DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR JUAN GAVARRETE SOBERÓN,


NOVO EMBAIXADOR DA GUATEMALA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 2 de Setembro de 2004





Senhor Embaixador

1. Apraz-me recebê-lo nesta ocasião, durante a qual me apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Guatemala junto da Santa Sé. Ao apresentar-lhe as minhas cordiais boas-vindas agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu, bem como a saudação que me transmitiu da parte do Senhor Presidente, Dr. Oscar Berger Perdomo, a qual retribuo pedindo-lhe que transmita os meus melhores votos de paz e bem-estar para todo o povo guatemalteco.

2. O seu País, Senhor Embaixador, é conhecido como a terra da eterna primavera. A Providência concedeu-me poder visitá-lo em três ocasiões desde a minha eleição para Sucessor de São Pedro. Desta forma, pude entrar em contacto com esse nobre povo, que tem uma ascendência milenária, no qual o anúncio do Evangelho deu forma a manifestações profundas de fé tão enraizadas na cultura guatemalteca. Recordo a beleza das suas paisagens, o carácter acolhedor do seu povo e, particularmente, a fé profunda da comunidade eclesial que ali vive. A vivência, alegre e devota, da fé em Jesus Cristo tem manifestações muito solenes nos cultos da Semana Santa, repletos de amor ao Redentor dos homens, morto e ressuscitado.

As minhas duas primeiras visitas a Guatemala tiveram lugar em 1983 e em 1996, quando ainda persistia um doloroso conflito armado interno, que provocou tantas mortes.

A terceira visita, em Julho de 2002, quando já tinha sido assinado o Acordo de paz, permitiu que me encontrasse com um povo alegre e esperançoso devido aos resultados obtidos. Naquela ocasião canonizei o Irmão Pedro de São José de Betancurt, numa celebração muito participada, que congregou fiéis da Guatemala e de toda a América Central, os quais davam graças a Deus pelo dom deste humilde Santo que, sendo proveniente das Canárias, elegeu esse País para se santificar no caminho da caridade, da oração e da penitência, assim como no serviço aos pobres e aos enfermos. A sua recordação permanece viva e o seu carisma perdura na Ordem Bethlemita, a qual, inspirando-se nos seus ensinamentos, deu abundantes frutos de santidade, como a Madre Encarnación Rosal, primeira Beata guatemalteca.

3. Nas mensagens que deixei nas mencionadas visitas quis expressar o meu afecto para com aquele querido povo guatemalteco, mas também as minhas preocupações face aos problemas que ali se viviam. Apraz-me constatar que a defesa da vida humana, desde a sua concepção até ao seu fim natural, é constitucionalmente reconhecida na sua Nação, o que constitui um sinal de honra para a Guatemala. Neste, como noutros âmbitos, quando a legislação civil assume os princípios do direito natural caminha-se para a paz e para o progresso dos povos.

4. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, no seu discurso referiu-se ao desejo do seu Governo de combater a corrupção em todas as suas formas, para reduzir a desigualdade entre aqueles que tudo possuem e os que carecem do necessário, assim como para reunir esforços para prosseguir a construção de uma nação melhor. A transparência e a honradez na gestão pública favorecem um clima de credibilidade e confiança dos cidadãos nas suas autoridades e lançam as bases para um progresso conveniente e justo. Nesta tarefa, os responsáveis públicos encontram na Igreja, com a simplicidade dos seus recursos mas com a força das suas firmes convicções, a colaboração adequada para a busca de soluções, reconhecendo os esforços para fazer crescer a consciência e a responsabilidade dos cidadãos e fomentando a participação de todos.

Infelizmente, apesar de ter terminado o conflito interno armado, a Guatemala não pode ignorar a violência que afligiu muitas pessoas. Desejo recordar que entra tantas vítimas não faltaram ministros da Igreja e servidores do Evangelho, como D. Juan Gerardi, Bispo assassinado em 1998, cujo caso ainda não foi completamente esclarecido, assim como o de vários sacerdotes e catequistas. Não sejam poupados esforços para alcançar a paz social no País e a reconciliação entre todos os cidadãos.

5. A pobreza constitui outro problema que incide na existência de muitos dos seus cidadãos. O esforço por atender às necessidades dos mais desfavorecidos deve ser considerado uma prioridade fundamental. Apraz-me que o seu Governo considere isto como um objectivo ao qual dedicar esforços e recursos. Entre os que sofrem essa chaga social muitos pertencem às populações indígenas. Contudo, entre eles encontram-se os que tiveram o privilégio de aceder a uma vida mais digna, com maiores oportunidades educativas e com mais presença no cenário nacional, outros encontram-se imersos na pobreza e na marginalização. As rápidas transformações da economia internacional e os abaixamentos do preço dos produtos agrícolas levaram muitos deles a uma situação difícil. A Igreja, mãe e mestra, fiel à sua missão, acompanha de perto as numerosas famílias camponesas que vivem hoje as consequências desta crise. Este é outro âmbito no qual a colaboração entre as diversas instituições públicas e a comunidade eclesial encontra um terreno fértil para assistir e promover os pobres.

Antes de terminar este encontro desejo dirigir também uma palavra de proximidade e conforto à numerosa comunidade guatemalteca que vive como emigrante noutros países, principalmente na América do Norte. A distância da pátria é devida ao desejo de encontrar melhores condições de vida. Sem dúvida, não devem esquecer que é um dever conservar e incrementar os ricos valores culturais e religiosos que fazem parte da bagagem que levaram consigo quando partiram, e com a sua situação actual devem sentir-se comprometidos a contribuir com soluções para o País que os viu nascer e que hoje continua a considerá-los seus filhos, não obstante a distância e o tempo.

6. Senhor Embaixador, desejo apresentar-lhe agora os meus melhores votos pelo desempenho da sua missão junto da Sé Apostólica. Peço-lhe que transmita ao Senhor Presidente da República a minha saudação e a todo o povo guatemalteco a certeza da minha oração pelo seu desejado progresso integral. Peço a Deus que o assista na missão que hoje começa e invoco todas as bênçãos celestes sobre Vossa Excelência, sobre a sua distinta família, os seus colaboradores, assim como sobre os governantes e os cidadãos da Guatemala.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS BISPOS DAS PROVÍNCIAS ECLESIÁSTICAS

DE BOSTON E DE HARTFORD (E.U.A.)


POR OCASIÃO DA VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


2 de Setembro de 2004




Estimados Irmãos Bispos

1. Através da dádiva de Deus, tornámo-nos "ministros do Evangelho" e recebemos a graça "de anunciar as riquezas incalculáveis de Jesus Cristo a todas as nações". Fazendo eco destas palavras do Apóstolo Paulo (cf. Ef Ep 3,7-8), e no espírito de gratidão pela nossa vocação comum, dou-vos as calorosas boas-vindas, meus Irmãos Bispos das Províncias Eclesiásticas de Boston e de Hartford, por ocasião da vossa visita quinquenal aos túmulos dos Apóstolos e à Sé de Pedro. Retomando a minha série de reflexões acerca da tarefa de ensinamento confiada aos Bispos no seio da comunhão do Povo de Deus, desejo considerar algumas solicitudes particulares que se estão a apresentar à Igreja que peregrina nos Estados Unidos da América, enquanto ela cumpre o seu dever de proclamar o Evangelho e de orientar todo o seu povo para a plenitude da fé, da liberdade e da salvação em Jesus Cristo.

2. Mediante estas reflexões sobre o exercício do munus episcopale propheticum, chamei muitas vezes a vossa atenção para a importância da evangelização da cultura. Sem dúvida, um desafio fundamental neste campo consiste na promoção de um encontro fecundo entre o Evangelho e a nova cultura global, que se está a formar rapidamente como resultado do crescimento sem precedentes, alcançado no sector das comunicações, e da expansão da economia mundial. Estou persuadido de que a Igreja nos Estados Unidos da América pode desempenhar um papel fundamental no momento de enfrentar este desafio, dado que a realidade que está a emergir é, sob numerosos aspectos, o fruto das experiências, atitudes e ideais ocidentais, e particularmente norte-americanos, do nosso tempo. A nova evangelização exige um discernimento claro das profundas necessidades e aspirações espirituais de uma cultura que, não obstante todos os seus aspectos de materialismo e de relativismo, se sente contudo profundamente atraída pela dimensão religiosa primordial da experiência humana e está a lutar para redescobrir as suas raízes espirituais.

Assim, na Igreja que está nos Estados Unidos da América, a evangelização da cultura pode oferecer uma contribuição singular para a missão "ad gentes" da Igreja nos dias de hoje. Através da sua pregação, da sua catequese e do seu testemunho público, a Igreja no vosso País sente-se desafiada a desenvolver um renovado estilo querigmático, capaz de evocar as necessidades espirituais dos homens e das mulheres contemporâneos, assim como de lhes oferecer uma resposta clarividente e persuasiva, fundamentada sobre a verdade do Evangelho. Os católicos de todas as idades devem ser ajudados a apreciar mais plenamente a característica distintiva da mensagem cristã, a sua capacidade de satisfazer as ansiedades mais profundas do coração humano em todos os tempos, a beleza da sua exortação a uma vida completamente centralizada na fé no Deus trino e uno, a obediência à sua palavra revelada e a configuração amorosa ao mistério pascal de Jesus Cristo, em que se nos revela a medida plena da nossa humanidade e da nossa vocação sobrenatural à realização no amor (cf. Gaudium et spes GS 22).

3. A Igreja nos Estados Unidos da América está comprometida há muito tempo em fazer com que a sua voz seja ouvida no debate público, visando a salvaguarda dos direitos humanos fundamentais, da dignidade da pessoa e dos requisitos éticos para uma sociedade justa e bem ordenada. No contexto de uma nação pluralista como a vossa, isto tem exigido necessariamente a cooperação concreta de homens e mulheres de diversos credos religiosos e, em síntese, de todas as pessoas de boa vontade, no serviço ao bem comum. Estou profundamente reconhecido pelos vossos esforços constantes na promoção do diálogo ecuménico e inter-religioso a todos os níveis da vida da Igreja, não apenas como modo de superar os mal-entendidos entre os fiéis em geral, mas inclusivamente para promover um sentido de responsabilidade comum em vista da edificação de um futuro de paz. Como os trágicos acontecimentos do dia 11 de Setembro puderam evidenciar, a construção de uma cultura global da solidariedade e do respeito pela dignidade humana constitui uma das maiores tarefas morais que se estão a apresentar à humanidade contemporânea. Em última análise, é na conversão dos corações e na renovação espiritual da humanidade que se encontra a esperança num futuro melhor e, neste campo, o testemunho, o exemplo e a cooperação dos fiéis leigos em geral têm um papel singular a desempenhar.

4. Desejo também expressar a minha gratidão pessoal pela generosidade tradicional que os fiéis dos Estados Unidos da América têm dispensado à missão "ad gentes" da Igreja, através da formação e do envio de gerações de missionários, assim como mediante as contribuições que inumeráveis católicos destinam às missões estrangeiras. Encorajo-vos a levar a cabo todos os esforços em ordem a reavivar esta poderosa manifestação de solidariedade em benefício da Igreja universal.

A história testemunha que o compromisso participativo na missão "ad gentes" renova a Igreja inteira, fortalece a fé tanto dos indíviduos como das comunidades, reforça a sua identidade cristã e suscita um renovado entusiasmo no momento de enfrentar os desafios e as dificuldades do momento (cf. Redemptoris missio RMi 2). Possa a Igreja que está no vosso país descobrir as fontes para uma profunda renovação interior, através da revitalização do zelo missionário, sobretudo mediante a promoção das vocações nos Institutos missionários e a proposta, especialmente aos jovens, de um ideal sublime para uma vida completamente dedicada ao Evangelho.

5. Durante estes encontros, falei-vos numerosas vezes da admiração que tenho pelo extraordinário contributo oferecido por parte da comunidade católica nos Estados Unidos da América, para a propagação do Evangelho, o auxílio aos pobres, aos enfermos e às pessoas em necessidade, assim como para a salvaguarda dos valores humanos e cristãos fundamentais. Hoje, desejo encorajar-vos e, por vosso intermédio, a todos os católicos dos Estados Unidos da América, a continuar a dar testemunho fiel da verdade de Jesus Cristo e do poder da sua graça, de inspirar sabedoria, reconciliar as diferenças, curar as feridas e apontar para um futuro de esperança. A Igreja que está no vosso país foi provada pelos acontecimentos ocorridos ao longo dos últimos dois anos e, justamente, levaram-se a cabo muitos esforços para compreender e abordar as questões de abuso sexual, que lançaram uma sombra sobre a sua vida e o seu ministério. Enquanto continuais a enfrentar significativos desafios espirituais e materiais, que as vossas Igrejas estão a experimentar a este propósito, peço-vos que encorajeis todos os fiéis clero, religiosos e leigos a perseverar no testemunho público de fé e esperança, a fim de que a luz de Cristo, que jamais pode ser ofuscada (cf. Jo Jn 1,5), continue a brilhar em e através de toda a vida e ministério da Igreja.

Gostaria de vos pedir, de modo particular, que sejais profundamente solidários para com os vossos irmãos sacerdotes, muitos dos quais sofreram de maneira profunda por causa dos erros cometidos por alguns ministros da Igreja, e sobre os quais os mass media deram um grande relevo. Pedir-vos-ia também que transmitísseis o meu agradecimento pessoal pelo serviço generoso e abnegado que caracteriza a vida de um elevado número de sacerdotes norte-americanos, assim como o meu profundo apreço pelos seus esforços quotidianos, em vista de serem modelos de santidade e de caridade pastoral no seio das comunidades pastorais que são confiadas ao seu cuidado.

De maneira verdadeiramente concreta, a renovação da Igreja está vinculada à renovação do sacerdócio (cf. Optatam totius OT 1). Por este motivo, peço-vos que leveis a cabo todos os esforços em vista de estardes presentes como pais e irmãos no meio dos vossos presbíteros, de lhes manifestar a vossa gratidão sincera pelo seu ministério, de vos unirdes frequentemente a eles na oração e de os encorajar na fidelidade à sua nobre vocação de homens completamente consagrados ao serviço do Senhor e da sua Igreja. Em síntese, dizei aos vossos sacerdotes que os conservo todos no meu coração!

6. Na conclusão destas reflexões sobre a nossa responsabilidade pelo testemunho profético da Igreja perante o mundo inteiro, quero expressar uma vez mais a minha convicção, que brota da fé, de que também hoje Deus está a preparar uma grande primavera para o Evangelho (cf. Redemptoris missio RMi 86), e que isto exorta todos nós a "abrir as portas a Cristo", em todos os aspectos da nossa vida e das nossas actividades. Como pude sugerir na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, temos a maravilhosa e contudo exigente responsabilidade de ser o reflexo de Cristo, Luz do mundo. Efectivamente, "este é um encargo que nos faz tremer, quando olhamos para a fraqueza que frequentemente nos torna opacos e cheios de sombras. Mas é uma missão possível se, expondo-nos à luz de Cristo, nos abrirmos à graça que nos faz homens novos" (Novo millennio ineunte NM 54).

Prezados Irmãos Bispos, ao apresentar-vos este desafio, garanto-vos mais uma vez a minha confiança e o meu afecto fraternal. Enquanto vos confio, assim como todo o clero, os religiosos e os fiéis leigos das vossas Igrejas particulares, à intercessão amorosa de Maria, Mãe da Igreja, concedo-vos cordialmente a minha Bênção Apostólica como penhor de fortaleza e de paz no Senhor.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS JOVENS DA ACÇÃO CATÓLICA


POR OCASIÃO DA ENTREGA DA


« CARTA DOS JOVENS CRISTÃOS DA EUROPA»


Loreto, 4 de Setembro de 29004




Caríssimos jovens amigos

1. É com prazer que vos recebo e saúdo-vos com grande afecto. Agradeço-vos de coração a vossa presença e este importante sinal de comunhão. Agradeço, em particular, à jovem que falou em nome de todos.

A "Carta dos jovens cristãos da Europa", que viestes entregar-me, surgiu da recente peregrinação juvenil europeia ao túmulo do Apóstolo Tiago, em Santiago de Compostela, um significativo ponto de convergência, graças ao qual os povos do continente, ao longo dos séculos, aprenderam a conhecer-se e a aceitar-se reciprocamente, contribuindo assim para a formação da Europa.

2. Ser testemunhas de Cristo para construir uma Europa da esperança. Eis a mensagem que tendes a preocupação de enviar aos vossos coetâneos e a toda a comunidade europeia de hoje. O sonho que levais no coração é o sonho de uma Europa orgulhosa do seu rico património cultural e religioso e, ao mesmo tempo, atenta aos valores do homem e da vida, da solidariedade e do acolhimento, da justiça e da paz.

Vós não vos envergonhais do Evangelho, e estais conscientes de que a civilização do amor não se constrói separando o Evangelho da cultura, mas procurando entre eles sínteses sempre novas.

Pretendeis percorrer este caminho para dar vida a um Continente sobretudo rico de valores, capaz de memória, para não esquecer os erros do passado e, mais ainda, para fortalecer as próprias raízes espirituais.

3. A fim de realizardes a vossa missão, são necessárias fidelidade a Cristo e à sua Igreja, coerência e coragem até ao heroísmo da santidade. Foi este o itinerário que os santos e as santas da Europa percorreram nos séculos passados. O seu testemunho sirva de estímulo a cada um de vós, caríssimos jovens que me seguis através da rádio e da televisão. Vele sobre vós a Virgem Maria, que na humilde Casa de Loreto acolheu, no decorrer dos séculos, numerosos peregrinos provenientes de todas as partes da Europa. O Papa une-se à vossa oração; e, ao encorajar-vos a dar com sinceridade o vosso testemunho de Cristo, abençoa-vos a todos de coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR DONALD SMITH NOVO EMBAIXADOR


DO CANADÁ JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sábado, 4 de Setembro de 2004



Excelência

É-me grato apresentar-lhe as cordiais boas-vindas no dia de hoje, no momento de receber as Cartas Credenciais através das quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Canadá junto da Santa Sé. As minhas visitas pastorais ao seu país, especialmente na jubilosa ocasião da Jornada Mundial da Juventude, realizada em Toronto no ano de 2002, permanecem claramente gravadas na minha mente. Agradeço-lhe as saudações que o Embaixador me transmite da parte do Senhor Governador-Geral e do povo do Canadá. Pediria a Vossa Excelência que lhes comunicasse os meus sinceros agradecimentos e que lhes assegurasse as minhas preces pelo bem-estar de toda a nação.

As contribuições generosas e concretas do Canadá para a edificação de um mundo de paz, de justiça e de prosperidade são amplamente reconhecidas por parte da comunidade internacional. Com efeito, a solidariedade para com as nações em vias de desenvolvimento constitui uma conhecida e admirável característica do seu povo, e é evidenciada, entre outras coisas, pela notável participação do seu país nas missões de manutenção da paz e pela produção de remédios a baixo custo, destinadas às nações mais pobres. Diante do sofrimento e das divisões que, com muita frequência, afligem a família humana, a necessidade de soluções definitivas para os conflitos humanos torna-se ainda mais evidente. A este propósito, como Vossa Excelência quis observar, durante os trinta e cinco anos de relações diplomáticas a Santa Sé comprometeu-se juntamente com o Canadá numa série de projectos em vista do desenvolvimento dos povos e das comunidades em necessidade, inclusivamente na promoção e na aplicação da chamada Convenção de Otava, sobre as minas de terra, e no acordo da Organização Mundial do Comércio (WTO), sobre a propriedade intelectual e a saúde pública. De maneira análoga, juntamente com outros países, o Canadá e a Santa Sé têm-se esforçado a fim de fomentar a estabilidade, a paz e o desenvolvimento na Região dos Grandes Lagos, na África.

Tais gestos de solidariedade são mais do que simples actos unilaterais de boa vontade. Aliás, eles derivam de valores e de convicções que forjaram a sociedade do Canadá ao longo da sua história e é deles que depende o progresso social autêntico. Por este motivo, durante a minha última visita ao seu país, encorajei todos os habitantes do Canadá a valorizar aquilo que representa o núcleo da sua herança: a visão espiritual da vida, inspirada pel credo segundo o qual todos os homens e mulheres recebem a sua dignidade fundamental de Deus e, juntamente com ela, a capacidade de crescer na verdade e na generosidade (cf. Homilia na Santa Missa de encerramento, Toronto, 28 de Julho de 2002).

Vossa Excelência observou que a abertura do Canadá à imigração trouxe uma diversidade crescente e uma grande riqueza à sua cultura, oferecendo o acolhimento recíproco e o respeito entre os grupos étnicos. As características da tolerância e da hospitalidade despertaram o amor de muitas pessoas pela sua terra. A integração bem sucedida de comunidades étnicas diversificadas, que actualmente se encontram a viver no seu país, demonstra também às demais nações que o respeito devido a cada uma das pessoas humanas está arraigado na origem comum de todos os homens e mulheres, e não tanto nas diferenças existentes entre os indivíduos. É esta verdade sublime e fundamental acerca da pessoa humana homem e mulher (Ele) os criou, à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn Gn 1,26-27) que constitui a base imutável para todas as outras verdades antropológicas. É da sua natureza como dádiva divina que brota a dignidade inviolável e sagrada de toda a vida, o respeito devido a cada indivíduo e a exigência de que todos os homens e mulheres respeitem a estrutura natural e moral que receberam como um dom de Deus (cf. Carta Encíclica Centesimus annus CA 38).

Durante muitas gerações os habitantes do Canadá reconheceram e celebraram o lugar do matrimónio no centro da sua sociedade. Fundada pelo Criador, com a sua própria natureza e finalidade, e conservada pela lei moral natural, a instituição do matrimónio acarreta necessariamente a complementaridade dos maridos e das esposas, que participam na acção criativa de Deus através da educação dos filhos. Desta maneira, os casais asseguram a sobrevivência da sociedade e da cultura, e justamente merecem o reconhecimento legal específico e categórico da parte do Estado. Qualquer tentativa de mudar o significado da palavra "esposo/esposa" contradiz a justa razão: as garantias legais, semelhantes às que são concedidas ao matrimónio, não podem ser aplicadas às uniões entre pessoas do mesmo sexo, sem criar uma compreensão falsa acerca da natureza do matrimónio.

Senhor Embaixador, o Canadá não está a enfrentar sozinho os difíceis desafios que se apresentam aos indivíduos na cultura contemporânea. Acompanhada da boa vontade, estou convicto de que a maravilhosa visão de uma vida familiar generosa e estável, tão querida ao povo do Canadá, continuará a oferecer à sociedade o fundamento sobre o qual as aspirações da sua nação podem ser edificadas. Por sua vez, a Igreja Católica que está no Canadá deseja oferecer a sua assistência, salvaguardando as bases sociais essenciais da vida civil. Ela encontra-se fortemente comprometida na formação espiritual e intelectual dos jovens, de maneira especial através das suas escolas, e o seu apostolado social estende-se também àqueles que estão a enfrentar alguns dos sérios problemas da sociedade contemporânea, inclusivamente no que se refere ao abuso do álcool e ao uso das drogas, assim como às pessoas atingidas pelas várias formas de marginalização social. Estou persuadido de que os membros da comunidade católica hão-de enfrentar com generosidade os novos desafios sociais, na medida em que os mesmos surgirem.

Excelência, estou consciente de que a sua missão contribuirá para fortalecer ainda mais os vínculos de amizade, que já existem entre o Canadá e a Santa Sé. No momento em que o Senhor Embaixador assume as suas novas responsabilidades, quero garantir-lhe que os diversos departamentos da Cúria Romana estão prontos para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todos os seus concidadãos, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR PHILIP MCDONAGH


NOVO EMBAIXADOR DA IRLANDA JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sábado, 4 de Setembro de 2004


Senhor Embaixador

É com grande prazer que lhe dou as boas-vindas e aceito as Cartas que o credenciam como Embaixador Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da Irlanda junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as cordiais palavras de saudação que o Senhor Embaixador me dirigiu da parte da Presidente, Sua Excelência a Senhora Mary McAleese, e pediria que tivesse a amabilidade de lhe comunicar, bem como a todo o amado povo irlandês, os meus cordiais bons votos e a certeza das minhas orações.

A Irlanda sente-se, justamente, orgulhosa pela sua antiga herança de hospitalidade calorosa e de assistência generosa para com as pessoas que se encontram em necessidade. Fundamentadas no amor cristão pelo próximo e alimentadas numa vida familiar estável, tais virtudes formaram a "alma" da Irlanda e continuam a constituir um dos seus recursos mais preciosos. A história não escrita de tantos irlandeses, homens e mulheres, que dedicaram a sua vida ao serviço do próximo, constitui um dos capítulos mais impressionantes da história do seu país. Estimo profundamente a sua referência ponderada a uma destas pessoas, o saudoso Arcebispo D. Michael Courtney, que ofereceu o sacrifício supremo da sua vida para levar a paz e o bem-estar ao povo sofredor do Burundi. É encorajador ver que o mesmo amor ao próximo está a inspirar tantos jovens irlandeses que, abnegadamente, dedicam o seu tempo ao voluntariado, e os seus talentos e as suas capacidades profissionais ao serviço dos outros. Neste espírito de assistência às pessoas em necessidade, a Irlanda tem feito muito no seio da comunidade internacional para aliviar o seu sofrimento, oferecendo assistência financeira, oportunidades nos campos da educação e da orientação profissional e, quando é interpelada, enviando fundos de socorro nos casos de emergência e tropas para a manutenção da paz.

A experiência de gerações de emigrantes irlandeses tornou o seu povo consciente das sérias dificuldades e das condições de precariedade frequentemente encontradas pelos indivíduos e pelas famílias que vão em busca de um novo início de vida numa terra estrangeira. Esta sensibilidade representa um grande recurso para o desenvolvimento de uma amadurecida cultura da aceitação.

Tal cultura exige generosidade e abertura à diversidade legítima, enquanto requer também o respeito necessário pelo património cultural da nação e um compromisso na promoção de formas adequadas de integração (cf. Ecclesia in Europa, 101-102). O flagelo dos refugiados e das pessoas deslocadas por motivos de pobreza, de guerra ou de perseguição é particularmente dramático e exige especiais consideração e generosidade. A Santa Sé faz votos a fim de que os passos dados durante a presidência irlandesa da União Europeia, em favor de políticas de abertura aos outros povos, continue a inspirar a atitude da comunidade em relação aos imigrantes de outros continentes e culturas. Encorajo o seu país a dar continuidade à abordagem desta importante problemática humanitária, em conjunto com os seus parceiros europeus, com um coração aberto e um compromisso perseverante.

Como Vossa Excelência observou, recentemente a Irlanda passou por significativas mudanças sociais, que incluíram um notável crescimento económico. Uma sociedade mais próspera tem maiores possibilidades de se tornar uma comunidade mais justa e aberta, mas deve enfrentar também novos desafios, inclusivamente o perigo de um determinado empobrecimento espiritual e da indiferença diante das dimensões morais e religiosas mais profundas da vida. A aspiração do seu país a tornar-se uma sociedade profundamente moderna, no contexto da família das nações europeias, encontrará a sua expressão mais sublime no compromisso de confirmar sobretudo a dignidade incomparável e o direito à vida de cada pessoa humana. Estou persuadido de que, permanecendo fiel aos valores que forjaram a Irlanda como nação desde a época da sua evangelização, o seu povo contribuirá para oferecer um auxílio extraordinário para o futuro da Europa (cf. Ecclesia in Europa, 96).

Vossa Excelência mencionou as esperanças da Irlanda a propósito do processo de paz. Rezo a fim de que se realizem todos os esforços em vantagem das oportunidades oferecidas pelo chamado Acordo da Sexta-Feira Santa, que deu um renovado impulso e uma nova esperança ao povo da Irlanda do Norte. A Igreja Católica que, na Irlanda, trabalha em conjunto com outras comunidades cristãs, está comprometida na consolidação de atitudes positivas de compreensão, de respeito e de estima pelos outros, através das actividades ecuménicas e das iniciativas no campo da educação. A mensagem do Evangelho não pode ser separada da vocação à mudança de coração; a evangelização não pode ser afastada do ecumenismo e da promoção da sociedade, da reconciliação e da abertura ao próximo, especialmente aos outros cristãos. Que as iniciativas de todos aqueles que buscam a paz e a reconciliação sejam abençoadas pela graça de Deus e dêem fruto para as crianças do futuro.

O Senhor Embaixador assume os deveres como Representante do seu país junto da Santa Sé no mesmo ano em que estamos a celebrar em conjunto o 75º aniversário das nossas relações diplomáticas. Enquanto lhe asseguro as minhas preces pelo bom êxito da sua missão, invoco sobre Vossa Excelência, a sua família e o querido povo da Irlanda, as bênçãos abundantes de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO


DA ASSOCIAÇÃO ITALIANA SANTA CECÍLIA


4 de Setembro de 2004

1. Dirijo-me agora a vós, caríssimos Responsáveis e sócios da Associação Italiana Santa Cecília, reunidos em Roma para um Congresso sobre o canto gregoriano na liturgia, por ocasião do XIV centenário da morte de São Gregório Magno. Apresento-vos as minhas cordias saudações e expresso o meu grato apreço pela solicitude com que vos dedicais ao campo da música sacra, sempre atentos aos ensinamentos do Magistério. Fazendo assim, ofereceis um válido contributo à actuação da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. Ao renovar-vos o meu encorajamento, abençoo de coração todos vós e toda a Associação, assim como os numerosos cantores que hoje e amanhã animarão a celebração no Vaticano.


Aos Pueri Cantores
Senhoras e Senhores

2. Sinto-me feliz por vos receber e saudar, a vós que representais a Federação internacional Pueri Cantores e que vos encontrais reunidos em assembleia geral em Roma.

Alegro-me porque, graças à vossa associação, milhares de crianças e de jovens no mundo participam da beleza da liturgia, contribuindo assim para "exprimir adequadamente o mistério lido na plenitude de fé da Igreja e segundo as indicações pastorais oportunamente dadas pela competente autoridade" (Ecclesia de Eucharistia EE 50). Encorajo-vos vivamente a prosseguir a solicitude pela formação destes jovens para que sejam, mediante o seu canto, membros activos da Igreja e verdadeiras testemunhas do Evangelho de Cristo.

Concedo-vos de todo o coração a Bênção Apostólica.




DIscursos João Paulo II 2004