez, com Sua Beatitude Maxim. Foi um encontro fraterno que tinha em si a força de suscitar outros. Cria-se o contexto justo no qual cresce a confiança recíproca, condição prévia para o entendimento, a convivência pacífica e a comunhão.

2. Nunca poderei esquecer a minha viagem à vossa Terra! Peço-vos que transmitais a Sua Beatitude Maxim a minha recordação comovida que se alimenta na oração; peço-vos que lhe renoveis as expressões da minha proximidade espiritual no anseio de que se concretize quanto antes a unidade plena dos cristãos católicos e ortodoxos. Além disso, uno os votos mais sinceros, alguns dias depois das solenes celebrações que, em Sófia, comemoraram o cinquentenário do restabelecimento do Patriarcado.

Reveste pleno significado, neste começo do novo milénio, a tarefa de Sua Beatitude Maxim, da Igreja ortodoxa da Bulgária e do seu Santo Sínodo. Enquanto também a Bulgária se abre à novidade, voltada para uma Europa alargada, é preciso avivar aquele rico património de fé e de cultura que a Igreja e a nação búlgara partilham, e que constitui o milagre da obra de evangelização realizada pelos dois Santos Irmãos de Tessalonica, Cirilo e Metódio, cuja herança, depois de onze séculos de cristianismo entre os Eslavos, é e permanece para eles mais profunda e mais forte do que qualquer divisão (cf. Carta Encíclica Slavorum Apostoli, 25).

3. Ao propor de novo, com uma linguagem mais acessível às novas gerações o contributo de Cirilo e Metódio, intermediário unificador de povos diversos entre si, a Igreja ortodoxa da Bulgária pode, por sua vez, renovar, com vigor e experiência directa, a intuição evangélica dos Santos Irmãos segundo os quais as diversas condições de vida das Igrejas cristãs individualmente nunca podem justificar desarmonia, discordância e lacerações na profissão da única fé e na prática da caridade (cf. ibid., 11). Já próximo da morte, aqui em Roma, Cirilo, como lemos na sua Vida, dirigia-se ao Senhor com estas palavras: "Faz com que eles sejam, ó Senhor, um povo eleito, unânime na verdadeira fé e na autêntica doutrina; faz crescer a tua Igreja, e reúne todos os seus membros na unidade".

Esta mensagem de fé, tão radicada na vossa cultura e no vosso ser Igreja, é e continua a ser a meta para a qual tender, a fim de que o Oriente e o Ocidente cristãos possam reunir-se plenamente e fazer resplandecer melhor juntos o pleroma da catolicidade da Igreja.

Caríssimos Irmãos! A vossa delegação está aqui em Roma por mais de um motivo. Antes de tudo, a data da visita coincide com a celebração da festa dos Santos Cirilo e Metódio segundo o Calendário em vigor na Bulgária. Além disso, desejais recordar o primeiro aniversário da minha viagem a Sófia e do inesquecível encontro com Sua Beatitude Maxim. Obrigado por este sinal de solicitude e de apreço fraterno!

4. Viestes a Roma também para uma circunstância muito feliz: a inauguração do uso litúrgico da igreja dos Santos Vicente e Anastácio em "Fontana di Trevi". O encontro de oração realizado no sábado passado, 24 de Maio, adquiriu um carácter solene devido à presença de tantos eminentíssimos membros do Santo Sínodo da Igreja ortodoxa da Bulgária, de Sua Excelência Simeone de Saxónia Coburgo-Gotha, Primeiro-Ministro do Governo búlgaro e de vários representantes da Santa Sé e do Vicariato de Roma, tendo à frente o meu representante, o Cardeal Walter Kasper, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Sei que a Comunidade e o seu Reitor pro tempore, foram recebidos fraternalmente na igreja dos Santos Vicente e Anastácio, também tornada idónea para o serviço litúrgico e pastoral para os búlgaros ortodoxos residentes em Roma. Trata-se de um exemplo significativo de partilha eclesial aqui em Roma, que tanto me está a peito.

5. Se queremos verdadeiramente progredir no caminho da comunhão renovada, devemos seguir os passos dos Santos Cirilo e Metódio, que foram capazes de conquistar o reconhecimento e a confiança de Pontífices Romanos, de Patriarcas de Constantinopla, de Imperadores bizantinos e de diversos Príncipes dos novos povos eslavos (Carta Encíclica Slavorum Apostoli, 7). Isto indica que a diversidade nem sempre gera atritos.

Uma experiência de partilha fraterna orientada para o respeito recíproco das nossas legítimas diversidades, pode servir de encorajamento para nos conhecermos melhor e também para colaborarmos noutros contextos e circunstâncias, todas as vezes que se apresentar a ocasião. Que isto seja de bons auspícios para o futuro das nossas relações! Dou graças ao Senhor por isto e peço-lhe que abençoe os nossos passos no caminho empreendido.

Muito obrigado pela vossa visita. Peço-vos que assegureis Sua Beatitude Maxim da minha constante recordação ao Senhor. Deus o abençoe a ele, a todos vós e ao querido povo da Bulgária.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SUPERIOR-GERAL E AOS MEMBROS


DA CONGREGAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO


Segunda-feira, 26 de Maio de 2003





1. Sinto-me feliz por vos saudar hoje, estimado Superior-Geral, bem como aos membros do Conselho geral da Congregação do Espírito Santo, fundada a 27 de Maio de 1703. Um aniversário é sempre a ocasião para dar graças pelo caminho percorrido e pelos dons recebidos. A Igreja faz isso, hoje convosco, de bom grado, agradecendo ao Senhor todo o trabalho realizado pela vossa Congregação há três séculos, sobretudo no âmbito da Evangelização da África, das Antilhas e da América do Sul. Celebrar um aniversário, é também superar uma meta e prosseguir. Como disse a toda a Igreja (cf. Novo millennio ineunte NM 8) repito-o a cada um de vós: "Duc in altum!". "Fazei-vos ao largo!". Sede fiéis à dupla herança dos fundadores: a atenção pelos pobres e o serviço missionário, ou seja, o anúncio da Boa Nova de Cristo a todos os homens. Estas duas orientações de vida abrem amplas perspectivas. Trata-se de atingir aqueles que o mundo mantém na dependência ou lança na marginalização, os pobres, que são uma grande maioria dos habitantes de alguns continentes, mas que também se encontram nas nossas sociedades mais progressivas. Vós também lhes testemunhais Cristo e lhes dais a conhecer a alegria da sua chamada.

2. Sem vos deixar vencer pelas dificuldades, que sempre encontrastes e que também não faltarão no futuro, confiai-vos à liberdade e à força do Espírito que acompanha a Igreja e que a orienta. É o Espírito Santo que constrói a Igreja como uma família: dai-a a conhecer aos nossos contemporâneos através da vida comunitária e fraterna, sinal vigoroso da vida evangélica, tendo a solicitude de procurar a unidade e de permanecer fiéis a esta devoção ao Espírito Santo, que sempre caracterizou a vossa família religiosa!

3. Os vossos fundadores quiseram colocar-vos, desde as origens, sob a protecção da Virgem Maria e do seu Coração imaculado. Confio-vos de novo a vós à sua intercessão benévola, assim como todos os membros da vossa Congregação espalhados por todo o mundo, ao serviço de Cristo e da sua Igreja. A confiança da Virgem na Palavra de Deus seja sempre uma luz para a vossa vida! Concedo-vos de coração a Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR GUNKATSU KANO


NOVO EMBAIXADOR DO JAPÃO


JUNTO À SANTA SÉ


Sexta-feira, 30 de Maio de 2003



Senhor Embaixador

1. É para mim um prazer receber Vossa Excelência na ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Japão junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as respeitosas saudações que me transmitiu da parte de Sua Majestade o Imperador Akihito. Ficar-lhe-ia grato se se dignar manifestar a Sua Majestade os votos cordiais que formulo pela sua pessoa e por toda a família imperial. Dirijo os meus votos também aos membros do governo e a todo o povo japonês, desejando que continuem sem cessar os seus corajosos esforços com vista a edificar uma nação cada vez mais unida e solidária, atenta à pessoa humana, que é o centro de qualquer sociedade, e à sua dignidade. Os meus votos particulares são para os feridos devido ao recente terramoto.

2. Sensibilizaram-me as amáveis palavras que Vossa Excelência me dirigiu. Elas dão testemunho da atenção que o seu país dedica ao desenvolvimento de relações activas e frutuosas com a Santa Sé. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, recordou como a sua nação se dedica ao serviço da causa da paz. A actual situação internacional, marcada por uma nova tensão em vários pontos do planeta e pelo agravamento de acções terroristas, é preocupante. Contudo, esta situação não deve impedir a determinação de quantos já estão comprometidos na busca de soluções pacíficas para resolver os conflitos. Para que seja dado um contributo significativo à segurança e à estabilidade internacionais, é fundamental que as nações possam manifestar de maneira cada vez mais clara a sua vontade efectiva de ser parte activa num processo comum de diminuição das tensões e das ameaças de guerra.

Os esforços relativos sobretudo à eliminação progressiva, equilibrada e controlada das armas de destruição em massa, bem como a não-proliferação e o desarmamento nuclear, devem ser prosseguidos; desta forma, as condições da segurança dos povos e a preservação de toda a criação serão sempre garantidas. Compete também à Comunidade internacional mobilizar-se continuamente para que, tanto a nível mundial como a nível regional, sejam tomadas as medidas apropriadas para prevenir as agressões possíveis, sem que estas medidas prejudiquem as necessidades fundamentais das populações civis envolvidas, levando-as por vezes à miséria e ao desespero. Não duvido de que uma vontade política concorde e uma reflexão ética iluminada hão-de permitir que as nações sejam as protagonistas de uma verdadeira cultura de paz, fundada no respeito da vida humana e na primazia do direito na sua dimensão de justiça e de igualdade, e orientada para a construção paciente da coexistência pacífica entre as nações e para a promoção do bem comum.

3. Senhor Embaixador, o Japão é rico de tradições religiosas e filosóficas, que contêm recursos espirituais capazes de estimular de modo eficaz este fervoroso desejo de trabalhar pela paz e pela reconciliação entre as comunidades humanas e entre as pessoas. O seu País, é também, através da visão dolorosa de Hiroshima e de Nagasaki, uma testemunha viva dos dramas do século XX, convidando cada um a repetir com o Papa Paulo VI: "Nunca mais a guerra!", porque ela põe em perigo o próprio futuro da humanidade (cf. Paulo VI, Discurso à Assembleia geral da Organização das Nações Unidas, 4 de Outubro de 1965, n. 5). Faço votos por que o seu País se dedique incessantemente a colocar estes nobres valores ao serviço da paz na região e no mundo. E, como eu recordei na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2003, "a questão da paz não pode estar separada da questão da dignidade humana e dos direitos humanos" (n. 6).

4. Os esforços feitos pelo Japão, sobretudo nos âmbitos da cooperação económica com os Países da Ásia, bem como os programas de ajuda realizados para apoiar financeiramente os países pobres para que se tornem protagonistas do seu próprio progresso, realçam de igual modo a parte activa que o seu País deseja assumir na promoção dos povos.

Nesta perspectiva, deve ser realçada também a reflexão feita pelo seu País sobre os problemas do meio ambiente e sobre o lugar que o homem ocupa na criação. É desejável que a Exposição internacional em Aïchi, que se realizará em 2005, permita que as numerosas nações participantes debatam serenamente as soluções concretas para os problemas em questão, entre os quais, a protecção do meio-ambiente e a gestão dos recursos naturais. Ocupar-se da criação é um dever moral para todos os homens, porque é Vontade do Criador que o homem se mostre digno da sua vocação, gerindo a natureza não como um explorador mas como um administrador responsável (cf. Encíclica Redemptor hominis RH 15). Significa também deixar às futuras gerações uma terra habitável.

5. Senhor Embaixador, permita que eu, por seu intermédio, dirija as minhas saudações afectuosas aos Bispos e à Comunidade católica do seu País. A Igreja católica, apesar de ser pouco numerosa, tem a preocupação constante de propor às jovens gerações de Japoneses, sobretudo mediante a educação integral dada nas instituições de ensino e nas Universidades, um contributo eficaz para o seu crescimento humano, espiritual, moral e cívico, que as prepara para desempenhar uma parte activa na vida da nação. As escolas desempenham também um papel não indiferente no que se refere à evangelização, "inculturando a fé, ensinando a abertura ao respeito, e promovendo a compreensão religiosa" (Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Asia, ).

A Igreja deseja também receber os numerosos imigrantes que vão para o Japão em busca de trabalho, de dignidade e de esperança. Com todos os homens de boa vontade, ela deseja lutar contra os fenómenos de discriminação e de exclusão, que marginalizam os mais débeis e que deterioram as relações entre os homens. Mediante este compromisso, ela deseja encorajar todos os componentes da nação japonesa a interrogar-se sobre o sentido da vida e do destino do homem, convidando cada um a construir de modo responsável uma sociedade fraterna e equitativa, cujos valores sejam chamados a exprimir-se sobretudo mediante o estabelecimento de uma justiça penal que esteja cada vez mais conforme com a dignidade do homem (cf. Apelo da Conferência episcopal do Japão a Sua Excelência o Senhor Kokichi Shimoinaba, Ministro da Justiça, 21 de Novembro de 1997). Convido com afecto os católicos a serem fervorosos edificadores da paz e da caridade, firmemente unidos à volta dos seus pastores, comprometendo-se num encontro cada vez mais fecundo entre a fé e a cultura japonesa.

6. No momento em que começa a sua missão, apresento-lhe os meus cordiais votos pela nobre tarefa que o espera. Tenha a certeza que encontrará sempre aqui, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo de que poderá precisar.

Invoco de todo o coração sobre Sua Majestade o Imperador Akihito, a família imperial, o povo japonês e os seus dirigentes, bem como sobre Vossa Excelência, os seus familiares e o pessoal da Embaixada, a abundância das Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS PROVENIENTES


DA DIOCESE DE SAINT-BRIEUC E TRÉGUIER (FRANÇA)


31 de Maio de 2003




Excelência
Caros amigos

É com prazer que vos recebo, a vós peregrinos da Diocese de Saint-Brieuc e Tréguier, que viestes a Roma por ocasião das festividades que marcam o VII Centenário da morte de Santo Ivo. Saúdo também cordialmente as altas personalidades, de forma especial os representantes da sociedade civil e do mundo jurídico, presentes em Roma para aprofundar, por ocasião de um colóquio, a actualidade da mensagem de Santo Ivo. Agradeço ao Bispo D. Fruchaud, as amáveis palavras que acaba de me dirigir em nome de todos vós. As Igrejas de Santo Ivo dos Bretões e de Santo Ivo "alla Sapienza", em que vós tereis a oportunidade de vos congregardes, revelam a extraordinária irradiação do culto que lhe é prestado desde há muito tempo, em toda a Europa, por parte de todos aqueles que o reconhecem como o seu mestre espiritual, de maneira especial pelos Juristas, de quem ele é o Santo Padroeiro.

Os valores propostos por Santo Ivo permanecem um estímulo vigoroso para o nosso tempo, de modo especial na Europa que se está a edificar. Servidor da justiça, Santo Ivo convida os homens de boa vontade a construir um mundo, fundamentado no respeito do direito e no serviço à verdade. Defensor dos pobres, este advogado encoraja as pessoas e os povos a pôr em prática a solidariedade e a igualdade, que garantem os direitos às pessoas mais vulneráveis, cuja dignidade inalienável deverá ser plenamente reconhecida. Sacerdote e pregador incansável da Palavra de Deus, hoje ele exorta a Igreja a propor a todos o Evangelho, como fonte de novas relações entre os homens. Possam o exemplo e a vida de Santo Ivo convidar os cristãos a contribuir de modo concreto para a construção da Europa, com um destino comum numa comunidade em que todos são chamados a trabalhar a fim de que o amor e a verdade se encontrem, e que a justiça e a paz se abracem (cf. Sl Ps 85 [84], 11)!

Enquanto vos confio à solicitude da Virgem Maria, Nossa Senhora de Querrien, concedo-vos a Bênção apostólica que, de bom grado, faço extensiva aos pastores e aos fiéis da Diocese de Saint-Brieuc e Tréguier.



PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II


NA GRUTA DE NOSSA SENHORA DE LOURDES


NOS JARDINS DO VATICANO POR OCASIÃO


DO ENCERRAMENTO DO MÊS MARIANO


31 de Maio de 2003




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Como acontece em todos os anos, recitastes o Santo Rosário, contemplando de modo particular o mistério da Visitação de Maria a Santa Isabel, que a liturgia de hoje nos faz celebrar.

Assim, quisestes encerrar o mês de Maio diante da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, nos Jardins do Vaticano. Uno-me espiritualmente a vós e saúdo-vos com afecto. Saúdo D. Francesco Marchisano, meu Vigário-Geral para a Cidade do Vaticano, os Senhores Cardeais e os outros Prelados aqui presentes, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os jovens e todos os fiéis. Recolho-me com cada um de vós diante desta Gruta, como que para confiar à Virgem Imaculada todo o caminho espiritual percorrido durante este mês mariano: cada propósito, cada preocupação, cada necessidade da Igreja e do mundo inteiro.

2. Nesta circunstância, desejo renovar a todos o convite a recitar o Rosário assiduamente, cuidando com dedicação da sua qualidade. Penso, em primeiro lugar, nos Sacerdotes: o seu exemplo e a sua orientação levem os fiéis a descobrir de novo o sentido e o valor desta oração.

Penso nas pessoas consagradas, especialmente nas religiosas, que imagino numerosas no meio de vós: possam elas seguir de perto Maria, que guardava no seu coração os mistérios do seu Filho divino. Penso nas famílias e exorto-as a reunir-se com frequência, sobretudo à noite, para recitar o Rosário em conjunto: esta é uma das mais bonitas e consoladoras experiências da comunidade doméstica!

3. O Ano do Rosário, que estamos a celebrar, oferece-nos um constante motivo de reflexão sobre o papel de Nossa Senhora na história da salvação e na nossa própria vida. Assim como foi associada à missão do seu Filho divino, Maria também continua a acompanhar o caminho da Igreja ao longo dos séculos. Caríssimos, perseveremos em oração com Ela, como os Apóstolos fizeram no Cenáculo, enquanto aguardavam o já iminente Pentecostes. A liturgia destes dias faz-nos reviver o clima espiritual que antecipou aquele Acontecimento e, se todo o Ano do Rosário se deve caracterizar por uma prolongada oração com Maria, nós devemos unir-nos ainda mais a Ela durante estes dias da Novena, invocando a abundante descida do Espírito sobre toda a Igreja espalhada pelo mundo.

Além disso, no momento em que se encerra o mês de Maio e começa o mês de Junho, consagrado ao Coração de Cristo, sentimos ainda mais que Maria nos conduz para Cristo. Ela é o caminho mais breve para chegarmos ao Coração de Jesus, onde podemos receber os extraordinários dons do seu amor e da sua misericórdia.

"Magnificat anima mea Dominum!". Façamos nosso o cântico que brotou do Coração de Maria, na casa de Santa Isabel, e toda a nossa vida seja um canto de louvor ao Senhor!
Caríssimos, estes são os meus bons votos do íntimo do coração, que acompanho com a minha Bênção, fazendo-a de bom grado extensiva a todos os vossos entes queridos.

Vaticano, 31 de Maio de 2003.



                                                                              Junho de 2003

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR ODED BEN-HUR


NOVO EMBAIXADOR DE ISRAEL


JUNTO À SANTA SÉ


2 de Junho de 2003



Senhor Embaixador

Estou feliz por lhe dar as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais que o nomeiam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Estado de Israel junto da Santa Sé. A sua presença hoje aqui constitui um testemunho do nosso desejo comum de trabalhar em conjunto para edificar um mundo de paz e de segurança, não apenas em Israel e no Médio Oriente, mas em todas as regiões do planeta, para cada povo e em toda a parte. Trata-se de uma tarefa que não empreendemos sozinhos, mas juntamente com toda a comunidade internacional: com efeito, talvez hoje, como nunca no passado, toda a família humana sente a urgente necessidade de vencer a violência e o terror, de eliminar a intolerância e o fanatismo, de entrar numa era de justiça, de reconciliação e de harmonia entre os indivíduos, os grupos e as nações.

Provavelmente, em nenhum lugar esta necessidade é sentida mais agudamente do que na Terra Santa. Não há qualquer dúvida de que os povos e as nações têm o direito inato de viver em segurança. Contudo, este direito comporta um dever correspondente: respeitar o direito do próximo. Por conseguinte, assim como a violência e o terror jamais podem ser um modo aceitável de fazer declarações políticas, também a vingança nunca pode levar a uma paz justa e duradoura. Os actos de terrorismo devem ser sempre condenados como verdadeiros crimes contra a humanidade (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002, n. 4). Todos os Estados têm o direito inalienável de se defenderem contra o terrorismo, mas este direito deve ser sempre exercido no respeito pelos limites morais e legais das suas finalidades e dos seus meios (cf. ibid., n. 5).

Como os outros membros da comunidade internacional, e apoiando plenamente o papel e os esforços da mais vasta família das nações, com vista a alcançar uma solução para a crise no Médio Oriente, a Santa Sé está convencida de que o actual conflito só será resolvido quando houver dois Estados independentes e soberanos. Como eu disse, no início do corrente ano, ao Corpo Diplomático: "Dois povos, o israeliano e o palestino, são chamados a viver lado a lado, igualmente livres e soberanos, no respeito mútuo" (Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, 13 de Janeiro de 2003, n. 4). É fundamental que as duas partes dêem sinais clarividentes do seu compromisso convicto em ordem a realizar esta coexistência pacífica. Assim, será oferecida uma contribuição inestimável para a construção de um relacionamento de confiança e de cooperação mútuas. Neste contexto, é-me grato observar o recente voto do governo de Israel em favor do processo de paz: para todas as pessoas comprometidas nestes processo, a posição do governo constitui um positivo sinal de esperança e de encorajamento.

Naturalmente, as inúmeras questões e dificuldades levantadas por esta crise devem ser abordadas de maneira justa e efectiva. Por exemplo, os problemas relativos aos refugiados da Palestina e às ocupações de Israel, ou a questão do estabelecimento das fronteiras territoriais e da definição da condição dos lugares mais sagrados da Cidade de Jerusalém, tudo isto deve ser tema de um diálogo aberto e de uma negociação sincera. Não se pode de modo algum tomar uma decisão unilateral. Pelo contrário, o respeito, a compreensão mútua e a solidariedade exigem que o caminho do diálogo nunca seja abandonado. Nem sequer os insucessos reais e aparentes deveriam levar os parceiros do diálogo e da negociação a desanimarem. Ao contrário, é precisamente em tais circunstâncias que "se torna mais necessário que comecem de novo a propor incessantemente o diálogo autêntico, derrubando os obstáculos e eliminando os defeitos do diálogo". Desta maneira, eles percorrerão em conjunto o caminho "que leva à paz, com todas as suas exigências e condições" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1983, n. 5).

Como o Senhor Embaixador observou, o Acordo Fundamental entre a Santa Sé e o Estado de Israel foi assinado há dez anos. Este Acordo abriu o caminho para o subsequente estabelecimento das plenas relações diplomáticas entre nós, que continuam a orientar-nos no nosso diálogo e mútuo intercâmbio de pontos de vista acerca de muitas questões importantes para ambos. O facto de termos sido capazes de alcançar um acordo sobre o pleno reconhecimento da personalidade legal das instituições da Igreja constitui um motivo de satisfação, e estou feliz por saber que se está perto de chegar também a um acordo no que diz respeito aos assuntos fiscais e económicos. Nesta mesma perspectiva, estou persuadido de que conseguiremos traçar também linhas-mestras úteis para o futuro intercâmbio cultural entre nós.

Quero exprimir, uma vez mais, a ardente esperança de que este clima de cooperação e de amizade nos permita abordar de modo eficaz também as outras dificuldades que os fiéis católicos têm de enfrentar diariamente na Terra Santa. Muitos destes problemas, como por exemplo o acesso aos templos e aos lugares sagrados cristãos, o isolamento e o sofrimento das comunidades cristãs e a diminuição da população cristã, em virtude do fluxo migratório, estão de certa forma ligados ao conflito actual, mas não nos devem impedir de procurar possíveis soluções imediatas e de trabalhar no presente para enfrentar estes desafios. Estou convicto de que a Igreja católica conseguirá fomentar o bem comum entre os povos e promover a dignidade da pessoa humana nas suas escolas e nos seus programas educativos, e mediante as suas instituições caritativas e sociais. A superação das dificuldades supramencionadas servirá não só para fortalecer a contribuição que a Igreja católica já está a oferecer para a sociedade de Israel, mas também para revigorar as garantias de liberdade religiosa no vosso País. E isto, por sua vez, fará aumentar o sentimento de igualdade entre os cidadãos, e assim cada indivíduo, inspirado pelas suas próprias convicções espirituais, será mais capaz de construir a sociedade como uma casa comum, compartilhada por todos.

Há três anos, durante a minha peregrinação à Terra Santa no Ano jubilar, afirmei que "a verdadeira paz no Médio Oriente só será possível como resultado do entendimento e do respeito recíprocos entre todos os povos dessa região: judeus, cristãos e muçulmanos. Nesta perspectiva, a minha peregrinação é de esperança: esperança de que o século XXI leve a uma renovada solidariedade entre os povos do mundo, na convicção de que o desenvolvimento, a justiça e a paz só serão alcançados, se o forem por parte de todos" (Discurso na visita ao Presidente de Israel, Sr. Ezer Weizman, 23 de Março de 2000). É exactamente esta esperança e este conceito de solidariedade que sempre deve inspirar todos os homens e mulheres tanto na Terra Santa, como noutros lugares a trabalhar por uma nova ordem mundial, fundamentada sobre as relações harmoniosas e na cooperação efectiva entre os povos. Esta é a tarefa da humanidade para o novo milénio, este é o único modo de garantir um promissor futuro de luz para todos os homens.

Excelência, peço-lhe que tenha a amabilidade de apresentar ao Presidente, ao Primeiro-Ministro, ao governo e ao povo do Estado de Israel a certeza das minhas preces pela Nação, especialmente neste momento crítico da sua história. Estou convencido de que o seu período de serviço como representante junto da Santa Sé contribuirá em grande medida para fortalecer os vínculos de compreensão e de amizade entre nós. Enquanto lhe formulo os meus melhores votos para o bom êxito da sua missão, asseguro-lhe a plena cooperação dos vários departamentos da Cúria Romana no cumprimento dos seus altos deveres e invoco cordialmente sobre Vossa Excelência, os seus compatriotas e todos os povos da Terra Santa, a abundância das bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SEGUNDO GRUPO DE BISPOS INDIANOS


DE RITO LATINO EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"



DIscursos João Paulo II 2003