DIscursos João Paulo II 2003

VIAGEM APOSTÓLICA À BÓSNIA-HERZEGOVINA



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS

NO AEROPORTO DE BANJA LUKA


Domingo, 22 de Junho de 2003








Ilustres Membros da Presidência
da Bósnia e Herzegovina
Venerados Irmãos no Episcopado
Distintas Autoridades
Estimados Irmãos e Irmãs

1. É com a alma reconhecida pelo convite recebido que, depois de seis anos, volto à Bósnia e Herzegovina e dou graças a Deus por me ter concedido encontrar-me de novo com populações que, desde sempre, me são tão caras.

Agradeço aos Senhores Membros da Presidência da Bósnia e Herzegovina a cordial saudação que me dirigiram e tudo aquilo que fizeram, juntamente com as outras Autoridades, para tornar possível esta minha visita.

Saúdo o querido irmão D. Franjo Komarica, Bispo de Banja Luka, juntamente com os outros Membros deste Episcopado, bem como todos os fiéis da Igreja católica. Saúdo inclusivamente os Irmãos e as Irmãs da Igreja ortodoxo-sérvia e das outras Comunidades eclesiais, assim como os fiéis do Hebraísmo e do Islão.

2. Consciente de que, através da rádio e da televisão, me é concedido entrar nos vossos lares, saúdo-vos e abraço-vos a todos vós, estimados habitantes das várias regiões da Bósnia e Herzegovina. Conheço a longa prova que vivestes, o peso do sofrimento que acompanha diariamente a vossa vida, e a tentação do desencorajamento e da resignação que vos ameaça.

Ponho-me ao vosso lado, para pedir à Comunidade internacional, que muito já fez, a fim de que continue a estar ao vosso lado, permitindo-vos chegar quanto antes a uma situação de plena segurança, na justiça e na concórdia.

Sede vós mesmos os primeiros construtores do vosso futuro! A tenacidade da vossa índole, as ricas tradições humanas, culturais e religiosas que vos caracterizam constituem o vosso verdadeiro tesouro. Não desanimeis! Sem dúvida, a recuperação não é fácil. Ela exige sacrifícios e constância, requer a arte de semear e a paciência de esperar. Mas vós sabeis que a recuperação é contudo possível. Tende confiança na ajuda de Deus e tende confiança também no emprendimento do homem.

3. Para que a sociedade humana adquira um rosto autenticamente humano e todos possam enfrentar o futuro com confiança, é necessário reconstruir o homem a partir de dentro, curando as feridas e realizando uma verdadeira purificação da memória, mediante o perdão recíproco. É nas profundezas do coração que se encontra a raiz de todo o bem e, infelizmente, também de todo o mal (cf. Mc Mc 7,21-23). É lá que se deve verificar a transformação, graças à qual será possível renovar o tecido social e instaurar relacionamentos humanos abertos à colaboração entre as forças vivas do País.

A este propósito, uma grave responsabilidade incumbe sobre aqueles que, por vontade dos eleitores, exercem democraticamente o governo: não renunciem, em virtude das dificuldades do momento presente, a uma obra tão indispensável, e não se deixem dominar por interesses partidários.

Para este empreendimento conjunto, a Igreja católica tem a intenção de oferecer a sua contribuição, mediante o compromisso concreto dos seus filhos, de modo particular mediante as várias iniciativas de educação, assistência e promoção humana, que lhe são próprias, no livre exercício da sua missão específica.

4. Daqui a pouco, durante a celebração da Santa Missa, terei a alegria de inscrever no Álbum dos Beatos o jovem Ivan Merz, nascido precisamente aqui em Banja Luka, luminoso exemplo de vida cristã e de compromisso apostólico.

Com a sua intercessão, queira ele confirmar os bons votos do Papa em favor da Bósnia e Herzegovina; possam também os problemas existentes encontrar uma feliz solução e o País ser acolhido positivamente na sua aspiração a fazer parte da Europa unida, num contexto de prosperidade, de liberdade e de paz.



VIAGEM APOSTÓLICA À BÓSNIA-HERZEGÓVINA



SAUDAÇÃO FINAL DO PAPA JOÃO PAULO II

EM BANJA LUKA

22 de Junho de 2003






Caríssimos Irmãos e Irmãs, antes de me despedir, desejo dizer-vos a todos, uma vez mais, a minha alegria por ter podido compartilhar convosco este intenso momento de oração. Estou grato aos meus Irmãos Bispos da Bósnia e Herzegovina e ao Presidente da sua Conferência Episcopal, D. Franjo Komarica, Bispo desta Igreja. Juntamente com ele, agradeço aos colaboradores clérigos e leigos que, com o seu intenso trabalho de vários meses, organizaram este dia.

Desejo renovar o meu profundo agradecimento também à Presidência da Bósnia e Herzegovina e às outras Autoridades civis e militares. Estou grato por tudo quanto foi levado a cabo, a vários níveis, para que a minha visita pudesse realizar-se.

Dirijo a minha derradeira e cordial saudação a todas as populações deste amado País, sem qualquer distinção de etnia, cultura ou religião. Quando eu receber, nesta tarde, a visita de cortesia dos Presidentes da República Sérvia e da Federação da Bósnia e Herzegovina e, em seguida, os Membros do Conselho Inter-Religioso, terei presente todos os habitantes deste País.

Invoco sobre todos vós as abundantes bênçãos do Altíssimo, a quem peço que suscite no coração de cada um sentimentos de perdão, de reconciliação e de fraternidade. Estas são as bases sólidas de uma sociedade digna do homem e agradável a Deus.

Terra da Bósnia e Herzegovina, o Papa tem-te no coração e formula-te votos para que os teus dias sejam de prosperidade e de paz!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA BÊNÇÃO E INAUGURAÇÃO DO BUSTO


DO PAPA PAULO VI


Terça-feira, 24 de Junho de 2003

Senhores Cardeais

Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Reúne-nos hoje a recordação do Servo de Deus Paulo VI, no dia da festa do seu protector celeste, São João Baptista. Passaram quarenta anos depois da sua eleição para a Cátedra de Pedro, em 21 de Junho de 1963, e vinte e cinco depois da sua morte, que se verificou em Castelgandolfo na solenidade da Transfiguração do Senhor, a 6 de Agosto de 1978.

Hoje é inaugurado e benzido o seu busto de mármore, colocado no átrio desta Sala que tem o seu nome e que ele quis como cátedra da catequese do Papa. Saúdo os Cardeais, os Bispos, os Prelados, os Sacerdotes, os Religiosos, as Religiosas e os leigos aqui reunidos para prestar homenagem à memória deste meu veneradíssimo Predecessor.

Saúdo e agradeço, de modo particular, ao escultor Floriano Bodini, que já dedicou outras obras a este digníssimo servidor da Igreja. Com ele saúdo e agradeço a todos os que idealizaram e se ocuparam da concretização do projecto, começando pelo querido Arcebispo Pasquale Macchi, seu devoto e diligente Secretário. A minha saudação é extensiva também aos familiares do Papa Montini, entre os quais os sobrinhos com as respectivas famílias, assim como aos responsáveis do benemérito "Instituto Paulo VI" de Bréscia, que cultiva com amor a memória do insigne Filho da terra de Bréscia.

2. A 29 de Junho de 1978, na última celebração pública por ocasião do XV aniversário da eleição ao Sumo Pontificado, Ele pronunciou um discurso que tinha o tom solene e premente de um testamento. Apraz-me ler de novo um trecho significativo: "Nós lançamos um olhar significativo dizia ele para aquele que foi o período durante o qual o Senhor nos confiou a sua Igreja... E dado que nos consideramos o último e indigno sucessor de Pedro, sentimo-nos neste limiar extremo confortados e amparados pela consciência de ter repetido incansavelmente, diante da Igreja e do mundo: "Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo!": também nós, como Paulo, sentimos que podemos dizer: "Combati o bom combate, terminei a minha carreira, conservei a fé..."" (Insegnamenti di Paolo VI, XVI, 1978, pág. 519).

Pedimos ao Senhor para que conceda ao seu servo fiel a merecida recompensa. Rezamos, além disso, para que também nós, como ele, possamos trabalhar incansavelmente pelo Reino de Deus. Ajude-nos Maria, que, no final do Concílio Vaticano II, Paulo VI proclamou "Mãe da Igreja".
Com estes sentimentos abençoo-vos a todos. Obrigado a todos os presentes.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO TERCEIRO GRUPO DE BISPOS INDIANOS


DE RITO LATINO POR OCASIÃO DA VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


Quinta-feira, 26 de Junho de 2003




Queridos Irmãos Bispos

1. É com prazer que vos dou as minhas boas-vindas, Bispos das Províncias Eclesiásticas de Cuttack-Bhubaneswar, Patna e Ranchi. Viestes a Roma por ocasião da vossa visita ad Limina, que constitui um momento privilegiado nas vossas vidas de Pastores, dado que visitais os túmulos dos Apóstolos para manifestar e revigorar os vossos vínculos de comunhão com o Sucessor de Pedro. Agradeço ao Arcebispo D. Toppo as amáveis palavras que pronunciou em nome dos seus Irmãos Bispos. A vossa presença hoje aqui aproxima-me ainda mais do vosso amado País e do vosso clero, dos religiosos, das religiosas e dos fiéis leigos das vossas Dioceses. Durante os meus encontros com os primeiros dois grupos de Bispos de rito latino da vossa Nação, recordei os sucessos e os desafios que se apresentam às pessoas que proclamam o Evangelho na Índia. Ao mesmo tempo que realcei a rica messe de graças que continuais a colher, como resultado do Grande Jubileu do Ano 2000, também frisei as dificuldades que ainda subsistem. O Jubileu ofereceu à Igreja que está na Índia, em comunhão com a Igreja universal, uma oportunidade para meditar sobre a necessidade de renovar a vida cristã. Vós recordais o passado com gratidão, enquanto viveis o presente com entusiamo e olhais para o futuro com confiança (cf. Novo millennio ineunte NM 1).

2. "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a humanidade" (Mc 16,15). As palavras de despedida de Cristo aos seus discípulos constituem tanto um convite como um desafio a partir e a proclamar a Boa Nova. Compreendida nesta perspectiva, a evangelização é uma tarefa compartilhada por todos os membros da Igreja, em virtude do seu baptismo. Por conseguinte, todos os baptizados "dêem testemunho de Cristo em toda a parte, sempre prontos a responder a todos aqueles que os interrogarem acerca da sua esperança na vida eterna (cf. 1P 3,15)" (Lumen gentium, LG 10). Assim, como é deplorável o facto de ainda hoje, em muitos regiões da Índia, se levantarem obstáculos desnecessários para impedir o anúncio do Evangelho! Os cidadãos de uma democracia moderna não deveriam sofrer em virtude das suas convicções religiosas. E ninguém deve sentir-se obrigado a esconder a sua própria religião, a fim de poder gozar dos direitos humanos mais fundamentais, como a educação e o trabalho.

Apesar destas dificuldades, a Igreja que está na Índia anuncia corajosamente a mensagem cristã da salvação ao povo do subcontinente. Estimados Bispos, rezo a fim de que continueis a ser faróis de coragem e de esperança, inspirando o clero, os religiosos e os fiéis leigos a animar-se e a continuar a anunciar Cristo, que nos ama até à morte, e morte de cruz (cf. Fl Ph 2,8). Como São Paulo nos recorda, o poder incomparável de Deus é sempre a nossa força: podemos ser "atribulados, mas não desanimados; perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados, trazendo sempre no nosso corpo a morte de Jesus, a fim de que também a vida de Jesus possa manifestar-se no nosso corpo" (cf. 2Co 4,8-10).

3. As provações e as tribulações que acompanham a vida em Cristo exigem da Igreja um especial compromisso no ministério da "primeira evangelização". O contacto inicial com a mensagem salvífica de Cristo, por parte daqueles que ainda não ouviram a Boa Nova, requer de todos nós uma expressão inteligente e credível da fé. A missão de educar os fiéis no respeito e na proclamação do Evangelho cabe aos pais, aos mestres e aos catequistas do tempo presente. Por este motivo, uma das tarefas fundamentais de cada Bispo consiste em assegurar a disponibilidade de leigos bem formados, preparados e prontos para se tornarem mestres da fé. Os católicos devem ser encorajados a participar no apostolado essencial da palavra, que "adquire um aspecto característico e uma eficácia particular, pelo facto de se realizar nas condições ordinárias da vida no mundo" (Lumen gentium, LG 35).

Assumir o papel de catequista exige um relacionamento de confiança e de cooperação entre o clero e os fiéis leigos. Por conseguinte, os Bispos devem procurar assegurar constantemente que nada desvirtue este relacionamento. Eles além disso, devem reconhecer sempre que "todos os fiéis [cristãos] têm o direito e o dever de trabalhar a fim de que o anúncio divino da salvação chegue cada vez mais aos homens do mundo inteiro" (Código de Direito Canónico, cân. 211). Ao mesmo tempo, os pontos de vista pessoais, que derivam das afinidades de casta ou de tribo, jamais podem denegrir o autêntico ensinamento da Igreja.

4. Um autêntico e profundo respeito pela cultura está intimamente relacionado com os esforços que a Igreja realiza em ordem à evangelização. A cultura é o espaço "em que o ser humano encontra o Evangelho" (cf. Ecclesia in Asia ). Sempre no respeito pelas diferentes culturas, a Igreja procura empenhar os seus irmãos e irmãs das outras religiões, com vista a promover "um relacionamento de abertura e de diálogo" (Novo millennio ineunte NM 55). Assim considerado, o diálogo inter-religioso não apenas fará progredir o entendimento mútuo e o respeito de uns pelos outros, mas também contribuirá para o desenvolvimento da sociedade, em harmonia com os direitos e a dignidade de todos.

A Igreja que está na Índia tem manifestado constantemente o seu compromisso em favor do princípio da dignidade inalienável da pessoa humana, através das suas numerosas instituições sociais, oferecendo o seu amor incondicional tanto aos cristãos como aos não-cristãos. As suas escolas, dispensários, hospitais e institutos, que visam o desenvolvimento integral do ser humano, oferecem uma ajuda inestimável aos membros mais pobres da sociedade, prescindindo do seu credo. Infelizmente, algumas tentativas honestas da Igreja em ordem ao diálogo inter-religioso, no seu plano mais elementar, às vezes são impedidas pela falta de cooperação por parte do governo local e pela hostilidade de determinados grupos fundamentalistas. A Índia tem fortes tradições de respeito pelas diferenças religiosas. A minha esperança é de que, para o bem da Nação, não se permita o desenvolvimento de tendências contrárias (cf. Discurso ao novo Embaixador da Índia, 13 de Dezembro de 2002). Como Bispos, a vossa obrigação consiste em assegurar a continuidade do diálogo inter-religioso. Contudo, ao comprometer-vos neste intercâmbio recíproco, nunca podeis deixar que ele seja influenciado pelo indiferentismo religioso. É vital que o convite da Igreja ao discipulado seja anunciado e vivido de maneira convicta por cada um dos cristãos.

5. Queridos Irmãos no Episcopado, formulo-vos votos a fim de que persevereis nos vossos esforços, que visam garantir uma sólida educação teológica nos vossos seminários e uma sadia formação permanente dos vossos sacerdotes, rejeitando assim "a tentação de reduzir o Cristianismo a uma sabedoria meramente humana, a uma pseudociência do bem-estar" (Redemptoris missio RMi 11). A preparação teológica adequada exige uma educação que, respeitando a parte da verdade que se encontra nas outras tradições religiosas, contudo proclama de modo infalível que Jesus Cristo é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jn 14,6 cf. Ecclesia in Asia ). Com vista a esta finalidade, as instituições educativas católicas devem oferecer uma sólida formação filosófica, necessária para o estudo da teologia. A verdade transcende os limites do pensamento oriental e ocidental, unindo todas as culturas e sociedades (cf. Fides et ratio FR 76-77). Como participantes na missão profética de Cristo, temos a solene responsabilidade de aproximar esta verdade cada vez mais de nós mesmos e do nosso próximo. Este dever sagrado incumbe de modo especial sobre aqueles a quem se confia a formação dos sacerdotes e dos religiosos. Os formadores e os professores têm a obrigação de ensinar a mensagem de Cristo na sua integridade, como o único caminho, e não como uma possibilidade entre muitas outras. Agindo assim, "os teólogos, como servidores da verdade divina, dedicam os seus estudos e os seus esforços a uma compreensão cada vez mais profunda desta verdade, sem jamais perder de vista o significado do seu serviço no seio da Igreja" (cf. Redemptor hominis RH 19).

6. Tendo em consideração as vossas inúmeras responsabilidades no cuidado do povo de Deus, estou profundamente consciente dos desafios que deveis enfrentar, esforçando-vos com vista a desenvolver uma vida eclesial viável no seio das vossas Dioceses. É desencorajador ver a obra da Igreja frequentemente impedida pela continuação do tribalismo, em determinadas regiões da Índia. Às vezes, este tribalismo é tão vigoroso, que alguns grupos chegam a rejeitar aceitar bispos e presbíteros que não sejam dos seus próprios clãs, desvirtuando assim o funcionamento adequado das estruturas da Igreja e denegrindo a natureza essencial da Igreja como comunhão. As diferenças tribais ou étnicas jamais podem ser utilizadas como motivo para rejeitar um portador da palavra de Deus. Todos os cristãos têm a responsabilidade de fazer um exame de consciência para assegurar, sempre e em toda a parte, o seu amor pelos filhos de Deus, e inclusivamente pelas pessoas que são diferentes: "Se tiverdes amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vós sois meus discípulos" (Jn 13,35).

Dou graças a Deus pelos numerosos sacerdotes e religiosos presentes no vosso País, que vivem uma vida exemplar, feita de pobreza, de caridade e de santidade. Dado que enfrentam tantas dificuldades, eles podem ser tentados a perder o zelo e a criatividade indispensáveis para a eficácia do seu ministério. Rezo ardentemente para que o Senhor continue a revigorá-los no seu trabalho. Com vista a esta finalidade, convido toda a Igreja que está na Índia a renovar o seu compromisso missionário (cf. Redemptoris missio RMi 2).

Os consagrados e as consagradas oferecem uma contribuição valiosa para as vossas Igrejas locais. Faço votos a fim de que todos vós continueis a trabalhar em conjunto. Nas circunstâncias actuais, há uma necessidade ainda maior de boas relações recíprocas. Nas vossas regiões, têm surgido alguns conflitos difíceis e dolorosos, relativos à gestão dos institutos e à administração das propriedades. Contudo, estas questões não são insuperáveis para as pessoas que vivem o Evangelho num espírito de amor fraternal e de serviço. Em muitos casos, os programas pastorais e os acordos clarividentes entre os bispos e os superiores religiosos poderão oferecer soluções para problemas deste tipo. Estou persuadido de que "as pessoas consagradas não deixarão de cooperar generosamente com as Igrejas particulares, na medida do possível e no respeito pelo carisma que lhes é próprio, trabalhando em plena comunhão com o Bispo nos sectores da evangelização, da catequese e da vida paroquial" (Vita consecrata VC 49).

7. Estimados Irmãos, a minha ardente esperança é de que a vossa peregrinação a Roma constitua uma oportunidade para reflectirdes novamente sobre a graça do Espírito Santo, que vós recebestes mediante a imposição das mãos. Um dos sinais salientes do serviço apostólico à Igreja é a corajosa proclamação do Evangelho (cf. Act Ac 2,28 Act Ac 2,30-31). Manifesto-vos o meu sincero apoio, a vós e a todos aqueles que, na Índia, através do seu próprio testemunho, continuam a proclamar Cristo, ontem, hoje e por toda a eternidade (cf. Hb He 13,8). Enquanto rezo a fim de que este período vos tenha confirmado na fé em Cristo, fonte do nosso zelo missionário e apostólico, confio-vos todos, assim como aqueles que vós servis, à intercessão amorosa de Maria, Rainha do Rosário e, com afecto, concedo-vos a minha Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA


DA "REUNIÃO DAS OBRAS PARA A AJUDA


ÀS IGREJAS ORIENTAIS"


(R.O.A.C.O.)


Quinta-feira, 26 de Junho de 2003





1. É com alegria que vos recebo, queridos Membros da R.O.A.C.O., reunidos em Roma para a vossa reunião anual, e a cada um apresento as minhas cordiais boas-vindas. Dirijo uma saudação particular ao Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, Senhor Cardeal Ignace Moussa I Daoud, e agradeço-lhe por se ter feito intérprete dos sentimentos de todos. Torno a minha saudação extensiva ao Secretário, Arcebispo Vegliò, ao Subsecretário, aos Oficiais e ao Pessoal da Congregação, assim como ao Núncio Apostólico em Israel e Delegado Apostólico em Jerusalém e na Palestina, ao Custódio da Terra Santa, aos Responsáveis das Agências, às Autoridades da Universidade de Belém e a todos os presentes.

2. Vós constituís uma grande ajuda para as Igrejas do Oriente cristão com a vossa generosidade. Ela é ainda mais apreciada tendo em consideração os acontecimentos dramáticos destes últimos tempos. Penso na recente guerra no Iraque, no conflito na Terra Santa que, infelizmente, não acaba, bem como a persistência da carestia na Eritreia e na Etiópia. A vossa colaboração torna presente e operante a caridade da Igreja e, através da Congregação para as Igrejas Orientais, a própria solicitude do Papa.

É preciso intensificar esta acção e alargar os seus espaços de acção; é necessário sobretudo fazer crescer o espírito da caridade divina que, reconhecendo como dom gratuito o que recebemos de Deus, nos torna disponíveis para o partilhar com os irmãos, para estar ao serviço de uma promoção humana autêntica.

Na recente Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia escrevi que a Eucaristia estimula "a nossa caminhada na história, lançando uma semente de activa esperança na dedicação diária de cada um aos seus próprios deveres. De facto, se a visão cristã leva a olhar para o "novo céu" e para "a nova terra" (Ap 21,1), isso não enfraquece, antes estimula o nosso sentido de responsabilidade pela terra presente (Gaudium et spes, GS 39)" (n. 20). Eis por que os cristãos devem sentir-se cada vez mais comprometidos a não descuidar os deveres da sua cidadania terrena, contribuindo com a luz do Evangelho para edificar um mundo à medida do homem e plenamente correspondente ao desígnio de Deus (cf. n. 20).

3. Justamente vós dedicais uma atenção particular aos territórios da Terra Santa pelo significado que aquela região, que Jesus santificou, reveste para todos os cristãos. Para ela é reservada uma colecta especial, e os meus venerados Predecessores, a partir de Leão XIII, insistiram para que todas as Comunidades católicas contribuíssem generosamente. A Terra Santa continua, infelizmente, a ser teatro de conflitos e violências e as Comunidades católicas que ali vivem sofrem e precisam de ser apoiadas e ajudadas em muitas das suas urgências. Aquelas populações elevam uma premente invocação de paz estável e duradoura.

Obrigado por tudo o que fazeis! Obrigado pela cuidadosa solidariedade que mostrastes para com os cristãos duramente provados no Iraque pelo recente conflito. Rezo a Deus para que naquele País se consolide imediatamente a paz e as populações, já tão provadas por causa de um prolongado isolamento internacional, possam finalmente viver na concórdia. Tenho a certeza de que as vossas intervenções, que se destinam a realizar obras pastorais e sociais em benefício dos crentes, contribuirão para dar vida a um futuro melhor para toda a Nação.

4. Queridos Irmãos e Irmãs! O serviço que prestais ao Oriente cristão está cada vez mais atento a todas as exigências das Igrejas locais. Ao lado de estruturas e edifícios, mesmo se indispensáveis, por vezes é ainda mais urgente ajudar a formar as consciências e salvaguardar a fé herdada dos pais. Isto requer uma oportuna catequese, o cuidado da liturgia própria da Igreja de pertença, uma atenção à formação do clero e dos leigos, uma abertura iluminada ao ecumenismo e uma presença profética em apoio dos pobres.

O Papa agradece-vos a resposta que com inteligência, e sem poupar energias nem recursos, dais às necessidades que vos são apresentadas. Ao mesmo tempo, faz-se intérprete da gratidão de todas as Comunidades que ajudais concretamente.

A vossa experiência evidencia como o Oriente cristão mantém vivo ainda hoje o desejo de encontrar, conhecer e amar cada vez mais a Deus, que em Cristo nos revelou o seu rosto misericordioso. Deseja fazer dele uma experiência viva sobretudo onde, durante decénios, se procurou eliminar até os seus vestígios, e a instabilidade e a guerra procuram arruinar os antigos fundamentos das Igrejas orientais.

5. Para esta finalidade garanto a minha oração. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Acompanhe-vos na vossa actividade quotidiana a constante assistência divina, em penhor da qual concedo de coração a todos a minha Bênção, que faço extensiva de bom grado aos Organismos que representais, às vossas famílias, às Dioceses e às Comunidades a que pertenceis.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO


DA UNIÃO APOSTÓLICA DO CLERO


E DA UNIÃO APOSTÓLICA DOS LEIGOS







Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. "Ecce quam bonum et quam jucundum habitare fratres in unum - Eis como é bom, como é agradável viverem os irmãos em unidade". Voltavam-me à mente estes conhecidos versículos do Salmo 133, enquanto escutava as respeitosas e cordiais palavras de D. Csaba Ternyák, Secretário da Congregação para o Clero, que se fez intérprete dos sentimentos de todos os presentes. Sim, é verdadeiramente uma íntima alegria encontramo-nos e darmos conta da fraternidade que existe entre nós, caros sacerdotes, participantes do único e eterno Sacerdócio de Cristo. Esta manhã, pude experimentar este mistério de comunhão na Celebração eucarística no altar da Cátedra, na Basílica de São Pedro. Agora, é o Sucessor de Pedro que vos abre as portas da sua e vossa casa.

Para cada um de vós dirijo a mais cordial saudação no Senhor. Saúdo, de modo especial, todos os que organizaram e os que estão a animar o vosso Encontro nacional e todos os que nele participam. Saúdo os responsáveis a nível nacional e internacional da União Apostólica do Clero, assim como os representantes da nascente União Apostólica dos Leigos.

2. Durante o Congresso estais a reflectir sobre o tema: "Na Igreja particular ao modo da Comunhão Trinitária: A espiritualidade diocesana é espiritualidade de comunhão". Em continuidade com os encontros anteriores, é vosso desejo descobrir o papel dos Pastores na Igreja particular.

O mistério da Comunhão Trinitária é o alto modelo de referência da comunhão eclesial. Quis voltar a dizê-lo na Carta apostólica Novo millennio ineunte, recordando que "o grande desafio que está diante de nós no milénio que começa" é precisamente este: "Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão" (cf. nº 43). Isto comporta, em primeiro lugar, "promover uma espiritualidade da comunhão", que se torne como um "princípio educativo em todos os lugares onde se forma o homem e o cristão" (ibid).

Tornamo-nos peritos de "espiritualidade de comunhão" antes de mais graças a uma radical conversão a Cristo, uma dócil abertura à acção do seu Espírito Santo, e a um acolhimento sincero dos irmãos. Ninguém tenha ilusões recordava eu na citada Carta apostólica "sem esta caminhada espiritual, de pouco serviriam os instrumentos exteriores da comunhão. Revelar-se-iam mais como estruturas sem alma, máscaras de comunhão, do que como vias para a sua expressão e crescimento" (ibid.).

3. Se, portanto, a eficácia do apostolado não depende só da actividade e dos esforços organizativos ainda que necessários, mas em primeiro lugar da acção divina, é necessário cultivar uma íntima comunhão com o Senhor. Hoje, como no passado, os santos são os mais eficazes evangelizadores, e todos os baptizados são chamados a tender "para esta medida" alta da vida cristã (Ibid. 31). Por uma razão mais forte, isto diz respeito aos sacerdotes, que no interior do povo cristão, desempenham funções e missões de grande responsabilidade. A Jornada Mundial de oração pela santificação do Clero, que por feliz coincidência se celebra hoje mesmo, constitui uma ocasião propícia para pedir ao Senhor o dom de zelosos e santos ministros para a sua Igreja.

4. Para realizar este ideal de santidade, cada presbítero deve seguir o exemplo do divino Mestre, o Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas. Escreve um santo dos nossos dias, Josémaria Escrivá, que "o Senhor se serve de nós como tochas" para que a sua luz ilumine... "De nós depende que muitos não continuem nas trevas, mas percorram caminhos que conduzem à vida eterna" (cf. Forja, nº 1). Mas onde acender estas chamas de luz e de santidade senão no coração de Cristo, fornalha inexaurível de caridade? Não é um acaso se a Jornada Mundial de oração pela santificação do Clero se celebra hoje, solenidade do Sagrado Coração de Jesus.

No coração do seu Filho unigénito, o Pai celeste cumulou-nos de infinitos tesouros de misericórdia, ternura e amor "infinitos dilectionis thesauros", como rezamos na liturgia de hoje. No coração do Redentor "habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Col 2,9), de onde podemos tirar a energia espiritual indispensável para irradiar no mundo o seu amor e a sua alegria.
Maria nos ajude a seguir docilmente Jesus que constantemente nos repete: "Vinde a Mim... e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis alívio para as vossas almas" (Mt 11,29).

Caríssimos, agradeço-vos novamente pela vossa visita e abençoo-vos a todos com afecto.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA DELEGAÇÃO DO PATRIARCADO


ECUMÉNICO DE CONSTANTINOPLA


Sábado, 28 de Junho de 2003


Prezados Irmãos em Cristo

1. Acolho-vos com alegria no Vaticano, para este encontro anual por ocasião da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo. A vossa presença aqui, como representantes do Patriarca Ecuménico, Sua Santidade Bartolomeu I, é um sinal do nosso amor por Cristo e um acto de fraternidade eclesial, mediante o qual reafirmamos a herança de amor e unidade que o Senhor deixou à sua Igreja, construída sobre os Apóstolos. Estes encontros anuais alimentam a nossa relação fraterna e fortalecem a nossa esperança enquanto caminhamos, passo a passo, ao longo do caminho para a plena comunhão e a superação das nossas divisões históricas.

2. Dou graças ao Senhor porque, no ano há pouco terminado, a Santa Sé teve muitas ocasiões de encontro e cooperação com o Patriarcado Ecuménico. Destes, desejo recordar a mensagem que enviei a Sua Santidade Bartolomeu I, por ocasião do V Simpósio sobre o Meio Ambiente, começado na minha terra natal, a Polónia. Aprecio sobremaneira as palavras gentis e os bons votos de oração proferidos recentemente por Sua Santidade, durante duas conferências que assinalaram a proximidade do vigésimo quinto aniversário do meu Pontificado. Enfim, estou profundamente grato pelos esforços feitos nos últimos meses pelo Patriarcado Ecuménico para coordenar a sequência do trabalho da Comissão Internacional Mista para o Diálogo Teológico entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas. Queiram assegurar Sua Santidade das minhas fervorosas orações a fim de que esta iniciativa, que é indispensável para o nosso crescimento na unidade, seja coroada de bom êxito.

As rápidas mudanças que se verificam no mundo actual pedem a todos os cristãos que mostrem como o Evangelho de Jesus Cristo pode lançar luz sobre as questões éticas cruciais que a família humana deve enfrentar, entre as quais a necessidade urgente de promover o diálogo inter-religioso, de trabalhar para pôr fim à injustiça que cria conflitos e inimizade entre os povos, de defender a obra criada por Deus e de enfrentar os desafios postos pelos novos progressos na ciência e na tecnologia. Aqui na Europa, os seguidores do Senhor, em particular, devem cooperar para reconhecer e dar nova vida às raízes espirituais que estão no centro da história e da cultura do continente. A consolidação da unidade e da identidade europeias exige que os cristãos, como testemunhas da misericórdia salvífica do Deus Uno e Trino, desenvolvam um papel específico no actual processo de integração e reconciliação. A Igreja de Cristo não é porventura chamada, primeiro e acima de tudo, a oferecer ao mundo um modelo de harmonia, de tolerância recíproca e de caridade fecunda que revele a capacidade da graça divina para superar todas as divisões e discórdias humanas?

3. Caros Irmãos, enquanto procuramos avançar no diálogo da verdade e no diálogo da caridade, não nos deixemos desanimar pelas dificuldades que encontramos. Há sempre uma maneira para andar em frente se estamos empenhados em fazer a vontade de Deus para a unidade dos seus discípulos. Devemos prosseguir nos nossos esforços, reforçar o nosso desejo de unidade e não descurar nenhuma oportunidade para avançar para a plena comunhão e cooperação, apresentando sempre a Deus, na oração, as nossas necessidades, as nossas esperanças e os nossos fracassos, a fim de que nos possa curar com a sua grande misericórdia.


DIscursos João Paulo II 2003