DIscursos João Paulo II 2003

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


À SUA SANTIDADE BARTOLOMEU I,


PATRIARCA ECUMÉNICO POR OCASIÃO


DA SOLENIDADE DE SANTO ANDRÉ APÓSTOLO







A Sua Santidade Bartolomeu I
Arcebispo de Constantinopla Patriarca Ecuménico

Depois de ter recebido com sentimentos de alegria a Delegação que Vossa Santidade enviou a Roma para a festa dos Santos Pedro e Paulo, é com a mesma alegria que eu participo hoje, mediante esta mensagem, na festa do Apóstolo André, padroeiro da Igreja que está em Constantinopla, e me associo à vossa oração. Estas festas patronais permitem-nos viver melhor a alegria de sermos irmãos e de partilhar a mesma comunhão de intenções e uma só esperança; elas são também um sinal do nosso desejo de unidade e de comunhão plena que é preciso encorajar e dar-lhe continuidade de modo evidente para o mundo, para os nossos fiéis e para todas as pessoas que trabalham e rezam pela comunhão do Oriente e do Ocidente cristãos. Desde o começo da sua instituição, compreendemos a importância da participação recíproca nestas festas patronais, pois ela constitui a expressão mais completa do nosso desejo recíproco de criar entre nós um contexto de amor e de participação na oração uns dos outros, de modo a alimentar e a aprofundar o nosso desejo da plena comunhão.

O dia 16 de Outubro passado foi para mim um momento que eu vivi com uma intensidade espiritual particular. Confiei ao Senhor os vinte e cinco anos que transcorreram depois da minha eleição à Sé de Pedro. Por ocasião da celebração deste aniversário, percorri igualmente de novo com o pensamento os numerosos acontecimentos que marcaram o meu empenho para que a única Igreja de Cristo possa respirar mais amplamente com os seus dois pulmões; para que as Igrejas do Ocidente e do Oriente, que durante um milénio souberam crescer juntas e conciliar as suas grandes tradições vitais, caminhem cada vez mais rumo à plena comunhão que as circunstâncias históricas do segundo milénio tinham danificado [cf. Discurso do Patriarca Dimitrios I, 29 de Novembro de 1979 em AAS 16 (1979), pág. 1590].

Recordo-me do encontro em Jerusalém, durante o Concílio Vaticano II, entre o meu predecessor, o Papa Paulo VI, e o Patriarca Atenágoras. Eles inauguraram o diálogo da caridade que levou ao diálogo da verdade. Recordo-me da minha visita ao Fanar pouco tempo depois da minha eleição, a visita a Roma do seu predecessor de venerada memória, o Patriarca Dimitrios. São numerosos os momentos que recordo, e por eles agradeço ao Senhor, são muitos os gestos que realçaram o nosso desejo de comunhão desde quando, pela graça de Deus, Roma e Constantinopla se comprometeram no mesmo caminho e, diante do Concílio reunido, realizaram o acto mediante o qual as excomunhões de 1054 foram anuladas. As nossas celebrações na ocasião do quadragésimo aniversário deste acontecimento, símbolo e garantia do nosso compromisso e das nossas decisões.

Ao recordar o caminho percorrido, recordo-me com emoção das ocasiões dos nossos encontros, sobretudo da sua visita a Roma em 1995, para a festa dos Santos Pedro e Paulo, quando proclamámos juntos na Basílica de São Pedro o símbolo da fé na língua litúrgica do Oriente, e quando abençoamos juntos os fiéis, da fachada da Basílica. E mais recentemente, quando Sua Santidade se uniu a mim, em Assis, para implorar o dom da paz para o mundo ameaçado pelo ódio e cada vez mais em busca de Deus. Tudo isto dá a medida da continuidade do nosso compromisso e permite-nos ter confiança no Senhor. Deus é bondoso connosco; de facto, ao longo destes anos, os nossos laços manifestaram o espírito da família que nos unem e que, apesar das dificuldades, nos fazem progredir para a finalidade que nos é fixada por Cristo e que os nossos predecessores se dedicaram a traçar com vigor.

Podemos dizer que vivemos sob o sinal da Cruz e na esperança da Páscoa. Estamos repletos da esperança que o Senhor levará a termo a obra de restabelecimento da unidade que Ele inspirou. Por seu lado, a Igreja de Roma manterá esta opção irreversível do Concílio Vaticano II, que abraçou esta causa e este dever. Na liturgia romana, associamo-nos todos os dias à oração de Cristo que, nas vésperas da sua morte, rezou ao Pai pela unidade dos seus discípulos. Temos a certeza de que o Senhor nos concederá um dia, quando ele quiser, a alegria de nos encontrarmos na plena comunhão e na unidade visível que Ele deseja para a sua Santa Igreja.

Estimado Irmão, Sua Eminência o Cardeal Walter Kasper trocará com Vossa Santidade o ósculo da paz no final da Liturgia que Vossa Santidade presidirá hoje na Igreja Patriarcal de São Jorge. Tenha a certeza de que é o Bispo de Roma que lhe oferece este ósculo com sentimentos de gratidão pelo caminho que Vossa Santidade aceitou percorrer até agora com ele. Peço ao Senhor que abençoe o seu Ministério para a Igreja de Constantinopla e todas as santas Igrejas ortodoxas, para que elas possam crescer e prosperar, na proclamação d'Aquele que é Santo e que derrama em abundância sobre nós os seus dons de santidade, de sabedoria e de paz.

Vaticano, 26 de Novembro de 2003.



                                                                          Dezembro de 2003

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA SECÇÃO EUROPÉIA


DO "SIMON WIESENTHAL CENTRE" DE PARIS


1 de Dezembro de 2003




Caros amigos do Centro "Simon Wiesenthal"

É com prazer que vos dou as boas-vindas hoje ao Vaticano e que vos agradeço os vossos bons votos e o presente que me oferecestes por ocasião do vigésimo quinto aniversário da minha eleição para a Sé de Pedro.

Nestes tempos difíceis, rezemos para que todos os povos, em toda a parte, sejam fortalecidos nos seus esforços de mútua compreensão, reconciliação e paz.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À COMUNIDADE DO PONTIFÍCIO


SEMINÁRIO FRANCÊS DE ROMA


1 de Dezembro de 2003




Senhores Cardeais e Superior
Caros Irmãos no Sacerdócio
Caros Seminaristas e Amigos

É-me grato receber-vos agora, que o vosso Seminário celebra o 150º aniversário. Saúdo de modo particular os dois Cardeais presentes, que se formaram na vossa casa.

A formação dos futuros sacerdotes é uma tarefa essencial na Igreja, que exige a atenção dos Bispos, seus primeiros responsáveis, a quem compete a tarefa de chamar às Ordens sagradas, depois de terem feito um discernimento com os sacerdotes para isto designados.

Aproveitai esta etapa para vos deixar guiar pelo Senhor, com grande docilidade ao Espírito e profunda obediência à Igreja e aos seus Pastores!

A vossa formação integral é uma maturação humana, espiritual, moral e intelectual, que requer que a verdade sobressaia no seu caminho, à luz de Cristo e no contacto com as realidades pastorais, aceitando com confiança a ajuda de formadores no seio da comunidade.

Tendes também a rica ocasião de ser um lugar de acolhimento fraterno para os sacerdotes franceses que residem em Roma e para os sacerdotes de passagem, fazendo ainda a experiência formadora do presbitério.

Por fim, saúdo os leigos encarregados da organização do seminário.

Confio-vos à Imaculada, Tutela Domus, e concedo-vos a minha Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES DE UM COLÓQUIO


PROMOVIDO PELO PONTIFÍCIO CONSELHO


PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO


Terça-feira, 2 de Dezembro de 2003




Estimados amigos

É-me grato dar as boas-vindas aos participantes no Colóquio sobre o tema: "Verdade, Justiça, Amor e Liberdade". Saúdo de maneira particular o Secretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, o Arcebispo D. Luigi Celata, e o Chefe da Organização para a Cultura e as Comunicações Islâmicas em Teerão, Aiatolá Mahmoud Mohammad Araqi. Estou agradecido a ambas as instituições por terem desejado promover este acontecimento, que é o quarto destes Colóquios por eles organizados.

Hoje em dia, há urgente necessidade de diálogo, de compreensão e de cooperação entre as grandes religiões do mundo, de modo particular entre o cristianismo e o islamismo. Com efeito, a religião é chamada a construir pontes entre os indivíduos, os povos e as culturas, a constituir um sinal de esperança para a humanidade. Exorto-vos, assim como todos os homens e mulheres de boa vontade, a unir as vossas vozes à minha, enquanto reitero que o santo nome de Deus nunca deve ser usado para encorajar a violência ou o terrorismo, nem para promover o ódio ou a exclusão.

Estou persuadido de que o vosso diálogo e a vossa cooperação constantes, de que o vosso Colóquio constitui um exemplo eloquente, contribuirá em grande medida para fazer com que os cristãos e os muçulmanos sejam instrumentos cada vez mais eficazes de paz no nosso mundo. Deus Todo-Poderoso abençoe os vossos esforços e incuta em toda a humanidade a coragem e a fortaleza de que precisa para abraçar a verdade, a justiça, o amor e a liberdade como autênticos pilares de paz.



CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II


À ASSEMBLEIA GERAL DA CONFERÊNCIA


DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS CATÓLICAS




Ao Professor Ernest KÖNIG
Presidente da Conferência das Organizações Internacionais Católicas

Através desta carta, transmito-lhe as minhas calorosas saudações, bem como às pessoas que participaram na Assembleia Geral da Conferência das Organizações Internacionais Católicas, a realizar em Roma de 30 de Novembro a 6 de Dezembro de 2003.

Estou convicto de que o tema escolhido para a vossa Assembleia: "Tornar a sociedade do homem mais humana; os valores evangélicos levam da violência à compaixão", suscitará muitos debates úteis sobre o modo como as Organizações Internacionais Católicas podem assumir um papel cada vez mais concreto, em vista da edificação de uma autêntica cultura da paz mundial.

Um aspecto importante desta tarefa está a aumentar a consciência de que os direitos humanos são necessariamente acompanhados pelos respectivos deveres humanos (cf. Mensagem por ocasião do Dia Mundial da Paz de 2003, n. 5). Com efeito, o Evangelho ensina claramente que nós temos uma responsabilidade inconfundível em relação ao nosso próximo em relação a Deus e sobretudo no que se refere aos nossos irmãos e irmãs em humanidade (cf. Mc Mc 12,29-33). Quanto mais esta consciência cresce e as pessoas, no mundo inteiro, reconhecem e aceitam as suas obrigações no que diz respeito aos outros, tanto mais servida será a causa da harmonia entre os povos. Este é o fundamento seguro sobre o qual se pode construir uma paz genuína e duradoura.

Durante a vossa Assembleia, tereis inclusivamente a oportunidade de reflectir sobre a vossa missão de Organizações Internacionais Católicas, no seio da família mais vasta das Associações de índole católica. Neste contexto, encorajo cada uma das vossas Instituições a rever os seus Estatutos à luz do Código de Direito Canónico, incluindo todas as emendas que forem necessárias para garantir que o autêntico espírito do serviço, que a Igreja universal leva a cabo de boa vontade, prevaleça sempre nos vossos trabalhos. Com efeito, "a espiritualidade da comunhão confere uma alma ao dado institucional, suscitando confiança e abertura que correspondem plenamente à dignidade e responsabilidade de cada membro do povo de Deus" (Novo millennio ineunte NM 45).

Enquanto rezo a fim de que Deus Todo-Poderoso, "que nos chama das condições de opressão e de conflito para a liberdade e a cooperação, visando o bem de todos" (Mensagem por ocasião do Dia Mundial da Paz de 2003, n. 10), invoco sobre vós a luz orientadora do seu Espírito, concedo-vos cordialmente a minha Bênção apostólica como penhor de graça e de fortaleza, em nosso Senhor Jesus Cristo.

Vaticano, 28 de Novembro de 2003.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA CÂMARA


DOS DEPUTADOS A UM ANO DA VISITA


À SEDE DO PARLAMENTO ITALIANO


1° de Dezembro de 2003



Ilustre Senhor Pier Ferdinando CASINI
Presidente da Câmara dos Deputados

1. Com grande gentileza, Vossa Excelência quis informar-me que, um ano depois da minha visita ao Parlamento Italiano, a Câmara dos Deputados deseja comemorar tal acontecimento com uma especial iniciativa. Sinto-me feliz, Senhor Presidente, por lhe enviar para essa circunstância uma deferente saudação a Vossa Excelência e aos distintos Colegas, aos quais renovo a expressão da minha gratidão mais profunda pelo cordial acolhimento que me foi reservado.

Permanece em mim a recordação daquele dia, no qual pela primeira vez a Sala do Palácio de Montecitório acolheu entre os seus muros um Sucessor do apóstolo Pedro, durante uma especial assembleia conjunta de todos os Senadores e Deputados da República e com a participação do Presidente do Conselho dos Ministros, dos membros do Governo e dos mais altos encargos do Estado, começando pelo Presidente da República. Penso de novo com emoção na sincera atenção que foi reservada à minha pessoa e ainda me sinto confortado com a confirmação de adesão unânime reservada às minhas palavras. Penso que aquela, mesmo se rápida, mas intensa manifestação tenha marcado uma pedra miliar na história das relações entre a Itália e a Santa Sé. Faço votos por que a celebração, com que esta insigne Assembleia realça o seu aniversário, contribua para manter vivo o espírito daquele encontro.

2. No findar do último século a Itália está profundamente mudada sob o perfil social. Agora ela está comprometida a enfrentar os desafios do terceiro milénio com uma renovada consciência da própria missão no contexto europeu e mundial, também ele marcado por rápidas e por vezes substanciais transformações. A visita do Bispo de Roma ao Parlamento Italiano realçou, de maneira muito simbólica, o papel determinante que o Cristianismo teve e ainda tem na história e na vida da Nação. O Evangelho anúncio de fé, de esperança e de amor foi ao longo dos séculos a linfa vital para o povo italiano, estimulando de muitas formas a busca do bem, do verdadeiro e do belo. Não se pode deixar de reconhecer que, apesar dos limites e dos erros dos homens, a Igreja tenha sido fermento de civilização e de progresso para as pessoas, as famílias, as comunidades e para todo o País. A própria Constituição republicana, nos seus princípios fundamentais, reflecte de modo eloquente e sempre válido a verdade evangélica acerca do homem e da sociedade.

Em qualquer parte do Planeta onde se encontram emigrados, os italianos, juntamente com as suas reconhecidas qualidades humanas e profissionais, levaram os testemunhos da fé cristã herdada pelos pais na terra natal. A Igreja, por seu lado, jamais deixou de cultivar estas profundas raízes com a sua obra de evangelização expressa mediante numerosas actividades pastorais.

3. Que este património espiritual seja assumido por todos e testemunhado também pelas novas gerações! É uma riqueza humana e religiosa que se deve salvaguardar, porque representa um bem precioso para toda a comunidade civil. Para esta tarefa empenhativa oferecerá o seu contribvuto disto tenho a certeza a proveitosa cooperação que existe entre a Santa Sé e a República Italiana. Para esta finalidade tão nobre elevo a Deus uma especial oração, que confio à intercessão materna de Maria venerada em todos os recantos da Terra italiana.

Com estes sentimentos, ao apresentar de novo a minha deferente saudação a Vossa Excelência, Senhor Presidente, e aos Senhores Deputados, invoco de bom grado sobre todo o Parlamento e sobre quantos participam nesta significativa manifestação a abundância das Bênçãos celestes.

Vaticano, 26 de Novembro de 2003.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO SÍNODO DA IGREJA CALDEIA


POR OCASIÃO DA ELEIÇÃO DO NOVO PATRIARCA


SUA BEATITUDE EMANUEL III DELLY


Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2003





Beatitudes
Estimados Irmãos no Episcopado
Pastores e filhos
da venerada Igreja Caldeia

1. "Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo" (Rm 1,7). É com grande afecto que vos recebo na conclusão do Sínodo Extraordinário da vossa Igreja, que procedeu à eleição do novo Patriarca de Babilónia dos Caldeus, "Chefe e Pai" da vossa Igreja, sucessor do saudoso Patriarca Raphael I Bidawid.

Dirijo a Sua Beatitude, estimado Emanuel III Delly, a minha cordial saudação, enquanto invoco sobre vós uma abundante efusão de dons espirituais.

Saúdo o Cardeal Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, ao qual confiei a presidência dos trabalhos sinodais. Agradeço-lhe a sua obra e as gentis expressões de homenagem que acabou de pronunciar.

Saúdo todos vós, venerados Irmãos, reunidos junto de São Pedro para realizar o acto mais nobre da responsabilidade sinodal. Peço-vos que leveis às comunidades das quais sois pastores o meu pensamento afectuoso e a certeza da minha oração. O Papa está próximo de todos os iraquianos e conhece as suas aspirações à paz, à segurança e à liberdade.

2. Vossa Beatitude pediu a ecclesiastica communio. Adiro de bom grado a essa instância. Nesta perspectiva, encarreguei o Cardeal Moussa I Daoud para a sua confirmação, segundo a praxe, na Concelebração Eucarística, que terá lugar na Basílica de São Pedro. A comunhão com o Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, princípio e fundamento visível da unidade na fé e na caridade, faz com que as Igrejas vivam e realizem individualmente o mistério da Igreja una, santa, católica e apostólica.

A Igreja Caldeia sente-se orgulhosa de testemunhar Cristo na terra da qual partiu "Abraão, nosso pai na fé" e de haurir as suas origens apostólicas na pregação de "Tomé, um dos Doze".
Partícipe da única linfa vital que promana de Cristo, ela deve continuar a florescer, fiel à própria identidade, dando frutos abundantes para o bem de todo o corpo eclesial.

3. Venerados Irmãos, desenvolvei cada vez mais a consonância unânime que se manifestou neste Sínodo. De facto, a unidade de intenções, consentirá um pleno desenvolvimento da vida eclesial.
A concórdia é tanto mais necessária se olharmos para a vossa terra, hoje mais necessitada do que nunca de uma paz verdadeira e de tranquilidade na ordem. Trabalhai para "unir as forças" de todos os crentes num diálogo respeitoso, que favoreça a edificação de uma sociedade estável e livre a todos os níveis.

Ao invocar a intercessão da Santa Mãe de Deus, que deu ao mundo o Príncipe da Paz, concedo-vos a Bênção apostólica, fazendo-a extensiva de coração a todos os filhos e filhas da amada Igreja Caldeia.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS COMISSÕES QUE PREPARARAM A


VISITA PASTORAL A BANJA LUKA


Quinta-feira, 4 de Dezembro de 2003






Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. É com alegria que vos recebo, e apresento a minha cordial saudação a cada um de vós, reunidos em Roma para retribuir a Visita pastoral que pude realizar a Banja Luka em 22 de Junho passado. Com o coração cheio de gratidão pelo caloroso acolhimento que então me foi reservado, dou a cada um de vós as boas-vindas.

Saúdo antes de mais o Bispo de Banja Luka, D. Franjo Komarica, e agradeço-lhe as gentis palavras que, também como Presidente da Conferência Episcopal da Bósnia e Herzegovina, me dirigiu em nome de todos os presentes. Juntamente com ele, dirijo uma saudação fraterna ao estimado e querido Cardeal Vinko Puljic, Arcebispo de Vrhbosna, juntamente com o seu Auxiliar, D. Pero Sudar, assim como ao querido e zeloso Bispo de Mostar-Duvno e Administrador Apostólico de Trebinje-Mrkan, que não pôde participar neste encontro. O meu deferente pensamento dirige-se, depois, ao Senhor Dragan Covic, e aos demais membros da Presidência, assim como aos Senhores Ministros presentes e a todas as Autoridades civis do País, às quais agradeço a dedicação posta para o bom êxito da minha Visita pastoral.

2. Em Banja Luka tive a grande alegria de proclamar beato, Ivan Merz, um jovem originário dessa cidade. O seu resplandecente exemplo de santidade encoraje os leigos católicos a comprometerem-se no testemunho do Evangelho, critério e orientação fundamental dos cristãos de todos os tempos.

Este jovem, como escreveram os Bispos da vossa Terra, "verdadeiramente tem muitas coisas para dizer e para testemunhar" (Carta pastoral dos Bispos) a todas as pessoas de boa vontade. O ensinamento mais incisivo talvez seja constituído por quanto se lê no seu Diário, na data de 15 de Fevereiro de 1918, quando a Europa estava em plena guerra e ele se encontrava na frente: "Jamais esquecer Deus! Desejar sempre unir-se a Ele!".

3. Estas palavras assumem um significado particular para o vosso País, que se empenha por superar muitos sofrimentos, que são a consequência de um regime opressivo e de uma longa guerra. Poderá superar estas situações difíceis graças à realização de instituições democráticas a nível político e administrativo. Contudo, será necessário cultivar um autêntico renovamento espiritual, mediante o qual abrir-se ao perdão, à reconciliação e ao respeito recíproco da identidade cultural e religiosa por parte de cada um.

São estes os caminhos que levam à criação de uma sociedade próspera e serena, livre e solidária; é este o caminho que torna possível o tanto esperado regresso dos refugiados e exilados nos seus países de origem, numa atmosfera de segurança e de liberdade plena.

4. É grande o desafio que tendes à vossa frente: "Jamais esquecer Deus!". Garanto-vos o amparo da minha oração e desejo encorajar-vos a prosseguir com confiança.

Sobre vós e sobre a vossa querida Pátria desça a Bênção de Deus.

Louvados sejam Jesus e Maria!



MENSAGEM DE SUA SANTIDADE JOÃO PAULO II


NO 70° ANIVERSÁRIO DO «HOLOMODOR»




Aos venerados Irmãos Lubomyr Card. HUSAR
Arcebispo-Mor de Lviv dos Ucranianos
e Marian Card. JAWORSKY
Arcebispo de Lviv dos Latinos

1. A recordação das dramáticas vicissitudes de um povo, além de ser em si mesmo um dever, revela-se útil como nunca para suscitar nas novas gerações o compromisso de se fazer, em qualquer circunstância, sentinelas vigilantes do respeito da dignidade de todos os homens. Além disso, a oração de sufrágio que surge desta recordação, é para os crentes o bálsamo que alivia o sofrimento e a súplica eficaz ao Deus dos vivos, para que conceda o eterno repouso a todos os que foram injustamente privados do bem da existência. A recordação obrigatória do passado adquire, por fim, um valor que supera as fronteiras de uma nação, alcançando os outros povos, que foram vítimas de acontecimentos igualmente funestos e possam sentir-se confortados pela partilha.

São estes os sentimentos que o 70º aniversário das tristes vicissitudes do holodomor inspira ao meu coração: milhões de pessoas sofreram uma morte atroz devido à nefasta eficiência de uma ideologia que, durante todo o século XX, causou sofrimentos e lutos em muitas partes do mundo. Por esta razão, Venerados Irmãos, desejo estar espiritualmente presente nas celebrações que se realizarão na recordação das inumeráveis vítimas da grande carestia provocada na Ucrânia durante o regime comunista. Tratou-se de um desígnio desumano praticado com determinação cruel pelos detentores do poder naquela época.

2. Voltando àqueles tristes acontecimentos, peço a vós, Venerados Irmãos, que vos façais intérpretes do meu pensamento solidário e orante junto das Autoridades do País e junto dos vossos Concidadãos, que me são particularmente queridos. As celebrações previstas, destinadas a restabelecer o justo amor pela Pátria na recordação do sacrifício dos seus filhos, não se dirigem contra outras Nações, mas, ao contrário, desejam despertar no coração de cada um o sentido da dignidade de todas as pessoas, seja qual for o povo a que pertençam.

Voltam à memória as palavras fortes do meu predecessor, o Papa Pio XI, de venerada memória, o qual, ao referir-se às políticas dos governantes soviéticos daquela época, distinguia nitidamente entre goverenantes e súbditos e, enquanto desculpava os súbditos, denunciava abertamente as responsabilidades do sistema "que despreza a verdadeira origem da natureza e do fim do Estado, e nega os direitos da pessoa humana, a sua dignidade e liberdade" (Carta enc. Divini Redemptoris [18 de Março de 1937], II: AAS 29 [1937], 77).

Como não pensar, a este propósito, na destruição de tantas famílias, no sofrimento dos inúmeros órfãos, no arruinamento da inteira ordem social? Enquanto me sinto próximo de quantos sofreram devido às consequências do triste drama de 1933, desejo reafirmar a necessidade de recordar aqueles acontecimentos, para poder repetir juntos, mais uma vez: Nunca mais! A consciência das aberrações passadas traduz-se num estímulo constante a construir um futuro mais à medida do homem, contrastando qualquer ideologia que profane a vida, a dignidade, as justas aspirações da pessoa.

3. A experiência daquela tragédia deve guiar hoje os sentimentos e as acções do povo ucraniano para perspectivas de concórdia e de cooperação. Infelizmente, a ideologia comunista contribuiu para aprofundar as divisões também no âmbito da vida social e religiosa. É preciso comprometer-se para uma pacificação sincera e efectiva: desta forma, podem ser adequadamente honradas as vítimas pertencentes a toda a família ucraniana.

O sentimento cristão do sufrágio por todos os que morreram por causa de um desatinado desígnio homicida deve ser acompanhado pela vontade de edificar uma sociedade onde o bem comum, a lei natural, a justiça para todos e o direito do povo sejam guias constantes para uma eficaz renovação dos corações e das mentes de quantos se sentem honrados de pertencer ao povo ucraniano. Desta forma, a memória dos acontecimentos do passado tornar-se-á fonte de inspiração para a geração de hoje e para as vindouras.

4. Durante a inesquecível viagem que fiz à vossa Pátria há dois anos, ao mencionar o período funesto vivido pela Ucrânia há setenta anos, recordei "os anos terríveis da ditadura soviética e a duríssima penúria dos inícios dos anos 30, quando o vosso País, "celeiro da Europa", não conseguia mais dar de comer aos seus próprios filhos, que então morreram em número de milhões" (Discurso aos representantes da política, da cultura , da ciência e da imprensa no Palácio Presidencial [23 de Junho de 2001], 3, ed. port. de L'Oss. Rom. 30/6/2001, pág. 5).

É desejável que, com a ajuda da graça de Deus, as lições da história ajudem a encontrar sólidos motivos de entendimento, em vista de uma cooperação construtiva, a fim de edificar juntos um País que se desenvolva de maneira harmoniosa e pacífica a todos os níveis.

Alcançar esta nobre finalidade depende em primeiro lugar dos Ucranianos, aos quais está confiada a preservação da herança cristã oriental e ocidental, e a responsanbilidade de fazer com que ela alcance uma síntese original de cultura e civilização. Nisto consiste o contributo específico que a Ucrânia está chamada a oferecer à edificação daquela "casa comum europeia" na qual todos os povos possam encontrar um acolhimento conveniente no respeito dos valores da própria identidade.

5. Venerados Irmãos, nesta circunstância tão solene, como não voltar com a memória à sementeira evangélica realizada pelos Santos Cirilo e Metódio? Como não pensar de novo com gratidão no testemunho de São Vladimiro e da sua mãe, Santa Olga, através dos quais Deus doou ao vosso povo a graça do Baptismo e da vida nova em Cristo? Com a alma iluminada pelo Evangelho, pode-se compreender melhor como se deve amar a Pátria para contribuir de maneira eficaz para o seu progresso pelo caminho da cultura e da civilização. A pertença a uma estirpe deve ser acompanhada pelo compromisso de um generoso e gratuito intercâmbio dos dons recebidos em herança das gerações precedentes, a fim de edificar uma sociedade aberta ao encontro com outros povos e outras tradições.

Enquanto desejo que o povo ucraniano saiba olhar para as vicissitudes da história com um olhar reconciliado, confio quantos ainda sofrem devido às consequências daqueles tristes acontecimentos ao conforto interior da Toda Santa, Mãe de Deus. Corroboro estes sentimentos com uma especial Bênção apostólica, que concedo a vós, Venerados Irmãos, e a quantos estão confiados às vossas solicitudes pastorais, invocando sobre todos abundantes efusões de favores celestes.

Vaticano, 23 de Novembro de 2003, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA XXXII CONFERÊNCIA


DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS


PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA


Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2003


Senhor Presidente
Senhor Director-Geral
Excelências
Senhoras e Senhores

1. É-me grato dar-vos as boas-vindas, ilustres participantes na XXXII Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Dirijo a minha cordial saudação ao Senhor Deputado Jim Sutton, Ministro da Agricultura da Nova Zelândia, que preside à presente sessão, e ao Director-Geral, Senhor Jacques Diouf. O nosso encontro hodierno permite-me expressar o apreço da Igreja católica pelo importante serviço que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura está a prestar à humanidade.

Hoje, este serviço é mais urgente do que nunca. A fome e a subalimentação, aumentadas pela pobreza crescente, representam uma grave ameaça para a coexistência pacífica dos povos e das nações. Através dos seus esforços em ordem a combater a insegurança alimentar, que atinge vastas áreas do nosso mundo, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura oferece uma contribuição significativa para o progresso da paz mundial.

2. Considerando a estreita relação entre a fome e a paz, é claro que as decisões e as estratégias económicas e políticas devem ser orientadas cada vez mais por um compromisso em ordem à solidariedade mundial e ao respeito pelos direitos humanos fundamentais, inclusivamente o direito a uma alimentação adequada. A própria dignidade humana fica comprometida, onde quer que um pragmatismo restrito, desapegado das exigências objectivas da lei moral, leve a decisões que beneficiem poucas pessoas afortunadas, ignorando os sofrimentos de amplas camadas da família humana. Ao mesmo tempo, em conformidade com o princípio da subsidiariedade, os indivíduos e os grupos sociais, as associações civis e as confissões religiosas, as instituições governamentais e internacionais, todos são chamados, cada qual segundo as suas próprias competências e os recursos específicos de que dispõe, a participar neste compromisso em prol da solidariedade, promovendo o bem comum da humanidade.

3. Por este motivo, estou persuadido de que o trabalho levado a cabo pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em vista de instituir uma Aliança internacional contra a fome, dará frutos em forma de opções especiais e de decisões políticas inspiradas na consciência de que a humanidade é uma única família. Como acontece em cada família, a solicitude deve manifestar-se sobretudo por todos os seus membros mais desafortunados e em necessidade. O mundo não pode permanecer surdo à súplica das pessoas que exigem o alimento de que têm necessidade para sobreviver!

4. Com esta convicção, formulo os meus bons votos a fim de que a presente Conferência ajude a F.A.O. a promover com êxito cada vez melhor as suas nobres finalidades e objectivos. Sobre todos vós, invoco cordialmente as Bênçãos divinas da sabedoria, da perseverança e da paz.



CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CARDEAL FRANCIS ARINZE PREFEITO


DA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO


E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS



Ao venerado Irmão Cardeal Francis ARINZE
Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos

À distância de quarenta anos do dia 4 de Dezembro de 1963, data em que o meu venerado predecessor, o Papa Paulo VI, promulgava a Constituição Sacrosanctum concilium, primeiro fruto do Concílio Vaticano II, esta Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos oportunamente promoveu uma jornada de estudos, para ressaltar as temáticas de fundo da renovação litúrgica querida pelo Concílio.

Alegrando-me pela iniciativa, de bom grado aproveito esta ocasião para enviar a Vossa Eminência, venerado Irmão, e a todos os participantes no Congresso, a Carta que preparei para recordar a promulgação da mencionada Constituição conciliar que assinalou uma etapa fundamental para a promoção e o desenvolvimento da Liturgia na vida da Igreja.

Ao confiar a este Dicastério a tarefa de levar ao conhecimento do povo cristão o conteúdo da anexa Carta Apostólica, asseguro a minha presença espiritual nos trabalhos do Congresso, enquanto, de coração, transmito a Vossa Eminência, venerado Irmão, aos seus colaboradores, aos relatores e a todos os presentes uma especial Bênção, penhor de copiosos favores celestes.

Vaticano, 4 de Dezembro de 2003.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS FRANCESES


DAS PROVÍNCIAS ECLESIÁSTICAS


DE RUÃO E DE RENNES EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"



DIscursos João Paulo II 2003