DIscursos João Paulo II 2003


SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

NO FINAL DO CONCERTO PROMOVIDO

PELA ASSOCIAÇÃO ITALIANA SANTA CECÍLIA


Sábado, 22 de Novembro de 2003





Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Obrigado por esta vossa manifestação, com a qual quisestes comemorar o centenário do Motu próprio "Tra le sollecitudini", publicado pelo meu santo predecessor Pio X. Saúdo com afecto todos os presentes. Saúdo, em primeiro lugar, Mons. Vasco Giuseppe Bertelli, presidente da Associação Italiana Santa Cecília, e agradeço-lhe por se ter feito intérprete dos sentimentos comuns. Saúdo os promotores e os organizadores desta representação sacra e a todos agradeço a significativa dádiva de um sino, que traz inscrita esta expressão bíblica: "Cantate Domino canticum novum".

Saúdo os coralistas das Scholae Cantorum "Santos Pedro e Paulo", de Gessate (Milão) e de São Gervásio de Capriate (Bérgamo), que executaram o Oratório "Passione secondo san Marco", de Mons. Lorenzo Perosi. Saúdo os participantes no Congresso Nacional da vossa benemérita Associação. Estendo o meu afectuoso pensamento aos numerosos cantores provenientes de todas as partes da Itália, que amanhã, em São Pedro, animarão a celebração eucarística comemorativa desse importante aniversário.

2. A vossa Associação intitula-se Santa Cecília, que a piedade popular apresenta como padroeira da música. Esta jovem mártir romana convida os crentes a caminhar vigilantes ao encontro com Cristo, alegrando a peregrinação terrena com o festivo canto e com a música.

Santa Cecília acompanhe do Céu cada um de vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, e vos ajude a realizar plenamente a vossa missão na Igreja.

Enquanto invoco sobre vós a materna protecção de Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, asseguro-vos uma lembrança na oração e, de coração, vos abençoo a todos.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO II CONGRESSO AMERICANO MISSIONÁRIO


(CAM 2)



Ao Cardeal Rodolfo QUEZADA TORUÑO
Arcebispo de Guatemala
e Presidente do II Congresso Americano Missionário

1. O II Congresso Americano Missionário, que se celebra na Cidade de Guatemala, subordinado ao tema: "Igrejas na América, a tua vida é missão", oferece-me a oportunidade de saudar com imenso afecto todos os presentes e evocar com profunda gratidão a vossa calorosa hospitalidade que recebi, como peregrino do amor e da esperança, aquando da minha última viagem a esse Continente, durante a qual tive o júbilo de canonizar o Irmão Pedro de São José Betancur.

A canonização deste missionário extraordinário foi, de certa forma, como que o prelúdio do presente Congresso. A sua poderosa intercessão e o testemunho da sua santidade orientar-vos-ão nesta Assembleia, da qual a Igreja universal aguarda com expectativa uma abundante messe de fé, de santidade e de generosidade missionária.

Antes de mais nada, desejo saudar o Cardeal Rodolfo Quezada Toruño, Arcebispo de Guatemala, e os numerosos Irmãos no Episcopado, que se encontram neste "Cenáculo" missionário continental. Dirijo também a minha afectuosa saudação a quantos colaboraram para a preparação do Congresso e a cada um dos seus participantes: sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos, especialmente jovens e crianças. O meu Enviado Especial, Senhor Cardeal Crescenzio Sepe, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, transmite o testemunho da minha proximidade espiritual e do meu interesse por este importante acontecimento.

Penso de maneira particular em vós, que recebestes a vocação do Senhor, para o anunciar ad gentes, vocação esta que é feita de entrega e de santidade, que vos exorta a servir todos os homens e cada um dos povos da terra. "Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa notícia, que anuncia a salvação e que diz a Sião: "O teu Deus [já] reina"!" (Is 52,7).

2. Queridos Irmãos e Irmãs, a história da evangelização do continente americano demonstra a íntima relação entre santidade e missão. Considerando esta obra missionária a partir de uma perspectiva histórica, é realmente gratificante observar o grande impacto do Evangelho e a vivência cristã das primeiras comunidades, assim como o testemunho dos numerosos missionários santos que delas nasceram.

Desde o início da evangelização e ao longo da sua interessante história, o Espírito do Senhor suscitou nessas terras abençoadas bonitos frutos de santidade em homens e mulheres que, fiéis ao mandato missionário do Senhor, consagraram a sua própria vida ao anúncio da mensagem cristã, inclusivamente em circunstâncias e condições heróicas. Sem dúvida, na base deste maravilhoso dinamismo missionário encontravam-se a sua santidade e também a das respectivas comunidades. Um renovado impulso da missão ad gentes, na América e a partir da América, exige também hoje missionários santos e comunidades eclesiais santas.

A vocação para a missão está vinculada à vocação para a santidade, que constitui "um pressuposto fundamental e uma condição totalmente insubstituível para se cumprir a missão salvífica da Igreja" (Redemptoris missio RMi 90). Perante esta vocação universal, devemos tomar consciência da nossa própria responsabilidade na difusão do Evangelho. A este propósito, a cooperação na missão ad gentes deve ser sinal de uma fé madura e de uma vida cristã capaz de produzir frutos, de tal maneira que as Igrejas particulares mais necessitadas recebam um impulso humano e espiritual que as ajude a caminhar em companhia dos seus Pastores.

Por isso, "não basta explorar com maior perspicácia as bases teológicas e bíblicas da fé, nem renovar os métodos pastorais, nem ainda organizar e coordenar melhor as forças eclesiais: é preciso suscitar um novo "ardor de santidade" entre os missionários e em toda a comunidade cristã, especialmente entre aqueles que são os colaboradores mais íntimos dos missionários" (Ibidem).

3. Depois das minhas viagens pastorais a diferentes nações onde o Evangelho, nalgumas delas, acaba de ser anunciado cheguei à íntima convicção de que a humanidade aguarda, com anseio cada vez mais intenso, "a plena realização dos filhos de Deus" (Rm 8,19). Com efeito, muitas pessoas desejam encontrar o mistério de santidade e de comunhão, que é fundamental na Igreja e é também uma epifania "daquele amor que, brotando do coração do Pai eterno, se derrama em nós através do Espírito que Jesus nos dá (cf. Rm Rm 5,5), para fazer de todos nós "um só coração e uma só alma" (Ac 4,32)" (Novo millennio ineunte NM 42).

Milhões de homens e de mulheres que não conhecem Cristo, ou que só O conhecem superficialmente, vivem à espera às vezes de modo inconsciente de descobrir a verdade sobre o homem e sobre Deus, sobre o caminho que leva para a libertação do pecado e da morte. Para esta humanidade, que aspira ou que tem saudade da beleza de Cristo, da sua luz clarividente e serena, que resplandece sobre a face da terra, o anúncio da Boa Nova é uma tarefa vital e inadiável.
Este Congresso está orientado para tal tarefa. Respondei, pois, com prontidão ao chamamento do Senhor. Manifestai o desejo de ser testemunhas jubilosas e apóstolos entusiastas do Evangelho, até aos últimos confins da terra, mediante o testemunho de uma vida santa!

4. Depois da alegre experiência do Grande Jubileu do Ano 2000, indiquei o caminho da santidade como fundamento sobre o qual se deveria basear a programação pastoral de cada uma das Igrejas particulares. Trata-se de "propor de novo a todos, com convicção, esta "medida alta" da vida cristã ordinária" (Ibid., 31). Queridos Irmãos e Irmãs, isto exige uma pedagogia pastoral adequada e paciente uma pedagogia da santidade que se deve distinguir pelo primado a dar à Pessoa de Jesus Cristo, à escuta e ao anúncio da sua Palavra, à participação plena e activa nos sacramentos, e à promoção da oração como encontro pessoal com o Senhor.

Toda a actividade pastoral deve centralizar-se na iniciação cristã e na formação que, ajudando a amadurecer e a refortalecer a fé daqueles que já se aproximaram dela e atraindo-lhe todos os que ainda estão distantes, representam a maior garantia para que as Igrejas particulares da América desenvolvam uma eficaz obra de cooperação e animação missionárias. Com efeito, ela há-de ser o "elemento fulcral da sua pastoral ordinária" (cf. Redemptoris missio RMi 83).

5. Animado pelo Espírito Santo e pelo testemunho do crescente número de missionários ad gentes, provenientes dos vossos países, desejo renovar perante esta Assembleia sinal de unidade de todos os povos do Continente aquilo que já afirmei na Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in America, ao dirigir-me às vossas comunidades cristãs: "As Igrejas particulares da América são chamadas a estender este ímpeto evangelizador para além das fronteiras do seu Continente. Não podem reservar só para elas as riquezas imensas do seu património cristão. Devem levá-lo ao mundo inteiro e comunicá-lo a quantos ainda o ignoram. Trata-se de muitos milhões de homens e mulheres que, sem a fé, padecem da mais grave das pobrezas. Diante de tal pobreza, seria um erro deixar de promover a actividade evangelizadora fora do Continente, com o pretexto de que ainda há muito para fazer na América, ou à espera de se chegar primeiro a uma situação, fundamentalmente utópica, de plena realização da Igreja na América" (n. 74).

Grande é a responsabilidade das vossas Igrejas particulares, na obra de evangelização do mundo contemporâneo! Abundantes são os frutos que elas poderão produzir nesta nova primavera missionária, "se todos os cristãos e, em particular, os missionários e as jovens Igrejas, corresponderem generosa e santamente aos apelos e desafios do nosso tempo" (Redemptoris missio RMi 92).

Amadíssimos Irmãos e Irmãs, para mim é motivo de profunda alegria saber que o vosso Congresso, para o qual vos preparastes conjuntamente ao longo do Ano Santo Missionário, responderá a este apelo e saberá dar respostas concretas e eficazes ao mandato evangélico da missão, que é vida para a Igreja que está na América.

Como nos Congressos Missionários anteriores, peço ao Senhor que vos permita viver uma intensa experiência de comunhão, e que a Virgem Maria de Guadalupe, Mãe e Evangelizadora da América, "exemplo daquele amor materno, do qual devem estar animados todos quantos, na missão apostólica da Igreja, cooperam para a regeneração dos homens" (Ibidem), vos acompanhe com a sua ternura e vos proteja com a sua poderosa intercessão.

Enquanto vos animo, todos e cada um de vós, a viver na própria Igreja particular em espírito de comunhão e de serviço, renovo-vos o meu convite a levar a cabo o mandato missionário no mundo contemporâneo, concedo-vos do íntimo do coração a minha Bênção apostólica.

Vaticano, 25 de Outubro de 2003.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO RELIGIOSA


DOS INSTITUTOS SÓCIO-SANITÁRIOS (ARIS)


NO 40° ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Sinto-me feliz em enviar-vos uma Mensagem por ocasião do 40º aniversário de fundação da Associação Religiosa dos Institutos Sócio-Sanitários (ARIS). Ao saudar com afecto cada um dos presentes, gostaria de dirigir através de vós a minha saudação a todos os que fazem parte desta benemérita Associação, que oferece uma contribuição preciosa para a renovação profissional e espiritual no mundo da saúde.

Exorto-vos a continuar servindo os doentes com competência e dedicação. O Senhor, Doador de todo o bem, continue a vos acompanhar e abençoar como tem feito nestes quarenta anos.

2. Nestes dias em que se encerra o ano litúrgico, os crentes quase naturalmente tendem a dirigir o olhar para as realidades últimas, quando o Senhor, no Juízo final, nos perguntar se e como amámos, acolhemos e servimos o próximo em necessidade (cf. Mt Mt 25,31-46). A fim de nos prepararmos para aquele encontro decisivo, é preciso que nos comprometamos diariamente a buscar e contemplar nos nossos irmãos o rosto de Jesus, único Salvador do mundo. Podemos reconhecer, especialmente nos doentes e nos sofredores, o rosto sofrido de Cristo, que na cruz nos revelou o amor misericordioso do Pai; amor redentor, que salvou definitivamente a humanidade ferida pelo pecado.

À luz dessas verdades perenes da fé, como é importante a vossa missão ao lado dos doentes! Fazeis com que o apostolado da misericórdia, ao qual vos dedicais, se torne uma autêntica diaconia de caridade que, no tempo e no espaço, a ternura do coração de Deus se torna visível e quase tangível.

3. Frequentemente, quem vive numa situação de dor e sofrimento profundos tem dificuldade para compeender o sentido e o significado da existência. Portanto, é importante que ao seu lado esteja alguém que, como o bom samaritano, o ajude e acompanhe. Pessoas como Madre Teresa, recentemente beatificada, testemunham de modo simples e concreto a caridade e a compaixão do Senhor para com os marginalizados, os sofredores, os doentes e os moribundos. Ao mesmo tempo que dão alívio às feridas do corpo, eles ajudam-nos a encontrar Cristo que, vencendo a morte, revelou o valor pleno da vida em cada fase e condição.

Nunca deixeis, caríssimos Irmãos e Irmãs, de anunciar o Evangelho do sofrimento! Testemunhai com o vosso serviço o poder redentor do Amor divino.

4. De bom grado aproveito a ocasião para vos manifestar o meu apreço pela obra generosa que a vossa Associação cumpre em muitos países, e especialmente nos territórios de missão. Vós ajudais aquelas Igrejas jovens a administrar estruturas de acolhimento para os doentes e sofredores e a preparar operadores qualificados no campo da saúde e da pastoral.

É bom que esta colaboração profícua entre as Comunidades eclesiais do norte e do sul do mundo se intensifique cada vez mais, a fim de que em cada parte da terra, sobretudo lá onde a crise de valores religiosos e morais é mais profunda, os crentes estejam prontos a demonstrar a sua fé.
Com estes votos, renovo a todos a expressão do meu reconhecimento por quanto fazeis.

Asseguro-vos a minha oração e concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, que estendo de bom grado às respectivas famílias religiosas e aos numerosos doentes internados nas estruturas da ARIS.

Vaticano, 24 de Novembro de 2003.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA BULGÁRIA


Quinta-feira, 27 de Novembro de 2003





Senhor Presidente

1. A visita que Vossa Excelência hoje me faz é por mim apreciada de modo particular. Ao saudar Vossa Excelência, Senhor Presidente, e o Séquito que o acompanha, desejo renovar os meus ardentes votos a toda a Nação búlgara, para que continue a percorrer o seu caminho com confiança.

O encontro de hoje leva-me com a mente à inesquecível visita que a Providência me concedeu realizar em Maio do ano passado a Sófia, a São João de Rila e a Plovdiv. Recordo com particular intensidade os rostos das numerosas pessoas que quiseram manifestar-me a sua vibrante alegria espiritual. Pude aperceber-me do firme propósito de edificar o País com reencontrada serenidade e cofiança no futuro, no âmbito da grande casa europeia.

Depois, o encontro cordial com as Autoridades civis de todas as ordens e graus, persuadiu-me da determinação de todos a prosseguir com coragem a edificação pacífica de toda a sociedade, sem receio de enfrentar os desafios que se apresentam de dia para dia.

2. O meu pensamento dirige-se, agora, para o venerado Patriarca Máximo, Chefe da Igreja Ortodoxa da Bulgária que, durante a minha viagem, me quis receber na sua habitação com atenção fraterna. Tratou-se de uma ulterior etapa de um crescimento progressivo na comunhão eclesial. Com ele, pude verificar como a Europa aguarda o comum compromisso de católicos e ortodoxos na defesa dos direitos do homem e da cultura da vida.

Verifiquei os mesmos sentimentos de disponibilidade para o diálogo e para a colaboração na pequena mas fervorosa Comunidade católica, activamente comprometida em dar testemunho de Cristo na terra búlgara, em constante colaboração também com as outras Comunidades religiosas do País. Os meus votos fervorosos são por que esse clima de entendimento efectivo possa crescer em total benefício da compreensão recíproca e do bem de toda a sociedade.

3. Senhor Presidente, ao renovar o meu apreço pelo gesto que Vossa Excelência houve por bem realizar hoje, peço-lhe que se digne levar aos seus compatriotas a minha renovada saudação afectuosa e a certeza da minha constante recordação na oração, para que Deus continue a amparar a obra do seu País com as suas abundantes bênçãos.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS AMIGOS DOS FOCOLARES




Venerados Irmãos

1. É com alegria que envio a cada um de vós a minha cordial saudação, Bispos amigos do Movimento dos Focolares, que participais no vigésimo segundo Congresso ecuménico que, por causa dos trágicos acontecimentos dos últimos dias, tivestes que transferir de Istambul para Rocca di Papa.

Não pudestes visitar a venerada Igreja de Santo André de Constantinopla, mas acolhe-vos contudo, com grande alegria, a Igreja dos Santos Pedro e Paulo em Roma e oferece-vos a hospitalidade reservada aos irmãos em Cristo.

2. O programa deste vosso encontro anual está centrado na frase da Sagrada Escritura: "Todos vós sois um em Cristo" (Ga 3,28). Trata-se de um tema actual como nunca: ele pode dar uma resposta válida às graves dilacerações que afligem o mundo de hoje.

Possa o vosso Congresso fortalecer-vos no compromisso ecuménico e acelerar o caminho rumo àquela unidade plena pela qual Jesus rezou ao Pai e pela qual ofereceu a sua vida!

Vós bem sabeis quanto tenho a peito a unidade dos Cristãos e a atenção constante que lhe dediquei, desde o início do meu Pontificado.

3. Repito a vós, caríssimos Irmãos no Episcopado, quanto escrevi recentemente à Assembleia plenária do Pontifício Conselho para para a Promoção da Unidade dos Cristãos: "A força do amor estimula-nos uns aos outros e ajuda-nos a predispor-nos à escuta, ao diálogo, à conversão, à renovação (cf. Unitatis redintegratio, UR 1)". E ainda: "Somente uma intensa espiritualidade ecuménica, vivida na docilidade a Cristo e na plena disponibilidade às inspirações do Espírito, nos ajudará a viver com o necessário impulso este período intermédio durante o qual nos devemos confrontar com os nossos progressos e com os nossos desafios, com as luzes e com as sombras do nosso caminho de reconciliação" (Mensagem).


4. Encorajo-vos com afecto fraterno a perseverar no itinerário apostólico empreendido e, ao garantir-vos a minha oração pelas vossas actividades pastorais, concedo uma especial Bênção apostólica a todos vós, fazendo-a de bom grado extensiva à Senhora Chiara Lubich, que vos recebeu, e a quantos vivem no centro do Movimento dos Focolares.

Vaticano, 25 de Novembro de 2003.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA MOLDOVA


Sexta-feira, 28 de Novembro de 2003



Senhor Presidente

1. Fico feliz em poder saudá-lo cordialmente e expressar-lhe sentimentos de gratidão pela visita que Vossa Excelência me fez esta manhã. Trata-se do primeiro encontro entre a suprema Autoridade da República da Moldova e o Sucessor de Pedro, desde quando o Seu País apareceu no cenário internacional como Nação soberana e independente. Seja bem-vindo!

Ao dirigir-me a Vossa Excelência, desejo fazer chegar também aos seus concidadãos num afectuoso pensamento, unido ao meu encorajamento para que prossigam com confiança a edificação de uma Nação digna das suas nobres tradições. O País que Vossa Excelência representa conseguiu conquistar há pouco a liberdade e pede, portanto, para ser apoiado com simpatia nos próprios esforços para superar as inevitáveis dificuldades que são típicas sobretudo no início. A Moldova, estando situada na fronteira entre o mundo latino e o mundo eslavo, não pode deixar de fazer do diálogo um instrumento operativo essencial da própria acção, a fim de fazer emergir as possibilidades concretas de paz, de justiça e de bem-estar.

2. A Comunidade católica, embora pequena a nível numérico, está activamente comprometida sob a guia do seu zeloso Pastor, neste processo, colocando-se como interlocutora vivaz e generosa em relação à sociedade.

Apraz-me sublinhar que a Igreja na Moldova pode cumprir livremente a própria missão evangelizadora e caritativa, e que o Estado reconhece a sua personalidade jurídica. É desejável que, sem prejuízo para ninguém, o diálogo entre as Autoridades do Estado e a Igreja católica possa continuar de modo frutuoso, para benefício de toda a sociedade moldova, em relação às normas da democracia e da igualdade de todas as confissões religiosas.

Senhor Presidente, enquanto renovo a expressão do meu apreço pela sua cordial visita, peço-lhe que leve aos seus compatriotas a certeza da minha oração e da minha constante lembrança, a fim de que possam progredir cada vez mais no caminho da prosperidade e da paz, nisto confortados pelas bênçãos celestiais.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRIMEIRO GRUPO DE BISPOS DA FRANÇA,


DAS PROVÍNCIAS ECLESIÁSTICAS DE CAMBRAIA E DE REIMS


28 de Novembro de 2003



Caros Irmãos no Episcopado

1. É com alegria que vos recebo a todos, Bispos das Províncias de Cambraia e de Reims. Vós inaugurais a série de encontros que terei com os Pastores da Igreja que está na França, e assim alegro-me por ter a ocasião, nas semanas vindouras, de dialogar com o conjunto dos Prelados da Conferência Episcopal. É com emoção que me recordo da minha viagem à vossa região e das Jornadas Mundiais da Juventude, que vós acabais de evocar. Elas mobilitaram em grande medida os jovens e, como vós o dizeis e como salientam os vossos relatórios e, de maneira regular, os vossos boletins diocesanos, elas deram um novo impulso aos jovens católicos do vosso país.

Desejo dirigir uma saudação especial aos três Bispos nomeados recentemente. Agradeço a D. Thierry Jordan, Arcebispo de Reims, que se fez vosso intérprete, as palavras com que quis manifestar o vosso affecto collegialis, o vosso ardor apostólico e a vossa esperança, e os bons votos de que se fez portador por ocasião dos meus vinte e cinco anos de Pontificado. Fico particularmente sensibilizado pela perspectiva em que vós realizais a vossa visita "ad Limina", que constitui um tempo forte na vida espiritual e na missão de um bispo, além de uma significativa experiência de comunhão entre os Pastores.

2. No mundo contemporâneo, como se pode denotar dos vossos relatórios quinquenais, a vossa missão tornou-se sem qualquer dúvida mais complexa e delicada, nomeadamente em virtude da situação de crise que continuais a enfrentar, em grande parte caracterizada pela fragilidade espiritual e pastoral, e por um clima social em que os valores cristãos e a própria imagem da Igreja não são compreendidos de maneira positiva, no seio de uma sociedade onde reina com frequência um comportamento moral de subjectivismo e lassidão. De igual modo, vós estais a enfrentar o grave problema da diminuição do clero e das pessoas consagradas. Entretanto, independentemente das circunstâncias apostólicas em que viveis, para que a esperança de Jesus Cristo não cesse de habitar em vós e de orientar o vosso ministério, encorajo-vos, como recordei na Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores gregis, retomando aquilo que já tinha sido salientado pelos Bispos, durante a Assembleia sinodal, a prestar atenção à vossa própria vida espiritual, alicerçando o vosso ministério num vigoroso relacionamento com Jesus Cristo, na meditação prolongada da Sagrada Escritura e numa intensa vida sacramental. Desta forma, sereis capazes de comunicar aos fiéis o desejo de viver em união íntima com Deus, para que eles consigam confirmar a sua fé, e que, em conjunto, vós possais propor a fé aos vossos compatriotas, no espírito dos documentos que acabastes de redigir, sobre o anúncio do Evangelho. Com efeito, toda a missão se fundamenta sobre este vínculo privilegiado com o Salvador porque, como afirma o Apóstolo, em todas as circunstâncias, é Deus quem proporciona o crescimento (cf. 1Co 3,6). Desde as origens da Igreja, os Apóstolos estavam conscientes do perigo que corriam perante as exigências que podiam derivar do seu ministério. Assim, tiveram o cuidado de lhes recordar que é importante "ser assíduos na oração e no serviço da palavra" (Ac 4,6), para persistir numa fé que não pode ser erradicada, capazes de permanecer vigilantes e de enfrentar todos os desafios que se apresentam no anúncio da verdade e nos relacionamentos entre as pessoas (cf. São Gregório Magno, Homilia sobre Ezequiel, I, 11, 4-6). Em toda a vida cristã, como já tive o ensejo de evocar na Carta Apostólica Novo millennio ineunte (cf. n. 39) e, a fortiori, na missão apostólica, o vínculo a Jesus Cristo e a frequência da Palavra, sobretudo através da lectio divina, que permite assimilar a Palavra de Deus e que modela a existência do homem, são fundamentais.

3. Na vida e na missão dos Bispos, a colaboração fraternal e o cuidado pela comunhão são elementos essenciais para manifestar a unidade de todo o Corpo eclesial. Efectivamente, como afirma o Apóstolo Paulo, "vivendo o amor autêntico, nós crescemos sob todos os aspectos em direcção a Cristo, que é a Cabeça. Ele organiza e dá coesão ao corpo inteiro, através de uma rede de articulações, que são os membros, cada um com a sua própria actividade, para que o corpo cresça e se construa a si mesmo no amor" (Ep 4,15-16). Deste modo, a coesão cada vez maior do colégio apostólico depende do crescimento do Corpo inteiro da Igreja. Conheço o cuidado com que procurais desempenhar da melhor forma possível o vosso ministério episcopal, segundo a sua própria natureza, ocupando-se da grei, e em conformidade com a natureza que é própria do ministério da Igreja. A este propósito é-me grato, no decorrer deste ano em que celebramos a festa do 50º aniversário da obra-prima do Cardeal Henri de Lubac, "Meditações sobre a Igreja", evocar em primeiro lugar convosco o mistério da Igreja, Corpo de Cristo, no seio do qual vós viveis como sucessores dos Apóstolos, encarregados de governar, de ensinar e de santificar o povo cristão, como desejei lembrar na minha recente Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores gregis(cf. n. 5). Hoje é mais importante do que nunca levar os fiéis a descobrir o sentido e a grandeza do mistério da Igreja de Cristo, amplamente abordados no contexto da Constituição dogmática conciliar Lumen gentium, que deveria ser ulteriormente estudada. Este mistério remete para o mistério da Eucaristia, uma vez que a Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia (cf. Ecclesia de Eucharistia EE 26). A Igreja é chamada e congregada por Jesus Cristo, que lhe comunica a sua própria vida e lhe incute o Espírito Santo. Participando no sacrifício eucarístico, memorial do sacrifício da Cruz, os cristãos recebem o Salvador realmente presente, para se conformarem com o Senhor e, através dele, viverem na comunhão fraterna, unidos aos seus pastores, que representam Cristo, Cabeça e Chefe do rebanho. Sem um conhecimento sério e aprofundado do mistério da Igreja, que remete sempre para Cristo, é óbvio que não se pode compreender o sentido dos ministérios ordenados e, de maneira mais geral, da estrutura da Igreja; graças a estes ministérios, a Igreja pode, na esteira dos Apóstolos, anunciar o Evangelho até aos extremos confins da terra (cf. Mc Mc 16,15). Por conseguinte encorajo-vos, juntamente com todas as pessoas competentes nesta matéria, a dar continuidade, mediante catequeses adequadas, à formação do povo de Deus acerca da natureza divina da Igreja, que faz intrinsecamente parte do mistério cristão, como nós proclamamos no Credo: "Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica", assim como no sentido do ministério episcopal. Isto contribuirá para uma maior unidade das diferentes comunidades diocesanas.

Alimentados por esta contemplação do mistério da Igreja, os fiéis serão fortalecidos no seu amor a Jesus Cristo e ao seu Corpo místico, e compreenderão aquilo que devem fazer para participar de maneira mais integral na nova evangelização. Com efeito, para ser evangelizador, é necessário ter o cuidado de construir a Igreja em conformidade com a vontade do Senhor e as moções do Espírito Santo, e desejar ser filhos da Igreja onde, como Santa Teresa de Lisieux exprimia com entusiasmo, cada um é chamado a encontrar a sua própria vocação, para a glória de Deus e a salvação do mundo. De igual modo, isto supõe que cada um tenha a consciência de que é, à sua maneira e pessoalmente, no seio da sua família e na sua comunidade, imagem da Igreja aos olhos do mundo. Então, profundamente radicados em Cristo, os fiéis comprometer-se-ão por toda a vida a ser testemunhas da boa nova da salvação, partindo em busca da ovelha tresmalhada; eles serão mensageiros e artífices da unidade, para construir um mundo reconciliado (cf. Paulo VI, Evangelii nuntiandi EN 14-15 EN 29 Evangelii nuntiandi, 14-15; 29 e 31).

4. Em ordem a manifestar ainda mais e de forma mais íntima a colegialidade episcopal, de realizar um trabalho pastoral cada vez mais eficaz e de aumentar as colaborações necessárias, vós aceitastes com coragem, depois de um tempo de reflexão, efectuar um determinado número de mudanças, entre as quais a reorganização das Províncias Eclesiásticas, retomando assim a antiga forma das relações entre as vossas dioceses que, ao longo dos séculos, favoreceu uma intensa vida de colaboração entre os Bispos, em particular nos planos doutrinal e pastoral, como dão testemunho disto os Concílios e os Sínodos provinciais. É suficiente evocar aqui os Concílios provinciais do século IV e a figura de São César de Arles, de quem nós conhecemos a importância do ensinamento teológico. Esta referência à história não pode deixar de suscitar, tanto junto dos Pastores como nas comunidades em geral, o desejo de fazer viver nos dias de hoje a Igreja de Cristo, mediante um compromisso renovado. Quanto a vós, a diminuição do número de sacerdotes e das forças vivas exigirá que, sem dúvida, sem prejudicar a responsabilidade própria de cada Igreja, as dioceses de uma mesma província possam unir-se para juntos, nomeadamente no campo da catequese, da formação permanente do clero e dos leigos, assim como em tudo aquilo que diz respeito às vocações, evitando assim a dispersão e suscitando novos dinamismos. A dimensão mais reduzida das novas Províncias Eclesiásticas, em relação às antigas regiões apostólicas, constituirá doravante para vós uma ocasião particularmente oportuna para realizar um trabalho colegial mais intenso, num conjunto pastoral relativamente unificado. Formulo votos a fim de que isto revigore os vossos vínculos de comunhão fraternal, vos dê ajuda e apoio na vossa vida pessoal e na vossa missão.

Os Bispos são incessantemente chamados a dar um testemunho vigoroso da comunhão apostólica, quer entre si mesmos quer com o conjunto do colégio episcopal, em redor do Sucessor de Pedro, trabalhando com grande confiança mútua e preocupando-se por não fazer nada que possa romper esta comunhão, nem transmitir uma eventual imagem negativa aos fiéis e mais em geral ao mundo inteiro, salvaguardando o respeito dos poderes que são próprios de cada bispo no território diocesano e no poder supremo do Sumo Pontífice romano (cf. Pastores gregis ). Na sua acção, nos seus pronunciamentos e nas suas decisões, cada um dos Bispos compromete de certa forma todo o corpo episcopal e a Igreja inteira; a unidade da Igreja arraiga-se na unidade do episcopado, e a Igreja diocesana, em redor do seu Pastor, é imagem da Igreja única e unida, uma vez que todas as "Igrejas particulares são formadas à imagem da Igreja universal" (Catecismo da Igreja Católica, CEC 833 cf. Lumen gentium, LG 23). De igual modo, em cada comunidade eclesial unida ao seu Pastor, por menor que ela possa ser, está presente a Igreja de Jesus Cristo e encontra nesta última a sua origem e o manancial do seu apostolado. Entretanto, é necessário salientar que a comunhão não está em contradição com a diversidade legítima, que permite a cada Igreja diocesana ter o seu próprio rosto, em função dos pastores e das comunidades que a compõem. Seria prejudicial se o exercício da comunhão se tornasse um obstáculo ao dinamismo das diferentes comunidades locais, e de certa forma entrasse em contradição com o próprio sentido da comunhão (cf. Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa, 18). Como a Constituição dogmática Lumen gentium sublinha, "por força desta catolicidade, cada parte contribui com os seus dons peculiares para as demais e para toda a Igreja, de modo que o todo e cada parte crescem por comunicação mútua e pelo esforço comum em ordem a alcançar a plenitude na unidade... É ainda por este motivo que existem legitimamente, no seio da comunhão eclesial, Igrejas particulares, gozando de tradições próprias, sem prejuízo do primado da Sé de Pedro, que preside à comunhão universal da caridade, protege as diferenças legítimas e vela por que as particularidades, longe de serem nocivas, antes contribuam unicamente para a unidade" (n. 13). É daqui que derivam os laços da comunhão íntima.

5. A missão apostólica do bispo é, em primeiro lugar, o anúncio do Evangelho, que nos faz repetir com São Paulo: "Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!" (1Co 9,16), comunicando ao mundo a verdade de que a Igreja é portadora. Isto faz parte da missão de conduzir e de santificar o povo de Deus, a exemplo do Bom Pastor, e de edificar assim a porção da Igreja confiada a cada um dos bispos, imagem do único Corpo de Cristo. Compete ao bispo cuidar de modo totalmente especial da sua Igreja local, assegurando da melhor maneira a missão de governar, coadjuvado nisto pelos colaboradores que ele escolher. Quanto menor e mais frágil é o povo, tanto menos numerosos são os sacerdotes, e tanto mais é indispensável que o bispo cuide de governar o rebanho que foi confiado à sua solicitude, atento a não se afastar prolongadamente dele, a visitar as diversificadas comunidades, a escutá-las e a encorajá-las. Para se centralizar bem nesta missão e nela colocar todas as forças vivas, actualmente a vossa Conferência Episcopal está a reflectir sobre uma reforma dos organismos que a compõem. Aprecio esta decisão humana, testemunho de que os bispos têm a consciência de que as mudanças no seio da sociedade e na Igreja exigem novas formas de colaboração e de funcionamento, a fim de que as estruturas estejam verdadeiramente ao seu serviço e ao serviço da missão, sob todas as suas formas. A renovação das estruturas, embora às vezes seja doloroso para certas pessoas, constitui um empreendimento necessário, de maneira periódica, em vista de evitar formas de esquecimento e de eventuais atrofiamentos no dinamismo pastoral e na investigação eclesial. A este propósito, saúdo os sacerdotes e os leigos que aceitam humildemente colaborar para a vida da Igreja nas instâncias nacionais da Conferência e que, mediante a sua dedicação, dão testemunho da sua preocupação por servir a Cristo.

6. Desejei centralizar a minha primeira intervenção sobre a Igreja e sobre a missão episcopal, com referência à recente Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores gregis. Por ocasião das visitas das diferentes Províncias Eclesiásticas francesas, terei a oportunidade de abordar outros temas, mencionados nos relatórios quinquenais que me são enviados pelos bispos da vossa Conferência. No termo deste nosso encontro, peço-vos que transmitais as minhas saudações fraternais e o meu encorajamento confiante aos presbíteros e aos diáconos que, como vós mesmos ressaltastes, cumprem com fidelidade e generosidade a sua missão e que se sentem responsáveis pelo anúncio do Evangelho e pela edificação da Igreja. Transmiti o meu pensamento afectuoso a todos os vossos diocesanos, especialmente às pessoas e às famílias que têm passado por dificuldades ligadas à situação económica da vossa região, assegurando-lhes a minha fervorosa oração. Enquanto vos confio à intercessão da Virgem Maria, Padroeira do vosso País, Mãe da Igreja e "Espelho da Igreja", como gostava de lhe chamar o Padre Henri de Lubac, concedo-vos a todos do íntimo do coração, assim como a todos os vossos diocesanos, a minha Bênção apostólica.




DIscursos João Paulo II 2003