DIscursos João Paulo II 2004

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO MAGNÍFICO REITOR DA UNIVERSIDADE DE BOLONHA


NA RECEPÇÃO DO "SIGILLUM MAGNUM"


DA "ALMA MATER STUDIORUM"



Ao Excelentíssimo Senhor Prof. PIER UGO CALZOLARI
Magnífico Reitor da Universidade de Bolonha

É com profunda gratidão que recebo o acto de homenagem da Universidade de Bolonha que, por ocasião do XXV aniversário de Pontificado, desejou conferir-me o "Sigillum Magnum" da "Alma Mater Studiorum". Sinto-me particularmente honrado por este precioso reconhecimento, considerando o facto de que o Ateneu bolonhês é um dos mais antigos e famosos do mundo. O ambiente universitário e, de maneira especial, os jovens estudantes, ocuparam sempre um lugar privilegiado na minha solicitude pastoral. Foi a eles que dediquei com entusiasmo não poucas energias do meu Sacerdócio e do meu Episcopado. Além disso, como Bispo de Roma, nunca deixei de me encontrar com as comunidades académicas em todas as ocasiões propícias, não somente em Roma e na Itália, mas também durante as minhas viagens apostólicas.

Ampliando ainda mais o horizonte, é-me grato pensar que o presente atestado de estima é motivado pela singular atenção por mim reservada à cultura e à sua importância fundamental para a promoção do homem e do progresso histórico. "Genus humanum arte et ratione vivit": foi aquilo que tive a oportunidade de afirmar no ano de 1980, em Paris, ao dirigir-me aos membros da UNESCO (cf. Insegnamenti, III, 1 [1980], pág. 1649, n. 17), e que agora reitero a Vossa Excelência, Magnífico Reitor, dirigindo-me deste modo idealmente a toda a comunidade da "Alma Mater Studiorum" de Bolonha. Existe uma reciprocidade inseparável entre a educação do homem e a cultura: com efeito, se a pessoa humana se educa em função da qualidade da cultura em que vive, é igualmente verdade que o valor da cultura se há-de medir a partir da sua capacidade de levar o homem a crescer, segundo a sua excelsa vocação, ou seja, ajudando-o a tornar-se cada vez mais homem (cf. ibid., pág. 1644, n. 11).

Por conseguinte, enquanto renovo a expressão do meu reconhecimento pela dádiva do "Sigillum Magnum", que conservarei sempre como um singular documento dos vínculos que me unem ao mundo universitário, encorajo Vossa Excelência e todo o Senado Académico a fazer com que a actividade científica e cultural seja motivada sempre por uma sincera paixão pelo homem e orientada para a sua promoção harmónica e integral.
Tendo em vista esta finalidade, asseguro uma particular lembrança na oração e, de muito bom grado, invoco sobre Vossa Excelência, assim como sobre os Professores e os Estudantes da Universidade dos Estudos de Bolonha, as copiosas bênçãos celestiais.

Vaticano, 3 de Julho de 2004.

JOÃO PAULO II



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II

AO PRESIDENTE DO PONTIFÍCIO CONSELHO

"JUSTIÇA E PAZ"





Ao meu venerado Irmão Card. RENATO R. MARTINO
Presidente do Pontifício Conselho "Justiça e Paz"

Fiquei feliz por ter sido informado acerca do Seminário internacional sobre "Pobreza e globalização: financiar o progresso, incluindo as finalidades de desenvolvimento do milénio", que se há-de realizar na sexta-feira, 9 de Julho do corrente ano de 2004, sob o patrocínio do Pontifício Conselho "Justiça e Paz". Ao tornar extensivas as minhas sinceras saudações a Vossa Eminência, aos representantes do governo e aos outros ilustres participantes presentes em Roma para esta circunstância, gostaria de vos assegurar as minhas orações e o meu encorajamento para este empreendimento, que é de extrema importância.

As condições de extrema pobreza, que afligem muitos milhões de pessoas, são uma causa de grave preocupação para a comunidade internacional. Comprometida na "opção preferencial pelos pobres", a Igreja naturalmente participa em tal solicitude e apoia fortemente o chamado objectivo do milénio, de reduzir a metade, até ao ano de 2015, o número de pessoas que vivem na pobreza. Através das numerosas agências católicas de assistência e desenvolvimento, ela oferece a sua própria contribuição para as obras de assistência, dando assim continuidade ao trabalho do próprio Cristo, que veio para anunciar a boa nova aos pobres, para alimentar os famintos, para servir e não para ser servido. Chegou a hora de uma nova "fantasia" da caridade (cf. Novo millennio ineunte NM 50), para poder elaborar formas cada vez mais eficazes de obter uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo.

Muito trabalho já se realizou, para reduzir o peso da dívida que continua a afligir os países pobres, mas é necessário que se faça ainda mais, se quisermos que as nações em vias de desenvolvimento evitem os efeitos paralisantes do subinvestimento, e se desejarmos que os países desenvolvidos cumpram o seu dever de solidariedade para com os irmãos e as irmãs menos afortunados nas outras regiões do mundo. A curto e a médio prazo, o único caminho a percorrer parece ser o do compromisso em vista de incrementar a ajuda estrangeira e, por conseguinte, a Igreja aprecia a busca de soluções inovativas, como a chamada International Finance Facility. Ela encoraja inclusivamente as demais iniciativas que estão a ser promovidas em numerosas partes do mundo, tanto por parte das várias organizações das Nações Unidas, como pelos governos individualmente. Ao mesmo tempo, a ajuda financeira derivante das nações mais ricas impõe uma obrigação nos países receptores, que devem demonstrar transparência e responsabilidade no uso de tal ajuda. Estou convicto de que os governos dos países tanto ricos como pobres assumirão com seriedade as responsabilidades que lhes competem, uns em relação aos outros e ambos em relação às respectivas populações.

Persuadido de que os vossos importantes debates hão-de dar frutos abundantes, invoco a luz do Senhor sobre todas as pessoas que estão a participar neste Seminário e, cordialmente, concedo-vos a todos a minha Bênção Apostólica.

Vaticano 5 de Julho de 2004.



PAPA JOÃO PAULO II




MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO X CAPÍTULO GERAL


DA CONGREGAÇÃO DOS ROGACIONISTAS


DO CORAÇÃO DE JESUS



Ao Reverendo Padre GIORGIO NALIN
Superior-Geral dos Rogacionistas do Coração de Jesus

1. Reverendo Padre, saúdo-o com alegria e carinho, juntamente com os seus irmãos, que estão prestes a encontrar-se consigo para o X Capítulo Geral da Congregação, que ainda está a viver em clima de festa, pela recente canonização do Fundador, Santo Aníbal Maria Di Francia.

Ainda permanece viva na memória de cada um a recordação da manhã do dia 16 do passado mês de Maio quando, diante de uma grande multidão, intensamente partícipe, tive a alegria de inscrever no Álbum dos Santos aquele que desejei definir como "insigne apóstolo da oração pelas vocações" e "verdadeiro pai dos órfãos e dos pobres". Agora, o seu carisma resplandece com uma luz renovada: o Padre Aníbal é para todos um intercessor e modelo luminoso, cuja presença viva junto do Pai da Misericórdia confere à invocação do coração uma nova confiança de ser ouvida, especialmente naquela prece para a qual o próprio Cristo nos convida: "Rogate! [Pedi!]" (Mt 9,38).

2. "Rogate!" Esta é a exortação do Salvador que, desde os anos da juventude mais tenra, conquistou e transformou a inteligência viva e o coração ardente de Santo Aníbal Maria Di Francia: "Messis quidem multa, operarii autem pauci. Rogate ergo Dominum messis ut mittat operarios in mesem suam" (Mt 9,37-38 Lc 10,2). Nestas palavras de Jesus, o vosso Fundador reconheceu um programa específico de vida e de acção. A missão dos Rogacionistas encontra-se totalmente no programa indicado pelo "Rogate!", um imperativo diante do qual o olhar de fé voltado para a messe se faz oração, para que o Senhor lhe mande numerosos trabalhadores.

Esta missão é mais actual do que nunca, no início do terceiro milénio, e exige apóstolos bons e generosos, dos quais vós deveis e desejais ser os primeiros. Portanto, oportunamente, quereis redescobrir e relançar o vosso carisma, examinando atentamente as necessidades da Igreja e do mundo, à luz do ensinamento perene de Jesus sobre a importância fundamental da oração.

3. "Messis quidem multa, operarii autem pauci". Hoje, a messe para a qual somos convidados parece mais vasta do que nunca. A "aldeia global", em que se transformou o planeta, oprimido por uma rede de comunicações e de interesses políticos, económicos e sociais, não raro em conflito entre si, revela uma necessidade extremamente urgente de trabalhadores da reconciliação, testemunhas da Verdade que salva e construtores da única paz verdadeira e duradoura, fundamentada sobre a justiça e o perdão.

Além disso, se o olhar passa a perscrutar os abismos dos corações, o desejo e a expectativa da vida que vêm do Alto parecem-nos ainda mais amplos e profundos. Diante da enormidade de tais urgências, as nossas forças resultam ímpares. "Operarii autem pauci". Como no coração dos discípulos diante da multidão faminta, também na nossa alma surge e interrogação que Santo Aníbal sentiu intensamente, considerando as necessidades do bairro pobre, onde tinha escolhido viver e trabalhar, Avinhão de Messina: "Onde vamos buscar, no deserto, tantos pães para matar a fome de tão grande multidão?" (Mt 15,33).

O pão da justiça e a da paz só pode advir do Alto: eis por que motivo a necessidade, que está na raiz de todas as necessidades, é a dos "operários" de que Jesus fala, ou seja, homens e mulheres que não poupem esforços quando se trata de transmitir ao mundo a Palavra de vida, chamando os corações à conversão, oferecendo a dádiva da Graça para construir pontes de solidariedade e condições de justiça, em que possa expressar-se a dignidade integral de toda a existência humana.

"Rogate ergo Dominum messis ut mittat operarios in mesem suam": é Jesus que nos indica com estas palavras o que é necessário fazer para responder à vastidão da tarefa que se nos apresenta. Em primeiro lugar, rezar: "Rogate ergo!". A oração constitui a raiz fecunda e o alimento indispensável de toda a acção que quiser ser eficaz em ordem ao Reino de Deus. É rezando que se podem obter do Senhor trabalhadores para lavrar o terreno, preparar o sulco, lançar a semente, velar sobre o seu crescimento e recolher o fruto das espigas maduras. Através da oração, o homem descobre de novo o primado da dimensão contemplativa da existência e obtém a força da fé que vence o mundo. Hoje em dia, após a falência das ideologias totalitárias da época moderna, a fé manifesta-se cada vez mais claramente como âncora de salvação, mais necessária e urgente do que nunca.
"Rogate": com este convite, Jesus pede que toda a nossa vida se torne uma prece e que a oração se transforme em vida de testemunhas credíveis e apaixonadas dele e do seu Evangelho. Rezar por bons trabalhadores significa procurar ser bom trabalhador, conformando incessantemente as opções do coração e as obras da própria vida às exigências da sequela de Cristo. A exortação à vocação universal à santidade, que desejei relançar na Carta Apostólica Novo millennio ineunte (cf. nn. 30-31), ressoa com uma força especial para os Apóstolos do "Rogate", cuja missão consiste em dedicar-se incondicionalmente, rezando todos os dias pelas vocações, propagando em toda a parte este espírito de oração e promovendo todas as vocações, como trabalhadores humildes e fiéis ao serviço do advento do Reino de Deus.

5. Caríssimos Rogacionistas! A Igreja e o mundo esperam de vós uma renovada fidelidade ao carisma de apóstolos do "Rogate", que vos distingue. Por isso, vivei o júbilo da vossa vocação com toda a paixão que o Espírito souber acender nos vossos corações, e não permitais que ao Povo de Deus e à humanidade inteira venha a faltar aquilo que foi pedido pelo próprio Redentor: "Rogate!".

Trabalhai, sem vos poupardes, pelo bem temporal e espiritual do próximo, seguindo o exemplo do vosso Padre Fundador, mediante a educação e a santificação das crianças e dos jovens, a evangelização, a promoção humana e o auxílio aos mais pobres (cf. Constituições, 5). Ocupando-vos do anúncio do Evangelho às gerações mais jovens, sabei servir a causa pela qual toda a vossa existência se faz oração e merece ser despendida.

O compromisso da evangelização, desde o primeiro anúncio até à catequese, vinculado ao serviço generoso aos mais fracos, especialmente os adolescentes e os jovens que não têm uma família nem podem contar com o apoio educativo, constitua a vossa solicitude quotidiana, seja a forma concreta, activa e fiel de preparardes o terreno para o florescimento das sementes de vocação que o Senhor infunde copiosamente na messe, como resposta à invocação convicta e fiel da oração.

O impulso missionário é intrínseco na identidade dos Apóstolos do "Rogate!". A contemplação da "messe, que é grande", e dos "trabalhadores, que são poucos", não pode deixar de abrir a alma ao anseio da evangelização universal dos povos. Por conseguinte, o vosso Santo Fundador desejou desde as origens, justamente, que os seus filhos estivessem atentos e disponíveis para a "missio ad gentes".

6. Invoco a assistência do Espírito sobre o discernimento que estais a realizar nos vossos trabalhos capitulares e sobre as decisões que deles hão-de surgir.

Possa a Virgem Maria, ternamente amada por Santo Aníbal Maria Di Francia, ser a estrela de um renovado impulso na vossa missão no início do novo milénio. Ela, Virgo fidelis, obtenha para vós a fidelidade da escuta, a intensidade da fé, a perseverança da oração, o gosto do silêncio interior e da contemplação de Deus.

A Mãe do Belo Amor vos sustente no exercício do vosso apostolado quotidiano. Interceda por vós Santo Aníbal, exemplo admirável de dedicação total à causa do "Rogate".

Com estes bons votos, é de coração que lhe concedo, estimado Padre, assim como aos seus Irmãos capitulares, a minha Bênção que, de bom grado, torno extensiva às Filhas do Zelo Divino, que compartilham o vosso carisma e também estão prestes a dar início ao seu Capítulo Geral, como também aos leigos que se inspiram na vossa espiritualidade e na vossa missão, e a todos aqueles que delas beneficiam, para a glória de Deus e a salvação das almas.

Vaticano, 26 de Junho de 2004.



PAPA JOÃO PAULO II



SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

AO PREFEITO E À CÂMARA MUNICIPAL

DE INTROD EM LES COMBES


Sábado, 17 de Julho de 2004



Antes de deixar este lugar encantador, onde pude transcorrer um período fortificante de descanso, sinto a necessidade de dirigir o meu agradecimento mais sincero ao Senhor Presidente da Câmara Municipal, à Junta e ao Conselho do Município de Introd a cordial hospitalidade que me foi reservada, assim como aos meus colaboradores.

Estendo a expressão destes gratos sentimentos àqueles que, de vários modos, cooperaram para o tranquilo desenrolar da minha permanência aqui, em Les Combes, no meio das montanhas do Vale de Aosta.

Agora, estou prestes a partir para Castel Gandolfo, conservando na mente e no coração a lembrança das numerosas atenções que me foram reservadas. Estou-vos profundamente reconhecido por tudo. Peço ao Senhor, cuja providência omnipotente transparece nestas paisagens alpinas, que continue a proteger a comunidade e os administradores de Introd. Do alto desta montanha vele sobre vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, Nossa Senhora do Grande Paraíso. Quanto a mim, asseguro uma especial lembrança na oração, enquanto abençoo todos e cada um de vós.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS FUNCIONÁRIOS E AGENTES DA SEGURANÇA


EM LES COMBES


17 de Julho de 2004



Daqui a pouco voltarei para Roma, mas antes de me despedir destes lugares, permiti-me renovar-vos a expressão dos meus sentimentos mais cordiais, caros Dirigentes, Funcionários e Agentes da Polícia do Estado, dos Carabineiros, da Guarda Fiscal, da Polícia Penitenciária e da Guarda Florestal. Nestes dias, fostes para mim como que "anjos da guarda" que, com eficácia e discrição, vigiaram para o bom êxito da minha permanência no Vale de Aosta. Estou-vos cordialmente grato por isto. Dirijo um agradecimento sincero também a vós, queridos responsáveis e agentes da Gendarmaria do Vaticano, sempre diligentes no cumprimento do vosso dever.

Conservarei viva a recordação do período passado aqui em Les Combes e da atmosfera tranquila, que também vós contribuístes para manter em redor desta casa e nas localidades circunstantes. Apreciei muito o vosso trabalho, nem sempre fácil. Bem sei quantos sacrifícios, afãs e renúncias ele comporta, e dei-me conta do modo como vós o cumpris com tanta competência e generosidade. Deus vos recompense e vos assista sempre com a sua celeste protecção. Asseguro-vos uma especial lembrança na oração por vós e pelas vossas famílias, enquanto vos abençoo com afecto.



                                                                                Agosto de 2004

PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II


NO INÍCIO DA MISSA EM RECORDAÇÃO


DO SERVO DE DEUS PAULO VI


FALECIDO EM 6 DE AGOSTO DE 1978


Sexta-feira, 6 de Agosto de 2004

Festa da Transfiguração do Senhor




Caríssimos

Este dia, em que se celebra a festa da Transfiguração do Senhor, evoca para nós a querida e venerada lembrança do Servo de Deus, o Papa Paulo VI: na noite do dia 6 de Agosto de 1978, precisamente nesta casa, ele concluiu a sua jornada terrena. Fiel imitador do seu Senhor, ele trazia no coração a luz do Tabor, e com aquela luz caminhou até ao fim, levando com alegria evangélica a sua cruz.

O dia 6 de Agosto não é somente o aniversário da sua morte, mas também da sua primeira Encíclica, a Ecclesiam suam, que tem a data da Transfiguração de há quarenta anos. Naquele memorável Documento, Paulo VI traçou as linhas programáticas do seu pontificado.

Celebrando a Eucaristia, mais uma vez, agradecemos a Deus por ter dado à Igreja este inesquecível Pastor. Confiando-nos à intercessão de Maria Santíssima, pedimos ao Senhor, que a Igreja de hoje e de amanhã saiba sempre fazer tesouro do seu exemplo e dos seus ensinamentos.



PEREGRINAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SANTUÁRIO DE LOURDES


DISCURSO NA CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS


Tarbes, 14 de Agosto de 2004

Senhor Presidente

Venerados Irmãos no Episcopado
Ilustres Autoridades aqui reunidas!

1. Dou graças ao Senhor por me ter permitido voltar, mais uma vez, a esta amada terra de França e de vos dirigir a todos os meus votos cordiais de graça e paz. O motivo da minha hodierna visita é a celebração do 150º aniversário da definição do Dogma da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria.

Desejo unir-me intimamente aos milhões de peregrinos que, de todas as partes do mundo, vêm todos os anos a Lourdes, para confiar à Mãe do Senhor as intenções que trazem no coração e pedir a sua ajuda e a sua intercessão.

2. Dirigindo-me para este lugar bendito, desejo desde agora apresentar a Vossa Excelência, Senhor Presidente da República, a minha cordial saudação, e na sua pessoa, a todos os filhos e filhas deste nobre país, que recorda precisamente nestes dias o 60º aniversário do desembarque de Provença. Faço votos a fim de que essas celebrações favoreçam a concórdia entre os povos e contribuam para renovar o empenho comum na busca e na construção da paz.

Lembro-me com alegria das minhas visitas anteriores à França, e aproveito de bom grado também esta ocasião para homenagear o grande património de cultura e de fé que marcaram a sua história.

De facto, não posso esquecer os grandes Santos desta vossa Terra, os ilustres mestres do pensamento cristão, as escolas de espiritualidade, os numerosos missionários que deixaram a pátria para levar a todo o mundo o anúncio de Cristo Senhor. E olho com confiança para a comunidade cristã de hoje, que acolhe com generosidade o convite a animar este nosso tempo com a sabedoria e a esperança que vêm do Evangelho.

3. No respeito das responsabilidades e competências de cada um, a Igreja Católica deseja oferecer à sociedade uma sua contribuição específica para a edificação de um mundo no qual os grandes ideais de liberdade, igualdade e fraternidade possam constituir a base da vida social, na busca e na promoção incansável do bem comum.

Confio estes bons votos à intercessão da jovem Bernadete Soubirous, humilde filha dos campos de Bigorre, e imploro sobre este país, mediante a intercessão materna da Virgem Maria, a Bênção de Deus, em penhor de um presente e de um futuro de prosperidade e paz.



PEREGRINAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SANTUÁRIO DE LOURDES


SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE AOS DOENTES


Lourdes, 14 de Agosto de 2004




Chegando à Gruta de Massabielle, desejo dirigir a minha primeira saudação aos doentes, que vêm a este santuário sempre em maior número, a quantos os acompanham, aos que se ocupam deles e às suas famílias.

Juntamente convosco, queridos irmãos e irmãs, sinto-me um peregrino junto da Virgem; faço minhas as vossas orações e as vossas esperanças; partilho convosco um tempo de vida assinalado pelo sofrimento físico, mas não por isso menos fecundo no desígnio admirável de Deus. Juntamente convosco peço por aqueles que se confiaram à nossa oração.

Para o meu ministério apostólico, tive sempre grande confiança na oferta, na oração e no sacrifício daqueles que sofrem. Exorto-vos a unir-vos a mim durante esta peregrinação, para apresentar a Deus, por intercessão da Virgem Maria, todas as intenções da Igreja e do mundo.

Amados irmãos e irmãs doentes, gostaria de vos abraçar entre os meus braços, um por um de modo afectuoso, e dizer-vos quanto estou próximo de vós e sou solidário convosco. Faço-o espiritualmente, confiando-vos ao amor materno da Mãe do Senhor, e pedindo que Ela vos obtenha as bênçãos e conforto do seu Filho Jesus.



PEREGRINAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SANTUÁRIO DE LOURDES


PALAVRAS DO SANTO PADRE


NA INTRODUÇÃO À RECITAÇÃO DO ROSÁRIO


Lourdes, 14 de Agosto de 2004



Queridos Irmãos e Irmãs

1. Ajoelhando-me aqui, junto da gruta de Massabielle, sinto com emoção ter chegado ao fim da minha peregrinação. Esta gruta, onde apareceu Maria, é o coração de Lourdes. Ela faz pensar na gruta do monte Horeb onde Elias encontra o Senhor que lhe fala no "sopro de uma brisa leve" (1R 19,12).

Aqui, a Virgem convida Bernadete a recitar o Rosário desfiando ela mesma as contas. Esta gruta tornou-se, assim, a sede de uma admirável escola de oração, onde Maria ensina a todos a contemplar com um fervoroso amor o rosto de Cristo.

Eis porque Lourdes é o lugar onde os fiéisdaFrançaedeoutrasnações da Europa e de todo o mundo rezam, de joelhos.

2. Peregrinos a Lourdes, queremos também nós, esta tarde, rezando com a Virgem, percorrer novamente os "mistérios" através dos quais Jesus se manifesta "como luz do mundo". Lembremo-nos da sua promessa: "Aquele que me segue não andará nas trevas mas terá a luz da vida" (Jn 8,12).

Da humilde serva do Senhor, queremos aprender a disponibilidade dócil para a escuta e o comprometimento generoso para acolher, na nossa vida, o ensinamento de Cristo.

Particularmente, meditando a participação da Mãe do Senhor na missão redentora do seu Filho, convido-vos a rezar pelas vocações para o sacerdócio e para a virgindade pelo Reino de Deus para que estes que são chamados saibam responder com disponibilidade e perseverança.

3. Olhando para a Santíssima Virgem Maria, digamos com Bernadete: "Minha boa Mãe, tende piedade de mim; eu me entrego inteiramente a vós para que me entregueis ao vosso querido Filho a quem eu quero amar de todo o meu coração. Minha boa Mãe, dai-me um coração fervoroso por Jesus".

ORAÇÃO FINAL DIANTE


DA BASÍLICA DO ROSÁRIO DE LOURDES



Ave Maria,
Mulher pobre e humilde,
abençoada do Altíssimo!

Virgem da esperança,
profecia dos novos tempos,
nós nos associamos
ao teu hino de louvor
para celebrar
as misericórdias
do Senhor,
para anunciar
a vinda do Reino
e a libertação
integral do homem.

Ave Maria,
humilde serva do Senhor,
gloriosa Mãe de Cristo!
Virgem fiel,
santa morada do Verbo,
ensina-nos a perseverar
na escuta da Palavra,
a ser dóceis à voz do Espírito,
atentos aos seus apelos
na intimidade da nossa consciência
e às suas manifestações
nos acontecimentos da história.

Ave Maria,
Mulher da dor, Mãe dos viventes!

Virgem esposa junto da cruz,
nova Eva, sê nossa guia
pelos caminhos do mundo,
ensina-nos a viver e a propagar
o amor de Cristo,
ensina-nos a permanecer contigo,
junto das numerosas cruzes
nas quais teu Filho
ainda é crucificado.

Ave Maria,
Mulher de fé,
primeira entre os discípulos!

Virgem, Mãe da Igreja,
ajuda-nos a dizer sempre a razão
da esperança que nos anima,
tendo confiança na bondade
do homem e no amor do Pai.

Ensina-nos a construir o mundo
a partir do interior: na profundidade
do silêncio e da oração,
da alegria do amor fraterno,
na fecundidade insubstituível
da Cruz.

Santa Maria, mãe dos crentes,
Nossa Senhora de Lourdes,
intercede por nós.

Amém.



PEREGRINAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SANTUÁRIO DE LOURDES


PALAVRAS DO SANTO PADRE


ANTES DA PROCISSÃO NOTURNA


Lourdes, 14 de Agosto de 2004




Caros Irmãos e Irmãs

1. Quando Ela apareceu a Bernadete, na Gruta de Massabielle, a Virgem Maria estabeleceu um diálogo entre o Céu e a terra, que se prolongou no tempo e que ainda hoje perdura. Maria pediu à jovem que as pessoas viessem aqui em procissão, como que para significar que este diálogo não se podia limitar às palavras, mas que devia traduzir-se num caminho com Ela, na peregrinação da fé, da esperança e do amor.

Depois de mais de um século, em Lourdes o povo cristão responde fielmente a este apelo maternal, colocando-se todos os dias a caminho, no seguimento de Cristo-Eucaristia, e realizando a procissão nocturna com cânticos e orações em honra da Mãe do Senhor.

No corrente ano, também o Papa se une a vós neste acto de devoção e de amor pela Santíssima Virgem, a Mulher gloriosa do Apocalipse, que tem sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas (cf. Ap 12,1). Tendo nas nossas mãos a vela acesa, recordamos e professamos a nossa fé em Cristo ressuscitado. É dele que toda a nossa vida recebe luz e esperança.

2. Prezados Irmãos e Irmãs, confio-vos uma intenção particular, para a oração desta noite: juntamente comigo, invocai a Virgem Maria para que ela obtenha ao mundo o dom tão desejado da paz.

Que nasçam em nós sentimentos de perdão e de fraternidade! Sejam depostas as armas e que sejam extintos o ódio e a violência nos nossos corações!

Que todos os homens deixem de ver no próximo um inimigo que se deve combater, mas um irmão para acolher e amar, para construir em conjunto um mundo melhor.

3. Invoquemos juntos a Rainha da Paz e renovemos o nosso compromisso ao serviço da reconciliação, do diálogo e da solidariedade. Deste modo, nós merecemos a bem-aventurança que o Senhor prometeu aos "artífices da paz" (cf. Mt Mt 5,9).

Acompanho-vos com a minha oração e a minha bênção! Deus vos abençoe!



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 25 de Agosto de 2004


HOMILIA DO SANTO PADRE NA CELEBRAÇÃO DA PALAVRA


PARA A ENTREGA DO ÍCONE DA MÃE DE DEUS DE KAZAN'


À IGREJA ORTODOXA RUSSA



Caríssimos Irmãos e Irmãos!

1. Como anunciei no domingo passado, o nosso tradicional encontro semanal assume hoje uma fisionomia particular. De facto, encontramo-nos recolhidos em oração à volta do venerado Ícone da Mãe de Deus de Kazan', que está prestes a empreender a viagem de regresso à Rússia, de onde partiu num dia longínquo.

Depois de ter atravessado vários Países e ter permanecido muito tempo no Santuário de Fátima, em Portugal, há mais de dez anos chegou providencialmente à casa do Papa. Desde então encontrou um lugar junto de mim e acompanhou com olhar materno o meu quotidiano serviço à Igreja.

Quantas vezes, a partir daquele dia, invoquei a Mãe de Deus de Kazan', pedindo-lhe que protegesse e guiasse o povo russo que lhe é devoto, e que apressasse o momento em que todos os discípulos do seu Filho, reconhecendo-se irmãos, saberão recompor plenamente a unidade comprometida.

2. Desde o início, desejei que este santo Ícone regressasse ao solo da Rússia, onde segundo credíveis testemunhos históricos foi durante muitos anos objecto de profunda veneração por parte de inteiras gerações de fiéis. Em torno do Ícone da Mãe de Deus de Kazan' desenvolveu-se a história daquele grande povo.

A Rússia é uma nação desde há muitos séculos cristã, é a Santa Rus'. Mesmo quando forças contrárias se abateram contra a Igreja e procuraram cancelar da vida dos homens o santo nome de Deus, aquele povo permaneceu profundamente cristão, testemunhando em tantos casos com o sangue a própria fidelidade ao Evangelho e aos valores que ele inspira.

Portanto, é com particular emoção que dou graças juntamente convosco à Divina Providência, que hoje me concede enviar ao venerado Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias a oferta deste santo Ícone.

3. Que esta antiga imagem da Mãe do Senhor diga a Sua Santidade Aleixo II e ao venerando Sínodo da Igreja Ortodoxa russa o afecto que o Sucessor de Pedro nutre por eles e por todos os fiéis que lhes estão confiados. Diga a estima que ele sente pela grande tradição espiritual da qual a Santa Igreja russa é guardiã. Diga o desejo e o firme propósito do Papa de Roma de progredir juntamente com eles pelo caminho do conhecimento e da reconciliação recíprocos, para apressar o dia daquela unidade plena dos crentes, pela qual o Senhor Jesus rezou ardentemente (cf. Jo Jn 17,20-22).

Caríssimos Irmãos e Irmãs, uni-vos a mim para invocar a intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, no momento em que entrego o seu Ícone à Delegação que, em meu nome, a levará a Moscovo.


Oração do Santo Padre à Mãe de Deus de Kazan'



Gloriosa Mãe de Jesus,
que "procedes diante do povo de Deus pelos caminhos da fé,
do amor e da união com Cristo" (cf. Lumen gentium LG 63), sê bendita!

Todas as gerações te chamam bem-aventurada,
porque "o Omnipotente fez em ti grandes coisas;
é Santo o seu nome" (cf. Lc Lc 1,48-49).

Sê Bendita e honrada, ó Mãe, no teu Ícone de Cazan',
no qual desde há séculos és circundada pela veneração
e pelo amor dos fiéis ortodoxos,
tendo-te tornado protectora e testemunha das maravilhas de Deus
na história do povo russo, que por todos nós é tão amado.

A Providência divina, que tem o poder de vencer o mal
e tirar o bem até das más acções dos homens,
fez com que o Santo Ícone, que desapareceu em tempos longínquos,
aparecesse no santuário de Fátima, em Portugal.

Em seguida, por vontade de pessoas que te são devotas,
ela foi acolhida na casa do Sucessor de Pedro.

Mãe do Povo ortodoxo,
a presença em Roma da tua santa Imagem de Kazan'
fala-nos de uma unidade profunda entre o Oriente e o Ocidente,
que perdura no tempo apesar das divisões históricas
e dos erros dos homens.

Elevamos-te agora com especial intensidade a nossa oração,
ó Virgem, no momento em que nos despedimos
desta tua sugestiva Imagem.

Acompanhar-te-emos com o coração
pelo caminho que te levará à santa Rússia.

Aceita o louvor e a honra que te presta
o povo de Deus que está em Roma.

Ó bendita entre todas as mulheres,
ao venerar o teu Ícone nesta Cidade
marcada pelo sangue dos Apóstolos Pedro e Paulo,
o Bispo de Roma une-se espiritualmente ao seu Irmão
no ministério episcopal,
que preside como Patriarca à Igreja ortodoxa russa.

E pede-te, Mãe Santa, que intercedas
para que se apresse o tempo da plena unidade
entre o Oriente e o Ocidente,
da plena comunhão entre todos os cristãos.

Ó Virgem gloriosa e bendita,
Senhora, Advogada e nosso Conforto,
reconcilia-nos com o teu Filho,
recomenda-nos ao teu Filho, apresenta-nos ao teu Filho!

Amém.



                                                                            Setembro de 2004


DIscursos João Paulo II 2004