DIscursos João Paulo II 2003

3. Proximamente, o vosso País começará a fazer parte, a pleno título, da Comunidade dos povos europeus. Caríssimos, oferecei a contribuição da vossa rica tradição cristã para a construção da identidade da nova Europa. Não vos contenteis unicamente com a procura das vantagens económicas. Com efeito, uma grande riqueza pode criar também uma enorme pobreza. Só edificando, apesar dos sacrifícios e das dificuldades, uma sociedade que respeite a vida humana em todas as suas expressões, que promova a família como lugar do amor recíproco e do crescimento da pessoa, que procure o bem comum e esteja atenta às exigências das pessoas mais frágeis, é que tereis a garantia de um futuro fundamentado sobre bases sólidas e rico de bem para todos.

4. Nestes dias, a minha peregrinação levar-me-á às Dioceses de Bratislava-Trnava, Basnká Bystrica e Roznava. Mas neste momento, desejo abraçar pelo menos em espírito todos os filhos da Eslováquia, juntamente com os representantes das minorias nacionais e de outras religiões. Gostaria de encontrar e de falar com todos e cada um, visitar cada família, percorrer o vosso bonito território, ir a todas as comunidades eclesiais desta querida Nação! Caríssimos, sabei que o Papa pensa em cada um de vós e reza por todos.

Deus abençoe a Eslováquia e dê a todos a paz, a prosperidade e a concórdia serena, na fraternidade e na compreensão recíproca!



VIAGEM APOSTÓLICA À ESLOVÁQUIA


PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II


NA VISITA À CATEDRAL DEDICADA À SÃO JOÃO BAPTISTA


Trnava, 11 de Setembro de 2003




Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Vim com alegria visitar esta bonita Catedral da arquidiocese de Bratislava-Trnava, dedicada ao santo precursor do Senhor, João Baptista.

Saúdo cordialmente o vosso Arcebispo, Ján Sokol, os Bispos Auxiliares e todos vós. Desta igreja-mãe de todas as igrejas da diocese, faço extensiva a minha saudação afectuosa a todos os habitantes deste território, e sobre todos invoco a graça e a bênção do Senhor.

2. São João Baptista é o homem que vive numa solidão cheia da presença de Deus e torna-se a voz que anuncia a vinda do Anjo Salvador (cf. Lc Lc 3,1-18).

Desejo-vos que vós, queridos Irmãos e Irmãs, cultiveis em vós mesmos o sentido da presença de Deus mediante a escuta da sua Palavra, a oração, a celebração dos Sacramentos, o serviço dos irmãos. Desta forma, tornar-vos-eis na vida quotidiana, como João Baptista, os arautos e as testemunhas da presença amorosa e salvífica de Deus no mundo de hoje.

Concedo a todos com afecto a minha Bênção.


VIAGEM APOSTÓLICA À ESLOVÁQUIA

MENSAGEM AOS MEMBROS

DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


Baská Bystrica, 12 de Setembro de 2003




Aos venerados Pastores
da Igreja que está na Eslováquia

1. É com íntima alegria que, hoje, me encontro convosco, caros Irmãos no Espiscopado, para um momento de partilha fraterna, que nos leva com o pensamento aos Apóstolos reunidos à volta de Jesus para descansar numa pausa saudável entre os cansaços da pregação e do apostolado (cf. Mc Mc 6,30-32).

"Ecce quam bonum et quam iucundum habitare fratres in unum!" (Ps 133,1). Saúdo-vos a todos e abraço-vos no Senhor, e renovo a estima e a gratidão da Igreja pelo zelo que mostrais, apascentando os fiéis que vos foram confiados (cf. 1P 5,2-3).

Uno-me cordialmente à vossa acção de graças ao Senhor, na celebração do X aniversário da constituição da vossa Conferência Episcopal.

2. A Igreja de Deus que está na Eslováquia, saída dos tempos obscuros da perseguição e do silêncio, em que ofereceu uma prova luminosa de fidelidade ao Evangelho, nestes últimos anos pôde retomar as suas actividades, estabelecendo também as estruturas necessárias para o livre exercício da sua missão.

Recordo com prazer, entre outras coisas, o Acordo geral de base, assinado com a República Eslovaca em 2000, o trabalho das Comissões mistas para preparar outros Acordos parciais, a erecção do Ordinariado Militar, a abertura da Universidade Católica em Ruzomberok e o aumento da potência das transmissões da Rádio Lumen.

3. Além destas realizações, estais a comprometer-vos mais em geral em ordem à renovação da vida cristã e vários níveis. Os resultados que se estão a alcançar são confortadores. Muitas pessoas voltaram a encontrar a coragem evangélica de declarar abertamente a sua fé católica, como realça o recenseamento de 2001. O trabalho apostólico realizado com zelo sob a vossa orientação por numerosos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos empenhados está a dar os seus frutos. Louvado seja o Nome do Senhor!

Exorto-vos a continuar com coragem o caminho começado: a formação humana e espiritual, juntamente com uma adequada preparação cultural, seja objecto de um compromisso especial nos Seminários e nas Casas religiosas, para dar à Igreja e ao mundo sacerdotes e pessoas consagradas que saibam ser apóstolos humildes e ardentes do Evangelho. Com a oração ao "Senhor da messe", com a sensibilização das consciências, com uma sábia acção pastoral, é urgente promover um novo florescimento de vocações sacerdotais e religiosas. Em última análise, é disto que depende o futuro da Igreja que está na Eslováquia.

Além disso, venerados Irmãos, contai com confiança e sabedoria, com a colaboração de leigos comprometidos na animação cristã das realidades temporais. Acompanhai com cuidado a família, templo do amor e da vida, proclamando e defendendo a unidade e a indissolubilidade do matrimónio. Olhai com amor para os jovens, que são o presente e o futuro da Igreja e da sociedade. Cultivai um diálogo aberto com o mundo da cultura, ajudados pela convicção de que "a fé e a razão "se ajudam mutuamente", exercendo uma em prol da outra, uma função tanto de discernimento crítico e purificador, como de estímulo para progredir na investigação e no aprofundamento" (Carta Encíclica Fides et ratio FR 100).

4. Tende cuidado dos fracos e dos pobres, em quem Cristo pede para ser reconhecido (cf. Mt Mt 25,40). Com solicitude pastoral, estai próximos dos desempregados, enfrentando a sua difícil situação e estimulando todas as forças sociais a fazer o possível para criar novos postos de trabalho, em que sobretudo os jovens possam encontrar posições oportunas para as suas capacidades, com frequência aprimoradas através de anos de preparação teórica e prática.

Sabeis muito bem como a promoção humana favorece também a evangelização, que permanece sempre o compromisso primeiro da Igreja. A este propósito, quero realçar que a celebração dos Sínodos diocesanos, já proclamados nas Dioceses de Banská Bystrica e de Kosice, será um instrumento útil para renovar e incrementar a acção pastoral e o anúncio da Boa Nova aos homens e às mulheres do nosso tempo.

5. Venerados Irmãos, o Papa sabe que o ministério episcopal traz consigo espinhos e cruzes, que muitas vezes permanecem fechados no segredo do coração. Mas ele sabe ainda, como de resto também vós o sabeis, que no plano misterioso da Providência estes sofrimentos constituem uma garantia da fecundidade de um apostolado que, com a ajuda de Deus, produzirá frutos abundantes.
Não desanimeis e não vos deixeis dominar pelas dificuldades e pelo cansaço. Contai sempre com a ajuda da graça do Senhor, que faz maravilhas também através das nossas debilidades (cf. 2Co 12,9).

Caros Irmãos, como coroação deste nosso encontro, gostaria de voltar a ler convosco aquilo que afirma, na sua parte conclusiva, o Directório para o Ministério Pastoral dos Bispos: "Precisamente porque é o centro unitivo-dinâmico da Diocese, o Bispo constitui-se, mais do que todos os outros, como servo de Deus e do seu povo santo. Toda a sua autoridade, todos os seus deveres quando são concebidos e exercidos em conformidade com o Evangelho são um serviço excelente e contínuo, porque exigem dele a caridade perfeita, que o prepara para dar também a sua própria vida pelos irmãos. Sobretudo para o Bispo, comandar é alegrar-se, presidir é servir, governar é amar; a honra transforma-se em responsabilidade".

A Virgem Maria, que neste País venerais como Mãe dolorosa do Senhor, vos conserve a todos no seu coração maternal e para todos obtenha a abundância das graças divinas.

A vós e às vossas comunidades, a minha afectuosa Bênção.

Banská Bystrica, 12 de Setembro de 2003.



VIAGEM APOSTÓLICA À ESLOVÁQUIA


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE UM ENCONTRO INTER-RELIGIOSO


Banská Bystrica, 12 de Setembro de 2003







Saúdo-vos com afecto em nome do Senhor, caríssimos Irmãos!

Agradeço-vos a vossa vinda a Banská Bystrica para vos encontrardes com o Papa: a vossa presença manifesta, de maneira eloquente, a cordial colaboração e compreensão que caracterizam a vida dos discípulos de Cristo em terra eslovaca.

Este encontro familiar reveste uma especial importância e significado. De facto, é a ocasião para fazer ressoar no fundo do coração a premente oração do Divino Mestre: "Para que todos sejam um só [...] para que o mundo creia que Tu me enviaste" (Jn 17,21).

Juntamente convosco, peço a Deus Todo-Poderoso que nos fortaleça na tarefa comum de anunciar e testemunhar o Evangelho aos homens e às mulheres do nosso tempo. Que Ele apresse o dia em que, juntos, possamos louvar o Seu Nome, em plena comunhão de fé e caridade.

"Que o Deus da paz vos santifique inteiramente, e que todo o vosso ser espírito, alma e corpo se conserve irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1Th 5,23). Estes são os meus votos e a minha oração por vós e por todos aqueles que estão confiados ao vosso cuidado pastoral.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE UM ENCONTRO COM OS BISPOS


NOMEADOS NOS ÚLTIMOS DOZE MESES


18 de Setembro de 2003




Caríssimos Irmãos no Episcopado

1. É com alegria que saúdo cada um de vós, novos bispos, vindos de vários países para o tradicional Encontro de estudo, promovido pela Congregação para os Bispos. Agradeço-vos de coração esta visita e trasmito um pensamento de gratidão ao Cardeal Giovanni Battista Re, que se fez intérprete dos sentimentos de todos.

No início do vosso ministério episcopal, quisestes realizar uma peregrinação ao Túmulo do Apóstolo Pedro, para renovar a vossa profissão de fé e consolidar a comunhão com o Sucessor de Pedro.

Além disso, num clima de fraternidade e de oração, quisestes reflectir sobre os desafios que hoje se apresentam aos pastores da Igreja, em ordem a realizar um anúncio mais eficaz do Evangelho de Cristo aos homens do nosso tempo.

Quanto a mim, desejo assegurar-vos a minha proximidade e o meu encorajamento a continuar com generosidade e magnanimidade a vossa missão específica de pastores.

2. Caros Irmãos, vós estais bem conscientes de que o ministério do Bispo é de importância fundamental para a vida da Igreja.

Com efeito, segundo a expressão de São Paulo, a Igreja foi edificada sobre o fundamento dos Apóstolos (cf. Ef Ep 2,20). E os Bispos são, por vontade divina, os sucessores dos Apóstolos como pastores da Igreja, de tal maneira que: "Quem os ouve, ouve a Cristo; quem os despreza, despreza a Cristo e Àquele que O enviou" (Lumen gentium, LG 20).

A missão pastoral que vos foi enviada é exaltante, mas hoje é também particularmente árdua e cansativa. Com efeito, o nosso tempo, com os problemas que lhe são próprios, caracteriza-se por confusões e incertezas. Muitas pessoas, mesmo entre os cristãos, parecem desorientadas e desprovidas de esperança. Neste contexto, nós pastores somos chamados a anunciar o Evangelho e a ser testemunhas da esperança, com o olhar voltado para a Cruz, para o mistério do triunfo e da fecundidade de Cristo crucificado. Ele, o Vivo, acompanha-nos pelos caminhos de história, com a força do seu Espírito. Esta certeza iluminadora deve inspirar profundamente a nossa mentalidade pastoral, corroborando a nossa confiança em Deus e nos homens, e incrementando a nossa coragem apostólica.

À luz da esperança teologal, o ministério episcopal constituiu o tema da última Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos. Depois de ter reflectido e rezado pelas conclusões do Sínodo, preparei a habitual Exortação Apostólica pós-sinodal, que entregarei à Igreja no dia 16 do próximo mês de Outubro, na significativa celebração do XXV aniversário do meu Pontificado.

3. Ainda é nítida em vós a lembrança da vossa Ordenação episcopal. Naquele dia, mediante o gesto sacramental da imposição das mãos e a invocação do Espírito Santo, foi-vos conferida a plenitude do sacerdócio ministerial. A vida do Bispo é uma dádiva de si a Cristo e à Igreja. O nosso ministério exorta-nos a levar uma vida santa. Sede a imagem viva e visível do Bom Pastor. Velai sobre o vosso rebanho, "como aqueles que servem". Amai a Igreja mais do que a vós mesmos! Vivei nela e por ela, consumindo-vos no serviço pastoral!

O nosso apostolado deve ser sempre um transbordamento da nossa vida interior. Sem dúvida, ele deverá ser também uma actividade intensa e laboriosa, mas uma actividade que seja expressão da caridade pastoral. A fonte da caridade pastoral é a contemplação do rosto de Cristo Bom Pastor. Sede homens de oração! Com o vosso exemplo, indicareis o primado da vida espiritual, ou seja, o primado da graça, que é a alma de todo o apostolado. Cada Bispo deve poder dizer, juntamente com o Apóstolo São Paulo: "Para mim, viver é Cristo" (Ph 1,21).

4. Além disso, gostaria de vos exortar a prestar atenção aos vossos primeiros colaboradores, os presbíteros. Os Bispos admoesta o Concílio tratem com amor especial os sacerdotes; sejam repletos de desvelo pelas suas condições espirituais, intelectuais e materiais (cf. Christus Dominus, CD 28). Sem dúvida, é uma bênção para uma Diocese, quando cada um dos membros do seu presbitério pode alegrar-se por ter encontrado no Bispo o seu melhor amigo e o seu pai.

No alvorecer do terceiro milénio, sente-se mais do que nunca a necessidade de uma pastoral vocacional adequada.

As vocações ao sacerdócio e à vida consagrada constituem um dom de Deus, que é necessário pedir com insistência na oração (cf. Mt Mt 9,38), mas são também o fruto de famílias fortes e sadias, e de comunidades eclesiais em que a figura do presbítero é oportunamente considerada e valorizada. A escolha dos educadores nos Seminários deve ser realizada com o máximo cuidado, porque somente o testemunho pessoal de uma vida generosa e alegre é capaz de atrair o ânimo dos jovens de hoje. É nestes âmbitos que os jovens poderão ouvir e seguir a voz do Mestre, que os convida para O seguirem (cf. Mt Mt 19,21) e os leva a um dom generoso de si mesmos ao serviço dos irmãos.

5. Estimados Irmãos, quando regressardes às vossas Dioceses, depois destes dias de estudo e de comunhão intensa, sirva-vos de conforto a certeza de que o Papa compartilha as vossas alegrias, as vossas dificuldades e também as vossas esperanças.

Confio a Maria, Mãe da Igreja, os propósitos amadurecidos durante estes dias, para que torne fecundo cada um dos vossos esforços no campo da pastoral.

Sobre cada um de vós, invoco do íntimo do coração uma especial Bênção do Senhor que, de bom grado, faço extensiva às Comunidades confiadas aos vossos cuidados pastorais.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS PARTICIPANTES NUM CURSO


DE ACTUALIZAÇÃO PROMOVIDO PELA CONGREGAÇÃO


PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS



19 de Setembro de 2003



Queridos Irmãos no Episcopado

1. É-me grato encontrar-me convosco, por ocasião deste curso de formação, organizado pela Congregação para a Evangelização dos Povos. Agradeço-vos a vossa visita. Saúdo cada um de vós e, por intermédio de vós, desejo abraçar todo o povo cristão que a Providência Divina confiou ao vosso cuidado, de maneira particular os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os catequistas e os leigos activamente comprometidos na difusão do Evangelho. Transmito uma especial palavra de saudação ao Cardeal Crescenzio Sepe, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. Agradeço-lhe as palavras que me dirigiu e pelo zelo com que, juntamente com todos os seus colaboradores, se dedica à causa da missio ad gentes.

2. Queridos e veneráveis Irmãos Bispos! Mediante a vossa generosa dedicação, levais a presença de Cristo no mundo a dar fruto e a enriquecer as várias actividades da sua Igreja. A vossa participação nesta singular fase de formação, promovida pela Congregação da Propaganda Fide, constitui mais um sinal do modo como desejais promover a actividade missionária em toda a terra. Mesmo nos nossos dias, trata-se de um empreendimento apostólico urgente, e vós sois chamados a ser os seus promotores corajosos e incansáveis no meio das dificuldades e das provações de todos os dias. Como observei na minha Carta Encíclica Redemptoris missio, no seu ministério os Bispos são responsáveis pela evangelização do mundo, quer como membros do Colégio Episcopal, quer como Pastores das Igrejas particulares (Rm 63). A proclamação do Evangelho, em todas as regiões do planeta, depende dos Pastores, que foram consagrados não apenas para uma Diocese em particular, mas para a salvação do mundo inteiro (cf. ibidem). "Sinto que chegou o momento", escrevi na mencionada Carta Encíclica, "de empenhar todas as forças eclesiais na nova evangelização e na missão ad gentes. Nenhum crente [em Cristo], nenhuma instituição da Igreja se pode esquivar deste dever supremo: anunciar Cristo a todos os povos" (Ibid., n. 3). Por conseguinte toda a Igreja, em cada uma das suas partes integrantes, é interpelada a proclamar o Evangelho nas regiões mais distantes de todos os continentes.

3. Estimados e veneráveis Irmãos, também para vós ressoa de maneira vigorosa o convite de Jesus: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a humanidade" (Mc 16,15).
Entre os vossos deveres, encontram-se o da transmissão da dádiva da fé e o do encorajamento das vossas comunidades, a fim de que também elas sejam evangelizadoras. Há lugar para todos na messe do Senhor! Ninguém é tão pobre que nada tenha a dar; e ninguém é tão rico que nada tenha a receber.

Que a vossa alma ouça em cada dia a exortação do Redentor: "Duc in altum!". Trata-se de um convite para lançar "redes espirituais" nos mares do mundo. Em contrapartida, as pessoas que confiam no Mestre divino vivem a experiência da pesca milagrosa. Esta é a promessa de Jesus, que não desilude aqueles que depositam a sua confiança nele, como São Paulo e numerosos outros Santos que, ao longo destes milénios, representaram a glória da Igreja.

Sim, é verdade! "Deus está a preparar uma grande primavera cristã, cuja aurora já se entrevê" (Redemptoris missio RMi 86). Por conseguinte, tende confiança e olhai com segurança para o futuro, em todas as circunstâncias. O Senhor como Ele mesmo nos garantiu permanece sempre ao nosso lado.

4. Sede santos! Em diversas ocasiões, afirmei que a santidade é a necessidade pastoral urgente dos nossos tempos. É uma experiência premente, em primeiro lugar para aqueles que Deus chamou para O servir mais intimamente. Com efeito, a fim de serem guardiães vigilantes do rebanho do Senhor, de o protegerem contra todos os tipos de perigo e de o nutrirem com o alimento da palavra e da Eucaristia, os próprios Pastores devem ser alimentados pela oração intensa e constante, cultivando uma profunda intimidade com Cristo. Somente desta forma eles conseguirão tornar-se, tanto para os sacerdotes como para os fiéis em geral, exemplos de fidelidade e testemunhas de um zelo apostólico, iluminado pelo Espírito Santo.

O apoio e o desenvolvimento de todo o empreendimento apostólico encontram-se na comunhão com Deus. Assim vós, dilectos e veneráveis Irmãos, deveis ser os primeiros a fortalecer a vossa vida interior, bebendo na fonte da graça divina, sempre consciente da imagem bíblica de Moisés, que reza na montanha: "Enquanto ele [Moisés] ficava com as mãos levantadas, Israel triunfava" (Ex 17,11).

5. Nenhuma actividade, por mais importante que possa ser, deveria distrair-vos desta prioridade espiritual, que orienta o mandato apostólico recebido mediante a Ordenação episcopal. Jesus, o Bom Pastor, une-vos a Ele no serviço ao povo cristão como pais, mestres e pastores. Acompanhai a proclamação incessante da fé com um testemunho coerente e jubiloso do Evangelho, porque é "pelo seu testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo, numa palavra, testemunho de santidade" (Evangelii nuntiandi EN 41).

Nas vossas comunidades, há uma memória viva de santos, mártires e confessores da fé, pregadores corajosos da mensagem da salvação, pessoas que, mais pela sua própria vida do que pelas suas palavras, tornaram visível o amor de Cristo e poderíamos mesmo dizer quase tangível fisicamente. Segui as suas pegadas! Sede pastores que, mais pelo vosso exemplo do que pelas palavras, honrem o Evangelho e inspirem nas pessoas que estiverem à sua volta o desejo de o conhecer melhor e de o pôr em prática.

Que a Bem-Aventurada Virgem Maria, Rainha das Missões, vos proteja. Asseguro-vos a lembrança diária nas minhas orações e abençoo-vos cordialmente, juntamente com todas as vossas comunidades.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE SACERDOTES DO ARCEBISPADO


ORTODOXO DE ATENAS


19 de Setembro de 2003



Queridos Irmãos Sacerdotes
da Igreja Ortodoxa da Grécia!

Sinto-me feliz por me encontrar convosco, durante a vossa visita à Santa Sé e à histórica cidade de Roma, que tem a honra de conservar os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo. Alegro-me com este novo contacto que se estabelece entre nós.

A vossa presença faz-me recordar a graça muito especial que o Senhor me concedeu, permitindo-me visitar Sua Beatitude Christodoulos, Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, e a Igreja ortodoxa da Grécia no ano do Grande Jubileu, no contexto da minha peregrinação "seguindo os passos de São Paulo". Nós devemos continuar a construir sobre as bases sólidas dos vínculos fraternos e evangélicos que experimentámos naquela ocasião. Também a vossa visita a Roma constitui uma válida iniciativa neste sentido, para nos conhecermos e apreciarmos melhor e para experimentarmos modalidades de relacionamento que facilitam a comunhão.

Dirijo-me constantemente ao Senhor, para que ele nos disponha a todos a abrir os nossos corações à sua oração "para que todos sejam um só" (Jn 17,21), e nos torne capazes de uma obediência genuína à sua vontade, de maneira a procurar juntos os caminhos para uma colaboração mais estreita e para uma comunhão cada vez mais profunda.

Desejo de coração que a vossa visita aos lugares santos de Roma, com os encontros, as conversações, as ocasiões de confronto, constituam uma experiência positiva e útil para a vossa vida sacerdotal. Oxalá o Espírito Santo acompanhe sempre o vosso ministério e fortaleça o testemunho que cada um de vós dá ao Evangelho do nosso comum Senhor.

Peço-vos que transmitais a Sua Beatitude Christodoulos, e ao Santo Sínodo que o rodeia, a minha saudação mais calorosa e os votos sinceros de bem e prosperidade no Senhor.
A graça e a paz do Senhor estejam convosco!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DE UGANDA POR OCASIÃO DA VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 20 de Setembro de 2003



Eminência
Estimados Irmãos no Episcopado

1. "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdia e Deus de toda a consolação! Ele consola-nos em todas as nossas tribulações, para que possamos consolar os que vivem qualquer tipo de aflição..." (2Co 1,3-4). É com estas palavras de São Paulo que vos saúdo a vós, Bispos de Uganda, que viestes em peregrinação aos túmulos dos Apóstolos. A vossa presença hoje aqui enche-me de alegria e reacende em mim as lembranças da visita que realizei a Uganda, há dez anos. Estão profundamente gravados na minha memória os diversos encontros convosco e com os fiéis das vossas comunidades locais, de maneira particular o nosso encontro no Santuário dos Mártires de Uganda, para celebrar os santos mistérios da nossa fé no "terreno que se tornou sagrado através da sua morte" (Discurso no encontro com os Bispos de Uganda, Campala, 7 de Fevereiro de 1993, n. 9).

Os nossos encontros realizados nestes dias são momentos de graça para todos nós, enquanto rejubilamos e revigoramos os vínculos de comunhão fraternal, que nos unem na tarefa de dar testemunho do Senhor e de anunciar a Boa Nova da salvação. Transmito uma saudação especial àqueles de vós que realizais a vossa primeira visita ad Limina a Roma. Quando os Bispos de Uganda vieram aqui pela última vez, como Conferência Episcopal, no vosso País só existia uma única Província Eclesiástica; agora, há quatro Sedes Metropolitanas, com um total de dezanove Dioceses. Trata-se de um sinal muito positivo do trabalho que se realizou por Cristo, a edificação da sua Igreja no vosso País, e mais um motivo para louvar o santo nome de Jesus (cf. Fl Ph 2,10-11).

2. Infelizmente, algumas regiões do vosso País estão a viver situações de conflito armado e anarquia. Sobretudo no Norte, a desventura da guerra está a provocar uma miséria incalculável em termos de sofrimento e de morte, chegando a atingir até a Igreja e centrando os seus ataques contra os ministros e os filhos da Igreja. Também no Oeste e no Nordeste, episódios de violência e de hostilidade continuam a afligir a Nação, ceifando a vida e consumando as energias da vossa população. Enquanto vos asseguro, a vós e ao vosso povo, a minha proximidade espiritual nestas terríveis circunstâncias, uno-me a vós para condenar todos os actos de derramamento de sangue e de destruição. Dirijo um apelo premente às partes interessadas, a fim de que renunciem à agressão e se comprometam a trabalhar em conjunto com os seus concidadãos, com coragem e na verdade, em ordem a edificar um futuro de esperança, de justiça e de paz para todos os ugandeses.

O clima político e social actual é um evidente apelo a oferecer expressões concretas, e de vasto alcance, da responsabilidade colegial e da comunhão que vos unem no serviço da única "família de Deus" (cf. Ef Ep 2,19). Exorto-vos a fazer tudo quanto vos for possível para promover, no meio de vós, um autêntico espírito de solidariedade e de solicitude fraternal, de maneira especial através da partilha dos recursos, tanto materiais como espirituais, com as outras Igrejas que vivem em necessidade.

3. Como Bispos, tendes a grave tarefa de enfrentar questões de importância particular para a vida social, económica, política e cultural do vosso País, com a finalidade de tornar a Igreja presente de modo cada vez mais eficaz nestes ambientes. Elaborar as exigências do Evangelho para a vida cristã no mundo e aplicá-las às renovadas situações é fundamental para a vossa orientação eclesial: chegou a hora de os católicos juntamente com os outros cristãos levarem o vigor do Evangelho à luta, com vista a defender e a promover os valores fundamentais sobre os quais se edifica uma sociedade verdadeiramente digna do homem.

A este respeito, desejo encorajar os esforços da vossa Conferência Episcopal, realizados nos âmbitos da assistência à saúde, da educação e do desenvolvimento; eles servem para mostrar de maneira clarividente o compromisso da Igreja em prol do bem-estar integral dos seus filhos e das suas filhas e de todos os ugandeses, prescindindo do seu credo religioso.

Merecem uma particular menção as diversas iniciativas em favor do combate ao hiv/sida que, em perfeita harmonia com o ensinamento da Igreja, procuram ajudar as pessoas que foram atingidas por esta enfermidade e manter o público oportunamente informado a este respeito.
A prioridade da formação espiritual e doutrinal dos leigos

4. Se a Igreja quiser assumir o lugar que lhe compete no seio da sociedade ugandese, a adequada fomação dos leigos deve constituir uma prioridade na vossa missão de pregadores e de professores. Esta formação espiritual e doutrinal deve ter em vista ajudar os leigos, homens e mulheres, a desempenhar o seu papel profético numa sociedade, que nem sempre reconhece ou aceita a verdade e os valores do Evangelho. Os leigos devem estar também eficazmente empenhados tanto na vida da paróquia e da diocese em geral, como nas estruturas pastorais e administrativas (cf. Ecclesia in Africa ). Os vossos sacerdotes, em particular, devem ser preparados para aceitar de bom grado este papel mais activo dos leigos e ajudá-los a cumpri-lo.

Neste contexto, são muito importantes os esforços que visam resolver os conflitos tribais e as tensões étnicas; com efeito, estas rivalidades não têm lugar na Igreja de Cristo, e só servem para debelar o tecido geral da sociedade.

Com efeito, são as Igrejas particulares que conseguem "permear em profundidade a sociedade e a cultura através do testemunho dos valores evangélicos". Trata-se do "relançamento pastoral" de que falei na minha Carta Encíclica Novo millennio ineunte, (n. 29), que comporta uma renovação da comunidade cristã e da sociedade, que passe através da família. O revigoramento da comunhão das pessoas no seio da família é o grande antídoto contra a auto-indulgência e o sentido de isolamento, hoje tão salientes. Por conseguinte, é ainda mais necessário acolher o convite urgente que o meu predecessor, o Papa Paulo VI, dirigiu a todos os Bispos: "Trabalhai com ardor e sem descanso em favor da salvaguarda e da santidade do matrimónio, para que ele seja cada vez mais vivido na sua plenitude humana e cristã" (Humanae vitae HV 30).

5. Procurando enfrentar os desafios do futuro, a atenção aos jovens continua a ser de importância fundamental. "O futuro do mundo e da Igreja pertence às gerações jovens... Cristo espera grandes coisas dos jovens..." (cf. Tertio millennio adveniente TMA 58). Como confirmam com clarividência as Jornadas Mundiais da Juventude, os jovens têm a especial capacidade de dedicar as suas energias e o seu zelo às exigências da solidariedade para com o próximo e à procura da santidade cristã. Toda a comunidade católica deve trabalhar para assegurar que as jovens gerações sejam oportunamente formadas e preparadas de forma adequada para cumprir as responsabilidades que lhes forem reservadas e que, de certa maneira, já lhes competem.

Um compromisso decidido nas escolas católicas constitui um modo particularmente eficaz para assegurar uma formação adequada dos jovens ugandeses. Estas escolas devem procurar oferecer um ambiente educativo adequado, para que as crianças e os adolescentes possam amadurecer cheios do amor de Cristo e da Igreja. A identidade específica das escolas católicas deve reflectir-se em todo o programa de estudos e em cada um dos ambientes da vida escolar, a fim de que possam constituir comunidades onde a fé seja alimentada e os alunos se preparem para a sua missão na Igreja e na sociedade. Além disso, é importante continuar a procurar modos de promover um ensino moral e religioso sadio, inclusivamente nas escolas públicas, e de suscitar na opinião pública um consenso acerca da importância deste tipo de formação. Este serviço, que pode derivar de uma colaboração mais estreita com o Governo, constitui uma importante forma de participação católica activa na vida social do vosso País, sobretudo porque é oferecido sem discriminações religiosas ou étnicas, e no respeito pelo direito de todos.

6. Enquanto as vossas Igrejas locais procuram cumprir o mandato missionário que receberam do próprio Senhor (cf. Mt Mt 28,19), não podemos deixar de dar graças pelas vocações com que fostes abençoados. Exorto-vos a assegurar que os vossos programas vocacionais promovam e protejam zelosamente este dom de Deus. Os jovens candidatos devem receber uma formação pastoral e teológica adequada, que os enraíze vigorosamente numa tradição espiritual sólida e os prepare para enfrentar os complexos problemas apresentados pela modernização da sociedade. Encorajo-vos a dar continuidade aos vossos esforços, em ordem a oferecer um pessoal qualificado aos vossos centros de formação, de modo especial aos vossos cinco Seminários Maiores.

Agora, voltando-me para aqueles que são os vossos colaboradores mais estreitos na vinha do Senhor, recordo-vos que deveis ajudar os vossos sacerdotes a crescer sempre na estima do singular privilégio de agir in persona Christi. Dedicando-se cada vez mais integralmente à sua missão na castidade e simplicidade de vida, a sua obra tornar-se-á cada vez mais uma fonte de alegria e de paz incomensuráveis. No que diz respeito à solidão que, por vezes, pode acompanhar o ministério pastoral, os vossos sacerdotes devem ser encorajados, na medida em que a situação local o permitir, a levar uma vida em comunidade e a orientar os seus esforços inteiramente para o ministério sagrado. Eles hão-de reunir-se o mais frequentemente possível tanto entre eles mesmos, como convosco, que sois os seus padres espirituais para um intercâmbio fraterno de ideias, de conselhos e de fraternidade (cf. Pastores dabo vobis PDV 74).

Inclusivamente as comunidades dos religiosos e das religiosas, presentes em Uganda, esperam de vós uma ajuda e orientação: também elas devem ser objecto do vosso cuidado pastoral e da vossa solicitude de Pastores do rebanho que Cristo vos confiou (cf. Lumen gentium, LG 45 Christus Dominus, ). Além disso, não podemos deixar de mencionar os catequistas, que desempenham um papel essencial na resposta às exigências espirituais das vossas comunidades, especialmente nas áreas em que não há sacerdotes suficientes para pregar o Evangelho e exercer o ministério pastoral. Por conseguinte, eles devem possuir uma profunda consciência do seu papel e ser ajudados de todas as formas possíveis para enfrentar as responsabilidades que lhes são próprias e as suas obrigações, no que diz respeito às suas famílias.

7. Estimados Irmãos no Episcopado, rezo a fim de que o tempo que passámos em companhia mútua vos confirme na fé e vos anime a perseverar no serviço a Cristo, Pastor e Sentinela das nossas almas (cf. 1P 2,25). Caminhai sempre ao lado daqueles que foram confiados ao vosso cuidado pastoral, transmitindo-lhes um amor paternal, sobretudo a quantos são vítimas do flagelo da violência, do sofrimento da sida, das aflições de alguma das inúmeras situações que acarretam sofrimentos e dificuldades. Tende como objectivo orientar o vosso povo para um conhecimento cada vez mais profundo da sua fé e da sua identidade cristã. Com efeito, é assim que a Igreja será cada vez mais preparada para tornar presente de maneira eficaz a verdade salvífica do Evangelho na sociedade ugandese.

A nossa esperança e a nossa confiança assim como a dos Santos Mártires, tanto no Sul como no Norte do País, deram o derradeiro testemunho de Cristo estão fundamentadas sobre o poder do Senhor ressuscitado, cuja graça salvífica "não desilude" (Rm 5,5). Enquanto invoco a ajuda celestial dos Mártires de Uganda sobre vós e os fiéis das vossas comunidades locais, e vos confio à intercessão de Maria, Mãe da Igreja, concedo-vos cordialmente a minha Bênção apostólica.




DIscursos João Paulo II 2003