DIscursos João Paulo II 2003

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS IRMÃS URSULINAS DE MARIA IMACULADA


REUNIDAS EM CAPÍTULO GERAL


Caras Irmãs Ursulinas de Maria Imaculada


1. É-me grato transmitir uma cordial saudação à Superiora-Geral e às Irmãs vindas a Roma para o Capítulo Geral do vosso benemérito Instituto. Além disso, desejo abraçar todas as vossas Irmãs que trabalham na Itália, na Índia, no Brasil e no Continente africano. Transmito-lhes uma cordial saudação, corroborada pela certeza de uma lembrança especial na oração, a fim de que cada Ursulina de Maria Imaculada possa, com alegria e fidelidade, seguir Cristo pobre, casto e obediente, e dedicar-se totalmente ao serviço dos irmãos.

A Assembleia capitular representa uma ocasião privilegiada de oração, de reflexão e de discernimento, para identificar em conjunto as directrizes mais oportunas para o futuro da Congregação. Trata-se de um tempo profícuo para renovar o compromisso de uma resposta generosa, pessoal e comunitária ao chamamento de Deus.

O tema do Capítulo é particularmente encorajador e actual: "As Ursulinas de Maria Imaculada enfrentam os desafios de um mundo em contínua evolução e renovadas entregam-se à missão da Igreja". Trata-se de um apelo a viver a vossa missão em plena sintonia com a Igreja, mantendo-vos solidamente unidas a Cristo e disponíveis para enfrentar corajosamente os desafios do terceiro milénio.

Estimadas Irmãs, sede conscientes de que, como realça uma recente Instrução da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, "à imitação de Jesus, aqueles que Deus chama ao seu seguimento são consagrados e enviados pelo mundo para continuar a sua Missão. Aliás, a vida consagrada, sob a acção do Espírito Santo, torna-se ela mesma missão" (Recomeçar a partir de Cristo, 9).

2. Na primeira metade do século XVII, a vossa Fundadora deu vida em Placência, a um Instituto destinado ao serviço do próximo abandonado. Conservando intacto o seu carisma, empenhai-vos em qualificar cada vez mais o apostolado da vossa Congregação, para que corresponda plenamente às exigências dos nossos tempos. Vós sois chamadas a ser "contemplativas em acção", isto é, prontas para responder às necessidades das pessoas, de maneira especial dos jovens, testemunhando ao mesmo tempo a urgência de uma profunda espiritualidade, renovada nos métodos e nas formas, mas fiel ao espírito das origens.

Imitai a fé inabalável da Beata Brígida Morello, que tive a alegria de elevar à glória dos altares há cinco anos. Como recordei nessa feliz circunstância, nos seus exemplos e ensinamentos "trasparece uma exortação constante à confiança em Deus. Ela gostava de repetir: "Confiança, confiança, grande coração! Deus é o nosso Pai e nunca nos abandonará!"" (Insegnamenti, XXI/1 [1998/1], pág. 538). O segredo do apostolado consiste precisamente em saber que "não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (1Jn 4,10).

3. Contemplando Cristo crucificado e ressuscitado coração da espiritualidade da Beata Brígida Morello alargar-se-ão os horizontes da vossa dedicação aos pobres, aos doentes e a quantos se encontram em necessidades materiais e espirituais mais urgentes, com particular atenção às mulheres e aos jovens. Assim, conservareis fielmente a herança que a Beata Fundadora vos deixou, a vós que sois suas filhas espirituais, e sereis capazes de pôr em prática a sua inspiração carismática neste nosso tempo, dando importância sobretudo àquilo que "sois", e não tanto àquilo que "realizais".

Com estes sentimentos e bons votos, enquanto vos asseguro uma lembrança constante na oração, concedo-vos de coração, a cada uma de vós e a todas as vossas Comunidades espalhadas pelo mundo, uma especial Bênção apostólica que, de bom grado, faço extensiva aos vossos entes queridos e a quantos são objecto dos vossos cuidados apostólicos.

Castel Gandolfo, 27 de Agosto de 2003.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DA ORDENAÇÃO


DO PRIMEIRO PREFEITO APOSTÓLICO


E DA BÊNÇÃO DA CATEDRAL DE ULAN BATOR


(MONGÓLIA)






A Sua Eminência o Cardeal Crescenzio SEPE
Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos

1. É com grande alegria que lhe escrevo, Venerável Irmão, no momento em que Vossa Eminência se prepara para visitar uma vez mais a jovem comunidade cristã que peregrina no vasto País asiático da Mongólia, rico de história e de tradições culturais.

No mês de Julho do ano passado, Vossa Eminência visitou Ulan Bator, capital da Nação mongol, para celebrar o décimo aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a Mongólia e a Santa Sé, e para realçar a presença viva nessa região, de uma comunidade cristã de fundação relativamente recente. Embora a primeira evangelização da Mongólia tenha tido lugar com a chegada dos cristãos da Pérsia, no século VII, somente na primeira metade do século XX uma missão foi confiada à Congregação do Coração Imaculado de Maria, nessa distante região. No início, o regime pró-comunista dessa época impediu que os missionários entrassem nessa região. Por fim, as portas abriram-se ao Evangelho e, partir de 1991, começaram a chegar os primeiros evangelizadores: sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos passaram a comprometer-se activamente na "vinha do Senhor".

Para mostrar os resultados fecundos e positivos alcançados nesta década, no ano passado tiveram lugar dois acontecimentos fundamentais para a vida da Igreja: a elevação da Missão sui iuris de Urga, Ulan Bator, à categoria de Prefeitura Apostólica, com a nova denominação de Ulaanbaatar, e a subsequente designação do primeiro Prefeito Apostólico, na pessoa do Reverendo Padre Wenceslao Padilla, C.I.C.M., assim como a primeira ordenação de três sacerdotes e de um diácono que, embora não sendo naturais desse País, consideram a Mongólia como a sua pátria de adopção. Eles representam um sinal promissor de esperança para o futuro da comunidade eclesial local.

2. A volta de Vossa Eminência a essa querida terra, mais de um ano depois, é motivada por outros dois acontecimentos, não menos importantes e felizes: a Ordenação episcopal do Prefeito Apostólico e a bênção da Catedral, dedicada aos Apóstolos Pedro e Paulo. Estes acontecimentos consolidam o edifício espiritual que está a ser construído pelo "pequeno rebanho" de uma jovem Igreja missionária, que cresce na confiança, coadjuvada pelo poder renovador do Espírito Santo.
É de todo o coração que gostaria de estar presente pessoalmente nestas celebrações litúrgicas. Dado que isto não fazia parte do plano do Senhor, agora confio-lhe (a Vossa Eminência) a responsabilidade de transmitir as minhas saudações paternas e cheias de afecto ao novo Bispo dessa porção eleita do Povo de Deus, aos outros Prelados e, de maneira especial, ao Arcebispo D. Giovanni Battista Morandini, Núncio Apostólico na Mongólia. Dirijo as minhas saudações também aos sacerdotes, às religiosas e aos outros agentes no campo da pastoral, bem como às pessoas comprometidas nas diversas actividades caritativas e humanitárias. Transmito ainda as minhas cordiais saudações a todos os membros da comunidade católica, aos baptizados, aos catecúmenos e aos "simpatizantes", especialmente às crianças, aos adolescentes e à juventude em geral, que são o futuro e a esperança da Igreja e da sociedade desse nobre País. Por fim, peço-lhe que apresente as minhas saudações respeitosas ao Senhor Presidente da República, às Autoridades civis e a todo o povo da Mongólia, que está sempre próximo do meu coração, assim como aos representantes das várias religiões, com as quais a Igreja católica espera poder colaborar fecundamente, ao serviço do bem comum. Asseguro a todos uma especial lembrança nas minhas orações, enquanto peço ao Deus Todo-Poderoso que abençoe os esforços que estão a ser realizados em ordem a espalhar o seu Reino.

3. A Maria, Mãe e Rainha da Mongólia, confio as expectativas e as esperanças da Igreja e da Nação mongóis, a fim de que, tendo passado por um longo período de dificuldade, agora possam olhar para o futuro com confiança renovada.

Que a luz de Cristo vos acompanhe a todos ao longo do caminho que se vos apresenta. É de bom grado que corroboro estes votos com a minha particular Bênção apostólica, que agora lhe confio, venerável Irmão, como meu especial representante.

Castel Gandolfo, 22 de Agosto de 2003.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA IGREJA COPTA DA ASSEMBLEIA


DA HIERARQUIA CATÓLICA DO EGIPTO


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 30 de Agosto de 2003




Beatitude
Caros Irmãos no Episcopado

1. É com imensa alegria que vos recebo, a vós que vindes realizar a vossa visita ad Limina, para rezar junto dos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, testemunhas unidas da fidelidade a Jesus Cristo até ao dom do seu próprio sangue, e vindes manifestar a vossa comunhão com o Sucessor de Pedro. Agradeço ao vosso Patriarca, Sua Beatitude o Cardeal Stéphanos II Ghattas, as suas amáveis palavras que me permitem participar nas vossas alegrias, nas vossas dificuldades e nas vossas expectativas de Pastores. É com alegria que saúdo, de maneira particular, aqueles de vós que participam pela primeira vez nesta rica experiência de comunhão na fé e no serviço ao Senhor. Juntamente convosco, dou graças a Deus por todas as comunidades cristãs presentes no Egipto, herdeiras do primeiro anúncio do Evangelho, feito por parte de São Marcos, enquanto recordo com alegria e emoção a minha peregrinação jubilar ao Cairo e ao mosteiro de Santa Catarina, aos pés do Monte Sinai. Ali, compreende-se melhor a singular implantação da revelação cristã nessa região do mundo e o seu vínculo intrínseco com o primeiro Testamento.

2. No início do nosso encontro, desejo encorajar-vos na vossa missão específica de Pastores. Tornastes-vos Bispos através da Ordenação sacramental, sucessores dos Apóstolos e primeiros responsáveis, juntamente com o Sucessor de Pedro, do anúncio da Boa Nova ao mundo inteiro. Bem sei com quanta responsabilidade procurais transformar as comunidades cristãs que vos foram confiadas em comunidades vivas, que sejam testemunhas autênticas do Evangelho, "com os factos e na verdade", como nos exorta a fazer o apóstolo São João (cf. 1Jn 3,18). No seio da sociedade egípcia, tão rica de história e de cultura, e fortemente marcada pela presença do Islão, sabeis que o testemunho mais importante é o da vida de todos os dias, centralizada no duplo mandamento do amor de Deus e do amor ao próximo. Juntamente com os sacerdotes, com os religiosos, as religiosas e todos os leigos que vivem no coração do mundo, desejais dar testemunho diante de todos, da grandeza e da beleza da vida humana, chamada a servir a glória do seu Criador e a compartilhá-la, um dia, na alegria do mundo que há-de vir. No início do terceiro milénio, o campo da missão está amplamente aberto à Igreja, que deseja ser a voz dos pequenos e dos pobres em geral, que quer acolher o apelo de todos aqueles que aspiram à paz, que deseja receber os refugiados que não dispõem de um país nem de um lar e, desta maneira, pôr-se ao serviço da verdadeira dignidade de cada homem.

Quereis legitimamente que a Igreja que está no Egipto permaneça aberta à universalidade, ligada à comunhão eclesial, desejando dar e receber, num intercâmbio permanente, o tesouro conjunto da fé. Encorajo-vos sinceramente a dar continuidade ao trabalho fraternal que já está a ser realizado no seio da Assembleia dos Bispos católicos do Egipto, quando vos encontrais com os Bispos de diferentes ritos para vos ajudar reciprocamente nas vossas responsabilidades de Pastores e para aprofundar em conjunto os vínculos da autêntica unidade católica. Deveis saber que o Papa vos acompanha neste nobre compromisso de colaboração fraternal, que serve o bem de todos os vossos fiéis e exprime e edifica a comunhão eclesial.

3. Os sacerdotes são os vossos primeiros colaboradores no ministério, e estimo o seu trabalho pastoral e a sua disponibilidade ao serviço dos seus irmãos. Muitas vezes, eles estão ligados a uma pastoral de proximidade que faz deles pais da sua comunidade, preocupando-se em visitar as famílias, em compartilhar as suas dificuldades e expectativas, e em ajudá-las na sua vida diária. Assegurai-lhes o profundo reconhecimento do Papa pelo bonito testemunho da sua caridade pastoral. Encorajai-os a dar continuidade à formação pessoal, através do estudo da Palavra de Deus e da contemplação dos mistérios da fé, sabendo utilizar os instrumentos que o Magistério da Igreja universal pôs à disposição de todos, e mais precisamente o Catecismo da Igreja Católica. Mediante cursos de formação permanente adequados, ajudai-os a conhecer melhor o mundo contemporâneo, caracterizado por intercâmbios cada vez mais numerosos e incessantes, a fim de que compreendam melhor as suas dificuldades e as suas expectativas, e encontrem outros meios para anunciar Jesus Cristo. Através do seu ministério sacramental, centrado na Eucaristia que faz viver a Igreja (cf. Ecclesia de Eucharistia EE 21), mas também mediante uma vida de oração pessoal, cadenciada pelo Ofício divino, que é a oração da Igreja, e alimentada por encontros suscitados pelo ministério pastoral, que eles sejam, segundo o exemplo de Cristo, os intercessores de toda a comunidade junto de Deus! Convosco, faço votos a fim de que todos os sacerdotes tenham condições de vida dignas e sóbrias, e que beneficiem, na medida do possível, da mesma salvaguarda e assistência no âmbito social, apesar da disparidade das riquezas, que pode verificar-se nas vossas Dioceses e que vos compromete através da partilha fraterna.

4. A vossa Igreja tem a ventura de poder contar com presbíteros em número suficiente e de poder ordenar novos sacerdotes em cada ano, graças às vocações ainda numerosas e ao trabalho que está a ser realizado pelo Seminário Maior de Maadi. Desejo agradecer ao grupo de formadores, a quem exorto a fim de que continuem com zelo e devoção o seu trabalho de discernimento e de preparação dos futuros Pastores, para o bem de todas as Igrejas católicas do Egipto, uma vez que o seminário é interdiocesano e inter-ritual. Sei que vos preocupais também em realizar, no âmbito de todas as vossas Eparquias, uma autêntica pastoral das vocações, que vos garantirá a permanência do apelo do Senhor e da Igreja junto dos jovens, não só no que diz respeito às vocações dos sacerdotes diocesanos, Pastores indispensáveis do povo cristão, mas também no que se refere às vocações à vida consagrada masculina e feminina. Na Igreja universal, actualmente muitos países vivem uma crise duradoura das vocações e a falta de sacerdotes: aqueles que têm a graça de evitar estes problemas, devem portanto cultivar com cuidado este dom precioso do Senhor à sua Igreja, preparando-se também para o partilhar, assumindo a sua parte da missão noutras Igrejas e noutras terras.

5. Como muitas vezes tive o prazer de afirmar, os jovens são o futuro da Igreja, e isto é particularmente verdade no vosso País, rico sobretudo de jovens. Por conseguinte, eles devem ser ajudados a preparar-se para assumir as suas responsabilidades futuras, mediante uma educação adequada. A escola católica, rica da sua grande experiência, dedica-se a isto de maneira muito especial, assegurando às jovens gerações uma formação humana equilibrada e sadia, capaz de lhes oferecer pontos de referência duradouros, sobretudo no âmbito moral. Além disso, ela deve assegurar-lhes uma formação cristã sólida, fiel ao espírito e às normas do ensinamento catequético delineado pelos Bispos, que são os seus primeiros responsáveis, assim como são responsáveis também pela própria escola católica. Inclusivamente as paróquias e as Dioceses podem, ao nível que lhes é próprio, propor aos jovens cristãos, programas de formação catequética, moral e espiritual, que lhes permita aprofundar de modo apropriado a sua fé pessoal, encorajando-os a ir mais além nos seus compromissos.

6. O papel dos religiosos e das religiosas nas vossas dioceses é notável, sobretudo pelo testemunho específico que eles dão da prioridade do amor de Deus na vida cristã, através da profissão dos conselhos evangélicos, que os consagram inteiramente ao Senhor. A sua participação activa na pastoral das vossas Dioceses não é menos preciosa, sobretudo nas escolas católicas, nas paróquias, no campo da saúde e das obras caritativas e sociais, mas também nos âmbitos mais específicos da investigação teológica, da pastoral da cultura e do diálogo inter-religioso. Agradeço-lhes profundamente e alegro-me pela excelente colaboração que caracteriza as relações entre as vossas Dioceses e as Congregações e os Institutos religiosos, nelas existentes, para o bem de todos. Saúdo de maneira particular as comunidades das religiosas, geralmente pequenas e dispersas em vastos territórios, porque desejam garantir ao povo cristão a ajuda da sua oração e a assistência do seu trabalho apostólico, nas escolas e nos dispensários que elas põem à disposição da população, sem qualquer distinção de raça ou de religião, manifestando assim o carácter universal do amor de Jesus Cristo. Elas têm necessidade também de todo o vosso encorajamento para continuar a crescer espiritualmente no amor ao Senhor, através da oração, da escuta da Palavra de Deus e do serviço humilde e atento aos seus irmãos.

7. A Igreja católica que está no Egipto não reivindica para si mesma qualquer vantagem particular, mas somente o direito de poder viver, no seio da Nação, da graça que o Senhor lhe concedeu, chamando-a ao seu serviço. Alegro-me pelo importante trabalho que a Igreja católica está a realizar no meio da sociedade egípcia, no âmbito sócio-educativo, ao serviço da promoção da mulher, da assistência à maternidade e à infância, da luta contra a analfabetismo, assumindo assim o seu papel no desenvolvimento do País.

Encorajo-vos a manter bons relacionamentos com os irmãos cristãos das outras confissões, ou seja, com a Igreja copto-ortodoxa, e a promover, por vossa vez, o espírito de um autêntico diálogo ecuménico. Não vos deixeis desanimar pelas dificuldades presentes ou futuras, mas conservai com firmeza o desejo de ser fiéis ao mandamento do Senhor: "Assim como Eu vos amei, também vós deveis amar-vos uns aos outros" (Jn 13,34), conscientes de que os vínculos da caridade fraterna não impedem que se viva em conformidade com a verdade e a justiça, mas que, ao contrário, o exigem.

O diálogo com o Islão é particularmente importante no vosso País, onde esta é a religião da maior parte dos habitantes, mas reveste inclusivamente um carácter exemplar para o diálogo entre as grandes religiões do mundo, especialmente necessário depois dos trágicos acontecimentos ligados ao terrorismo, que caracterizaram o início do terceiro milénio e que a opinião pública pode ser tentada a atribuir a causas de origem religiosa. Desejo recordar como é fundamental que as religiões do mundo unam os seus esforços para denunciar o terrorismo e para trabalhar em conjunto ao serviço da justiça, da paz e da fraternidade entre os homens.

8. Por intercessão do Evangelista São Marcos, invoco sobre vós a protecção maternal da Virgem Maria, tão venerada pelos cristãos do Egipto, e peço ao Senhor que derrame sobre vós os copiosos dons do seu Espírito. "Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, velando sobre ele não por imposição mas de livre e espontânea vontade, como Deus quer; não por um sórdido espírito de lucro, mas com generosidade; não como dominadores sobre aqueles que vos foram confiados, mas como modelos do vosso rebanho" (1P 5,2-3). Caros Irmãos no Episcopado, transmiti a todos os vossos fiéis a cordial saudação e o encorajamento paternal do Sucessor de Pedro!

Concedo-vos a todos uma afectuosa Bênção apostólica.



                                                                                Setembro de 2003

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CARDEAL WALTER KASPER POR OCASIÃO


DO ENCONTRO ECUMÊNICO REALIZADO NA GRÉCIA




Ao Venerado Irmão Cardeal Walter KASPER
Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos

Recebi com satisfação a notícia de que a louvável iniciativa de convocar encontros intercristãos, tomada em 1992 pelo Instituto Franciscano de Espiritualidade do Pontifício Ateneu Antonianum em Roma e pela Faculdade de Teologia da Universidade Aristóteles de Tessalonica, da Igreja ortodoxa da Grécia, continua a oferecer oportunidades de encontros e de intercâmbios. Realizar-se-á, de facto, em Joanina, no Epiro, de 3 a 7 de Setembro de 2003 uma assembleia sobre o tema: "A relação entre espiritualidade e dogma cristão no Oriente e no Ocidente". Nesse encontro a reflexão será sobre um aspecto que alimenta o diálogo teológico entre católicos e ortodoxos. Senhor Cardeal, confio-lhe a tarefa de transmitir aos organizadores e participantes a minha cordial saudação.

Depois de ter enfrentado temas importantes, como a oração e a contemplação, a espiritualidade do monaquismo, a dimensão eclesial da espiritualidade e muitos outros, esta nova assembleia debruçar-se-á, como já indica o tema, sobre o contributo que a espiritualidade oferece à doutrina, alimentando-lhe o desenvolvimento e o aprofundamento. A espiritualidade, de facto, influenciando as disposições do ânimo e do coração, cria o contexto psicológico adequado em que empreender o diálogo de modo aberto e confiante. Isto é particularmente importante quando católicos e ortodoxos enfrentam questões e problemas que ainda os dividem.

Renovo de bom grado o meu encorajamento aos esforços conjuntos do Ateneu Antonianum de Roma e da Faculdade de Teologia de Tessalonica, dedicados a fazer sobressair as convergências de cristãos ortodoxos e católicos na adesão à Verdade revelada, e fico feliz com o apoio oferecido à iniciativa do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. De facto, a procura de uma comunhão mais profunda entre Oriente e Ocidente cristãos não deve limitar-se aos contactos oficiais e às iniciativas tomadas a nível mais alto. O conhecimento e a compreensão recíprocos são favorecidos pelos acontecimentos como este em programa, que empenham os vários contextos da vida eclesial e, em especial, os académicos e formativos. Assim, é promovido de maneira concreta aquele espírito de abertura e de escuta que muito favorece o progresso no caminho que é o nosso desejo há-de levar depressa à plena comunhão.

Ao formular votos de bom êxito à assembleia de Joanina, apresento a minha saudação fraterna ao Metropolita dessa cidade, Sua Excelência Theochlitos, que a hospeda. A bondade do Senhor concedeu-nos experimentar nestes últimos tempos relações mais intensas e profícuas. Enquanto elevo fervorosas acções de graças ao Senhor por este renovado sinal de diálogo, invoco sobre quantos têm favorecido o encontro e sobre todos os presentes nos trabalhos, as abundantes bênçãos de Deus.

Castel Gandolfo, 28 de Agosto de 2003, memória de Santo Agostinho de Hipona.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO QUINTO GRUPO DE BISPOS DA CONFERÊNCIA


EPISCOPAL DE RITO LATINO DA ÍNDIA


POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


6 de Setembro de 2003

Prezados Irmãos no Episcopado


1. É com alegria que vos dou as boas-vindas, Bispos provenientes das Províncias Eclesiásticas de Agra, Deli e Bopal. Exprimo-vos uma vez mais, a vós e ao querido povo do vosso País, o meu profundo afecto: "Porque Deus, a quem presto culto no meu espírito, ao serviço do Evangelho de seu Filho, me é testemunha do modo como, constantemente, me recordo de vós" (Rm 1,9). É-me particularmente grato saudar o Arcebispo D. Concessão, a quem agradeço os sentimentos que me exprimiu em nome dos Bispos aqui presentes, do clero e dos fiéis das vossas Dioceses.
Entre os numerosos acontecimentos importantes que tiveram lugar na Igreja que está na Índia, depois da vossa última visita ad Limina, teve lugar a criação da nova Diocese de Jabua. Ao reunirdes-vos junto dos túmulos dos Apóstolos para exprimir a solidariedade entre Pedro e as vossas Igrejas locais, a presença do Pastor de um novo rebanho representa um sinal encorajador da vitalidade e do crescimento da fé no vosso País.

2. O Apóstolo Tomé, São Francisco Xavier e Madre Teresa de Calcutá são apenas alguns dos exemplos extraordinários do zelo missionário que sempre esteve presente na Índia. É precisamente este espírito de evangelização que continua a infundir nos fiéis do vosso País o desejo de proclamar Jesus Cristo, mesmo quando devem enfrentar grandes dificuldades. Como Bispos, estais bem conscientes de que, juntamente com o clero e os religiosos, os leigos são fundamentais para a missão da Igreja, especialmente nas regiões em que a população cristã vive espalhada. "Nas comunidades eclesiais, a sua acção é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores, na maioria das vezes, não consegue alcançar o seu pleno efeito" (Catecismo da Igreja Católica, CEC 900). Tendes a peito as palavras do Senhor, quando dizeis ao vosso rebanho: "Ide também vós para a minha vinha" (Mt 20,7). Mostra-o claramente a seriedade com que preparais os leigos para ajudar os seus Bispos e o clero em geral na difusão do Evangelho. Ao mesmo tempo, a disponibilidade dos fiéis a trabalhar ao lado dos seus sacerdotes manifesta-se de maneira concreta na sua notável participação na catequese, nos conselhos pastorais, nas pequenas comunidades cristãs, nos grupos de oração e nos numerosos programas de compromisso social e de desenvolvimento humano.

A formação das pessoas, a fim de que sejam capazes de enfrentar as exigências de ser católicos responsáveis, requer que elas se conformem cada vez mais com Jesus Cristo, através da participação nos seus três munera de sacerdote, profeta e rei. Isto não deve ser entendido como uma extensão do papel clerical, mas como uma realidade compartilhada por todos os cristãos, na graça recebida através do Baptismo e da Confirmação. Estas tarefas cristãs tornam-se cada vez mais urgentes em regiões como as vossas, que não têm a grande ventura de poder contar com um sacerdote residente em cada uma das suas comunidades. Aos fiéis leigos que se encontram sem um ministro ordenado na sua localidade ou na sua cidade, apresenta-se um desafio ainda maior, de promover a fé de muitas formas diferentes: ajudando a orientar as orações matutinas e vespertinas tradicionais, como fazem muitas das vossas famílias; e servindo como catequistas ou contribuindo para o desenvolvimento de um plano ou de um ponto de vista pastoral. Todas estas responsabilidades, tanto as pequenas como as grandes, constituem modos de se dar a si mesmo, quer como testemunhas, quer como instrumentos "da missão da própria Igreja, "segundo a medida dos dons de Jesus Cristo" (Ep 4,7)" (Lumen gentium, LG 33, par. 2).

3. Desde os primeiros dias da sua presença em solo indiano, a Igreja católica desempenhou um profundo compromisso social nos âmbitos da assistência à saúde, do desenvolvimento do bem-estar e, de modo especial, no campo da educação. O Concílio Vaticano II recorda-nos que a educação católica constitui um elemento fundamental para preparar os jovens católicos, a fim de que se tornem adultos fiéis. "Esta educação não só desenvolve a maturidade que é própria da pessoa humana, mas tende sobretudo a fazer com que os baptizados tenham uma consciência cada vez maior do dom da fé que receberam" (cf. Gravissimum educationis, GE 2). Em muitas das vossas escolas, uma elevada percentagem de professores e estudantes não é católica. A sua presença nas nossas instituições poderia contribuir para aumentar a compreensão recíproca entre os católicos e os fiéis que pertencem às outras religiões, numa época em que os mal-entendidos podem ser uma fonte de sofrimento para muitos. Ela poderia constituir também uma oportunidade para educar os estudantes não católicos num sistema que já deu prova da sua capacidade de transformar os jovens em cidadãos responsáveis e produtivos.

Uma das principais contribuições que as nossas estruturas educativas e todas as institutições católicas podem oferecer, nos dias de hoje, à sociedade no seu conjunto, é a sua catolicidade incondicional. As escolas católicas devem ter como finalidade "dar vida a um ambiente penetrado pelo espírito evangélico de liberdade e de caridade e, por fim, a coordenar toda a cultura humana com a mensagem da salvação, de maneira que o conhecimento do mundo, da vida e do homem, que os alunos adquirem gradualmente, seja iluminado pela fé" (cf. Gravissimum educationis, GE 8). Por este motivo, é fundamental que os vossos institutos educativos conservem uma vigorosa identidade católica. Isto exige um programa de estudos que se caracterize pela participação na oração e na celebração da Eucaristia, e requer que todos os professores sejam bem preparados, não apenas na sua matéria de ensino, mas também na fé católica. É encorajador observar que muitas das vossas Dioceses estão a procurar pôr em prática as recomendações da Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Asia e, na medida do possível, inserindo em todas as escolas sacerdotes, religiosos, religiosas e conselheiros bem preparados. Isto ajudará a assegurar que todos os departamentos e cada uma das vossas actividades emanem com alegria o espírito da Igreja de Jesus Cristo (cf. Ecclesia in Asia ).

4. A presença e a influência do presbítero nas instituições católicas é uma forma de promover as vocações, cuja validade já foi provada ao longo do tempo. São poucas as coisas mais atraentes, para os jovens que estão a considerar a possibilidade de abraçar uma vida de serviço sacerdotal ou religioso, para lá do exemplo de um sacerdote zeloso que não só ama o sacerdócio, mas que também exerce o seu ministério com alegria e dedicação. Através da paternidade espiritual do presbítero, o Espírito Santo convida muitas pessoas a seguir ainda mais de perto as pegadas de Jesus Cristo: "Vinde após mim, e Eu farei de vós pescadores de homens" (Mt 4,19). A este propósito, estou feliz por observar o vosso compromisso constante na promoção de um número cada vez maior de vocações autóctones. São notáveis os vossos numerosos programas destinados aos jovens. Os grupos de serviço à juventude e os campos especializados na catequese, no desenvolvimento da personalidade, na formação dos guias e no discernimento das vocações são um terreno fértil para ajudar os jovens e as jovens a reconhecer o chamamento de Deus na sua própria vida (cf. Pastores dabo vobis PDV 9).

Ofereço as minhas orações especiais aos jovens que já tomaram a decisão de seguir a formação sacerdotal. É fundamental que os futuros ministros da Igreja recebam uma adequada formação filosófica, teológica e espiritual, a fim de poderem compreender de maneira realista o valor de uma vida feita de pobreza, de castidade e de obediência. Hoje, mais do que nunca, os sacerdotes são chamados a constituir um sinal de contradição no seio das sociedades, que se tornam cada vez mais secularizadas e materialistas. "É muito forte sobre os jovens o fascínio da chamada "sociedade de consumo", a ponto de os tornar submissos e prisioneiros de uma interpretação individualista, materialista e hedonista da existência humana" (Pastores dabo vobis PDV 8). Às vezes, esta atitude pode insinuar-se também na vida dos nossos seminaristas e dos nossos sacerdotes, tentando-os a não viver "segundo a lógica do dar e da generosidade" (cf. ibidem). O Bispo tem a tarefa especial de garantir que os seminários e as casas de formação disponham de um pessoal constituído por sacerdotes que sejam exemplares na virtude e extraordinários mestres da fé. Como realçou o Sínodo dos Bispos para a Ásia, é "difícil e delicada a tarefa que os espera na educação dos futuros sacerdotes. Trata-se de um apostolado de forma nenhuma secundário para o bem-estar e a vitalidade da Igreja" ( Ecclesia in Asia ).

5. A preparação dos sacerdotes de hoje exige que os seminaristas sejam formados nas numerosas e diferentes tradições da nossa fé católica. E isto é válido de maneira particular na Índia, que tem a ventura de poder contar com católicos tanto orientais como latinos, que vivem uns ao lado dos outros. O número dos católicos sírio-malabares e sírio-malancares presentes na vossa região desafia todos os fiéis a respeitar as exigências e as aspirações de quantos celebram a mesma fé de maneira diferente (cf. Discurso aos Bispos sírio-malabares da Índia, 13 de Maio de 2003). "Como bons dispenseiros das graças de Deus, cada um de vós ponha à disposição dos outros os dons que recebeu" (1P 4,10). Porém, esta partilha só pode realizar-se através do diálogo inter-ritual, da educação, dos projectos conjuntos e da experiência das várias tradições litúrgicas do catolicismo. Formulo votos a fim de que os Bispos latinos e os Prelados orientais continuem a trabalhar em conjunto, com harmonia, com um espírito compartilhado do amor de Jesus Cristo e da sua mensagem universal de salvação. "Como filhos de uma única Igreja, renascidos para a vida nova em Cristo, os crentes são chamados a resolver tudo num espírito de união de objectivos, de confiança e de caridade sem fim" (Ecclesia in Asia ).

A mesma união de objectivos é importante para o diálogo ecuménico, actualmente em acto com os nossos irmãos separados. Todos os católicos são responsáveis pela promoção do compromisso em favor da unidade cristã. Embora as Igrejas orientais estejam "directamente empenhadas no diálogo ecuménico com as Igrejas ortodoxas irmãs" (Ibidem), também os católicos de rito latino devem assumir um papel activo neste intercâmbio, através da participação nos debates e nas actividades ecuménicas em geral. Devemos recordar sempre que "o diálogo não é apenas uma troca de ideias; de certo modo, é sempre um "intercâmbio de dons"" (Ut unum sint UUS 28).

6. Estimados Irmãos no Episcopado, quando regressardes à vossa querida Terra, peço-vos que transmitais as minhas saudações mais cordiais aos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos das vossas Dioceses. O ano passado foi um período repleto de incertezas, de conflitos e de sofrimentos para muitas pessoas na Índia. Recordando o mandato que o Senhor deixou aos seus discípulos, rezo a fim de que, ao partirdes da Cidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, fiqueis cheios do Espírito Santo e vos prepareis para agir como instrumentos de reconciliação, suscitando no coração dos membros do Povo de Deus o firme desejo de trabalhar por uma paz duradoura e pela justiça no vosso País (cf. Jo Jn 20,21-22).

Com estes sentimentos, confio a Igreja que está na Índia à amorosa intercessão de Nossa Senhora Santíssima, Rainha do Rosário, e concedo-vos a todos, do íntimo do coração, a minha Bênção apostólica como penhor de alegria e de esperança no Senhor.




DIscursos João Paulo II 2003