DIscursos João Paulo II 2003

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR VALENTÍN ABECIA BALDIVIESO


NOVO EMBAIXADOR DA BOLÍVIA JUNTO À SANTA SÉ


Segunda-feira, 8 de Setembro de 2003




Senhor Embaixador

1. É com extremo prazer que o recebo nesta audiência na qual me apresenta as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Bolívia junto da Santa Sé e agradeço-lhe sinceramente as amáveis palavras que houve por bem dirigir-me neste solene acto com o qual começa a missão que o seu Governo lhe confiou.

Peço-lhe que transmita ao Senhor Presidente da República, Dr. Gonzalo Sánchez de Lozada, assim como a todos os homens e mulheres que vivem no grande território que constitui o seu solo pátrio, formado por uma riquíssima geografia de paisagens formosas, montanhas majestosas, terras baixas, vales, lagos e planaltos. Naquelas latitudes foi-se forjando a fisionomia dos bolivianos mediante o encontro entre as antigas culturas autóctones e as que foram chegando com o passar dos séculos, oferecendo hoje uma variada realidade cultural e étnica chamada a ser vivida partindo do respeito recíproco e da convivência integradora.

2. A Bolívia possui uma grande marca religiosa, que realça a fé do seu povo depois de mais de cinco séculos do começo da evangelização. Neste sentido, a Igreja católica, fiel ao seu compromisso de levar a mensagem da salvação a todos os povos, emprega também todo o seu empenho em favorecer o desenvolvimento integral do ser humano e a defesa da sua dignidade, colaborando na consolidação dos valores e bases fundamentais para que a sociedade possa gozar de estabilidade e harmonia.

As diversas comunidades eclesiais, movidas de igual modo pelo seu desejo de manter vivos os conteúdos da mensagem evangélica, continuam a prestar a sua valiosa colaboração em âmbitos muito importantes, como o ensino, a assistência aos mais desfavorecidos, os serviços de saúde, assim como a promoção da pessoa como cidadão e filho de Deus. Por isso, os Pastores da Bolívia, em comunhão com o Sucessor de Pedro e como ponto de referência para todos, não deixam de oferecer as suas palavras, sábias e prudentes, que brotam de um conhecimento profundo da realidade humana boliviana lida à luz da Boa Nova.

A este respeito, o Episcopado boliviano nos momentos difíceis que o País atravessou, devido à sua delicada e conflituosa situação social, ofereceu a sua colaboração para fomentar iniciativas pacificadoras que favoreceram o entendimento e a reconciliação. Este modo de trabalhar, como já indiquei aos Bispos durante a sua última visita ad Limina, "é apenas uma forma temporal de exercer uma tarefa mais ampla, que integra a acção evangelizadora e leva à promoção da justiça e da solidariedade fraterna entre todos os cidadãos" (Discurso,13 de Abril de 2002, 8). A missão de ordem religiosa, própria da Igreja, não impede que ela se preste para fomentar um diálogo nacional entre os responsáveis da vida social, a fim de que todos possam cooperar activamente para a superação das crises que se apresentarem.

Por outro lado, e como Sua Excelência realçou, este diálogo deve excluir qualquer forma de violência nas suas várias expressões e ajudar a construir um futuro mais humano com a colaboração de todos, evitando o empobrecimento da sociedade. A este respeito, é oportuno recordar que as melhorias sociais não se realizam, aplicando só as medidas técnicas necessárias, mas promovendo também reformas com uma base humana e moral que tenham presente uma consideração ética da pessoa, da família e da sociedade.

Por isso, a proposta constante dos valores morais fundamentais, como a honestidade, a responsabilidade pelo bem comum, a solidariedade, o espírito de sacrifício e a cultura do trabalho, pode garantir um melhor desenvolvimento para todos os membros da comunidade nacional, visto que a violência, o egoísmo pessoal e colectivo e a corrupção a qualquer nível nunca deram origem ao progresso nem ao bem-estar.

3. A situação que a Bolívia atravessa não deve ser causa de divisão nem deve fomentar ódio ou ressentimento entre quantos estão chamados a ser os construtores do País. Sabemos bem que o futuro de uma Nação deve basear-se na paz social, que é fruto da justiça (cf. St 3, 18), edificando um tipo de sociedade que, começando pelos responsáveis da vida política, parlamentar, administrativa e judicial, favoreça a concórdia, a harmonia e o respeito da pessoa, bem como a defesa dos seus direitos fundamentais.

Os bolivianos, com as ricas qualidades que os distinguem, devem ser os principais protagonistas e artífices do progresso do País, cooperando numa estabilidade política que permita que todos participem na vida pública. Os cidadãos bolivianos caracterizam-se pela sua coragem para dominar uma natureza áspera e rígida, são fortes diante das dificuldades, animados por um profundo humanismo e pelo sentido da solidariedade. Por isso, desejo animar-vos a não perder a coragem para conseguir melhores metas de progresso. Cada um, segundo as suas qualidades e possibilidades, está chamado a dar o seu contribuito para o bem da Pátria. A respeito disto, apraz-me saber que é firme propósito das Autoridades instaurar uma ordem social mais justa e participativa. Por isso, faço os meus melhores votos para que a acção do Governo consiga superar a grave e prolongada crise financeira, que afecta principalmente as camadas mais débeis da sociedade.

Para construir uma sociedade mais justa e fraterna, os ensinamentos morais da Igreja oferecem certos valores e orientações que, se forem tidos em consideração por quantos trabalham ao serviço da Nação, são úteis para enfrentar adequadamente as necessidades e aspirações dos bolivianos.
O doloroso e difundido problema da pobreza, com graves consequências no âmbito da educação, da saúde e da habitação, é um desafio premente para os governantes e para os responsáveis da vida pública face ao futuro da Nação. Isto exige uma séria tomada de consciência para enfrentar decididamente a actual situação a todos os níveis, cooperando assim para um verdadeiro compromisso pelo bem comum.

Como noutras partes, os pobres carecem de bens primários e não encontram os meios indispensáveis que permitam a sua promoção e desenvolvimento integral. Penso nos camponeses, nos mineiros, nos habitantes dos bairros marginais das cidades, em quantos são vítimas de um materialismo que exclui o homem e que se move apenas por interesses de enriquecimento ou de poder.

Perante isto, a Igreja, com o contributo da sua doutrina social, procura estimular e favorecer iniciativas convenientes orientadas para superar situações de marginalização que atingem tantos irmãos necessitados, para eliminar as causas da pobreza, realizando desta forma a sua missão, porque a preocupação pela vida social faz parte da acção evangelizadora (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 41).

4. Senhor Embaixador, antes de concluir este encontro desejo exprimir-lhe os meus melhores votos para que a missão que hoje começa seja fecunda de frutos e bons êxitos. Peço-lhe novamente que se faça intérprete dos meus sentimentos e esperanças junto do Senhor Presidente da República e demais Autoridades do seu País, ao mesmo tempo que invoco a bênção de Deus e a protecção de Nossa Senhora de Copacabana sobre Vossa Excelência, sobre a sua distinta família e colaboradores, e sobre todos os amadíssimos filhos e filhas da nobre Nação boliviana, que recordo sempre com profundo apreço.


MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLÉIA EXTRAORDINÁRIA

DA ACÇÃO CATÓLICA ITALIANA (ACI)







Caríssimos participantes na Assembleia Extraordinária
da Acção Católica Italiana

1. Desejo saudar-vos a todos com alegria e com afecto, caros Irmãos e Irmãs, reunidos em Roma para a vossa Assembleia Extraordinária subordinada ao tema: "A história faz-se profecia". Dirijo uma cordial e particular saudação ao Assistente-Geral, Mons. Francesco Lambiasi, e à Presidente Nacional, Dra. Paola Bignardi.

A finalidade específica e verdadeiramente importante, que vos espera nos próximos dias, é a de rever o Estatuto da sempre querida Acção Católica, para o actualizar com base nas novas exigências dos tempos e nas perspectivas apostólicas do novo milénio. Durante estes anos, a vossa Associação seguiu as normas e as indicações contidas no Estatuto de 1969, que compreendeu o espírito e as opções do Concílio Vaticano II, e ajudou-vos a descobrir cada vez mais, vivendo-a "como leigos", a grandeza da vocação cristã e do compromisso apostólico, num contexto eclesial e cultural muito diverso, em relação aos anos precedentes.

Actualizar o Estatuto significa dizer hoje a nós mesmos, à comunidade cristã e à sociedade civil qual é a fisionomia que adquire uma Associação como a vossa, quando se mede com as exigências da missão da Igreja e da evangelização do mundo. O novo Estatuto realçará qual é a vossa alma, as elevadas metas que vos propondes, as orientações que qualificam a vossa experiência eclesial madura, e que lhe dão um rosto inconfundível, assim como uma posição singular no contexto das associações laicais.

2. A vossa longa história teve origem a partir de um carisma, ou seja, de um dom especial do Espírito do Ressuscitado, que nunca deixa faltar à sua Igreja os talentos e os recursos de que os fiéis têm necessidade para servir a causa do Evangelho. Caríssimos, voltai a ponderar com orgulho humilde e com íntima alegria sobre o carisma próprio da Acção Católica!

Foi nele que se inspiraram jovens como Mário Fani e João Acquaderni, que a fundaram há mais de 130 anos. Este carisma orientou e acompanhou o caminho de santidade de Pedro Jorge Frassati, de Joana Beretta-Molla, de Luís e Maria Beltrame-Quattrocchi e de muitos outros leigos que viveram com extraordinária normalidade uma fidelidade heróica às promessas baptismais. Este vosso carisma foi reconhecido pelos Sumos Pontífices e pelos Pastores que, ao longo das décadas, abençoaram e ajudaram a vossa Associação, a ponto de a acolher como fez a Conferência Episcopal Italiana [CEI] como Associação escolhida de maneira especial e promovida pela Autoridade eclesiástica, para estar mais intimamente vinculada ao seu múnus apostólico (cf. Nota pastoral da CEI, 22 de Maio de 1981, n. 25).

3. Trata-se de um carisma que encontrou a sua descrição mais completa no Decreto conciliar sobre o apostolado dos leigos, Apostolicam actuositatem (cf. n. 20): vós sois leigos cristãos peritos na maravilhosa aventura de levar o Evangelho a encontrar-se com a vida e de mostrar como a "boa nova" corresponde às profundas exigências do coração de cada pessoa e é a luz mais excelsa e mais verdadeira que pode orientar a sociedade na construção da "civilização do amor".
Como leigos, quisestes viver para a Igreja e para a globalidade da sua missão, "dedicados como vos escreveram os vossos Bispos com um vínculo directo e orgânico à comunidade diocesana", para voltar a descobrir em todos o valor de uma fé que se vive em comunhão e para fazer de cada comunidade cristã uma família solícita por todos os seus filhos (cf. Carta do Conselho Episcopal Permanente da CEI, 12 de Março de 2002, n. 4).

Como leigos, quisestes seguir de forma associada o ideal evangélico da santidade na Igreja particular, de forma a cooperar em conjunto, "como corpo orgânico", na missão evangelizadora de cada comunidade eclesial.

Como leigos, quisestes organizar-vos numa Associação em que o vínculo peculiar com os Pastores respeita e promove a distinção laical constitutiva dos sócios. O espírito da "sintaxe de comunhão" que caracteriza a eclesiologia do Concílio Vaticano II e as regras da participação democrática na vida associativa ajudam-vos a exprimir plenamente a unidade de todo o Corpo eclesial de Cristo e, ao mesmo tempo, a variedade dos carismas e das vocações, no pleno respeito da dignidade e da responsabilidade de cada um dos membros do Povo de Deus.

A síntese orgânica destas características a níveis de missão, de diocese, de unidade e de laicado constitui a forma mais madura e eclesialmente integrada do apostolado dos leigos. Ao renovardes o Estatuto, vós desejais confirmar o valor que estas características têm nos dias de hoje, e dizer como elas devem ser interpretadas para continuar a falar ao coração de muitas comunidades e de numerosos leigos que, neste ideal, poderiam encontrar a forma da sua vida.

4. "A Igreja não pode renunciar à Acção Católica": estas foram as expressões que vos dirigi no ano passado, durante a vossa XI Assembleia. Assim vos repito no termo de um ano singularmente intenso, dedicado ao caminho de renovação da ACI.

A Igreja tem necessidade de vós, precisa de leigos que, na Acção Católica, encontraram uma escola de santidade, onde aprenderam a viver a radicalidade do Evangelho na normalidade de todos os dias. Os Beatos, que saíram das vossas fileiras, e os Veneráveis como Alberto Marvelli, Pina Suriano e Pe. António Seghezzi, estimulam-vos a continuar a fazer da vossa Associação um lugar em que se cresce como discípulo do Senhor, na escola da Palavra, na mesa da Eucaristia; uma escola onde se hão-de pôr em prática o amor e o perdão, para aprender a vencer o mal com o bem, e para tecer com paciência e tenacidade uma rede de fraternidade que inclua todos, sobretudo os mais pobres.

Queridos jovens e adultos da Acção Católica! A vossa Associação renova-se se cada um dos seus membros volta a descobrir as promessas do Baptismo, escolhendo com plena consciência e disponibilidade a santidade cristã como a ""medida alta" da vida cristã ordinária" (Novo millennio ineunte, NM 31) nas condições de todos os dias. Por isso, é necessário deixar-se formar pela liturgia da Igreja, cultivar a arte da meditação e da vida interior e realizar em cada ano os exercícios espirituais. Caríssimos, fazei com que cada um dos vossos grupos constitua uma verdadeira escola de oração e que a cada membro seja assegurada a ajuda para o discernimento e a fidelidade à sua vocação.

5. A Igreja tem necessidade de vós, porque escolhestes o serviço à Igreja particular, à sua missão como orientação do vosso compromisso apostólico; porque fizestes da vossa paróquia o lugar em que, no dia-a-dia, exprimis uma dedicação fiel e apaixonada. Desta maneira, continuais a conservar vivo o espírito missionário das mulheres e dos homens da Acção Católica que, na humildade e no silêncio, contribuíram para tornar mais vivazes as comunidades cristãs nas várias regiões do País.

Exorto-vos a dedicar todas as vossas energias ao serviço da comunhão, em íntima união com o Bispo, colaborando com ele e com o Presbitério no "ministério da síntese", em ordem a tecer vínculos cada vez mais estreitos daquela comunhão cordial que é muito humana, precisamente porque é cristã de modo autêntico. Ajudai a vossa paróquia a descobrir de novo a paixão pelo anúncio do Evangelho e a cultivar a solicitude pastoral que vai à procura de todos para ajudar cada um a experimentar a alegria do encontro com o Senhor. Que cada comunidade, também em virtude da vossa presença, brilhe nos bairros das vossas cidades e nas vossas aldeias, como um sinal vivo da presença de Jesus, Filho de Deus, que veio habitar no meio de nós!

6. A Igreja tem necessidade de vós, porque a Acção Católica é um ambiente aberto e hospitaleiro, em que todos podem exprimir a sua própria disponibilidade para o serviço e encontrar ocasiões úteis para o diálogo de formação, num clima capaz de favorecer opções generosas. Na vossa Associação, existem testemunhas e mestres dispostos a acompanhar o caminho dos irmãos para uma fé convicta, madura e capaz de dar testemunho no mundo.
Exorto-vos a valorizar uma formação sólida, adequada para a urgência da nova evangelização. Cuidai sempre de cada pessoa e ajudai todos a defender o tesouro da fé, difundindo-o em todos os ambientes da vida. Que a Acção Católica volte a tornar-se, para um número crescente de pessoas e de comunidades, a grande escola da espiritualidade laical e do apostolado conjunto!

7. A Igreja tem necessidade de vós, porque não cessais de contemplar o mundo com o olhar de Deus e, assim, conseguis perscrutar este nosso tempo para nele vislumbrar os sinais da presença do Espírito. Na vossa tradição, contais com grandes testemunhos de leigos que ofereceram uma contribuição determinante para o crescimento da cidade do homem.

Continuai a pôr à disposição das cidades e das aldeias, dos lugares de trabalho e da escola, da saúde e do tempo livre, da cultura, da economia e da política, presenças competentes e credíveis, capazes de contribuir para fazer do mundo contemporâneo o grandioso campo de trabalho da civilização do amor. A Acção Católica ajude a comunidade eclesial a evitar a ameaça de alheamento dos problemas da vida e da família, da paz e da justiça, e dê testemunho da confiança na força renovadora e transformadora do cristianismo. Deste modo, poderá influenciar eficazmente a sociedade civil, em ordem à construção da casa comum, no sinal da dignidade e da vocação do homem, em conformidade com as directrizes do "Projecto cultural" da Igreja italiana.

8. Estimados membros da Acção Católica, enquanto vos encorajo a explorar cada vez mais profundamente a riqueza do vosso carisma, exorto as comunidades diocesanas e paroquiais a considerar com renovada atenção a vossa Associação como lugar de crescimento da vocação laical e como escola em que se aprende a expressá-la com uma maturidade cada vez maior.

"A história faz-se profecia": escolhestes este tema para a vossa Assembleia. Formulo-vos votos a fim de que volteis a ler com discernimento sábio a grande história de que provindes, distinguindo o que é fruto do tempo daquilo que é dádiva do Espírito e traz consigo os germes de um novo futuro já começado. Estou persuadido de que esta Assembleia Extraordinária mostrará o rosto maduro e sereno do laicado associado, e tenho profunda confiança de que sabereis tomar decisões clarividentes e vigorosas, para fazer com que a Acção Católica esteja à altura da missão que lhe foi confiada.

Maria, Mãe da Igreja, vos ajude neste vosso compromisso. A Ela, venerada na Casa Santa de Loreto, aonde tendes a intenção de ir em peregrinação no próximo ano, confio-vos todos vós, as vossas famílias e cada um dos vossos projectos.

Com estes sentimentos, concedo-vos a todos, do íntimo do coração, a Bênção apostólica.

Castel Gandolfo, 8 de Setembro de 2003.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PADRES CAPITULARES DOS MISSIONÁRIOS


FILHOS DO CORAÇÃO IMACULADO DE MARIA


(CLARETIANOS)


8 de Setembro de 2003




Ao Superior-Geral e aos Padres Capitulares
dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria

1. É-me grato saudar e felicitar o Pe. Josep Maria Abella Batle, recentemente eleito Superior-Geral, assim como cada um de vós, reunidos para celebrar o XXIII Capítulo Geral, que vos oferece uma ocasião particular para expressar a vossa comunhão e adesão ao Sucessor de Pedro. Neste Capítulo, que é o sétimo depois do Concílio Vaticano II e se realiza no início do Terceiro Milénio, propusestes-vos "discernir, à luz do Espírito, as modalidades adequadas para proteger e renovar, nas diversas situações históricas e culturais, o próprio carisma e património espiritual" (Vita consecrata VC 42), com o impulso renovador que a Igreja irradiou a todas as formas de vida consagrada diante dos novos desafios da missão.

2. Para uma adequada compreensão dos sinais dos tempos e da tarefa evangelizadora que vós, Missionários Claretianos, deveis promover e desenvolver nas mais variadas regiões da terra, serão de grande utilidade as orientações propostas pelas Exortações pós-sinodais, dirigidas aos diversos continentes. Do mesmo modo, para esta época de mudanças, a Carta Apostólica Novo millennio ineunte oferecer-vos-á ainda um quadro apropriado para uma espiritualidade apostólica centrada fundamentalmente na pessoa de Jesus.

Onde quer que o devais realizar, o serviço missionário há-de brotar da íntima união com o Senhor que vos envia e deve ser vivido no caminho da entrega de pessoal até à Cruz, que Ele mesmo percorreu e desejou traçar para quantos O seguem. Trata-se de uma íntima comunhão que deveis aprender do Coração de Maria, fonte da melhor resposta e da adesão mais autêntica à mensagem do Evangelho. Trata-se de um caminho em que vos ajudarão, como ajudaram o vosso Fundador, a escuta diária da Palavra e a participação na Eucaristia, "coração da vida eclesial... e também da vida consagrada" (Ibid., 95).

3. Enquanto, no vasto horizonte da sociedade, se vislumbram diversos sinais de uma difundida cultura da morte, ao reflectirdes sobre o lema do Capítulo "Para que tenham vida", vós sentis-vos enviados pelo Senhor Jesus para proclamar o Deus da vida. São momentos em que a vida, imenso dom do Pai, deve ser defendida, cultivada e dignificada, sobretudo entre os mais desamparados, através de uma palavra de esperança e de gestos abnegados de acolhimento e solidariedade. Depois, é uma tarefa gratificante para todo o consagrado "anunciar com desassombro e amor aos homens do nosso tempo o Evangelho da vida" (Evangelium vitae EV 105). Isto é fundamental para a identidade e a harmonia das pessoas e da família humana em geral.

4. Juntamente convosco, dou graças a Deus pelos dons com que Ele continua a abençoar a vossa Congregação, predispondo-a cada vez melhor para o serviço da missão. Pelo dom precioso das novas vocações, sobretudo na Ásia e na África, que o Instituto deve acolher, dedicando-se seriamente à sua formação integral. Pelo dom das novas presenças e das novas realizações missionárias nas diversas áreas necessitadas. Pelo dom do sangue dos mártires, derramado como testemunho de Jesus nesta época.

5. Por intermédio do Coração Imaculado de Maria, peço ao Espírito Santo que vos ilumine nos trabalhos deste Capítulo, a fim de que ele possa transmitir, com palavras e gestos evangélicos, orientações e encorajamento a todos os membros do Instituto, especialmente aos idosos e doentes, aos jovens que estão a formar-se e a quantos encontram maiores dificuldades no seu trabalho missionário. Que em cada momento esteja presente o espírito da vida fraterna, compartilhada no amor e no diálogo, como sinal eloquente da comunhão eclesial (cf. Vita consecrata VC 42).

O Senhor abençoe também todos aqueles que formam, juntamente convosco, a Família Missionária, fundada por Santo António Maria Claret, assim como os que compartilham convosco a missão nas várias obras ou frentes apostólicas. Com estes votos e sentimentos, concedo-vos a todos a minha afectuosa Bênção.





MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CARDEAL ROGER ETCHEGARAY POR OCASIÃO


DO XVII ENCONTRO INTERNACIONAL DE ORAÇÃO PELA PAZ


Ao venerado Irmão Card. Roger ETCHEGARAY

Presidente Emérito dos Pontifícios Conselhos "Iustitia et Pax" e "Cor Unum"

1. Estou particularmente feliz por confiar nas suas mãos, Senhor Cardeal, a minha saudação pessoal aos ilustres Representantes das Igrejas e Comunidades Cristãs e das grandes Religiões mundiais, reunidos para o XVII Encontro Internacional de Oração pela Paz, subordinado ao tema: "Entre guerra e paz: religiões e culturas encontram-se". Desejo transmitir uma saudação especial ao Bispo de Aquisgrano, D. Henrich Mussinghof, e aos fiéis da Diocese, que cooperaram para a realização deste Encontro.

Em 1986, quando desejei dar início, em Assis, ao caminho de que o encontro de Aquisgrano constitui mais uma etapa, o mundo ainda estava dividido em dois blocos, oprimido pelo medo da guerra nuclear. Vendo como era premente a necessidade dos povos, de recomeçar a sonhar um futuro de paz e de prosperidade para todos, convidei os fiéis das diversas religiões do mundo a recolherem-se em oração pela paz. Então, eu tinha diante dos meus olhos a grande visão do profeta Isaías: todos os povos do mundo a caminho, dos diversos cantos da terra, para se reunirem à volta de Deus como uma única, grande e multiforme família. Esta era a visão que o Beato João XXIII tinha no seu coração e que o levou a escrever a Encíclica Pacem in terris, cujo 40º aniversário recordamos neste ano.

2. Em Assis, aquele sonho adquiria uma forma concreta e visível, suscitando na alma muitas esperanças de paz. Todos ficámos felizes com isso. Infelizmente, aquele anseio não foi compreendido com as necessárias prontidão e solicitude. Nestes anos, investiu-se muito pouco para defender a paz e contribuir para o sonho de um mundo sem guerras. Ao contrário, preferiu-se o caminho do desenvolvimento dos interesses particulares, dissipando riquezas enormes de outra maneira, sobretudo para despesas militares.

Todos nós assistimos ao desenvolvimento de paixões egocêntricas pelos próprios confins, pela própria etnia e pela própria nação. Às vezes, até mesmo a religião cedeu à violência. Daqui a poucos dias recordaremos o trágico atentado às "Torres gémeas" de Nova Iorque. Infelizmente, com as torres parecem que foram abatidas também muitas esperanças de paz. Guerras e conflitos continuam a aumentar e a envenenar a vida de muitos povos, sobretudo dos países mais pobres da África, da Ásia e da América Latina. Penso nas dezenas de guerras ainda em acto e na "guerra" dispersa que é representada pelo terrorismo.

3. Quando poderão cessar todos os conflitos? Quando poderão finalmente os povos ver um mundo pacificado? Sem dúvida, não se facilita o processo de paz permitindo que se difundam com inconsciência culpável, injustiças e desigualdades no nosso planeta. Com frequência, os países pobres tornaram-se lugares de desespero e centros de violência. Não queremos aceitar que a guerra domine a vida do mundo e dos povos. Não queremos aceitar que a pobreza seja a companheira constante da existência de nações inteiras.

Por isso, perguntamos: o que fazer? E, sobretudo, o que podem fazer os fiéis? Como consolidar a paz nesta época cheia de guerras? Pois bem, na minha opinião estes "Encontros Internacionais de Oração pela Paz", organizados pela Comunidade de Santo Egídio, são uma resposta concreta para estas perguntas. Eles já se realizam há 17 anos, e são evidentes também os seus frutos de paz. Em cada ano, pessoas de religiões diferentes encontram-se, conhecem-se, diminuem a tensão, aprendem a viver em conjunto e a ter uma comum responsabilidade pela paz.

4. O encontro em Aquisgrano, no início deste novo milénio, é igualmente significativo. Esta cidade, situada no coração do Continente europeu, fala claramente da antiga tradição da Europa: fala das suas antigas raízes, a começar pelas cristãs, que harmonizaram e consolidaram também as outras. As raízes cristãs não são uma memória de exclusividade religiosa, mas um fundamento de liberdade, pois tornam a Europa um crisol de diferentes culturas e experiências. Destas antigas raízes, os povos europeus tiraram o impulso que os levou a chegar aos confins da terra e a alcançar a profundidade do homem, da sua dignidade intangível, da igualdade fundamental entre todos, do direito universal à justiça e à paz.

Enquanto alarga o seu processo de união, hoje a Europa é chamada a encontrar de novo esta energia, recuperando a consciência das suas raízes mais profundas. Esquecê-las não é saudável. Para suscitar o espírito, não basta pressupô-las. Não falar delas, endurece os corações. A Europa será tanto mais forte para o presente e o futuro do mundo, quanto mais beber das fontes das suas tradições religiosas e culturais. A sabedoria religiosa e humana, que a Europa acumulou ao longo dos séculos, apesar de todas as tensões e contradições que a acompanharam, é um património que, uma vez mais, pode ser usado para o crescimento de toda a humanidade. Estou convencido de que, consolidando-se firmemente nas suas raízes, a Europa acelerará o processo de união interna e oferecerá a sua contribuição indispensável para o progresso e a paz entre todos os povos da terra.

5. Num mundo dividido, que fomenta cada vez mais as separações e os particularismos, existe uma urgente necessidade de unidade. As pessoas de diferentes religiões e culturas são chamadas a descobrir o caminho do encontro e do diálogo. Unidade não é uniformidade. A paz não se constrói na ignorância mútua, mas no diálogo e no encontro. Este é o segredo do Encontro de Aquisgrano. Ao ver-nos, todos podem dizer que neste caminho a paz entre os povos não é uma utopia remota.
"O nome do único Deus deve tornar-se cada vez mais aquilo que é: um nome de paz, um imperativo de paz" (Novo millennio ineunte NM 55). Por isso, devemos intensificar o nosso encontro e construir fundamentos de paz sólidos e compartilhados. Estes fundamentos desarmam os violentos, exortam-nos à razão e ao respeito, e mergulham o mundo numa rede de sentimentos pacíficos.

Caríssimos irmãos e irmãs cristãos, "impõe-se continuar com determinação o diálogo" (Ecclesia in Europa, 31) convosco: que este terceiro milénio seja um tempo de união à volta do único Senhor. O escândalo da divisão não é mais suportável: é um "não" reiterado a Deus e à paz.
Juntamente convosco, ilustres Representantes das grandes religiões mundiais, queremos intensificar um diálogo de paz: elevando o olhar para o Pai de todos os povos, reconheceremos que as diferenças não nos levam ao conflito, mas ao respeito, à colaboração leal e à edificação da paz.
Juntamente convosco, homens e mulheres de tradição laica, sentimos o dever de continuar nos caminhos do diálogo e do amor, como únicas vias para respeitar os direitos de cada um e enfrentar os grandes desafios do novo milénio. O mundo precisa de paz, de muita paz. O caminho que, como fiéis, conhecemos para a alcançar é o da oração a Quem pode conceder a paz. O caminho que todos nós podemos percorrer é o do diálogo no amor.

Assim, com as armas da oração e do diálogo, percorramos o caminho do futuro!

Castel Gandolfo, 5 de Setembro de 2003.



VIAGEM APOSTÓLICA À ESLOVÁQUIA


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE A CERIMÓNIA DE CHEGADA


Bratislava, 11 de Setembro de 2003





Senhor Presidente da República
Distintas Autoridades
Venerados Irmãos no Episcopado
Queridos Irmãos e Irmãs

1. Agradeço ao Senhor, que me concede pisar pela terceira vez o solo da amada Terra eslovaca. Venho como peregrino do Evangelho, para transmitir a todos uma saudação de paz e de esperança. Dirijo uma saudação respeitosa ao Senhor Presidente da República e agradeço-lhe as nobres palavras com que me recebeu em nome de todos os habitantes do País. Juntamente com ele, saúdo as Autoridades civis e militares, agradecido pelo empenho dedicado à organização desta minha viagem apostólica.

Abraço com afecto os meus irmãos Bispos, com o Presidente da Conferência Episcopal, D. Frantisek Tondra, Bispo de Spis, e o venerado Cardeal Ján Chryzostom Korec, Bispo de Nitra. Por fim, dirijo uma cordial saudação no Senhor a todos os homens e mulheres que vivem, trabalham, sofrem e esperam nesta Terra eslovaca, e invoco sobre cada um as mais caras bênçãos do Altíssimo.

2. A história civil e religiosa da Eslováquia foi escrita também com a contribuição de heróicas e dinâmicas testemunhas do Evangelho. Aqui, desejo prestar-lhes a todos uma sincera homenagem. Obviamente, penso nos gloriosos Irmãos de Tessalonica, os santos Cirilo e Metódio, apóstolos dos povos eslavos, mas penso também nos outros servidores de Deus e dos homens que, com as suas virtudes, enriqueceram estas regiões. A eles acrescentam-se agora o Bispo D. Basílio Hopko e a Irmã Sidónia Schelingová que, no próximo domingo, terei a alegria de inscrever no álbum dos Beatos. Todos traçaram profundos sulcos de bem na civilização eslovaca. Assim, a história desta Terra apresenta-se como uma história de fidelidade a Cristo e à Igreja.


DIscursos João Paulo II 2003