DIscursos João Paulo II 2003

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO 350° ANIVERSÁRIO DA INSTITUIÇÃO


DA DIOCESE ITALIANA DE PRATO







Ao Venerado Irmão Gastone SIMONI
Bispo de Prato (Itália)

1. Nos meados do século XVII, o aumento considerável da população e o desenvolvimento económico e social da Cidade de Prato, com as consequentes necessidades espirituais da Comunidade cristã reunida à volta da Colegiada de Santo Estêvão, impeliram o meu venerado predecessor, Inocêncio X, a responder às súplicas dos fiéis: com a Bula Redemptoris nostri, de 22 de Setembro de 1653, ele instituiu a Diocese de Prato, unindo-a aeque principaliter, in persona episcopi, à Igreja de Pistóia.

No 350º aniversário desse feliz acontecimento, é de bom grado que me uno a esta Diocese, para elevar a Deus sentimentos de louvor e de gratidão. Dirijo uma cordial saudação a Vossa Excelência, venerado Irmão, e ao seu prezado predecessor, D. Pietro Fiordelli, primeiro Bispo residencial da Igreja diocesana de Prato, que o Papa Pio XII, de veneranda memória, com a Constituição Apostólica Clerus populusque, de 25 de Janeiro de 1954, separou da Diocese de Pistóia. A comemoração dessas duas etapas importantes da vida da vossa Diocese enriquece-se ainda mais com a recordação de outro acontecimento eclesial, que é o 500º aniversário de fundação do mosteiro das Dominicanas de São Vicente e de Santa Catarina "de Ricci". É de muito bom grado que compartilho a alegria de todos os habitantes dessa terra, formulando-lhes votos a fim de que possam continuar a construir, com confiança e laboriosidade, uma sociedade cada vez mais solidária, tendo como fundamento as antigas tradições espirituais, que constituem o seu património mais precioso.

2. A 19 de Março de 1986, durante a minha visita à Cidade de Prato, tive a oportunidade de realçar como a "Cidade e o Templo", na vossa Diocese, caminharam em estreita sintonia ao longo dos séculos, beneficiando toda a população. De facto, graças à presença de uma Comunidade cristã activa, os habitantes de Prato, cultivando uma devoção sincera ao Protomártir Santo Estêvão e, sobretudo, à Bem-Aventurada Virgem, no culto ao Sagrado Cinto, viram amadurecer no seu interior muitos frutos de santidade.

Como deixar de recordar, por exemplo, Santa Catarina "de Ricci", grande mística dominicana do século XVI, que viveu precisamente no convento de que se celebram os quinhentos anos de fundação? Contemplando os mistérios de Cristo, o Esposo celestial de cuja paixão ela trazia os sinais impressos no corpo, procurou aderir plenamente ao Evangelho, praticando todas as virtudes cristãs com heroísmo espiritual. A sua memória, juntamente com as de outros Santos e Beatos que enriqueceram a Igreja de Prato, continue a ser um exemplo para toda a Comunidade diocesana e um estímulo para quantos estão à procura da verdade, e também para aqueles que, demasiadamente preocupados com as coisas do mundo, não sabem elevar o olhar ao céu.

3. "A Cidade e o Templo acreditaram em conjunto". Assim pude dizer durante a minha citada visita a Prato, realçando a antiga colaboração existente entre as Autoridades religiosas e civis. Foi com alegria que tomei conhecimento de que, com vista a este ano jubilar especial, o entendimento entre as Autoridades eclesiais e civis se fez ainda mais estreito, graças à constituição de uma Comissão representante da Diocese, do Município e da Província de Prato. Formulo votos de coração para que isto permita valorizar plenamente a lembrança dos acontecimentos que marcaram o passado dessa terra. O caminho percorrido até agora seja uma motivação especial para as novas gerações que, corroboradas pelos valores da tradição, hão-de progredir rumo a novos objectivos de concórdia e de civilização.

No contexto sócio-cultural actual, às vezes a disponibilidade de bens materiais, o cuidado pessoal exagerado e as necessidades suscitadas por uma sociedade consumista ameaçam ocultar a voz interior de Deus, que exorta constantemente a manter firme a aliança pessoal com Ele. Hoje, existe o perigo de reduzir a fé a um sentimento religioso vivido somente no íntimo de cada um, esquecendo-se de que ser cristão significa assumir o compromisso de ser apóstolo de Cristo no mundo. O acolhimento do seu Evangelho na nossa existência abre de par em par a nossa vida aos irmãos e impele-nos a estar "prontos a responder, para nossa defesa, com doçura e respeito, a todo aquele que nos perguntar a razão da nossa esperança" (cf. 1P 3,15).

4. O caminho jubilar, que se inicia hoje, 8 de Setembro, festa da Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria, e que terminará no dia 26 de Dezembro de 2004, festa de Santo Estêvão, Padroeiro da Cidade e da Diocese, com uma ressonância que se prolonga até ao Outono de 2005, que ele possa ser para todos um tempo de conversão, de revigoramento da fé, de relançamento apostólico e de renovada comunhão eclesial. Que este aniversário constitua uma ocasião providencial para compreender melhor que a vocação à santidade é estendida a todos e deve ser proposta com coragem e paciência às novas gerações.

O Senhor ajude a população de Prato a continuar pelo caminho do autêntico progresso moral, civil e espiritual, e a Virgem Maria, que há mais de seis séculos é venerada na capela a Ela dedicada na Igreja catedral, vele sobre todos os seus habitantes com a sua ternura maternal.

Com estes votos, garanto-lhe a minha recordação orante e concedo-lhe, a Vossa Excelência, querido Irmão, ao seu venerado Predecessor, aos Sacerdotes, aos Consagrados e às Consagradas, assim como a todos os que participarem nas celebrações jubilares, uma afectuosa Bênção apostólica, penhor de abundantes favores celestiais.

Castel Gandolfo, 8 de Setembro de 2003, festa da Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS FUNCIONÁRIOS DAS VILAS PONTIFÍCIAS


DE CASTEL GANDOLFO


24 de Setembro de 2003





Caríssimos Irmãos e Irmãs

É-me grato acolher-vos neste encontro tradicional, no final da minha estadia de Verão em Castel Gandolfo. Saúdo-vos a todos com afecto e agradeço-vos a dedicação e a generosidade com que contribuístes para tornar serena e confortável a minha permanência nesta alegre localidade dos Castelos Romanos, que me é tão querida.

Desejo transmitir uma especial saudação ao Dr. Saverio Petrillo, Director-Geral das Vilas Pontifícias. Dirijo-lhe a minha gratidão pelas amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos.

Juntamente com ele, saúdo todo os Funcionarios que trabalham nas Vilas Pontifícias e os seus familiares.

Enquanto me preparo para regressar ao Vaticano, peço em oração ao Dador de todo o bem que vos recompense com a abundância da graça divina. A Virgem Maria, que no próximo mês de Outubro invocaremos de maneira especial com a recitação do Santo Rosário, vos ajude e vos proteja sempre. Também vos acompanhe a minha Bênção que, com afecto, vos concedo a cada um de vós, às vossas famílias e a todos os vossos entes queridos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRIMEIRO GRUPO DE BISPOS


DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DAS FILIPINAS


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Quinta-feira, 25 de Setembro de 2003




Meus queridos Irmãos no Episcopado

1. É com imensa alegria que vos saúdo a vós, Bispos das Filipinas, representantes das Províncias Eclesiásticas de Cayagan de Oro, Davao, Lipa, Ozamis e Zamboanga, por ocasião da vossa visita "ad limina Apostolorum". Sois os membros do primeiro dos três grupos de Prelados filipinos que, durante os próximos dois meses, virão a Roma para "ver Cefas" (cf. Gl Ga 1,18), para compartilhar com ele "as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias" (Gaudium et spes, GS 1) das vossas comunidades locais. Estes dias representam um tempo de graça para vós, em que aproveitais para rezar junto dos túmulos dos Santos Apóstolos e procurais ser revigorados no anúncio das "riquezas incalculáveis de Cristo", esclarecendo a todos "como se realiza o mistério que esteve sempre escondido em Deus, Criador do universo" (Ep 3,8-9).

As palavras que hoje vos dirijo, e as que hei-de transmitir aos vossos Irmãos Bispos, quando vierem aqui os próximos dois grupos, são endereçadas a todos vós que, nas Filipinas, tendes a tarefa de apascentar "o rebanho de Deus que vos foi confiado" (1P 5,2).

2. No início do novo milénio, pouco depois do encerramento do Grande Jubileu do Ano 2000, os Bispos das Filipinas proclamaram uma Consulta Pastoral Nacional sobre a renovação da Igreja, retomando uma vez mais o tema que, dez anos antes, tinha inspirado um dos acontecimentos mais significativos da vida eclesial da vossa Igreja particular: o segundo Concílio Plenário das Filipinas. Com efeito, a Consulta Pastoral Nacional dedicou o seu interesse directamente aos resultados do Concílio, considerando com atenção e realismo a realização permanente dos decretos derivantes do mesmo Concílio.

Enquanto vos torno participantes dos meus pensamentos, também eu desejo colocar as minhas reflexões no contexto deste Concílio e das recomendações que dele nasceram. De facto, do Concílio Plenário surgiram estas três importantes prioridades pastorais: a necessidade de ser uma Igreja dos pobres; o compromisso a tornar-se uma autêntica comunidade de discípulos do Senhor; e o empenhamento em prol de uma renovada evangelização integral. Dado que os Bispos das Filipinas realizam as suas visitas "ad Limina" a Roma em três grupos, tomarei cada um destes aspectos como ponto de referência para os comentários que vou dirigir a cada um dos três grupos.

3. Na Declaração sobre a Visão-Missão para a Igreja nas Filipinas, lemos esta afirmação simples e incisiva: "Seguindo o caminho de nosso Senhor, escolhemos ser uma Igreja dos pobres". O Concílio Plenário falou de maneira ampla do que significa ser uma Igreja dos pobres (cf. Acts and Decrees of the Second Plenary Council of the Phillipines, 122-136). Ele ofereceu uma descrição resumida da Igreja dos pobres, como comunidade de fé que "inclui e põe em prática o espírito evangélico da pobreza, que une o desapego das posses a uma profunda confiança no Senhor, como única fonte de salvação" (Ibidem, 125). Esta prioridade retoma a primeira bem-aventurança: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mt 5,3).

Observemos atentamente que esta preferência pelos pobres não é de modo algum exclusiva, mas abarca todas as pessoas, prescindindo do seu nível económico ou da sua situção social. Porém, trata-se de uma Igreja que presta uma atenção preferencial aos pobres, procurando compartilhar tempo e recursos, com a finalidade de aliviar o sofrimento dos mesmos. É uma Igreja que trabalha juntamente com todos os sectores da sociedade, também com os próprios pobres, na procura de soluções para os problemas da pobreza, em ordem a libertar as pessoas de uma vida cheia de miséria e de dificuldades. Além disso, é uma Igreja que recorre às capacidades e aos dons dos próprios pobres, contando com eles na missão da evangelização. A Igreja dos pobres é uma Igreja em que os pobres são acolhidos, escutados e empenhados activamente.

4. Por conseguinte, de maneira concreta, a Igreja dos pobres oferece uma grande contribuição para a transformação necessária da sociedade, para a renovação social, fundamentada na visão e nos valores do Evangelho. Esta renovação é um compromisso que vê os fiéis leigos como agentes principais e fundamentais: portanto, é necessário oferecer aos leigos os instrumentos necessários para obter bom êxito no desempenho deste papel. Isto comporta uma sólida formação na doutrina social da Igreja e um diálogo constante com o clero e com os religiosos sobre as questões sociais e culturais em geral. Como Pastores e guias espirituais, a vossa profunda atenção a estas tarefas ofecerá uma enorme contribuição para o serviço da missão ad gentes no seio da Igreja: com efeito, "por graça e missão recebida no Baptismo e na Confirmação, todos os leigos são missionários; o campo do seu trabalho missionário é o vasto e complexo mundo da política, da economia, da indústria, da educação, dos meios de comunicação social, da ciência, da tecnologia, das artes e do desporto" (Ecclesia in Asia ).

5. Naturalmente, nunca devemos perder de vista o facto de que o campo mais imediato e talvez mais importante do testemunho laical da fé cristã é o do matrimónio e da família. Quando a vida familiar é sadia e próspera, existe também um forte sentido de comunidade e de solidariedade, que são dois elementos fundamentais para a Igreja dos pobres. A família não só é objecto do cuidado pastoral da Igreja, mas constitui também um dos mais eficazes agentes de evangelização. Com efeito, "as famílias cristãs são, hoje, chamadas a testemunhar o Evangelho em tempos e circunstâncias difíceis, já que elas próprias estão ameaçadas por um batalhão de forças contrárias" (Ibid., n. 46). Por conseguinte, vós e os vossos sacerdotes deveis estar sempre prontos para ajudar os casais a relacionar a sua vida familiar de maneira concreta à vida e à missão da Igreja (cf. Familiaris consortio FC 49), alimentando a vida espiritual dos pais e dos filhos através da oração, da Palavra de Deus, dos sacramentos, dos exemplos de santidade de vida e da caridade.

O testemunho dado pelo facto de ser uma Igreja dos pobres terá um valor inestimável para a família, também na sua vocação cristã e social. Com efeito, embora sem ignorar os efeitos deletérios do secularismo ou de uma legislação que altera o significado da família, do matrimónio e mesmo da própria vida do homem, podemos observar que a pobreza é certamente um dos factores mais importantes entre os que expõem as famílias filipinas ao perigo da instabilidade e da fragmentação. Quantas crianças foram abandonadas sem mãe ou sem pai, porque um deles ou ambos os pais tiveram que partir à procura de um trabalho no estrangeiro? Além disso, os diversos tipos de exploração que podem debelar o núcleo familiar o trabalho infantil, a pornografia e a prostituição estão frequentemente vinculados às difíceis condições económicas. Uma Igreja dos pobres pode fazer muito para revigorar a família e para combater a exploração humana.
Antes de deixar de lado o tema da família, devo dirigir ainda uma palavra de elogio aos Bispos das Filipinas e a todos aqueles que trabalharam juntamente convosco para levar o IV Encontro Mundial das Famílias, que teve lugar em Manila no início do ano corrente, a obter um sucesso enorme.

6. Queridos Irmãos, a partilha dos meus pensamentos convosco, hoje, seria incompleta, se eu deixasse de mencionar a presença desestabilizadora da actividade terrorista nas Filipinas e os graves episódios de violência que se verificaram no vosso território. Sem dúvida, eles são uma causa de profunda angústia, e desejo que saibais que compartilho as vossas preocupações e que me sinto próximo de vós e do vosso povo nestas situações dolorosas e difíceis. Como vós, também eu nunca poderei condenar com força suficiente tais actos. Exorto as partes interessadas a abandonarem as armas mortíferas e destruidoras, rejeitando o desespero e o ódio que elas comportam, e a empunharem as armas da compreensão reíproca, do compromisso e da paz. Estes são os fundamentos sólidos para construir um futuro de paz autêntica e de justiça para todos.
Na campanha contra o terrorismo e a violência, os guias religiosos devem desempenhar um papel importante. "As confissões cristãs e as grandes religiões da humanidade devem colaborar entre si para eliminar as causas sociais e culturais do terrorismo, ensinando a grandeza e a dignidade da pessoa e difundindo uma maior consciência da unidade do género humano" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002, n. 12). Irmãos, este é um apelo explícito ao diálogo ecuménico e inter-religioso, e também à cooperação que, por sua vez, são outros tantos componentes de uma autêntica Igreja dos pobres. Encorajo os vossos esforços neste sentido e exorto-vos a aumentar as oportunidades, tanto para vós como para as vossas comunidades em geral, de vos comprometerdes em intercâmbios fecundos com outros crentes em Cristo e com os vossos irmãos e as vossas irmãs do Islão.

Recomendo de maneira particular que o Fórum entre Bispos e Ulemás realce, a nível local, o "Compromisso conjunto em favor da Paz", apresentado durante a Jornada de Oração pela Paz, que teve lugar em Assis no dia 24 de Janeiro de 2002. Nessa ocasião, duzentos líderes religiosos uniram-se a mim para condenar o terrorismo e, em conjunto, comprometemo-nos "a proclamar a nossa firme convicção de que a violência e o terrorismo se contrapõem ao espírito religioso autêntico e (...) a fazer todo o possível para desenraizar as causas do terrorismo" (Compromisso, n. 1). Dilectos Irmãos, este deve ser o empenhamento clarividente dos chefes religiosos na região de Mindanao e em todo o território das Filipinas.

7. Eis algumas das reflexões que desejei compartilhar convosco. Com o apoio total ao vosso compromisso preferencial constante pelos pobres, confio-vos a vós, bem como os vossos sacerdotes, os religiosos, as religiosas a os fiéis leigos a Maria, Serva humilde e obediente do Senhor. Como penhor de graça e de fortaleza no seu Filho, concedo-vos cordialmente a minha Bênção apostólica.



PALAVRAS DE JOÃO PAULO II


AO DESPEDIR-SE DE CASTEL GANDOLFO


AOS REPRESENTANTES DA COMUNIDADE CIVIL E ECLESIAL


Quinta-feira, 25 de Setembro de 2003



Senhor Presidente
da Câmara Municipal
Senhores Membros
da Junta e do Conselho Municipal!

1. O encontro de hoje encerra a minha estadia de Verão em Castel Gandolfo. Aqui, também este ano, pude repousar e recuperar novas energias para a retomada das habituais actividades no Vaticano. Apresento de bom grado a minha saudação reconhecida a cada um de vós aqui presentes. Através das vossas pessoas, faço-a extensiva a toda a Comunidade desta cidade.

Agradeço-vos a vossa proximidade espiritual e tudo o que fizestes por mim e pelos meus colaboradores durante estes meses. De modo especial, agradeço a Vossa Excelência, Senhor Presidente da Câmara, a sua gentileza, as amáveis palavras e os sentimentos que me expressou, também em nome da Administração e de todos os cidadãos, que me são tão queridos.
Como todos os anos, também este Verão numerosos peregrinos e visitantes vieram para se encontrarem com o Papa. Eles receberam dos habitantes de Castel Gandolfo acolhimento e hospitalidade. Obrigado!

2. Desejo fazer chegar a minha saudação de despedida à comunidade cristã de Castel Gandolfo e de toda a diocese de Albano. Dirijo um pensamento fraterno ao Bispo, D. Agostino Vallini, e ao seu Auxiliar, D. Paolo Gillet, que, precisamente nestes dias, celebrou o 50º aniversário de sacerdócio. Saúdo o Pároco, os sacerdotes e as diversas comunidades religiosas presentes no território. A todos os habitantes desta querida cidadezinha, dirijo a minha saudação reconhecida e concedo a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO INSPECTORADO DA SEGURANÇA PÚBLICA


JUNTO DO VATICANO, À GUARDA FISCAL


E AOS CARABINEIROS DE CASTEL GANDOLFO


25 de Setembro de 2003




Caros Funcionários
e Agentes da Polícia
da Guarda Fiscal
e Militares da Arma dos Carabineiros

Na iminência de deixar a residência de Castel Gandolfo, desejo dirigir-vos uma saudação especial a vós que, colaborastes concretamente para tornar a minha estadia aqui serena e profícua. Obrigado pelo vosso compromisso incansável, que certamente comportou um notável sacrifício.

Dirijo-vos a todos um cordial "até à vista". Asseguro-vos que continuarei a rezar a fim de que o Senhor vos abençoe, a vós e ao vosso trabalho.

Peço-vos que também vós rezeis por mim e pelo meu serviço diário à Igreja. Orai particularmente pela minha já próxima peregrinação a Pompeia, a fim de que ela possa assinalar uma etapa de renovação espiritual e de devoção mariana mais intensa para a Igreja.

Com esses sentimentos, concedo-vos a vós e a quantos representais, a propiciadora Bênção Apostólica, sinal da minha benevolência constante.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DE UM SIMPÓSIO


NO X ANIVERSÁRIO DA CARTA ENCÍCLICA


"VERITATIS SPLENDOR"




Ao venerado Irmão Card. Joseph RATZINGER
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé

1. Foi com prazer que recebi a notícia de que essa Congregação promoveu um Simpósio sobre "A antropologia da teologia moral, segundo a Encíclica "Veritatis splendor". À distância de dez anos da sua publicação, o valor doutrinal da Encíclica Veritatis splendor é mais actual do que nunca. De facto, é luminoso o destino daqueles que, chamados à salvação através da fé em Jesus Cristo, "luz verdadeira que a todo o homem ilumina" (Jn 1,9), acolhem e vivem a verdade que Ele comunica ou, mais exactamente, a verdade que Ele é, tornando-se também eles "sal da terra" e "luz do mundo" (cf. Mt Mt 5,13 Mt Mt 5,14).

O mistério da encarnação do Filho de Deus, "centro do cosmos e da história" (cf. Carta Encíclica Redemptor hominis RH 1), constitui o verdadeiro horizonte do ser e do agir do homem. Às interrogações religiosas e morais da humanidade, Jesus Cristo não só dá uma resposta sábia, mas é Ele em pessoa que se coloca como resposta decisiva, pois no seu mistério de Verbo encarnado, o mistério da pessoa humana encontra a luz verdadeira (cf. Gaudium et spes, GS 22). À semelhança do jovem do Evangelho (cf. Mt Mt 19,16), também o homem do terceiro milénio se dirige a Jesus, Mestre bom, a fim de obter dele a luz da verdade acerca do bem e do mal.

2. Recomeçar a partir de Cristo, contemplar o seu rosto e perseverar no seu seguimento são os ensinamentos que a Veritatis splendor continua a propor-nos. Para além de todas as mudanças culturais efémeras, existem realidades essenciais que não mudam, mas encontram o seu fundamento último em Cristo, que é sempre o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos: "É Ele o "Princípio" que, tendo assumido a natureza humana, a ilumina definitivamente nos seus elementos constitutivos e no seu dinamismo de caridade para com Deus e o próximo" (n. 53).

Portanto, a referência fontal da moral cristã não é a cultura do homem, mas o projecto de Deus na criação e na redenção. De facto, no mistério pascal e no mistério da nossa adopção filial, surge em todo o seu esplendor, a dignidade originária da humanidade.

3. Certamente hoje, para os Pastores da Igreja, para os estudiosos e os mestres de moral cristã, parece cada vez mais difícil acompanhar os fiéis na formulação de juízos segundo a verdade, num clima de contestação da verdade salvífica e de difundido relativismo em relação à lei moral. Assim, exorto todos os participantes no Simpósio a aprofundar o vínculo essencial existente entre a verdade, o bem e a liberdade. Tal relação, já existente na natureza humana, tem o seu fundamento ontológico na Encarnação e é renovada e realçada no acontecimento histórico-salvífico da cruz do nosso Redentor.

O segredo formativo da Igreja, portanto, consiste em manter o olhar fixo no Crucificado e no anúncio do seu sacrifício redentor: "A contemplação de Jesus crucificado é a via-mestra pela qual a Igreja deve caminhar cada dia, se quiser compreender todo o sentido da liberdade: o dom de si no serviço a Deus e aos irmãos. Mais, a comunhão com o Senhor crucificado e ressuscitado é a fonte inesgotável, onde a Igreja se sacia incessantemente para viver na liberdade, se doar e servir" (Ibid., n. 87).

A verdade da moral cristã, selada pela cruz de Jesus, tornou-se no Espírito Santo a lei nova do Povo de Deus. Por isso, a resposta que ela oferece ao desejo de felicidade do homem contemporâneo tem o poder e a sabedoria de Cristo crucificado, Verdade que se dá por amor.

4. Concluindo, desejo transmitir-vos a todos vós, que participais neste importante Simpósio, um agradecimento e os bons votos. Dirijo o meu agradecimento, em primeiro lugar, a vós pela colaboração fiel e leal que ofereceis ao magistério da Igreja com o vosso empenho de investigação e de aprofundamento da doutrina católica no campo moral. Esta obediência à verdade é o melhor caminho para a sua compreensão e explicação.

Os bons votos são para que o trabalho realizado neste Simpósio, os vossos aprofundamentos e as vossas sábias intuições, possam iluminar cada vez mais os Pastores e todos os fiéis a fim de manter na Igreja aquela communio caritatis que se fundamenta na communio veritatis.

Concedo-vos a todos a minha Bênção!

Castel Gandolfo, 24 de Setembro de 2003.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CARDEAL JOZEF TOMKO,


PRESIDENTE DA DELEGAÇÃO DA SANTA SÉ


NO ENCONTRO INTER-RELIGIOSO DE ASTANA


(CAZAQUISTÃO)



Por ocasião do Congresso Inter-Religioso que se está a realizar em Astana, sobre o papel das religiões no contexto global actual, cheio de perigos para a paz no mundo, é-me grato transmitir estas cordiais saudações ao Presidente do Congresso, Sua Ex.cia o Senhor Nursultan Nazarbayev, e a todos os participantes, aos quais desejo todo o bom êxito nas suas deliberações.

No espírito de Assis, esta nova iniciativa das autoridades do Cazaquistão ajudará a promover o respeito pela dignidade humana, a defesa da liberdade religiosa e o crescimento da compreensão recíproca entre os povos, dado que todos nós estamos convencidos de que a religião, justamente entendida, se mostra como um sólido instrumento para a promoção da paz. Para tal finalidade, a Igreja católica, com base no ensinamento revelado que nela vive, está empenhada a apoiar todo o esforço sincero em prol de uma paz autêntica fundada na verdade, na justiça, no amor e na liberdade.


IOANNES PAULUS PP. II




MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS TEÓLOGOS, FILÓSOFOS E PERITOS PARTICIPANTES


NO CONGRESSO INTERNACIONAL TOMISTA




Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. É com alegria que vos dirijo esta Mensagem, ilustres teólogos, filósofos e peritos, que participais no Congresso Internacional Tomista, que se realiza nestes dias em Roma. Estou grato à Pontifícia Academia de São Tomás e à Sociedade Internacional Tomás de Aquino, instituições tomistas muito conhecidas pelo mundo científico, por terem organizado este encontro, assim como pelo serviço que prestam à Igreja, promovendo o aprofundamento da doutrina do Doutor Angélico.

Saúdo de coração todos os presentes, dirigindo um pensamento particular ao Cardeal Paul Poupard, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, ao Pe. Abelardo Lobato, Presidente tanto da Academia como da Sociedade Internacional Tomás de Aquino, e ao Secretário, D. Marcelo Sánchez Sorondo. A todos e a cada um, as minhas cordiais boas-vindas.

2. O tema do Congresso "O humanismo cristão no terceiro milénio" retoma o ponto capital de investigação sobre o homem, começado nos vossos dois Congressos precedentes. Segundo a perspectiva de São Tomás, o grande teólogo qualificado também como Doctor humanitatis, a natureza humana é, em si mesma, aberta e boa. O homem é naturalmente capax Dei (Summa Theologiae, I-II 113,10 Santo Agostinho, De Trinit. XIV, 8: PL 42,1044), criado para viver em comunhão com o seu Criador; é um indivíduo inteligente e livre, inserido na comunidade com os seus deveres e direitos próprios; é anel de ligação entre dois grandes sectores da realidade, o da matéria e o do espírito, pertencendo a pleno título tanto a um como a outro. A alma é a forma que dá unidade ao seu ser e o constitui pessoa. No homem, observa São Tomás, a graça não destrói a natureza, mas leva a cumprimento as suas potencialidades: "gratia non tollit naturam, sed perficit" (Summa Theologiae, I, 1, 8 ad 2).

3. O Concílio Vaticano II, nos seus documentos, deu espaço ao humanismo cristão, partindo do princípio fundamental segundo o qual, "unidade de corpo e alma, o homem, pela sua própria condição corporal, é uma síntese do universo material, de tal modo que, por meio dele, atinge o seu ponto mais alto e ergue a voz para louvar livremente o Criador" (Gaudium et spes, GS 14). É também do Vaticano II aquela resplendente intuição: "o mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado" (ibid., 22).

Com grande antecipação, o Aquinate já se tinha colocado nesta óptica: desde o início da Summa Theologiae, que tem no seu centro a relação entre o homem e Deus, ele sintetiza numa densa e límpida fórmula o plano da exposição futura: "primo tractabimus de Deo; secundo de motu rationalis creaturae in Deum; tertio de Cristo, qui secundum quod homo, via est nobis tendendi in Deum" (Summa Theologiae, I, 2, pról.).

O Doutor Angélico perscruta a realidade do ponto de vista de Deus, princípio e fim de todas as coisas (cf. Summa Theologiae, I, 1, 7). Esta é uma perspectiva particularmente interessante, porque faz com que se possa penetrar a profundidade do ser humano, para captar as suas dimensões fundamentais. Esta é a característica que distingue o humanismo de São Tomás que, segundo a opinião de não poucos estudiosos, garante a sua justa orientação e a consequente possibilidade de progressos sempre novos. Com efeito, a concepção do Aquinate integra e une ao mesmo tempo as três dimensões do problema: antropológica, ontológica e teológica.

4. Agora vós interrogais-vos é este o tema do vosso Congresso, ilustres participantes acerca do contributo específico que São Tomás pode oferecer, no início do novo milénio, à compreensão e realização do humanismo cristão. Se é verdade que a primeira parte da sua grande obra, a Summa Theologiae, está completamente centrada em Deus, também é verdade que a segunda parte, mais inovadora e extensa, se ocupa directamente do longo itinerário do homem até Deus. Nela, a pessoa humana é considerada como protagonista de um desígnio de Deus específico, para cuja realização foi dotada de abundantes recursos não só naturais, mas também sobrenaturais. Graças a eles, é possível corresponder à vocação exaltante que lhe está reservada em Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Na terceira parte, São Tomás recorda que o Verbo encarnado, precisamente porque é verdadeiro homem, revela em si mesmo a dignidade de cada criatura humana, e constitui o caminho do regresso de todo o cosmos para a sua origem, que é Deus.
Por conseguinte, Cristo é o verdadeiro caminho do homem. No prólogo ao livro III das Setenças, São Tomás, ao resumir o itinerário da humanidade nos três momentos originário, histórico e escatológico anota que todas as coisas provêm das mãos de Deus, das quais brotam rios de bondade. Tudo se concentra no homem, e em primeiro lugar no homem-Deus, que é Cristo; tudo deve voltar a Deus através de Cristo e dos cristãos (cf. In III Sent. Prol.).

5. Portanto, o humanismo de São Tomás desenvolve-se à volta desta intuição essencial: o homem provém de Deus e para Ele deve voltar. O tempo é o âmbito dentro do qual ele pode realizar esta sua nobre missão, aproveitando as oportunidades que lhe são oferecidas tanto a nível da natureza como da graça.

Sem dúvida, unicamente Deus é o Criador. Contudo, Ele quis confiar às suas criaturas, racionais e livres, a tarefa de completar a sua obra com o trabalho. Quando o homem coopera activamente com a graça, torna-se "um homem novo", que da vocação sobrenatural tira proveito para corresponder melhor ao projecto de Deus (cf. Jn 1,26). Por isso, é com razão que São Tomás defende que a verdade da natureza humana encontra plenitude de realização mediante a graça santificante, porque ela é "perfectio naturae rationalis creatae" (Quodlib., 4, 6).

6. Como é iluminadora esta verdade para o homem do terceiro milénio, em busca contínua da própria auto-realização! Na Encíclica Fides et ratio analizei os factores que constituem obstáculos no caminho do humanismo. Entre os mais frequentes devemos mencionar a perda de confiança na razão e na sua capacidade de alcançar a verdade, a recusa da transcendência, o niilismo, o relativismo, o esquecimento do ser, a negação da alma, a supremacia do irracional e do sentimento, o receio do futuro e a angústia existencial. Para responder a este gravíssimo desafio, que atinge as perspectivas futuras do próprio humanismo, indiquei como o pensamento de São Tomás, com a sua robusta confiança na razão e a clara explicação da articulação da natureza e da graça, nos possa oferecer os elementos básicos para uma resposta válida. O humanismo cristão, como foi ilustrado por São Tomás, possui a capacidade de salvar o sentido do homem e da sua dignidade. Eis a tarefa exaltante confiada hoje aos seus discípulos!

O cristão sabe que o futuro do homem e do mundo está nas mãos da Providência divina, e isto constitui para ele motivo constante de esperança e de paz interior. Mas o cristão também sabe que Deus, movido pelo amor que tem pelo homem, pede a sua colaboração para melhorar o mundo e para o governo das vicissitudes da história. Neste começo, não fácil, do terceiro milénio, muitos sentem, com uma clareza que vai até ao sofrimento, a necessidade de mestres e de testemunhas que sejam capazes de indicar percursos válidos para um mundo mais digno do homem. Compete aos crentes a tarefa histórica de propor em Cristo "o caminho" pelo qual progredir rumo àquela humanidade nova que está no projecto de Deus. Por isso, é evidente que uma prioridade da nova evangelização é precisamente ajudar o homem do nosso tempo a encontrá-Lo pessoalmente e a viver com Ele e para Ele.

7. São Tomás, mesmo estando bem enraizado no seu tempo e na cultura medieval, desenvolveu um ensinamento que ultrapassa os condicionamentos da sua época e pode, ainda hoje, oferecer orientações fundamentais para a reflexão contemporânea. A sua doutrina e o seu exemplo constituem uma chamada providencial àquelas verdades imutáveis e perenes que são indispensáveis para promover uma existência verdadeiramente digna do homem.

Ao desejar um proveitoso intercâmbio de ideias durante as sessões do Congresso, exorto cada um de vós, que nele participais, a perseverar na reflexão sobre as riquezas do ensinamento de São Tomás, tirando, a exemplo do "escriba" evangélico, "coisas novas e velhas do seu tesouro" (Mt 13,52).

À Virgem Maria, Sedes Sapientiae, que deu Cristo ao mundo, "o homem novo", confio os frutos das vossas pesquisas e, em particular, do vosso Congresso Internacional, enquanto envio a todos vós, de coração, a minha Bênção.

Castel Gandolfo, 20 de Setembro de 2003.



DIscursos João Paulo II 2003