DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR JORGE DEZCALLAR DE MAZARREDO


NOVO EMBAIXADOR DA ESPANHA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sexta-feira, 18 de Junho de 2004



Senhor Embaixador

1. É-me grato recebê-lo no momento em que me entrega as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Espanha junto da Santa Sé, neste acto que me oferece também a oportunidade de lhe expressar as minhas cordiais boas-vindas e, ao mesmo tempo, os melhores votos para o desempenho da alta responsabilidade que o seu Governo lhe confiou.

Agradeço as amáveis palavras que me dirigiu, as quais me fizeram reavivar os sentimentos de proximidade e de apreço a um País que, como Vossa Excelência ressaltou, com as suas profundas raízes cristãs, distinguiu-se sempre pelo seu vínculo à Igreja, dando lugar a que, mediante uma ingente obra de evangelização, um grande números dos seus fiéis no mundo falem espanhol.
Aprecio profundamente as saudações da parte de Sua Majestade o Rei, da Família Real, da Nação espanhola e do seu Governo, pedindo-lhe que se faça intérprete junto deles do profundo afecto do Papa por todos os espanhóis.

2. Ao verificar com satisfação a situação das relações diplomáticas entre a Espanha e a Santa Sé, baseadas na estima e no respeito, não posso esquecer as minhas cinco viagens realizadas a esse País. Recordo sobretudo a mais recente, no ano passado, quando à expressividade dos testemunhos se juntou uma vivacidade e fervor transbordantes. Encontrei-me mais uma vez com uma multidão de todos os sectores sociais, vibrante, de uma fé profunda e de um afecto íntimo ao Sucessor de Pedro. Foi um sinal muito claro de esperança para a Igreja e também para a sociedade espanhola, porque os elevados valores vividos intensamente são como a alma que dá unidade a toda a actividade humana e infunde criatividade e inteireza nos momentos de desânimo ou de adversidade, da qual a Espanha viveu também muito recentemente trágicas experiências, sobretudo por causa da chaga do terrorismo.

Consciente disto, despedi-me dirigindo um convite muito fervoroso aos espanhóis: "Nunca descuideis esta missão que fez nobre o vosso País no passado e constitui o desafio intrépido para o futuro" (Regina caeli, Madrid, 4 de Maio de 2003). É uma missão que perdura inclusivamente fora das fronteiras espanholas, onde muitos milhares de religiosos e religiosas, voluntários e cooperadores leigos, com a sua dedicação e esforço abnegado, são com tanta frequência portadores da melhor imagem da sua pátria. A Espanha deu uma plêiade de santos e está cheia de monumentos, centros de assistência, de cultura e de obras de arte inspirados pela fé. São marcas evidentes da sua identidade e do vigor que guiou a sua história e que soube levar com generosidade a muitos outros povos. No momento em que na velha Europa surge também uma nova ordem, não pode faltar entre os seus contributos a manifestação evidente das raízes cristãs, das quais, como noutros países europeus, se foi desenvolvendo ao longo dos séculos um elevado conceito de pessoa aberta à transcendência, que é também um factor decisivo de integração e de universalidade.

3. No desempenho da sua própria missão, a Igreja procura o bem integral de cada povo, agindo no âmbito das suas competências e respeitando plenamente a autonomia das autoridades civis, as quais aprecia e pelas quais pede a Deus que exerçam com generosidade, habilidade e justiça, o seu serviço a todos os cidadãos.

De facto, trata-se de dois âmbitos autónomos que não podem ser ignorados, porque ambos beneficiam de um diálogo leal e construtivo, visto que o bem comum exige com frequência diversas formas de colaboração entre ambos, sem discriminação alguma. São eles que modelam os Acordos parciais entre a Igreja e o Estado, estabelecidos imediatamente depois da aprovação da actual Constituição espanhola. Os frutos alcançados e o desenvolvimento adquirido na sua aplicação concreta são também o resultado de um diálogo constante e aberto, estabelecido sobre uma base firme e duradoura precisamente para evitar o perigo de alterações bruscas ou alternâncias transitórias, que em muitos casos dão origem a insegurança e desordem em relação aos direitos que são próprios das instituições, da família e dos cidadãos.

4. Na sua acção evangelizadora, a Igreja esforça-se por convidar todos os homens e mulheres de boa vontade a construir uma sociedade baseada nos valores fundamentais e irrenunciáveis para uma ordem nacional e internacional justa e digna do ser humano. Isto caminha paralelamente com a sua missão religiosa e possui um carácter ético de alcance universal, fundado na inigualável dignidade da pessoa humana, criada à imagem de Deus, do que lhe derivam os seus direitos inalienáveis, que precisamente as instituições públicas devem servir e promover, segundo o clássico princípio da subsidiariedade. Assim, a convivência humana, em vez de obedecer unicamente a interesses parciais ou passageiros, deve reger-se pelos ideais da liberdade, da justiça e da solidariedade.

Com esta perspectiva, é conveniente manifestar a incoerência de certas tendências do nosso tempo que, enquanto por um lado engrandecem o bem-estar das pessoas, por outro cortam pela raiz a sua dignidade e os seus direitos mais elementares, como acontece quando se limita ou instrumentaliza o direito fundamental à vida, como é o caso do aborto. Proteger a vida humana é um dever de todos pois a questão da vida e da sua promoção não é prerrogativa unicamente dos cristãos, mas pertence a qualquer consciência humana que aspira pela verdade e se preocupa pelo destino da humanidade. Os responsáveis públicos, enquanto garantes dos direitos de todos, têm a obrigação de defender a vida, em particular a dos mais fracos e indefesos. As verdadeiras "conquistas sociais" são as que promovem e tutelam a vida de cada um e, ao mesmo tempo, o bem comum da sociedade.

Neste campo verificam-se algumas impropriamente chamadas "conquistas sociais", que na realidade o são unicamente para alguns à custa do sacrifício de outros, e que os responsáveis públicos, garantes e não origem dos direitos inatos de todos, deveriam ter em consideção com mais preocupação e alarme.

Algo de semelhante acontece com a família, núcleo central e fundamental de toda a sociedade, âmbito inigualável de solidariedade e escola natural de convivência pacífica, que merece a máxima tutela e ajuda para cumprir as suas incumbências. Entre estes direitos não devemos esquecer o de nascer e crescer num lar estável, onde as palavras pai e mãe se possam pronunciar com alegria e sem enganos. Desta forma, preparam-se também os mais pequeninos a abrirem-se com confiança para a vida e para a sociedade, que beneficiará no seu conjunto se não ceder a certas vozes que parecem confundir o matrimónio com outras formas de união completamente diversas, ou até contrárias ao mesmo, ou que parecem considerar os filhos como meros objectos para a própria satisfação.

Entre outros, a família tem o direito e o dever de educar os filhos, fazendo isto de acordo com as suas próprias convicções morais e religiosas, porque a formação integral não pode iludir a dimensão transcendente e espiritual do ser humano. Neste contexto é delineado o papel das instituições educativas vinculadas à Igreja, que contribuem para o bem comum, bem como tantas outras que, em diversos âmbitos, prestam também um serviço aos cidadãos, com frequência aos menos favorecidos. De igual modo, deve valorizar-se o ensino da religião católica nas instituições estatais, baseada precisamente nos direitos das famílias que o solicitam, sem discriminações nem imposições.

5. Senhor Embaixador, reitero-lhe os meus melhores votos para a sua tarefa de representante do seu País junto da Santa Sé e, neste ano Santo Compostelano, peço ao Apóstolo São Tiago que, como aconteceu durante séculos, continue a ser um farol luminoso para os povos da Espanha e fazendo das suas terras um caminho semeado de esforços e de esperanças para tantos peregrinos de toda a Europa. Muitos deles ficaram fascinados pelo acolhimento e pela nobreza de quantos encontraram no seu percurso; foram testemunhas da sua laboriosidade, constância e fidelidade; descobriram uma nação que sabe ver longe. Trata-se de virtudes que conformaram uma história gloriosa e que, com o estímulo e a colaboração leal de todos, fazem esperar também no futuro prometedor, numa sociedade mais próspera, equitativa e aberta aos valores do espírito.

Com estes votos, enquanto lhe desejo uma feliz permanência em Roma, concedo-lhe a Bênção Apostólica, que faço extensiva à sua distinta família e aos seus colaboradores.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS DA DIOCESE DE AVERSA (ITÁLIA)


Sábado, 19 de Junho de 2004



Caríssimos Irmãos e Irmãs
da Diocese de Aversa!

1. Sinto-me feliz em apresentar a todos vós as minhas cordiais boas-vindas. Este encontro representa um significativo momento da vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos, na conclusão da visita pastoral efectuada pelo vosso Arcebispo.

Saúdo-vos com afecto, começando pelo vosso Pastor, D. Mario Milano, ao qual agradeço as gentis palavras que me dirigiu em nome de todos os presentes. Saúdo o Senhor Cardeal Crescenzo Sepe, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e quantos estão comprometidos nos conselhos paroquiais e nas actividades pastorais diocesanas. Depois, o meu pensamento dirige-se a todos vós aqui presentes, bem como a quantos não puderam vir pessoalmente, com uma especial recordação pelos jovens, as famílias, as pessoas sós, idosas ou doentes. A cada um garanto a minha proximidade espiritual com o afecto e com a oração.

2. A visita pastoral, que hoje idealmente se conclui, foi para a vossa Comunidade diocesana um dos frutos mais importantes do Grande Jubileu do Ano 2000; um singular "tempo de graça", favorável à reflexão e ao aprofundamento da comunhão entre todos os componentes da Diocese, em estreita unidade com o próprio Pastor e com o Sucessor de Pedro. Estou persuadido de que ela suscitará em todos os crentes um renovado impulso ascético e missionário para construir uma nova sociedade.

A este propósito, penso em quanto vos disse na primavera do ano 2000, ao encontrar-me convosco na Praça de São Pedro. Naquela data, recordei a importância da solidariedade material e espiritual. Dirijo-vos hoje o mesmo convite: "Sede testemunhas de solidariedade" (Insegnamenti XXIII/1 [2000/1], pág. 558). Solidariedade que parte dos aspectos mais imediatos da vida quotidiana, do trabalho à assistência, para dar vida a uma sociedade mais justa e equitativa.

3. Mas, ao lado dos âmbitos sociais, o sentido de solidariedade e de ajuda recíproca deve incluir também os da comunhão espiritual e da missão evangelizadora de cada Comunidade cristã. Não é, porventura o testemunho mais elevado de solidariedade que a vossa Diocese está chamada a oferecer aos homens e às mulheres do nosso tempo? Sim! Caríssimos Irmãos e Irmãs, proclamai com coerência Cristo e o seu Evangelho com generosa fidelidade e abandono confiante à vontade divina. Alimentai a vossa existência com oração fervorosa, escuta dócil da Palavra de Deus e recurso frequente aos Sacramentos, sobretudo aos da Confissão e da Eucaristia.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, prossegui o caminho empreendido, corroborados também pela graça da peregrinação de hoje. Deus faça fecundos os vossos propósitos de comunhão eclesial e o compromisso pela nova evangelização, seguindo as indicações que surgiram da visita pastoral.
Do Santuário mariano de Casapesenna, que tive a alegria de visitar há quatorze anos, a Virgem Santa continue a acompanhar-vos neste empenhativo itinerário espiritual e apostólico.

Por meu lado, garanto-vos a minha proximidade espiritual e abençoo-vos de coração, juntamente com as vossas comunidades paroquiais e religiosas, as vossas famílias e todas as pessoas que vos são queridas.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO BISPO DE MÂNTUA POR OCASIÃO


DAS CELEBRAÇÕES DO XII CENTENÁRIO


DA DIOCESE (804-2004)




Ao Venerado Irmão EGÍDIO CAPORELLO
Bispo de Mântua

1. Sinto-me feliz por que a Comunidade cristã de Mântua deseja recordar este ano com um Jubileu especial o décimo segundo centenário (804-2004) da Diocese. Nesta feliz ocasião desejo fazer chegar a minha cordial saudação a Vossa Excelência, venerado Irmão, e a quantos a Providência divina confiou aos seus cuidados pastorais.

Desde quando, há 1200 anos, o meu venerado predecessor São Leão II foi a Mântua para venerar a "relíquia" do Preciosíssimo Sangue de Cristo e para erigir a Cidade a sede episcopal, teve início uma ininterrupta veneração dos fiéis desta insígne "relíquia", que remete para o mistério da Redenção e para o dom do sacramento da Eucaristia.

Uno-me de bom grado a Vossa Excelência e a toda a Diocese ao elevar a Deus um hino de louvor e de gratidão pelos numerosos frutos de bem maturados ao longo dos séculos. Além disso, faço votos por que das diversas manifestações jubilares surja um renovado compromisso de adesão a Cristo, mediante o aprofundamento das razões da fé e o corroboramento do sentido de pertença à Igreja. Isto não deixará de estimular um impulso cada vez mais corajoso dos sacerdotes, dos religiosos e dos fiéis no anúncio e no testemunho evangélico.

2. O Jubileu Diocesano, começado a 30 de Novembro de 2003, primeiro Domingo de Advento, terá o seu momento conclusivo no próximo dia 21 de Novembro, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. A sua finalidade primária é suscitar em todas as componentes da Comunidade diocesana uma mais intensa e consciente memória da morte e ressurreição de Cristo, mistério que está presente incessantemente na Eucaristia.

Por conseguinte, no centro das celebrações jubilares esta Igreja de Mântua colocou justamente Cristo, escondido sob o véu das espécies eucarísticas. Inspirando-se na maravilhosa página evangélica da multiplicação dos pães (cf. Lc Lc 9,10-17), que contém um anúncio profético do maravilhoso milagre da Eucaristia, dom vivo do Corpo e do Sangue de Cristo, ela deseja estimular cada crente a assumir um generoso impulso missionário. Ao escutar as palavras de Jesus: "Dai-lhes vós mesmos de comer" (Lc 9,13), cada qual deve sentir-se chamado pelo Senhor, como os Doze, a prestar um responsável serviço de amor ao próximo e especialmente aos pobres e aos necessitados.

Venerado Irmão e amados fiéis de Mântua! A participação quotidiana da Eucaristia, alimento de vida eterna, é capaz de transformar a existência dos crentes. Alimentados deste pão de salvação, eles podem crescer como Igreja que "dá a vida", porque o Senhor os tornará capazes de realizar prodígios que Ele cumpriu e que renova constantemente no seu povo com o poder do Espírito Santo.

3. Caríssimos, a Eucaristia infunda em vós a coragem e a alegria de serdes santos. Portanto, este tempo jubilar é uma ocasião propícia para aprofundar a vocação universal à santidade. O mundo precisa primeiro e antes de mais de pessoas santas.

Os mil e duzentos anos de história diocesana registram a presença de luminosas figuras, que continuam a brilhar para o esplendor da sua total adesão a Cristo. A Liturgia repropõe-nas à imitação e à devoção dos crentes. Recordo, em primeiro lugar, Santo Anselmo de Baggio, principal Padroeiro da Diocese, "luminoso reflexo da santidade de Deus e do seu Filho Jesus Cristo", como o defini por ocasião do IX Centenário da sua morte (cf. Insegnamenti IX/1 [1986/1] 228).
Depois, o meu pensamento dirige-se para São Luís de Gonzaga, Co-Padroeiro da Diocese, que tive a ocasião de honrar em "Castiglione delle Stiviere", sua terra natal, por ocasião do IV centenário da morte. Este jovem apaixonado de Cristo dirige ainda hoje a todos nós uma premente exortação à coerência e à fidelidade ao Evangelho, recordando-nos que Deus deve estar no primeiro lugar da nossa existência.

Além disso, penso no meu venerado predecessor São Pio X, que transcorreu em Mântua alguns anos do seu fecundo ministério episcopal, deixando a recordação de um Pastor zeloso e solícito.
Na esteira de tantos Santos e Beatos, os cristãos mantuanos prosseguem no seu caminho de fé, confirmando todos os dias a sua adesão a Cristo e fortalecendo os vínculos de uma união enrobustecida pela inabalável fidelidade ao Evangelho.

4. Mântua, como o resto da Itália, está a atravessar nestes anos rápidas mudanças sociais com não poucas dificuldades económicas, enquanto se torna cada vez mais intenso o confronto com culturas e religiões diversas. Uma certa mentalidade consumista e secularizada ameaça a unidade e a estabilidade das famílias e, seduzindo um número crescente de cristãos, leva-os a realizar de facto um progressivo afastamento no âmbito social, civil e político dos valores da fé. É preciso reagir a estes estímulos desagregadores e, por isso, é indispensável redescobrir as raízes cristãs da própria cultura. Todos os fiéis são chamados em causa por este compromisso. Eles levarão um contributo eficaz a esta urgente obra se souberem pôr Cristo no centro de qualquer projecto pessoal, familiar e comunitário. É repartindo d'Ele que se pode construir um mundo mais justo e fraterno.

5. Amada Diocese de Mântua, não desanimes perante as dificuldades que encontrares! Repito também a ti: "Duc in altum!". O Espírito do Ressuscitado não deixará de te apoiar e de te fortalecer, estimular-te-á a olhar para além dos teus limites e a descobrir, com grata admiração, o milagre de um Pão que superabunda sempre. Amparada pelo exemplo e pela oração dos teus Santos Padroeiros, caminha com confiança pelas estradas do novo Milénio!

Fiéis da amada Diocese mantuana, confio-vos à protecção materna da Virgem Coroada, Rainha e Mãe das Graças, particularmente venerada na vossa Terra. Seja ela quem vos guia e vos ampara sempre.

Com estes sentimentos e votos, envio a Vossa Excelência, Venerado Irmão, ao Clero, aos Religiosos, às Religiosas e a toda a Comunidade diocesana uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 10 de Junho de 2004, Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.



JOÃO PAULO II




DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DO GOVERNO ESPANHOL,


SUA EX.CIA JOSÉ LUÍS ZAPATERO


Segunda-feira, 21 de Junho de 2004





Senhor Presidente!

É para mim motivo de profunda satisfação recebê-lo poucos meses depois de ter assumido o alto cargo, juntamente com os seus ilustres acompanhantes, nesta visita com a qual realça a sua estima pela Sé Apostólica. A sua presença aqui reflecte o desejo de prosseguir num clima sereno as relações de colaboração entre a Igreja e o Estado para o bem do povo espanhol, desejo que também Vossa Excelência me expressou aquando do nosso encontro em Madrid, no fim da Santa Missa na Praça de Colón, em 4 de Maio do ano passado.

Através de Vossa Excelência, desejo renovar o meu afecto e proximidade a todos os espanhóis, a Suas Majestades os Reis e a Família Real, que, juntamente com os que, nas várias ocasiões, estavam no Governo, me receberam tão bem pelas cinco vezes que visitei o seu País. Correspondo a essas demonstrações de carinho renovando o meu sincero apreço à comunidade católica da Espanha que, com os seus Bispos, caminha pelas veredas da fé em estreita comunhão com o Papa. Elevo também a minha oração para que essa querida Nação caminhe sempre para o progresso integral, se fortaleça nela a convivência pacífica na unidade entre o povo daquela grande Terra, com a maravilhosa e variada diversidade que a constitui, e sejam preservados os valores morais e culturais, bem como as suas raízes cristãs.

Há poucos dias, ao receber o seu novo Embaixador, tive a oportunidade de me referir a alguns aspectos da sociedade espanhola. Reconfirmando quanto disse nessa ocasião, desejo renovar-lhe o meu sincero agradecimento por esta amável visita. Faço sentidos votos por que o seu compromisso pessoal, assim como o do seu governo, alcance os objectivos pré-estabelecidos de fomentar o progresso moderno da Espanha, e que nessa tarefa se tenham na devida consideração os valores éticos, tão arraigados na tradição religiosa e cultural do povo. Saiba que pode contar com a colaboração da Santa Sé para trabalhar unidos na grande causa da paz e em favor do progresso espiritual dos povos; para ajudar no que diz respeito à erradicação do terrorismo e da violência em todas as suas formas; para alcançar o maior benefício das legítimas exigências da pessoa humana, com a sua dignidade, direitos e liberdades. Peço fervorosamente ao Todo-Poderoso que derrame abundantes dons e bênçãos sobre Vossa Excelência, Senhor Presidente, sobre os seus colaboradores nas tarefas do Governo, e sobre os amadíssimos filhos do seu nobre País.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRÍNCIPE E GRÃO-MESTRE DA SOBERANA


ORDEM MILITAR DE MALTA


22 de Junho de 2004



Alteza!
Sinto-me particularmente feliz em receber Vossa Alteza e agradeço-lhe esta visita, que me oferece a oportunidade de renovar a expressão dos sentimentos de estima e de gratidão que nutro pela Soberana Ordem Militar de Malta. Saúdo-o cordialmente e faço extensivo o meu caloroso pensamento a quantos gentilmente o acompanham.

Aproveito de bom grado esta circunstância para fazer chegar a minha saudação a todos os membros desta benemérita Instituição comprometida em várias partes do mundo. A Santa Sé aprecia os numerosos serviços que ela presta à causa da evangelização e, em particular, as numerosas iniciativas de bem que promove constantemente em favor dos necessitados.

Garanto de bom grado uma recordação na oração para que Deus, por intercessão de Maria Santíssima, abençoe cada projecto de bem da vossa Associação, enquanto vos encorajo a prosseguir com generosidade o vosso caminho de fidelidade a Cristo e à sua Igreja.

Com estes sentimentos, concedo de coração uma especial Bênção Apostólica a Vossa Alteza, aos seus colaboradores e a toda a Soberana Ordem de Malta.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DAS PROVÍNCIAS ECLESIÁSTICAS


DE PORTLAND NO OREGON, SEATTLE


E ANCHORAGE (E.U.A.) EM VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


Quinta-feira, 24 de Junho de 2004





Queridos Irmãos Bispos

1. Dando continuidade às visitas dos Bispos dos Estados Unidos da América aos túmulos dos Apóstolos, é com prazer que vos saúdo, a vós Bispos das Províncias Eclesiásticas de Portland no Oregon, Seattle e Anchorage. Na nossa série de reflexões sobre o exercício do ministério que nos foi confiado como Sucessores dos Apóstolos, temos considerado o munus docendi à luz do testemunho profético eclesial do Reino de Deus, do qual a Igreja é, na terra, o germe e o início (cf. Lumen gentium LG 5). Além do testemunho pessoal de fé e de santidade, pelo qual os fiéis individualmente são responsáveis em virtude do seu Baptismo, a Igreja é chamada também a um importante testemunho institucional diante do mundo.

Por este motivo, o mandato do Senhor ressuscitado, de fazer com que todos os povos se tornem seus discípulos e de os ensinar "a observar tudo quanto vos tenho ordenado" (Mt 28,20), deve ser o ponto de referência indispensável para cada actividade da Igreja. As suas numerosas instituições religiosas, educativas e caritativas existem por um único motivo: para proclamar o Evangelho. O seu testemunho deve provir sempre ex corde Ecclesiae, ou seja, do próprio coração da Igreja. Por conseguinte, é da máxima importância que as instituições da Igreja sejam genuinamente católicas: católicas na sua autocompreensão e católicas na sua identidade. Todas as pessoas que participam nos apostolados de tais instituições, inclusivamente aquelas que não têm fé, deveriam manifestar um apreço sincero e respeitoso por esta missão, que é a sua inspiração e a sua derradeira razão de ser.

2. Hoje em dia, a criatividade é particularmente necessária para modelar de forma mais oportuna as instituições eclesiais, a fim de que cumpram a sua missão profética. Isto significa que se devem encontrar maneiras mais inovativas para permitir que a luz de Cristo resplandeça, de tal modo que o dom da sua graça possa verdadeiramente "renovas todas as coisas" (Ap 21,5 cf. Novo millennio ineunte NM 54). As numerosas instituições da Igreja que se encontra nos Estados Unidos da América escolas, universidades, hospitais e organismos caritativos devem não só ajudar os fiéis a pensar e a agir em conformidade com o Evangelho, ultrapassando toda a separação entre a fé e a vida (cf. Christifideles laici CL 34), mas hão-de encarnar um claro testemunho conjunto da sua verdade salvífica. Isto exigirá uma análise constante das suas prioridades, à luz da sua missão e a oferta de um testemunho convincente, do ensinamento da Igreja, no seio de uma sociedade pluralista, particularmente sobre o respeito pela vida humana, o matrimónio, a família e a justa ordem da vida pública.

3. As instituições educativas da Igreja só serão capazes de contribuir eficazmente para a nova evangelização, se conservarem e promoverem claramente a sua identidade católica. Isto significa que "os conteúdos do projecto educativo deverão fazer referência constante a Jesus Cristo e à sua mensagem, tal como a Igreja se apresenta na sua doutrina dogmática e moral" (Ecclesia in America ). Além disso, uma educação autenticamente católica tem em vista a integração do conhecimento no contexto de uma visão da pessoa humana e do mundo, iluminada pelo Evangelho. Pela sua virtude, os colégios e as universidades católicas são chamados a dar um testemunho institucional de fidelidade a Cristo e à sua palavra, da forma como no-la apresenta a Igreja, um testemunho público e expresso na exigência canónica do mandato (cf. Código de Direito Canónico, cân. CIC 812; cf. USCCB, The Application of Ex Corde Ecclesiae in the United States, Part 2, art. 4, 4, e). Como comunidades comprometidas na busca da verdade e da definição de uma síntese viva da fé e da razão, tais instituições deveriam ocupar um lugar de vanguarda no diálogo da Igreja com a cultura, porque "uma fé que permanecesse nas margens... da cultura, seria uma fé que não reflecte a plenitude daquilo que a palavra de Deus manifesta e revela, uma fé mutilada e, pior ainda, uma fé em processo de autodestruição" (Constituição Apostólica Ex corde Ecclesiae, 44).

A presença da Igreja na educação primária e secundária deve constituir também o objecto da vossa solicitude especial de pastores do Povo de Deus. As escolas paroquiais locais fizeram muito para oferecer uma formação académica, moral e religiosa sólida a numerosos cidadãos norte-americanos, tanto católicos como não católicos. Aproveito este ensejo para reconhecer com gratidão o trabalho devotado de inúmeros sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos no campo da educação católica, e convido-vos a unir-vos a mim, encorajando-os a perseverar nesta missão tão necessária (cf. Congregação para a Educação Católica, As pessoas consagradas e a sua missão nas escolas, n. 84). Pedir-vos-ia inclusivamente que animásseis os vossos presbíteros, para que continuem a estar presentes e visíveis nas escolas das suas paróquias, e levem a cabo todos os esforços em vista de assegurar que, apesar das dificuldades financeiras, a educação católica seja acessível aos pobres e aos menos privilegiados da sociedade.

4. Os programas de educação religiosa constituem também um componente significativo da missão evangelizadora da Igreja. Enquanto os programas catequéticos para as crianças e para os jovens, especialmente em relação à preparação sacramental, permanecem essenciais, há que prestar maior atenção às necessidades particulares dos jovens e dos adultos. Os programas eficazes de educação religiosa, tanto a nível diocesano como paroquial, exigem um discernimento constante das exigências actuais das diversas idades e dos vários grupos, assim como a avaliação criativa dos melhores meios para as satisfazer, em particular a necessidade de formação para a oração mental, a leitura espiritual das Escrituras (cf. Dei Verbum DV 11) e a recepção fecunda dos Sacramentos. Este discernimento constante exige um compromisso pessoal da parte do Bispo, juntamente com os Pastores, que são os directos responsáveis pela instrução religiosa oferecida nas paróquias, dos professores de religião, cuja generosidade e experiência constituem um grande recurso para as vossas Igrejas particulares, e dos pais, que são chamados antes de todos os outros a formar os seus próprios filhos na fé na vida cristã (cf. Código de Direito Canónico, cân. CIC 74 2).

5. As numerosas iniciativas dos católicos norte-americanos em favor dos idosos, dos doentes e dos necessitados mediante ambulatórios, hospitais, clínicas e vários centros de apoio e de assistência foram sempre e continuam a ser um testemunho eloquente de "fé, esperança e caridade" (1Co 13,31), que devem distinguir a vida de cada discípulo do Senhor. Nos Estados Unidos da América, gerações de religiosos e de leigos comprometidos, criando uma rede de instituições católicas de assistência à saúde, foram testemunhas extraordinárias de Cristo, médico do corpo e da alma, e da dignidade da pessoa humana. Não podeis permitir que os notáveis desafios que se apresentam a estas instituições, em mutáveis circunstâncias sociais e económicas, debilitem este testemunho conjunto. As políticas definidas em absoluta conformidade com o ensinamento moral da Igreja devem ser observadas nas estruturas católicas de assistência à saúde e cada um dos aspectos da vida destas últimas deve reflectir a sua inspiração religiosa e o seu vínculo íntimo com a missão eclesial de levar luz sobrenatural, cura e esperança aos homens e às mulheres em todas as fases da sua peregrinação terrestre.

6. Estimados Irmãos, é com profunda gratidão pela grande contribuição que as instituições católicas presentes nas vossas Dioceses têm prestado para o crescimento das vossas Igrejas particulares, uno-me também a vós na oração a fim de que elas se tornem agentes da nova evangelização cada vez mais eficazes, fontes de energia vital para o apostolado e o autêntico fermento do Reino (cf. Mt Mt 13,33) na sociedade norte-americana. Sobre todo o clero, os religiosos, as religiosas e os fiéis leigos comprometidos em obras de serviço eclesial, invoco a sabedoria e o vigor do Espírito Santo e, do íntimo do coração, concedo a todos a minha Bênção Apostólica, como penhor de graça e de fortaleza no Senhor.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA 71ª ASSEMBLEIA


DA REUNIÃO DAS OBRAS EM AJUDA


ÀS IGREJAS ORIENTAIS


24 de Junho de 2004



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Dirijo a cada um de vós uma saudação cordial, por ocasião da 71ª Assembleia da R.O.A.C.O. Reunião das Obras em Ajuda às Igrejas Orientais.

Saúdo o Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, o Senhor Cardeal Ignace Moussa I Daoud, e agradeço-lhe por se ter feito intérprete dos sentimentos de todos os presentes. Saúdo o Secretário e os colaboradores do Pontifício Conselho, assim como o Núncio Apostólico na Roménia, o novo Guardião da Terra Santa e os Responsáveis das Agências. Dou a cada um as minhas cordiais boas-vindas.

2. A vossa visita faz-me pensar na situação em que se encontram as comunidades das Igrejas Orientais, submetidas neste nosso tempo a duras provas por causa dos conflitos em curso, do terrorismo e de outras dificuldades. A elas vós não deixais faltar o vosso apoio, fiéis à tarefa que assumistes seguindo as orientações da Congregação Oriental. À acção generosa em favor das populações do Iraque, vós unistes, nesta sessão, uma particular atenção à Igreja Greco-Católica da Roménia. Obrigado pela vossa solicitude. Trata-se de um precioso serviço de solidariedade para com aqueles que são necessitados. Para o desempenhar do melhor modo possível, deveis haurir da Eucaristia a força necessária. A este propósito escrevi na recente Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia que "aos germes de desagregação tão enraizados na humanidade por causa do pecado, como demonstra a experiência quotidiana, contrapõe-se a força geradora de unidade do corpo de Cristo. A Eucaristia, construindo a Igreja, cria por isso mesmo comunidade entre os homens" (n. 24).

3. Uma ocasião significativa para expressar esta comunhão solidária, que une todos os crentes em Cristo, é a Colecta para a Terra Santa, tradicionalmente recolhida na Sexta-Feira Santa em todas as partes do mundo. Os meus venerados Predecessores recomendaram sempre a todas as Comunidades cristãs a solicitude pela Igreja-mãe de Jerusalém. É necessário perseverar, rezando intensamente pela paz dos Povos que vivem na Terra de Jesus. Aos cristãos tão provados pela violência persistente e por outros numerosos problemas que causam empobrecimento económico, conflitos sociais, aviltamento humano e cultural, nunca falte o apoio de toda a Igreja católica. Graças também à colecta da Sexta-Feira Santa, que acabei de mencionar, é possível socorrer as urgentes necessidades e alimentar o espírito de acolhimento e de respeito recíprocos, favorecendo a maturação de uma comum vontade de reconciliação. Tudo isto não pode deixar de contribuir para a construção da paz tão desejada.

4. Uma das tarefas mais importantes da Congregação para as Igrejas Orientais no sustento da vida pastoral e da obra evangelizadora das Igrejas católicas do Oriente permanece a formação dos formadores. A este propósito, o vosso contributo deverá ter em consideração como são grandes, com frequência, as necessidades dos seminários e das casas de formação, e como variam as prioridades nas várias comunidades eclesiais. Esta Congregação realiza um esforço notável também económico para preparar sacerdotes, seguir seminaristas, religiosas e religiosos, leigos e leigas de maneira que as Igrejas, superando os condicionamentos do passado, possam agora contar com pastores qualificados e leigos responsáveis e competentes.

5. O Senhor Jesus e a sua celeste Mãe, tão amada em toda a parte e venerada pelas antigas Igrejas do Oriente, ajudem estes nossos irmãos e irmãs na fé a responder com coragem aos desafios da nova evangelização. São João Baptista, do qual hoje recordamos o nascimento, os assista juntamente com todos os Santos com a sua intercessão.

Também eu garanto a minha oração, ao conceder de bom grado a vós, aos vossos colaboradores, aos benfeitores e às pessoas queridas uma especial Bênção Apostólica.






DIscursos João Paulo II 2004