DIscursos João Paulo II 2003

5 de Julho de 2003





Senhoras e Senhores

1. Estou feliz por me encontrar convosco, por ocasião da entrega do Prémio, conferido em memória do meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI.

Dirijo as minhas sinceras saudações de boas-vindas a todos os presentes. Saúdo com afecto os Senhores Cardeais Giovanni Battista Re e Paul Poupard, o Bispo de Bréscia, D. Giulio Sanguineti e os outros Prelados aqui reunidos. Faço extensiva a minha respeitosa saudação às Autoridades civis, que representam as Instituições públicas de Bréscia, assim como os responsáveis do Instituto Paulo VI, a começar pelo seu Presidente, Dr. Giuseppe Camadini, a quem agradeço as palavras com que interpretou os sentimentos de todos. Renovo a minha estima pelas iniciativas promovidas por esta benemérita Instituição, que contribui para manter viva, na Igreja e no coração dos homens de boa vontade, a gratidão a este grande Papa.

2. O encontro do dia de hoje insere-se entre duas celebrações importantes: o quadragésimo aniversário da eleição do Servo de Deus Paulo VI ao Pontificado e o vigésimo quinto aniversário da sua morte.

A sua sentida memória permanece cada vez mais viva e enraizada na alma das pessoas. Paulo VI sentiu profundamente as inquietações e as esperanças do seu tempo, esforçando-se em ordem a compreender as experiências dos seus contemporâneos e iluminando-as com a luz da mensagem cristã. Ele indicou-lhes a fonte da verdade em Cristo, o único Redentor, manancial da verdadeira alegria e da paz autêntica.

Possa o exemplo deste zeloso Pastor da Igreja universal encorajar e estimular cada vez mais os fiéis a serem testemunhas da esperança, no alvorecer do terceiro milénio.

3. O prestigioso Prémio que, precisamente em seu nome, é conferido de cinco em cinco anos a uma personalidade ou Instituição que se distinguiu de maneira significativa no âmbito da cultura de inspiração religiosa, representa um indubitável reconhecimento do interesse perene suscitado pela pessoa do Papa Montini. Até agora, ele foi conferido a estudiosos nos campos da teologia, da música, do ecumenismo e da promoção dos direitos humanos. Desta vez, ele é entregue ao famoso investigador francês, o Prof. Paul Ricoeur, a quem transmito uma cordial e respeitosa saudação, agradecendo-lhe as amáveis e sentidas palavras que acabou de me dirigir. Ele é reconhecido inclusivamente pela contribuição generosa para o diálogo ecuménico entre os católicos e os reformados. A sua investigação realça a fecundidade da relação entre a filosofia e a teologia, entre a fé e a cultura; trata-se de uma contribuição que, como desejei recordar na Carta Encíclica Fides et ratio, deve realizar-se "sob o sinal da "circularidade". Para a teologia, o ponto de partida e a fonte original deverá ser sempre a palavra de Deus... Uma vez que a palavra de Deus é a verdade, em ordem à sua melhor compreensão, não deixará de contribuir a investigação humana da verdade, ou seja, a filosofia" (n. 73).

4. Por conseguinte, é mais oportuna do que nunca a escolha por parte do Instituto Paulo VI, de honrar um filósofo e, ao mesmo tempo, um homem de fé, comprometido na defesa dos valores humanos e cristãos.

Enquanto exprimo as minhas profundas felicitações ao Prof. Paul Ricoeur, asseguro-vos a todos vós aqui presentes a minha oração, a fim de que possais corresponder ao projecto que Deus tem para vós e para o próprio Instituto Paulo VI.

5. Dirijo uma saudação especial também aos membros da Fundação "Centesimus Annus Pro Pontifice", reunidos para o seu encontro anual, sob a presidência do Conde Lorenzo Rossi di Montelera, a quem saúdo cordialmente. Estendo a minha saudação aos Prelados, aos Membros do Conselho de Administração e a todos os participantes nesse Encontro.

Enquanto agradeço a ajuda oferecida à Santa Sé, rezo ao Senhor por cada um de vós, pelas vossas actividades e por todas as pessoas que vos são queridas.

6. É com estes sentimentos que dirijo a todas as pessoas presentes nesta audiência os bons votos de um compromisso profícuo no campo de trabalho que vos é próprio, enquanto vos concedo a todos a minha Bênção.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA FUNDAÇÃO VATICANA


"CENTESIMUS ANNUS PRO PONTIFICE"


Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. O encontro de hoje tem lugar no décimo aniversário da insituição da Fundação vaticana "Centesimus Annus Pro Pontifice", que representa uma resposta singular ao convite que eu dirigi, na Encíclica em que ela se inspira, para promover e difundir o conhecimento e a prática da doutrina social da Igreja.

A generosa disponibilidade de fiéis leigos qualificados e de pessoas variadamente expressivas da grande tradição do movimento católico na Itália encontrou-se com a fervorosa iniciativa do Cardeal Rosalio Castillo Lara, então Presidente da Administração do Património da Sé Apostólica. Daí derivou esta vossa instituição que deseja ligar o compromisso na difusão do ensinamento da Igreja em matéria social, especialmente no mundo das profissões e do empresariado, com a ajuda concreta oferecida ao Papa para as intervenções de caridade que lhe são continuamente solicitadas de todas as partes do mundo e para o apoio aos instrumentos de que se serve para o seu ministério universal.

Os últimos dez anos viram consolidar-se a Fundação, o desenvolvimento das iniciativas de estudo e formação entre as quais é de apreciar particularmente o Master em Doutrina Social, promovido em colaboração com a Pontifícia Universidade Lateranense , a articulação de grupos de aderentes em território italiano e o começo, rico de perspectivas, de presenças estabelecidas também noutros países.

Não posso deixar de me alegrar vivamente por tudo isto, enquanto sinto o dever de exprimir um agradecimento especial a quantos concorreram para pôr anualmente à minha disposição preciosos recursos para o exercício da minha solicitude evangélica para com o mundo inteiro.

2. Encorajo-vos a continuar o vosso compromisso, tendo sempre presentes três grandes convicções:

a) A permanente actualidade da doutrina social da Igreja. As dramáticas vicissitudes que atormentam o mundo contemporâneo e as deploráveis condições de subdesenvolvimento em que se encontram ainda demasiados Países, com terríveis consequências para os seus habitantes, para as suas frágeis instituições, para o próprio ambiente natural, estão a dizer que, verdadeiramente, é necessário voltar a partir de uma justa perspectiva: a verdade do homem como é descoberta pela razão e confirmada pelo Evangelho de Jesus Cristo, que proclama e promove a verdadeira dignidade e a natural vocação social da pessoa.

O ensinamento social da Igreja aprofunda progressivamente os diversos perfis dos cenários culturais e sociais; e oferece orientações estimulantes para a promoção dos direitos humanos, para a salvaguarda da família, para o desenvolvimento de instituições políticas verdadeiramente democráticas e participativas, para uma economia ao serviço do homem, para uma nova ordem internacional que garanta ao mesmo tempo a justiça e a paz entre os povos, por uma atitude cada vez mais responsável para com a criação, também ao serviço das gerações futuras.

b) A responsabilidade própria dos cristãos leigos. Proposta de novo com grande clareza pelo Concílio Vaticano II e convictamente sublinhada, tantas vezes, por mim próprio nos actos do meu magistério, essa responsabilidade encontra precisamente na doutrina social da Igreja um ponto de referência necessário, fecundo e exaltante. O Concílio fala de "missão, luz e forças que podem servir para estabelecer e consolidar a comunidade humana segundo a Lei divina" (Gaudium et spes, GS 42). Esta missão é própria e peculiar dos fiéis leigos, chamados pela luz que vem do Evangelho, a enfrentar as múltiplas realidades sociais e, com a força infundida por Cristo, a comprometer-se para "humanizar" o mundo. É uma responsabilidade verdadeiramente grande, que deveria ser vivida pelos cristãos leigos não como um dever restringente, mas como uma paixão generosa e criativa.

c) A consciência de que só homens novos podem fazer novas todas as coisas. Não se pode pedir à economia, à política, às instituições aquilo que elas não podem dar. Toda a verdadeira novidade parte do coração, de uma consciência libertada, iluminada e habilitada para a verdadeira liberdade pelo encontro vivo com Aquele que disse; "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jn 14,5) e "sem Mim nada podeis fazer" (Jn 15,5).

O compromisso social dos cristãos leigos apenas pode ser alimentado e tornado coerente e corajoso por uma profunda espiritualidade, isto é, por uma vida de íntima união com Jesus, que os torne capazes de exprimir as grandes virtudes teologais fé, esperança e caridade através do exercício da difícil responsabilidade de edificar uma sociedade menos longínqua do desígnio providente de Deus.

3. Ao oferecer-vos com estima, com esperança e com afecto estas orientações para o vosso compromisso cada vez maior, desejo renovar o meu vivo agradecimento ao Presidente, Conde Lorenzo Rossi di Montelera, aos membros do Conselho de Administração, aos fundadores, a todos os aderentes e aos eclesiásticos que acompanham o vosso caminho. Com estes sentimentos, invoco do coração sobre cada um de vós, e sobre quantos vos são queridos, copiosos dons celestiais, em penhor dos quais concedo a todos a minha Bênção.

Vaticano, 5 de Julho de 2003.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA "CARITAS INTERNATIONALIS"






Ao Senhor D. Fouad EL-HAGE
Presidente da Caritas Internationalis

1. No momento em que se reúne, em Roma, a décima sétima Assembleia geral da Caritas Internationalis, saúdo cordialmente os que nela participam e que representam todas as organizações membros da Caritas espalhadas pelo mundo. Desejo manifestar, mais uma vez e nesta ocasião, o meu reconhecimento à vossa organização por pôr em prática, activa e competente, o preceito da caridade e pelo seu trabalho generoso no mundo inteiro, nomeadamente ao serviço dos mais carenciados.

2. O tema que quisestes aprofundar no decurso desta assembleia, Mundializar a solidariedade, é uma resposta directa ao apelo que lancei na Carta apostólica Novo millennio ineunte, convidando ao "compromisso de um amor activo e concreto por cada ser humano" (n. 49) e lembrando "a hora de uma nova "fantasia da caridade", que se manifeste não só nem sobretudo na eficácia dos socorros prestados, mas na capacidade de pensar e ser solidário com quem sofre, de tal modo que o gesto de ajuda seja sentido não como esmola humilhante, mas como partilha fraterna" (n. 50). Desejo que encontreis, graças aos vossos intercâmbios e aos vossos trabalhos, caminhos concretos para realizar este objectivo, tão caro ao meu coração.

3. O projecto é ambicioso, porque quer ter em conta os desafios urgentes, postos pelo nosso mundo, marcado por uma multidão de permutas que, cada vez mais, fazem aparecer laços de interdependência entre os sistemas, as nações e as pessoas, mas também está ameaçado por rupturas, separações e oposições violentas, como nos mostrou o crescimento do terrorismo. Perante esta situação, certamente não há tempo a perder, mas claramente se percebe que já não é possível conceber políticas ou programas que permaneçam limitados a um aspecto parcial dos problemas, querendo ignorar o que se passa noutros lugares. A mundialização tornou-se como que o horizonte forçado de toda a política, e isto é verdadeiro em particular para o que diz respeito ao mundo da economia, bem como aos domínios da assistência e da ajuda internacionais.

4. Para que a solidariedade se torne mundial, é preciso que ela tenha em conta, efectivamente, todos os povos, no conjunto das regiões do mundo. Isto exige, ainda, muitos esforços e, sobretudo, firmes garantias internacionais perante as organizações humanitárias, postas muitas vezes de lado, contra a sua vontade, dos terrenos de conflito, porque não lhes é garantida a segurança nem lhes é assegurado o direito de prestar assistência às pessoas.

Mundializar a solidariedade pede que se trabalhe em estreita e constante relação com as organizações internacionais, garantes do direito, para equilibrar de um modo novo, as relações entre países ricos e países pobres, a fim de terminarem as relações de assistência de sentido único, que muitas vezes contribuem para tornar mais profundo o desequilíbrio por um mecanismo de endividamento permanente. Seria conveniente pôr em acção uma verdadeira parceria, fundada sobre relações iguais e recíprocas, reconhecendo o direito de cada um orientar efectivamente as opções que dizem respeito ao seu futuro.

5. Importa acrescentar que querer a mundialização da solidariedade não requer somente uma adaptação às novas exigências da situação internacional ou às modificações do exercício das leis de mercado, mas que isto constitua primeiro, uma resposta aos insistentes apelos do Evangelho de Cristo. Para nós, cristãos, mas também para todos os homens, isto pede uma verdadeira caminhada espiritual, a conversão das mentalidades e das pessoas. Para que a ajuda oferecida ao outro não seja mais a esmola do rico ao pobre, humilhante para este e, talvez, fonte de orgulho para o primeiro, para que ela se torne uma partilha fraterna, quer dizer, o reconhecimento de uma verdadeira igualdade entre todos, é preciso que "voltemos a partir de Cristo" (cf. Novo millennio ineunte NM 29), enraizar a nossa vida no amor de Cristo, ele que faz de nós seus irmãos. Como o Apóstolo Pedro, compreendemos, de hoje em diante, que "Deus não faz acepção de pessoas" (Ac 10,34) e que, a partir de agora, o ministério da caridade deve ser universal.

O acolhimento de todos aqueles que estão em dificuldade é, desde há muito tempo, a regra da vossa actividade em todos os lugares e em todos os países onde se exerce, directa ou indirectamente, a actividade da Caritas. Agora, importa trabalhar na sensibilização dos homens nesta tarefa, a fim de que cada pessoa, porque tem a mesma diginidade e os mesmos direitos dos seus semelhantes, possa esperar também os mesmos socorros.

6. Convidando-vos a voltar-vos para Cristo, Bom Samaritano da nossa humanidade ferida (cf. Lc Lc 10,30-36), sem o qual nada podemos fazer (cf. Jo Jn 15,5), confio-vos à intercessão da Virgem Maria, atenta, já em Caná, a dar conta das expectativas dos homens, para que ela acompanhe os vossos trabalhos com a sua oração. De todo o coração vos concedo uma particular Bênção apostólica.

Vaticano, 4 de Julho de 2003.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS SACERDOTES MISSIONÁRIOS


DA REALEZA DE CRISTO


NO CINQUENTENÁRIO DE FUNDAÇÃO


8 de Julho de 2003




Caríssimos Missionários da Realeza de Cristo

1. É com prazer que vos recebo, nesta Audiência especial, por ocasião do 50º aniversário de fundação do vosso Instituto Secular. Dirijo a minha cordial saudação ao vosso Presidente, a quem agradeço as amáveis palavras com que se fez intérprete dos sentimentos de todos. A minha saudação faz-se extensiva aos presentes e a todos os vossos sócios espalhados em várias nações da Europa, da África e da América Latina, com um afectuoso pensamento aos doentes, aos idosos e, de modo particular, aos jovens que, em número crescente, se sentem atraídos pelo carisma missionário da vossa Família espiritual.

A vossa fundação teve lugar no dia 4 de Outubro de 1953, na igreja de São Damião, em Assis. Este é um feliz ensejo para agradecer ao Senhor os inúmeros frutos de bem, amadurecidos até hoje, e para voltar a partir com um renovado impulso missionário, anunciando o Evangelho aos homens e às mulheres do terceiro milénio.

2. Em conformidade com a intuição original do Fundador, Padre Agostinho Gemelli, o vosso Instituto Secular caracteriza-se como uma fraternidade sacerdotal em que cada um, fiel ao desígnio de Deus, realiza a sua própria consagração ao serviço da Igreja, germe e princípio do Reino de Cristo na terra (cf. Lumen gentium, LG 5). Inspirando-vos em São Francisco de Assis, vós viveis "o ministério presbiteral segundo o modelo de vida que Cristo indicou aos seus primeiros discípulos, convidando-os a deixar tudo por Ele e pelo Evangelho" (Constituições, n. 3; cf. PC, PC 3).

Continuai neste itinerário libertador, ascético e apostólico, dando graças ao Senhor em cada dia pelo ministério sacerdotal, dádiva e mistério de amor divino.

3. Conservai vivo o carisma do Fundador, adaptando-o às diversas situações sociais e culturais da nossa época. O vosso serviço eclesial só será fecundo, se vos mantiverdes em contacto constante com Cristo na oração, e se cultivardes cada vez mais a comunhão com o Bispo e com o colégio dos presbíteros das Dioceses a que pertenceis.

Sede missionários cheios de zelo e de generosa dedicação aos irmãos. Que o anseio pela evangelização vos oriente para um apostolado sem fronteiras. Como eu escrevia na Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, o dom espiritual recebido pelos presbíteros na Ordenação "não os prepara para uma missão limitada e restrita, mas sim para uma vastíssima e universal missão de salvação, "até aos extremos confins da terra" (Ac 1,18). Este é o motivo pelo qual a vida espiritual dos sacerdotes "deve ser profundamente assinalada pelo anseio e pelo dinamismo missionários"" (cf. PDV, PDV 32).

4. Caríssimos, enquanto vos agradeço esta visita, que se realiza no contexto festivo das celebrações jubilares do vosso Instituto, exorto-vos em primeiro lugar a tender para a santidade como prioridade da vossa existência, de maneira a serdes, por vossa vez, testemunhas e mestres de perfeição evangélica. A espiritualidade própria dos missionários da Realeza de Cristo, que é secular e presbiteral, representa um significativo património a investir, para o bem da Igreja.

Confio a vossa Fraternidade Sacerdotal à Virgem Imaculada. Ela, Rainha e especial Protectora do vosso Instituto, vos ajude a realizar a missão que vos foi confiada, para a vossa santificação e para a salvação das almas.

Enquanto asseguro uma recordação constante na oração, abençoo-vos a todos com afecto, assim como os vossos confrades espalhados pelo mundo inteiro e quantos vós encontrais no trabalho pastoral de todos os dias.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II

POR OCASIÃO DO 60° ANIVERSÁRIO DOS "TRÁGICOS

ACONTECIMENTOS" DA VOLÍNIA NA UCRÂNIA





Aos Senhores Cardeais
Józef GLEMP Arcebispo de Varsóvia e Primaz da Polónia
Marian JAWORSKI Arcebispo de Lviv dos Latinos
Lubomyr HUSAR Arcebispo-Mor de Lviv dos Ucranianos

Caríssimos cidadãos
pertencentes aos povos irmãos
da Ucrânia e da Polónia

1. Tomei conhecimento de que no próximo dia 11 de Julho, 60º aniversário dos trágicos acontecimentos da Volínia, cuja recordação ainda hoje está viva entre vós, filhos de duas Nações que me são muito caras, vai realizar-se uma comemoração oficial de reconciliação ucraniano-polaca.

No turbilhão do segundo conflito mundial, quando era mais urgente a exigência de solidariedade e de ajuda recíproca, a obscura acção do mal envenenou os corações e as armas fizeram correr o sangue inocente. Agora, à distância de sessenta anos daqueles tristes acontecimentos, vai-se consolidando na alma da maioria dos polacos e dos ucranianos a necessidade de um profundo exame de consciência. Sente-se a necessidade de uma reconciliação que permita contemplar o presente e o futuro com novos olhos. Esta disposição interior providencial impele-me a elevar ao Senhor sentimentos de gratidão, enquanto me uno espiritualmente a quantos recordam na oração todas as vítimas daqueles anos de violência.

O novo milénio, que começou há pouco tempo, exige que os ucranianos e os polacos não permaneçam prisioneiros das suas tristes memórias, mas, considerando os acontecimentos passados com um novo espírito, se vejam uns aos outros com olhos reconciliadores, comprometendo-se a edificar um futuro melhor para todos.

Assim como Deus nos perdoou a nós em Jesus Cristo, também é necessário que os fiéis saibam perdoar-se uns aos outros as ofensas recebidas e pedir perdão pelos próprios pecados, em ordem a contribuir para fomentar um mundo respeitador da vida e da justiça, na concórdia e na paz. Além disso, conscientes de que "Aquele que nada tinha a ver com o pecado, Deus fê-lo pecado por causa de nós" (2Co 5,21), os cristãos são chamados a reconhecer os desvios do passado para poderem despertar as suas consciências diante dos compromissos do presente, abrindo a alma a uma conversão autêntica e duradoura.

2. Durante o Grande Jubileu do Ano 2000 a Igreja, num contexto solene e com a clarividente consciência daquilo que aconteceu no passado, perante o mundo, pediu perdão pelos pecados dos seus filhos, perdoando ao mesmo tempo quantos a ofenderam de várias maneiras. Desta forma, desejava purificar a memória das tristes vicissitudes, de todos os sentimentos de rancor e de vingança, para recomeçar animada e confiante na obra de edificação da civilização do amor.

Ela propõe esta mesma atitude também à sociedade civil, exortando todos a uma reconciliação sincera, consciente de que não existe justiça sem perdão, e de que a colaboração seria frágil sem uma abertura recíproca. Isto é ainda mais urgente, se se considera a necessidade de educar as jovens gerações a enfrentarem o futuro, não sob os condicionalismos de uma história de desconfianças, de preconceitos e de violências, mas no espírito de uma memória reconciliada.

A Polónia e a Ucrânia, terras que desde há muitos séculos conheceram o anúncio do Evangelho e ofereceram inúmeros testemunhos de santidade num elevado número dos seus filhos, neste início de milénio desejam consolidar os seus relacionamentos de amizade, libertando-se das amarguras do passado e abrindo-se às relações fraternais, iluminadas pelo amor de Cristo.

3. Enquanto manifesto a minha satisfação pelo facto de que as comunidades cristãs se fizeram promotoras desta comemoração, com vista a contribuir para cicatrizar e curar as feridas do passado, encorajo os dois povos irmãos a perseverarem com constância na promoção da colaboração e da paz.

Ao transmitir a minha cordial saudação a todo o Episcopado, ao Clero e aos fiéis destas Nações, dirijo um respeitoso pensamento aos Presidentes e às respectivas Autoridades civis e, através deles, aos povos polaco e ucraniano, sempre presentes no meu coração e nas minhas orações, com os bons votos de um progresso constante na concórdia e também na paz.

Acompanho estes votos com uma particular Bênção apostólica que, de bom grado, concedo a todos aqueles que se associarem às celebrações programadas.

Vaticano, 7 de Julho de 2003.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO SOBRE O TEMA:


"UNIVERSIDADE E IGREJA NA EUROPA"


19 de Julho de 2003






Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Ilustres Senhores Reitores e Professores
Caríssimos jovens universitários

1. É com muito prazer que vos recebo, por ocasião do Encontro sobre o tema: "Universidade e Igreja na Europa", promovido pelo Conselho das Conferências da Europa e pela Comissão Episcopal Italiana para a Universidade, em colaboração com o Ministério da Universidade. Agradeço cordialmente a D. Amédée Grab, as palavras com que apresentou este encontro, e às Autoridades civis e académicas, a sua amável presença. A todos, professores, capelães e estudantes, dirijo as minhas cordiais boas-vindas.

Marcastes encontro em Roma, por ocasião do VII Centenário de fundação da mais antiga Universidade da Urbe, "La Sapienza". A partir de Roma, durante estes dias o vosso horizonte alarga-se para a Europa inteira, enquanto reflectis sobre a relação entre Universidade e Igreja, no início do terceiro milénio.

2. Esta relação leva-nos directamente ao coração da Europa, onde a sua civilização chegou a exprimir-se numa das suas instituições mais emblemáticas. Estamos, pois, nos séculos XIII-XIV: na época em que adquire forma o "Humanismo", como síntese muito feliz entre o saber teológico e filosófico e as outras ciências. Uma síntese impensável sem o cristianismo e, por conseguinte, sem a obra secular de evangelização, realizada pela Igreja no encontro com as múltiplas realidades étnicas e culturais do continente (cf. Discurso no V Encontro dos Bispos da Europa, 19 de Dezembro de 1978, n. 3).

Esta memória histórica é indispensável para fundamentar a perspectiva cultural da Europa de hoje e de amanhã, em que a construção da universidade é chamada a desempenhar um papel insubstituível.

Assim como a nova Europa não pode projectar-se sem se inspirar nas suas próprias raízes, o mesmo pode dizer-se no que se refere à universidade. Com efeito, ela é por excelência o lugar de investigação da verdade, de análises atentas dos fenómenos na tensão constante para sínteses cada vez mais completas e fecundas. E assim como a Europa não se pode reduzir a um mercado, também a universidade, embora deva inserir-se no tecido social e económico, não pode ser submetida às suas exigências, se não perderia a natureza que lhe é própria, e que permanece principalmente cultural.

3. É assim que a Igreja na Europa considera a universidade: com a estima e a confiança de sempre, comprometendo-se a oferecer a sua contribuição multiforme. Em primeiro lugar, com a presença de professores e de estudantes que saibam unir a competência e o rigor científico a uma intensa vida espiritual, a ponto de animar o ambiente universitário com o espírito evangélico. Em segundo lugar, mediante as Universidades católicas, onde se actualiza a herança das antigas universidades, nascidas ex corde Ecclesiae. Além disso, desejo confirmar a importância dos chamados "laboratórios culturais" que, oportunamente, constituem uma escolha prioritária da pastoral universal a nível europeu. Neles, desenvolve-se um diálogo construtivo entre fé e cultura, entre ciência, filosofia e teologia, e a ética é considerada uma exigência intrínseca da procura de um autêntico serviço ao homem (cf. Discurso no Encontro Mundial dos Professores Universitários, 9 de Setembro de 2000, n. 5).

Dirijo-vos a vós, Professores, o meu encorajamento; a vós, Estudantes, a exortação a fazer fecundar os vossos talentos com empenhamento; e a todos vós, os bons votos de uma colaboração a promover sempre a vida e a dignidade do homem.

Daqui a pouco, acenderei a tocha que uma procissão levará à igreja de Santo Ivo "alla Sapienza", passando pelas diversas Sedes universitárias de Roma: trata-se de uma maneira de realçar o significado e o valor do VII Centenário da Universidade "La Sapienza".

Maria Santíssima, Sede da Sabedoria, vele sempre sobre vós. Acompanho-vos todos com a oração e com a minha Bênção.

No final da sua alocução, o Sumo Pontífice saudou ainda os peregrinos e fiéis ali presentes, pronunciando algumas palavras, respectivamente, em francês, inglês, alemão, espanhol e polaco:

Saúdo os professores e os estudantes de língua francesa, dirigindo-lhes os meus melhores votos para as suas investigações e para a sua participação na animação cristã no mundo universitário.

Dirijo as minhas saudações aos participantes de língua inglesa, enquanto os encorajo a promover nas suas Universidades o estudo das raízes cristãs da Europa.
Saúdo cordialmente os peregrinos de expressão alemã, enquanto formulo os meus bons votos, a fim de que as comunidades e os grupos de trabalho consigam promover a Nova Evangelização no mundo universitário.

Dirijo uma saudação cordial aos professores e estudantes de língua espanhola, animando-os a trabalhar sempre pela promoção integral da pessoa humana.

É com cordialidade que saúdo os Professores e Alunos provenientes da Polónia, da Ucrânia, da Rússia e da Bielo-Rússia. Nas vossas Universidades, sede portadores da mensagem cristã, que orienta o homem pelo caminho da liberdade autêntica.



                                                                               Agosto de 2003  

 MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO "ACAMPAMENTO


NACIONAL ITALIANO" DA AGESCI


Caríssimos Escuteiros e Guias da AGESCI


1. Ainda está viva em mim a recordação da visita que tive a alegria de realizar aos Planaltos de Pezza, nos Abruzos, no Verão de 1986, aos participantes na vossa "Route" Nacional. No corrente ano, quisestes propor uma nova e grande experiência comunitária, o Acampamento Nacional, que terá lugar contemporaneamente em quatro localidades, nas Províncias de Avelino, Cálari, Perúsia e Turim. Desta vez, infelizmente, não posso aceitar o vosso amabilíssimo convite para ir visitar-vos. Não obstante, desejo assegurar-vos que me recordo de vós com afecto e que estou próximo de vós através da oração, a fim de que cada um de vós, jovem ou adulto, possa viver em plenitude os dias do vosso "Acampamento".

Há cerca de três meses, recebi em audiência um numeroso grupo de dirigentes e responsáveis da vossa Associação, a quem confirmei a confiança e a estima da Igreja pelos conteúdos e o método da proposta educativa que a Associação está a desenvolver. Agora, enquanto penso em vós que, reunidos em milhares nos maravilhosos cenários em que plantareis as vossas tendas, gostaria de retomar um dos temas formativos que vos é caro, ou seja, a importância que deve revestir o contínuo aprofundamento da fé, valorizando o amor e o respeito pela natureza: trata-se de uma tarefa que hoje se impõe a todos com urgência, mas que os escuteiros vivem desde sempre, impelidos não por um vago "ecologismo", mas pelo sentido de responsabilidade que deriva da fé. Com efeito, a salvaguarda da criação constitui um aspecto qualificador do compromisso dos cristãos no mundo.

2. Lá onde tudo fala do Criador e da sua sabedoria, das majestosas montanhas aos encantadores vales floridos, vós aprendeis a contemplar a beleza de Deus enquanto a vossa alma, por assim dizer, "respira" abrindo-se ao louvor, ao silêncio e à contemplação do mistério divino.
O "Acampamento" em que estais a participar, além de ser um período de férias aventurosas, torna-se assim um encontro com Deus, convosco mesmos e com os outros; um encontro favorecido por uma profunda revisão de vida, à luz da Palavra de Deus e dos princípios do vosso compromisso formativo.

Quando Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, para o monte Tabor, certamente teve a possibilidade de admirar com eles o panorama da Galileia, que se pode vislumbrar lá do cume. Obviamente, este não era o seu objectivo primário. Ele queria tornar os seus discípulos partícipes da sua oração e mostrar-lhes o seu rosto glorioso, com vista a prepará-los para suportar a dura prova da Paixão. Com as devidas proporções, não é este porventura o sentido dos "Acampamentos" que a AGESCI propõe aos seus participantes? Trata-se de momentos fortes em que, favorecidos pelo ambiente natural, vós fareis uma significativa experiência de Deus, de Jesus e da comunhão fraternal. Tudo isto vos prepara para a vida, para fundar na fé os vossos projectos mais comprometedores e para ultrapassar as crises com a luz e a força que provêm do Alto.

3. Caríssimos, o caminho do escutismo da AGESCI visa formar a personalidade dos adolescentes, dos jovens e dos adultos, em conformidade com o modelo evangélico. É uma escola de vida, em que se aprende um "estilo" que, se for bem assimilado, se há-de conservar para toda a vida. Este estilo resume-se na palavra "serviço". E se isto é válido para cada um dos jovens que participa na experiência do escutismo, independentemente da sua fé, é ainda mais verdadeiro para vós, que vos definis e desejais ser realmente "católicos". O vosso serviço deverá ser ainda mais generoso e abnegado, segundo o modelo do serviço de Jesus, que afirmou: "Há mais felicidade em dar, do que em receber!" (Ac 20,35).

Caríssimos Escuteiros e Guias, asseguro-vos a minha presença espiritual, corroborada pela oração, a fim de que Nossa Senhora, Virgem fiel, vos proteja e vos acompanhe.

Com estes pensamentos e sentimentos, é de coração que vos abençoo, a vós, os vossos responsáveis e toda a família da AGESCI.

Castel Gandolfo, 28 de Julho de 2003.




DIscursos João Paulo II 2003